II Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Mestrado e Doutorado Santa Cruz do Sul, RS – Brasil - 28 setembro a 01 de outubro. A DESCENTRALIZAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E PLANEJAMENTO NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: O CASO DO COREDE MISSÕES Ivar José Kreutz1 Claudete Maria Zimmermann2 Resumo O presente artigo aborda o desenvolvimento regional sob os três aspectos que ganharam crescente importância no Brasil a partir da década de oitenta, com a intensificação dos movimentos pela democratização do país: a descentralização política-administrativa como potencializadora de iniciativas regionais, a participação social como expressão de poder e as iniciativas de planejamento que procuraram incorporar as demandas regionais. Estes três referenciais são discutidos com base no projeto de regionalização do RS. Essa concepção de planejar o desenvolvimento procura ser distinta daquela apresentada por muito tempo apenas como sinônimo de crescimento econômico. A abordagem do tema não ignora que os efeitos da globalização realizada com base no fluxo descendente de decisões e ações contrapõem-se às contribuições de um processo regional endógeno, capaz de instalar um processo de fluxo contrário. Para isso, esta pesquisa buscou identificar os principais espaços de participação e poder que começam a se delinear no início da década de noventa, com a formação e o funcionamento dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDEs), em especial do COREDE-Missões. Procurou também verificar o tipo e a forma de participação da população. A opção metodológica aproxima-se de uma pesquisa exploratória, compreendendo a busca de dados secundários, contatos informais com lideranças e agricultores e entrevistas semiestruturadas com atores sociais. Como procedimento de decodificação, foi utilizada a “análise de conteúdo temático”. A pesquisa revelou que continua existindo o viés da espera pelas demandas do poder público, apesar de haver um crescente envolvimento participativo na 1 MSc em Agroecossistemas pela UFSC e Eng. Agr. da EMATER/RS – ASCAR, com lotação no município de São José do Hortêncio na Av. Mathias Steffens, 3322, sala 05 e e-mail [email protected] 2 MSc em Relações Internacionais para o Mercosul com área de concentração em Administração. execução de projetos. Revelou também que uma participação no Conselho Regional tem relação com a metodologia utilizada e, de forma mais expressiva, com a postura dos coordenadores, alguns pouco preocupados com a emancipação das lideranças regionais. Finalmente, constatou-se que o processo participativo é lento, necessitando de constante aperfeiçoamento para se constituir numa ação continuada e propositiva. Palavras-chave: Desenvolvimento regional, descentralização, participação e planejamento. Abstract The present article refers to the regional development in the three aspects that gained an increasing importance in Brazil since the decade of the 80`s, by the intensification of the movements for the democracy of the country: the political-administrative descentralization as main power of regional experiences, the social participation as power expression and the planning experiences that tried to incorporate the regional demands. These three points are discussed with basis on the RS regionalization project. This conception of planning the development seeks to be different of that showed for a long time just as a synonym of economical growth. The approach of the theme does not ignore that the globalization effects made with basis on the discending flux of decisions and actions opposes to the contribution of a regional endogeneous process, able to instale a process of opposite flux. Therefore, this research sought to identify the main spaces of participation and power that started to outline in the beginning of the 90`s decade, with the structure and work of the Regional Development Councils (COREDEs), in particular, COREDE-Missions. The research also tried to verify the kind and way of the people`s participation. The methodological option becomes near to an exploring research, including the search of secundary datas, informal contacts with leaderships and farmers, as well as semi-strctured interviews with social actors. As decodification procedure was made use of the "analysis of thematic content". The research disclosed that the sloping of expectation for the Government demands, still exists, despite the increasing participative involvement of the population on the projects execution. The search also revealed that a participation on the Regional Council has relation with the applied methodology and in a greater expressive way, the posture of the coordenators, some little worried with the emancipation of the regional leaderships. At the end, was testified that the participating process is slow, and a constant improvement is needed to constitute it in an extended and purposed action. Key-Words: regional development, descentralization, participation and planning. 1 Introdução Cada vez que ocorre um debate sobre "desenvolvimento", as representações múltiplas e contraditórias que os interlocutores têm sobre este conceito pesam, contribuindo para gerar confusão. Como é sabido, a palavra desenvolvimento foi apresentada por muito tempo como sinônimo de crescimento econômico. O que se buscava medir como desenvolvimento eram os resultados em grandes agregados e em termos de produção e de produtividade, esquecendo-se a análise de aspectos como a melhoria da qualidade de vida da população. A insuficiência de uma perspectiva centrada em objetos (construir mais infraestrutura, mais estradas, produzir mais capitais e mercadorias, fazê-los circular etc) para resolver problemas de pobreza e de clivagem social, passou a indicar a necessidade de uma atenção para os atores sociais e as ligações entre eles. Neste quadro, a metodologia que está subentendida em cada projeto de desenvolvimento passou a ser pelo menos tão importante quanto os objetivos. Passa a haver, então, um questionamento dos processos descendentes, de cima para baixo, ou seja, dos processos de formulação e de operacionalização de propostas de desenvolvimento. Surgem e se fortalecem, nesse contexto, noções como descentralização, participação, "construção social" e empoderamento dos atores locais, havendo, ao mesmo tempo, uma valorização dos seus "saberes". Inaugura-se, assim, uma nova fase em que se reconhece a importância dos processos endógenos. Entretanto para que aconteçam ações "de dentro para fora", é preciso garantir espaços de expressão para atores sociais locais. Esta constatação fez com que muitos passassem a reconhecer, na liberdade das pessoas de um determinado espaço, o principal meio para o desenvolvimento. Não se trata, contudo, de um processo simples, já que exige a inflexão de valores e de práticas de atores locais e de profissionais "exteriores" que atuem no espaço do projeto, sem esquecer o papel das instituições aí presentes. E há o problema adicional de que são gerados, nesse tipo de processo, novos espaços de poder e novas relações de força. O tema aqui apresentado será contextualizado com base numa rápida abordagem teórica para, em seguida, serem descritos os espaços de poder conquistados pela população ao longo de sua história, destacando-se para a descentralização político-administrativa, bem como a autonomia e poder decisório para as instâncias regionais a partir das constituições de 1988 e 1989. O estudo do tema será complementado com dados primários obtidos através do “olhar” dos atores locais. Isso nos permite constituir um diagnóstico e realizar uma análise, permitindo identificar possíveis iniciativas emergentes de gestão social3. Como parâmetro para a presente análise será usado o projeto de regionalização do estado do Rio Grande do Sul, tendo como foco o Conselho Regional de Desenvolvimento da região das Missões. 