UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS USO DA PCR COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS PRINCIPAIS ENCEFALITES VIRAIS DE BOVINOS Danilo Rezende e Silva Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo GOIÂNIA 2012 ii DANILO REZENDE E SILVA USO DA PCR COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS PRINCIPAIS ENCEFALITES VIRAIS DE BOVINOS Seminário apresentado junto à Disciplina Seminários Aplicados do Programa de PósGraduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás. Nível: Mestrado Área de concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal Linha de Pesquisa: Patobiologia animal, experimental e comparada Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo - EVZ/UFG Comitê de Orientação: Prof. Dr. Guido F. Coelho Linhares - EVZ/UFG Prof. Dr. Paulo Henrique Jorge da Cunha – EVZ/UFG GOIÂNIA 2012 iii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1 2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 2 2.1 Tipos de PCR .................................................................................................. 2 2.1.1 PCR convencional ......................................................................................... 2 2.1.2 Multiplex PCR ................................................................................................ 3 2.1.3 Transcrição reversa da PCR (RT-PCR) ........................................................ 4 2.1.4 Nested PCR (nPCR)...................................................................................... 4 2.1.5 PCR em tempo real (qPCR) .......................................................................... 4 2.2 Principais encefalites virais em bovinos ...................................................... 5 2.2.1 Raiva ............................................................................................................. 5 2.2.2 Meningoencefalite por herpesvírus bovino tipo-5 .......................................... 7 2.2.3 Febre catarral maligna................................................................................. 11 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 14 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 15 iv LISTA DE FIGURAS Figura 1 Eventos que ocorrem durante a PCR, nas diferentes 3 temperaturas de cada etapa. Primeiro passo, desnaturação da fita de DNA molde. Segundo passo, anelamento dos primers selecionados, com as fitas do DNA. Terceiro passo, a enzima Taq polimerase, promovendo a que extensão adiciona da fita. nucleotídeos Fonte: (dNTP), Adaptado de http://www.nlv.ch Figura 2 Imagem de gel de agarose a 1,5% demonstrando PCR, animal 11 positivo para BoHV-5. O resultado da amplificação em amostras extraídas de blocos de parafina do encéfalo de bovinos para o gene que codifica a gC do BoHV-5 (159 pb). M = marcador de 100 pb (Low Ranger DNA Ladder - Norgen Biotek Corporation); + = controle positivo; 1 = Bulbo olfatório esquerdo; 2 = Bulbo olfatório direito; 3 = Córtex frontal esquerdo; ‒ = controle negativo. Fonte: CAGNINI, D. Q (2011). Figura 3 Imagem de gel de agarose, nested PCR de amostras teciduais 13 de um bovino com febre catarral maligna no Estado do Mato Grosso. M= marcador de peso molecular (100 base-pair Ladder); N= controle negativo; 1= amostras positivas, DNA de OHV-2, de fragmentos do baço; 2= amostras positivas, DNA de OHV-2, de fragmentos do gânglio trigêmeo. Fonte: MENDONÇA et al. (2008). v LISTA DE ABREVIATURAS BoHV-1 Herpesvírus bovino tipo-1 BoHV-5 Herpesvírus bovino tipo-5 DICT Dose infectante em cultivo tecidual FCM Febre catarral maligna IC Inoculação em camundongos IFD Imunofluorescência direta IHQ Imunoistoquímica IV Isolamento viral LCR Líquido cefalorraquidiano nPCR Nested PCR OHV-2 Herpesvírus ovino-2 PCR Reação em cadeia da polimerase qPCR PCR em tempo real RT-PCR Transcrição reversa da Reação em cadeia da polimerase SNC Sistema Nervoso Central 1 INTRODUÇÃO As enfermidades virais que acometem o sistema nervoso central (SNC) dos animais de produção são relativamente frequentes e devem ser consideradas no diagnóstico diferencial das encefalopatias. As doenças virais do SNC (raiva, meningoencefalite herpética e febre catarral maligna) possuem tratamento limitado e alta letalidade (CALLAN & VAN METRE, 2004). A raiva é a encefalopatia de maior ocorrência no Brasil e possui destaque por ser uma zoonose (BRASÍLIA, 2005). A meningoencefalite causada pelo herpesvírus bovino tipo-5 (BoHV-5) é a segunda causa mais frequente de encefalite viral em bovinos no Sul do Brasil (SANCHES et al., 2000) e no CentroOeste (LEMOS, 2005). A febre catarral maligna (FCM) tem sido frequentemente diagnosticada no Mato Grosso (MENDONÇA et al., 2008), Paraíba (MACÊDO et al., 2007) e Rio Grande do Sul (RECH et al., 2005). O diagnóstico molecular é uma ferramenta importante porque detecta o agente etiológico de forma rápida e eficaz das principais doenças infecciosas dos animais com sintomatologia clínica (YANG & ROTHMAN, 2004). Diversas técnicas moleculares têm sido empregadas objetivando o estabelecimento dos agentes virais das encefalopatias nos bovinos, tais como, reação em cadeia da polimerase (PCR) (VOGEL et al., 2003; LUVIZOTTO et al., 2010; FAIZEE et al., 2012), análise de restrição genômica (MEYER et al., 2001; D'ARCE et al., 2002) e a hibridização in situ (PEREZ et al., 2003). O diagnóstico das encefalites virais de bovinos pode ser feito associando-se os dados epidemiológicos, os sinais clínicos e os resultados dos exames laboratoriais ante-mortem e post-mortem (COLODEL et al., 2002; ELIAS et al., 2004, RISSI et al., 2006). Porém, a semelhança clínica das encefalopatias de origem viral tem exigido do médico veterinário a utilização de exames laboratoriais, mais específicos e sensíveis, para detecção dos agentes etiológicos como a reação em cadeia da polimerase (PCR). Esse seminário tem o objetivo de realizar uma revisão dos tipos de PCR aplicáveis ao diagnóstico diferencial das principais enfermidades virais que acometem o SNC de bovinos. 2 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Tipos de PCR 2.1.1 PCR convencional A informação armazenada no DNA é organizada em pequenas unidades, denominadas genes, que controlam as características identificáveis de um organismo. As moléculas DNA (ácido desoxirribonucleico) e RNA (ácido ribonucleico) são formadas por polímeros, constituídos por uma base nitrogenada, um açúcar e um grupo fosfato. As bases nitrogenadas são: adenina (A), guanina (G), citosina (C), timina (T) e uracila (U), sendo que a base timina é encontrada, somente, na molécula de DNA e a base uracila, na molécula de RNA. O DNA é formado pelo açúcar desoxirribose e o RNA pela ribose (LODISH et al., 2004). A PCR é um método in vitro de replicação específica da sequência do DNA na região alvo que caracteriza molecularmente o agente. A reação ocorre em três fases distintas: desnaturação do DNA extraído, anelamento dos primers e extensão da fita (CRISAN & MATTSON, 1993; EVANS, 2009). A extração do DNA pode ser realizada pela técnica do fenol-cloroformio ou utilizando-se kits comerciais específicos para cada tipo de amostra. Em microtubos são adicionados a enzima Taq DNA polimerase, o desoxirribonucleotídeo fosfatado (dNTP), o cloreto de magnésio (MgCl2), os primers “forward” e “reverse” (oligonucleotídeos