0 LAIARA WESCHENFELDER ADOLESCENTES GRÁVIDAS: PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTES DO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Toledo 2011 1 LAIARA WESCHENFELDER ADOLESCENTES GRÁVIDAS: PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTES DO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social, Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientador: Ms. Diuslene Rodrigues. Fabris. Toledo 2011 2 LAIARA WESCHENFELDER ADOLESCENTES GRÁVIDAS: PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTES DO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social, Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientador: Ms. Diuslene R. Fabris. BANCA EXAMINADORA _____________________________________ Profa Diuslene Rodrigues Fabris Universidade Estadual do Oeste do Paraná _____________________________________ _____________________________________ Toledo, de novembro de 2011. 3 Dedico este trabalho a todas as pessoas que estiveram comigo e que me ajudaram no processo de construção do mesmo. Também às pessoas que participaram do meu processo de aprendizagem durante todo o período de graduação. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por sempre estar comigo, por me guiar, iluminar e acompanhar sempre. Obrigada meu Pai, por dar-me forças para superar cada dificuldade deste caminho. Obrigada pela vida, pela saúde, pela família, amigos. Aos meus pais, Ilvo e Lucia por investirem e acreditarem nos meus estudos, no meu futuro. Obrigada por terem me ensinado que o dom mais precioso que uma pessoa pode possuir é o conhecimento, me incentivando sempre. Obrigada mãe, por ser o meu porto seguro, minha estrela, minha melhor amiga, meu tudo. Obrigada por ser quem és, por cada abraço, cada beijo, cada colo, cada beijo de „boa noite‟. Obrigada pelo teu amor incondicional, pelo teu cuidado, compreensão e preocupação comigo. Obrigada por ser uma mãe tão especial, tão maravilhosa. Com certeza você é o meu maior e melhor exemplo de vida, de mulher, de mãe. Eu te amo demais! À minha irmã Lauana, pela convivência, pelo incentivo, pelas brigas, por tudo. Daquele nosso jeito, uma sabe o que a outra significa para si, o amor que temos uma pela outra. Você tem um espaço muito importante no meu coração. Obrigada por se preocupar comigo, por me cuidar, por me amar. Te amo. À minha princesa Laiana, anjo da minha vida, presente que Deus me deu Obrigada Laia, pela convivência diária, por me ajudar sempre, por cada abraço que me deu quando eu mais precisava, por ser tão querida, tão especial. Obrigada por me fazer rir, por nossas brincadeiras bobas e tão gostosas. Obrigada pela tua amizade fiel, pelo teu olhar inocente, pelo teu cheirinho gostoso. Te amo muito! Às minhas amigas da faculdade, obrigada meninas, por esses quatro anos juntas, pelas risadas, pelos ensinamentos, conselhos, abraços, desabafos. Agradeço a todas! À minha amiga Raquel. Obrigada nega, pela tua amizade, pelo teu carinho. Obrigada por cada palavra, cada desabafo, cada conselho, cada vez que pude chorar ao teu lado. Obrigada pelas risadas intermináveis, pelas conversas em sala e fora dela. Por sua amizade sincera. Obrigada nega, você é muito especial pra mim. Agradeço também às amigas de infância. Obrigada por mesmo longe, nunca me deixar sozinha. „Desde sempre e para sempre‟. 5 À Rosane, minha supervisora de campo de estágio, pelo exemplo profissional. Obrigada por tudo que me ensinou, pela tua competência e compromisso com o trabalho que desenvolve. Obrigada também por tua amizade, pela tua imensa compreensão, carinho e atenção comigo. À professora Diuslene, minha orientadora de TCC. Obrigada pelo compometimento, dedicação, envolvimento, determinação e pela paciência comigo. Obrigada pelos inúmeros ensinamentos, por não desistir de mim, nem permitir que eu desistisse de mim mesma. Admiro a profissional que és. Agradeço também, os demais professores do curso de Serviço Social, os quais foram de fundamental importância para minha formação. Para finalizar, agradeço a todos que de alguma forma, contribuíram para que eu chegasse até aqui e que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização deste trabalho. MUITO OBRIGADA!!! 6 E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar... Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las. Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução. Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis. Decidi ver cada noite como um mistério a resolver. Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz. Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar. Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido. Deixei de me importar com quem ganha ou perde. Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer. Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir. Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de"amigo". Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, "o amor é uma filosofia de vida". Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma tênue luz no presente. Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais. Naquele dia, decidi trocar tantas coisas... Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para tornar-se realidade. E desde aquele dia já não durmo para descansar... Simplesmente durmo para sonhar. (Walt Disney) 7 WESCHENFELDER, Laiara. Adolescentes Grávidas: Projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes do município de Marechal Cândido Rondon. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – campus – Toledo, 2011. RESUMO Este trabalho é resultado de uma pesquisa realizada no curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - campus – Toledo, na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, como requisito parcial para obtenção de grau de bacharel em Serviço Social. O interesse pelo assunto veio da experiência adquirida no estagio supervisionado em Serviço Social I e II, realizado na Secretaria de Saúde – Unidade de Saúde 24h no município de Marechal Cândido Rondon, o qual proporcionou acompanhar os atendimentos realizados no setor da saúde, chamando a atenção em especial no atendimento às adolescentes gestantes no projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes, da Secretaria de Saúde, de Assistência e SESC desta cidade, que ora é objeto de pesquisa deste trabalho. Este estudo se propõe a refletir sobre a gravidez na adolescência compreendendo esta como uma expressão da “questão social” e foco de políticas sociais, ainda que de forma focalista e seletiva. O projeto referido articula-se a partir da perspectiva da intersetorialidade de duas políticas, quais sejam: Assistência Social e Saúde. Discute também, assuntos mais abrangentes como família, educação, sexualidade, entre outros inúmeros fatos que são determinantes para incidência de gestações em adolescentes. Para isto, procedeu-se uma pesquisa de campo de caráter exploratório mediante abordagem quantiqualitativa a partir de entrevistas com adolescentes e profissionais de Serviço Social coordenadoras do projeto. Palavras chave: adolescência, gravidez na adolescência, Política de Assistência Social e Saúde. 8 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Perfil das adolescentes...........................................................................42 Quadro 2 - Situação econômica................................................................................44 Quadro 3a - Sexualidade...........................................................................................45 Quadro 3b.................................................................................................................45 Quadro 4 – Gravidez.................................................................................................46 Quadro 5 - Projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes de Marechal Cândido Rondon.........................................................................................48 Quadro 6 - Projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes de Marechal Cândido Rondon.........................................................................................49 Quadro 7 - Com a sua participação no projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes, onde são abordados vários temas e há uma vasta troca de informações, como você vê uma próxima gravidez? Faria de outra forma?........................................................................................................................49 Quadro 8 - Hoje, o que você percebe que lhe faltou em termos de informação para que você não engravidasse na sua adolescência?....................................................51 Quadro 9 - Como você se sente participando/tendo participado do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes.............................................................57 9 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ART. Artigo CFESS Conselho Federal de Serviço Social CRAS Centro de Referência de Assistência Social CREAS Centro de Referencia Especializada em Assistência Social ECA Estatuto da Criança e do Adolescente IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LOAS Lei Orgânica da Assistência Social MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome OMS Organização Mundial da Saúde ORG Organização/ Organizadores PND Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República PR Paraná SAI Serviço Auxiliar da Infância SESC Serviço Social do Comércio SUAS Sistema Único de Assistência Social SUS Sistema Único de Saúde s.d. Sem data s.p. Sem página TCC Trabalho de Conclusão de Curso TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................11 1. QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICA SOCIAL...........................................................15 1.1 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA E A GRADUAL CONSOLIDAÇÃO DA PERSPECTIVA DO DIREITO SOCIAL......................................................................19 1.2 POLÍTICA DE SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL: BREVES APONTAMENTOS ACERCA DA PERSPECTIVA DA INTERSETORIALIDADE......................................21 2. ADOLESCÊNCIA...................................................................................................24 2.1 CONCEITUANDO A ADOLESCÊNCIA................................................................24 2.2 SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA.................................................................24 2.3 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA........................................................................25 2.4 FAMÍLIA E A FORMAÇÃO PARA A VIDA: O DESAFIO NA EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES......................................................................................................29 2.5 ESPECIFICAÇÃO DO PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTES DA CIDADE DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PR............................................................................................................................31 2.6 SERVIÇO SOCIAL: A INTERVENÇÃO NO PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTES...........................................................33 3. METODOLOGIA DA PESQUISA...........................................................................37 3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................37 3.1.1 Quanto ao tipo de pesquisa...............................................................................37 3.1.2 Quanto aos instrumentos de coleta de dados...................................................39 3.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA...........................41 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................59 REFERÊNCIAS..........................................................................................................61 APENDICES...............................................................................................................66 APÊNDICE A – Termos de Consentimento Livre e Esclarecido................................67 APÊNDICE B – Formulário de Entrevista com as adolescentes................................72 APÊNDICE C – Formulário de Entrevista com as profissionais.................................77 ANEXOS....................................................................................................................79 ANEXO A – Lei nº 9.263, de 12 de Janeiro de 1996..................................................80 ANEXO B – Parecer de Aprovação da Pesquisa.......................................................83 11 INTRODUÇÃO A adolescência é um período do desenvolvimento humano de transição entre a infância e a idade adulta, onde há o desenvolvimento da maturidade sexual, e de processos psicológicos. É uma fase com muitos conflitos e a mais conturbada da vida da maioria de meninos e meninas, devido ao sujeito ainda não ser adulto e nem criança, estar em processo de formação da identificação onde passa de um estado de dependência para outro de relativa autonomia. Este período provoca muitas mudanças no modo de agir, transformações físicas e hormonais, como também na forma de pensar. A sexualidade é um dos fatores biológicos de grande relevância nesta fase, pois é neste período que inicia-se normalmente a afloração sexual do adolescente e se não bem trabalhada com uma educação sexual efetiva, pode desencadear em diversas mudanças com reflexos para toda a vida, como uma gravidez indesejada, por exemplo. A gravidez precoce causa danos à vida da adolescente, como a evasão escolar, dificuldades de encontrar emprego, distanciamento dos amigos, entre outros, pois a adolescente terá que assumir compromissos e responsabilidades incompatíveis em muitos momentos com as formas de lazer típicas da juventude. A maternidade exige atenção e cuidados, que priorizam o bem estar do bebê em detrimento do bem estar individual da mãe, pois deverá por exemplo, passar a frequentar um pré-natal a fim de garantir a sua saúde e também a do bebê, ou seja, a adolescente que engravida, deverá mudar completamente seus hábitos e rotinas em função da desta. É de suma importância que a adolescente grávida tenha amparo para que suas angústias e suas dúvidas sejam sanadas da melhor maneira possível para que esta tenha subsídios suficientes para iniciar uma nova etapa de sua vida. A família é importantíssima neste processo, pois é a principal responsável pela educação sexual dos filhos, porém quando esta não consegue suprir àquilo que o adolescente requer nessa fase de sua vida, faz-se necessário que o Estado assuma parte da responsabilidade, através das políticas sociais, programas, projetos, ações, entre outros; como é o caso do projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes da Cidade de Marechal Cândido Rondon, coordenado por duas profissionais de Serviço Social. 