2 A contextualização do tema Com a abordagem do desenvolvimento regional busca-se compreender os efeitos da globalização sobre a situação local, efeitos estes representados pelo fluxo descendente de decisões e ações. Nesse contexto, procura-se verificar as contribuições que a descentralização, a participação e o planejamento podem trazer para ações regionais capazes de melhorar a satisfação e a qualidade de vida de sua população. Busca-se também compreender o imobilismo e o pessimismo que tomam conta de muitas regiões - inclusive do COREDE Missões - quando estas não são contempladas com empreendimentos externos, vistos muitas vezes como a única forma de desenvolvimento. O referencial teórico se apóia principalmente em Buarque (2002), que associa a descentralização ao fortalecimento do poder local e entende este como fator decisivo para a participação e para a democratização do processo decisório, sem ignorar a sua importância para a própria educação política da sociedade. O autor entende que a descentralização também contribui, no sentido de atuar sobre a efetividade das iniciativas e ações do planejamento (terceiro elemento de nossa análise), fazendo com que todos se sintam parte do processo e com condições de reconhecer e de incorporar demandas locais. A descentralização desencadeia, portanto, uma trajetória pedagógica na formação da cultura democrática de um 3 O conceito de Gestão Social, neste estudo, se baseia na proposta de Carvalho (1999), que representa, a gestão das demandas e necessidades dos cidadãos pelos próprios atores sociais locais. É a capacidade de se articular determinado espaço, já que reestrutura a própria hegemonia e a prática política no plano local, transferindo para a comunidade a responsabilidade e a capacidade de decisão e escolha sobre seu futuro. No Quadro 01 buscou-se ilustrar, de forma resumida e esquemática, a complexidade e as principais inter-relações que podem ser consideradas numa abordagem sobre o desenvolvimento de um determinado território. Quadro 01 – As principais inter-relações que envolvem o desenvolvimento. O quadro demonstra que o primeiro conceito a ser compreendido é o de desenvolvimento com o enfoque se deslocando no sentido horizontal, tanto para o lado da globalização, como para o da ação local. Se esse conceito for assumido, o desenvolvimento não será norteado somente por um desses processos, de mercado ou de desenvolvimento local, mas por ambos, modificando-se apenas a intensidade do fluxo, aspecto que pode ser administrado, em certa medida, nas instâncias regionais. Definidas as características do desenvolvimento, o que não representa a única “entrada” para compreender o quadro 01, configuram-se elementos para analisar os aspectos que envolvem a descentralização, a participação e o planejamento. Mesmo que cada um desses componentes tenha suas variáveis, elas estabelecem uma profunda inter-relação entre si e agem sobre o desenvolvimento. Portanto, quando as lideranças regionais estabelecem uma ação local, através de seus públicos, com a condição de estabelecer políticas descentralizadas que estimulem a participação dos atores sociais, cria-se uma condição propícia para reorganizar os rumos do planejamento. Isto é possível por meio da incorporação de demandas da população, envolvendo-a em processos de reflexão, decisão e ação, que desemboquem num processo de gestão da própria sociedade. Evidencia-se, assim, a estreita relação existente entre descentralização, participação e planejamento. 3 A Descentralização A discussão sobre o processo de globalização tem sido crescente em todo o mundo. Geralmente, a leitura predominante é a de que a globalização representa o único iniciativas múltiplas, revitalizando o envolvimento voluntário da comunidade e de setores da sociedade civil. caminho possível, constituindo um modelo imutável, cuja conseqüência é uma certa paralisia ou imobilismo dos atores locais. Em nível regional freqüentemente não se consegue avançar em ações que busquem a descentralização e o desenvolvimento local pelo fato de a participação ficar presa a uma legitimação de ações externas, não evoluindo na compreensão de um processo gradativo de “emancipação social”, tão necessário depois dos recentes períodos autoritários vividos no Brasil. O planejamento então, fica freqüentemente restrito a uma técnica de organização de ações pré-determinadas, sendo pouco usado como um processo educativo pelo qual se procura, a partir das oportunidades locais, elaborar um plano capaz de gerar inclusão social e qualidade de vida para os cidadãos. Ultimamente, tem-se falado muito em globalização e em políticas neoliberais. Para Schmidt, Schmidt e Turnes (2003), a globalização levaria a uma homogeneização cultural, e as políticas neoliberais, a uma possível homogeneização técnico-produtiva. Apesar de ser necessário reconhecer o peso desse processo e dessas políticas, bem como, as tendências homogeneizadoras que deles decorrem, também é necessário destacar que a realidade aponta para as diversidades. Assim, para os autores citados, deve-se ter em conta que, junto ao processo de globalização, existem também os processos de fragmentação e de valorização das características diferenciadoras, expressas no reforço de identidades locais ou regionais, ligadas, em geral, às políticas ambientais e/ou culturais (grifo dos autores). Segundo Albagli (1998, apud Buarque 2002), podem ser identificadas duas interpretações ou hipóteses opostas sobre a globalização: primeira, ao promover a padronização, esse processo levaria ao declínio das identidades locais; segunda, a globalização não significa o fim de toda identidade territorial estável, mas, ao contrário, cada sociedade ou grupo social é capaz de preservar e desenvolver seu próprio quadro de representações, expressando uma identidade ao mesmo tempo espacial e comunitária em torno da localidade. A segunda hipótese permite vislumbrar um horizonte de atividades que podem ser desenvolvidas, para romper com o imobilismo, a incapacidade e a crença de que tudo está dado e definido. Nesse sentido, Dowbor (1995) destaca: A globalização não é geral. Se olharmos o nosso cotidiano, desde a casa onde moramos, a escola dos nossos filhos, o médico para a família, o local de trabalho, até os horti-fruti-granjeiros da nossa alimentação cotidiana, trata-se de atividades de espaço local, e não global. É preciso, neste sentido, distinguir entre os produtos globais que indiscutivelmente hoje existem, como o automóvel, o computador e vários outros, e os outros níveis de atividade econômica e social. Isto nos evitará batalhas inúteis – não há nenhuma razão para que um país tenha de se dotar de uma indústria automobilística para ser moderno – ao mesmo tempo que nos permitirá enfrentar melhor as batalhas possíveis. Daí a necessidade de substituirmos a visão de que ”tudo globalizou” por uma melhor compreensão de como os diversos espaços do nosso desenvolvimento se