iniciadores da reação) e a amostra (DNA extraído). Os microtubos são colocados no termociclador e mantidos a temperatura de 95ºC objetivando a desnaturação da fita dupla do DNA extraído (Figura 1). Na fase seguinte ocorre o anelamento de cada primer com as duas fitas do DNA, em uma temperatura entre 55ºC e 65ºC. Por último, a enzima Taq DNA polimerase promove a extensão dos primers que irão se ligar nos nucleotídeos da fita de DNA produzindo uma nova cópia (amplicon). Após vários ciclos, serão criadas várias cópias do DNA alvo. Depois da amplificação, é realizada a eletroforese das amostras em gel de agarose e a partir do peso molecular do amplicon é possível especificar o agente etiológico (BARTLETT & STIRLING, 2003). 3 FIGURA 1 – Os diferentes passos que ocorrem durante a PCR, nas diferentes temperaturas de cada etapa. Primeiro passo, desnaturação da fita de DNA molde. Segundo passo, anelamento dos primers selecionados, com as fitas do DNA. Terceiro passo, a enzima Taq polimerase, que adiciona nucleotídeos (dNTP), promovendo a extensão da fita. Fonte: Adaptado de http://www.nlv.ch 2.1.2 Multiplex PCR Na técnica de multiplex PCR ocorre amplificação simultânea de mais de um DNA alvo de diferentes agentes. Isso acontece, com a utilização de múltiplos pares de primers em uma única reação. Nesse método, cada par de primer gera produtos com tamanhos diferentes (amplicon), que são diferenciados na eletroforese. A desvantagem desta técnica é que, quando se utiliza mais de quatro diferentes primers em uma única reação, ocorre uma diminuição da sensibilidade e especificidade da reação, podendo gerar dificuldades na interpretação dos resultados (EVANS, 2009). 4 2.1.3 Transcrição reversa da PCR (RT-PCR) A transcrição reversa da PCR ou RT-PCR é uma técnica molecular utilizada quando o agente possui RNA no genoma. Na primeira etapa da RT-PCR ocorre a conversão do RNA extraído em uma fita simples complementar de DNA (cDNA) porque a Taq DNA polimerase necessita de uma molécula de DNA como substrato. Assim, a conversão é realizada por meio da enzima transcriptase reversa, a qual substitui a base uracila do RNA por uma base timina. Concluída essa etapa inicial, a sequência de cDNA é utilizada para proceder os demais passos de uma PCR convencional com os primers específicos (EVANS, 2009). 2.1.4 Nested PCR (nPCR) A técnica de Nested PCR é uma técnica da PCR convencional modificada. O amplicon obtido da PCR convencional é utilizado como amostra em uma segunda PCR, caracterizando a Nested PCR. Esse método promove o aumento da sensibilidade e especificidade da PCR, porém pode proporcionar altos índices de reação cruzada (BARTLETT & STIRLING, 2003). 2.1.5 PCR em tempo real (qPCR) A PCR em tempo real (qPCR) utiliza termociclador especializado acoplado a um computador com programa específico. No termociclador, a cada ciclo são gerados sinais fluorescentes, que são demonstrados em gráficos. A quantificação, das moléculas de DNA, pode ser realizada em todos os ciclos da reação. Esse método possui o mesmo princípio da PCR convencional, porém necessita utilizar um fluoróforo. Os dois tipos de fluoróforos empregados são SYBR (SyberGreen) e Sondas TaqMan, os quais possuem a capacidade de se ligar à molécula de DNA e liberar fluorescência, que é captada pelo laser do termociclador. A eficácia da qPCR aproxima-se de 100%, por ser a mais sensível e específica dentre as variações da PCR (EVANS, 2009). 