12 De outro lado não se pode compreender os números da gravidez na adolescência de forma descontextualizada do modelo de produção e reprodução social, o qual coloca em movimento o processo denominado de “questão social”, o qual é colocado à luz do debate a partir do século XIX. Há que se considerar que o processo de industrialização iniciado ao final do século XIV promoveu um acelerado avanço econômico que alavancou o processo de urbanização e a concentração da população nas áreas urbanas, concentrando também as desigualdades sociais e as problemáticas que envolvem este cotidiano . Ressalta-se porém que nas últimas décadas, a sociedade contemporânea , passou a sofrer de forma mais intensa e nítida, com as expressões da questão social. Nesse sentido, é relevante afirmar que o capitalismo em sua forma evoluída vem exercendo influência quanto à marginalização e exclusão do cidadão no processo produtivo, uma vez que, ao longo da história, tem dificuldade de acesso à educação, à capacitação profissional e à tentativa da inclusão no mercado de trabalho. No Brasil a questão social teve sua gênese em meados da década de 1930, momento em que ocorreu a intensificação do processo de expansão da industrialização, que promoveram mudanças no contexto socioeconômico e político do país. No entanto, com o desenvolvimento capitalista de produzir os bens necessários à vida humana, as relações sociais tiveram, contraditoriamente de assumir seu caráter social. Diante desta realidade, o Estado como responsável maior por essa problemática criou políticas de atendimento e proteção, com o objetivo de “amenizar” a violência e a pobreza. Neste contexto emerge o Serviço Social como profissão especializada atenuar o conflito entre capital e trabalho. A intervenção estatal aconteceu de forma estratégica de controle social, para responder às demandas da sociedade através de políticas sociais fragmentadas, não colocando o regime vigente à prova. Neste sentido, pode-se afirmar que o Assistente Social tem em seu trabalho diariamente o enfrentamento da “questão social”. Desta forma, o Serviço Social é tido hoje como uma profissão comprometida com a defesa dos direitos sociais, buscando a sua universalização através da justiça social e da equidade. Deve então, interpretar a realidade buscando a garantia dos direitos sociais, civis e políticos visando a ampliação da cidadania. 13 Nesta perspectiva, o Serviço Social está vinculado a entidades/instituições (públicas ou privadas) que também visam este objetivo como, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Receita Municipal, Serviço Auxiliar da Infância (SAI), Secretaria de Habitação, Centro de Referencia Especializada em Assistência Social (CREAS), entidades filantrópicas, entre outras, as quais possuem projetos, programas e/ou ações buscando a garantia dos direitos dos cidadãos. Diante disto, o estudo proposto neste Trabalho de Conclusão de Curso, refere-se ao projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes, da Secretaria de Saúde, de Assistência e Serviço Social do Comércio - SESC de Marechal Cândido Rondon, o qual acompanha e orienta as adolescentes gestantes de forma a garantir suas condições de saúde bem como a qualidade de vida e saúde do feto em gestação. O interesse pelo tema decorre da experiência de Estágio Supervisionado I e II, na Secretaria de Saúde – Unidade de Saúde 24h do município de Marechal Cândido Rondon em 2010 e 2011, o qual proporcionou conhecimento referente a prática profissional da assistente social na saúde bem como no projeto de adolescentes gestantes que a supervisora de campo coordena juntamente com outra assistente social do SESC. O processo de investigação teve como objeto de estudo, as adolescentes gestantes que passaram e que estão participando do projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes no município de Marechal Cândido Rondon, Paraná. Para tanto, formulamos o seguinte questionamento: Os objetivos do projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes, da Secretaria de Saúde, de Assistência e SESC de Marechal Cândido Rondon, estão sendo alcançados? Para isto, nosso estudo busca discutir a aproximação intersetorial da Política de Assistência e Política de Saúde no contexto da gravidez na adolescência, mais especificamente no projeto de adolescentes grávidas, bem como a importância do profissional de Serviço Social frente à coordenação do mesmo. Para responder ao problema, propôs-se como Objetivo Geral: Discutir a execução do projeto À espera do bebê - adolescentes gestantes da Secretaria de Saúde, de Assistência e SESC de Marechal Cândido Rondon. No decorrer do processo, percebemos que algumas outras questões devem ser respondidas, para isso se fez necessário discutir e analisar alguns conceitos e políticas construídas historicamente. Para essa apreensão, dividimos nosso estudo 14 em três capítulos: o primeiro diz respeito à “questão social”, discorrendo brevemente sobre o surgimento e a compreensão da “questão social”, a mobilização dos trabalhadores frente às explorações vividas, a conquista das políticas sociais e a emergência destas no Brasil. Subdividimos este capítulo trazendo a discussão sobre a Política de Assistência e a gradual consolidação da perspectiva de direito social, e também sobre a inserção da perspectiva intersetorial na Constituição Federal de 1988 das Políticas de Saúde e Assistência Social. No segundo capítulo conceituamos a adolescência, e debatemos sobre a sexualidade e a gravidez neste período; discutimos o papel e os desafios da família na educação destes sujeitos. Discorremos também sobre a relação desta temática com o projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes da cidade de Marechal Cândido Rondon bem como a intervenção e a importância do Serviço Social no mesmo. Na parte final do trabalho apresentamos os resultados da nossa pesquisa, bem como a metodologia utilizada, os procedimentos metodológicos, o tipo de pesquisa sendo a exploratória quantiqualitativa, os instrumentos de coleta de dados sendo a entrevista semi-estruturada, contendo o universo da pesquisa de campo, e a amostra selecionada. Neste sentido, apresentamos a análise e discussão dos dados da pesquisa, a qual ocorreu nos meses de agosto e setembro do ano de 2011 tanto com adolescentes como com as profissionais de Serviço Social. Esta parte do nosso estudo trata sobre a gravidez na adolescência, e a relação desta com todos os assuntos abordados anteriormente, como a sexualidade, família, educação, políticas sociais, e principalmente com o projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes da cidade de Marechal Cândido Rondon. Nas considerações finais apresentamos os resultados de nossa pesquisa a partir da discussão que nos propomos no início do nosso estudo, sinalizando a importância do profissional de Serviço Social frente á execução de projetos, programas, ações, e a necessidade evidente dos entes de estado assumirem de forma mais efetiva e regular a educação sexual, com vistas a prevenção da gravidez na adolescência e de todos os seus agravantes. 15 1. QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICA SOCIAL Para falarmos sobre política social, devemos prioritariamente compreender a sua origem e o contexto em que surgem, devendo então, entendermos sobre aquilo que dá origem à política social: a “questão social”. Entende-se “questão social” como a expressão da desigualdade proveniente da contradição capital x trabalho. Segundo Iamamoto e Carvalho, [...] a questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo o seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão. (1983, p. 77, grifo dos autores). A desigualdade entre as classes não é algo novo e está diretamente ligada aos desdobramentos sócio-políticos, Questão que se reformula e se redefine, mas permanece substantivamente a mesma por se tratar de uma questão estrutural, que não se resolve numa formação econômico social por natureza excludente. (YAZBEK, 2001, p. 33). A expressão “questão social” surge no século XIX, momento em que estava associada a pressão dos trabalhadores contra o movimento que vinha ocorrendo, ou seja, o fenômeno do pauperismo relacionado com a propriedade privada burguesa e os baixos salários pagos aos trabalhadores. Os trabalhadores não se conformavam com a situação que se encontravam, de extrema miséria e assim deram início aos primeiros protestos, contra aquilo que era imposto pela classe burguesa, essencialmente na relação produtiva, dando origem a grandes revoltas e movimentos sindicais. Segundo Behring e Boschetti (2009, p. 63), a resposta dada à “questão social” no final do século XIX para a classe trabalhadora foi de repressão. Algumas reivindicações foram transformadas em leis, porém focalistas e seletivas, pois estabeleciam melhorias tímidas e parciais nas condições de vida dos trabalhadores, contribuindo muito pouco na melhoria de vida destes, não alcançando o cerne da “questão social”. 16 Ainda assim, houveram mudanças na perspectiva do Estado, o qual assumiu um caráter mais social, investindo nas políticas sociais, reconhecendo alguns direitos, mas sem colocar em xeque o modo de produção vigente. Castel (1998, p. 498), enfatiza que, “Sem dúvida, todo Estado moderno é mais ou menos obrigado a “fazer social” para mitigar algumas disfunções gritantes, assegurar um mínimo de coesão entre os grupos sociais, etc.”. O surgimento das políticas sociais foi gradual e diferenciado entre os países, dependendo dos movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, do grau de desenvolvimento das forças produtivas, e das correlações e composições de força no âmbito do Estado. [...] período em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar ações sociais de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade. (BEHRING e BOSCHETTI, 2009, p. 64). A mobilização da classe trabalhadora contra a exploração do capital, visando à melhoria das suas condições de trabalho e de vida, foi de suma importância para que estas mudanças acontecessem e assim surgissem as Políticas Sociais, as quais deveriam ter como prioridade as necessidades sociais colocando limites à exploração do capitalismo sob o trabalho, se contrapondo ao capital. Esse processo de mobilização da classe trabalhadora e consequentemente, a conquista das políticas sociais, que vinha ocorrendo no mundo todo, especialmente na Europa, em torno período também aconteceu no Brasil, como aponta Yazbek, (1996, p. 36): [...] as políticas sociais no Brasil nascem e se desenvolvem na perspectiva de enfrentamento da “questão social”, permitindo, apenas, acesso discriminado a recursos e a serviços sociais. O caráter regulador de intervenção estatal no âmbito das relações sociais na sociedade brasileira vem dando o formato às políticas sociais no país: são políticas casuísticas, inoperantes, fragmentadas, superpostas, sem regras estáveis, ou reconhecimento de direitos. Neste sentido, as políticas sociais são compatíveis com o caráter arcaico dos aparelhos do Estado, servem para a acomodação da classe dominante e constituem-se de ações que apenas reproduzem a desigualdade social da sociedades onde se inserem. Segundo Castel (1998, p. 508) as políticas sociais: 17 Respondiam aos riscos existentes para um indivíduo numa sociedade em que o desenvolvimento da industrialização e da urbanização fragilizava as solidariedades de proximidade. Os poderes públicos recriam proteção e vínculo, mas com um registro completamente distinto daquele do pertencimento a comunidades concretas. Estabelecendo regulações gerais e fundando direitos objetivos, o Estado social também aprofunda ainda a distância em relação aos grupos de pertencimento que, em último caso, não têm mais razão de ser para garantir as proteções. Hoje, as políticas sociais emergem, na maioria das vezes, de um processo de atritos, confrontos, pressões, que pode ser feito tanto por segmentos sociais, quanto por partidos, pelo Congresso, movimentos sociais, entre outros. Abranches (1998) nos coloca que é este processo que define como será a política social demandada, qual será sua relação com a política econômica, qual prioridade elegerá e qual será a amplitude de seu alcance. Neste contexto há que se considerar que, o Brasil é produto de uma longa trajetória histórica marcada pelo modo de produção capitalista e, consequentemente pelo agravamento dos contrastes entre miséria e riqueza, como diz Aldaísa Sposati, (1988, p. 11), refletindo sobre a organização destas políticas: As políticas sociais brasileiras, e, nelas, as de assistência social, embora aparentem a finalidade de contenção da acumulação da miséria e sua minimização através da ação de um estado regulador das diferenças sociais, de fato não dão conta deste efeito. Constituídas na teia dos interesses que marcam as relações de classe, as políticas sociais brasileiras têm conformado a prática gestionária do Estado, nas condições de reprodução da força de trabalho, como favorecedoras, ao mesmo tempo, da acumulação da riqueza e da acumulação da miséria social. Assim a política social se torna parte do processo estatal de disponibilização e distribuição de valores, estando no meio do confronto entre interesses e classes sociais, refletindo na direção política das relações econômicas, como nos apresenta Sérgio Henrique Abranches, (1998, p. 10) A combinação específica, imposta pela correlação efetiva de forças, de incentivos à acumulação e ao crescimento, recursos para a provisão de meios de subsistência aos mais carentes e ações redistributivas visando a alcançar certo patamar de equidade. Percebe-se que se trata uma série de opções públicas. A ação social do Estado busca ao mesmo tempo equidade, através da promoção e da garantia de 18 direitos sociais visando a cidadania, como também, intervém nas escolhas políticas no combate à miséria, buscando certo grau de “correção” de desequilíbrios sociais, baseado em critérios de necessidade. Na década de 1990, conforme Behring e Boschetti (2009, p. 143), se abre um novo período de inovação, delineadas na tensão entre as conquistas constitucionais asseguradas pelo forte movimento social da redemocratização e a contra-reforma neoliberal. As condições econômicas e políticas desta década em diante, dificultaram os direitos correspondentes à implementação real dos princípios democráticos. Nos anos 1990, com as mudanças políticas, econômicas e estruturais e, o afirmamento do neoliberalismo1, passa-se a vivenciar uma política social muito mais voltada aos interesses do grande capital do que da classe trabalhadora, pois sustenta a desigualdade na medida em que assumiu um caráter mercantil, que conforme Vieira (2001, p. 24) acontece também com os serviços sociais fazendo com que perpetue a desigualdade, a exclusão social, a pobreza e a precariedade das relações sociais e produtivas, agravando cada vez mais o quadro exposto. Os serviços sociais vêm se transformando em mercadorias, eles devem ser vendidos: assim deve ser vendida a saúde, deve ser vendida a educação, etc.. Os serviços sociais são desmontados e vendidos. Aí precisam ser analisados muitos processos internos que igualmente justificam essas medidas. Não é apenas o neoliberalismo tardio que justifica essas medidas, por causa da questão do orçamento, ou por causa da situação de necessidade de expandir os campos de acumulação do capital, transformando os serviços em mercadorias. Com a efetivação do neoliberalismo, torna-se dúbia a atuação do Estado pois, reafirma tudo aquilo que o liberalismo trazia como fundamento: lucro, produção desenfreada, exploração, abertura das fronteiras, globalização, riqueza, e ao mesmo tempo, em 1988 pela primeira vez, a partir de uma Carta Constituinte contempla o direito social como Lei, ou seja, se contrapõe ao modelo de Estado vigente. Nessa perspectiva, há que se considerar que a política social é a instrumentalização de 1 Segundo Sader (2003, p. 9) O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar. [...] Trata-se de um ataque apaixonado contra qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciadas como uma ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política. 19 direitos assegurados em Lei, e deve ter como meta a universalização, sendo sob essa perspectiva que se coloca a política de assistência brasileira. 