articulam, cada nível apresentando os seus problemas e as suas oportunidades, e a totalidade representando um sistema mais complexo (DOWBOR, 1995 p. 2). Os espaços de autonomia serão tanto maiores quanto maiores forem as potencialidades locais e mais forte for a organização da sociedade em torno de um projeto coletivo que articule o local com o global. E mais, os impactos do processo de globalização dependem das iniciativas internas e das posturas políticas dos atores sociais no plano local (BUARQUE, 2002). Por isso, se todas as coisas já estivessem dadas ou pré-determinadas, não teria sentido nenhum mobilizar a população a participar de diversos fóruns para, provavelmente, só legitimar o que está previamente conformado. Diferente é a interpretação quando se constituem espaços que são oportunidades de desenvolver ações e projetos que podem mudar determinada realidade local, ambientes em que todos se comportam como atores sociais. Sob este olhar, a descentralização é concebida por Buarque (2002) como a transferência de autoridade e do poder decisório de instâncias agregadas para unidades espacialmente menores, entre as quais o município e as comunidades, conferindo capacidade de decisão e autonomia de gestão às unidades territoriais de menor amplitude e escala. Esse processo representa uma efetiva mudança da escala de poder entre instâncias públicas e instituições privadas. O mesmo autor diferencia também os conceitos de descentralização e desconcentração, sendo este último interpretado como a transferência de responsabilidades executivas para unidades menores, mas sem repasse do poder decisório e autonomia de escolha. Segundo Carvalho (1999), os processos de descentralização vêm ocorrendo desde os anos 70, seja como uma alternativa à crise do “Estado de bem-estar social” – já que a centralização ocasionou uma enorme expansão do aparato burocrático, comprometendo a eficácia e tornando onerosa a gestão da política social - seja como resposta às demandas de maior democratização da esfera pública. Mas é na constituição de 88 e nos anos imediatamente subseqüentes que a descentralização ganha relevância. O município, muitas vezes tido como sinônimo de “local”, apresenta-se como a esfera administrativa mais representativa e mais legítima para implementar e realizar políticas públicas. Buarque (2002) afirma, também, que a descentralização pode apresentar diferentes níveis de autonomia. Um desses níveis compreende uma descentralização denominada dependente, que é associada ao repasse de recursos das instâncias superiores para as unidades hierarquicamente inferiores, por vontade e decisão das primeiras. Outro nível, denominado autônomo, certamente o mais desejável, ocorre quando existe a transferência de autonomia e efetivo poder decisório para as instâncias de menor escala. Essa descentralização, segundo o autor, pode ocorrer de duas maneiras: a) Estado - Estado, onde se efetua a transferência de funções e responsabilidades de gestão interna do setor público para instâncias espacialmente diferenciadas, da mais ampla para a mais reduzida e local; b) Estado - sociedade, na qual se dá a democratização da gestão e transferência para a sociedade, conferindo-lhe a capacidade de decisão a execução de atividades, a gestão de recursos e a prestação de serviços, tradicionalmente concentradas nas mãos das unidades estatais e governamentais. O mesmo autor ainda ressalta que as mudanças na estrutura e organização do Estado e sua relação com a sociedade podem levar à construção de uma nova institucionalidade, que se caracteriza pela emergência de um segmento público não estatal. Este, de forma descentralizada, exerce atividades e executa ações de natureza pública, em contrato e parceria com o Estado, mas independente e com grande flexibilidade. Esse componente novo do sistema institucional surge com a propagação das organizações não governamentais, isto é, instituições sem fins lucrativos que têm a missão de prestar serviço público. A descentralização só deve ser realizada, segundo Buarque (2002), quando visa melhorar a gestão dos bens e serviços públicos, elevando os resultados e reduzindo os custos, ao mesmo tempo em que assegure sua contribuição para o desenvolvimento local e a democratização da sociedade. Assim, fortalece-se o poder local, ampliando as oportunidades que tem o cidadão de escolher suas alternativas, de participar das decisões sobre ações de desenvolvimento local, enfim, de decidir seu destino. Esse processo fortalece também o papel pedagógico na formulação de uma cultura democrática. A descentralização começa progressivamente com a abertura política, acontecendo muito lentamente dentro do Estado, porém mais rapidamente entre Estado e sociedade. No Brasil, após a Constituição Federal de 1988, criaram-se mecanismos, principalmente através da pressão dos movimentos sociais, para maior controle e fiscalização do Estado. Entre estes mecanismos estão os conselhos, os quais proliferaram rapidamente, embora sem muitas vezes definir bem os seus objetivos. Parece inegável que inicialmente esses conselhos assumiam mais o caráter de fiscalização e controle das políticas públicas, mas com o tempo e em alguns casos, avançavam para a gestão dessas políticas e, promovendo seu autodesenvolvimento. Mais recentemente tem se dado ênfase à necessidade de geração de um processo de criação de capital social, vinculado a características da organização social que contribuam para melhorar a sociedade. Para Abramovay (2003), a noção de capital social é uma espécie de resposta a um dos mais decisivos mitos fundadores da civilização moderna: o de que a sociedade é um conjunto de indivíduos independentes, cada um agindo para alcançar seus objetivos. A idéia de capital social sugere um conjunto de recursos (boa parte simbólicos) de cuja apropriação depende, em grande parte, o destino de uma certa comunidade. É um processo de aquisição de poder e até de mudança na correlação de forças no plano local. Para o autor, mais importante que os fatores naturais é construir novas instituições propícias ao desenvolvimento local, o que consiste, antes de tudo, em fortalecer o capital social dos territórios, muito mais do que em promover o crescimento desta ou daquela atividade econômica. As implicações do capital social sobre o poder de um grupo social são ilustradas no Quadro 02. Quadro 02 – Reflexos do capital social sobre o poder de um grupo social Para Wilheim (1999), o contexto histórico a partir da década de noventa caracteriza-se menos por ajustes do que por descontinuidades e rupturas. A sociedade civil, finalmente, passa a ser protagonista emergente, na maioria das vezes, representada pelas ONGs. O chamado terceiro setor - que se auto define como um setor público, de origem privada, não lucrativo, atuando em prol do desenvolvimento e da defesa e ampliação dos direitos do cidadão - ganha maior densidade e influência política. Esta transformação, para o autor, significa um gradual redesenho das instituições democráticas, alterando a representatividade e os formatos, aproximando os cidadãos das decisões que lhes dizem respeito, aumentando a transparência do poder e ampliando os direitos civis. Uma democracia redesenhada e expandida implica em uma gestão social que constantemente está em busca de parcerias, objetivando um trabalho conjunto de entidades de natureza diversa, cada qual com sua estrutura, portanto, entidades não sujeitas