5 2.2 Principais encefalites virais em bovinos 2.2.1 Raiva A raiva é causada por um vírus RNA, envelopado, da ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus, e o vírus possui alto potencial neurotrópico (WOLDEHIWET, 2002; SWANEPOEL, 2004; CONSALES & BOLZAN, 2007). A identificação laboratorial do vírus da raiva é realizada por métodos auxiliares de diagnóstico, como a imunofluorescência direta (IFD) e a imunoistoquímica (IHQ). A técnica de IFD é a mais utilizada e recomendada para o diagnóstico da raiva pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (SANTOS et al., 2006; PEDROSO, 2008; TEIXEIRA et al., 2008; STEIN et al., 2010; FAIZEE et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2012). A PCR também pode ser utilizada para identificar o vírus da raiva e, devido ao fato do material genético desse agente ser constituído por RNA, o tipo de PCR mais empregado nessa enfermidade é a RT-PCR (CISTERNA et al., 2005; ROJAS et al., 2006; ARAÚJO et al., 2008). Esse método é usado para identificação viral em amostras em decomposição, de arquivos e para diferenciar e comparar técnicas de diagnóstico (DAVID et al., 2002; BISWAL et al., 2007; ARAUJO et al., 2008; WACHARAPLUESADEE et al., 2011; FAIZEE et al., 2012; YANG et al., 2012). Estudos de DAVID et al. (2002) relataram que em amostras degradadas de até 36 dias à temperatura de 37ºC, a sensibilidade de detecção da RT-PCR foi maior quando comparada às técnicas de imunofluorescência direta e inoculação intracerebral. Vários outros autores compararam os resultados da RTPCR com a imunofluorescência direta em amostras em decomposição, avaliando a queda de sensibilidade relacionada com o tempo de deterioração do tecido cerebral (KAMOLVARIN et al., 1993; HEATON,1997; WHITBY et al., 1997). BISWAL et al. (2007) utilizaram seis amostras de casos positivos para raiva pela IFD e oito amostras negativas, tanto na IFD como na inoculação em camundongos (IC). As amostras foram armazenadas a -20ºC, por cinco anos, em solução salina de glicerol. Após realizarem a RT-PCR, identificaram RNA viral nas 6 seis amostras que foram positivas pela IFD. Porém, não foi amplificado RNA nas amostras que foram negativas na IFD e na IC. ARAUJO et al. (2008) analisaram 151 amostras do SNC de bovinos e equinos. Estas amostras foram previamente submetidas ao diagnóstico, para raiva, pela IFD. As amostras foram mantidas entre 20ºC e 30ºC por 72 horas e, em seguida, foram submetidas às técnicas de RT-PCR e nested RT-PCR. Nas 48 amostras, que estavam em decomposição, 17 foram positivas pela RT-PCR e 36 positivas pela nested RT-PCR. Porém, nas 101 amostras, que foram negativas pela IFD, não foi amplificado o RNA viral, tanto pela RT-PCR como nested RTPCR. FAIZEE et al. (2012) analisaram 29 amostras do SNC, de várias espécies animais, comparando as técnicas de IFD, histopatologia, imunoistoquímica (IHQ) e RT-PCR. Dentre os cinco casos de bovinos, três tiveram identificação do RNA viral pela RT-PCR (Quadro 1). Os mesmos três casos tiveram lesões histopatológicas indicativas de raiva. Os resultados da técnica de IHQ indicaram dois bovinos positivos e, pela IFD, apenas um foi positivo, sendo que os outros dois casos não foram avaliados por esta técnica. QUADRO 1 – Resultados de cinco amostras do SNC de bovinos, submetidas a quatro diferentes métodos de diagnóstico (IFD, histopatologia, IHQ e RT-PCR), para o vírus da raiva. IFD Histopatologia IHQ RT-PCR Bovino 1 Positivo Discretos Negativo Negativo Bovino 2 Positivo Negativo Negativo Negativo Bovino 3 Não Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Positivo Negativo Positivo avaliadas Bovino 4 Não avaliadas Bovino 5 Positivo IFD= imunofluorescência direta; IHQ= imunoistoquímica; RT-PCR= transcrição reversa da reação em cadeia da polimerase. Fonte: Adaptado de FAIZEE et al. (2012). 