Cientificidades - Associação Portuguesa dos Nutricionistas

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Editorial
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Perfil
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Especialidades
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Cientificidades
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Editorial
Editorial
Ser Nutricionista já ultrapassou há muito o
Com todos os desafios que se levantam na actual-
propósito inicial da realização de tarefas de ori-
idade, fica pois perfeitamente justificada a ini-
entação e vigilância da alimentação racional,
ciativa
normal e dietética, da população em geral e em
Nutricionistas de editar esta revista.
da
Associação
Portuguesa
dos
instituições, como factor básico de promoção da
saúde e prevenção da doença.
De facto, com esta pretensão procura-se uma
maior proximidade entre os profissionais de
Vinte e cinco anos passados, os Nutricionistas,
Nutrição e todas as instituições com actividade
apesar de aceitavelmente bem inseridos no
relevante nesta área, esperando-se que, com o
Sistema de Saúde, consideram que há ainda
empenho e colaboração de todos, seja possível
objectivos para concretizar, metas para atingir,
tornar a Revista numa referência relativamente
horizontes para alargar.
aos objectivos e motivações dos profissionais que
representamos.
Aliás, procuram a cada dia diversificar competências, difundindo as suas vocações no mercado de trabalho, e é possível vê-los com grande
determinação a dar já os primeiros passos em
Autarquias e em Direcções Regionais de Educação, perspectivando-se ainda algum desenvolvimento ao nível da segurança alimentar pela
recente criação da Agência para a Qualidade e
Segurança Alimentar.
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Perfil
Perfil
Uma questão de metodologia
Alexandra Bento
Alexandra Bento transporta para as suas actividades a
sua maneira de estar na vida.
As normas desta forma de viver passam principalmente pelo estabelecimento de relações próximas e francas
com todos aqueles que fazem parte do seu universo.
Tem 31 anos e é a actual Presidente da Direcção da
Associação Portuguesa dos Nutricionistas.
Família, profissão e associação são as três paixões às
quais Alexandra Bento, Presidente da Direcção da
Associação Portuguesa dos Nutricionistas, dedica o seu
dia-a-dia, e das quais é incapaz de prescindir.
A família, os dois filhos e o marido, permitem-lhe
obter o equilíbrio para todas as actividades, ocupando-lhe por inteiro o coração e grande parte do tempo.
A profissão completa de forma salutar o seu dia-a-dia,
transportando para ela a sua forma de estar na vida,
que passa por cimentar boas relações pessoais e relacionar-se de forma franca e amigável com as pessoas.
A associação possibilita-lhe contribuir para o bom
funcionamento e engrandecimento da classe.
Natural de Vila Real, passou a sua infância e adolescência em Amarante. De Amarante, mudou-se para
a cidade Invicta, onde se licenciou em Ciências de
Nutrição pela Universidade do Porto, em 1993, tendose desde logo dedicado a uma carreira ligada à saúde,
exercendo actualmente a sua actividade profissional
como Nutricionista no Hospital de S. Gonçalo.
Como diz foi o "espírito inconformista em relação às
lacunas existentes na sua associação profissional" que
a levou em 1998 a candidatar-se aos corpos sociais da
Associação Portuguesa dos Nutricionistas como
Presidente da Direcção, cargo que mantém, estando
empenhada e motivada a dar a sua contribuição para
a melhoria da nutrição em Portugal e para a afirmação
da profissão de Nutricionista e da Associação
Portuguesa dos Nutricionistas como uma instituição
muito importante para a Nutrição.
O prestígio alcançado por esta organização e o enriquecimento que proporciona aos seus associados leva
Alexandra Bento a aconselhar a inscrição de todos os
jovens Nutricionistas na Associação.
Considera que a Associação Portuguesa dos Nutricionistas tem por objectivo, para além de defender os
interesses profissionais dos seus associados, clarificar
os campos de actuação dos Nutricionistas, licenciados
pela Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentação
da Universidade do Porto, "única Faculdade do nosso
país a licenciar Nutricionistas", esclarece Alexandra
Bento.
Dentro dos campos de actuação dos Nutricionistas,
Alexandra Bento destaca a Nutrição clínica, a
Restauração colectiva, a Indústria alimentar, a
Investigação científica.
No virar de um novo milénio, Alexandra Bento refere
considerar que "a profissão de Nutricionista será uma
das profissões com maior impacto neste novo milénio
face aos modernos estilos de vida e a todas as questões
relacionadas com o equilíbrio, a qualidade e segurança alimentar".
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Especialidades
Especialidades
Os Nutricionistas e a Política Alimentar Nacional
Pedro Graça
Resumo
Neste trabalho, o autor apresenta a evolução das preocupações da Comunidade Europeia com a alimentação ao longo dos últimos anos. Discute-se o actual
panorama alimentar e os maiores obstáculos à implementação de uma Política Alimentar Europeia.
Enquadra-se Portugal numa situação privilegiada face
ao contexto Europeu, pela sua situação alimentar e de
recursos humanos.
Introdução
Com a presidência Francesa, marcou-se definitivamente o interesse da União Europeia na criação de
medidas políticas capazes de melhorar o estado nutricional dos cidadãos europeus. Portugal, devido aos
seus padrões de consumo alimentar e à presença de
recursos técnicos especializados, pode, neste contexto, ter uma palavra a dizer.
Política Nutricional e Alimentar no
contexto Europeu – Evolução histórica
Desde a assinatura do Tratado de Roma em 1957 até ao
Tratado de Maastrich em 1993, a Comunidade Europeia
pouco se interessou pelas questões da saúde pública,
preocupando-se inicialmente com questões económicas. A questão alimentar sempre foi subordinada às
questões da produção, onde a Política Agrícola
Comum (PAC) dominou e domina ainda as atenções.
No início a Comunidade estava interessada em formar
um grupo de economias coesas e capazes de cooperar
entre elas. Em 1990, dão-se os primeiros passos do sentido da melhoria efectiva da situação nutricional nos
Estados membros através Resolução do Conselho e dos
representantes dos governos dos Estados-membros,
reunidos em 3 de Dezembro de 1990, relativa a um
programa de acção sobre a alimentação e a saúde.
Nessa resolução a Comissão era convidada a apresentar uma proposta que previsse a organização e a promoção de um programa de manifestações e de actividades, nomeadamente, um "Ano Europeu da
Alimentação". Entre estas actividades incluiam-se: 1)
acções gerais de sensibilização, do tipo programas de
informação através da televisão, rádio e imprensa e
ainda através de conferências e distribuição de material
didáctico e de divulgação ou entrega de prémios; 2)
projectos-piloto sobre as condições nutricionais de grupos seleccionados de populações de risco, bem como da
qualidade nutricional dos alimentos; 3) inquéritos e
estudos sobre os factores que orientam as escolhas do
consumidor em matéria de alimentação e o efeito dos
alimentos sobre o equilíbrio metabólico, as consequências da evolução dos hábitos alimentares, as consequências da rápida evolução dos métodos de fabrico, de conservação e de distribuição dos alimentos, a formulação
das mensagens destinadas ao consumidor e os estudos
sobre os comportamentos alimentares nas diferentes
regiões da Comunidade; e, 4) actividades do comité
científico da alimentação humana.
Estas acções foram apenas timidamente implementadas, tanto que as conclusões do Conselho e dos Ministros de Saúde dos Estados membros reunidos em
Conselho, de 15 de Maio de 1992, relativas à alimentação e à saúde (Jornal Oficial C 148 de 12.06.1992),
convidavam a Comissão a prosseguir a sua reflexão e a
reafirmar a importância de uma acção comunitária
neste domínio. Só com a assinatura do Tratado de
Maastrich se inicia o primeiro Quadro de Acção na
Saúde Pública com 5 programas específicos de intervenção nas áreas do Cancro, Sida, Toxicodependência,
Promoção da Saúde e Monitorização do Estado de
Saúde das Populações. Na sua comunicação relativa a
um quadro de acção no domínio da saúde pública
[COM(93) 559 final de 24.11.1993], a Comissão descreveu os problemas no domínio da saúde com que se
confrontam os Estados-membros, tendo explicado o
modo como tencionava pôr em prática as disposições
do Tratado. A sua abordagem baseava-se na aplicação
de dois tipos de acção: acções horizontais relativas
nomeadamente à promoção e à vigilância da saúde:
programa comunitário de promoção, de informação,
de educação e de formação em matéria de saúde e
programas plurianuais globais relativos a um certo
número de domínios prioritários: cancro, toxicodependência, SIDA e outras doenças transmissíveis.
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Especialidades
Neste contexto, surgiram diversos projectos Europeus
com o objectivo de melhor conhecer e influenciar os
estilos de vida, nomeadamente a ingestão de alimentos. São estruturados vários sistemas de avaliação da
situação, como os projectos "EPIC – European
Prospective Study into Cancer and Nutrition", "PanEuropean Survey on Attitudes to Food and Health",
"The Sate of Health in the European Union in 2000", e o
Data Food Networking III". Concomitantemente é dinamizada a formação a nível Europeu de técnicos capazes
de darem resposta a problemas de âmbito nutricional
com a constituição de programas de pós-graduação
como o "European Nutrition Leadership Programme"
ou o "European Masters Programme in Public Health
Nutrition". Em 1996, iniciou-se o 3º plano da "Europa
contra o Cancro" que enfatizava a mudança de hábitos
alimentares, através do aumento do consumo de frutos
e hortícolas, da diminuição da ingestão de gordura
saturada e de bebidas alcoólicas.
Mais recentemente, a União Europeia (UE) começou a
querer desempenhar um papel ainda mais activo na
defesa da saúde pública dos seus cidadãos. Com a
revisão do Tratado de Maastrich em Amsterdão (1998)
declara-se no Artigo 152 que " a protecção da saúde
deve ser assegurada na elaboração e implementação
de todas as políticas e actividades comunitárias". Vaise ainda mais longe ao admitir que a acção da U.E "
deve complementar as políticas nacionais devendo ser
direccionada para a melhoria da saúde pública, para a
prevenção da doença e eliminação das fontes de perigo para a saúde humana". Para tal deve-se recorrer
entre outras estratégias à "informação e educação" das
populações. Estes princípios aqui apresentados reflectem uma mudança substancial nas orientações da U.E
face à saúde dos seus cidadãos. Em vez de medidas que
"contribuam" para a melhoria da saúde pedem-se
medidas que "assegurem" a melhoria da saúde. As
medidas devem ainda "promover a saúde" em vez de
apenas prevenir o "aparecimento da doença".
A situação alimentar actual e a necessidade
de uma Política Alimentar Comum
Porque razão a U.E começou a dar mais atenção às
questões da alimentação e da saúde pública nos últimos tempos?
Em parte, devido a cinco grandes alterações no sistema de produção, comercialização e consumo de alimentos. Em primeiro lugar, nos últimos anos deram-se
grandes alterações nos métodos de produção alimentar, com a introdução da manipulação genética. Este
método, ainda não totalmente compreendido, quanto
a repercussões na saúde pública, introduziu uma
capacidade acrescida de produção para aqueles que
dominam esta tecnologia, e, por outro lado, uma
grande desconfiança população, que a U.E quer evitar.
Em segundo lugar, deu-se uma enorme procura nos
alimentos com nutrimentos e outras substâncias adicionados industrialmente, em parte devido à publicidade quanto ao seu efeito benéfico sobre a saúde dos
consumidores. Esta alteração nos padrões de consumo
de alimentos tende a modificar em pouco tempo o
panorama actual das ingestões de nutrimentos nos
diferentes grupos da população. Acresce ainda uma
preocupação cada vez maior por parte dos consumidores, quanto às relações entre a ingestão alimentar e
a saúde, onde podemos dar como exemplo, o aumento significativo dos casos de obesidade na UE. Em terceiro lugar, existe neste momento um enorme apelo
público para a produção de alimentos em regimes
menos intensivos e menos agressivos para o meio
ambiente. Os consumidores procuram não só alimentos com menores custos ambientais, mas também produzidos com menos aditivos e tóxicos. Nalguns casos,
como na crise da BSE, as consequências para os produtores e poderes públicos podem ser elevados. Em
quarto lugar, a introdução das novas tecnologias de
informação tornaram o consumidor mais informado
mas também mais susceptível de ver seu comportamento analisado. Esta modificação fragilizou os consumidores mais afastados destas tecnologias e aqueles
onde as organizações de defesa do consumidor são
menos efectivas, como é o caso Português. Por último,
as alterações recentes nos acordos mundiais de comércio, vão permitir uma crescente liberalização do consumo alimentar no espaço Europeu. Os países do
Mediterrâneo com consumos alimentares mais próximos de padrões desejáveis serão, provavelmente, dos
mais afectados, pois são aqueles com uma agricultura
e sistema de distribuição mais vulnerável e sujeita à
mudança.