1.1 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA E A GRADUAL CONSOLIDAÇÃO DA PERSPECTIVA DO DIREITO SOCIAL Como já citado, a década de 1980 trouxe muitas mudanças no campo das políticas sociais. O silêncio que ecoava pela ditadura militar foi quebrado e o que antes era visto como „bondade‟, em um governo paternalista, passa a ser visto, entendido e compreendido como direito. Em 1985 o primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República – PND coloca a assistência social como política pública, sugere que aconteça a ruptura tutelar e caritativa que a assistência social era gerida, e reconhece o usuário como sujeito de direitos. Em 1988, com a Constituição Federal, a assistência social é reconhecida como direito à seguridade social, nos seus artigos 203 e 204. Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) 20 I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003). Neste sentido, posterior a Constituição Federal de 1988, a assistência social no Brasil passou a ser organizada a partir de dois pilares principais; a própria Constituição Federal, pois dá as diretrizes para a gestão de políticas públicas e também a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, de 1993, a qual estabelece princípios, objetivos e diretrizes das ações. Posteriormente, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, cumprindo a deliberação da IV Conferência Nacional da Assistência Social, implantou o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, o qual passou então a articular esforços, recursos e meios para a execução de serviços, programas e benefícios socioassistenciais. “O Suas organiza a oferta da assistência social em todo o Brasil, promovendo bem-estar e proteção social a famílias, crianças, adolescentes e jovens, pessoas com deficiência, idosos – enfim, a todos que dela necessitarem.” (BRASIL, 2011, s.p.). A gestão da assistência social brasileira é igualmente representada por seus membros nos conselhos nacional do Distrito Federal, estaduais e municipais de assistência social, tanto por parte do poder público quanto pela sociedade civil. A transparência e a universalização dos acessos aos programas, serviços e benefícios socioassistenciais, promovidas por esse modelo de gestão descentralizada e participativa, vem consolidar, definitivamente, a responsabilidade do Estado brasileiro no enfrentamento da pobreza e da desigualdade, com a participação complementar da sociedade civil organizada, através de movimentos sociais e entidades de assistência social. (BRASIL, 2011, s.p.). Desta forma, percebe-se que o controle social coloca-se no sentido de fortalecer um modelo transparente de gestão, em relação às estratégias e à execução da política, o que aumenta as possibilidades de afirmação da qualidade dos serviços prestados, bem como no acesso dos diferentes grupos aos diversos programas e projetos oferecidos, como é o caso daqueles voltados para adolescentes, o qual demanda um estudo para maior compreensão sobre as 21 particularidades desses indivíduos, funcionando da mesma maneira para os mais diversos grupos sociais. 1.2 POLÍTICA DE SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL: BREVES APONTAMENTOS ACERCA DA PERSPECTIVA DA INTERSETORIALIDADE. Assim como na Assistência Social, a saúde no Brasil a partir dos anos 1980, insere no modelo de democratização política e superação do regime militar que deixara claro seu efeitos nos sistemas de previdência e assistência médica, os quais se encontravam, pelo discurso do Estado, completamente falidos. Esta década ainda foi marcada por um grave aprofundamento da crise previdenciária, acarretando inúmeras mudanças nos anos seguintes, na organização do Estado, incidindo inclusive sobre as políticas públicas. Em decorrência deste processo, em 1986 houve em Brasília, Distrito Federal, a VIII Conferência Nacional de Saúde, cuja temática debatida, foi a reformulação do Sistema Nacional de Saúde, o qual propunha a saúde como direito inerente à cidadania. Desta forma, de acordo com Bravo (2006), a Assembléia Constituinte tornou-se uma arena política de interesses polares. De um lado os grupos de empresários do setor privado da saúde, do outro as forças defensórias da Reforma Sanitária, representadas pela Plenária Nacional pela saúde na Constituinte, órgão este que passou a reunir várias entidades, como as associações profissionais e culturais, os partidos políticos progressistas, sindicatos e centrais sindicatos, associações de usuários, movimentos populares, entre outros representantes deste setor. Conforme a mesma autora, (2006), após muitos acordos políticos o texto sobre a saúde foi aprovado com restrições. Os principais aspectos relacionados á saúde aprovados na nova Constituição dizem respeito especialmente ao direito universal à saúde e o dever do Estado; as ações e os Serviços de Saúde passam a ser considerados de relevância pública; constituição do Sistema Único de Saúde; o setor privado no sistema de saúde assume caráter complementar; a comercialização de sangue e seus derivados. A partir daí, a saúde passou a ser considerada qualidade de vida, ultrapassando o equívoco de que seria apenas a ausência de doença, como consta 22 no texto da Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS) citado por Demócrito Moura, (1989, p. 63): A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente ausência de afecções ou enfermidades. A fruição no nível máximo de saúde que se possa adquirir é um dos direitos fundamentais de todo o ser humano sem distinção de raça, religião, ideologia política e condição econômica ou social. A partir deste momento que passa a ser considerada qualidade de vida, provoca também mudanças na organização, implementação e gestão dessa política, que a partir de agora passa a ser considerada como sendo um dever do Estado e um direito de todos os cidadãos, numa perspectiva de universalização do atendimento.O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para que a população brasileira tivesse acesso ao atendimento público de saúde, alterando a situação de desigualdade da assistência e na saúde da população, garantindo atendimento gratuito nos postos de saúde, hospitais e outros serviços públicos. Neste sentido, a partir da Constituição Federal de 1988, é estabelecido em Lei a intersetorialidade das políticas sociais, objetivando a seguridade social, atrelando desta forma, educação, previdência, saúde, assistência, entre outros. De acordo com Brasil (2002), a regulação constitucional do SUS se completa em 1990, com a edição de duas leis. A Lei nº 8.080 que tratava do processo de descentralização, da organização do Sistema e das competências nas diferentes esferas de governo, e a Lei nº 8.142, que dispõe sobre a participação da comunidade e os mecanismos de transferência de recursos financeiros na área da saúde, estabelecendo assim remessas regulares e automáticas do governo federal. Estabelecem-se 2 também 3 os princípios básicos do SUS, sendo: a 4 universalidade , equidade e a integralidade , ou seja, são assegurados ações e 2 Universalidade é a garantia de atenção à saúde a todo e qualquer cidadão. Com a universalidade o cidadão tem o direito de acesso a todos os serviços de saúde, seja público ou contratado/conveniado pelos serviços públicos. A saúde é um direito do cidadão e dever dos governos: municipal, estadual e federal. (PARANÁ, 2006). 3 Equidade é a garantia de que todo o cidadão é igual perante o SUS e será atendido nos serviços de saúde em qualquer nível de complexidade de assistência, conforme cada caso requeira, independente de seu local de moradia sem privilégios e/ou barreiras até o limite que o sistema pode oferecer (PARANÁ, 2006). 4 Integralidade é a compreensão de que o homem é um ser integral e deverá ser atendido por um sistema integrado pelas ações que visam promover, proteger e recuperar a saúde (PARANÁ, 2006). 23 serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade que cada um requer, sem barreiras e privilégios. Segundo Arretche (2000, p. 203), [...] a constituição de 1988 estabeleceu as regras para a institucionalização de um novo modelo de saúde. Estabeleceu-se, por regra constitucional, que o Sistema Nacional de saúde deveria ser hierarquizado, público e com comando único em cada esfera de governo. [...] a regra constitucional da universalidade do acesso tem uma importância fundamental para o processo de descentralização, uma vez que o nível de governo que é responsável pela gestão dos serviços de saúde é aquele que [...] deve arcar diante da opinião pública com custos políticos. Como podemos perceber, os textos aprovados na Constituição Federal de 1988 tentaram avançar na luta de uma sociedade mais justa, com um sistema de saúde mais voltado para as condições de vida da sociedade. São exemplos deste avanço a política de saúde e a política de assistência brasileira, que ao longo dos últimos vinte anos vem fazendo o movimento de aproximação na busca pela efetivação da intersetorialidade das políticas, como forma de otimização dos recursos públicos e melhorar as condições de atendimento e vida para seus usuários. 24 2 ADOLESCÊNCIA 2.1 CONCEITUANDO A ADOLESCÊNCIA Segundo Colli (apud MARCONDES, 1979, p. 1), a adolescência pode ser definida como o “período de transição entre a infância e a idade adulta, caracterizado por intenso crescimento e desenvolvimento que se manifesta por marcantes transformações anatômicas, fisiológicas, mentais e sociais”. A adolescência é uma fase da vida cheia de conflitos, pois é onde o indivíduo não é mais criança e ainda não se tornou adulto; segundo a OMS Organização Mundial de Saúde (2000), a adolescência é um período da vida humana com o aparecimento inicial das características sexuais secundárias para a maturidade sexual; pelo desenvolvimento de processos psicológicos e de padrões de identificação que evoluem da fase infantil para a adulta, e pela transição de um estado de dependência para outro de relativa autonomia. Em razão da maior parte das descobertas, da formação da identidade, das idéias opostas, dos tabus, a adolescência5 é um dos períodos mais conturbados da vida da maioria de meninas e meninos, pois é uma fase do desenvolvimento humano que está entre a infância e a fase adulta, trazendo muitas alterações no pensamento e no modo de agir desses sujeitos sociais. Um dos fatores biológicos de grande relevância nesta fase é a sexualidade que, se não bem trabalhada, pode desencadear em diversas mudanças com reflexos para toda a vida, como uma gravidez indesejada, por exemplo. 2.2 SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA Caracterizada como um período de muitas transformações, especialmente as físicas e hormonais, na adolescência inicia-se a afloração sexual do adolescente, a qual teve início com o seu nascimento, mas que se desenvolve durante a sua vida toda, porém, é neste período que as transformações físicas e emocionais se evidenciam. A criança cresce, amadurece e fica pronta para usufruir de sua 5 Conforme o ECA, Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. (BRASIL, ECA, 1990) 25 sexualidade. Iniciam-se os primeiros olhares, primeiros beijos, bem como a primeira relação sexual. Pensando assim, a educação sexual deveria vir antes da chegada deste período, pois tendo uma educação sexual, o adolescente estaria preparado para viver a sua sexualidade da melhor forma possível, porém não é esta a realidade que vemos. Vivemos hoje, em uma época de excesso de estímulos sexuais, como a mídia, por exemplo, incentivando para o ato sexual somente, e não para a devida educação sexual. Contudo, a discussão saudável sobre a sexualidade do adolescente ainda é um tabu, como aponta (SARTI, 2004, IN: NOVAES; VANNUCHI (org), 2004, p. 124) É importante mencionar o papel dos meios de comunicação, sobretudo o da televisão e o da publicidade, no sentido de criar referências de identidade para os adolescentes que a família não pode ignorar, dada a exposição de todos os segmentos sociais e suas mensagens. [...] A importância fundamental da família para o adolescente está precisamente na possibilidade de manter o eixo de referências simbólicas que a família representa – como lugar de afetividade e, assim, palco de conflitos - o que nesse memento mais radicalmente ainda do que em outros momentos o ciclo familiar, precisa abrir espaço para o outro, justamente para continuar ser ponto de referência. Neste sentido, pode-se afirmar, segundo Paloschi (2010, p. 22) que a família é uma instituição que “cria e recria as práticas educativas e disciplinares condizentes aos padrões de sua época [...]”, necessita-se então, atenção, no que diz respeito à educação sexual que se tem em casa, os exemplos, as atitudes dos familiares com as crianças e adolescentes que convivem acarretando influências em toda a vida destes sujeitos, desde a escolha errada de uma profissão, companheiro (a), até uma gravidez indesejada. 2.3 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA6 A sociedade brasileira passa por um momento de modernização intensa nas suas diferentes esferas, como a econômica, social, cultural e também da subjetividade. Ocorrem mudanças de valores, de comportamentos e concepções, 6 Abordaremos a gravidez na adolescência a partir do gênero feminino, o que é foco de nossa pesquisa, o adolescente masculino na relação de paternidade não será tratado neste estudo. 26 como o casamento, a virgindade, e também, a maternidade, acarretando muitas mudanças também na vida das mulheres e homens. Contudo essa modernização não se deu de forma homogênea, é crescente o número de gestações entre adolescentes em nosso país, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no início de 2007 chamou a atenção o número de adolescentes que ainda engravidam hoje no país, onde foi colocado que estas seriam responsáveis por 20,5% dos nascimentos registrados, sendo que cerca de uma em cada cinco gestações ocorre entre meninas com menos de 20 anos. Os especialistas dizem que este número preocupa muito (CABRAL, 2007, s.p.), pois percebe-se que a maioria destas gestações são provenientes de um conjunto de circunstâncias relacionais aos espaços de formação do sujeito, ou seja, verifica-se uma falha na educação sexual, na falta de planejamento, em um descaso com a sexualidade saudável, entre outros e que, segundo Pinheiro (s.d.), “Um sujeito inseguro e carente de parâmetros não consegue mais pensar sua própria existência e nem analisar situações às quais a vida lhe impõe.” Sabe-se também que o inicio da atividade sexual, no Brasil, muitas vezes está relacionada ao contexto familiar em que meninos e meninas adolescentes estão inseridos, à realidade em que vive, à formação psicológica, a falta de políticas sociais, entre outros. Normalmente a família tem limitações para preparar os adolescentes para lidarem com as decepções, estimulando-os a ligar com fatos lógicos, com álgebras, ciências, mas não com os fracassos e as falhas. Aprendem resolver problemas matemáticos, mas não sabem resolver seus conflitos [...] (PALOSCHI, 2010, p. 22). Muitas vezes, adolescentes que iniciam a atividade sexual precocemente e engravidam, estão reproduzindo o mesmo histórico dos pais, onde a gravidez surge de forma indesejada ou sem planejamento. Para muitas destas jovens, até o momento de sua gravidez, não há planos de vida, perspectivas para o futuro. Juntamente com isto, a falta de orientação sexual e informações pertinentes, somado à mídia através da televisão e internet, principalmente, que tem grande influência sobre as pessoas atualmente, através de uma banalização da sexualidade, como ressalta Cano e Ferriani (apud LOPES & MAIA, 1993), 27 [...] o corpo e a sexualidade têm sido usado exaustivamente para divulgar e vender “desde sabão em pó até toalhas de banho”, tornando-se produto consumível. Essa banalização da sexualidade tem dificultado a tarefa de educar, de associar sexo a afeto, responsabilidade e promoção da saúde. Vivemos em uma sociedade de consumo, onde há constantemente um verdadeiro apelo à sexualidade, passando a intenção da sensualidade, beleza, liberdade sexual, libido, e até de agir sem pensar, fazendo com que a incidência de adolescentes grávidas cresça ainda mais. Como diz Vera Fonseca, citada por Cabral (2007), ginecologista e Presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, sobre a gravidez na adolescência, “quando elas não têm perspectivas de vida, a maternidade lhes parece um bom negócio”. Em outras adolescentes, ainda, a gravidez decorre do seu próprio desejo de ser mãe. De outro lado, observa-se que, apesar do grande volume de dados e informações que circulam nos meios de comunicação, grande parte das mulheres, desconhecem ou deixam de utilizar métodos de prevenção da gravidez. [...] a grande era da informação é, na verdade, uma explosão da nãoinformação – uma explosão de dados. Para enfrentar a crescente avalanche dos dados, é imperativo fazer a distinção entre dados e informação. Informação deve ser aquilo que leva à compreensão. (WURMAN,1991,p.43). Desta maneira, percebe-se que muitas vezes a mulher não detém o real conhecimento sobre o assunto, não conseguindo assumir o controle de suas ações, como a gravidez indesejada. Uma vez que essa gravidez não é pensada, também há a falta de planejamento familiar; apesar deste ser um direito garantido na Lei nº 9.263 de 12 de janeiro de 1996, a qual regula o § 7º do art. 