7 YANG et al. (2012) compararam quatro diferentes técnicas de diagnóstico para raiva: IFD, isolamento viral (IV), RT-PCR e um kit comercial de ensaio imunológico (RIDA). Os pesquisadores utilizaram 110 amostras do SNC, sendo 84 de bovinos, 14 de guaxinim e 12 de cães. Pelos métodos de IFD, IV e RT-PCR, 20 amostras foram positivas e 90 negativas. Já pelo Kit RIDA, 19 amostras foram positivas. A sensibilidade e especificidade do RT-PCR foi de 100%. 2.2.2 Meningoencefalite por herpesvírus bovino tipo-5 A meningoencefalite por BoHV-5 é uma doença infecto-contagiosa, aguda ou subaguda, que afeta principalmente o SNC de bovinos jovens e, na maioria dos casos, é fatal. O BoHV-5 é classificado na família Hespesviridae e sub-família Alphaherpesvirinae. Os vírus agrupados nessa sub-família possuem DNA linear de fita dupla e envelope glicoprotéico (ROIZMANN et al., 1992). O diagnóstico de meningoencefalite por BoHV-5 pode ser feito com base nos achados epidemiológicos, clínicos, de necropsia e histopatológicos (RISSI et al., 2006). As técnicas confirmatórias incluem o isolamento do vírus do encéfalo ou de secreções nasais (D´OFFAY et al., 1995), identificação do agente por anticorpos monoclonais (SOUZA et al., 2002; OLDONI et al., 2004), a imunoistoquímica (HÜBNER et al., 2005; STEIN et al., 2010), técnicas moleculares, como a PCR convencional (VOGEL et al., 2003; CAMPOS et al., 2009; ISERNHAGEN et al., 2011; CARDOSO et al., 2012); multiplex PCR (CLAUS et al., 2005; DIALLO et al., 2011; FONSECA JR et al., 2011) e Nested PCR (DIEL et al., 2007). VOGEL et al. (2003) inocularam experimentalmente o BoHV-5 em 20 bovinos divididos em três grupos. O grupo A era composto por quatro bovinos que foram eutanasiados 55 dias pós-inoculação (p.i.). O grupo B foi constituído por oito animais que receberam dexametasona e sacrificados 50 dias após reativação viral. O grupo C foi composto por oito animais que receberam placebo (grupo controle). A PCR convencional foi realizada de amostras do SNC dos bovinos dos grupos A, B e C. Nas amostras encefálicas, do grupo B, dos lobos frontais e parietais foram identificadas maiores quantidades de amostras positivas quando 8 comparadas ao grupo A, com isso nos animais que são submetidos a reativação viral por dexametasona podem ser encontradas maiores quantidades de DNA viral. Os autores não identificaram amostras positivas no grupo controle. Os autores concluíram que existe relação entre a propagação do vírus após a reativação e a quantidade de tecidos positivos pela PCR. A utilização da PCR convencional também tem sido estudada em amostras do SNC de bovinos provenientes de frigoríficos. CAMPOS et al. (2009) coletaram 400 amostras de gânglio trigêmeo, em frigoríficos no Estado do Rio Grande do Sul. As amostras foram submetidas à técnica de PCR para BoHV-5. O DNA viral foi identificado em 299 amostras (74,8%), sendo que 82 amostras foram negativas (20,5%) e 19 foram inconclusivas (4,7%). CUNHA (2010) inocularam seis bezerros com o BoHV-5 pela via intranasal com instilação de 0,5mL do inóculo em cada narina, totalizando uma dose viral de 107,2 DICT50 (dose infectante em cultivo tecidual). Durante os 30 dias de pós inoculação (p.i.) experimental, exames clínicos (temperatura retal, frequência cardíaca e respiratória e motricidade ruminal) e laboratoriais (hemograma, fibrinogênio plasmático e proteína total, pH fluido ruminal, concentração do sulfeto de hidrogênio ruminal, líquido cerebrospinal e histopatológico) foram realizados. A presença do vírus foi investigada em seis porções do encéfalo, no gânglio do trigêmeo e no líquido cefalorraquidiano (LCR) pela PCR. Um bezerro apresentou sinais neurológicos começando no 12º dia, vindo a óbito após seis horas. Os