Especialidades
Obstáculos à Política Alimentar Comum
Face a estes dados, é natural que a Comissão Europeia
tente uma acção política mais concertada para dar
uma resposta efectiva a esta nova situação. No entanto, são muitos os obstáculos com que se depara. Entre
eles, podemos enumerar a existência de políticas promovidas no seio da EU com efeitos desconhecidos
sobre o estado nutricional das populações. A PAC é
uma delas, já muito se tendo escrito sobre o seu
impacte positivo ou negativo sobre o estado nutricional. São necessários estudos mais amplos neste domínio ainda desconhecido, até porque o Tratado de
Maastrich assim o obriga ao assinalar que "deve ser
assegurado um nível elevado de protecção da saúde
na definição e implementação de todas as políticas
comunitárias". Outro obstáculo sério à formulação de
uma Política Alimentar Comum é a dispersão de responsabilidades por diferentes corpos nacionais e a
inexistência de uma Comissão Científica para a
Alimentação forte e coesa no seio da UE. O actual
Scientific Committee for Food (SCF) é ainda uma estrutura frágil e por outro lado os diversos corpos nacionais responsáveis pela alimentação, são habitualmente compostos por diversas identidades, cada uma com
uma agenda própria, sendo muitas vezes difícil promover consensos. Linguagens diferentes, objectivos
diferentes e a presença discreta de Nutricionistas nos
corpos decisores tornam estas agências nacionais
pouco efectivas e muito dependente do poder político.
Nos casos de sucesso, como na Noruega, em que desde
1974 foi lançada e implementada uma Política
Alimentar, a Comissão Científica colocou de lado
burocratas e apostou em cientistas que exprimem de
forma independente as suas opiniões, as quais posteriormente podem ser levadas em conta ou não. A credibilidade das agências nacionais e regionais é ainda
fundamental para que lhes seja confiada a tarefa de
fornecer e implementar recomendações alimentares.
De facto, sendo a Europa um enorme puzzle de culturas com os seus hábitos e preferências próprias, cada
uma adaptada a determinadas especificidades
ambientais, sociais e culturais faz todo o sentido que
seja confiada a instâncias locais com amplo conhecimento do terreno a tarefa de criar e implementar
orientações de base alimentar que vão de encontro a
linhas de orientação nutricional. Outro obstáculo sério
à existência de uma Política Alimentar Comum é a inexistência de um conhecimento aprofundado, regular e
minimamente padronizado da ingestão alimentar nos
diversos países da U.E. Sem esta informação é difícil
atribuir prioridades de intervenção ou conhecer até a
evolução da situação nutricional. Diversas tentativas
de avaliar a situação nutricional e alimentar na U.E
têm vindo a ser feitas. Podemos citar, entre outros, o
projecto EUROSCOP – Improvement of Knowledge of
Food Consumption with a view to Protection of Public
Health by Means of Exchanges and Collaboration
Between Database Managers , o COST 99/EUROFOODS –
Inventory of European Food Composition Tables and
Nutrient Database Systems, o DAFNE – Data Food
Networking, EURALIM – Europe Alimentation Project e
o projecto SENECA – Multi-centre survey of nutrition
and health in the elderly. No entanto, estes projectos,
estão ainda longe de fornecer a informação regular
necessária à monitorização do estado nutricional da
população Europeia. Por outro lado, muitos destes
projectos têm um financiamento de 4 anos o que torna
difícil a avaliação da evolução alimentar que necessita de períodos mais prolongados de observação.
A formulação da Política Alimentar
Comum e o papel dos Nutricionistas
Do que aqui foi exposto, a Política Alimentar Comum
será uma realidade mais ou menos próxima. Portugal
tem condições para participar neste processo de uma
forma activa. Possuímos no nosso país, um conjunto
de disponibilidades alimentares associada à produção
agrícola e a tradições gastronómicas e culturais que
são protectoras do ambiente, do emprego, e da saúde.
Possuímos um vasto conjunto de licenciados em
Ciências da Nutrição habilitados para avaliar e compreender a ingestão alimentar, definir planos de intervenção e actuar no terreno. Neste aspecto, Portugal
encontra-se mesmo em situação privilegiada pois
definiu há muitos anos, no ensino universitário público, uma clara opção inovadora ao conceber uma licenciatura de raiz em Ciências da Nutrição, algo que só se
fazia em alguns países do norte da Europa. Os
Nutricionistas, vocacionados para o trabalho interdisciplinar na área das Ciências da Saúde têm formação
Especialidades
específica na avaliação da situação nutricional das
populações, através da sua formação epidemiológica,
são capazes de intervir eficazmente, a nível individual
e comunitário, possuem condições técnicas para intervir em grupos específicos a nível escolar, laboral e institucional, através da formação e da gestão dos serviços de alimentação. Possuem ainda uma compreensão clara dos fenómenos legislativos nas áreas mais
críticas do actual panorama alimentar como seja a
rotulagem alimentar/nutricional, géneros alimentícios
destinados a uma alimentação especial, alimentos
funcionais e fortificação. Mais, possuem já uma visão
ampla das políticas comunitárias que se interpenetram e que poderão vir a condicionar a elaboração de
futuras Políticas Alimentares/Nutricionais no contexto
Europeu. Por todos estes motivos a integração de
nutricionistas nas futuras estruturas responsáveis pela
implementação de Políticas Alimentares será um passo
necessário e irá acontecer na maioria dos países
Europeus. Espera-se que em Portugal, devido à
situação excepcional de recursos humanos que vivemos, não se fuja à regra, e até se vá mais longe. O
momento que vivemos actualmente é pois de forte
esperança para todos aqueles que têm lutado para
uma sociedade mais saudável e mais atenta aos problemas nutricionais.
Pedro Graça
Regente da Disciplina de Política Nutricional
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da
Universidade do Porto
Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto
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Especialidades
Segurança Alimentar: Novos Desafios
Fernando Amaral
A introdução do mercado único obrigou os países que
constituem a Comunidade Europeia à reformulação
dos seus sistemas de controlo e segurança alimentar
de modo a adaptá-los à nova realidade. Esta tarefa
acabou por se revelar mais complexa e exigente do
que se previa e resultou num sistema de controlo harmonizado mas com carências que se foram tornando
evidentes ao longo do tempo. As crises da BSE e das
dioxinas vieram tornar imperativa uma nova abordagem da segurança alimentar, num momento em que a
confiança dos consumidores se encontra muito abalada. A resposta tenta ser dada usando uma nova metodologia em matéria de segurança alimentar, a análise
de riscos nas suas 3 componentes: avaliação, gestão e
comunicação dos riscos.
1. Mercado único e segurança alimentar
Com a introdução do mercado único em 1 de Janeiro de
1993, alteraram-se profundamente as condições relativas ao comércio, controlo e fiscalização dos géneros
alimentícios. Desaparecem os controlos efectuados até
esta data nas fronteiras nacionais e, em sua substituição, é implementado um sistema baseado na aplicação de legislação comunitária, designadamente
legislação vertical (legislação sectorial respeitante,
por exemplo, a carnes e produtos cárneos, a leite e
lacticínios, etc.) conjugada com legislação horizontal
(que tenta abranger toda a cadeia alimentar), e em
procedimentos de controlo pré-definidos cujo melhor
exemplo é o Regulamento dos Controlos Veterinários
Aplicáveis ao Comércio Intracomunitário de Produtos
de Origem Animal (1). Este diploma estabelece que os
géneros alimentícios de origem animal só podem ser
comercializados desde que tenham sido obtidos, controlados, marcados e rotulados de acordo com a regulamentação comunitária e sejam acompanhados com
documentação e marca sanitária adequada. designada como “marca de salubridade comunitária” (fig. 1),
esta marca é formada por uma oval, no interior da
qual existem 3 campos respeitantes ao país de origem,
nº de controlo do estabelecimento e uma sigla relativa
à UE. A marca de salubridade comunitária deve ser
Fig. 1: Marca de Salubridade comunitária
P
XPTO007
CEE
colocada durante o processo de fabrico ou acondicionamento do produto, em estabelecimento autorizado
e de forma claramente visível, legível e indelével.
Este sistema obriga também a um registo oficial de
operadores, à realização de avisos prévios de chegada
de produtos de origem animal provenientes de países
comunitários e à organização de um livro de registos
destas operações. Os avisos prévios, efectuados junto
da autoridade competente (Direcção-Geral de
Fiscalização e Controlo da Qualidade Alimentar e da
Direcção Regional de Agriculura da área), devem ser
realizados com uma antecedência mínima de 48 horas
e incluir a designação das mercadorias, data da
recepção, peso, país, estabelecimentos de origem e
local de descarga previsto.
Numa situação de risco grave e imediato, um sistema
de troca rápida de informação (2) obriga as entidades
competentes à recolha de informações relevantes, recolha de amostras, determinação dos riscos, proibição
da colocação no mercado e remoção do mercado de
um produto ou lote de produto afectado, bem como à
comunicação da situação à Comissão Europeia.
No entanto, hoje é claro que em matéria de higiene e
segurança alimentar, o edifício legal comunitário nasceu com deficiências estruturais que afectam significativamente a sua eficácia. Numa época em que é
comum o fabrico de gigantescas quantidades de alimentos em unidades industriais de grande capacidade, afastadas milhares de quilómetros dos locais onde
estes irão ser consumidos e usando avançadas tecnologias de fabrico, distribuição e conservação que vêm
prolongando por muitos meses a vida útil destes alimentos, este sistema não abrange de forma integrada
Especialidades
toda a cadeia alimentar, permite a coexistência de
abundante legislação vertical com legislação horizontal, caracteriza-se pela sua rigidez e incapacidade
para acompanhar o desenvolvimento de novas técnicas de produção, transformação e distribuição de alimentos e, sobretudo, não considera como instrumento importante em matéria de segurança alimentar, a
análise dos riscos nas suas 3 componentes: avaliação,
gestão e comunicação dos riscos.
Estão assim criadas as condições para, em caso de
ocorrência de acidentes, se originarem graves crises
em termos de saúde pública.
2. Princípios de segurança alimentar: nova
abordagem
O sector agro-alimentar é hoje um dos principais sectores industriais na União Europeia, representando
cerca de 15% da produção total a indústria transformadora, o que se verifica numa época em que as crises da
BSE e das dioxinas vieram colocar em evid~ência, de
uma forma clara, as carências dos sistemas de segurança alimentar da Comunidade e dos seus Estados-membros.
Em consequ~ência, verificou-se uma natural e significativa quebra de confiança dos consumidores nos
actuais processos de produção, transformação e
comercialização de alimentos, bem como nos conhecimentos científicos, na legislação, no controlo e fiscalização alimentar, o que veio colocar a segurança dos
géneros alimentícios, mais do que nunca, no centro
das suas preocupações.
para assegurar um nível elevado de protecção da saúde
humana e de protecção dos consumidores, o Livro
Branco da Segurança Alimentar (3) estabelece que “a
política de segurança dos alimentos deve basear-se
numa abordagem global e integrada, ou seja, ao
longo de toda a cadeia alimentar (da exploração agrícola até á mesa)”.
Assim, os principais responsáveis em matéria de segurança alimentar passam a ser os produtores de alimentos para animais, os agricultores e os operadores do
sector alimentar. As autoridades competentes devem
controlar e garantir a observância desta responsabilidade, implementando adequados sistemas nacionais
de segurança alimentar. A comissão, por sua vez, avaliará o grau de desempenho das entidades nacionais.
Finalmente, os consumidores deverão representar um
papel central neste cenário, quer no que respeita à
correcta utilização dos alimentos, quer intervindo em
todas as áreas relacionadas com a segurança alimentar.
3. Autoridade Alimentar Europeia vs.
Agências nacionais
Sendo pacífico que, como acontece em qualquer actividade humana, a produção de alimentos é acompanhada de algum risco para o consumidor, importa saber
avaliar e gerir eficazmente os riscos inerentes e criar
condições para que estes sejam reduzidos à sua menor
expressão. Um dos aspectos nucleares da nova abordagem da segurança alimentar é a criação de um sistema em pirâmide, no topo da qual se encontra uma
Autoridade Alimentar Europeia (AAE) com competências na “avaliação e comunicação dos riscos no domínio da segurança alimentar”, e cuja base é formada
por Agências dos vários Estados-Membros, interlocutoras privilegiadas da AAE no que respeita à recolha de
informação e respondendo perante a Comissão
Europeia relativamente às medidas legislativas, regulamentares e de controlo.