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades e dá outras providências, mais especificamente nos artigos: Art. 1º O planejamento familiar é direito de todo cidadão, observado o disposto nesta Lei. Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde. 28 Art. 4º O planejamento familiar orienta-se por ações preventivas e educativas e pela garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade. Art. 5º - É dever do Estado, através do Sistema Único de Saúde, em associação, no que couber, às instâncias componentes do sistema educacional, promover condições e recursos informativos, educacionais, técnicos e científicos que assegurem o livre exercício do planejamento familiar. Art. 6º As ações de planejamento familiar serão exercidas pelas instituições públicas e privadas, filantrópicas ou não, nos termos desta Lei e das normas de funcionamento e mecanismos de fiscalização estabelecidos pelas instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde. (BRASIL, 1996, s.p). A falta desse planejamento faz com que muitas adolescentes engravidem cada vez mais cedo, mudando completamente suas vidas. Muitas delas não estão preparas emocionalmente e algumas, nem financeiramente para terem filhos, sendo muitas vezes obrigadas, por exemplo, a interromper seus estudos, comprometendo seu desenvolvimento profissional e pessoal. A gravidez precoce causa danos à vida da adolescente, principalmente quando esta não tem condições de terminar seus estudos e ao mesmo tempo tem dificuldades para encontrar emprego, pela sua pouca idade, seu nível de instrução e sua atual situação (gravidez), fator que acaba também transformando-a em vítima de preconceito7 e exclusão8. No que diz respeito a sua sociabilidade, ocorre ainda um outro dano, o distanciamento dos amigos, visto que a jovem deverá assumir responsabilidades incompatíveis em muitos momentos com as formas de lazer típicas da juventude. A maternidade passa a exigir atenção e cuidados, que priorizam o bem estar do bebê em detrimento do bem estar individual da mãe. Esta deverá passar a frequentar um pré-natal a fim de garantir a sua saúde e também a do bebê, além de poder compreender e acompanhar melhor o que está acontecendo com seu corpo. Ou seja, a adolescente que engravida, deverá mudar completamente seus hábitos e rotinas em função da desta. Assim o fator que se coloca como item de maior relevância serão os procedimentos de acompanhamento clínico da gestação, a ponto deste estar 7 Preconceito: 1. Idéia preconcebida. 2. Suspeita, intolerância. (MINIAURÈLIO, 2000, p.551). Sugerese também, MARTINS, 2002. 8 Segundo MARTINS (2002, p. 27) exclusão “Mais do que uma definição precisa de problemas, ela expressa uma incerteza e uma grande insegurança teórica na compreensão dos problemas sociais da sociedade contemporânea”. 29 descrito como direito no Art. 8º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal. § 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, segundo critérios médicos específicos, obedecendo-se aos princípios de regionalização e hierarquização do Sistema. § 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a acompanhou na fase pré-natal. § 3º Incumbe ao poder público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitem. § 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009). § 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser também prestada a gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência. (BRASIL, 1990, p.16). A partir do momento em que a adolescente engravida, lhe são assegurados muitos direitos, principalmente relacionados à saúde, como o pré natal, contudo, esquece-se da condição em que a mesma se encontra, que é duplamente significante, por estar grávida e por se tratar de uma adolescente. Deixa-se de lado a condição de adolescência, de formação da identidade, de inúmeras mudanças, para somente ter o cuidado com a gestante e o bebê que está por vir. Esta menina necessita de atenção tanto no o que diz respeito a sua saúde quanto às mudanças que ocorrerão em sua vida após a gestação. 2.4 FAMÍLIA E A FORMAÇÃO PARA A VIDA: O DESAFIO NA EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES Outro fator que deve ser pensado, diz respeito à nova família que está para ser constituída, como esta está fundamentada e qual tipo de estrutura que esta adolescente mãe dará para a criança que está no seu ventre. É necessário pensar que esta gestante ainda não tem seus valores formados nem tampouco sua maturidade em torno de sua própria vida. É de suma importância que esta adolescente seja amparada para que suas angústias bem como suas dúvidas sejam sanadas da melhor maneira possível para que esta tenha subsídios suficientes para iniciar uma nova etapa de sua vida, a vida familiar. 30 Neste sentido é necessário ressaltar a importância que o contexto familiar vem assumindo no âmbito das políticas sociais, ressalta-se a definição de família apresentada no Estatuto da Criança e do adolescente: ART. 25 - Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009). (BRASIL, 1990, p.23). A adolescência é uma fase do desenvolvimento em que geralmente ocorrem adversidades no contexto familiar, pois como já citado, ocorrem muitas mudanças com o adolescente, principalmente comportamental. É necessário que a família acolha este indivíduo e o dê subsídios para que ocorra uma adolescência saudável. Sarti (2004, p. 120), enfatiza que Cada família constrói sua própria história, seus valores e seus argumentos para com seus filhos adolescentes, seja através do discurso ou de atitudes, de valores, como o respeito. É nela em que se ouvem as primeiras falas com as quais se constroem a autoimagem e a imagem do mundo exterior. A família seja ela qual for a sua composição e sua organização, é o filtro através do qual se começa a ver e a significar o mundo. Quando a instância familiar não consegue suprir aquilo que o adolescente requer nessa fase de sua vida, faz-se necessário que o Estado assuma parte da responsabilidade, através das políticas sociais, programas, projetos, ações, entre outros. Como aponta Pinheiro (s.d.) O estado, portanto, passa a funcionar como um suporte familiar, ora amparando os pais na educação de seus filhos, ora servindo como um novo referente daquilo que o sujeito deve absorver para ser reconhecido numa sociedade. Contudo, esse referente apenas estabelece os contornos de uma problemática maior: A relação privada passa a se distanciar do social, pois a imersão desse novo sujeito como entidade subverte o compromisso social. 31 Neste contexto, o Estado acaba, ainda que tardiamente, assumindo o espaço da intervenção nas questões em que a família não pode corresponder a ordem social vigente, como é o caso do projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes da Cidade de Marechal Cândido Rondon. 2.5 ESPECIFICAÇÃO DO PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTES DA CIDADE DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON. O Projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes acontece no espaço do SESC9 da cidade de Marechal Cândido Rondon – Paraná, com encontros semanais com as adolescentes grávidas participantes do projeto. O município de Marechal Cândido Rondon teve sua emancipação em 196010, está situado na região Oeste paranaense, em uma área total de 670,0 km² e segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, possui 46.528 habitantes. Conforme documentações inerentes à construção do projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes, o mesmo constituiu-se a partir de uma parceria da Secretaria de Saúde, de Assistência e SESC de Marechal Cândido Rondon. Iniciou-se a partir de uma pesquisa realizada pela profissional de Serviço Social do SESC, a qual identificou que o número de adolescentes grávidas neste município no ano de 2009 foi de 519, sendo 8 dessas com menos de 14 anos de idade e 130 entre 15 e 19 anos. A partir desta pesquisa o SESC, na pessoa da assistente social buscou a Saúde que, por ser a porta de entrada dessas adolescentes na atenção básica em saúde, seria a instituição que daria esse respaldo (encaminhamento) e entraria com os profissionais na medida do possível. Convidaram também uma Assistente Social da Secretaria de Saúde e uma Psicóloga da Secretaria de Assistência para fazerem parte da coordenação deste grupo que estava por se formar, ou seja, uma coordenação composta por 3 integrantes, sendo 2 Assistentes Sociais e 1 Psicóloga. O projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes, da Secretaria de Saúde, de Assistência e SESC de Marechal Cândido Rondon teve 9 O Serviço Social do Comércio (SESC) é uma instituição brasileira privada, sem fins lucrativos, mantida pelos empresários do comércio de bens, serviços e turismo. 10 Dados oficiais do Município disponíveis no site da prefeitura: ver referências. 32 início em março de 2010. No grupo a puérpera tem acompanhamento por equipe interdisciplinar pelo período de pelo menos 6 meses, podendo ser ampliado em caso de necessidade. Oferece palestras com os mais diversos temas, como as fases da criança, desenvolvimento da gestação, alimentação da gestante, tipo de parto, cuidados bucais da gestante e do bebê, amamentação, depressão pós-parto, projetos de vida, entre outras. Depois de várias reuniões, ficou decidido então que a inclusão das adolescentes grávidas no grupo À espera do bebê aconteceria mediante convite realizado pela equipe de saúde na ocasião em que esta daria início ao programa pré-natal, como também pela procura espontânea. Os encontros do grupo aconteceriam quinzenalmente (porém as adolescentes solicitaram que fosse semanalmente, proposta que foi acatada pelas coordenadoras) nas dependências do CRAS com duração de 2h e 30 min no horário das 14:00h às 16:30h, com um limite de 20 participantes. O local e os Kit (bolsa do bebê com itens de necessidade básica, como fraldas, mamadeira, roupinhas, entre outros) seria atribuições da Secretaria de Assistência, os lanches da Secretaria de Saúde e os materiais de expediente e divulgação fornecido pelo SESC. O atrativo principal ficou sendo o artesanato realizado por uma profissional contratada da prefeitura, onde seria confeccionado lembrancinhas, decoupage, caixinhas de medicamentos para o bebê, pastas de receitas, enfeites para porta, decoração para o quarto do bebê, entre outros, tudo sem custo algum para a participante do grupo, pois isto ficou como atribuição da Secretaria de Indústria e Comércio. Hoje, devido mudanças na Secretaria de Assistência de Marechal Cândido Rondon, os encontros acontecem nas dependências do SESC da mesma cidade e a coordenação é composta apenas por duas Assistentes Sociais, uma cedida da Secretaria de Saúde e outra do SESC. A Secretaria de Assistência permanece dando apoio ao grupo de adolescentes, porém somente com o Kit, e a profissional contratada pela prefeitura para a realização do artesanato também não auxilia mais o projeto. No município em questão o grupo de adolescentes gestantes possibilita o acesso público irrestrito, conforme preconiza o SUS, agregando ainda uma parceria privada com o SESC. O grupo de adolescentes gestantes então é público, porém conta com parceria do público com o privado (SESC). 33 A Parceria Publico-Privada, é uma parceria entre a iniciativa privada e a Administração Pública visando fornecer serviços de qualidade à população. Esta parceria está pautada na Lei Federal n° 11.079/04 e tem como objetivo principal “fornecer previsibilidade e segurança para o parceiro privado, reduzindo os custos do investimento; garantir a prestação de serviço ao longo do tempo com padrões de qualidade; e evitar a materialização de “esqueletos” no futuro”. (LEVY, 2004). Ou seja, [...] uma parceria onde o setor privado projeta, financia, executa e opera uma determinada obra/serviço, objetivando o melhor atendimento de uma determinada demanda social. Como contraprestação, o setor público paga ou contribui financeiramente,, no decorrer do contrato, com os serviços já prestados a população, dentro do melhor padrão de qualidade aferido pelo Poder concedente (PROCEMPA, 2010, s.p.). Essa parceria em Marechal Cândido Rondon ocorre visando o atendimento de uma porcentagem de adolescentes grávidas da cidade e tem como objetivo oferecer apoio biopsicossocial às adolescentes gestantes , bem como a troca de experiência e reflexão, viabilizar uma gestação positiva e saudável e o resgate da auto estima. E será nessa perspectiva que os sujeitos da pesquisa foram abordados. 2.6 SERVIÇO SOCIAL: A INTERVENÇÃO NO PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTES: O Serviço Social como profissão surge no interior do modo de produção capitalista e, segundo Iamamoto (1997, p. 270) busca oferecer respostas às pressões dos trabalhadores, procurando amenizar as seqüelas materiais e morais do trabalho assalariado. [...] a origem do Serviço Social como profissão tem, pois, a marca profunda do capitalismo e do conjunto de variáveis que a ele estão subjacentes – alienações11, contradição12, antagonismo13 -, pois foi 11 No sentido dado por Marx, alienação é a “[...] ação pela qual um indivíduo, um grupo, uma instituição ou uma sociedade se tornam (ou permanecem) alheios, estranhos, enfim, alienados aos resultados ou produtos de sua própria atividade, e/ou à natureza na qual vivem, e/ou a outros seres humanos, e – além de -, também a si mesmos”. (BOTTOMORE, 1988, p. 05). 