a uma hierarquia única. Essas parcerias freqüentemente criam uma rede para executar suas tarefas em conjunto, sem afetar as vinculações que cada uma mantém para outros fins. Sob essa ótica, o terceiro setor pode ser reconhecido hoje pela sua capacidade de gerar projetos, assumir responsabilidades, empreender iniciativas e mobilizar pessoas e recursos necessários ao desenvolvimento social do País. 4 A Participação e planejamento Dowbor (1999), quando introduz a noção de gestão social, compreende-a como estreitamente vinculada ao conceito de articulação. Conforme o autor, quem estuda hoje a gestão social preocupa-se com novas formas participativas de elaboração do orçamento público, de representação política e de um novo potencial de comunicação. Ainda a seu ver, a gestão social não é mais um setor, é uma dimensão humana do próprio desenvolvimento, que envolve tanto o empresário como o pesquisador ou o ativista do Movimento dos Sem-Terra. O autor afirma também que o interesse direto do cidadão pode ser capitalizado para se desenhar uma forma desburocratizada e flexível de gestão social, apontando para novos paradigmas que ultrapassem tanto a pirâmide estatal como o vale-tudo do mercado. Segundo o mesmo autor, as tendências recentes da gestão social nos obrigam a repensar formas de organização social, a redefinir a relação entre o político, o econômico e o social, a desenvolver pesquisas cruzando as diversas disciplinas, a escutar de forma sistemática os atores estatais, empresariais e comunitários. Trata-se hoje de um universo em construção, onde as políticas sociais não se resumem à ação local, às parcerias com o setor privado e à dinâmica do terceiro setor, mas abrangem também a reformulação da forma como está concebida a política nacional nas diversas áreas da gestão social. Tenório (2002) afirma que o exercício de uma administração pública com características de uma gestão social tem a intenção de valorizar ações nas quais existe a participação da sociedade civil, por meio de seus diferentes sujeitos. No entanto, isso requer tempo suficiente para diminuir a dependência que, historicamente, a sociedade civil tem em relação aos poderes públicos constituídos. O que se observa é que o poder público tem a iniciativa das ações. Apesar da existência dos conselhos municipais e regionais nos mais diversos setores, as suas ações ainda carecem de uma maior sinergia com as políticas projetadas pelas instituições públicas de um determinado espaço. O reconhecimento da cidadania, segundo Carvalho (1999), implica na adoção de programas e estratégias voltadas ao fortalecimento emancipatório e autonomização dos grupos e populações-alvo das ações públicas. Uma pedagogia emancipatória põe acento na força dos cidadãos usuários dos programas, empoderando-os e potencializando talentos e autonomia, bem como, fortalecendo vínculos relacionais capazes de assegurar inclusão social. Dessa forma, ganham primazia as dimensões ética e comunicativa. Para Franco (2000), a ascensão do pensamento sistêmico, o estudo dos padrões, das redes e dos sistemas complexos, enfim, a emergência de auto-organização, têm revelado que em sistemas em que predominam fortes desigualdades sociais podem se desenvolver processos surpreendentes de amplificação de pequenos estímulos por meio de laços de realimentação e reforço, onde eventuais instabilidades podem gerar novas formas de organização. Tudo isto tem sugerido uma nova maneira de olhar a realidade social. O pensamento sistêmico, que surgiu e se expandiu inicialmente mais entre as ciências naturais, vem sendo estudado progressivamente pelas ciências sociais, ajudando a aproximação entre ambas. Assim, a visão sistêmica tem contribuído muito para a compreensão da complexidade, das particularidades locais e da importância da participação dos atores locais, onde cada um é considerado um observador e tem uma interpretação singular sobre determinada realidade. Neste sentido, Morin (2001) ressalta: Efetivamente, a inteligência que só sabe separar, fragmenta o complexo do mundo em pedaços separados, fraciona os problemas, unidimensionaliza o multidimensional. Atrofia as possibilidades de compreensão e de reflexão, eliminando assim as oportunidades de um julgamento corretivo ou de uma visão a longo prazo. Sua insuficiência para tratar nossos problemas mais graves constitui um dos mais graves problemas que enfrentamos (MORIN, 2001, P. 14). O desenvolvimento de uma região e de seu entorno depende de uma melhor produtividade social que muitos querem medir pela maximização e soma das produtividades micro-econômicas. A simples soma de lucros obtidos com alta produtividade, sem levar em conta as conseqüências refletidas sobre as condições de vida da sociedade, não pode ser referência exclusiva para a avaliação do desenvolvimento. Zimmermann (2004) observa, por exemplo, que muitos empresários e economistas explicam que jogar os dejetos no rio pode ser mais barato a curto prazo; por isso, não raras vezes entendem que ambientalistas são exagerados. Consideram também mais importante a produtividade e competitividade que, para eles, podem assegurar mais empregos e, em última instância, mais bem-estar por meio de salários. Porém, essa atitude em relação ao meio ambiente, pode ser uma ilusão de dinheiro economizado, já que rios poluídos tendem a gerar doenças e gastos consideráveis em saúde curativa, além da perda de áreas de lazer dentre outras conseqüências. Além disso, para fazer a recuperação da água poluída, investem-se os impostos em obras freqüentemente pouco efetivas e custos maiores do que teria sido o da prevenção. Ao serem desconsiderados estes custos nas análises econômicas da produtividade, ou seja, ao ser desconsiderado o balanço social e ambiental, pode ser gerado um impacto social capaz de comprometer o desenvolvimento local ou regional. Neste contexto de sistemas mais complexos e abstratos (como sistemas sociais), segundo Pinheiro (2000), o interesse passa a ser o entendimento das relações humanas e as interações dos seres vivos com o meio ambiente, cujos resultados se refletem na construção social. Se a divisão de poder, de um lado, permite uma maior participação, de outro remete à condição de assumir responsabilidades. Assim como existem diferentes níveis de descentralização, existem também diferentes categorias de participação da sociedade. Estas categorias podem variar desde a participação passiva à automobilização, conforme ilustrado no Quadro 03. Neste estudo, mais importante do que tentar formular uma única definição sobre a participação, procura-se evidenciar as diferenças entre os diversos níveis de participação categorizados na tipologia do Quadro 03, todos igualmente importantes e presentes nas diversas ações de desenvolvimento. A participação tem sido crescentemente desejada e promovida, mas, na prática, permanecem muitos desafios e conflitos. Por exemplo, em muitos processos de formação de conselhos, estes parecem se traduzir por uma “prefeiturização”4 das ações. Entre outros, existem também conflitos sobre as propostas de desenvolvimento setorial e territorial5, sobre as formas de representação, as diferenças de atribuições e ações dos conselheiros num conselho de caráter consultivo e em outro que é deliberativo. Pinheiro, Pearson e Chamala (1997) lembram que é muito comum falar de 4 Quando o poder descentralizado é “capturado” pelos agentes políticos que estão no comando da Administração Municipal. 