CORRUPÇÃO E ELEIÇÕES Recentemente foi divulgado o Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2002 pela ONG Transparência Internacional, entidade sediada na Alemanha e que se preocupa com o combate à corrupção na administração pública no mundo. O IPC 2002 foi calculado a partir de pesquisas realizadas entre membros da sociedade civil, como empresários e acadêmicos de 102 países. A classificação é dada por notas que podem variar de 0 (alto grau de corrupção) a 10 (baixo grau de corrupção). A pior e a melhor nota, ficaram, respectivamente, para Bangladesh (1,2) e Finlândia (9,7). O Brasil obteve a medíocre nota “quatro” que o situou em 45º lugar abaixo de vizinhos como Chile (7,4), Uruguai (5,1), Costa Rica (5,4) e Peru (4,4) e, estatísticamente abaixo da média aritmética das notas entre os 102 países pesquisados que foi de 4,6. O Brasil repete a nota do ano passado, o que mostra que o país não tem piorado na percepção internacional quanto ao grau de corrupção vigente. A corrupção é um fenômeno social que tem comprovados e perversos efeitos econômicos sobre a sociedade. Por conta disso, vem ganhando cada vez mais atenção e preocupação de investidores, acadêmicos e instituições multilaterais como FMI e Banco Mundial. O fenômeno da corrupção, por não ser sentida diretamente pela sociedade e por ser de difícil mensuração quanto aos seus custos, dificulta a devida e necessária indignação da sociedade. Para estimular essa indignação aqui vai uma ajuda. Sabe-se que o Brasil ainda é um país com graves problemas na área de saneamento básico. Mais da metade das pequenas cidades não recebe água tratada. Milhares de crianças morrem anualmente no país por falta de mínimas condições de higiene. Num artigo de fevereiro de 20021, o advogado Viveiros de Castro cita um interessante estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) comprovando que um aumento de 1% no número de pessoas com acesso a serviço de água e esgoto reduz em 6,1% o índice de mortalidade em crianças menores de 14 anos. Esta precisa relação de causalidade entre investimento em saneamento e óbitos de menores de 14 anos e mais alguns cálculos permitiu chegar ao custo de uma vida em relação ao investimento necessário em saneamento básico: US$ 16,3 mil por ano, cerca de R$ 50.000,00. Pois bem, cada 50.000 reais que são desviados do erário representam uma morte a mais de uma criança sem acesso ao serviço público de saneamento. Lembram-se do caso do TRT de São Paulo? Os R$ 180 milhões desviados representam a morte de 3.600 crianças. Um genocídio pra Bin Laden nenhum botar defeito! Corrupção mata sim! Os agentes públicos corruptos são tão cruéis quanto muitos ditadores sanguinários que a história da civilização ocidental nos apresentou. Mas, por incrível que possa parecer, são muita vezes aceitos nos salões da “high society” como homens de valor e importantes. A característica “abstrata” do fenômeno da corrupção e a hipocrisia social contribuem para a postura passiva da sociedade. As eleições estão chegando e o voto é um instrumento poderoso de filtragem da corrupção nos Poderes Executivo e Legislativo. Votar consciente e, acima de tudo, em pessoas honestas é um dever cívico e moral. Indignar-se com “tudo isso que aí esta” é muito fácil. Quem não está! Então, sejamos responsáveis com o nosso voto, pois o futuro está como sempre esteve em nossas mãos e nos dedos que tocarão a urna eletrônico e definirão o país e o estado que desejamos. Luís Filipe Vellozo de Sá Economista e Membro Fundador da Transparência Capixaba 1 O Globo; 25.02.02