outros cinco bezerros permaneceram assintomáticos e foram eutanasiados no final do período experimental. O DNA viral do BoHV-5 foi identificado em várias porções do encéfalo e nos gânglios do trigêmeo e no LCR do bezerro no momento que apresentou encefalopatia. Microscopicamente observaram-se necrose cerebrocortical, encefalite e meningite não supurativa. A infecção experimental com BoHV-5 ocasionou polioencefalomalacia nos bezerros, podendo ser assintomática. ISERNHAGEN et al. (2011) analisaram experimentalmente a infecção por BoHV-5 em sete bovinos. Os animais foram inoculados com o vírus BoHV-5 e, após 30 dias da infecção, foram submetidos a necropsia. Diversas porções do SNC foram coletadas e analisadas pelo método da PCR convencional. As amostras dos animais, com sintomatologia clínica, foram positivas no córtex 9 frontal e occipital. Apenas em dois casos com sinais clínicos, foi identificado DNA viral no cerebelo. O método da PCR multiplex tem sido utilizado para diferenciar os tipos de herpesvírus em bovinos, tipo 1 e 5. CLAUS et al. (2005) coletaram 14 amostras do SNC de bovinos, sendo sete de animais com sinais neurológicos e sete de animais provenientes de frigoríficos. As 14 amostras foram submetidas à IFD, cujo resultado foi negativo para raiva. Ao realizar a técnica de mutiplex PCR para BoHV-5 e BoHV-1 foram identificadas três amostras positivas para BoHV-5 nos animais que tinham sinais de encefalite. Não foi amplificado DNA de BoHV-1 e BoHV-5 em nenhuma amostra proveniente dos frigoríficos. DIALLO et al. (2011) compararam as técnicas da multiplex qPCR e multiplex PCR em 13 amostras (swab nasal, traqueia, pulmão, SNC e sêmen) para BoHV-1 e BoHV-5. Na multiplex PCR identificaram 11 amostras positivas para BoHV-1 e todas amostras foram negativas para BoHV-5. No método de multiplex qPCR, 13 amostras foram positivas para BoHV-1 e duas (sêmen e SNC) positivas para BoHV-5. O método de multiplex PCR também pode ser utilizado para detecção de agentes virais em diferentes espécies. FONSECA JR et al. (2011) utilizaram 65 amostras de encéfalo de bovinos, 35 amostras de encéfalo de suínos e quatro amostras de encéfalo de ovinos. Conforme apresentado no Quadro 2, das 65 amostras de encéfalo de bovinos, 10 foram positivas para BoHV-5, uma para BoHV-1 e cinco para OHV-2. QUADRO 2 – Resultados obtidos pela multiplex PCR, para detecção de BoHV-1, BoHV-5, OHV-2 e SHV-2, a partir de amostras de encéfalos. Amostra Total Positiva Negativa BoHV-1 BoHV-5 OHV-2 SHV-1 Encéfalo bovino 65 1 10 5 0 49 Encéfalo ovino 4 0 0 3 0 1 Encéfalo suíno 35 0 0 0 25 10 BoHV-1= herpesvírus bovino tipo-1; BoHV-5= herpesvírus bovino tipo-5; OHV-2= herpesvírus ovino-2; SHV-1= herpesvírus suídeo-1 Fonte: Adaptado de FONSECA JR et al. (2011). 10 A técnica de PCR também permite a identificação de DNA viral em amostras fixadas em formol e emblocadas em parafina. FERRARI et al. (2007) analisaram, dos arquivos de patologia, 20 blocos de fragmentos de encéfalos bovinos com histórico clínico de encefalite referente aos anos de 2004 a 2006. Os pesquisadores procederam a técnica da PCR e identificaram DNA viral em 15 amostras, onde foram identificados no gel (eletroforese) fragmentos com tamanho de 159pb, correspondentes à glicoproteína C do BoHV-5. Em cinco amostras não foram identificados DNA viral. ARRUDA et al. (2010) analisaram 76 encéfalos bovinos com doença neurológica emblocadas em parafina. As amostras foram separadas em um grupo com lesões histológicas de meningoencefalite necrosante não-supurativa (grupo 1) e amostras com meningoencefalite inespecífica (grupo 2). O material emblocado foi submetido à PCR para detecção de BoHV-1 