12 [...] no caso da ação humana [...] onde especifica qualquer situação que permita a satisfação de um fim unicamente às expensas de um outro, isto é, uma conexão ou coerção. [...] exemplos dessas 34 nesse vasto caudal que ele foi engendrado e desenvolvido (MARTINELLI, 1989, p. 66). O surgimento do Serviço Social de acordo com Netto e Carvalho (1996) está vinculado à “questão social”, como resultado da ascensão da burguesia monopolista, da constituição do capitalismo e ao binômio industrialização – urbanização, revelados no decorrer do século XIX. Ressalta-se ainda que a intervenção estatal ocorre de forma fragmentada, como uma importante estratégia de controle social, criando mecanismos de enfrentamento sem colocá-la como um problema da relação capital/trabalho. Com o agravamento da “questão social”, o Estado necessita de mão-de-obra especializada, propiciando assim, o desenvolvimento da profissão, desenvolvendose para atuar nas relações sociais de produção e reprodução da vida social instituída pela contradição capital/trabalho. No Brasil, conforme Yazbek, Martinelli e Raichelis (2008), o Serviço Social é um dos responsáveis pela implementação de políticas e programas sociais, configurando assim seu perfil assalariado. O Serviço Social é uma profissão que intervém nas relações sociais e traz em sua legislação, no Art. 4º, inciso VIII da lei que regulamenta essa profissão - Lei 8.662 de 7 de junho de 1993 - entre suas atribuições: “planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais”. Sendo assim, as pesquisas realizadas no âmbito dessa profissão, estarão sempre vinculadas ao Projeto Ético-Político, o qual Netto coloca que [...] se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e programas sociais; a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Grifos do autor (1999, p.16). Assim sendo, desde a formação a pesquisa é inerente ao profissional de Serviço Social e é na sua atuação profissional, que este utilizará da pesquisa para uma compreensão rigorosa da realidade social, objetivando uma prática crítica e prepositiva. contradições são as que existem entre as relações de produção e as de forças produtivas ou entre o capital e a luta organizada da classe trabalhadora (BOTTOMORE, 1988, p. 80). 13 Oposição de idéias ou sistemas; incompatibilidade (FERREIRA, 2000, p. 46). 35 O assistente social lida com essas múltiplas expressões das relações sociais da vida cotidiana, o que permite dispor de um acervo privilegiado de dados e informações sobre as várias formas de manifestação das desigualdades e da exclusão social em sua vivência pelos sujeitos, de modo que a ele é facultado conhecer a realidade de maneira direta: a partir da sua intervenção na realidade, das investigações que realiza, visando responder a esta realidade (GUERRA, 2009, p. 712). O Assistente Social, em sua prática profissional, irá (e deverá) interpretar a realidade em conjunto com as relações historicamente estudadas, visando a garantia dos direitos (civis, políticos, sociais) e assim a ampliação e consolidação da cidadania, bem como ir de encontro com a essência do objeto estudado, desvendando o aparente. [...] pode-se dizer que as informações requeridas do assistente sociais no seu cotidiano são múltiplas e abrangentes. Abrangem desde o conhecimento ao funcionamento das instituições e dos serviços, da organização do trabalho profissional, dos direitos dos usuários e chegam àquelas relacionadas às necessidades básicas ou às condições específicas de indivíduos ou grupos. Porém, a forma como são trabalhadas essas informações é fundamental para a construção da consciência crítica (MIOTO, 2009, p. 503). Sendo uma profissão que tem como finalidade a garantia dos direitos, o Serviço Social está vinculado a entidades/instituições que também visam este objetivo. Nos municípios em geral, estes profissionais estão inseridos em entidades públicas e privadas, como, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Receita Municipal, Serviço Auxiliar da Infância (SAI), Secretaria de Habitação, Centro de Referencia Especializada em Assistência Social (CREAS), entidades filantrópicas, entre outras. Pensando nesta perspectiva da garantia de direitos, o projeto À espera do bebê de Marechal Cândido Rondon acompanha as adolescentes gestantes; orientando-as e auxiliando-as para que possam passar pela gravidez de forma a garantir suas condições de saúde bem como a qualidade de vida e saúde do feto em gestação. Para tanto as reuniões realizadas, enfocam temáticas da saúde, do planejamento familiar, do pré-natal dos direitos e deveres das gestantes futuras mães, além abordar temáticas relacionadas a saúde mental, com ênfase nas 36 relações familiares . Para que isto ocorra, as assistentes sociais planejam um cronograma para o decorrer do ano, entrando em contato com diferentes profissionais que irão participar dos encontros do projeto, buscando responder sempre às necessidades que as adolescentes apresentam; coordenam as reuniões fazendo mediações entre os profissionais e as adolescentes, bem como os temas abordados. Posteriormente avaliam o processo para que sempre ocorram melhorias, visando com prioridade uma gravidez saudável. [...] concebe-se que a lógica das ações socioeducativas, realizadas no escopo dos processos socioassistenciais, está centrada nos usuários, enquanto sujeitos de Direitos. Nessa lógica, desenvolvese, por meio das relações que se estabelecem entre assistentes sociais e usuários, um processo educativo que possibilita aos usuários, a partir de suas individualidades, apreender a realidade de maneira crítica e consciente, construir caminhos para o acesso e usufruto de seus direitos (civis, políticos e sociais) e interferir no rumo da história de sua sociedade. (MIOTO, 2009, p. 500-501). Nesta perspectiva, entendemos que o trabalho do Assistente Social perante a essa realidade deve dar ênfase ao estado em que a adolescente grávida se encontra, como também as condições em que esta gestação está inserida, bem como ter a sensibilidade para compreender a família em que esta nova vida irá emergir, para que seu trabalho seja efetivo junto a esses sujeitos. Desta forma, destacamos a importância do Assistente Social frente a este grupo de adolescentes grávidas, pois como já citado anteriormente, é profissional comprometido com a garantia dos direitos sociais e possui conhecimento crítico da realidade. 37 3 METODOLOGIA DA PESQUISA Segundo Minayo (2008), os aspectos metodológicos da pesquisa são a explicação minuciosa, detalhada e rigorosa de toda ação desenvolvida no método (caminho) do trabalho de pesquisa. A estratégia utilizada em qualquer pesquisa científica fundamenta-se em uma rede de pressupostos ontológicos e da natureza humana que definem o ponto de vista que o pesquisador tem do mundo que o rodeia. Esses pressupostos proporcionam as bases do trabalho científico, fazendo que o pesquisador tenda a ver e a interpretar o mundo de determinada perspectiva. É absolutamente necessário que possam ser identificados os pressupostos do pesquisador em relação ao homem, a sociedade e o mundo em geral. Fazendo isso, pode-se identificar a perspectiva epistemológica utilizada pelo pesquisador. Essa perspectiva orientará a escolha do método, metodologia e técnicas em uma pesquisa (RICHARDSON, 2008, p. 32). 3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1.1 Quanto ao tipo de pesquisa No cotidiano da profissão, o assistente social depara-se com as mais diversas expressões das relações sociais, fato que lhe viabiliza contato com uma diversa e privilegiada gama de direitos e informações. Contudo se não houver por parte do profissional a preocupação em registrar este cotidiano, haverá também o esvaziamento da prática, visto que, conforme afirma Battini (1994), “[...] a unidade de transformação prática é a condição para a transformação prática do mundo, imprimindo nessa prática a dimensão produtiva, investigativa e social-política”. Neste contexto Yolanda Guerra (2009, p. 708) ao falar acerca da dimensão investigativa no exercício profissional afirma que A sistematização de dados é, sem dúvida, um passo preliminar necessário, um momento do processo do conhecimento [...]. O processo de sistematização nos indica a necessidade de elaboração 38 do projeto de intervenção e as lacunas no nosso conhecimento para resolvermos determinados problemas. Logo, a pesquisa coloca-se como momento de extrema importância para o Serviço Social, pois é a partir dela que o profissional conseguirá uma leitura de realidade não equivocada, através da constante indagação do observado e assim agindo eticamente sob suas demandas. Este trabalho caracteriza como uma pesquisa exploratória, que segundo Gil (2010, p. 27) tem como finalidade desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou para modificar e clarificar conceitos. Para Bourguignon (2005, p. 02) Pesquisar é exercício sistemático de indagação da realidade observada, buscando conhecimento que ultrapasse nosso entendimento imediato, com um fim determinado e que fundamenta e instrumentaliza o profissional a desenvolver práticas comprometidas com mudanças significativas no contexto em que se insere e em relação a qualidade de vida do cidadão. O Serviço Social como profissão sócio - histórica tem em sua natureza a pesquisa como meio de construção de um conhecimento comprometido com as demandas específicas da profissão e com as possibilidades de seu enfrentamento. Ao mesmo tempo em que se coloca como uma possibilidade de objetivação da prática profissional é desafio permanente para os profissionais que pretendam ser críticos e propositivos no atual cenário nacional e em relação ao processo de formação profissional. Sendo assim, a pesquisa pode ser de natureza quantitativa e qualitativa. A qualitativa: A pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de seu desenvolvimento; além disso, não busca enumerar ou medir eventos e, geralmente, não emprega instrumental estatístico para análise dos dados; seu foco de interesse é amplo [...] Nas pesquisas qualitativas, é freqüente que o pesquisador procure entender os fenômenos, segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada e, a partir, daí situe sua interpretação dos fenômenos estudados. (NEVES, 1996, p. 01) 39 Richardson (2008, p. 80) menciona que “os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais”. Já a pesquisa quantitativa, ao contrário da qualitativa, trabalha mais com dados estatísticos coletados através de instrumentos específicos para tal, é utilizada quando é possível obter medidas quantificáveis a partir de amostras numéricas. Optamos por utilizar a pesquisa exploratória quantiqualitativa, pois ao mesmo tempo em que necessitamos de informações numéricas, é de suma importância que apreendamos o sujeito numa visão de totalidade, bem como as particularidades postas pelo mesmo. 3.1.2 Quanto aos instrumentos de coleta de dados A entrevista é um processo de interação social onde o entrevistador tem como finalidade coletar informações do entrevistado. Para Minayo (2000), a entrevista privilegia a obtenção de informações através da fala individual, a qual revela condições estruturais, sistemas de valores, normas e símbolos e transmite, através de um porta-voz, representações de determinados grupos. Optou-se então, como instrumento de coleta de dados, pela entrevista semi-estruturada, na qual o entrevistado pode discorrer sobre suas experiências, a partir do foco principal proposto pelo pesquisador; permite também, respostas livres e espontâneas do informante. O universo da pesquisa é com as adolescentes gestantes participantes e também das que já passaram pelo projeto À espera do bebê de Marechal cândido Rondon, de março de 2010 até novembro do mesmo ano, sendo então de 30 participantes, bem como as coordenadoras deste projeto. Tínhamos a intenção com este trabalho da amostra da pesquisa contar com no mínimo 50%, eu seja, 15 adolescentes, as quais 7 seriam participantes do grupo e 8 mães que já passaram pelo projeto, para que assim, conseguíssemos dar conta da particularidade da atividade em questão, como também contemplar os sujeitos que participam como os que participaram do grupo, porém, não foi possível atingir esta amostra pois o Projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes de Marechal Cândido Rondon conta atualmente com um número reduzido de gestantes 40 e também, pelo fato das adolescentes que participaram do Projeto no ano de 2010 estarem empregadas, dificultando o acesso a elas. Nossa amostra é de então 8 adolescentes, sendo 3 participantes do Projeto e 5 mães que já passaram pelo mesmo. As duas Assistentes Sociais coordenadoras do projeto também foram pesquisadas. Durante um dos encontros do projeto À espera do bebê foi feita a abordagem dos sujeitos da pesquisa, sendo as participantes como as coordenadoras do projeto para o pedido de pesquisa e o esclarecimento da mesma. Com as adolescentes que já passaram pelo grupo no ano de 2010, o pedido e esclarecimento da pesquisa foi feita via telefone. Foi marcada uma data e assim realizada a pesquisa. Como algumas destas adolescentes são menores de idade, foi feito contato via telefone com seus responsáveis, para esclarecimento sobre a pesquisa e autorização para que a adolescente pudesse participar da mesma. Antes da realização da pesquisa, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) como exigência do Comitê de Ética em Pesquisa em seres Humanos/UNIOESTE e Código de Ética Profissional e explicado aos sujeitos como ela seria realizada. As entrevistas foram feitas nos locais e horários mais adequados para as adolescentes, acontecendo desta forma também com as coordenadoras do projeto, para que assim, houvesse o predomínio do sigilo, conforme consta no Art. 15 e16 do Código de ética do Assistente Social: Art. 15 - Constitui direito do assistente social manter o sigilo profissional. Art. 16 - O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o assistente social tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional. (CFESS, 1993 s.p). Depois de realizada todas as entrevistas com os sujeitos de nossa pesquisa, iniciamos a análise e tratamento dos dados que, de acordo com Gomes (2002, p. 68), quando estamos tratando de análise em pesquisa qualitativa, “durante a fase de coleta de dados a análise já poderá estar ocorrendo”. Em cumprimento ao TCLE, os sujeitos da pesquisa terão preservadas as suas identidades, para tanto serão denominados aqui como Adolescente 1, Adolescente 41 2, e assim por diante, bem como as profissionais, denominadas como Profissional 1 e Profissional 2. 3.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA O termo análise, segundo Minayo (2000, p. 199) significa mais do que um procedimento técnico, podendo ser definida como: Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a interferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens (BARDIN, 1979 apud MINAYO, 2000, p. 199). Para a mesma autora citada por Gomes (2002), há três finalidades na fase de análise, que é “estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e/ou responder às questões formuladas, e ampliar o conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural da qual faz parte”. Para ela, “essas finalidades são complementares, em termos de pesquisa social” (2002, p. 69). Para obtermos melhor compreensão dos sujeitos da pesquisa, faz-se necessário a apresentação do perfil dos mesmos, onde a informação torna-se mais completa quando é associada ao referencial explicativo, tendo como objetivo demonstrar dados relevantes obtidos através da pesquisa empírica. Nossa pesquisa aconteceu com adolescentes14 grávidas, participantes do Projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes de Marechal Cândido Rondon/PR no ano de 2010 e 2011. 14 Considera-se adolescente, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, aquele entre doze e dezoito anos de idade. Conforme já explicitado no decorrer deste estudo, abordaremos a adolescência somente a partir do gênero feminino, que é foco de nossa pesquisa, o adolescente masculino não será tratado neste estudo. 