5 O desenvolvimento territorial se restringe ao conhecimento de determinado espaço, e o setorial, às diferentes atividades que este espaço incorpora. participação, parceria ou colaboração nas instituições quando outros setores participam de nossas iniciativas, são parceiros ou colaboram com os projetos que coordenamos. Contudo, quando outros atores nos convidam a participar dos projetos deles, nem sempre demonstramos o mesmo entusiasmo. Em outras palavras, facilmente existe entusiasmo com a idéia de dividir responsabilidades, mas, quando se trata de dividir poder (descentralizar), o entusiasmo logo desaparece. Isto revela que, embora se esteja tentando mudar e aperfeiçoar os métodos, em geral se continua pensando e agindo de acordo com os velhos paradigmas. No caso específico do meio rural, esta contradição parece estar enraizada nos serviços de extensão rural, os quais têm tido dificuldades de se aproximar de uma alternativa epistemológica, como, por exemplo, a “abordagem construtivista”6 sugerida pelos autores. Em se tratando da esfera rural e agrícola, o estímulo à participação interativa torna o ambiente propenso à aprendizagem, que vai ser recriada e reconstruída entre os agricultores e entre estes e os extensionistas, no sentido de compreender as relações entre os diversos componentes dos agroecossistemas. São da mesma maneira importantes as relações das pessoas do local com os agentes externos, e de ambas as partes com o ambiente, buscando uma melhor compreensão do contexto, visando manejar os agroecossistemas dentro de um enfoque ecológico. Isto certamente representa um processo de desenvolvimento rural mais complexo e, talvez, mais lento, que deve ser construído com a participação e planejamento da maioria dos atores sociais locais. A perspectiva de uma descentralização permite também que se pense em reconhecer a possibilidade de existirem dois fluxos de decisões. Sampaio (2000) afirma que os mais conservadores entendem que o poder político, econômico, paterno ou sacerdotal deve ser exercido de “cima para baixo”, e que os espaços públicos democráticos possuem um sentido subversivo, na medida em que subvertem a concepção tradicional de poder, no sentido de construir a sociedade de “baixo para cima”. Na dimensão de um fluxo ascendente, ganha espaço a participação que, para o autor, humaniza o planejamento, ao invés de coisificá-lo. De um processo de planejamento com participação, enquanto norteador das políticas públicas, resulta a conquista emancipadora dos indivíduos em relação ao Estado. Isso significa a possibilidade de os indivíduos se pronunciarem antes das decisões serem tomadas, em vez de se limitarem a protestar diante dos fatos já consumados. Quanto aos resultados, a participação 6 Segundo Minini-Medina (2000) a abordagem construtivista, que tem como grandes mentores Piaget, Ferrero e Furth defendem os seguintes pressupostos metodológicos: não existe uma metodologia única; é baseada na investigação, no trabalho de equipe, na discussão, na prática da liberdade em comum; ativa, flexível e adaptável às condições dosalunos (agricultores); respeita o ritmo individual de trabalho e estabelece relações entre as no planejamento leva as pessoas a sinalizar para aspectos associados à qualidade de vida e para o desejo emergente da sociedade de ser feliz, diferentemente das asas do Bem-Estar Social e da exploração da natureza (grifos do autor). O planejamento, segundo Buarque (2002), é um processo ordenado e sistemático de decisão, o que lhe confere, além de uma conotação política, uma conotação técnica e racional de formulação e suporte para as escolhas da sociedade. Ou seja, o planejamento incorpora e combina uma dimensão política e uma dimensão técnica, constituindo uma síntese técnico-política. Assim, o processo de planejamento cria condições para a (re)construção da hegemonia, na medida em que articula, técnica e politicamente, os atores sociais para escolhas e opções sociais. Para o mesmo autor, o planejamento local e os planos de desenvolvimento são, antes de tudo, um instrumento de negociação com os parceiros potenciais – tanto na fase de elaboração quanto, após a produção do documento (síntese) – e de aglutinação política dos atores, na medida em que estes expressam, de forma técnica e organizada, o conjunto das decisões e compromissos sociais. 5 Os espaços de poder deixados pelo Estado brasileiro Ao longo da história brasileira, a democracia se encontrou fragilizada na maior parte dos períodos de nossa história. Zimmermann (2003) cita que no período colonial, ela foi ignorada. No Império existia a discriminação do direito de voto, além de fraudes no processo eleitoral e eleição limitada a representantes do Poder Legislativo. Na República, desde seu princípio até 1930, os grupos oligárquicos regionais mantinham o poder por intermédio de processos eleitorais fraudados, por práticas coronelistas, quando os governadores, apoiados pelos coronéis, controlavam o poder central. Nos períodos autoritários, de 1930 a 1945 e de 1964 a 1985, houve a quebra total do regime democrático e do exercício da cidadania. Restam, portanto, os períodos de 1945 a 1964 e, para este estudo, o de 1985 em diante, onde o exercício da democracia e da cidadania conquista espaço formal em nossa sociedade. Segundo Allebrandt (2003), no processo de redemocratização do Brasil, iniciado na década de oitenta, a sociedade civil lutou para que seus representantes constituintes garantissem, pelo menos, a instituição de uma democracia semidireta, com a combinação de diferentes ciências. aspectos de participação indireta, através da representação de vereadores, deputados, senadores, conselheiros; e por outro lado, a instituição de uma participação direta através de leis de iniciativa popular, referendo, plebiscito e assembléias deliberativas. É este regime político que está garantido no artigo 1º da Constituição Federal de 1988, o qual, no seu parágrafo único, define que “todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição”. A Constituição Federal, por sua vez, estabelece no art. 25º, parágrafo 3º, que os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerados urbanos e microrregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum (BRASIL, 2001). A Constituição Federal estabelece, também, a criação de órgãos colegiados que deliberem sobre a seguridade social. Esses órgãos devem assegurar direitos relativos à saúde, à previdência, à assistência social e à educação, prevendo, para isso, a formação de conselhos, dentro do âmbito da ordem social. Diferentes modalidades de conselhos foram regulamentadas posteriormente em nível federal. Muitos destes conselhos nacionais têm seus equivalentes na esfera estadual e municipal, com atribuições semelhantes para as respectivas esferas. Entretanto, no conjunto de artigos que fazem menção à agricultura, nenhum trata da formação de conselhos ou fóruns para discutir o tema. Para Buarque (2002), com a promulgação da Constituição de 1988, iniciou-se um processo desorganizado de descentralização político-administrativa no Brasil, com distribuição de responsabilidades e poder decisório para os estados e municípios, reduzindo assim o peso da União. Desde então, esse processo avança de forma desordenada e desconexa, tratando, de maneira desigual, o repasse de responsabilidades e recursos, bem como, apresentando distorções na gestão da esfera pública. O mesmo autor entende que a descentralização só deve ser realizada quando concorre para melhorar a gestão dos setores públicos, elevando os seus resultados e reduzindo os custos, ao mesmo tempo em que assegure sua contribuição para o desenvolvimento local e a democratização da sociedade. 