Relatório de Engenharia Genética TP1 - Introdução de plasmídeos em bactérias por conjugação triparental e electrotransformação Professora Cristina Viegas Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica Outubro de 2014 Trabalho realizado por: 75559, Ana Palma 75720, Diogo Cardoso 75726, Bernardo Noronha Outubro de 2014 Engenharia Genética MEBiom Índice 1. Resumo........................................................................................................................................................................................ 3 2. Resultados.................................................................................................................................................................................. 4 2.1 Tratamento de resultados ................................................................................................................................................ 5 3. Discussão e conclusões…………………………………………..………………………………………..…………………………….6 4. Referências ..................................................................................................................................................................................... 9 2 Outubro de 2014 Engenharia Genética MEBiom 1. Resumo O trabalho laboratorial realizado tem como objectivo comparar duas técnicas de introdução de DNA em bactérias: a electrotransformação e a conjugação triparental. Para verificar a eficiência destas técnicas, tentou-se repor o fenótipo mucoso de mutantes de S. elodea e P. aeruginosa tendo como base mecanismos de complementação homóloga e heteróloga. Para a primeira técnica, utilizaram-se os plasmídeos pBBR1MCS (vector vazio) e pHA010-3 (vector com o gene gelE), sendo que a frequência e a eficiência de transformação obtidas para cada plasmídeo foram: FT(pBBR1MCS) = 6.3 × 10−7 ; FT(pHA010-3) = 2.4 × 10−6; ET(pBBR1MCS) = 227.3 UFC/mL/µg; ET(pHA010-3) = 18023.3 UFC/mL/µg. Para a segunda técnica, utilizaram-se os plasmídeos pMMB66(HE) (vector vazio), pLC100 (vector com o gene pgmG), pNZ49 (vector com o gene algC) e pRK2013 (plasmídeo conjugativo). Os resultados obtidos com a conjugação triparental foram inconclusivos uma vez que, para todos os plasmídeos, o número de colónias era incontável. Com este trabalho, pode-se concluir que ambas as técnicas de introdução de DNA em bactérias são eficientes, sem se poder dizer qual a mais eficiente por falta de resultados relativos à conjugação triparental. Podemos ainda afirmar que os processos de introdução de genes em estudo, nomeadamente o de complementação homóloga e heteróloga, foram bem-sucedidos. 3 Outubro de 2014 Engenharia Genética MEBiom 2. Resultados Uma vez que a actividade laboratorial se dividiu em duas partes, cada uma referente a uma técnica diferente (electrotransformação e conjugação triparental), tanto a secção dos resultados como a discussão encontram-se de igual forma compartimentadas. 1) Electrotransformação Os resultados obtidos pelo grupo com esta técnica foram inconclusivos: observou-se que não se desenvolveram colónias em nenhuma das placas de Petri preparadas durante a actividade laboratorial. As razões que levaram a isto serão discutidas mais à frente, na secção “Discussão”. De forma a possibilitar uma análise quantitativa da experiência foi fornecido um conjunto de resultados, proveniente de outros grupos, que haviam desenvolvido a mesma actividade laboratorial. Na tabela 1 encontram-se os números de colónias existentes em cada placa para diferentes concentrações de suspensão celular original e para os diferentes plasmídeos que foram colocados nas células. Registou-se ainda o fenótipo observado. Tabela 1 - Número de colónias em cada placa. (1) -Fenótipo amarelo, com aspeto pouco mucoso; (2) – Fenótipo amarelo com aspecto mucoso Meio S + Cm Diluição Meio S 1:100 1:101 1:104 1:105 1:106 1:107 8 colónias (1) ---- Incontável (1) 127 --- --- Plasmídeo pBBR1MCS colónias (1) pHA010-3 Incontável (2) 62 colónias (2) Incontável (1) Incontável (1) 256 colónias --(1) Os espaços não preenchidos na tabela referem-se a valores que não foram fornecidos. O plasmídeo pBBR1MCS é o vector vazio, com marca de selecção CmR (resistente a clorofenicol), servindo como controlo negativo. O plasmídeo pHA010-3 é o vector de clonagem no qual foi previamente inserido o gene gelE. O meio no qual foram plaqueadas as culturas obtidas através da actividade experimental é o meio S. A esse meio adicionou-se clorofenicol (antibiótico para o qual o vector de clonagem apresenta resistência) – meio S + Cm. 4 Outubro de 2014 Engenharia Genética MEBiom 2) Conjugação triparental Mais uma vez os resultados obtidos não foram conclusivos: em todas as placas de Petri foram observadas inúmeras colónias, impossíveis de contar. O meio de cultura utilizado foi o meio PIA (Pseudomonas Isolation Agar). Não houve distinção aparente entre as placas com e sem o antibiótico Carbenicilina (meio PIA + Carb e meio PIA, respectivamente) nem entre as colónias com origem em células nas quais foram inseridos plasmídeos diferentes, usando a técnica em questão. Desta forma, não há resultados disponíveis relativos à conjugação triparental. As razões para este insucesso e os resultados esperados serão igualmente apresentados na secção “Discussão”. 