42 Quadro 1: Perfil das adolescentes IDADE ESTUDO De 14 a 18 Sim Não Desistiu quando anos engravidou 8 1 3 4 ESTADO CIVIL Solteira Casada Relação estável com o companheiro 2 1 5 Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. No quadro 1 podemos perceber que a idade das adolescentes varia dos 14 aos 18 anos, confirmando o que o Ministério da Saúde apud Reche e Fiewski (2007) apresentam, que a idade fértil no Brasil é de 10 a 49 anos. O IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, nos mostra em pesquisa realizada no ano de 2010, que 7,3% das jovens do país de 15 a 17 anos tem pelo menos um filho. É um dado preocupante, pois na adolescência a mulher ainda não está preparada para ser mãe, como enfocamos no decorrer deste estudo, pois há mudanças físicas, psíquicas, hormonais muito importantes ocorrendo nesta etapa de sua vida; Neste sentido, o Ministério da Saúde enfoca que a idade adequada para a mulher ter filhos deve ser fora do período de 10 a 19 anos de idade, pois considera este, um período com possíveis fatores de risco, como partos prematuros, rompimento antecipado da bolsa, entre outros. Em relação ao nível de escolaridade, das 8 entrevistadas, 37,5% não estudam e 50% desistiram dos estudos devido a gravidez. Percebe-se então, que a gravidez na adolescência tem um estreito vínculo com a evasão escolar. Reche e Fiewski (2007, p. 44) enfocam que “Quanto mais grau de escolaridade tiver a mulher, esta melhor entenderá as recomendações realizadas pela equipe de saúde [...]”, ou seja, a baixa escolarização as impossibilita a total compreensão desde o aleitamento até os direitos seus e da criança; Outra pesquisa realizada pelo IBGE no ano de 2010, revela que quanto mais as mulheres estudam, menos filhos tem. Mulheres com seis anos de escolaridade tem quase o dobro de filhos do que aquelas que passaram oito anos ou mais estudando. Desta forma, torna-se fundamental que os profissionais que atuam em grupos sociais como estes, incentivem e demonstrem a importância da formação escolar para os mesmos, sinalizando e reforçando a importância da 43 intersetorialidade das políticas, que neste caso específico coloca-se par e passo com a política de educação. A respeito do estado civil, 25% das adolescentes são solteiras, 12,5% casadas e 62,5% mantém uma relação estável com o companheiro, remetendo a uma nova organização familiar, mas que ainda alimenta resquícios das organizações familiares conservadoras, fato observado no índice de 62,5% de casais que passam a conviver juntos a partir da gravidez. Neste sentido, as transformações sociais do mundo contemporâneo tem afetado diretamente as relações familiares, fruto das construções ideais e objetivas, que imprimem no contexto familiar um sentido social, sendo assim a família é: [...] uma instituição social construída pela cultura, pelo movimento da história e das relações socioeconômicas da sociedade. Assim, a família contém as determinações mais gerais da sociedade na qual está inserida e, por isso, está em permanente processo de mudanças, expressando, no seu interior, o dinamismo da sociedade, ao mesmo tempo em que, também, provoca novas alterações nas relações culturais e sócio-jurídicas (MIOTO; SILVA;SILVA. 2007 p.200). Conforme Fernandes (2006), ao longo da história a família foi se configurando e reconfigurando tendo em cada fase histórica formas distintas de organização, já que esta não é natural, mas sim uma construção humana que sofre transformações de acordo com as reconfigurações societárias num movimento histórico. Família, segundo Zieguel e Cranley apud Reche e Fiewski [...] pode ser definida como duas ou mais pessoas unidas por algum tipo de laço e que possuem algumas finalidades comuns, onde os laços podem ser legais como no casamento, afetivo ou de relações sanguíneas e os objetivos podem ser econômicos, reprodutivos, afetivos, entre outros (2007, p. 43). Ou seja, não existe um modelo único de família a ser seguido, um padrão, o que existe são arranjos e rearranjos, combinações e recombinações familiares variadas, caracterizada por vínculos afetivos e não consangüíneos. Assim como os arranjos familiares são importantes para a adolescente e para a criança que está por vir, a situação econômica da família também assume papel decisivo neste contexto, pois com a chegada da criança os gastos modificam-se. No 44 quadro 2 observamos a situação econômica e familiar das adolescentes, explicitando o debate sobre novos arranjos familiares. Quadro 2: Situação econômica RENDA FAMILIAR 2 adolescente – 1 sal.mínimo 6 adolescentes – de 1 a 2 sal.mínimo COM QUEM MORA 3 com a família 1 com a família do parceiro 4 só com o parceiro Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. Como podemos observar no quadro 2, 37,5% das adolescentes moram com suas famílias sem o pai da criança, 12,5% moram com a família do parceiro e com o mesmo e 50% moram somente com o parceiro. Constata-se também, que 25% das adolescentes vivem com apenas 1 salário mínimo por mês e 75% vivem com uma renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos mensal. Observa-se que em um futuro próximo, esta adolescente necessitará de um emprego, e como o nível de escolaridade, exposto no quadro 1 é baixo, acabará refletindo na profissão que esta seguirá, pois a baixa escolarização as impossibilita até mesmo de realizar determinados cursos profissionalizantes e de capacitação, cruciais para a entrada no mercado de trabalho. A gravidez na adolescência também faz suscitar algumas reflexões acerca da sexualidade dos jovens, pois a mesma é um processo natural, uma necessidade biológica do desenvolvimento humano. Durante a adolescência há muitas mudanças no pensamento e no modo de agir destes sujeitos sociais, acentuam-se algumas necessidades ligadas a independência, prestígio, afetividade e a sexualidade. Conforme Raiça e Fernandez (1985, p. 12), “O desenvolvimento sexual constitui o ponto de encontro das influências biológicas, psicológicas e morais que moldam a vida do adolescente”. Deve-se ponderar ainda que, a sexualidade da adolescente necessita ser bem trabalhada, pois poderá acarretar diversas mudanças na vida desta, como uma gravidez, por exemplo. 45 Quadro 3a: Sexualidade PERGUNTAS Em algum momento da sua vida você teve acesso à discussão das temáticas “sexualidade” e/ou “prevenção da gravidez”? Você acredita que os temas “sexualidade”, “gravidez” e “doenças sexualmente transmissíveis”, são necessários serem trabalhados com crianças e pré-adolescentes? SIM NÃO 5 3 8 0 Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. Quadro 3b Onde o estes assuntos foram trabalhados? Escola Família Palestras do município 5 1 2 Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. A partir do quadro 3a é possível perceber que 62,5% das adolescentes tiveram acesso à discussão das temáticas “sexualidade” e/ou “prevenção da gravidez” e que 37,5% não o tiveram. Destas 62,5% que relataram ter tido o acesso, indicam a escola com maior porcentagem de discussão a tais temáticas, com a porcentagem de 50%, palestras e cursos do município com 25%, e apenas 12,5% colocaram que tiveram acesso a estas informações em sua família. Raiça e Fernandez (1985) sinalizam que: Educação sexual, em um sentido amplo, compreende todas as ações diretas ou indiretas, deliberativas ou não, conscientes ou não, exercidas sobre um indivíduo (ao longo do seu desenvolvimento) que lhe permitem situar-se, em relação à sexualidade em geral, e à sua vida sexual em particular (p. 38). E complementam: [...] a educação sexual nas escolas deve existir contribuindo para uma melhor informação, orientação, conscientização do jovem sobre os assuntos da sexualidade. A educação sexual segundo os depoentes faz parte da formação geral do jovem: por outro lado a família, na maioria das vezes, não cumpre essa função, ficando para a escola a tarefa de realizar esse tipo de educação (p. 45). Porém, esta educação sexual deveria vir antes da chegada deste período, para que a adolescente estivesse preparada para viver a sua sexualidade da melhor 46 maneira possível, pois como já citado anteriormente, se não bem trabalhada pode desencadear em mudanças drásticas na vida destes sujeitos, como por exemplo uma gravidez não planejada. [...] é fundamental que tanto o poder público quanto a família assumam a responsabilidade de formar e informar os jovens para que consolidem uma visão positiva da própria sexualidade, ou seja, tornem-se capazes para tomadas de decisões maduras e responsáveis. Profissional 1. [...] todavia, esta informação deve ser transformada em conhecimento, assimilado pela jovem de forma que faça sentido no seu cotidiano e realidade. Profissional 2. Sendo esta gravidez não pensada, também não ocorre o planejamento familiar; apesar de este ser um direito garantido na Lei Nº. 9.263, de 12 de janeiro de 1996, a qual estabelece penalidades e dá outras providências, como já citado anteriormente. No Art. 9º desta Lei, é garantido o acesso aos métodos contraceptivos, reforçando o direito ao planejamento familiar. Art. 9º Para o exercício do direito ao planejamento familiar, serão oferecidos todos os métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, garantida a liberdade de opção (BRASIL, 1996, s.p.). Observamos no quadro 4, que 75% das adolescentes não planejaram engravidar e 25% sim. Porém, 62,5% delas possuíam o desejo de engravidar e 37,5% não. Observamos também que somente 25% delas utilizavam métodos contraceptivos quando engravidaram, enquanto 75% não faziam o uso dos mesmos. Quadro 4: Gravidez PERGUNTAS Sua gravidez foi planejada? SIM 2 NÃO 6 Você desejou engravidar? 5 3 Utilizava métodos contraceptivos quando engravidou? 2 6 Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. 47 Neste quadro observamos que a porcentagem das adolescentes que não utilizavam métodos contraceptivos é alto (75%), o que confirma que hoje, temos um excesso de informação, porém pouco conhecimento sobre o assunto. Há campanhas esporádicas sobre os métodos contraceptivos como a camisinha e o anticoncepcional, porém percebemos o baixo índice de adolescentes que fazem o uso dos mesmos, tanto por acreditarem que elas não engravidarão, como também, pela falta de conscientização e real conhecimento da importância dos cuidados em uma relação sexual, evitando tanto doenças sexualmente transmissíveis como também uma gravidez não planejada, conforme pondera a Profissional 1: [...] a gravidez na adolescência pode ocorrer também por inúmeros fatores: uso incorreto dos métodos contraceptivos pela falta de maturidade emocional, (medo de engordar e/ou fazer mal à saúde); por acreditar que isso não vai acontecer com ela; por não querer frustrar o parceiro, solicitando que o mesmo faça o uso do preservativo; por inconsequência, deixando se levar pela emoção momentânea [...]. Ainda no quadro 4, faz-se necessário pensarmos o porquê de apesar de não planejar a gravidez, estas adolescentes possuírem o desejo de engravidar. Uma das possibilidades é que a adolescente estando grávida, por uma imposição cultural, moral e social, não assumirá que não deseja a criança que carrega em seu ventre, incorpora então, o desejo de ser mãe através do “instinto maternal”, como Chodorow (1990) apud Rosa, (2008) sinaliza: A maternagem, embora seja uma condição determinada cultural e ideologicamente às mulheres, é internalizada por ela durante seu processo de socialização como seu ser. Desta forma, a mulher tende a assumi-la a ponto tal de comprometer sua individualidade feminina. A maternagem ou o cuidado de pessoas, como uma atividade que exige determinadas qualidades psicológicas e relacionais que foram assimiladas e organizadas internamente pelas mulheres na qualidade de desejo consciente e inconsciente e apropriada socialmente [...] (p.276). Fabris (2010, p. 18) destaca que “[...] apesar do grande número de estudos e produções feministas terem demonstrado ao longo do tempo, que o denominado amor materno é na verdade um sentimento que independe do sexo, a sociedade ainda atribui à mulher a exclusividade desta capacidade”. E Rosa (2008, p.279) 48 complementa: “O que se observa [...] é a dificuldade de se desencantar a relação mãe/filho que persiste no imaginário social como um mito. A mãe [...] é pressionada socialmente para assumir o provimento do cuidado [...]”. Outra possibilidade de desejar engravidar é que, a adolescência é uma fase da vida em que a insegurança caminha junto com o amadurecimento e a gravidez surge então como possibilidade de manter o relacionamento homem/mulher. Percebe-se desta forma que a família e a escola estão falhando em atender as demandas vigentes no contexto da sociedade, ou seja, não oferecem subsídios necessários para um desenvolvimento saudável dos sujeitos em formação, o Estado então, assume parte desta responsabilidade, como é o caso da gravidez na adolescência, através de projetos, programas, políticas sociais entre outros, amparando, ainda que tardiamente para que as mesmas tenham uma adolescência saudável; é o caso do projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes da cidade de Marechal Cândido Rondon. Nos quadros a seguir (5 e 6), as adolescentes foram questionadas sobre o grupo de apoio que participam/participaram, quanto aos assuntos, a coordenação, a qualidade, a importância, e sobre suas famílias em relação a participação das mesmas no projeto, entre outros. Quadro 5: Projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes de Marechal Cândido Rondon PERGUNTAS ÓTIMO BOM REGULAR RUIM Você acredita que o projeto À 7 1 0 0 espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes é: Os assuntos abordados nas 7 1 0 0 palestras do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes são: A coordenação do projeto À espera 8 0 0 0 do bebê – grupo de adolescentes gestantes é: Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. Neste quadro 5 as adolescentes fazem uma primeira avaliação sobre o projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes, onde 87% quando questionadas sobre o que acham do projeto responderam ser ótimo e apenas 12,5% responderam ser bom, a mesma porcentagem ocorreu quando questionadas sobre 49 os assuntos abordados nas palestras do projeto. Já sobre a coordenação do mesmo, 100% das entrevistadas a consideram ótima. Salientamos, contudo, que ambos devem ser considerados como elementos para uma avaliação aprofundada, pois existe ainda de forma corrente a idéia de que programas, projetos e ações de estado são benefícios e não direito. Logo o entrevistado que está na condição de usuário pode sentir-se na “obrigação” de responder de forma a elogiar e/ou concordar com a proposta de trabalho do referido projeto. Ressaltamos ainda que esta perspectiva não ficou evidente durante o processo de entrevista, porém consideramos importante esta ponderação. Quadro 6: Projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes de Marechal Cândido Rondon PERGUNTAS SIM NÃO Você acredita que o projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes é/foi importante para o futuro do seu bebê? 8 0 Você se sente/sentiu melhor preparada para a chegada do seu bebê após ter participado do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes? 8 0 Sua família apóia/apoiou a sua participação no projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes? 8 0 Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. Quando questionadas sobre a importância do projeto, como se sentiram após a participação neste e sobre a aprovação de suas famílias frente ao grupo, foi unânime as respostas das adolescentes, todas positivas. Quadro 7: Com a sua participação no projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes, onde são abordados vários temas e há uma vasta troca de informações, como você vê uma próxima gravidez? Faria de outra forma? 5 Não fariam nada diferente numa próxima gravidez 3 Fariam de outra forma. Usariam método contraceptivo, planejariam o próximo filho e fariam exames antes, para ter uma gravidez saudável (em termos de saúde). Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. 