6 A regionalização e as formas de participação no Rio Grande do Sul O programa de regionalização no Estado do Rio Grande do Sul vem de longa data e envolve aspectos relacionados à economia, ao planejamento regional e à gestão pública em geral. Em 1987, segundo De Toni e Klarmann (2002), o Programa Estadual de descentralização Regional teve, como objetivo, definir a regionalização do Rio Grande do Sul e implantar a descentralização das atividades setoriais da Administração Estadual direta e indireta, com base em regiões territoriais. A discussão desse assunto se intensificou no final da década de 1980, culminando com a elaboração e a aprovação da Constituição Estadual, em 1989. A Constituição Estadual trata, entre os artigos 166 e 170, da política de desenvolvimento estadual e regional. Em seu artigo 167, prevê que a definição das diretrizes globais, regionais e setoriais da política de desenvolvimento caberá a órgão específico, com representação paritária do Governo do Estado e da sociedade civil, através dos trabalhadores rurais e urbanos, servidores públicos e empresários, dentre outros, todos eleitos por suas entidades. No artigo seguinte assegura que o sistema de planejamento disporá de mecanismos que assegurem ao cidadão o acesso às informações sobre qualidade de vida, meio ambiente, condições de serviços e atividades econômicas e sociais, bem como a participação popular no processo decisório (RIO GRANDE DO SUL, 1989). Dessa forma, surgiu no estado a proposta de criação dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento, inicialmente conhecidos pela sigla CRDs e, a partir de 1994, pela sigla COREDEs. A criação desses Conselhos aconteceu logo depois do processo de elaboração das constituições federal e estadual e objetivava suprir a falta de instâncias de articulação regional. Paralelamente, essa criação era considerada instrumento de mobilização da sociedade e fórum de discussão e decisão a respeito de políticas e ações que visassem o desenvolvimento regional. Os primeiros passos concretos para a implantação dos CRDs começaram a ser dados a partir de 1990, com a realização das primeiras reuniões e seminários informativos em alguns municípios-pólo do Estado, sendo promovidos pelas Universidades regionais. No ano seguinte a nova administração estadual dá continuidade a essas iniciativas, tanto que, até o final do ano de 1991, 17 Conselhos Regionais de Desenvolvimento foram organizados. Os outros 5 conselhos, que completam a abrangência territorial do Estado, surgiram ao longo do processo (DE TONI, KLARMANN, 2002). Em 1994, depois de longa tramitação e mobilização dos representantes e agentes envolvidos, foram criados e regulamentados oficialmente os COREDEs, (em substituição aos CRDs), pela Lei nº 10283, de 17 de outubro de 1994. Esta lei dispõe sobre a criação, estruturação e funcionamento desses Conselhos, sendo regulamentada, através de decreto de 28 de dezembro do mesmo ano, a delimitação territorial de cada uma das regiões. Este foi um dos últimos atos administrativos da gestão de 1991-1994. Embora a lei e o decreto não fizessem referência direta aos Conselhos Municipais de Desenvolvimento (COMUDEs), estava implícita a posterior criação dos mesmos em todos os municípios. A atual região das Missões passou por diversos recortes regionais até que, no início da década de 1990, foram estruturados os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (primeiro com a sigla de CRD e depois COREDE). O CRD – Missões, instalado oficialmente em 30 de agosto de 1991, surge da fusão de duas Associações de Municípios vinculados à Federação da Associação de Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS) o que vem demonstrado nas Figuras 01 e 02. Uma dessas Associações é a de Cerro Largo, na qual a maioria dos municípios participantes localiza-se na margem direita do rio Ijuí, ao longo da rodovia BR 392. Nos municípios pertencentes a essas Associações, existe a ampla predominância de etnias européias. O município de Cerro Largo foi a grande referência da colonização alemã na região, e o município de Guarani das Missões foi o mesmo em relação à etnia polonesa. A outra Associação formadora do CRD-Missões é a de Santo Ângelo, que incorpora municípios da margem esquerda do rio Ijuí, ao longo da rodovia BR 285, compreendendo um trajeto situado nos Sete Povos das Missões. Nos municípios pertencentes a essa Associação ocorre uma forte presença luso-brasileira (cabocla). Figura 01 – Localização do COREDE Missões Figura 02 – Mapa do COREDE Missões No contexto CRD ou COREDEs se torna relevante a noção de território de desenvolvimento. Para Schmidt; Schmidt e Turnes (2003), os limites de um território normalmente são definidos a partir de alguns indicadores de homogeneidade, sejam eles naturais, culturais ou históricos. Esta condição, no entanto, mascara uma série de especificidades e heterogeneidades quase sempre presentes no interior de unidades administrativas; e estas diferenças podem constituir-se numa riqueza local, como foi frisado no início do capítulo, quando se postulou que a sociedade era constituída por um conjunto de fatores. A região de abrangência do COREDE Missões é formada por 25 municípios, que concentram 2,6% da população do Estado e, 4,9% de sua área, sendo a densidade demográfica de 18,80 hab/km², o que é praticamente a metade da média estadual. Na região desse COREDE há inclusive, 5 municípios com uma média inferior a 10 hab/km² . O IDH-M7 é considerado um dos mais baixos do estado. A etapa de delimitação das regiões caracterizou-se, segundo De Toni e Klarmann (2002), por uma grande flexibilidade, não se fixando a nenhum critério mais rígido para o 7 O IDH-M é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com apoio do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) e a Fundação João Pinheiro (FJP). O IDH-M baseia-se em três dimensões: Educação, Longevidade e Renda, incluindo variáveis específicas para cada indicador. agrupamento dos municípios. Respeitava-se a autonomia das comunidades na decisão dos limites geográficos do respectivo CRD, desde que fosse respeitada a contigüidade territorial. Depois de várias simulações, a proposta final se aproximou da regionalização da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS), que possuía uma delimitação prévia e já ajustada entre as administrações municipais. O processo de formação de cada Conselho envolveu, de maneira geral, três etapas: a definição dos representantes dos diferentes segmentos sociais de cada município, a realização de uma Assembléia Geral Regional, congregando os representantes desses segmentos, e a escolha de uma Diretoria Executiva para a condução dos trabalhos do CRD por um período de dois anos. Este processo procura superar o fórum restrito de prefeitos que as Associações de Municípios representavam na discussão de temas relevantes para cada região, buscando envolver toda a sociedade civil. Neste contexto, os COREDES são criados sem dispor de uma estrutura mínima, capaz de articular ações em nível regional. Muitos deles passaram a ser coordenados por professores universitários de instituições que tivessem inserção regional, sendo aproveitada a estrutura destas instituições para encaminhar o estritamente necessário. Outros recorriam aos funcionários das associações de município, que contribuíam para o encaminhamento das ações. Entre 1995 e 1998, que marca um novo período administrativo estadual, ensaiaram-se os primeiros passos para efetivar uma nova territorialidade regional. Em 28 de junho de 1995 é assinada a Emenda Constitucional nº 07, que agrega novos princípios para a administração pública. Entre estes está o da participação dos diversos setores da sociedade, que passa a ter uma referência explícita na Constituição para a Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes do Estado e dos Municípios. 