e BoHV-5. Não foi detectado DNA de BoHV-1 em nenhuma das amostras de ambos os grupos. No entanto, no grupo 1 foram detectadas 16 (40%) amostras positivas para DNA de BoHV-5 e, no grupo 2, foram encontradas 12 (33,3%) amostras positivas. CAGNINI (2011) analisou 18 áreas dos encéfalos, emblocados em parafina, de seis bezerros inoculados experimentalmente com BoHV-5, utilizando a técnica de PCR convencional. O autor comparou as regiões dorsais e cranias, com as demais regiões (diencéfalo, tronco encefálico, cerebelo e medula cervical), encontrando maior quantidade de áreas positivas nas regiões dorsal e cranial dos encéfalos. No total, foram 108 áreas analisadas, sendo que 38 (35,19%) foram positivas para o DNA de BoHV-5 (Figura 2). 11 FIGURA 2 – Imagem de gel de agarose a 1,5% demonstrando PCR, animal positivo para BoHV-5. O resultado da amplificação em amostras extraídas de blocos de parafina do encéfalo de bovinos para o gene que codifica a gC do BoHV-5 (159 pb). M = marcador de 100 pb (Low Ranger DNA Ladder Norgen Biotek Corporation); + = controle positivo; 1 = Bulbo olfatório esquerdo; 2 = Bulbo olfatório direito; 3 = Córtex frontal esquerdo; ‒ = controle negativo. Fonte: CAGNINI (2011). 2.2.3 Febre catarral maligna A febre catarral maligna (FCM) é uma doença infecciosa viral, pansistêmica, fatal, com distribuição geográfica ampla. O “grupo de vírus” da FCM possui fita dupla de DNA e pertence ao gênero Rhadinovirus da família Gammaherpesvirinae (COULTER et al., 2001; GARMATZ et al., 2004). Foram identificados quatro vírus que causam FCM em animais. A forma africana (FCM gnu-associada) é induzida pela cepa alcelaphine herpesvírus 1 (AHV-1). Em locais onde não há gnus, ocorre a forma FCM ovino-associada, pois os ovinos são portadores do herpesvírus ovino-2 (OHV-2), sendo observada em ovinos e bovinos (LI et al., 2000; CRAWFORD et al., 2002; LI et al., 2003). 12 Os sinais clínicos e as alterações anatomopatológicas são indicativos para o diagnóstico da FCM, porém, métodos auxiliares são necessários para detecção do agente etiológico, como a técnica da PCR (GARMATZ et al., 2004; MENDONÇA et al., 2008; LUVIZOTTO et al., 2010; FONSECA JR et al., 2011; ABABNEH et al., 2012). MULLER-DOBLIES et al. (1998) realizaram um estudo retrospectivo, entre 1995 e 1996, onde foram analisadas amostras sanguíneas, de 44 casos espontâneos de FCM em bovinos. O material foi submetido à técnica de Nested PCR, identificando DNA de OHV-2 em 39 (88%) amostras sanguíneas. A detecção do OHV-2, em bovinos, tem sido feita de forma experimental e em casos naturais. GARMATZ et al. (2004) estudaram a FCM em bovinos infectados naturalmente e em cinco animais, cujo OHV-2 foi inoculado experimentalmente. Amostras do encéfalo, rim, bexiga, fígado, linfonodos e rete mirable carotídea foram coletadas e submetidas à Nested PCR. Dos 14 bovinos com alterações clinicopatológicas, 10 (71,42%) foram positivos para OHV-2 pela técnica de Nested PCR. Em relação aos casos experimentais, somente amostras de dois animais foram positivas para OHV-2. MENDONÇA et al. (2008) analisaram quatro casos espontâneos de FCM em bovinos no Estado do Mato Grosso. Após realizarem exame necroscópico, os pesquisadores coletaram amostras do SNC e realizaram a Nested PCR. Os resultados indicaram amplificação (231pb) de DNA para OHV-2 (Figura 3) em todas as amostras dos quatro casos estudados. FONSECA JR et al. (2011) avaliaram 65 amostras de encéfalo bovino com sinais neurológicos e em amostras negativas para raiva por meio da técnica de multiplex PCR para BoHV-1, BoHV-5, OHV-2 e SHV-2. Os resultados indicaram reações positivas para DNA de OHV-2. O diagnóstico da FCM foi realizado em amostras provenientes de frigoríficos, por meio da PCR por KOJOURI et al. (2009). Durante o periodo experimental amostras de linfonodos e baço de 68 bovinos e 82 ovinos originários foram submetidas à técnica de PCR. O método DNA viral de OHV-2 em 20 (29%) amostras de bovinos e 9 (11%) amostras de ovinos. 