50 Quando questionadas sobre se fariam de outra forma uma próxima gravidez, 62,5% das adolescentes relataram que não fariam nada diferente. Não faria de outra forma porque na minha primeira gravidez eu não tive dúvidas, já sabia muita coisa e aprendi muito com o grupo de gestantes. Eu quis engravidar, parei de me cuidar e aí engravidei, e meu marido sabia, ele também queria um filho. A próxima gravidez vai ser mais fácil ainda porque eu não tenho mais nenhuma dúvida e a gente ta muito feliz. (Adolescente 1, de 17 anos). Eu não faria nada de diferente porque ser mãe é tudo de bom. Eu to muito feliz hoje com meu filho e meu marido. Quando engravidei achei que seria tudo muito ruim porque a gente não tem muita coisa né? Só ele (marido) trabalha. E pensei que minha mãe iria me matar, porque ela sempre falava pra cuidar pra não pegar barriga. Mas depois a gente percebe que não é tão ruim assim, ter um filho sendo adolescente não é tão ruim assim. (Adolescente 2, de 16 anos). Apesar de serem adolescentes, algumas planejaram juntamente com seus companheiros a gravidez, como é o caso da Adolescente 1, a qual relata o uso de métodos contraceptivos bem como o desejo de ser mãe, como já mencionado no quadro 4; Esta acredita possuir maturidade suficiente para ser esposa, dona de um lar, ser mãe, o que vêm de acordo com o que sinaliza Losacco (2010, p. 67) “As idades não têm caráter universal. As próprias noções de infância, juventude e vida adulta são resultantes da história, e variam segundo as formações humanas”. Esta é uma situação muito peculiar, pois tais anseios provenientes de uma adolescente rompe (ou tenta romper) com a cultura vigente, indo contra a cultura social que vivenciamos, fazendo com que haja um reposicionamento no manejo com estes sujeitos, porém resultando em uma falta de instrumental necessário para trabalhar com esta realidade. Em contrapartida, 37,5% das entrevistadas relataram que fariam sim, de outra forma uma próxima gestação, como alguns relatos: Hoje eu vejo que não é tão simples assim ter um filho, engravidar nessa idade não é fácil, eu tive que abandonar o colégio, meu trabalho, e nem o serviço de casa dá pra gente fazer direito quando tem criança pequena. Pra engravidar de novo, vou pensar antes, conversar com meu marido pra ver se ele quer outro filho, com minha mãe; porque agora eu sei como me cuidar, dá pra decidir isso aí. [...] o grupo (de adolescentes gestantes) ajuda bastante, nossa, tinha coisa que eu nem imaginava que agora eu sei. (Adolescente 3, de 18 anos). 51 Eu ia sim fazer de outra forma, principalmente com a minha saúde, porque quando a gente engravida nem sabe se tem doença ou não, e vai que o filho da gente nasce com doença séria, daí não tem o que fazer; Iria pensar melhor antes de engravidar, porque eu era muito nova, mas isso a gente pensa agora, que tem informação sobre tudo e depois que já tem um filho né? É sempre assim. (Adolescente 4, de 18 anos). Eu acho que a gente tem que engravidar quando a gente quer, e não assim, quando percebe que tá grávida, já foi não tem mais o que fazer. Se eu for ter outro filho vou planejar, tomar anticoncepcional, guardar dinheiro. Agora a gente é mais experiente, sabe das coisas. O que eu ia fazer diferente é não ter filho tão cedo, porque eu acho que tem idade certa pra ter filhos. (Adolescente 5, de 17 anos). A partir destes relatos, podemos perceber que as adolescentes que dizem pensar uma próxima gravidez de forma diferente, sinalizam que hoje estão mais experientes, possuem mais informações, devido ao projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes, apesar de este amadurecimento ter sido forçado pela sua condição de grávida; a adolescente não deixa de ser adolescente, mas passa a ser mãe, sendo um período duplamente significante, com responsabilidades, direitos e deveres diferentes daqueles que possuía anterior a gravidez, necessitando ainda maior atenção. Confirma-se também, o fato da adolescente ter que abandonar seus estudos por conta da gravidez, como também da falta de real conhecimento sobre métodos contraceptivos, e consequentemente a precariedade da educação sexual. Faz-se então necessário o questionamento sobre o que as adolescentes acreditam ter faltado para que não ocorresse a gravidez na adolescência, conforme o quadro 8. Quadro 8: Hoje, o que você percebe que lhe faltou em termos de informação para que você não engravidasse na sua adolescência? 6 Não faltou informação. O que faltou foi falta de cuidado, de reflexão, responsabilidade e de „vergonha na cara‟. 2 Faltou diálogo em casa, amizade e proximidade com a mãe, amizades maduras. Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. 52 Indo de encontro com o que 75% das adolescentes responderam quando questionadas sobre o que faltou de informação para que esta não engravidasse, a profissional 2 enfatiza: Acredito que a gravidez na adolescência no município não deve ser considerada exclusivamente como falta de informação; campanhas na mídia, escolas, comunidade em geral são realizadas sistematicamente informando os riscos do sexo sem proteção [...]. Os apontamentos feitos pela profissional 2 remete-nos à reflexão sobre o que é informação, como esta é transmitida para as adolescentes e, mais ainda, se é transformada em conhecimento; nesta perspectiva temos alguns apontamentos das adolescentes: Pra mim não faltou informação, o que faltou foi cuidado. Eu sabia que poderia engravidar, isso todo mundo sabe na nossa idade; Se não fica sabendo de um jeito fica de outro. Só que a gente faz e não pensa, porque assim, não tem como na hora lá, parar tudo; a gente nem pensa em usar camisinha né? Fala sério, não tem como! (risos). (Adolescente 5, de 17 anos). A gente é muito boba, deixa as coisas acontecerem. Minha mãe sempre falava do o que podia acontecer, mas a gente sempre pensa que com a gente não vai acontecer. Eu podia ter me cuidado, ela (mãe) sempre me falava „olha menina, não vai fazer besteira, quando vê tá de barriga‟ e também todo mundo sabe como se cuidar, e eu engravidei. Não falta informação, falta a gente se cuidar. Mas também não é ruim, porque to com essa princesa agora comigo. (Adolescente 2, de 16 anos). Minha mãe fala que o que faltou foi vergonha na cara, porque eu tenho irmãs mais velhas que também já são mães e ela falava pra não fazer „besteira‟ como elas, ficar grávida sem marido. Na verdade eu sabia, mas eu acho que foi falta de vergonha na cara mesmo, eu queria ir lá e fazer o que eu fiz, talvez eu tivesse que ter me cuidado antes pra não engravidar, só isso. Só que isso sempre a gente pensa depois, antes não, só quer sair e „fazer‟ mesmo. (Adolescente 6, de 16 anos). Na verdade informação todo mundo tem, porque sempre tem propaganda na TV sobre essas coisas, mas eu não sabia como tomar direitinho o remédio (anticoncepcional), eu fui, peguei na farmácia básica e tomei, mas não fiz direito e engravidei. Depois do grupo (de adolescentes gestantes) que eu fui aprender como tomar certinho e por isso não engravidei mais. Eu acho que isso acontece com um monte de meninas, porque minhas amigas também não sabiam como tomar, eu que ensinei elas. (Adolescente 7, de 16 anos). 53 Confirma-se a partir destes depoimentos das adolescentes que o que na verdade nos falta hoje é conhecimento sobre métodos contraceptivos, sobre a sexualidade. As informações são reproduzidas e as adolescentes não sabem o que fazer com esta elas. Deve-se ter uma atenção maior com a educação sexual, com métodos contraceptivos, e principalmente, saber ensinar, efetivar o conhecimento com estas para que não venham a engravidar novamente se assim não desejarem. Os relatos de adolescentes que disseram haver sim, falta de informação, remetem sempre à falha no contexto familiar, como pode-se observar nos seguintes apontamentos: Minha mãe nunca conversou comigo, ela conversava e era muito amiga da minha outra irmã, mas comigo não; a gente nunca foi muito próxima. Ela sempre brigava quando via eu com o pai do meu filho (era um namoradinho da minha rua). Mas ela nunca me falava o porquê que eu não podia ficar assim com ele, ir na casa dele, ela só brigava e não deixava eu ir. Aí eu comecei ir escondido, e era bom quando a gente ficava juntos, não entendia porque minha mãe não queria que eu fizesse essas coisas, achava que era porque não gostava de mim, ainda acho, porque ela nem ligou que eu saí de casa e vim morar com ele; ainda disse que se eu fiz „besteira‟, eu que cuidasse. Mas tudo que aprendi, aprendi sozinha, com ele (marido). Com minha menina vou fazer diferente, explicar que é bom e que é bem por isso que tem que cuidar, o que adianta falar que não é bom? (Adolescente 8, de 14 anos). Lá em casa ninguém falava disso, e nem falam hoje. Eu era amiga do meu pai mais do que da minha mãe, mas minha mãe deveria falar né, eu acho que mãe é pra isso. Aí como eu não tinha amizade com gente mais velha, como era pra eu aprender? Aprendi fazendo. (Adolescente 4, de 18 anos). A partir destes depoimentos, voltamos à discussão sobre o papel da família na educação sexual dos filhos, e remete ainda, àquilo que tratamos anteriormente neste estudo sobre a educação sexual vir antes da chegada deste período. Percebemos na fala destas adolescentes a falta de diálogo em casa, bem como uma negação da parte dos pais em conversar sobre a sexualidade das mesmas, e aceita-la como um processo natural da vida de todas as pessoas, como Farinha e Bruns (2006, p. 66) apud Bruns e Trindade (1995) e Vitielo (1997) apontam: 54 Percebemos que, [...] os pais e responsáveis têm uma atitude de omissão e até de negação desse fato, não conversando com o jovem sobre sexualidade. Esse é um tema difícil e, para muitos, considerado um tabu; quando o fazem, os adultos partem do seu ponto de vista, ao considerar certas ou erradas as atitudes do jovem, de como deve se comportar dentro da estrutura repressiva da sociedade. E complementam que “[...] esse comportamento dos adultos tende a levar os jovens a vivenciarem a sexualidade, o prazer que seu corpo proporciona e a curiosidade com o corpo do sexo oposto, de maneira conflituosa e angustiante” (p. 66-67). Confirma-se ainda, a partir dos depoimentos das adolescentes 4 e 8, que estas consideram a mãe como sujeito central na educação dos filhos, principalmente no que diz respeito a educação sexual, conservando uma visão acerca da maternidade onde cuidados, orientação e educação estão intrinsecamente ligados à mãe, como já fundamentamos anteriormente a partir do quadro 4 e como Fabris (2010) sinaliza: Vemos então, a família e a mulher assumirem posições iguais, visto que no interior do grupo familiar o papel feminino se internaliza e é solicitado socialmente, constituindo-se espaço social de e para o provimento do cuidado, na tensão entre afirmações e negações de individualidades, possibilitando ao Estado reconfigurar-se, assumindo cada vez mais a distancia que o modelo liberal busca em relação aos sujeitos usuários das políticas públicas (p. 20). Chama também a atenção o fato de que apesar das políticas públicas trabalharem como uma idéia de diversidade de famílias é ainda muito presente os modelos padronizados de papeis familiares, enfatizando-se especialmente o estereótipo do comportamento materno, o que continua a movimentar os serviços a partir de expectativas de papéis típicos onde o cuidado com os “improdutivos” cabe à mulher, à cuidadora, a quem historicamente se nega o direito de ser cuidada. (p. 21). Observamos também, que estas adolescentes tiveram que amadurecer sozinhas, compreender o mundo e suas particularidades a partir daquilo que pensavam ser o correto ou ainda mesmo vivendo por impulso, fazendo com que este amadurecimento fosse muitas vezes precoce e cheio de conflitos, como é o caso da adolescente 8, que com apenas 14 anos já é mãe, dona de casa, esposa, mulher, e 55 que, ao mesmo tempo, acabou de entrar na adolescência. Keniston (1960) apud Losacco (2010, p. 67) coloca que: Crescer é sempre um problema [...]. Acarreta o abandono daquelas prerrogativas especiais, visões do mundo, discernimentos e prazeres que são definidos pela cultura como especificamente “criancices”, substituindo-as por direitos, responsabilidades, perspectivas e satisfações que são adequadas para o “adulto” culturalmente definido. Embora os conceitos de “infantil” e “adulto” sejam diferentes de uma cultura para outra, todas exigem alguma mudança nas maneiras habituais de a criança pensar, sentir e agir – mudanças que envolvem deslocação psíquica e, por conseguinte, constitui um “problema” para o indivíduo e a cultura. (...) nas sociedades em que a transição para a situação adulta é incomumente árdua, os jovens muitas vezes formam sua própria “cultura jovem” com um conjunto especial de valores e instituições antiadultas, quando podem, pelo menos temporariamente, negar a vida temida do adulto. Mais, seja como for, as crianças precisam ser induzidas a aceitar papéis para a sociedade continuar”. Uma vez que a adolescente se encontra grávida, necessita de atenção especial no o que se refere às particularidades tanto de ser mãe quanto de ainda estar em processo de formação, e é nesta perspectiva que o projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes de Marechal Cândido Rondon se coloca, buscando esclarecimento sobre sexualidade, corpo, gravidez, feto, sobre seus direitos como adolescente e mães, como também objetivando evitar uma segunda gravidez na adolescência, como sinaliza Mioto (2009, p. 500) Os processos socioassistenciais correspondem ao conjunto de ações profissionais desenvolvidas, a partir de demandas singulares, no âmbito da intervenção direta com os usuários em contextos institucionais. [...] a lógica das ações socioeducativas, realizadas no escopo dos processos socioassistenciais, está centrada nos usuários, enquando sujeitos de Direitos. A profissional 1 enfatiza: Os grupos de apoio visam o fortalecimento da futura mamãe, pois quando são advindas de um contexto onde há a falta e/ou precariedade de suporte familiar, as mesmas se sentem desprotegidas, vulneráveis, abaladas emocionalmente. Assim, relações sociais e afetivas de apoio podem influenciar positivamente no bem estar psicológico das futuras mamães e na sua capacidade para a maternidade. [...] 56 Pensando nisso é que nós, profissionais Assistentes Sociais da Saúde e a Assistente Social do SESC deste município nos unimos com o objetivo de contribuir para que as adolescentes gestantes possam, através de uma gama diversificada de informações, criar laços de afetividade com o bebê que estão gerando; se sentirem acolhidas, mostrando-lhes oportunidades de retomar seu papel de mulher, adolescente, cidadã, estudante, juntamente com o compromisso com seu novo papel social, o de ser mãe. E a Profissional 2 complementa: Estas Políticas (Saúde e Assistência) vem intervindo na gestação na adolescência, promovendo um atendimento humanizado, compreendendo e respeitando o momento que a gestante vem vivendo, através do incentivo e auxílio na realização do pré-natal, do grupo “À espera do bebê”, orientando, auxiliando e acompanhando as adolescentes. [...] este profissional (Assistente Social) atua através do grupo com o objetivo de garantir o acesso aos direitos destes usuários, promovendo um espaço de discussão e apreensão de saberes referentes a gestação, aos cuidados com o bebê e com a mãe, ao planejamento familiar, entre outras questões de interesse do grupo. Através dos relatos das profissionais de Serviço Social, coordenadoras do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes, e também através dos quadros 5 e 6, percebemos que este vem de encontro com as necessidades das adolescentes gestantes. De acordo com Mioto (2009) O processo reflexivo, característico das ações socioeducativas, se desenvolve no percurso que o assistente social faz com os usuários para buscar respostas para suas necessidades, imediatas ou não. Pauta-se no princípio de que as demandas que chegam às instituições, trazidas por indivíduos, grupos ou famílias, são reveladoras de processos de sujeição à exploração, de desigualdades nas suas mais variadas expressões ou de toda sorte de iniquidades sociais. Ele tem como objetivo a formação da consciência crítica. Sendo assim, faz-se necessário questionarmos às adolescentes entrevistadas como estas se sentem participando ou após ter participado do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes, conforme o quadro 9. 