Esta autoridade europeia independente terá como
objectivo a avaliação e comunicação dos riscos, através da elaboração de pareceres científicos, da gestão
de sistemas de alerta rápido, da comunicação com os
consumidores e do estabelecimento de uma rede de
agências e de organismos científicos nacionais. A
gestão dos riscos caberá à Comissão e às autoridades
nacionais que, nesse sentido, deverão reorganizar os
seus serviços de forma a poder responder rápida e eficazmente às situações que se poderão apresentar,
encarregando-se quer da produção legislativa, quer
do controlo e fiscalização da cadeia alimentar. Daí a
razão da recente criação da Agência para a Qualidade
e Segurança Alimentar (AQSA), que irá absorver, no
final do seu período de instalação, organismos como a
Direcção-Geral de Fiscalização e Controlo da Qualidade
Alimentar (DGFCQA), os serviços da Direcção Geral de
Veterinária relacionados com a higiene pública veterinária e com a alimentação animal, os serviços de fis-
Especialidades
calização das Direcções Regionais de Agricultura
(DRA’s) e as compet~encias da Inspecção Geral das
Actividades Económicas (IGAE) em matéra de fiscalização da conformidade, qualidade e segurança dos
produtos agro-alimentares e da pesca (fig.2).
4. O nutricionista e a segurança alimentar
A licenciatura em Ciências da Nutrição e Alimentação é
a única, no actual panorama académico em Portugal,
a dedicar todo o seu currículo exclusivamente à
nutrição e alimentação humana, o que permite dotar
os nutricionistas da visão abrangente, integrada e
global que os caracteriza. Estes profissionais encontram-se, portanto, naturalmente capacitados para
desempenharem um papel importante nesta nova
abordagem da segurança alimentar, sendo certo que,
pela primeira vez, a Comissão Europeia vem reconhecer que “A protecção da saúde pública não se limita à
segurança química, biológica e física dos alimentos.
Deve igualmente ter por objectivo assegurar a
ingestão de nutrientes essenciais, limitando a ingestão
de outros alimentos a fim de evitar efeitos negativos
para a saúde, incluindo efeitos anti-nutricionais”.
Bibliografia
1 - Portaria nº 576/93 de 04/06, alterada pela Portaria
nº 100/96 de 01/04.
2 - Directiva 92/59/CEE do Conselho, de 29 de Junho de
1992.
3 - Livro Branco Sobre a Segurança dos Alimentos.
Comissão das Comunidades Europeias; Bruxelas,
12/01/2000
Fernando Amaral
Direcção-Geral de Fiscalização e Controlo da Qualidade
Alimentar
Av. Conde Valbom, 96
1050-070 Lisboa
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Fig. 2: (*) Competências a integrar na Agência para a Qualidade e Segurança Alimentar
Autoridades
AQSA
de Saúde
Regime de instalação
IGAE
* DGFCQA
* Área Alimentar
DRAEDM
DRATM
*DSF
*DSF
DRABL
DRAbi
*DSF
*DSF
DRARO
DRAAlt
*DSF
*DSF
DRAAlg
*DSF
DGV
Veterinários
* Higiene Pública
* Alimentação
* Produtos de
Municipais
Veterinária
Animal
Origem animal
Especialidades
HACCP - vicissitudes da sua juventude
Manuel Araújo
É já um lugar comum dizer-se que o HACCP, Análise dos
Perigos e Pontos Críticos de Controlo, é considerado o
melhor sistema de segurança alimentar, tendo uma
relação eficiência/custo muito favorável. É aconselhado por muitos organismos internacionais de prestígio
de que são exemplos a FDA, Food and Drug
Administration, a OMS, Organização Mundial de
Saúde, pela Comissão do Codex Alimentarius da OMS e
FAO e Organização das Nações para a Agricultura,
tendo este último organismo elaborado um guia prático para a sua aplicação1 que veio uniformizar conceitos e matrizes algo díspares.
Se bem que o sistema tenha quase trinta anos, surgiu
como novidade, na Europa e grande parte do mundo,
a meio da década passada. A sigla HACCP foi internacionalmente adoptada pela maioria dos países, embora uma minoria, onde o Brasil e a Espanha se incluem,
tenha adoptado a sigla constituída pelas iniciais das
palavras traduzidas para a língua do país. Curiosamente, os textos que temos lido em língua francesa,
muitos deles com origem em França, onde é bem conhecido o cuidado na utilização de estrangeirismos,
usam a designação internacional HACCP embora o
definam como Análise de Riscos ... e não Análise de
Perigos ... Sendo o risco avaliado pelo grau de probabilidade de o perigo ocorrer, temos de conhecer o
perigo em primeiro lugar devendo por isso, em nosso
entender, designar-se por Análise de Perigos... Talvez
esta não uniformidade esteja relacionada com o que é
designado por risk assessment, de tão difícil tradução
para as línguas latinas, que faz a abordagem global
dos perigos e respectivos riscos.
Como em qualquer produto ou serviço inovador, há
dificuldades que resultam de ajustamentos inerentes
ao aperfeiçoamento, indispensável à evolução. E.
Taylor da Universidade Central de Lancashire, numa
comunicação num forum HACCP em 19982, apontou
oito deficiências graves comuns encontradas no sistema, em várias empresas inglesas onde havia sido aplicado, ainda que seguindo o guia definitivo publicado
pela comissão do Codex Alimentarius e em que membros das equipas para a implementação haviam sido
treinados pelo Royal Institute of Public Health.
Como irão instalar o sistema pequenas explorações
agrícolas e pequenas empresas com escassos meios
materiais e humanos - suporte económico de milhões
de famílias - face ao quadro político de segurança alimentar, a médio prazo, traçado no Livro Branco?3 A
Comissão do Codex Alimentarius estuda, actualmente,
sob proposta da Holanda, a possibilidade de um
HACCP mais simples e menos exigente, questão que na
discussão inicial teve o desacordo total dos EUA4.
Referimos ainda como curiosidade, mas sobretudo
como indicador do grau de aperfeiçoamento pretendido, que a delegação alemã discordou, nesta reunião, da utilização da palavra implementação para o
sistema, referindo que deve utilizar-se a palavra aplicação. Existem ainda múltiplas questões a melhorar.
Citamos o exemplo da diferente noção de
Autocontrolos existente em Portugal5 e no Serviço
Alimentar Veterinário da Direcção-geral da Saúde e
Defesa do Consumidor na CE6.
Alguns cursos do ensino superior deveriam dar uma
formação mais aprofundada em HACCP, pressupondo,
naturalmente, uma preparação prévia dos alunos em
microbiologia e toxicologia alimentares e uma preparação complementar de natureza prática; aplicação do
aprendizado. Os professores que o ensinam deveriam,
por seu lado, ter experiência prática na sua aplicação,
mesmo que o objectivo não seja a formação de especialistas no sistema; não é possível a um professor
abordar adequadamente, ainda que em teoria, as
noções base de prática cirúrgica sem que nunca tivesse efectuado qualquer intervenção cirúrgica. O HACCP
é um sistema técnico-científico, refere o Codex
Alimentarius, pesando igualmente cada uma das componentes. Uma das abordagens para a resolução de
alguns problemas por insuficiente formação prática de
profissionais para as empresas - as associações empresariais, em Portugal, queixam-se que o ensino superior
1 Codex Alimentarius, FAO/OMS. Food Quality and Safety Systems, a training manual on food hygiene and the Hazard Analysis and Critical Control
Point. Roma, 1998
2 Problems in the implementation of HACCP – a UK perspective. Second International Food Safety International Conference. Noordwijk.
3 Comissão das Comunidades Europeias. Livro Branco sobre a Segurança dos Alimentos. Bruxelas, 12 de Janeiro de 2000.
4 Codex Alimentarius Comission, FAO/OMS. Report of the thirty second session of the Codex Committee on Food Hygiene. Washington DC, 29
November-4 December 1999.
5 Noção deduzida do texto do Artigo 3º do Decreto-Lei nº 67/98 de 18 de Março.
6 Noção deduzida do Final Report of a Mission carried out in the United Kingdom from 19-20 January and 24-28 January 2000.
DG(SANCO)1003/2000 - MR final. European Comission, Health & Consumer Protection Directorate-general, Directorate D - FVO.
Especialidades
não "produz" profissionais com a qualidade desejada
- tem sido a criação de cursos técnico profissionais de
formação, organizados e ministrados por empresas
mistas das associações empresariais e por empresas
privadas. Muitos deles têm tido grande sucesso mas,
no caso do HACCP, ainda existem relevantes deficiências. A frequente não exigência nos candidatos a formandos, duma preparação de base prévia em determinadas áreas específicas, é um exemplo; os cursos de
auditorias em HACCP frequentados por indivíduos sem
a formação de base referida, ainda que já auditores
noutras matérias, vai criar ruídos que poderão permanecer durante algum tempo, obstáculo a uma mais
rápida evolução. O risk assessment não pode ser abordado por quem leu "umas coisas" sobre microbiologia
e toxicologia; um psicólogo não poderá ser inspector
de finanças, diria o marechal La Palice.
Surge também regularmente a confusão entre conceitos e metodologias do HACCP e da norma ISO, série
9000. Há muitos pontos comuns e têm sido várias as
abordagens, entre as quais um projecto de Norma
Portuguesa, para a sua interligação, mas como os
objectivos intrínsecos são diferentes, tem havido alguma dificuldade para a realização desejável dessa
interligação harmoniosa. Num futuro breve, com a
nova norma ISO 9001:2000, estamos convictos que será
solucionada grande parte desta importante questão.
Pensamos também que os organismos oficiais têm
dedicado atenção insuficiente aos problemas da segurança alimentar. O conteúdo do projecto de relatório
sobre leites e de produtos à base de leite, pelos inspectores da CE7 evidencia claramente a desorganização das vertentes da segurança alimentar, em
Portugal, que está sob responsabilidade governamental. O documento refere, textualmente, que a formação dos inspectores8 no domínio do sistema HACCP
e da tecnologia de sector leiteiro é insuficiente, e faz
uma recomendação ao governo português para colmatar com brevidade esta lacuna. Também nos parece que o Instituto Português da Qualidade poderia
dedicar mais atenção à segurança alimentar como a
componente mais importante da Qualidade no sector
alimentar; no 1º Congresso da Qualidade, promovido
pelo IPQ, realizado em Lisboa no passado mês de
Junho, foram apresentadas 88 comunicações não
havendo nem uma sobre segurança alimentar!
Recentemente, num artigo sobre HACCP publicado na
revista Qualidade Nº 1 de 20009 com um conteúdo "isoficado" (de iso), o autor nem tão pouco deu o nome correcto em inglês ao sistema. A ordem das palavras raramente é arbitrária; rica menina e menina rica não têm o
mesmo significado. As revistas oficiais de organismos
com responsabilidade nesta área têm, em nosso entender, o dever de dar um contributo para reduzir o ruído.
Dentro do aperfeiçoamento necessário a uma mais
célere evolução, imperativo nacional, seria importante
que o IPQ reconhecesse alguma entidade que concedesse uma chancela para as instituições que, com
rigor, tivessem em aplicação o sistema HACCP.
Não é difícil imaginar que, a médio prazo, os alimentos sem uma garantia de segurança aceitável, acabem
também por se não "venderem" no país de origem;
interdição das autoridades sanitárias e/ou recusa dos
consumidores. Podemos imaginar que face à concorrência, as agências de viagens da CE, recomendem
para os turistas - sobretudo os idosos que imunologicamente são menos resistentes e cujo turismo tem
tendência crescente - que viagem para Portugal, como
valor acrescentado dos seus serviços, que os hotéis x e
y servem carne alemã e queijos franceses10. Nesse
tempo, os turistas terão informações sobre os produtos
alimentares que são considerados inseguros no país
para que viajam, embora hoje apenas sejam informados das vacinas a tomar quando viajam para países de
risco relativamente a determinadas doenças. Algumas
agências de viagens e turismo holandesas, para manterem os seus clientes e para não poderem ser responsabilizadas, ainda que parcialmente, já preferem recomendar os hotéis e restaurantes que tenham instalado
o HACCP. Aliás, na Holanda, os cardápios dum número
significativo de restaurantes têm em nota de rodapé a
informação de que têm implantado o sistema.
É necessário alargar a passada.
Manuel Araújo
Nutricionista
Coordenador dos consultores do Núcleo para a Segurança Alimentar e HACCP da IBP consulting, SA
7 Comissão Europeia, Direcção-geral da Saúde e Defesa do Consumidor, Direcção D - Serviço Alimentar e Veterinário. DG(SANCO)/1001/2000 - MR
projecto. Projecto de Relatório de uma Missão Realizada em Portugal entre 20 e 24 de Março de 2000 para avaliar a aplicação da Directiva 92/46/CEE
do Conselho que adopta as normas sanitárias relativas à produção e colocação no mercado de leite e de produtos à base de leite. Sd. CE, SANCO
FVO, Dublin.
8 O documento refere que os inspectores portugueses "são geralmente veterinários ou engenheiros e são apoiados por engenheiros técnicos."
9 Publicada pela APQ, Associação Portuguesa para a Qualidade.
10 Não há actualmente alguma interdição à exportação portuguesa de leite e de produtos derivados do leite para a CE.
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Especialidades
Percurso profissional de um Nutricionista pioneiro
Manuel Sequeira
Mentiria se dissesse que quando acabei o Bacharelato
em NUTRIÇÃO - Dezembro de 1978 -, tinha concretizado o meu grande sonho.