13 FIGURA 3 – Imagem de gel de agarose, Nested PCR de amostras teciduais de um bovino com febre catarral maligna no Estado do Mato Grosso. M= marcador de peso molecular (100 basepair Ladder); N= controle negativo; 1= amostras positivas, DNA de OHV-2, de fragmentos do baço; 2= amostras positivas, DNA de OHV-2, de fragmentos do gânglio trigêmeo. Fonte: MENDONÇA et al. (2008). ABABNEH et al. (2012) realizaram Nested PCR em diversas amostras sanguíneas e teciduais (fígado, baço, linfonodos, rim e SNC) de 14 bovinos com suspeita de FCM. Nas amostras sanguíneas não foi amplificado DNA viral de OHV-2, mas em duas amostras de linfonodos e uma do baço foram detectados DNA para OHV-2. A identificação do vírus também pode ser feita, pela PCR, em material emblocado em parafina. CRAWFORD et al. (1999) relataram que em 20 animais saudáveis, sem lesões histológicas, não foram identificadas amostras positivas para OHV-2 pela técnica da PCR. Entretanto, em 37 bovinos com resultados indicativos de FCM, pelo exame clínico e pelas lesões histopatológicas, houve identificação do DNA viral em 34 (92%) amostras, pela técnica da PCR. 14 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O diagnóstico diferencial das enfermidades virais do SNC necessita de métodos laboratoriais porque somente os dados epidemiológicos e os exames clínicos não permitem a identificação do agente etiológico envolvido. A compreensão do que coletar, como armazenar e qual a técnica a ser realizada, é de suma importância para o médico veterinário. Os médicos veterinários, no Estado de Goiás, necessitam de apoio laboratorial para o diagnóstico dessas doenças, principalmente porque envolvem questões de saúde pública. A técnica da PCR, para o diagnóstico das encefalites virais de bovinos ainda é realizada por poucos laboratórios. Os laboratórios de patologia animal podem adotar a técnica de PCR, como uma ferramenta auxiliar no diagnóstico das principais enfermidades infecciosas, principalmente em amostras fixadas em formol e emblocadas em parafina. A associação dos resultados dos exames anatomopatológicos com a detecção dos agentes pela PCR melhora a qualidade do diagnóstico. Entretanto, é importante salientar que nenhuma técnica laboratorial é eficiente sem correlacionar com os dados epidemiológicos e os exames clínicos. As técnicas moleculares são um desafio para estudantes e profissionais da medicina veterinária. Esses métodos são poucos explorados nos cursos de graduação e poucos profissionais dedicam-se ao estudo e compreensão dessas técnicas. No ano de 2009 o MAPA decretou uma instrução normativa de número 34, que estabelece os procedimentos de vigilância agropecuária nas exportações de produtos de origem animal. A identificação desses agentes virais em rebanhos bovinos é essencial, pois o Serviço de Inspeção Federal (SIF) realiza fiscalização, inspeção e controle da sanidade do rebanho, bem como da produção de carne, especialmente nas propriedades exportadoras de carne bovina. 15 REFERÊNCIAS 1. ABABNEH, M. M.; HANANEH, W. M.; DALAB, A. E. S. Molecular and histopathological characterization of sheep-associated malignant catarrhal fever (SA-MCF) Outbreak in Beef Cattle. Transboundary and Emerging Diseases, v.59, 2012. 2. ARAÚJO, D. B.; LANGONI, H.; ALMEIDA, M. F.; MEGID, J. 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