57 Quadro 9: Como você se sente participando/tendo participado do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes? 1 relatou estar feliz 2 melhor preparada para uma próxima gravidez. 5 se sentem preparadas para serem mães, seguras tanto consigo mesmas quanto com seus bebês. (cuidados). E destas, 2 relataram que o grupo de adolescentes gestantes é muito bom pois esclarece, tira dúvidas, ensina bastante, como também cria vínculos, amizades, o que é muito bom. Fonte: Pesquisa realizada com adolescentes grávidas nos meses de agosto e setembro de 2011. A partir deste quadro podemos perceber como as adolescentes se sentem participando ou tendo participado do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes. 12,5% disseram estar feliz, 25% se sentem melhor preparadas para uma próxima gravidez e 62,5% estão melhor preparadas para serem mães, se sentem seguras tanto consigo mesmas quanto com seus bebês. Sinalizaram o grupo de adolescentes gestantes me Marechal Cândido Rondon como sendo muito bom, pois esclarece as dúvidas que as mesmas possuem, ensina, auxilia, além de criar vínculos; conforme os relatos das adolescentes: Eu fiquei feliz em ter participado do grupo. Me sinto uma pessoa bem informada, bem preparada pra cuidar do meu bebê, pra fazer tudo direitinho com ele e se eu tiver mais filhos também. (Adolescente 7, de 16 anos). O grupo ajuda bastante a gente com a gravidez porque a gente aprende muita coisa, tem informação sobre tudo; a gente sai de lá sabendo como cuidar de uma criança, como cuidar da gente também, e se precisar de alguma coisa a gente pode falar, até de médico. (Adolescente 1, de 17 anos). Ah, eu tava totalmente perdida quando fui no grupo, fui meio que obrigada a ir e quando fui participando percebi que não era um grupo chato, mas bem legal. Aprendi muita coisa, tanta coisa que nem sei. Hoje sei me cuidar pra não engravidar mais, sei cuidar da minha filha, sei onde correr se precisar de ajuda. E também elas (coordenadoras) foram muito queridas né, toda quinta-feira dava vontade de ir lá no grupo, ver todo mundo, conversar e aprender. (Adolescente 2, de 16 anos). Me sinto mais segura e preparada para dar muito carinho para o meu bebê. O grupo me ensinou muitas coisas que eu nem sabia. Hoje estou preparada e orgulhosa do grupo que participei e de mim mesma, por tudo o que aprendi; também pelas amizades que fiz lá. Eu to muito feliz. (Adolescente 8, de 14 anos). 58 Através destes relatos podemos perceber a importância que este projeto de adolescentes grávidas tem na vida destas meninas, pois apesar de possuírem inúmeras particularidades, todas possuem o anseio de conseguir cuidar do seu bebê, bem como dar a ele aquele suporte que para a maioria destas, faltou. É nesta perspectiva que o projeto de adolescentes gestantes procura trabalhar, dando suporte às gestantes para que possam compreender a sexualidade de forma positiva e saudável, como também para que sejam capazes de tomar decisões maduras e responsáveis apesar da pouca idade, como uma próxima gestação, por exemplo. 59 CONSIDERAÇÕES FINAIS No processo de investigação tivemos como objeto de estudo o projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes no município de Marechal Cândido Rondon, Paraná. Para tanto, questionamos se os objetivos deste projeto estão sendo alcançados e para isto, discutimos as políticas de assistência social e saúde. Percebemos através deste estudo, a dificuldade de concreticidade existente nas políticas sociais. A gravidez na adolescência não é prioridade nem da Política se Saúde nem da Política de Assistência Social, as quais apenas amenizam a realidade posta, ou seja, atuam sob a gravidez na adolescência quando a adolescente já se encontra grávida; não é investido em prevenção efetiva da gravidez precoce. A educação sexual deveria vir antes da chegada deste período na adolescente, preparando esta para vivenciar sua sexualidade da melhor maneira possível, porém isto não acontece. Percebemos através de nosso estudo, que não basta acreditar na prevenção da gravidez e na educação sexual de qualidade a partir de informações esporádicas da mídia, é necessário um trabalho em conjunto, entre família, escola e sociedade onde o sujeito que está em processo de formação, consegue a partir de informações concretas obter uma tomada de consciência sobre tais assuntos. Para isto, faz-se necessário um diálogo aberto que faça a interlocução que o jovem necessita para uma compreensão efetiva, tanto da sexualidade quanto das conseqüências que esta pode acarretar. Desta forma, há que se pensar o trabalho que o projeto de adolescentes gestantes realiza na cidade de Marechal Cândido Rondon. O projeto referido articula-se a partir da perspectiva da aproximação intersetorial de duas políticas, quais sejam: Assistência Social e Saúde, porém percebemos a fragilidade da intersetorialidade diante desta realidade, pois esta não se efetiva como está contemplada na Constituição Federal. A intersetorialidade não se efetiva pelo fato de duas ou mais políticas dividirem um grupo, um projeto, ou uma ação, mas sim em pensarem perspectivas, planejamento, execução, avaliação e até mesmo financiamento de forma conjunta, sempre contemplando todas as políticas envolvidas, e acima de tudo abordando o objeto de sua intervenção numa perspectiva de integralidade, o que não acontece no projeto de adolescentes 60 gestantes de Marechal Cândido Rondon. Há sim, um exercício de aproximação intersetorial, porém com divisão de poderes e funções na execução das políticas sociais envolvidas com o processo. Em relação ao objetivo principal do projeto de adolescentes gestantes, sendo a prevenção de uma segunda gravidez na adolescência, está alcançando em partes, pois podemos perceber através das entrevistas que 62,5% das adolescentes não vêem a gravidez precoce como sendo um problema. Porém, estas possuem hoje o conhecimento que podem escolher quando isto vai ocorrer, utilizando-se de métodos contraceptivos. Contudo, o trabalho realizado pelas assistentes sociais no projeto À espera do bebê – Grupo de adolescentes gestantes é de extrema importância pois como já citado no decorrer do nosso estudo, este profissional possui maior leitura da realidade buscando a garantia de direitos, visando a ampliação da cidadania. Assim procura-se proporcionar à gestante uma gravidez saudável e segura compreendendo que uma vez estando grávida, a prática do profissional deve ir de encontro com aquilo que as meninas necessitam no momento, buscando esclarecer dúvidas, e instruí-las para buscarem a efetivação de seus direitos. Percebe-se um descaso por meio do poder público com a educação sexual, visando tanto a prevenção de doenças como da gravidez precoce, pois o número de gestantes adolescentes no referido município é muito alto. Desta forma o projeto À espera do bebê é de extrema importância, pois apesar de atingir um número pequeno de adolescentes (se comparado ao número de gestantes adolescentes), busca oferecer instrumentos que possibilitem o desenvolvimento de uma consciência e compreensão das adolescentes. Finalizamos este trabalho sinalizando a necessidade de investimentos públicos em projetos, programas, seja na atenção básica, seja na educação capazes de mudar o contexto atual, visto que como demonstrou o trabalho a temática da gravidez na adolescência movimenta não só com a questão em si, mas ela traz também muito da subjetividade das nossas relações e da nossa cultura, fato que a torna tão carente de aproximações e proposições. 61 REFERÊNCIAS ABRANCHES, Sérgio Henrique. Política social e combate à pobreza. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. ACOSTA Ana Rojas. VITALLI, Maria Amália Faller. Família: Redes, Laços e Políticas Publicas. 2ª ed. In: LOSACCO, Silvia. O jovem e o contexto familiar. 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São Paulo:Cultura Editores Associados, 1991. 66 APÊNDICES 67 APÊNDICE A – TERMOS DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 68 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título do Projeto:ADOLESCENTES GRÁVIDAS: PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTESDO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Pesquisador responsável: Diuslene Rodrigues Fabris Pesquisador colaborador: Laiara Weschenfelder Convidamos a participar de nosso projeto que tem o objetivo de discutir a efetividade do projeto À espera do bebê- adolescentes gestantes da Secretaria de Saúde, de Assistência e SESC de Marechal Cândido Rondon, para isso será realizado o seguinte tratamento a sua pessoa, que consiste em uma entrevista semiestruturada, com dia, horário e local definidos pelo entrevistado. A pesquisa não terá pagamento para nenhuma das partes. A não ser o custeio de transporte e refeição (se for o caso) para o sujeito da pesquisa, pago pelo pesquisador. No entanto, o benefício que você terá, é no sentido de que essa pesquisa estará contribuindo para que a sociedade e os executores de Políticas Públicas possam pensar a gravidez na adolescência sob outras perspectivas, como também o aperfeiçoamento do projeto À espera do bebê - adolescentes gestantes. Durante a execução do projeto pode ser que você sinta algum desconforto, constrangimento, ou até mesmo dúvidas, e se isso ocorrer, pode ligar (a cobrar) nos números tanto da pesquisadora colaboradora Laiara (45) 99330582/(45) 91012816, quanto também no telefone da professora pesquisadora, Diuslene Rodrigues Fabris (45) 88047743. Poderá ligar também para o Comitê de Ética no número (45) 32203272, caso necessitar de maiores informações. Lembrando que, caso queira desistir de participar da pesquisa, pode o fazer a qualquer tempo, avisando o pesquisador, mesmo que por telefone. Informamos que será mantido sigilo de sua identidade, e que os dados serão utilizados somente para fins científicos: trabalho de conclusão de curso e publicação de artigo científico, não havendo qualquer constrangimento ou penalização frente a benefícios concedidos sociais.Aproveitamos para convidar á assistir a defesa do trabalho em data a ser definida, para que tenha contato com o resultado da pesquisa. 69 Esse termo será entregue em duas vias, onde um ficará com o sujeito da pesquisa. Declaro estar ciente do exposto e desejo participar do projeto de pesquisa. Marechal Cândido Rondon, _____ de __________ de 2011. Nome do sujeito/ou responsável:________________________________________ Assinatura:_________________________________________________________ Nós Diuslene Rodrigues Fabris e Laiara Weschenfelder declaramos que fornecemos todas as informações referentes ao projeto ao participante e/ou responsável. _____________________________ _______________________________ Diuslene Rodrigues Fabris Pesquisador Responsável Fone: (45) 88047743 Aluna: Laiara Weschenfelder Pesquisador colaborador Fone: (45) 99330582/(45)91012816 70 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título do Projeto: ADOLESCENTES GRÁVIDAS: PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTES DO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Pesquisador responsável: Diuslene Rodrigues Fabris Pesquisador colaborador: Laiara Weschenfelder Convidamos a participar de nosso projeto que tem o objetivo de discutir a efetividade do projeto À espera do bebê - adolescentes gestantes da Secretaria de Saúde, de Assistência e SESC de Marechal Cândido Rondon, para isso será realizado o seguinte tratamento a sua pessoa, que consiste em uma entrevista semiestruturada, com dia, horário e local definidos pelo entrevistado. A pesquisa não terá pagamento para nenhuma das partes. A não ser o custeio de transporte e refeição (se for o caso) para o sujeito da pesquisa, pago pelo pesquisador. No entanto, o benefício que você terá, é no sentido de que essa pesquisa estará contribuindo para que a sociedade e os executores de Políticas Públicas possam pensar a gravidez na adolescência sob outras perspectivas, como também o aperfeiçoamento do projeto À espera do bebê - adolescentes gestantes. Durante a execução do projeto pode ser que você sinta algum desconforto, constrangimento, ou até mesmo dúvidas, e se isso ocorrer, pode ligar (a cobrar) nos números tanto da pesquisadora colaboradora Laiara (45) 99330582/(45) 91012816, quanto também no telefone da professora pesquisadora, Diuslene Rodrigues Fabris (45) 88047743. Poderá ligar também para o Comitê de Ética no número (45) 32203272, caso necessitar de maiores informações. Lembrando que, caso queira desistir de participar da pesquisa, pode o fazer a qualquer tempo, avisando o pesquisador, mesmo que por telefone. Informamos que será mantido sigilo de sua identidade, e que os dados serão utilizados somente para fins científicos: trabalho de conclusão de curso e publicação de artigo científico, não havendo qualquer constrangimento ou penalização frente a benefícios concedidos sociais. Aproveitamos para convidar á assistir a defesa do trabalho em data a ser definida, para que tenha contato com o resultado da pesquisa. 71 Esse termo será entregue em duas vias, onde um ficará com o sujeito da pesquisa. Declaro estar ciente do exposto e autorizo o sujeito_____________________________________ a participar da pesquisa. Marechal Cândido Rondon, _____ de __________ de 2011. Nome do sujeito/ou responsável:________________________________________ Assinatura:_________________________________________________________ Nós Diuslene Rodrigues Fabris e Laiara Weschenfelder declaramos que fornecemos todas as informações referentes ao projeto ao participante e/ou responsável. _____________________________ _______________________________ Diuslene Rodrigues Fabris Pesquisador Responsável Fone: (45) 88047743 Aluna: Laiara Weschenfelder Pesquisador colaborador Fone: (45) 99330582/(45)91012816 72 APÊNDICE B: – FORMULÁRIO DE ENTREVISTA COM AS ADOLESCENTES 73 FORMULÁRIO DA ENTREVISTA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO PROFESSORA ORIENTADORA DE TCC: ACADÊMICO (A): LAIARA WESCHENFELDER OBJETIVO GERAL DA PESQUISA:DISCUTIR A EXECUÇÃO DO PROJETO À ESPERA DO BEBÊ - ADOLESCENTES GESTANTESDA SECRETARIA DE SAÚDE, DE ASSISTÊNCIA E SESC DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA SUJEITOS DA PESQUISA: ADOLESCENTES GESTANTES DO PROJETO “À ESPERA DO BEBÊ” DA CIDADE DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON E EGRESSAS NO ANO DE 2010. DATA DO QUESTIONÁRIO: ____/____/2011 Nº DA ENTREVISTA: _____________ PERGUNTAS: 01. Qual sua idade? ( ) de 10 a 14 anos ( ) de 14 a 18 anos 02. Você estuda? ( ) Sim ( ) Não ( ) Desistiu 03. Em qual série? ( ) 1º a 4º série ( ) 5º a 8º série ( ) Ensino Médio. 04. Qual seu estado civil? ( ) Solteira ( ) Casada ( ) Relação estável (convive com o companheiro) 05. Qual a renda familiar da família onde você reside atualmente? ( ) até 1 salário mínimo mínimos ( ) de 1 a 2 salários mínimos ( ) de 2 a 3 salários 74 ( ) mais de 3 salários mínimos 06.Com quem você mora? ( )Família ( ) Família do parceiro ( ) