processo formal de educação de pessoas surdas

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PROCESSO FORMAL DE EDUCAÇÃO DE PESSOAS SURDAS:
SUBSÍDIOS PARA A RE(CONSTRUÇÃO) DO ESPAÇO EDUCACIONAL
PARA PORTADORES DE SURDEZ
Alvina Themis Silveira Lara
Professora Doutora da Faculdade de Educação
Curso de Pedagogia
Educação Especial
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Do Sul
INTRODUÇÃO
Ao longo da nossa trajetória profissional e com a nossa vivência diária com surdos das mais
diferentes idades, graus de escolaridade e níveis sociais, muitas indagações foram surgindo sobre o
processo formal de educação do surdo, que se apresentava (e se apresenta) com resultados
insatisfatórios para uma parcela significativa dessas pessoas, levando-nos a muitas perguntas, entre
elas, se a pessoa surda é considerada inteligente e com um potencial para aprender. Por que não
alcançava (alcança) êxito na escola? Por que o fracasso escolar da pessoa surda (independente do
grau e do tipo de surdez) é tão expressivo em vários momentos e em inúmeros lugares? Será que a
dificuldade é apenas do aluno? Apenas da escola? Ou do professor? Será que existe interação entre
eles? Mas será que o sistema, as instituições educacionais, também, não influenciaram
(influenciam) de forma implacável tal insucesso? E as metodologias? Que importância assumem no
processo formal de educação? Qual é a participação do surdo nos debates educacionais? As
políticas educacionais estiveram (estão) atentas às situações lingüísticas, cognitivas, sociais e
históricas da pessoa surda? E os discursos ideológicos, empregados até hoje, representam o surdo
enquanto um ser pensante com uma manifestação cultural de vida diferente das pessoas ouvintes, ou
é apenas um ser no mundo, objeto de experiências e estigmas? Como se desenvolveram (e se
desenvolvem) os currículos, tendo em vista o processo formal de educação do surdo? Existiu
(existe) uma preocupação real com a cultura e as experiências vividas por essas pessoas?
Tentando elucidar tais questionamentos, optamos por saber dos próprios surdos as respostas
sobre a situação educacional pela qual já passaram e/ou estão passando e, junto com os mesmos
fornecer algumas sugestões para um novo projeto educacional direcionado à área da surdez.
REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DE SURDOS
Ao refletirmos sobre a questão educacional dos surdos através dos tempos, constatamos que
as dificuldades e os conflitos pelos quais eles passam, atualmente, não são muito diferentes
daqueles enfrentados por algumas dessas pessoas desde os mais remotos tempos da humanidade.
Fazendo uma breve retrospectiva histórica sobre a educação de surdos, vamos encontrar na
Grécia e, mais tarde, em Roma, um verdadeiro culto à beleza, ao corpo e à eloqüência verbal,
fazendo com que os surdos fossem considerados incompletos, incompetentes, incapazes e até
insensíveis, portanto eram excluídos do convívio social.
Segundo alguns estudiosos, a instrução (termo utilizado na época) aos surdos, nos séculos
XVII e meados do século XVIII, era privilégio apenas dos filhos de famílias nobres, visto que
podiam pagar estimulantes quantias aos professores, pois necessitavam que seus herdeiros
soubessem ler, escrever e falar e, dessa forma, fossem considerados capazes perante a justiça. O
primeiro professor de surdos de quem se tem notícia foi Pedro Ponce de León (1520-1584), monge
beneditino que educava os filhos surdos de nobres, ensinando-os a ler, escrever, fazer cálculos e
expressar-se oralmente, tendo alguns de seus alunos avançado em campos como Filosofia,
Astrologia e História.
Em 1755, o abade Charles L’Epée iniciou um trabalho revolucionário com as pessoas surdas
pobres, recolhendo-as das ruas de Paris e aprendendo, com elas, a linguagem de sinais que
utilizavam entre si.
Para Marchesi (1987), L’Epée foi a figura mais relevante na educação do surdo durante o
século XVIII. O abade fundou, em Paris, a primeira escola pública para surdos e elaborou o
SISTEMA DOS SINAIS METÓDICOS.
No entanto, o método criado por L’Epée foi contestado e contraposto por Heinicke, na
Alemanha, adquirindo um enfoque exclusivamente oralista. Começa, então, a grande controvérsia e
divisão entre educação oral e educação visogestual dada aos surdos.
Conforme Skliar (1996), inicia, nesse período da história, a submissão coletiva dos surdos à
língua majoritária dos ouvintes, visto que, até essa época, surdos eram professores dos surdos, e a
linguagem de sinais era considerada a sua língua natural (no sentido da cultura), possibilitando-lhes
o seu desenvolvimento cognitivo.
Acompanhando o ritmo da história, encontramos o gramático R. A. Sicard, que questionava
a discriminação e o isolamento das pessoas surdas, acreditando na sua capacidade cognitiva e
social. Em 1791, quando da criação do Instituto Nacional para Surdos-Mudos, em Paris, Sicard
assumiu a direção dessa entidade, continuando a desenvolver o método iniciado por L’Epée.
Aproximadamente em 1815, o professor americano Thomas H. Gallaudet viajou para a
Europa em busca de novos métodos para instrução de seus alunos surdos. Na França, pode conhecer
mais de perto o método de Sicard. Ao retornar a seu país, Gallaudet chegou acompanhado de um
surdo francês, Laurent Clerc, que o incentivou a fundar, em Hartford, no ano de 1817, a Casa
Americana para a Educação e Instrução de Surdos-Mudos, atualmente Universidade Gallaudet.
No final do século passado, houve importante expansão do uso da língua de sinais em todo o
mundo, fazendo os surdos saírem da obscuridade e resgatando sua cidadania. No entanto, com o
Congresso Internacional de Educadores de Surdos, realizado em Milão, em 1880, ficou definida a
linha a ser adotada na educação dessas pessoas, o Método Oralista, sendo proibido o uso da língua
de sinais nas escolas.
Com essa decisão, a controvérsia entre Língua Oral e Língua de Sinais foi acentuada,
ocasionando muitas discussões e pontos de vista diferenciados.
No Brasil, a educação dos surdos teve início, oficialmente, com a criação do Instituto
Nacional de Educação dos Surdos (INES), em 1857, no Rio de Janeiro. Foi criado por um professor
surdo francês, Ernest Huet, com o apoio de D. Pedro II.
A postura metodológica do INES foi marcada, inicialmente, por um forte cunho oralista,
acompanhando as tendências pedagógicas da época, desenvolvendo um currículo extremamente
tradicional.
Com a Escola Nova, é oportunizada ao aluno surdo uma abertura ao uso da língua de sinais,
mas apenas em alguns locais e horários. Posteriormente, são adotadas metodologias unissensoriais,
com destaque ao Método Perdoncini, que busca aprimorar o resíduo auditivo das crianças surdas.
Vargas (1996) comenta que, em meados dos anos 70, com o advento do Tecnicismo, surgem
muitos tipos e usos de aparelhos auditivos (individuais e coletivos), bem como o Método
Verbotonal. O professor assume o papel de técnico da fala (reeducador, logopedista ...) em
detrimento da sua verdadeira função, a pedagógica.
Na década de 80, ocorre uma aceitação maior da língua de sinais, surgindo como forte
tendência a Filosofia da Comunicação Total, que afirma ser o surdo, um sujeito capaz de interferir e
mudar o contexto em que está inserido, sendo a surdez uma diferença que deve ser aceita e não uma
deficiência a ser vencida.
Para outros estudiosos do assunto, no entanto, a Comunicação Total mascara a prática
educativa, sendo uma “técnica manual do oralismo”, e afirmam, também, que sua utilização, na
educação do surdo, acarreta defasagens lingüisticas e cognitivas (Ferreira Brito, 1993, p. 31)
As divergências são muitas e as dúvidas atingem a todas as pessoas envolvidas no processo
educacional de surdos e, principalmente, os próprios surdos que se vêem constantemente no centro
(ou fora) de grandes discussões e polêmicas.
Atualmente, existe outra tendência para a educação dos surdos – o Bilingüismo – que é uma
visão educacional nova, pelo menos no Brasil, e que enfatiza o uso da língua de sinais desde o
nascimento da criança surda.
Skliar (1998, p. 27), um dos defensores do Bilingüismo, afirma que a educação bilingüe é
um ponto de partida e, talvez, um ponto de chegada e que “pôr a língua de sinais ao alcance de
todos os surdos deve ser o princípio de uma política lingüística, a partir da qual se pode sustentar
um projeto educacional mais amplo”.
Acreditamos que todas as tendências educacionais utilizadas até os dias atuais na educação
dos surdos apresentam pontos positivos e pontos questionáveis. No entanto, achamos que muito
mais importante do que a escolha de uma única opção educacional está a necessidade de se
considerar o surdo como um sujeito, um ser político, com identidade própria e autor de sua própria
história.
METODOLOGIA
Realizamos uma pesquisa de cunho qualitativo, através dos próprios testemunhos das
pessoas surdas, empregando a Entrevista Semi-Estruturada, com perguntas abertas, versando sobre
as vivências dos surdos em relação ao seu processo formal de educação.
Os sujeitos, oriundos de vários municípios do Rio Grande do Sul, em número de 15, foram
intencionalmente escolhidos por nós, entre os indicados por educadores de surdos e outros
profissionais da área, levando em consideração alguns critérios preestabelecidos e sugestões tais
como: liderança, participação na comunidade surda, cargos e funções desempenhadas. Optamos
pela faixa etária entre 20 e 50 anos por acharmos que, nessa fase da vida, as pessoas já adquiriram
maior maturidade e um melhor nível de entendimento sobre as questões vividas, já tendo passado
por algum processo formal de educação, podendo, dessa forma, refletir sobre ele.
As entrevistas variaram muito de duração, ficando a média em 60 minutos, foram gravadas
em vídeo e transcritas, acompanhadas de uma intérprete da Língua Brasileira de Sinais, reconhecida
pela FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração do Surdo) e com experiência
comprovada na área de atuação.
Para as transcrições recebemos o auxílio de uma professora especializada na educação de
surdos e da intérprete, evitando, assim, viés de transcrição e de interpretação no processo de
comunicação.
Para a análise dos dados foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo de Bardin (1995),
que forneceu elementos, por meio dos testemunhos dos sujeitos, para a categorização em sete
categorias a priori: Primeiras Experiências Escolares, A família e a Relação com a Instituição
Escolar, As Tendências Educacionais na Educação do Surdo, A Integração do Surdo, A
Comunidade Surda e a Cultura do Surdo, As abordagens atuais na Educação Formal do Surdo,
Projeto Educacional para a Pessoa Surda; e uma categoria a posteriori, Descoberta da Surdez, as
quais, após exaustiva análise, possibilitaram-nos a chegar a alguns resultados.
RESULTADOS
Pelos testemunhos dos sujeitos, podemos afirmar que o Processo Formal de Educação das
Pessoas Adultas Surdas, em épocas passadas, foi de maneira geral prejudicado, principalmente, pela
dificuldade de comunicação entre o aluno surdo e o professor ouvinte.
Outros fatores, também, tiveram (e têm) influência no desempenho acadêmico dessas
pessoas surdas, entre eles: o apoio e incentivo recebidos da família, a situação socioeconômica das
mesmas, a forma de comunicação utilizada entre seus componentes, o grau de perda auditiva do
aluno surdo, a idade de ingresso na escola e o enfoque de surdez assumido pela própria pessoa surda
e/ou sua família.
Referentemente ao que ouvimos dos surdos, nesta pesquisa, sobre o processo formal de
educação por elas vivenciado, ficou evidente, através da análise dos seus testemunhos, que em
relação à Descoberta da Surdez, a preocupação com o diagnóstico médico foi uma constante por
parte dos pais dos sujeitos entrevistados, sendo esse procedimento quase sempre problemático e
dificultoso.
Em relação à prótese auditiva, os sujeitos dividiram suas opiniões, manifestando-se a favor e
contra ao uso do aparelho. Os posicionamentos, no entanto, em nossa ótica, demonstram, em grande
parte, o conhecimento (ou desconhecimento) das pessoas surdas em relação a esse recurso, tendo o
desejo de optar por uma alternativa que lhes seja conveniente, utilizando-se (ou não) da prótese
auditiva. Convém lembrar, também, que, nessa opção, estão presentes o apoio da família, a situação
financeira, as condições físicas e psíquicas da pessoa em questão e, ainda, a sua visão (ou da
família, ao se tratar de criança) com referência à surdez.
No tocante às Primeiras Experiências Escolares, os sujeitos lembraram-se da idade de
início na instituição escolar, revelando a preocupação de seus pais em lhes oportunizar um
atendimento educacional, o mais cedo possível, em idade que variou entre dois e três anos.
O critério para a seleção da escola quase sempre levou em conta o fato das famílias
desejarem, para a pessoa surda, uma escola que lhe ensinasse a falar, pois o entendimento sobre a
educação formal, da grande maioria dos pais, era baseado no modelo clínico-terapêutico
predominante na época.
Na categoria A Família e a Relação com a Instituição Escolar, a ênfase centralizou-se no
apoio da mãe ao filho surdo. Os irmãos e o pai, além da vó e da tia, também, mereceram
manifestações de apreço e de reconhecimento por parte dos sujeitos entrevistados. A família,
inegavelmente, é a sustentação básica para um desenvolvimento adequado independentemente de
ter uma pessoa surda ou ouvinte.
Na relação da família com a instituição escolar, os sujeitos destacaram a participação de seus
pais na instituição e o bom relacionamento dos mesmos com direção, professores, equipe técnica e
demais pessoas da escola, configurando um clima de apoio e esforços mútuos.
Com referência às Tendências Educacionais na Educação do Surdo, adotadas nas escolas
freqüentadas pelos sujeitos, receberam destaque o Oralismo e a Comunicação Total. No Oralismo,
alguns sujeitos salientaram a forma opressora e dominante do modelo clínico-terapêutico que
vigorava na época. Outros, no entanto, destacaram essa alternativa educacional como necessária e
importante, principalmente, tendo em vista facilitar a comunicação com os ouvintes.
Quanto à Comunicação Total, os sujeitos salientaram o avanço na educação dos surdos com
a utilização da língua de sinais. Independente das dificuldades educacionais que possam ter ocorrido
com a Comunicação Total, de maneira geral, os sujeitos manifestaram-se favoráveis a essa
abordagem, especialmente, por conceber o surdo como uma pessoa e a surdez como uma diferença,
aproximando surdos e ouvintes através dos vários recursos comunicativos.
As dificuldades com os conteúdos curriculares formais, segundo os sujeitos, e confirmando
as idéias de alguns autores, quase sempre foram resultantes da falta de entendimento na
comunicação entre professores ouvintes e alunos surdos.
No entanto, por dados obtidos ao longo da pesquisa, podemos afirmar que alguns surdos
obtiveram, e ainda obtêm, sucesso na escola porque, basicamente, têm uma família que os apoia,
incentiva e os orienta em todos os momentos: são possuidores de uma situação social e econômica
que lhes possibilita acesso aos recursos necessários e, também, porque foram encaminhados
precocemente ao atendimento, inclusive o educacional, adequado, conforme sua capacidade e
necessidade.
No que se refere à Integração do Surdo, a grande maioria dos sujeitos da pesquisa
manifestou-se favorável a esse procedimento, tanto no ambiente escolar formal quanto na sociedade
em geral. Os sujeitos contrários à integração relataram o fato de existir dificuldade de comunicação
entre os surdos e ouvintes. Em nossa visão, essa temática tem implicações bem mais profundas do
que a comunicação em si, ampliando-se ao tipo de família vivenciada pela pessoa surda e, sem
dúvida, todas as situações de comunicação experienciadas.
Em relação à Comunidade Surda e a Cultura do Surdo, mereceu destaque especial a
ênfase dada por testemunhos dos sujeitos à cultura do surdo e à sua língua natural, bem como a
importância da construção da identidade da pessoa surda, embasada nos fundamentos socialhistórico-político-culturais de um grupo de pessoas ligadas por uma forma peculiar de
comunicação.
Alguns relatos sensibilizaram-nos à medida que nos permitiram um novo olhar sobre as
diferenças, ao mesmo tempo que desvelamos vários sentimentos, por parte dos sujeitos, ao
testemunharem situações vividas no processo de construção de sua identidade.
A ambivalência, a dúvida, a incerteza, receios e medos apareceram em alguns relatos,
demonstrando ter sido um caminho difícil e demorado para alguns sujeitos do estudo, mas
imprescindível e necessário.
Ao longo dos testemunhos, pudemos comprovar que a grande mudança no processo formal
de educação da pessoa surda encontra-se nas Abordagens Atuais na Educação Formal dos
Surdos. Os testemunhos dos sujeitos apontaram a Comunicação Total e o Bilingüismo como
alternativas adequadas à educação da pessoa surda e coerente com o seu projeto de vida e de
mundo.
As sugestões fornecidas pelos testemunhos dos entrevistados para este Projeto
Educacional, para pessoas surdas, sem dúvida, foram extremamente importantes e revelaram o
grande comprometimento dos sujeitos com a proposta da própria pesquisa. Enfatizaram a
necessidade da pessoa surda aprender a aprender, no sentido de lhes serem oportunizadas formas
culturais e científicas para a sua formação integral e construção de sua cidadania. Também,
ressaltaram a necessidade de se engajarem em uma proposta educacional que lhes permita utilizar,
construir e interferir nos diversos conhecimentos das ciências e das tecnologias.
Ao darem relevância à possibilidade e necessidade da presença do Professor Surdo e do
Intérprete nessa proposta, ratificaram sua posição em privilegiar a cultura surda e a língua de sinais
como expressão máxima de uma minoria lingüística que sabe lutar por seus direitos e que reivindica
acesso a todas informações, em um ambiente favorável, ao seu desenvolvimento lingüístico.
Os sujeitos destacaram como importante nessa proposta de Projeto Educacional a
necessidade de haver maior integração entre surdos e ouvintes a partir de uma abordagem bilíngüe e
multicultural que oportunize momentos de aprendizagem significativa, de forma, participativa e
integrada, respeitando a diversidade cultural das pessoas envolvidas
Em relação às demais contribuições dos surdos para o Projeto, os sujeitos assumiram o
compromisso de orientar e colaborar com os colegas surdos, ampliando-se à docência e aos futuros
atendimentos nas áreas psicológica, educacional e jurídica.
CONCLUSÃO
Convém esclarecer, inicialmente, a partir dos resultados obtidos, que muitos outros enfoques
e itens poderiam ser acrescidos à proposta no que se refere às adaptações curriculares, com a
utilização de diferentes e diversas tecnologias como, por exemplo: programas educativos, filmes,
fax, computadores com linguagem interativa com legenda ou com apresentação em LIBRAS.
Também, poderiam ter sido sugeridas, ao nosso ver, adaptações no que se refere a sinalizações (com
luz) em substituição aos mecanismos que dependem da via auditiva como a campainha e a sirene,
entre outras.
No entanto, ressaltamos, novamente, que respeitamos os testemunhos das pessoas
entrevistadas e apresentamos suas propostas sem nenhuma alteração, ajuste ou correção.
Acreditamos ser essa sugestão o ponto de partida para uma série de possíveis mudanças que
se fazem necessárias na educação da pessoa surda.
Em relação ao Processo Formal de Educação desenvolvido atualmente, a grande mudança
encontra-se nas tendências educacionais utilizadas pelas escolas que visam à aquisição e ao
desenvolvimento da língua natural do surdo, a língua de sinais.
No tocante às expectativas futuras dos sujeitos deste estudo, tendo em vista o Processo
Formal de Educação das Pessoas Surdas, a pesquisa comprovou a necessidade de um projeto
educacional que respeite a sua língua e a sua cultura.
O grande desafio, em nossa opinião, consiste em romper com as estruturas arcaicas e
preconceituosas da nossa sociedade para dar lugar a uma visão social, cultural e antropológica da
surdez, pela qual as pessoas surdas sejam vistas como diferentes e não deficientes. Pessoas que
fazem parte de um contexto diferenciado, pela cultura de seus componentes, os quais devem ser
respeitados em sua forma diferente de comunicação.
Há necessidade de um novo olhar em relação às questões da língua, identidade e cultura
surda. Faz-se prioritário a (re)construção de um espaço educacional formal transformador que
direcione a educação dos surdos aos discursos e às práticas educacionais do sistema como um todo,
de forma consensual, integrada e crítica.
Os sujeitos desta pesquisa sugeriram um Projeto Educacional que privilegie a Língua de
Sinais como primeira língua, oportunizando um encontro com seus pares nas mais diferentes
idades, níveis e graus de ensino. Sugeriram, ainda, um Projeto que lhes assegure todas as práticas
educacionais e informações curriculares e culturais possíveis, através da Língua Portuguesa oral e
escrita, como instrumento mediador do debate socio-político-educativo.
Os entrevistados sugeriram, também, uma forma de aprender significativa, no qual
professores e alunos possam construir e desenvolver ações concretas de maneira reflexiva e crítica.
Ressaltaram que buscam um Projeto Educacional com conteúdos de aprendizagem que lhes
garantam o saber (fatos, conceitos e princípios), bem como os procedimentos que lhes permitirão
interferir na realidade - saber fazer e, ainda, que esse novo Projeto lhes dê condições para aprender
a viver e a conviver com todas as pessoas – ser/conviver.
Nesse sentido, os testemunhos dos sujeitos expressaram claramente a necessidade de um
novo espaço educacional formal para as pessoas surdas na perspectiva da construção da cidadania,
valorização da cultura e da identidade do surdo. Ao mesmo tempo, buscam a interação com a
comunidade ouvinte visando, através de suas especificidades, a garantia e o compromisso social da
escola para todos, numa concepção ampla de educação e de diversidade cultural.
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