GBPs: Imunidade contra patógenos intracelulares Já está bem estabelecido que a citocina pró-inflamatória IFN-γ exerce um papel central na defesa do hospedeiro contra infecções, uma vez que camundongos deficientes da citocina ou seres humanos com mutações no receptor de IFN-γ são mais suscetíveis a diversos agentes infecciosos. Acredita-se que o IFN-γ regula a expressão de mais de 1.200 genes, dentre os quais estão presentes alguns mediadores da resposta imune. Um subconjunto proeminente destes genes induzidos por IFN-γ inclui uma família de proteínas ligadoras de GTP, coletivamente denominadas de GTPases, que hidrolisam o GTP em GMP, e desta forma desempenham diversas funções nas células. Existem 4 sub-famílias de GTPases que contribuem para as respostas imunes contra uma grande variedade de patógenos, sendo as GBPs (guanylate-binding proteins) proteínas candidatas envolvidas na imunidade contra microrganismos intracelulares em humanos, uma vez que são altamente induzidas por IFN-γ. Já foi reportado a participação destas proteínas na atividade antiviral contra o vírus da estomatite vesicular (VSV) e o vírus da encefalomiocardite (CMCV) in vitro, no entanto os efeitos antimicrobianos e o mecanismo de ação das GBPs é ainda limitado. Recentemente, Tietzel e colaboradores, demonstraram que estas proteínas possuíam um papel na inibição do crescimento de Chlamydia trachomatis. Em células HeLa infectadas com C. trachomatis e transfectadas com hGBP-1 e hGBP-2, ambas foram capazes de se localizar na membrana de inclusão da clamídia. Para a hGBP-1, a localização na membrana de inclusão não requer o domínio de ligação de GTP mas é mediado pelo domínio helicoidal, que é a região C-terminal de α-hélice onde contém o sítio CaaX para a adição de lipídeos. Tanto a hGBP-1 como a hGBP-2 sozinhas, foram capazes de inibir o crescimento de C. trachomatis e esta inibição mostrou ser dependente do domínio GTPase da hGBP-1. A atividade anti-clamídia é aumentada em conjunção com o tratamento com uma dose sub-inibitória de IFN-γ (0.05ng/ml), que foi também acompanhada pela diminuição do tamanho das inclusões. Juntos estes resultados sugerem que as hGBP-1 e hGBP-2 estão envolvidas na resposta do INF-γ contra a clamídia atuando como proteínas potencializadoras do efeito desta citocina. No entanto, os mecanismos pelos quais as hGBPs exercem suas atividades antibacterianas ainda são desconhecidos. Tais mecanismos de ação foram inicialmente desvendados por Kim e colaboradores. Através de modelos de infecção por Listeria monocytogenes ou Micobacterium bovis de macrófagos murinos pré-ativados com IFN-γ, as Gbps 1 e 7 foram identificadas como sendo as principais envolvidas na proteção do hospedeiro contra bactérias sensíveis a morte induzida por IFN-γ. Os autores observaram que Gbp 7 é essencial para a associação das moléculas gp91phox-p22phox com as moléculas p40phox-p47phoxP67phox , sendo que essa associação leva a formação do complexo da NADPH oxidase e, consequentemente, produção de O2-. Além de Gbp 7 ser importante para a proteção oxidante induzida por IFN-γ contra bactérias intracelulares, esta GTPase também se liga à molécula Atg4b, participando da formação da membrana do autofagossoma. Concomitante a este mecanismo ocorre a ligação de Gbp1 à molécula p62. O papel de Gbp 1 na fusão do autofagossoma ao lisossoma foi demonstrado pelo consumo de p62 (molécula responsável pelo transporte de peptídeos antimicrobianos ubiquitinados para o autofagossoma) após sua ligação à Gbp 1. Esses resultados mostram que existe uma cooperação entre as diferentes Gbps na promoção de uma resposta oxidativa e na entrega de peptídeos antimicrobianos ao autofagossoma, promovendo uma ampla proteção ao hospedeiro contra diferentes classes de patógenos. Estes dois trabalhos contribuem para o melhor entendimento das propriedades e dos mecanismos de ação pelos quais as GBPs estão envolvidas na defesa contra infecções por patógenos intracelulares.