Nessa época quem queria ou gostaria de ser
Nutricionista?
No entanto, não tinha também imaginado que trabalhar como Nutricionista iria ser tão difícil…
O (des)conhecimento sobre a capacidade e áreas de
trabalho era tão sério e profundo, que quando cumpri
o Serviço Militar Obrigatório, por ser Nutricionista,
acabei por ser colocado numa Unidade de Cavalaria na
Especialidade de Carros de Combate!!!!!!
Ou seja, o Poder, desconhecia por completo qual a utilidade dos jovens recém-formados, cujos estudos
haviam sido por si financiados, desperdiçando por
completo a minha formação, tendo então sido escolhido para Carros de Combate, unicamente, por ter uma
estatura mediana/baixa, o que lhes permitia
"enfiar–me" dentro daquelas máquinas de guerra de
tão reduzida habitabilidade.
Acreditem que daí para diante, fui sempre muito mais
cauteloso, quando tinha que explicar que era
Nutricionista.
Depois desta tão "enriquecedora" experiência - 18
Meses - e porque o Ensino não me seduziu, rumei para
Lisboa e comecei a concorrer para Delegado de
Informação Médica.
Se no Norte os Nutricionistas eram ainda pouco conhecidos, em Lisboa …
Após uma fugaz passagem pela Indústria
Farmacêutica, respondi a um anúncio da NESTLÉ.
Março de 1983: - Após diversas Entrevistas, fui admitido como Delegado de Informação Médica no Departamento de Produtos Infantis e Dietéticos.
Neste primeiro embate com o "Mundo Empresarial",
fui obrigado a desenvolver outras aptidões, nomeadamente na área Comportamental e da Negociação, que
apoiadas na minha Formação em Nutrição se vieram a
tornar extremamente úteis, nomeadamente quando
inserido numa Companhia como a NESTLÉ.
Os primeiros 4 anos foram marcantes.
Fui obrigado a "crescer" profissionalmente.
Novos horizontes/desafios me foram colocados:
1988 - Coordenação Nacional da equipa de
Informação Médica.
1991 - Conclusão da Licenciatura em Ciências da
Nutrição.
1991 - Chefia do Departamento de Produtos Infantis
e Dietéticos.
Somos então confrontados com aquela pertinente
questão:
"Será que o Curso de Nutrição (à semelhança de todos
os outros Cursos Superiores) nos prepara para a realidade da vida Profissional?
Claro que não!
No entanto, fornece–nos uma base suficientemente
sólida na área da Nutrição, que complementada com a
Formação que a Empresa me forneceu e enriquecida
pela experiência profissional adquirida, me permitiu
assumir a chefia do Departamento, liderando uma
Equipa de 20 colaboradores .
- Elaboração do Plano de Marketing
- Gestão da Força de Vendas
- Lançamento de Novos Produtos
Todos estes desafios são possíveis de ser aceites …
apenas se precisa de bom senso, capacidade de trabalho, motivação, dedicação e apoio/orientação
superior.
Por ter sido dos primeiros, senão o primeiro
Nutricionista a trabalhar numa Empresa com as características da NESTLÉ, penso ter contribuído de alguma
forma para um melhor conhecimento das capacidades
dos Nutricionistas - à semelhança de outros colegas,
nomeadamente na área Hospitalar - criando por arrastamento uma maior apetência por parte destas entidades empregadoras para a posterior admissão de
mais Nutricionistas
Hoje … no início do ano 2001, e sensivelmente 22 anos
após a conclusão do Bacharelato, é com grato prazer
que "revisitando" a minha carreira profissional:
- 9 anos de NESTLÉ
- 8 anos de NUTRICIA
Registo com uma "pontinha" de vaidade, que na
NESTLÉ, quer durante a minha permanência, quer após
Especialidades
a minha saída, outros Nutricionistas foram admitidos
e que na NUTRICIA presentemente se encontram a trabalhar (e com sucesso nas suas diferentes áreas/responsabilidades) 7 Licenciados em Ciências da
Nutrição.
NOTA: Gostaria de aproveitar esta pequena "estória"
para render uma sentida homenagem aos Mestres que
de alguma forma muito me influenciaram:
- Prof. Gonçalves Ferreira, Prof. Rego do Aguiar, Prof.
Emílio Peres, Prof. Norberto Teixeira Santos, Dr. Lima
Reis e Dr. Abrunhosa.
Manuel Sequeira
Marketing Manager
Nutricia
Rua da Fraternidade Operária
2795-491 Carnaxide
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Especialidades
Nutricionista Comunitário na autarquia - experiência de uma Nutricionista
Estagiária na Câmara Municipal de Valongo
Elsa Alves
Realizei o meu estágio académico da licenciatura em
Ciências da Nutrição da Faculdade de Ciências de
Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto no
Departamento de Educação, Acção Social, e Desporto,
da Câmara Municipal de Valongo, em 1999-2000. O
trabalho desenvolvido insere-se no âmbito da
Nutrição Comunitária, e o seu objectivo principal foi a
intervenção na comunidade, privilegiando a transmissão de conhecimentos, para a mudança de atitudes
e comportamentos face à alimentação.
A preocupação de base de todo o meu trabalho foi a de
alertar toda a comunidade educativa (crianças, pais,
professores e manipuladoras de alimentos) para a
importância da alimentação na saúde. É responsabilidade da Escola ensinar e incentivar hábitos de vida
saudável, promovendo o desenvolvimento global da
criança. O nível de ensino privilegiado nesta acção, foi
o 1º ciclo do Ensino Básico e Pré – Escolar, nas freguesias
de Campo e Sobrado.
A adopção de uma alimentação saudável reflecte-se
em todo o processo de desenvolvimento da criança,
influenciando o seu rendimento escolar. Por isso a
escola é o local ideal para a criança aprender e praticar os conhecimentos transmitidos. A forma de educar
pelo exemplo, para uma alimentação saudável ao
longo da vida, é a mais eficaz para a criança interiorizar os conhecimentos adquiridos.
A primeira etapa do estágio foi avaliar as condições
higio-sanitárias e funcionamento das cantinas escolares dos estabelecimentos acima referidos. Da observação destas, resultou a necessidade de ministrar uma
formação dirigida às manipuladoras de alimentos
destes estabelecimentos de ensino. A experiência foi
gratificante, justificada pela adesão do número de
formandas e, ainda, pela demonstração de interesse
pelos temas apresentados e modificação de comportamentos na manipulação.
Para pôr em prática os objectivos inicialmente definidos, desenvolvi diversas actividades e materiais para
as crianças, entre os quais manuais, jogos, canções.
Tendo sempre presente que queria atingir o maior
número de crianças, mas com limitações, vi-me obrigada a seleccionar as acções e o seu local. Contudo,
em todas as escolas da freguesia de Campo e em duas
da freguesia de Sobrado, abordei temas como:
- A Roda dos Alimentos - suas mensagens;
- A importância das Refeições
- Regras básicas de Higiene e Segurança Alimentar
Esta acção decorreu numa sessão única, para todas as
crianças das escolas acima referidas.
O trabalho de investigação, sob o tema - O Impacto da
Educação Alimentar nos Hábitos Alimentares e
Avaliação do Estado Nutricional, teve como a população alvo as crianças do 3ºº e 4º ano das escolas da
Retorta e Outeiro, da Freguesia de Campo. Para a concretização dos objectivos inicialmente propostos, apliquei um inquérito alimentar às 24 horas anteriores, um
inquérito de caracterização soció-económica, avaliação antropométrica e desenvolvi aulas de educação
alimentar. Os pais de todas as crianças destas escolas,
foram convidados a participar em duas sessões sobre
Alimentação Saudável e Custo da Alimentação
Saudável. Estes aderiram em razoável número, gostaram da iniciativa promovida pela Câmara e mostraram-se interessados para participar noutras acções do
género.
Para terminar a acção na comunidade escolar promovi
uma acção de sensibilização com o tema –
"Alimentação Saudável" e apresentação de um
manual por mim desenvolvido – "Valonguito Sadio Alimentação na Escola", dirigido aos docentes, das
freguesias de Campo e Sobrado. A resposta por parte
destes foi positiva, e também se mostraram receptivos
para outras iniciativas do género, tal como, incluir o
tema no programa escolar e a presença do nutricionista na sala de aula para leccionar o tema.
Colaborei ainda no trabalho de campo da disciplina de
Nutrição e Saúde Pública, da Faculdade de Ciências de
Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, que
teve como população as crianças de duas escolas da
freguesia de Ermesinde, do concelho de Valongo.
O meu estágio no Departamento de Educação, Acção
Social, e Desporto, da Câmara Municipal de Valongo
Especialidades
possibilitou ainda a intervenção em acções promovidas pelo sector de Acção Social, tais como:
- campanhas de sensibilização para "Hábitos de
Vida Saudável", actividade desenvolvida com a
equipa do Projecto Crescer, dirigida a crianças do
4º ano do 1ºº ciclo do Ensino Básico, de algumas
escolas de todas as freguesias do Concelho;
- realização de uma acção de formação, em colaboração com a Faculdade de Ciências de Nutrição e
Alimentação da Universidade do Porto, dirigida
aos técnicos que intervêm no âmbito do
Rendimento Mínimo Garantido;
- acção de formação "Gestão Doméstica", dirigida a
doze famílias carenciadas da freguesia de Campo,
em acompanhamento pelo Projecto Crescer,
Gestão Social da Câmara Municipal de Valongo e
no âmbito do Rendimento Mínimo Garantido.
Surgiu também um convite para ministrar uma formação dirigida às manipuladoras de alimentos do
Centro de Acolhimento Temporário, "Mãe d’Água",
instituição que pertence à Santa Casa da Misericórdia
de Valongo. Neste Centro, tive a oportunidade de
estagiar durante os meses de Julho, Agosto e
Setembro. Aqui, desenvolvi as seguintes acções:
- organizar o funcionamento geral da cozinha;
- promover sessões para aprofundar temas abordados na formação;
- avaliar o estado nutricional das crianças;
- averiguar os hábitos alimentares das crianças com
idade superior a 9 anos;
- implementar a alimentação diversificada no plano
alimentar dos bebés;
- desenvolver actividades no âmbito da Educação
alimentar.
Penso poder concluir que ultrapassei largamente os
objectivos inicialmente propostos. Apesar de parecer
muito o tempo de duração do estágio, estamos perante uma vasta população e um variado número de possíveis intervenções, impossíveis de colocar em prática
na totalidade durante estes "poucos" meses. Algo
ficou bem claro no final: há ainda muito trabalho a
fazer neste departamento. No entanto, se à partida
havia um desconhecimento das funções do
Nutricionista, penso que o meu estágio contribuiu
para demonstrar as nossas potencialidades numa
autarquia. A prova disso é a resposta dada pela a
comunidade, em relação às iniciativas promovidas,
pela motivação e adesão demonstradas.
A minha participação e concretização de projectos só
foi possível devido ao facto de estar a estagiar num
departamento, onde existe uma equipa multidisciplinar. Esta tem como principal objectivo a mudança de
determinadas atitudes da comunidade em todas as
suas latitudes, implicando por isso a participação de
diferentes técnicos tendo em vista abranger toda a
população. O meio utilizado é a comunicação mas só
através de uma mensagem efectiva e real os objectivos
serão alcançados.
A minha experiência foi gratificante, pois consegui
chamar e interessar diferentes públicos para a
mudança de atitude não só no que concerne à alimentação, como também em relação à nossa classe profissional. Embora haja quem ainda considere o
Nutricionista como um "profissional de elite" com um
público alvo restrito, penso que de algum modo consegui desmistificar alguns desses conceitos. Assim
como penso que este trabalho demonstrou que a presença de um Nutricionista Comunitário é uma mais
valia para as autarquias.
Com um trabalho de equipa, e em parceria com diferentes instituições, podemos realizar o sonho de
"Nutrição" para todos.
Elsa Alves
Nutricionista
Câmara Municipal de Valongo
Departamento de Educação, Acção Social e Desporto
Av. 5 de Outubro, nº 160
4440-503 Valongo
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21
Cientificidades
Cientificidades
Saúde, actividade física e peso corporal: contributo para
o seu conhecimento numa amostra da população adulta Portuguesa
Cláudia Afonso1, Denisa Mendonça2, Maria Daniel Vaz de Almeida3
Este artigo é um resumo da Tese de Dissertação de
Mestrado em Saúde Pública na área de especialização
em Epidemiologia apresentada à Faculdade de
Medicina do Porto em Junho de 2000.
Resumo:
Foi objectivo deste estudo identificar na população
Portuguesa, os determinantes e níveis de prática de
actividade física (AF) e a sua relação com o peso e imagem corporal. Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projecto Pan-EU Survey on Consumer Attitudes to
Physical Activity, Body Weight and Health, liderado
pelo Institute of European Food Studies e financiado
pela DGV, com a presença de todos os países da União
Europeia, sendo a Faculdade de Ciências da Nutrição e
Alimentação a representante nacional.
Foram inquiridos 1007 Portugueses, com idade igual
ou superior a 15 anos. Para a análise da informação
procedeu-se à análise descritiva, uni e multivariável.
Como resultados deste estudo verificamos que em
Portugal, a relação entre AF, peso corporal e saúde
encontra-se pouco valorizada, sendo a alimentação
(60%) o tabaco (26%) e o stress (21%) os determinantes
da saúde mais importantes. O acumular de investigação comprova a importância da AF na saúde e bemestar, porém observamos uma elevada proporção de
indivíduos que não se encontravam envolvidos em
qualquer actividade (60%), sendo a principal barreira
apontada para o não envolvimento na AF foi não se
considerarem do "tipo desportivo".
A distribuição pelas classes de Índice de Massa
Corporal indica-nos que embora 49,5% dos
Portugueses sejam normoponderais, 42,3% tem excesso de peso (33,2% sobrecarga ponderal e 9,1% obesos)
e 8,2% são magros. Os principais factores identificados
como influenciadores do aumento do peso corporal
relacionavam-se com a alimentação em geral (34%) ou
seus aspectos específicos, sendo a AF identificada apenas por 11% da amostra.
Verificou-se existirem desigualdades de atitudes, conhecimentos e importância atribuída à AF e ao peso corporal entre regiões do país, idades, sexo e classes
socioeconómicas correndo mais riscos de saúde as
mulheres, os mais velhos e as classes sociais mais desprotegidas onde a informação e as infraestruturas não
chegam com a facilidade esperada.
O presente estudo contribui para identificar prioridades de actuação na promoção de uma vida mais activa, servindo como ponto de partida à implementação
de uma política de saúde pública adaptada à população Portuguesa.
Palavras-chave: saúde, actividade física, obesidade,
Portugal
Introdução
"Mente sã em corpo são", é um princípio cada vez
mais actual. Em nome desta ideia de um corpo saudável e belo, aumenta o número de pessoas preocupadas
com a saúde e seus condicionantes.
A investigação mostra que, o sedentarismo aliado ao
padrão alimentar, condicionantes do aumento do
peso corporal, desempenham um papel fundamental
na sociedade actual obcecada pelo "culto do corpo",
onde elegância é sinónimo de magreza e para a
obtenção de uma boa saúde, a prática de AF são factores primordiais (1).
São hoje reconhecidos os benefícios da AF termos de
saúde. A sua prática regular é benéfica em todas as
idades pela sua característica fortalecedora dos músculos e ossos, ajudando em grande escala à manutenção da independência funcional, à medida que o
envelhecimento ocorre, promovendo não só a longevidade como também a qualidade de vida (2-8), sendo
já considerada como uma das melhores aquisições em
saúde pública (9).
Em paralelo com o sedentarismo generalizado das
populações, deparamo-nos com outro grande problema que afecta principalmente as sociedades desenvolvidas, denominado já por várias entidades como a
epidemia do século - a obesidade (10,11).
1 Nutricionista, Técnica-Superior, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
2 Professora Associada, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
3 Professora Auxiliar, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
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Cientificidades
Contrariamente ao esperado numa sociedade em que o
estereotipo desejado é a magreza, assistimos ao
aumento da prevalência da obesidade, doença crónica, que no seu sentido lato corresponde a um aumento das reservas lipídicas no tecido adiposo, com implicações catastróficas em termos de saúde pública e não
meramente uma questão estética (12).
Múltiplas interacções têm vindo a ser estudadas na
tentativa de estabelecer uma relação entre a falta de
AF e o aumento de peso corporal. Assim verifica-se que
o contributo da AF, no tratamento da obesidade se
relaciona com o seu efeito em termos de balanço energético, composição corporal, parâmetros psicológicos,
qualidade de vida, risco de diversas patologias,
gestão do peso corporal e distribuição da gordura nos
indivíduos obesos ou não-obesos (13-15).
Um factor limitante da promoção da AF com a consequente gestão do peso corporal em Portugal, é o
desconhecimento dos comportamentos e práticas
por parte das populações. Assim, este projecto foi
desenvolvido no âmbito do projecto multicêntrico
Pan-EU Survey on Consumer Attitudes to Physical
Activity, Body Weight and Health , liderado pelo
Institute of European Food Studies (IEFS) – Dublin e
financiado pela DG V, e com a presença de membros
de todos os países da União Europeia em que a
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da
Universidade do Porto foi o representante
Português.
Presidiu como objectivo geral deste trabalho analisar,
na população portuguesa, os determinantes e níveis
da prática da AF, e a sua relação com o peso corporal,
que possibilitem a definição de estratégias de promoção adequadas à população Portuguesa.
Material e Métodos
Este estudo envolveu 1007 Portugueses. A amostra foi
seleccionada por quotas, definidas em Portugal a partir de dados do Instituto Nacional de Estatística (1991)
e posteriormente ponderadas, de forma a representar
as realidades sociais e demográficas do nosso país.
Mediante os objectivos propostos procedeu-se à elaboração de um questionário estruturado de administração indirecta com perguntas de resposta simples ou
múltipla e posteriormente procedeu-se à realização do
respectivo estudo piloto em 20 indivíduos. No questionário final incluiu-se para além de questões relativas
às atitudes, conhecimentos e comportamentos face à
saúde, AF e peso corporal, informações sobre as características sócio-demográficas da população estudada.
Neste estudo, o peso e a estatura, utilizados para construir categorias de Índice de Massa Corporal (IMC),
foram auto-avaliados (16,17).
As entrevistas bem como a digitação dos dados no
programa informático foram feitos em conjunto com a
Eurotest com a coordenação europeia da Taylor Nelson
AGB, segundo as normas da ICC/Esomar (18).
Resultados
Apresentam-se assim alguns resultados retirados
deste estudo.
Atitudes face à AF, peso corporal e saúde
A alimentação foi o factor mais referido pelos participantes como tendo influência na saúde (60%), seguido dos hábitos tabágicos (26%) e do stress (21%). O
peso corporal foi o 6º factor referido e a AF física o 7º,
escolhido por apenas 11% dos inquiridos.
Verificamos que os principais factores identificados
como influenciadores do aumento do peso corporal se
relacionavam também com a alimentação, em geral
(34%) ou seus aspectos específicos (ingestão de gorduras, 43,8%, açúcar, 22,9%, bebidas alcoólicas,
12,1%). De realçar que a AF é identificada por apenas
10,8% da amostra como tendo influência no peso e que
21,6% dos inquiridos refere não ter tendência para
engordar.
Os indivíduos que seleccionam a AF como condicionante do peso corporal diminuem à medida que a
idade aumenta e são em maior percentagem homens
(p<0,05). São indivíduos com maior instrução (17,8%)
e pertencentes à classe social média baixa. São os
Cientificidades
Portugueses com sobrecarga ponderal (16,3%) e que se
sentiam normais e gordos quem mais assinala a
importância da AF para o ganho de peso.
São os habitantes do Interior Norte e Centro de
Portugal que concordam mais com esta afirmação.
atribuídos pelos Portugueses à prática de AF se prendem com a manutenção da saúde (21,4%), com o
facto da AF relaxar (17,6%) e também para estar ao ar
livre (15,1%). O convívio foi referenciado por 11,5% dos
inquiridos.
Frequência da prática de exercício físico
Principais barreiras à prática de AF
O padrão de distribuição dos Portugueses em termos de
horas semanais de prática de AF situa-se em dois extremos, os que não praticam (sendo estes a maior percentagem, 60,2%) e aqueles que praticam mais do que 3,5h
(30,2%). Entre 1,5 e 3,5 horas por semana encontraramse envolvidos 9,7% da população inquirida.
Em geral, o principal motivo referido para a não participação, prende-se com o facto de não se considerar
do tipo desportivo e também com motivos profissionais ou de estudo. A inexistência de condições foi também apontada por 14,1% dos Portugueses. A idade bem
como a falta de saúde foi o motivo que 21% da população referiu. O facto de preferir fazer outras coisas foi
descrito por 4,4% dos inquiridos. Cerca de 11% dos
inquiridos referiu não ter nenhum obstáculo à AF.
São as mulheres e os mais velhos que são menos participantes, 70% e 70,7% respectivamente. A escolaridade e a classe social parecem ser factores determinantes da prática de AF. Assim sendo, observamos que são
os indivíduos de nível educativo mais baixo, os que
têm a mais elevada percentagem de não participação
(72,2%). O inverso acontece na classe social mais elevada, pois são os que praticam em maior número de
horas (42,4%).
A distribuição geográfica dos não participantes permitiu verificar que, num grande número de regiões, a
percentagem de não participação era superior à média
nacional (60%), destacando-se em primeiro lugar
Setúbal e o Alentejo (78,7%), seguido do Algarve
(69,2%). Uma participação superior a 3,5h foi encontrada em maior percentagem na zona da Grande
Lisboa (40,5%) e também no Algarve (30,8%).
Dos Portugueses que referem ter participação em AF, as
actividades mais praticadas foram andar continuamente durante 30 minutos (48,9%) e futebol (25,5%),
seguido da natação (10,5%) e da pesca (9,9%), tendo
as restantes actividades sido referidas em menores
percentagens.
Principais razões para a prática de AF
Apesar da manifesta não participação em qualquer
modalidade, verificamos que os principais benefícios
Peso corporal e Índice de massa corporal
A distribuição do IMC encontrada indica-nos que
embora 49% dos Portugueses sejam normoponderais,
42% tem excesso de peso (33% sobrecarga ponderal e
9% obesos).
Em termos de distribuição do IMC, a razão da percentagem mulheres/homens é superior não só para a
magreza como também para a obesidade. São os mais
novos que têm a categoria de IMC mais baixa e os mais
velhos aqueles que mais têm excesso de peso (58%). O
IMC varia na razão inversa da escolaridade e classe
social. Assim observamos que aos participantes com
um nível de instrução mais baixa e de menor classe
social, correspondia um maior número de indivíduos
com peso superior à normalidade. O inverso acontece
com os magros e normoponderais que possuem um
nível de escolaridade superior e pertencem à classe
alta e média alta.
Foram encontrados na região de Setúbal e Alentejo,
17,3% de obesos, na Grande Lisboa 12,3% e 10,1% no
Grande Porto. Dentro do grupo de menor IMC, foi
Lisboa, o Interior Norte e Centro e Setúbal e Alentejo, as
regiões que apresentam uma percentagem mais elevada, 13,3%, 8,5% e 8% respectivamente.
26
27
Cientificidades
Em geral, e se excluirmos a classe de IMC mais baixa,
podemos dizer que o aumento do IMC varia de forma
inversa com o n.º de horas dispendido na prática de AF.
sas. O oposto acontece à medida que a idade aumenta, ou seja para os mais velhos o método mais utilizado é dieta (11,4% com idade compreendida entre os 34
e os 54 anos e 15% com idade superior a 55 anos).
Satisfação com a imagem corporal
Embora a maioria dos Portugueses se sinta bem com a
sua imagem corporal (47,5%) uma proporção muito
próxima dos 45% sente-se gorda (44,7%).
São 87 % os indivíduos com IMC ≥ 30 que têm consciência do seu peso excessivo, no entanto 12% sente-se
bem com o seu peso. Uma atenção especial deverá ser
dada aos participantes com o IMC dentro da normalidade (31%) ou abaixo (5%) que se sentem gordos.
Gestão do Peso Corporal
Para os 184 (18%) entrevistados que estavam a perder
peso, a dieta foi o método a que 51,6% recorreu em primeiro lugar. A AF foi seleccionada por 12,8% e 24%
referiu estar a perder peso por outros meios, a sua
conjugação com a dieta foi referida por apenas 7%
Portugueses.
São os indivíduos com peso a mais e que se sentem
gordos que estão em maior percentagem a tentar perder peso (41,8% e 27,3%). Destaca-se o facto de 12,9%
de normoponderais e 7,3% de indivíduos magros estarem também a tentar perder peso.
Os métodos mais escolhidos para a perda de peso
variam de acordo com o IMC. A dieta e o exercício físico de forma isolada parecem ser mais frequentes entre
os indivíduos obesos (30,8% e 2%) e a medicação, utilizada entre os obesos e por indivíduos que se sentem
gordos. A combinação da dieta e AF é mais evidente
nos indivíduos normoponderais, com sobrecarga ponderal e pelos que se sentem gordos.
