1 GRAU DE CONHECIMENTO DAS PUÉRPERAS DO BAIRRO SÃO DOMINGOS, CORONEL FABRICIANO, SOBRE A IMPORTÂNCIA DA TRIAGEM NEONATAL. Fabrício Freitas Araújo Graduando do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais/ Unileste-MG Helisamara Mota Guedes Professora do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais / Unileste-MG RESUMO Este estudo visa identificar o grau de conhecimento das puérperas e de informações adquiridas com os profissionais de saúde durante a gestação sobre a Triagem Neonatal. Há uma necessidade grande de se tornar público a finalidade do teste de pezinho de modo que todo pai e toda mãe saibam a importância de levar sua prole para tal, tendo como evitar assim doenças que trazem transtornos mentais. Este estudo é uma pesquisa qualitativa, que foi realizado a partir de entrevistas fonográficas e foi realizado no bairro São Domingos, Coronel Fabriciano, tendo como base a unidade de saúde do bairro. Esta pesquisa foi efetuada em puérperas atendidas na unidade. Os resultados obtidos mostram algumas falhas no processo pelo qual as crianças da região estudada estão sendo submetidas, no que se refere à Triagem Neonatal. Palavras-chave: Triagem Neonatal, teste do pezinho, puérperas. ABSTRACT This study aims to identify the degree of mothers´s knowledge and the informations acquired with the health professionals during the gestation on the Neonatal Selection. There´s a great necessity in publish the purpose of the foot test in order that each father and mother know the importance to take their offsprings to do the specific test, preventing in this way, the illnesses that bring mental upheavals. This is a qualitative research, which was carried through phono interviews and it was done in the neighborhood of São Domingos, Coronel Fabriciano, having as its base the unity health of that area. This research was done with the mothers who went in that unity. The results show some imperfections in the process in which the children of that specific area studied are being submitted, in relation to the Neonatal Selection. Key-words: Neonatal selection, foot test, mothers 2 INTRODUÇÃO Triagem Neonatal é o nome que se dá a um exame que se define na análise de algumas gotas de sangue colhidas do calcanhar de um recém-nascido, a fim de detectar a susceptibilidade deste a algumas doenças congênitas. “O período ideal para se realizar a coleta na criança é no 5º dia de vida e não deve ultrapassar o 7° dia. O início do tratamento para as possíveis doenças deve se iniciar no máximo no 28° dia” (Ramos et al., 2003). Existe no Brasil, um programa que regulamenta todas as questões relativas à Triagem Neonatal que é o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), criado em 2001, que reserva à todo recém-nascido vivo o direito de ser atendido gratuitamente na rede pública para realizar a triagem. O Estado de Minas Gerais também possui um programa para este fim. Dentre as doenças que o teste consegue identificar, podemos ressaltar o Hipotireoidismo Congênito (HC), Fenilcetonúria (PKU), Fibrose Cística (FC), Anemia Falciforme e outras hemonoglobinopatias Este trabalho visa a identificar o grau de conhecimento das puérperas e de informações adquiridas com os profissionais de saúde durante a gestação ou durante o contato na unidade de saúde sobre a Triagem Neonatal. Outro fator importante a ser destacado com este trabalho é a conscientização das mães quanto à importância de se buscar o resultado do teste em tempo hábil. Após se saber que parte da população brasileira não é submetida ao teste (DATASUS, 2004), percebeu-se necessidade de colocar em evidência a sua realização, e esclarecer a importância do mesmo. Este estudo se fez necessário a partir da análise de dados nacionais em relação à cobertura do Programa Nacional de Triagem Neonatal (DATASUS, 2004) que não é de 100% dos nascidos vivos, como deveria ser. Outro fator importante é o início do tratamento da Fenilcetonúria e do Hipotireoidismo Congênito, que devem ser o mais rápido possível, a fim de reverter suas conseqüências que se instaladas não terão mais reversão. Depois de conhecer os malefícios que doenças como a PKU e o HC trazem ao seu portador, e depois de ter a oportunidade de saber que muitas vezes o Teste do Pezinho não é encarado como deveria ser, percebeu-se a necessidade de desenvolver um estudo com as puérperas atendidas na unidade de saúde do bairro São Domingos, no município de Coronel Fabriciano, sobre o grau de informação das mesmas em relação ao teste. A maior preocupação é de que as mães não saibam que estas doenças podem causar danos mentais irreversíveis em seus filhos, e o fato delas não terem acesso a essa informação pode tornar irrelevante para elas a Triagem Neonatal e o retorno para buscar o resultado. 3 Diante da preocupação em relação à saúde das crianças e a incerteza do conteúdo das informações oferecidas sobre o Teste do Pezinho, questiona-se o seguinte: Há um conhecimento sobre a finalidade do Teste do Pezinho, no que se refere ao que ele pode trazer de benefício para a criança? O profissional de saúde que realizou o teste informou sobre a importância do mesmo? REVISÃO DA LITERATURA A Triagem Neonatal ou Teste do Pezinho é um exame gratuito, realizado em qualquer unidade de saúde, que pode trazer muitos benefícios para a criança. Faz-se a coleta da amostra de sangue da criança, e esta é enviada a um laboratório para ser analisada e o resultado volta para a unidade em que foi realizada a coleta. O Programa Estadual de Triagem Neonatal foi criado em Minas Gerais pelas Resoluções nº 789 de 22/09/93 e nº 982 de 11/03/94 da Secretaria de Estado da Saúde. Em 13 de Julho de 1990, foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente, através da Lei Federal nº 8069 que prevê no seu artigo 10 item III: “Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a proceder a exames, visando diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais” (BRASIL, 1990) Segundo Reichert & Pacífico (2003, p.226), esta triagem consegue localizar algumas doenças importantes no desenvolvimento físico e mental da criança, tais como: hipotireoidismo congênito; fenilcetonúria; fibrose cística e anemia falciforme. O hipotireoidismo congênito e a fenilcetonúria causam retardo mental nas crianças e são consideradas problemas de saúde pública. A Fibrose Cística e a Anemia Falciforme trazem severas conseqüências que podem até mesmo ser letais. Portanto, se faz necessário a informação e orientação sobre tais conseqüências. É necessário que os profissionais de saúde saibam como e onde se procede ao tratamento para as enfermidades acima citadas. Existe o financiamento de todas elas através de uma parceria dos governos Federal e Estadual e Universidade Federal de Minas Gerais, que são responsáveis pelo tratamento e acompanhamento integral de todos os portadores das enfermidades. Hipotireoidismo Congênito O Hipotireoidismo congênito consiste em um distúrbio metabólico sistêmico, caracterizado por uma secreção inadequada de hormônios tireoidianos. - tetraiodotironina – T4 e triiodotironina – T3,... (Reichert & Pacífico, 2003, p.226). 4 Os hormônios tireoidianos são essenciais para a síntese protéica, metabolismo dos carboidratos e lipídios, crescimento físico, desenvolvimento do sistema nervoso central, força e integridade muscular, sendo controlados por outros hormônios. A referida doença apresenta-se, na maioria das vezes, de forma assintomática, fator este que atenta para a necessidade precoce do tratamento. Alguns autores entendem que o tratamento deve ser iniciado no máximo no 28º dia de vida (Ramos et al., 2003). A ausência de tratamento no tempo adequado causa retardo mental na criança por volta dos seis meses de vida e não há forma alguma de reversão do quadro. Fenilcetonúria A Fenilcetonúria ou PKU como é referenciada por estudiosos, é uma doença que acomete as crianças causando sensibilidade a alguns alimentos. A fenilcetonúria é uma doença de transmissão autossômica recessiva, causada pela deficiência da enzima fenilalanina hidroxilase, que converte a fenilalanina em tirosina. Com a deficiência desta atividade, fica restrito a síntese orgânica de neurotrasmissores, como adrenalina e noradrenalina a níveis mínimos, resultando em efeitos observados no sistema nervoso central. (Reichert & Pacífico, 2003. p.227). Os profissionais de saúde têm a obrigação de orientar e informar às mães a gravidade desta doença assintomática nos primeiros dias e meses de vida que exige um tratamento imediato à sua detecção. As crianças portadoras de Fenilcetonúria se não forem submetidas ao tratamento no tempo adequado, progridem rapidamente para um quadro de retardo mental. “As manifestações clínicas