2.1 Tratamento de resultados Para calcular a eficiência (ET) e a frequência (FT) da electrotransformação, utilizaram-se as seguintes fórmulas: ET = UFC/mL de electrotransformantes FT = UFC/mL de electrotransformantes µg de DNA UFC/mL de células viáveis totais sendo que as UFC/mL, por exemplo, do meio S com a diluição de 1:105 e com o plasmídeo pBBR1MCS, são 1270*105=1.27*108 UFC/mL. A quantidade de DNA utilizada, para cada plasmídeo, foi: pBBR1MCS1: 8µL de uma solução de 44ng/µL 8 × 44 = 352𝑛𝑔 = 0.352µ𝑔 pHA010-3: 9 × 38 = 342𝑛𝑔 = 0.342µ𝑔 9µL de uma solução de 38ng/µL O número de UFC/mL para cada plasmídeo foi de 2560 × 106 = 2.56 × 109 𝑈𝐹𝐶/𝑚𝐿 para o plasmídeo pBBR1MCS e 1270 × 105 = 1.27 × 108 𝑈𝐹𝐶/𝑚𝐿 para o plasmídeo pHA010-3. Assim, 80×100 UFC/mL FT(pBBR1MCS) = 1.27×108 UFC/mL ET(pBBR1MCS) = FT(pHA010-3) = 80×100 UFC/mL 0.352 µg = 6.3 × 10−7 = 227.3 UFC/mL/µg 620×101 UFC/mL 2560×106 UFC/mL = 2.4 × 10−6 5 Outubro de 2014 ET(pHA010-3) = Engenharia Genética 620×101 UFC/mL 0.342 µg MEBiom = 18128.7 UFC/mL/µg 3. Discussão e conclusões 1) Electrotransformação A ausência de quaisquer colónias visíveis nas placas de petri deve-se, provavelmente, a problemas com o meio S. Os componentes utilizados na sua preparação não se encontravam bem conservados acabando por enviesar o meio de cultura, impedindo que neste houvesse a taxa de crescimento e replicação das bactérias esperada. O facto de se ter verificado estes resultados noutros grupos que realizaram a experiência em simultâneo, onde o meio S utilizado havia sido preparado em conjunto, corrobora esta explicação dos resultados obtidos. Como referido na secção 2, utilizou-se os resultados de outros grupos aos quais a experiência foi bem sucedida. A verificação de fenótipo mucoso nas colónias de S. elodea mutantes onde foi inserido o plasmídeo recombinante pHA010-3, que contém o gene gelE, é sinal da existência de gelano. Por outro lado, nas colónias onde foi inserido o plasmídeo pBBR1MCS, não se verifica esse fenótipo, o que significa que não há produção de gelano. Assim, pode concluir-se que o gene gelE é um gene essencial para a produção de gelano na Sphingomonas elodea, ao codificar uma enzima essencial que regula a actividade proteica (uma tirosina cinase, importante na extensão final do gelano e no seu transporte para fora da célula). O mecanismo aqui apresentado é, portanto, o de complementação homóloga. Em relação à eficiência de electrotransformação, sabe-se que varia inversamente com o tamanho do fragmento de DNA a inserir(4). No entanto, tal não se verifica, apresentando uma maior eficiência de electrotransformação o plasmídeo pHA010-3. Este resultado justifica-se com a diferença de concentrações de células de S. elodea aquando da electrotransformação. Neste caso, sendo esse valor superior para a electrotransformação do plasmídeo pHA010-3 é normal que este tenha um valor de eficiência também superior. Passível de afectar também a eficiência de transformação é a duração do pulso durante a electrotransformação, que no nosso caso variou entre 5.3 e 5.7ms. Uma vez que a duração de pulso para o qual o processo está otimizado é 5ms, qualquer tempo de pulso mais elevado provoca maior choque nas células, sendo mais provável a sua morte. Estes valores, naturalmente, não nos permitem retirar conclusões pois referem-se a uma actividade laboratorial diferente da cujos resultados estamos a analisar. Quanto à frequência de electrotransformação, pode-se considerar que os valores obtidos são próximos, sendo este valor ligeiramente maior para o plasmídeo pHA010-3, provavelmente por à partida este ter uma concentração mais elevada. 