Com o aumento da idade, aumenta também o número
de pessoas a tentar perder peso, principalmente para
os indivíduos que têm idades compreendidas entre os
35 e 54 anos. 3,9% dos mais jovens que estão a tentar
perder peso, fazem-no através da prática de AF, seguido de dieta (3,7%). Só 1,3% mencionam ambas as coi-
Comparativamente aos homens, são as mulheres quem
mais tenta perder peso (20,1% das mulheres e 16,4%
dos homens). Os homens quando o fazem, fazem-no
igualmente quer por dieta ou pela prática de outros
meios (6%), e só 4,1% faz AF quer de forma simples ou
combinada com dieta. A dieta é a forma mais utilizada para a perda de peso entre as mulheres (12,7%), só
1,4% o faz mediante a prática de AF e 1,6% através de
medicação. A associação entre dieta e AF é só seleccionada por 1,8% da população feminina.
À medida que aumentam a escolaridade e a classe
social, aumenta o n.º de pessoas que tenta perder peso
a praticar AF, combinado com dieta (escolaridade 3ª,
20,6%) e diminui os que fazem dieta de forma isolada.
Quanto à classe social são os dois extremos de classe
quem mais faz dieta para a perda de peso (13,1%, AB e
14,3%, DE). Apesar do recurso à medicação ser pouco
frequente é a classe social mais baixa que com maior
frequência recorre a este método (2,6%).
Discussão e Conclusões
À porta de um novo século, em que a saúde e a sua
promoção pela adopção de estilos de vida saudáveis,
estão no centro da atenção da sociedade, em que se
idealizam políticas e se estabelecem estratégias ambiciosas neste âmbito, a prática de AF bem como a preocupação pela manutenção de um peso corporal adequado, aparecem na opinião dos Portugueses com
uma importância reduzida no que se refere à sua
influência sobre a saúde.
A Comissão das Comunidades Europeias, refere que "as
pessoas da União Europeia possuem actualmente uma
maior longevidade e revelam estilos de vida mais saudáveis que anteriormente" (19). No entanto, Portugal
não parece enquadrar-se neste padrão.
Cientificidades
Se, no universo da União Europeia, os resultados finais
não são, no seu todo, alarmantes, nem a necessidade
de intervenção tão premente, ao analisarmos a
situação Portuguesa, bem como a de outros países
europeus da bacia do Mediterrâneo, os dados sugerem
a necessidade de intervir urgentemente pois caminhamos para um futuro pouco animador, confrontados
com graves problemas de sedentarismo, excesso de
peso e as suas já conhecidas consequências. A nossa
população revela uma atitude passiva face à AF, reflexo da ausência de conhecimentos, o que se traduz nos
altos níveis de sedentarismo, a par de uma prevalência elevada de peso superior ao normal, factores de
risco conhecidos para as principais causas de morbilidade e mortalidade em Portugal.
Face aos principais resultados deste estudo salienta-se
a necessidade de definir e delimitar estratégias de
intervenção em termos de saúde pública.
Assim, o Governo deverá reflectir se o que se tem feito
e se tem considerado como prioritário, corresponde às
reais alterações dos padrões de doença e estilos de
vida da população Portuguesa. Para isso torna-se
necessário verificar quais as necessidades presentes e
futuras não só a nível nacional como local.
A par do que já se faz em alguns países da Europa
como por exemplo na Finlândia, a implementação de
uma política de saúde pública que contemple a promoção da AF, seria um auxílio precioso no sentido da
reorientação e reformulação das políticas de saúde no
sentido da promoção do bem-estar das populações
(20).
Estas orientações deverão ter em conta, a criação de
infra-estruturas propícias à sua execução, não só em
termos materiais como também estabelecendo uma
nova legislação que promova a AF nas mais diversas
áreas da sociedade (locais de trabalho, instituições de
lazer, autarquias, escolas etc.).
Existe então a necessidade de promover actividades
consideradas atractivas para as diferentes faixas etárias, associando a noção de actividade com diverti-
mento e não obrigatoriedade (21), mostrando as mais
valias a nível de sucesso escolar e profissional, salientando a sua importância no controlo do stress e conflitos emocionais, criando condições favoráveis ao
aumento da AF e ensinar a aproveitar os tempos de
lazer adoptando comportamentos mais saudáveis, em
todos os grupos populacionais, não esquecendo aqueles que se encontram mais distanciados destas práticas: as mulheres, os indivíduos de menor escolaridade
e pertencentes a um estrato social baixo, os mais velhos e os que provavelmente vivem em determinadas
zonas do país, como é o caso da região de Setúbal e
Alentejo
O presente estudo indica também uma necessidade de
intervenção para reverter a crescente prevalência do
excesso de peso, um dos principais problemas em
saúde pública cujas consequências são inúmeras e
infelizmente cada vez mais evidentes. Para este problema a prevenção será também o método mais sensato, eficaz e de menor custo (22,23).
No que se pode considerar a outra face da mesma
moeda verifica-se a difusão de uma imagem principalmente feminina associada à magreza e geradora de
estados de ansiedade por quem não se enquadra neste
grupo (24).
Por outro lado cresce a oferta alimentar de produtos
energeticamente densos e de riqueza nutricional baixa
que concorrem para o aumento da ingestão de energia.
Assim o tratamento da obesidade implica uma abordagem multidimensional, que inclui a intervenção em
termos dietéticos, já compreendida pelos Portugueses
que pretendem perder peso, e onde a promoção de
estilos de vida mais activos é necessária apesar de não
ser bem entendida pela nossa população (22,23).
O presente estudo evidencia o andar a pé como uma
actividade popular em todas as faixas etárias.
Também Hakim e Morris referenciam a caminhada a pé
com um passo activo como uma forma acessível de
exercício para a população em geral, mas também
28
29
Cientificidades
para aqueles que têm peso em excesso e mais idade
(25,26).
No entanto, numa sociedade dominada pelo consumismo, a adopção de estilos de vida que possam ser
entendidos como mais "básicos" poderá não ser aceite com facilidade.
O Governo Português considera essencial "mobilizar os
principais actores no sentido de identificar um Código
de Boas Práticas para uma vida activa e saudável, culturalmente adaptado à população Portuguesa e promover a sua difusão e adopção" (27). Aguardamos
então um futuro mais animador?
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Orientações para 1998. 1998.
Correspondência:
Cláudia Afonso
Faculdade de Ciências da Nutrição da Universidade do
Porto
Rua Dr. Roberto Frias
4200-465 Porto
Telefone: 22 507 43 20
Fax: 22 507 43 29
30
31
Cientificidades
Chá, uma fonte natural de antioxidantes
Helena Cid
O chá é a bebida mais consumida no Mundo, logo a
seguir a água, bebendo-se mundialmente mais de
300 biliões de litros de chá, sendo sete vezes mais
consumida que a água mineral.
Esta bebida é proveniente dos rebentos frescos da
Camellia sinensis, um arbusto que cresce em climas tropicais e semitropicais. A partir das suas folhas é possível
obter mais de 3000 diferentes tipos de chá e, dependendo do tipo de tratamento a que são sujeitas, divide-se
em 3 categorias: chá preto, chá verde e chá Oolong.
veis pela cor avermelhada/acastanhada, enquanto
que as teoflavinas são responsáveis pelo seu pigmento amarelado.
Se, contrariamente não se deixar que ocorra a oxidação enzimática, obtém-se o chá verde. No chá
verde, as enzimas são inactivadas, por meio da expoChá Verde
Flavonóides 10%
Tanto as categorias do chá, como as quantidades de
antioxidantes presentes, dependem da forma como
este é processado após a colheita.
Para se obter o chá preto, após a colheita manual, as
folhas do chá são expostas em esteiras para que
sofram uma extensa oxidação (fermentação), durante a qual as enzimas aí presentes conduzem à oxidação
dos flavonóides em diferentes tipos de compostos dos
quais, os que existem em maior quantidade, são as
teoflavinas e teorubiginas (ver Fig. I). Estas são formas
polimerizadas das catequinas. Estas substâncias são
responsáveis por conferir ao chá preto a sua cor e
sabor únicos. As teorubiginas são também responsá-
Catequinas 90%
Fig. I - Chá Preto
sição ao calor, logo a seguir à sua colheita. Os flavonóides presentes em maior quantidade no chá verde
são as catequinas, nomeadamente a epigalocatequina
galato (EGCG) (ver Fig. II).
Chá Preto
Flavonóides 10%
Teorubiginas 47%
O chá Oolong resulta de um processo de fabrico intermédio, entre o chá preto e o verde. Deste modo, o chá
sofre um processo de fermentação não tão longo como
o do chá preto.
Catequinas 30%
Teoflavinas 13%
Fig. I - Chá Preto
A composição e a quantidade de sólidos extraíveis do
chá, depende de vários factores como, por exemplo, a
variedade e a quantidade das folhas, as condições de
crescimento da planta, a sua origem (tipos de solo,
grau de humidade e temperatura), o método de fabrico (grau de oxidação) utilizado na sua preparação.
Para além destes factores, os métodos utilizados na pre-
Cientificidades
paração do chá são igualmente importantes para a sua
composição química final, isto é, a quantidade de folhas
versus a quantidade de água, bem como o tempo de
duração da infusão são factores que determinam a concentração de componentes fenólicos na bebida final.
Podemos encontrar alguns minerais no chá, tal como o
potássio, o magnésio e o flúor. O flúor é um mineral
que se encontra em quantidades elevadas no chá e é o
responsável pela cor amarelada que os recipientes vão
adquirindo ao longo do tempo.
As populações Africanas que bebem chá diariamente,
apresentam baixos índices de cárie dentária. Sabe-se
que, no Brasil, na Universidade Federal de
Pernambuco, está a ser realizado um estudo populacional, onde está a ser implementado o consumo de
chá por forma a ajudar a saúde oral das populações.
Mais recentemente, um estudo "in vitro" realizado no
International Antioxidant Research Center, refere que as
catequinas e os flavonóides, presentes no chá, têm uma
elevada capacidade antioxidante. Estas substâncias
apresentam uma capacidade de neutralizar o oxigénio e
o nitrogénio superior à das outras substâncias antioxidantes, presentes nomeadamente nos vegetais e nos
frutos, tais como a vitamina C, E e os carotenóides.
Os resultados de um estudo "in vivo" mostraram-nos
que após o consumo, quer de chá verde quer de chá
preto, as substâncias antioxidantes são rapidamente
absorvidos pelo organismo humano e o seu pico sérico
máximo dá-se cerca de 120 minutos após sua
ingestão. Igualmente foi demonstrado a sua elevada
biodisponibilidade. Mesmo a adição de leite não
influencia a absorção destes antioxidantes.
Chá e Doenças Cardiovasculares
Chá e Antioxidantes
Já desde a antiguidade o chá era visto como uma bebida que garantia saúde e longevidade.
Todos estes benefícios são actualmente suportados
por um vasto programa de investigação científica, que
há mais de uma década se tem vindo a desenvolver.
Os componentes bioactivos do chá são os flavonóides
que segundo investigações " in vitro", em animais ou
mais recentemente em estudos epidemiológicos e
ensaios clínicos, referem que os flavonóides, têm uma
elevada capacidade antioxidante.
Os flavonóides pertencem ao grupo dos polifenois.
Sabe-se que existem mais de 4 000 destas substâncias
químicas.
Estudos científicos têm demostrado os efeitos benéficos
para a saúde dos antioxidantes, nomeadamente dos flavonóides presentes nos frutos e nos vegetais e no chá.
O Dr. Ron Prior, da Human Nutrition Center on Ageing,
tuff´s University in Boston, mediu a capacidade antioxidante do chá e de 22 frutos e vegetais e verificou que
a concentração e a capacidade de antioxidante do chá
era superior aos dos outros alimentos estudados. Este
investigador concluiu também que 80% dos antioxidantes estão disponíveis a partir dos 5 primeiros
minutos de infusão.
Evidências científicas têm relacionado o papel dos
radicais livres de oxigénio na patogénese de algumas
doenças crónicas, como as doenças cardiovasculares,
cancro entre outras.
Vários estudos epidemiológicos sugerem que o chá
pode ter um efeito benéfico nas Doenças Cardiovasculares e parece haver uma relação entre os bebedores habituais de chá e uma diminuição da incidência deste tipo de doenças degenerativas.
Os resultados dos estudos "in vitro", demonstraram
que os flavonóides presentes no chá são potentes
sequestradores de radicais livres na fase aquosa e na
lipídica protegendo, deste modo, mais rapidamente a
oxidação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL).
Mesmo quando comparadas as substâncias antioxidantes presentes no chá com outros antioxidantes
conhecidas como a vitamina E, C e carotenóides, verifica-se que os flavonóides presentes no chá tem um
efeito antioxidante mais eficaz sobre a as substâncias
envolvidas na patogénese da placa de ateroma.
As evidências sugerem que o chá pode ter, também,
um efeito anti-plaquetário.
32
33
Cientificidades
Chá e Cancro
Os estudos populacionais, têm demonstrado que pode
existir um efeito positivo entre o consumo de chá e a prevenção do cancro. Estudos com modelos animais sugerem a possibilidade de tanto o chá verde como o chá
preto serem agentes eficazes na prevenção de alguns
tipos de cancro, tal como o cancro da pele, do esófago,
do estômago, do cólon, especialmente nas fases iniciais
da carcinogénese, bem como, nos processos celulares de
morte natural (apoptose) destes tumores.
Segundo investigações, parece que o consumo de chá,
diminui a peroxidação lipídica, a mutagenicidade e
genotoxicidade e a inibição da hiperproliferação celular. Por outro lado, parece que o chá tem um efeito
poderoso na activação eficaz dos seus antioxidantes e
dos sequestradores dos radicais livres.
Estão a imergir uma panóplia de investigações cientificas nesta área, necessários para se poder tirar mais
conclusões.
Conclusão:
Os Europeus e os Americanos bebem essencialmente chá
preto e os Asiáticos consomem mais chá verde. O chá
verde foi o primeiro a ser estudado porém, actualmente
pode afirmar-se inequivocamente que ambos (chá
verde e preto) contêm substâncias com actividades
antioxidantes "in vitro" muito fortes.
Uma conquista importante ocorrida nos últimos anos, foi
o desenvolvimento de métodos analíticos que permitem
medir com exactidão os principais componentes do chá.
Isto tornou possível obter provas sobre a biodisponibilidade dos vários antioxidantes presentes no chá.
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Cientificidades
Restrições alimentares e sua justificação: comparação entre mulheres jovens
normais e predispostas a perturbaçõs alimentares
Santos, M. L. S., Ph. D
Machado, P. P. P., Ph. D
Resumo
Mulheres jovens universitárias (18-30 anos: N=437) preencheram o "Eating Disorders Inventory" (EDI) e adicionalmente foi-lhes pedido que indicassem numa lista de
70 alimentos/bebidas usuais, aqueles que geralmente
evitavam e respectiva razão. Cerca de 16% das participantes (n=68), cujo resultado no EDI era maior que 43,
encontrava-se em maior risco de desenvolver perturbações alimentares em comparação com outras com
resultados igual ou inferiores a 43 (n=369).
Proporcionalmente, mais mulheres do grupo de Risco
do que do grupo Normal evitavam alimentos/bebidas
na sua maioria de elevada densidade energética: queijo, gorduras, batatas incluindo as fritas, pão, cereais,
nozes, doçaria, comidas rápidas, molhos e refrigerantes. Foram encontradas diferenças significantes entre os
dois grupos de mulheres em relação à diversidade das
justificações para a restrição de 27 alimentos: leites
gordo e meio gordo, queijo, ovos, gorduras, pão branco, massas, batata frita, frutos secos, nozes, bolachas e
bolos com creme, chocolates, sobremesas lácteas, gelados, compotas, compotas dietéticas, açúcares, adoçante, comidas rápidas, molhos e refrigerantes. As razões
para a restrição alimentar sob a categoria "engorda"
foram mais mencionadas pelas mulheres em Risco,
enquanto que características sensoriais não aprazíveis
e/ou aspectos não saudáveis dos alimentos foram mais
referidos por mulheres do grupo Normal.
Introdução
Obsessões pela magreza e pela dieta crónica são cada
vez mais frequentes, sobretudo entre adultos jovens
do sexo feminino. Todo o processo de restrição alimentar pode originar, entre outros distúrbios fisiológicos e psicológicos, o comportamento de perturbações alimentares incluindo a anorexia (AN), a bulimia nervosas (BN) ou ainda perturbações alimentares
atípicas, que podem passar muitas vezes despercebidas (Fairburn & Walsh, 1995).
É sabido que o jejum e a restrição alimentar poderão
desencadear ingestões alimentares compulsivas
(Polivy & Herman, 1985; Wardle, 1987). Existe ainda a
tendência para evitar alimentos com elevada densidade energética, nomeadamente os ricos em gordura, e
uma maior preferência por produtos alimentares dietéticos (Tuschl et al., 1990). No entanto, pouco se sabe
acerca das justificações inerentes à restrição alimentar. Consequentemente, o objectivo deste estudo consistiu em verificar as diferenças em relação aos alimentos evitados e às razões para tal comportamento,
entre mulheres jovens predispostas a perturbações alimentares e mulheres que não estavam em risco.
Metodologia
Estudantes do sexo feminino e de diferentes cursos da
Universidade do Minho, com idades compreendidas
entre 18 e 30 anos, preencheram um questionário que
consistia em duas partes. A primeira incluía o "Eating
Disorders Inventory" (EDI; Garner et al., 1983; Garner,
1990) validado para a população Portuguesa
(Machado et. al., 2001). O número de questionários
válidos foi de 437. As mulheres que participaram neste
estudo foram divididas em 2 grupos de acordo com o
ponto de corte convencionado de 43 (Jacobson &
Truax, 1991). As jovens, cujo resultado do EDI era superior a 43, foram incluídas no grupo de Risco (n=68), ou
seja em risco de desenvolver perturbações alimentares, enquanto que as restantes, cujo resultado do EDI
era igual ou inferior a 43, constituíram o grupo Normal
(n = 369). As médias para o EDI e suas subescalas dos 2
grupos foram comparadas utilizando-se o teste não
paramétrico de Mann-Whitney U.
A segunda parte incluia uma lista de 70 alimentos e
bebidas usuais. Os participantes teriam que indicar
quais os alimentos/bebidas que habitualmente evitavam e providenciar a razão para tal comportamento. O
teste do qui-quadrado foi aplicado nas frequências de
alimentos evitados e razões. De modo a evitar frequências esperadas menor que 5, as frequências
34
35
Cientificidades
pequenas observadas de justificações foram combinadas em Outras razões. O nível de significância escolhido para todas as análises foi de 0.05 (bicaudal).
Resultados
Características demográficas
Relativamente à idade, que variava entre 18 e 30 anos,
as mulheres do grupo Normal apresentavam um mean
rank superior ao das de Risco (Idade mean rank
Normal=226.1; Idade mean rank Risco=180.49; Z=-2.773,
p=.006). Apesar de as mulheres em Risco apresentarem
um mean rank superior para o Índice de Massa
Corporal (IMC) que as do grupo Normal (IMC mean rank
Risco=253.13; IMC mean rank Normal=212.71; Z=-2.425,
p=.015), ambos os grupos continham sujeitos que
variavam da magreza extrema ao peso excessivo.
Eating Disorders Inventory
Em média, as mulheres em Risco estavam menos satisfeitas com a sua imagem corporal, tinham um maior
impulso para emagrecer, e apresentavam médias mais
elevadas para as restantes subescalas do EDI (Tabela I).
Restrição alimentar
Em geral e proporcionalmente, as mulheres em Risco
evitavam mais alimentos que as do grupo Normal,
excepto leite magro, bolachas integrais e de água e sal
(Figuras 1a e 1b). A maioria dos alimentos evitados
pelas mulheres em Risco possuem elevado teor energético e estão associados à gordura e/ou hidratos de
carbono de absorção rápida (doçaria) lenta (farináceos). No entanto, alimentos associados à palavra integral ou magro não eram tão restringidos pelas mulheres em Risco. Não foram encontradas diferenças para a
maioria dos alimentos/bebidas dos seguintes grupos:
Ovos, carnes e peixes; Hortaliças e legumes; Frutos;
Bebidas, excepto para salsichas, nozes, refrigerantes,
café, chá e infusões em que as mulheres em Risco evitavam mais.
Justificação para a restrição alimentar
Em relação às razões dadas para evitar os mesmos alimentos: leites gordo e meio gordo, queijo, ovos, gorduras, pão branco, massas, batata frita, frutos secos,
nozes, bolachas e bolos com creme, chocolates, sobremesas lácteas, gelados, compotas, compotas dietéticas, açúcares, adoçante, comidas rápidas, molhos e
refrigerantes, os dois grupos divergiram significativamente (Tabela II). Para a restrição da maior parte destes, as mulheres de Risco referiram mais frequentemente razões categorizadas em Engorda, enquanto
que o grupo Normal distribuía justificações pelas
características sensoriais não aprazíveis e pelos aspectos não saudáveis dos alimentos e menos frequentemente por Engorda.
Conclusão
Certos alimentos, sobretudo fornecedores de gordura
e de hidratos de carbono de absorção rápida, mas em
alguns casos de absorção lenta, são alimentos com a
conotação de que engordam sobretudo entre as mulheres predispostas a perturbações alimentares desta
amostra universitária. Por outro lado, as mulheres do
grupo Normal evitavam os mesmos alimentos ou por
não gostarem, ou por não considerarem saudáveis ou
ainda, mas em menor número, por engordarem. No
entanto, é importante realçar que algumas destas
jovens, em risco ou normais, tinham a noção deturpada de que produtos alimentares de pouco valor ener-
Cientificidades
gético também contribuem para o excesso de peso.
Assim, considerando estes dados preliminares, mas
também de modo a facilitar o processo terapêutico,
torna-se fundamental a investigação mais detalhada
acerca da racionalidade inerente à restrição alimentar.
Machado, P. P. P., Gonçalves, S., Martins, C., & Soares,
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Instituto de Educação e Psicologia
Universidade do Minho - Campus de Gualtar
4710-057 BRAGA
Endereço para correspondência:
a mesma, dirigida à Doutora Lourdes Santos
Agradecimentos: à Fundação para a Ciência e a
Tecnologia pela bolsa de pós-doutoramento atribuída
ao primeiro autor (PRAXIS XXI/BPD/20122/99)
36
37
Tabela I: Mean ranks para as subescalas e total do EDI dos grupos Normal e de Risco.
Normal (n=369)
Risco (n=68)
Mann-Whitney U
Z
p≤≤<
Impulso para emagrecer
197.74
378.78
-11.004
0.0001
Bulimia
209.14
315.86
-7.541
0.0001
Insatisfação corporal
197.97
377.51
-10.616
0.0001
Ineficácia
200.34
364.44
-10.261
0.0001
Perfeccionismo\
211.78
301.28
-5.289
0.0001
Desconfiança interpessoal
211.05
305.28
-5.643
0.0001
Consciência Interoceptiva
201.27
359.31
-9.512
0.0001
Medos de maturidade
207.25
326.28
-7.052
0.0001
191.00
416.00
-13.229
0.0001
Total
Cientificidades
Figura 1a: Proporção de mulheres que evita alimentos/bebidas
bolachas c/ creme
bolachas "Maria"/"Torrada"
nozes
batatas cozidas/assadas*
batatas fritas
massas*
arroz*
Risco (n=68)
Normal (n=369)
pão de mistura/cereais*
todos p <.05
* Teste Exacto de
Fisher
pão branco/tostas*
margarina
manteiga
óleos
iogurte*
leite magro
0
10
20
30
40
50
60
%
Figura 1b: Proporção de mulheres que evita alimentos/bebidas
infusões*
café/chá
refrigerantes
maionese
hamburger/hot-dog
rissóis/pasteis
Risco (n=68)
açúcares/mel/melaço
Normal (n=369)
compotas
todos p <.05
* Teste Exacto de
Fisher
gelados
sobremesas lácteas
chocolates
bolos c/ creme
bolos secos*
0
10
20
30
%
40
50
60
Cientificidades
Tabela II: Proporção de mulheres dos grupos Normal e Risco referindo razões para evitarem
alimentos; amostras baseadas no score de EDI: Normal (N=369); Risco (N=68).