e humorais surgem na criança por volta do terceiro ao sexto mês, caso o erro metabólico não tenha sido identificado e tratado precocemente.” (Reichert & Pacífico, 2003. p.227). O fato de não haver sinais clínicos da doença nos primeiros dias de vida, tornam ainda mais importante a Triagem, sendo o meio de investigação mais indicado para a doença. Uma criança portadora de PKU não tratada certamente terá a sua vida e a de sua família marcada com preocupações que poderiam ser evitadas. Fibrose Cística Doença hereditária, autossômica recessiva, predominante em indivíduos da raça branca, e se caracteriza pelo acometimento de glândulas exócrinas, devido a alterações no transporte de cloro na membrana celular. “Também chamada de mucoviscidose, a fibrose cística é uma doença não contagiosa, e que, até o presente momento, não tem cura. O doente tem reduzida a quantidade de água da secreção dos 5 brônquios (canais que se ramificam nos pulmões), o que a torna espessa e, portanto, mais aderente às paredes brônquicas. Isto acaba comprometendo a limpeza desses canais e facilitando a ocorrência de infecções no aparelho respiratório. Pode ocorrer ainda o bloqueio dos dutos do pâncreas, o que impede a chegada das enzimas digestivas aos intestinos. Apesar de afetar mais pulmões e pâncreas, pode comprometer o bom desempenho de diversos órgãos.” (MEDICINAL, 2002) A Triagem Neonatal para Fibrose Cística é contestada por alguns autores, por entenderem que os métodos utilizados para detecção da doença não são tão eficazes como os testes específicos, pois a ocorrência de resultados falsos é considerável, em torno de 5 a 10%. Caso o exame apresente resultado positivo, a equipe encaminha a criança para o teste do suor, que permite a confirmação do diagnóstico. Tão logo ocorre a confirmação a primeira consulta é agendada e as subseqüentes são marcadas periodicamente, conforme as especificidades de cada criança. A preocupação de se desenvolver a doença em recém-nascidos, leva à instrução para que seja feito nesses a Triagem Neonatal, para a possível detecção do mal. Vale salientar que é possível haver resultados falso-negativos neste teste, fato que não garante a total eficácia do teste para esta patologia. Anemia Falciforme Anemia Falciforme é uma anemia hemolítica grave resultante de um defeito hereditário do gene hemoglobina em foice (HbS) (Smeltzer & Bare, 2002, p. 718). O tratamento para a anemia falciforme é oferecido, em Minas Gerais, pela Fundação Hemominas, que além de disponibilizar 11 Hemocentros em todo o estado, apresenta uma equipe multidisciplinar. Essa equipe, trimestralmente, adota protocolo com medidas preventivas e tratamento das complicações da doença falciforme, além de programa de educação continuada para os pacientes e para os profissionais envolvidos. Os medicamentos básicos para o tratamento são fornecidos gratuitamente pelos Hemocentros da rede Hemominas. Já o atendimento dos casos agudos é realizado em hospitais credenciados do Sistema Público de Saúde. O tratamento em questão baseia-se, sobretudo, na introdução precoce das medidas profiláticas com antibiótico e ácido fólico, educação humanizada aos pais e familiares responsáveis com explicações sobre o comportamento da doença frente aos eventos mais comuns; no fornecimento de relatório do médico pediatra que acompanhará a criança; na solicitação de estudo familiar com vistas à orientação genética; na realização de exames laboratoriais complementares. 6 Os maiores danos causados pela Anemia Falciforme são relacionados à necessidade de consumo de oxigênio de todas as partes do corpo, já que esta patologia diminui a capacidade das hemácias de transportar a substância em questão, levando assim os tecidos à isquemia e até o infarto. Outro prejuízo causado pela anemia falciforme é o acúmulo das hemácias em determinados vasos sangüíneos, pois o formato adquirido por elas aumenta as chances de obstrução destes vasos, também levando à isquemia e ao infarto. O tratamento para a doença ainda não é definitivo e tem como componente o transporte de medula óssea, e outras intervenções que variam de acordo com a necessidade de cada um. Após analisar e conhecer a finalidade do Teste do Pezinho, sua importância e as conseqüências negativas trazidas por algumas doenças congênitas detectáveis pelo teste, como as citadas acima, faz-se indispensável