6 Outubro de 2014 Engenharia Genética MEBiom 2) Conjugação triparental Nesta actividade laboratorial foram introduzidos, pelo método de conjugação triparental, três plasmídeos diferentes em células de Pseudomonas aeruginosa 8858 algC- (2): pMMB66EM – vector de clonagem vazio (com marca de selecção AmpR); pLC100 – vector de clonagem derivado do PMMB66EM que contém o gene pgmG clonado; pNZ49 - vector de clonagem derivado do PMMB66EM que contém o gene algC clonado. Como referido na secção 2, os resultados obtidos pela técnica de conjugação triparental foram inconclusivos, pois as colónias eram incontáveis e cresceram indiscriminadamente, tanto no meio PIA como no meio PIA com carbenicilina. Supõe-se que isto se deva a uma concentração demasiado baixa de antibiótico - o suposto era ao meio PIA ter sido adicionado 500mg/L de carbenicilina. Uma concentração abaixo deste limite não garante a morte das colónias de Pseudomonas aeruginosa sensíveis à carbenicilina, pelo que não há distinção entre as células nas quais foi bem sucedida a introdução do plasmídeo e as células nas quais esta transformação não teve sucesso. Pensa-se que a diminuta concentração de antibiótico adicionada ao meio PIA se deva ao facto de a Carbenicilina existente no laboratório estar húmida, e como tal ser mais pesada do que o suposto. Desta forma, a massa de antibiótico necessária para perfazer a concentração desejada teria que ser superior ao normal, contudo não foi isto que aconteceu. Utilizou-se o meio PIA por forma a eliminar as estirpes de E.Coli responsáveis pela conjugação triparental (estirpe dadora e ajudante, sendo que esta última possui o plasmídeo conjugativo pRK2013). Através deste mecanismo foram introduzidos em células mutantes de P. aeruginosa os três plasmídeos recombinantes anteriormente mencionados. As células de P. aeruginosa são naturalmente resistentes à ampicilina pelo que não se pode utilizar este antibiótico como marca de selecção. Estas células são, no entanto, sensíveis à carbenicilina. Esta é análoga à ampicilina e o gene existente no vector de clonagem que confere resistência a Amp também confere resistência a Carb (1); como tal utilizou-se a carbenicilina como marca de selecção. Desta forma, iriam sobreviver apenas as colónias nas quais tivesse sido introduzido com sucesso o plasmídeo respectivo (fosse ele o pMMB66EM, pLC100 ou pNZ49). Era expectável que este número fosse diminuto e, portanto, contável. Assim, as placas com meio PIA conteriam bastante mais colónias que as do meio PIA + Carb. Poder-se-ia, então, calcular a frequência de conjugação, que, como já foi referido, se esperaria ser tanto mais alta quanto menor o tamanho do plasmídeo. Assim, a maior frequência de conjugação seria a do vector vazio pMMB66EM, que é o de menor dimensão (8.9 kb), 7 Outubro de 2014 Engenharia Genética MEBiom seguida da do pLC100 (10.3 kb) e, finalmente, a menor FC seria a do pNZ49, o maior plasmídeo (11.6 kb) visto que o gene algC é maior que o pgmG. Quanto ao fenótipo observado, esperar-se-ia que muitas das colónias do meio PIA + Carb tivessem uma aparência mucosa e as do meio Pia uma aparência maioritariamente não mucosa. Isto porque tanto o gene pgmG como o algC codificam uma enzima com actividade de PGM que cataliza a reacção de conversão de glucose-6-fosfato em glucose-1-fosfato (passo essencial na produção de exopolissacáridos como o alginato). Contudo, o gene pgmG provém de uma estirpe de Sphingomonas elodea enquanto que o algC de uma estirpe de P. aeruginosa, sendo um homólogo funcional do pgmG. Assim, ao ser introduzido este último gene em células mutantes de P. aeruginosa algC e obtendo um fenótipo mucoso (ou seja, havendo produção de alginato) pode-se concluir que estes são efectivamente homólogos, tendo-se assim demonstrado a complementação heteróloga(3). Nas colónias em cuja unidade formadora tivesse sido introduzido o vector de clonagem vazio pMMB66EM observar-se-ia um fenótipo não mucoso, o que seria uma dupla confirmação da importância da enzima codificada pelos genes referidos na produção do exopolissacárido alginato. Finalmente, por forma a obter os resultados esperados, ter-se-ia que repetir a actividade laboratorial, utilizando desta vez a quantidade certa de carbenicilina. 8 Outubro de 2014 Engenharia Genética MEBiom 4. Referências (1) https://worldwide.promega.com/resources/pubhub/enotes/can-carbenicillin-be-substitutedfor-ampicillin-when-selecting-for-the-pgem-vectors/ (2) Guia de trabalhos laboratoriais de Engenharia Genética, Mestrado em Engenharia Biológica, Mestrado em Engenharia Biomédica, TP1- Introdução de plasmídeos recombinantes em bactérias, Moreira, L. M., Viegas, C. A., Fialho, A., Leitão, J. H., Sá-Correia, I. , Área de Ciências Biológicas, IST, 2013/2014 (3) Powerpoints das aulas teóricas de Engenharia Genética, The A1 Lab Class, Prof. Nuno Mira, IST, 2014 (4) Electroporation theory_BioRad manual_2013 9