Alimentos
χ2
Sensoriais
Engorda
Saúde
Outras razões
%
%
%
%
Leite gordo
Normal (n=227)
Risco (n=46)
52
33
10
35
33
28
5
4
χ2(3)=20.6
p<.0001
Leite meio-gordo
Normal (n=41)
Risco (n=10)
66
50
10
50
24
0
-
χ2(2)=10.1
p=.006
Queijo
Normal (n=43)
Risco (n=13)
63
31
19
69
19
0
-
χ2(2)=12.7
p=.002
Ovos
Normal (n=22)
Risco (n=7)
14
57
-
87
43
-
χ2(1)=5.5
p=.038*
Óleos
Normal (n=59)
Risco (n=22)
Outras
razões
9
36
66
36
25
14
χ2(2)=10.2
p=.006
Manteiga
Normal (n=53)
Risco (n=22)
Outras
razões
38
73
28
18
34
9
χ2(2)=8.2
p=.017
Margarina
Normal (n=79)
Risco (n=26)
43
23
13
46
35
23
9
8
χ2(3)=13.5
p=.004
Pão branco
Normal (n=16)
Risco (n=11)
Outras
razões
37
82
Outras razões
0
63
18
χ2(1)=5.2
p=.047*
Massas
Normal (n=10)
Risco (n=11)
Outras
razões
20
82
Outras razões
0
80
18
χ2(1)=8
p=.009*
Batatas fritas
Normal (n=94)
Risco (n=33)
Outras
razões
29
61
53
27
18
12
χ2(2)=10.8
p=.005
Frutos secos
Normal (n=91)
Risco (n=24
93
62
Outras
razões
Outras
razões
7
38
χ2(1)=16
p<.0001*
Nozes
Normal (n=54)
Risco (n=17)
46
29
17
59
Outras
razões
37
12
χ2(2)=12.1
p=.002
Biscoitos com creme
Normal (n=89)
Risco (n=33)
60
33
26
67
Outras razões
0
15
0
38
39
Cientificidades
Bolos com creme
Normal (n=89)
Risco (n=35)
31
20
41
74
20
3
8
3
χ2(2)=18.8
p<.0001
Chocolates
Normal (n=92)
Risco (n=30)
15
0
40
83
38
3
7
13
χ2(3)=12.6
p=.006
Sobremesas lácteas
Normal (n=47)
Risco (n=23)
34
4
47
83
Outras
razões
19
13
χ2(3)=23.4
p<.0001
Gelados
Normal (n=23)
Risco (n=13)
Outras razões
0
61
100
Outras razões
0
39
0
χ2(2)=9.3
p=.009
Compotas
Normal (n=48)
Risco (n=29)
56
14
31
83
Outras
razões
13
3
χ2(1)=6.8
p=.014*
Compotas dietéticas
Normal (n=36)
Risco (n=11)
78
36
Outras
razões
Outras
razões
22
64
χ2(2)=19.2
p<.0001
Açucar/mel/melaço
Normal (n=60)
Risco (n=21)
45
19
38
71
Outras
razões
17
10
χ2(1)=6.6
p=.023*
Adoçante
Normal (n=46)
Risco (n=9)
78
33
Outras
razões
Outras
razões
22
67
χ2(2)=6.9
p=.032
Rissóis/pasteis
Normal (n=48)
Risco (n=22)
Outras
razões
12
67
46
11
42
22
χ2(1)=7.4
p=.013*
Pizza
Normal (n=52)
Risco (n=14)
Outras
razões
19
79
Outras
razões
81
21
χ2(2)=19.8
p<.0001
Hamburger/hot-dog
Normal (n=94)
Risco (n=28)
47
25
11
54
31
21
12
0
χ2(1)=17.9
p<.0001*
Maionese
Normal (n=99)
Risco (n=34)
66
53
9
35
20
12
5
0
χ2(3)=25.8
p<.0001
Ketchup/outros molhos
Normal (n=138)
Risco (n=30)
64
40
7
47
Outras
razões
30
13
χ2(3)=14.4
p=.002
Refrigerantes
Normal (n=71)
Risco (n=24)
37
8
18
38
39
46
6
8
χ2(2)=33.8
p<.0001
Nota:* Teste Exacto de Fisher
Cientificidades
PROBIÓTICOS: alimento funcional?
Rosa Maria Santos1, João Pedro Freitas2, Mário Espiga Macedo3, António Falcão de Freitas4
Alimento Funcional
Recentes conhecimentos sugerem a hipótese de que
para além das necessidades nutricionais, a dieta pode
modular variadas funções no organismo exercendo
um papel benéfico na prevenção de doenças.
Os conceitos nutricionais são hoje mais abrangentes,
comemos não só para sobreviver mas, para satisfazer o
apetite, prevenção de efeitos adversos e também com
o objectivo de promover o "bem estar", aumentando
os níveis de saúde e reduzindo o risco de doença.
Um alimento diz-se funcional se contém um componente (seja ou não um nutriente) que beneficia algumas das funções do organismo humano de tal forma
que seja relevante para o bem estar e saúde ou a
redução do risco de doença,(1) ou se este tem efeitos
fisiológicos ou psicológicos para além dos tradicionais
efeitos nutricionais.(2)
Os alimentos funcionais têm sido motivo de investigação em países como os Estados Unidos e o Japão.
Esta investigação tem como objectivo avaliar os efeitos
fisiológicos e os benefícios de alimentos ou seus componentes na promoção da saúde.
Os efeitos positivos de um alimento funcional contribuem para a manutenção de bem estar físico ou reduzir os riscos de algumas patologias.(3)
Da reunião de Consenso (Madrid, Outubro 1998) um
grupo de peritos Europeus adoptou a seguinte definição de alimento funcional "Um alimento pode ser
considerado funcional se é demonstrado de forma
satisfatória que actua em um ou mais alvos funcionais
do organismo afectando-os, para além do efeito
nutricional adequado, de tal modo que é relevante
para o aumento do "bem estar", saúde ou redução do
risco de doença".(4)
Um componente de um alimento funcional pode ser
um macronutriente se tem efeitos fisiológicos específicos (ex: ácidos gordos n-3) ou um micronutriente
essencial se a sua ingestão é maior do que a dose diária recomendada . Pode ainda ser um componente de
um alimento que embora tendo valor nutritivo, não é
essencial (ex: alguns oligossacarídeos) ou sem valor
nutritivo (ex: microorganismos vivos).
A dieta, para além do seu valor e funções nutricionais
(necessidades metabólicas), dá prazer e fornece componentes que permite modular as funções do organismo e reduzir o risco de algumas doenças.
Probióticos
Classicamente, probiótico é definido como microorganismo vivo do suplemento da dieta que tem efeitos
benéficos no aparelho digestivo. Esta definição foi inicialmente aplicada ao uso de produtos para animais.
Em nutrição humana é definido como microorganismo
vivo constituinte dos alimentos que tem efeito benéfico na função intestinal e que promove a saúde.(5)
Estes microorganismos, promovem a fermentação
transformando alguns dos açúcares, especialmente a
lactose em ácidos orgânicos (ácido láctico e acético)
sendo usadas na produção do iogurte e outros produtos de fermentação do leite. Os géneros bacterianos
mais utilizados são o lactobacilo e a bifidobacteria.
Para além da sua utilização principal, em produtos
lácteos e culturas liofilizadas, os probióticos parecem
vir a ter, num futuro próximo, um papel importante
em alimentos vegetais e carnes.
De acordo com experiências efectuadas em diversos institutos, estes microorganismos vivos, resistem ao suco
gástrico e sais biliares e parecem sobreviver mesmo que
transitoriamente no intestino delgado. Este facto tem
importância vital na regulação do aparelho gastrointestinal. A sua viabilidade é superior aos microorganismos
vivos que habitualmente podem ser ingeridos e são
encontrados no cólon. Assim, a capacidade de fermentação que habitualmente existe no cólon pode ser adicionalmente modificada após a ingestão oral de probióticos, tendo como efeito a presença de elevado numero
de lactobacilos e bifidobacterias nas fezes.
Alguns efeitos relacionados com a saúde e associados
à ingestão de probióticos foram descritos por diferentes grupos de investigação em nutrição humana.(6) Os
seus efeitos podem ser usados para justificar as
exigências nutricionais ou na redução do risco de
doença.
1 Nutricionista
2 Cardiologista, Mestre em Medicina Desportiva
3 Prof. Auxiliar Faculdade de Medicina Porto
4 Professor Catedrático da Faculdade de Medicina Porto, Director do Serviço de Medicina 2 - H. S. João - Porto
40
41
Cientificidades
Efeitos funcionais dos probióticos
Efeitos sobre a intolerância à lactose
A intolerância à lactose é um problema para mais ou
menos 70% da população mundial com deficiência de
b- galactosidase intestinal. Esta intolerância à lactose
provoca efeitos osmóticos e fraca digestibilidade para
os hidratos de carbono. Os alimentos com probióticos
têm efeitos benéficos melhorando a digestão, e reduzindo os sintomas de intolerância à lactose. (6)
Efeitos sobre o colesterol
Os efeitos de alimentos com probióticos sobre o colesterol são ainda motivo de controvérsia. Estudos publicados em 1970 e 1980 referem consistentemente que o
consumo diário de produtos lácteos fermentados por
períodos variáveis entre 2 a 4 semanas reduzem o
colesterol entre 5 e 17%, contudo, estes dados foram
recentemente contestados por outros estudos que
referem não existir efeito sobre o colesterol.(7)
Diminuição do risco de doença
Existem evidências de que o consumo de probióticos
leva à redução do risco de diarreias provocadas por
rotavirus e possivelmente o cancro do cólon. A diarreia
por rotavirus é das alterações gastrointestinais mais frequentes, daí o seu interesse em saber quais os probióticos disponíveis na prevenção destas situações que ocorrem sobretudo em crianças e em indivíduos com alterações da motilidade gástrica. Diferentes grupos de
investigadores, utilizando condições de método diferentes concluíram que o consumo de probióticos e produtos
lácteos fermentados reduzem os episódios de diarreia e
o risco de doenças gastrointestinais. (8)
No cancro do cólon as evidências baseiam-se exclusivamente em experiências animais que mostram diminuição das formas aberrantes "crypt-foci" histológicos após a ingestão de produtos com lactobacillus e
bifidobactérias. (9)
As cadeias dos probióticos lactobacillus e bifidobactéria diminuem a quantidade fecal de enzimas como a
b-glucuronidase, b-glucosidase, nitroreductase e urease que estão envolvidas na activação metabólica de
diferentes mutagénios e carcinogénios. Para além
desta sua inibição da actividade enzimática parecem
também fazer diminuir os mutagénios fecais e urinários em voluntários saudáveis consumidores habituais
de carne de vaca.
Defesas naturais e imunitárias
As crianças cuja suplementação alimentar é feita com
cadeias de lactobacillus casei têm aumento das concentrações de Imunoglobulinas A (IgA) que se correlaciona com a diminuição de diarreias provocadas por
rotavirus.(10) A IgA existe em duas formas diferentes,
sendo um elemento da imunidade especifica mediada
por anticorpos ou imunidade humoral. Uma das formas de IgA, a dimérica está presente nas secreções que
envolvem as superfícies mucosas e participam no que
se chama exclusão imune, dado que contribuem para
formar uma barreira mucosa, não permitindo que os
antigénios toquem e atravessem a superfície mucosa.
É de notar que a maior parte das infecções humanas de
origem bacteriana ou vírica, penetram por superfícies
mucosas. A IgA monomérica ao contrário da dimérica
é uma imunoglobulina presente no soro. Estudos efectuados em voluntários humanos realizado por LinKAmster et al. em 1994 no NRC, demonstrou que leites
fermentados com estirpes de microorganismos probióticos aumentavam significativamente os níveis
séricos de IgA contra lipopolissacarídeos da Salmonela
Typhi após vacinação oral da estirpe atenuada de
Salmonela. De referir também que existem varias estirpes de probióticos, sendo que a sua selecção e utilização estão a ser investigadas por diversos laboratórios mundiais especializados em nutrição humana.
Conclusão
Os probióticos são muito conhecidos quer na Europa,
Japão e Estados Unidos, usados sobretudo em produtos fermentados do leite. Estes alimentos influenciam
positivamente as funções gastrointestinais e a flora do
cólon. Os maiores benefícios para a saúde são a prevenção de diarreias e a sua acção positiva no sistema
imunitário.
Os hidratos de carbono são um conjunto de componentes com diferentes efeitos fisiológicos e diversas
propriedades nutricionais que merecem cada vez mais
a atenção dos nutricionistas. Na família dos hidratos
de carbono, os oligossacarídeos indigestíveis merecem
particular atenção e podem ser na próxima década
motivo de interesse como alimento funcional. Para que
Cientificidades
se justifique o seu papel de alimento funcional e factor adjuvante para a saúde são ainda necessários estudos que confirmem os seus efeitos benéficos.
Alterações na microflora intestinal, modulação do
metabolismo do triacilglicerol, modulação da insulinémia, aumento da biodisponibilidade do cálcio da
dieta e modulação negativa na carcinogénese do
cólon são algumas das áreas que motivam interesse
por parte dos investigadores em Nutrição Humana.
Os probióticos são pois recomendados a qualquer
indivíduo. Por motivos nutricionais é sempre recomendado um produto lácteo. Se aliado aos beneficios
nutricionais de um produto lácteo temos presente um
fermento láctico com as características de um probiótico, este será sem duvida uma mais valia nomeadamente nas: a) situações de défice imunitário b)
situações de terapêutica com antibióticos c) alterações
da motricidade intestinal d) intolerância à lactose. De
uma maneira geral traduz vantagens ao longo de todo
o aparelho digestivo.
Fala-se muito em estilos de vida e na forma de combater determinados erros alimentares mas, na maior
parte das vezes, é difícil alterar hábitos e fazer a
refeição que queremos ou que gostamos. No equilibrio
da microflora intestinal, como substituto de produtos
lácteos que causam que provocam intolerância à lactose, como adjuvante das situações de défice imunitário ou como suplemento alimentar, os probióticos são
um alimento funcional porque evitam algumas
doenças gastrointestinais e podem ainda melhorar a
saúde e bem estar e evitar o risco de determinadas
doenças do aparelho digestivo.
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Centro de Estudos da Função Autonómica; Medicina 2;
H.S.João – Porto
Correspondência:
Rosa Maria Santos
Serviço de Medicina 2,Hospital S.João
Alameda Hernani Monteiro
4200-Porto
email: [email protected]
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43
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