a orientação criteriosa e bem fundamentada sobre tal. É de suma importância que as gestantes saibam que a Triagem Neonatal serve para detectar doenças congênitas que precisam ser tratadas o mais rapidamente possível, ou seja, que o teste seja feito em seus filhos na idade correta e que estas mães também estejam atentas para buscar o resultado do mesmo na data marcada, para que se for necessário instituir algum tratamento, este seja feito a tempo de se prevenir seqüelas graves, como o retardo mental. Portando, os profissionais de saúde devem priorizar a orientação do público que necessita do teste. METODOLOGIA Para este estudo foi definida uma abordagem qualitativa, que segundo Martins & Bicudo (1994, p. 23), “busca uma compreensão particular daquilo que estuda [...] o foco da sua atenção é centralizado no específico, no peculiar, no individual, almejando sempre a compreensão”. As entrevistadas tiveram que se encaixar em alguns parâmetros para serem tal, como: - ter realizado a Triagem neonatal em seu filho no período de 14/12/2004 a 14/02/2005; - que esta triagem tenha sido realizada no posto de saúde do bairro São Domingos; - que resida em Coronel Fabriciano e dentro da área de abrangência do posto de saúde. No período supracitado, foram realizadas 29 coletas para o Teste do Pezinho, sendo que 19 delas se encaixaram no perfil estudado. Este fato se justifica porque ficou inviável colher todos os dados, já que uma mãe que realizou a triagem no posto em questão forneceu endereço errado, outra o forneceu incompleto, duas residiam na cidade de Timóteo, outras duas se mudaram assim que pegaram o resultado do teste, dificultando o contato e outras quatro puérperas residiam em bairros onde a abrangência no posto São Domingos não alcança. 7 Foi realizado no bairro mencionado e adjacências, no município de Coronel Fabriciano, tendo como base a unidade de saúde. A coleta de dados foi feita após autorização do Secretário Municipal de Saúde de Coronel Fabriciano, através da assinatura do Termo de Responsabilidade. Esta pesquisa foi efetuada em puérperas que se beneficiaram dos serviços da unidade, através de entrevista fonográfica com perguntas e respostas. Foi possível ter acesso a elas através do levantamento do endereço registrado no caderno de anotações de Triagem Neonatal da unidade. A realização da entrevista foi de acordo com a disponibilidade dos sujeitos, podendo ser na casa deste ou no posto de saúde. Os sujeitos da pesquisa foram informados sobre os objetivos, finalidades e importância de sua contribuição para este estudo. Foi usado um gravador para a entrevista, a fim de relatar na integra todo o assunto explorado, além de papel e caneta para outras anotações, no Diário de Campo. Foram realizadas quatro perguntas às puérperas em relação ao Teste do Pezinho feito nos seus filhos. São elas: - por que você acha necessário fazer o Teste do Pezinho? - durante o pré-natal, quais informações lhe foram passadas sobre ele? - na sala de vacina, durante a realização do teste, quais informações lhe deram sobre o mesmo? - qual foi o resultado do teste? As entrevistas foram transcritas para o papel na integra preservando toda a linguagem, inclusive o tom coloquial. Este processo foi feito imediatamente após cada entrevista ou no máximo após duas entrevistas para que não ficasse perdida a riqueza de informações das impressões e detalhes. Não houve nenhuma resistência por partes das puérperas em participar da pesquisa. Cada uma delas participou de forma espontânea e assinaram um Termo de Consentimento à Pesquisa, que servirá como documento para qualquer contestação futura. “Esta fase estabelece uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e/ou responder ás questões formuladas, e ampliar o conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural da qual faz parte” (Minayo, 1998; p.69). Este estudo trata-se de um trabalho de conclusão de curso. Como a Faculdade ainda não dispõe de um Comitê de Ética, procurou-se contemplar as exigências da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos. (BRASIL, 1996b) 8 Foi realizada a coleta dos dados nos termos acima descritos e estas se cessaram quando se atingiu setenta por cento da amostra, constituída de 19 puérperas, como descrito anteriormente, ou seja, 12 entrevistadas. Os dados coletados foram agrupados quando houve semelhança entre os mesmos, explicitados como citações no texto e precedidos de críticas e comentários. Cabe ressaltar as dificuldades encontradas pelo autor quando o mesmo colhera as entrevistas. Tais dificuldades envolviam moradas de difícil acesso, locais considerados perigosos pela população local, fornecimento de endereço que não existia. Tais eventos contribuíram de forma negativa para o estudo, já que muitas vezes até a segurança do entrevistador foi abalada. Porém, o mesmo não si deixou abater, pois sabia da importância e seriedade do presente estudo. ANÁLISE DAS CATEGORIAS Depois de colhidas todas as informações relativas ao estudo, em forma de entrevista fonográfica, foi realizada a transcrição das mesmas. Foram observadas algumas semelhanças entre as respostas adquiridas, sendo estas agrupadas. As partes mais interessantes dos discursos foram selecionadas e separadas para análise e auxílio na conclusão do trabalho. Passada esta etapa, originaram duas categorias. I – Conhecimento das puérperas sobre a triagem neonatal. II – Divulgação das informações pelos profissionais em relação à triagem neonatal. Deve-se salientar que todo profissional da área deve trabalhar para promover e restabelecer a saúde, além de agir de forma preventiva, preservando o bem estar físico, psíquico e social de cada indivíduo. A Triagem Neonatal ou Teste do Pezinho, é um procedimento importante para a preservação da saúde. Com a conscientização e adequada orientação sobre o assunto, a finalidade para a qual o teste foi criado, poderá ser contemplada. Através da fala das puérperas, foi possível observar pontos importantes de como vem sendo procedidas as informações pertinentes à Triagem Neonatal, na região. I – Conhecimento das puérperas sobre a triagem neonatal. Pôde-se observar que as mulheres, em sua maioria, quando questionadas em relação à necessidade do teste, não possuem informação suficiente ou satisfatória sobre o mesmo. Algumas julgam ser importante o teste, mas não sabem o porque. Não sabem os benefícios que a triagem pode trazem, evidenciando que têm informações de forma incompleta, como mostram as falas a seguir: “... eu não tenho assim certeza do nome das doenças, mas eu sei que através do Teste do Pezinho, pode-se saber se a criança tem algum problema... creio eu que é um teste tão importante quanto até mesmo as 9 vacinas que a criança tem que tomar para estar prevenindo as doenças...’ E1 “... tive informação no posto de saúde que com o Teste do Pezinho se faz exames par diagnosticar doenças, doenças até esmo assim, difíceis de curar...“ E5 Quando se analisa a primeira fala citada, observa-se que a sujeita tem algum conhecimento sobre a triagem neonatal, pois ela diz que a mesma serve para detectar doenças. Porém, ela associa a finalidade do teste com a das vacinas, fato que deixa evidente o conhecimento parcial da mesma em relação ao assunto, seja por não ter tido acesso às informações relativas ao mesmo, ou algum mal entendido. No segundo trecho apresentado, a puérpera diz que foi informada no posto de saúde de como funciona o processo da triagem, ou seja, ela conhece porque a mesma é realizada, sabe da possibilidade da detecção de doenças difíceis de serem curadas, porém, não menciona em momento algum da entrevista o nome das mesmas ou alguma conseqüência eminente com a presença das tais. Um ponto importante a ser destacado das entrevistas é a divergência entre as informações fornecidas por algumas puérperas e o caderno de registro do Teste do Pezinho. Por exemplo, as sujeitas E1 e E2, quando perguntadas sobre o resultado do teste, responderam da seguinte forma: ... “normal, o teste deu normal”... E1 ...”foi normal, deu tudo normal”... E2 O fato intrigante, é que nenhuma das duas autoras dos trechos acima foram até a unidade para buscar os resultados, pois os mesmos se encontravam no posto na data da entrevista. Portanto, elas responderam a esta questão sem conhecer o resultado do teste. Partindo desta situação, observa-se que há um certo descaso ou despreocupação destas mães em relação ao resultado da triagem neonatal de seus respectivos filhos e que esta falta de conhecimento fizeram falta principalmente no retorno para buscar o resultado. A entrevistada E5, quando questionada em relação ao resultado do teste respondeu diferentemente das demais: ...eu acho que deu normal, porque quando dá algum problema, eles procuram a gente, eles vem até na casa da gente. Por isso que eles pedem o endereço. Daí a gente confia que se der alguma coisa, eles procuram a gente. Com meu outro filho foi assim também. Eu não peguei o resultado. Esta fala é preocupante, pois permite as seguintes interpretações: Esta mãe não tem conhecimento sobre o processo como é realizado e procedido o teste, que quem fica com a responsabilidade de buscar o resultado é a família do recém-nato, ou, o profissional que realizou a coleta, orientou esta mãe de maneira incorreta, podendo causar transtornos caso o 10 resultado fosse positivo para alguma doença. Porém vale ressaltar que espera-se que esta busca ativa seja feita pelos profissionais de saúde diante de algum resultado alterado. Em outras entrevistas, houveram respostas que apontaram o desconhecimento das mães em relação à finalidade da Triagem Neonatal. Observou-se as seguintes falas: ...”Pra ver o sangue? Pra ver a qualidade do sangue?”... (a entrevistada aparentou-se envergonhada) E4 ... “pra ver se a criança em algum problema no pé, ou outro problema”... E11 ... “eu ainda não sei porque é importante fazer o Teste do Pezinho”... E7 A primeira fala mostra que a sujeita E4 não possui conhecimento algum da finalidade do teste, doenças que ele pode detectar e benefícios que pode trazer diagnosticando precocemente tais doenças. Enfim, a puérpera sabe da existência do teste, entretanto desconhece a importância do mesmo. No segundo trecho, destaca-se também a falta de conhecimento de E11 sobre a triagem neonatal. Ela sabe que o teste pode detectar alguma anormalidade, mas se confunde associando o nome coloquial do exame com a finalidade do mesmo. No último trecho, claramente a sujeita assume não saber a importância da triagem neonatal, entretanto a mesma tem conhecimento da existência da mesma, já que sua filha foi submetida à coleta. II – Divulgação das informações pêlos profissionais em relação à triagem neonatal. Todos os profissionais de saúde que têm contato com o público alvo, devem disponibilizar informações corretas e completas sobre o Teste do Pezinho. Segundo Silva (2003), são os profissionais da enfermagem os responsáveis pela orientação e divulgação das informações relativas. No entanto, observa-se falhas na comunicação entre os profissionais e a clientela. Estas falhas podem estar ocorrendo devido à negligência dos responsáveis ou pela falta de entendimento ou assimilação das mães. Perguntadas sobre quando obtiveram informações sobre o Teste do Pezinho, se foi no prénatal ou na coleta em si, as puérperas responderam da seguinte forma: ... “durante o pré-natal, na verdade, nenhuma informação... eu fiz seis consultas, todas com a médica... na sala de vacina só me mandaram buscar o resultado..." E1 11 ... “lá na sala de vacina só falaram que poderia dar reações, assim, que poderia dar resultado bom ou ruim, só falaram isso”... E4 Outra semelhança que pôde ser observada nas respostas das entrevistadas é que todas elas tiveram contato no pré-natal, única e exclusivamente com o médico. Portanto, foi este profissional que prestou ou não esclarecimentos e explicações sobre a triagem neonatal. Perguntou-se a elas com quais profissionais tiveram contato durante o pré-natal e responderam da seguinte forma: ... só com a médica do posto... fiz seis consultas com ela... E10 ... fiz consultas só com médico... E1 Diante da fala das mães entrevistadas, percebe-se que realmente as informações não estão sendo passadas eficiente, correta e completamente. Observou-se que as puérperas em sua maioria fizeram sei consultas médicas de pré-natal, o que representa o mínimo de consultas preconizado pelo Ministério da Saúde. “Como abrir mão dos papéis predeterminados socialmente, reaprender a fala popular, aproximarse de cada sujeito respeitando sua singularidade e não perdendo de vista seu contexto familiar? Como ser capaz de corresponder à confiança que as mulheres demonstram ao aderir à assistência prénatal? As respostas à estas perguntas são da competência de cada pessoa que escolheu trabalhar com a prática geral da saúde ou especificamente, com gestantes, ou ainda que, por força das circunstâncias, se depara com essa função no seu dia a dia. Um desafio a ser aceito.” (BRASIL, 1996a, p. 8) Os profissionais envolvidos no processo da Triagem neonatal, devem se esforçar ao máximo para atender as necessidades de aprendizagem a assimilação da população, adotando maneiras mais fáceis de se conscientizar o público alvo. “Entre as diferentes formas de realização do trabalho educativo, destacam-se as discussões em grupo, as dramatizações e outras dinâmicas que facilitam a fala e a troca de experiências entre os componentes do grupo. Essas atividades podem ocorrer dentro ou fora da unidade de saúde. O profissional de saúde, atuando como facilitador, deve evitar o estilo palestra, pouco produtiva, que ofusca questões subjacentes, na maioria das vezes, mais importantes para pessoas presentes do que um roteiro estabelecido”. (BRASIL, 1996a, p. 10). 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS Depois de vivenciadas cada etapa deste estudo volta-se, à origem do mesmo, quando começou uma busca por saber como está o grau de conhecimento das puérperas do bairro São Domingos e abrangência, no que se refere à triagem neonatal. O estudo contemplou todas as perspectivas do autor, possibilitando ao mesmo, conhecer e avaliar como e quais informações estão sendo passadas às mães que levaram seus filhos para realizar o Teste do Pezinho na unidade de saúde São Domingos. Pôde-se perceber que as pessoas entrevistadas, pouco sabem a respeito da triagem neonatal. O conhecimento apresentado por cada uma, mostra que elas conhecem o Teste do Pezinho como um exame qualquer, que é realizado para detectar alguma anormalidade. Porém, quando se trata se um exame da importância do Teste do Pezinho, este tipo de conhecimento superficial não é o bastante para garantir a eficácia e os objetivos do mesmo. Deve-se informar aos interessados às conseqüências das doenças que o teste pode detectar. Outro fator importante observado com o estudo é que durante o período gestacional, mais especificamente nas consultas de pré-natal, pouca orientação tem sido absorvidas pelas puérperas em relação à triagem neonatal, além de que, estas consultas estarem sendo realizadas apenas por uma categoria profissional, no caso, médica. Como se sabe, o ideal seria uma alternância destas consultas entre médicos e enfermeiros, de modo que a assistência à gestante seja completa. Funcionando desta forma, seria possível inserir esta importante ação na atenção à saúde. Observa-se a necessidade de tratar o assunto com mais seriedade, prioridade e perícia, para que as crianças que nascerem possam gozar de certos cuidados a que têm direito. Cabe então um alerta aos profissionais de saúde que têm responsabilidade na questão, para que estes se conscientizem da importância, da finalidade e dos benefícios que a triagem neonatal pode trazer, para que assim possa passar tais informações para as pessoas que mais precisam. É importante ressaltar que apesar de as informações que as puérperas entrevistadas não serem satisfatórias, pelo menos as mesmas sabiam da existência do Teste do Pezinho e levaram seus filhos para fazê-lo. Fica uma dúvida em relação aos conhecimentos dos profissionais de saúde envolvidos na questão: será que os mesmos não conhecem ou não priorizam as informações sobre a Triagem Neonatal pela baixa incidência de anormalidades nos resultados? Esta informação foi obtida pelo autor através de abordagens feitas pelo mesmo com a funcionária da sala de vacina. Para resolver a situação atual em relação ao conhecimento das sujeitas da pesquisa, propõese a reciclagem dos profissionais envolvidos, para que os mesmos atualizem seus conhecimentos sobre a Triagem Neonatal, de modo que a assistência às mulheres seja completa, com informações sobre tudo que envolve os bebês que estarão por vir. 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALBINO, J.C., MIRANDA, M.R.R., CARVALHO, T.R. Diagnóstico situacional da Unidade de Saúde do bairro São Domingos. Coronel Fabriciano: Escola de Enfermagem do UNILESTEMG, 2004. fl. 23. (Não publicado.) BRASIL, M.C.C. Lei Federal n. 8069 de 13 de julho. 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 16/07/1990, p.13563, coluna 2. BRASIL. Ministério da Saúde, Manual de normas técnicas e rotinas operacionais do Programa Nacional de Triagem Neonatal. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. 91p. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual do Programa Viva Mulher. 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