7 Formas de participação através dos COREDEs Em 1998, último ano da gestão estadual em curso, o Governo do Estado implantou a Consulta Popular, coordenada pelos COREDEs e apoiada pelos COMUDEs em municípios previamente organizados, estimulando a participação da população por meio de votação direta dos principais projetos regionais. Este processo foi polêmico, sendo questionada a forma de construção dos projetos, seu conteúdo e, principalmente, sua contribuição para as políticas de desenvolvimento. Além disso, a realização da iniciativa se deu em último ano de governo, para que sua execução acontecesse em outra gestão, que representou a principal divergência. Em 1999, inicia um novo período administrativo estadual, que procura estabelecer um protocolo entre o Governo e os COREDEs, pelo qual o Orçamento Participativo (OP)8 estadual incorpora a delimitação regional das 22 regiões já existentes. O novo Governo passa a constituir a estrutura do Gabinete de Relações Comunitárias (GRC), com um coordenador e equipe de apoio. Para implementar o OP, foi garantida a infra-estrutura básica para a locomoção e atendimento da população regional. Mesmo havendo identidade em termos de divisão regional, as atividades entre COREDEs e o OP não se fundiram, caminhando muitas vezes de forma paralela e conflituosa. No ano de 2000, o Governo reconhece as dificuldades de articulação da ação pública em um determinado território. Por isso, institui oficialmente a delimitação das 22 regiões como Regionalização de Referência para toda a administração direta e indireta através do decreto nº 40.349, de 11 de outubro de 2000. O objetivo era fazer com que os órgãos gradativamente se adequassem uns aos outros, tornando mais produtiva e qualificada a tarefa de refletir o desenvolvimento regional, pela referência territorial comum. Institucionalizou-se o Programa de Regionalização Administrativa do Estado (PRAE) para coordenar e fazer a compatibilização dos diferentes órgãos estaduais, que tinham, até então, recortes regionais distintos. Objetivavam-se ambientes propulsores de uma regionalização mais uniforme de toda a estrutura de administração do Estado. Para De Toni e Klarmann(2002), através dessas providências, houve o reconhecimento da dimensão do problema resultante das diferentes regionalizações dos órgãos públicos da administração direta e indireta, tanto por parte dos próprios setores do governo como por parte das comunidades que o pressionavam para uma racionalização no atendimento. A ação governamental traz uma expectativa positiva no sentido de conquista de níveis crescentes de integração entre os organismos governamentais. Esta ação pode resultar em um aumento da eficiência e eficácia nos serviços, além de uma maior universalização e inclusão social e uma delimitação regional eficaz e racional, que atenda os anseios 8 O Orçamento Participativo foi instituído em 1999 no início do Governo do Partido dos Trabalhadores para ser mais um canal de participação direta da sociedade civil na gestão das políticas públicas. majoritários das comunidades e que sirva também como catalisador da ação pública no desenvolvimento regional. Em 2003, o novo Governo decreta o fim do Orçamento Participativo, retomando a estratégia de ação dos COREDEs e COMUDEs9, que passam a ser os fóruns legítimos de discussão e priorização das políticas públicas. Os cidadãos, por sua vez, podem participar e participam votando temas previamente definidos, ou seja, referendando ou não as decisões desses fóruns. O Processo de Participação Popular (PPP) vem sendo estudado e aperfeiçoado com o intuito de ser um novo modelo de participação social na elaboração da peça orçamentária do Estado. As demandas são elaboradas nos COMUDEs (município). Em seguida, são niveladas nos COREDEs (região) e depois, passam para a consulta popular (voto dos cidadãos). A partir de entrevistas realizadas para esta pesquisa, foi possível montar o Quadro 04, que procura destacar as principais diferenças entre os três processos de participação social, embora os dados e as informações se restrinjam àquilo a que se teve acesso. Quadro 04 - Principais características dos processos de participação social regional. Características Consulta Popular Orçamento Participativo Processo popular Período 1998 1999-2002 2003 em diante Organização Regional COREDEs GRC e COREDEs COREDEs Estruturas Regionais COREDEs sem estrutura, GRC com estrutura própria e COREDEs, vinculados às vinculando-se prioritariamente as COREDEs universidades e criação do agente universidades de desenvolvimento Estruturas de definição prioridades municipais Eleição das prioridades das Encontro de lideranças Assembléias municipais de Participação Encontro de lideranças e, a partir de 2004, os COMUDEs Votação direta com cédulas pelos Votação pelos participantes da Votação das prioridades pelos munícipes assembléia munícipes, através de urna eletrônica. Fiscalização, controle e execução COREDEs e lideranças municipais Delegados eleitos e indiretamente Gabinete da Vice Governadoria, das ações priorizadas. todos os participantes da COREDEs e lideranças municipais assembléia Construção da orçamentária Regional proposta Definida pelo resultado das Assembléia com os delegados Definido pelo resultado das eleições da região e ajustada nos municipais e representantes dos eleições e ajustado em cada COREDEs COREDEs, que definiam as COREDE 9 Foi exigido que em 2003, cada município organizasse por meio de lei municipal, o Conselho Municipal de Desenvolvimento (COMUDE), conforme modelo distribuído pelo Gabinete da Vice Governadoria. Compete ao COMUDE, entre outras atribuições, elaborar e/ou propor Plano Estratégico de Desenvolvimento Municipal, realizar a integração com as atividades do COREDE, acompanhar e fiscalizar a execução das ações ou investimentos escolhidos através do COMUDE, incluídos no orçamento municipal e estadual. É proposta uma estrutura básica com Assembléia Geral Municipal,Conselho de Representantes, Diretoria Executiva, Conselho Fiscal e Comissões Setoriais. Surpreende, por enquanto, que as comissões setoriais, que atuam, conforme o projeto, em áreas específicas, não apresentem nenhuma interface com os demais conselhos municipais. COREDEs COREDEs, que definiam as COREDE prioridades regionais e elegiam os conselheiros estaduais Construção da peça orçamentária Definida pelas eleições com Assembléia Estadual com os 220 Pela eleição e pelos ajustes junto Estadual pequenos ajustes pelos COREDEs conselheiros, sendo 176 aos COREDEs diretamente escolhidos pela população e 44 dos COREDEs (dois/COREDE) Amplitude Restrito à eleição de prioridades Espaço de cobranças, Eleição de prioridades por urna manifestação de inquietações eletrônica elaboração de demandas. Principal finalidade Incentivar a participação das Estimular a participação direta dos Estimular a formação de fóruns lideranças regionais na definição cidadãos, sem desconsiderar a municipais que discutam o das prioridades representação indireta. desenvolvimento e, a partir destes, encaminhar as prioridades Fonte: Pesquisa de campo Considerando certos fatores contextuais, Allebrandt (2003), sugere que a noção de participação ainda incorpora uma razoável confusão conceitual, principalmente se busca a distribuição do poder, e não apenas a aplicação de métodos e técnicas participativas. Para tanto, o autor entende que a participação não é neutra e representa, quando autêntica, mudança no processo de tomada de decisões. Os três processos de participação social descritos no quadro 04, podem ser graficamente representados pela Figura 03, que tem como base a tipologia definida nesta pesquisa e as características de cada processo sistematizadas no quadro citado. Figura 03 – Comportamento dos processos regionais de participação social frente à tipologia da participação Os entrevistados consideraram como aspectos relevantes dos processos participativos regionais, o espaço de participação, o intercâmbio, a expressão popular, o estímulo ao debate e a possibilidade de conhecer algo mais sobre a máquina pública estadual. Na opinião de alguns entrevistados, foi através do OP que eles tiveram a oportunidade de conhecer melhor o que o pessoal realmente precisa, sendo este, portanto, um processo motivador da participação. Permanecia muito presente a sensação de terem participado, serem parte do Governo do Estado, cabendo-lhes também a responsabilidade para que as prioridades locais fossem executadas. O fato de cada um poder decidir onde aplicar os recursos e em que prioridades foi lembrado com freqüência. O maior descrédito dos processos de participação regional é atribuído ao não atendimento das demandas; ou, quando isso não ocorria, prazos pré-estabelecidos não eram observados. Certas atividades participativas criavam uma expectativa, que pela demora, transformava-se frustração. Uma pessoa manifestou seu descontentamento ao dizer que o que se decide hoje somente é realizado daqui a dois ou três anos. Foi lembrado, por vezes, que a aquisição de máquinas que foram priorizadas em 1998 até hoje não chegaram ao município, mesmo tendo sido realizados vários seminários e refeitos projetos. A falta de recursos para o investimento foi lembrada com freqüência, sendo questionada a validade de decidir quando não se tem dinheiro. Ou seja, havia uma clara demonstração de que diversas prioridades sugeridas não foram executadas. As análises retrospectivas feitas pelos fóruns regionais ajudam a compreender melhor as questões locais. O movimento regional tem sua interface com o municipal, fazendose uma opção de começar por uma estrutura mais macro para, em seguida, planejar o espaço local. A inserção do caso aqui analisado no seu contexto regional também possibilitou que se percebessem várias inter-relações e características similares entre municípios limítrofes, demonstrando a necessidade de não prender o olhar somente ao local sem perceber o seu entorno. 8 Para continuar refletindo Na análise do funcionamento do Conselho Regional de Desenvolvimento da região das Missões, que exerce um papel importante na definição das políticas para o desenvolvimento regional, constatou-se que o mesmo mantém o forte viés de esperar que o poder público gere demandas. Mesmo assim, tem-se percebido uma crescente participação da população na discussão de temas ligados aos seus interesses. Disso resulta a constituição de um planejamento com mais comprometimento, que chega a constituir, embora ainda timidamente, interessantes ações de gestão social. A percepção dos diversos aspectos que envolvem o desenvolvimento passa a ser, de forma inovadora, realizada de maneira mais integrada, sendo efetuada a partir da região. Esse novo enfoque passa a ser incorporado, mesmo que timidamente, aos processos de interação com a população que tem, como finalidade, melhorar suas condições de vida. Na região, mais uma vez se demonstrou que os processos participativos utilizados não trazem embutidos, por si mesmos, uma ação democrática. Percebeu-se que, enquanto estava aberta a possibilidade de emitir opiniões, o trabalho fluía bem. No momento dos comprometimentos, contudo, existia uma forte tendência de transferir a responsabilidade para outras instituições e atores externos. Por isso, o sucesso de um processo participativo depende fundamentalmente da postura de profissionais que valorizem as ações interativas. Isso evidencia a importância dos procedimentos pedagógicos, os quais podem, por um lado, levar ao “empoderamento” da população, mas por outro, também podem ser usados como estratégia de manipulação e apropriação de demandas por agentes externos. Os próprios desejos levantados como sendo de base (município), podem ter, em sua essência, interesses das pessoas detentoras do poder local, dando uma aparência de processo participativo e democrático à tradicional situação de poder. As ações participativas têm estimulado uma maior organização da sociedade regional na gestão de suas próprias demandas. Isto tem suscitado o aparecimento de ações específicas a determinados grupos de pessoas que, por muito tempo, não eram sequer notadas. Percebe-se que os movimentos são recíprocos e complementares em um processo que busca a participação. De um lado, se alguém gera estímulos, normalmente disponibilizando recursos financeiros, de outro, há organizações que lutam por seu espaço e por recursos que possam ser acessados. Da mesma forma que pode ser visualizada a importância da contribuição da sociedade civil no encaminhamento de políticas públicas, cresce a necessidade de as empresas e organizações da sociedade pública ou privada construírem instrumentos conjuntos que atendam a interesses de consumidores e produtores, de modo que resultem em desenvolvimento local e regional. Antes de finalizar, é preciso reconhecer que o processo de “empoderamento” dos cidadãos e a conseqüente formação de capital social não são processos rápidos, restritos a uma ação específica; são, isso sim, uma construção progressiva de conhecimentos usados pelos atores sociais para seu auto-desenvolvimento. Neste sentido, é inegável a contribuição dos processos de envolvimento regional que oportunizam a reflexão sobre a possibilidade de substituição do modelo de exclusão social e degradação ambiental por um de inclusão social regional e de maior preservação ambiental. O processo de mudança normalmente é mais difícil num meio em que atores locais estiveram historicamente excluídos do debate, sendo meros receptores de políticas compensatórias. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. Conselhos além dos limites. Porto Alegre: Secretaria da Agricultura e Abastecimento/EMATER-RS/ASCAR/FETAG-RS/GTZ/PRORENDA, 2001, 29 p. (Série Textos Selecionados, n. 23). ______ O futuro das Regiões Rurais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003. 149 p. ALBAGLI, S. Globalização e espacialidade: o novo papel do local. Rio de Janeiro, 1999. (Nota Técnica nº04/98). Mimeografado. ALLEBRANDT, Sérgio Luís. A participação da sociedade na gestão das políticas públicas e do desenvolvimento. IPD Cidadania, 2003. 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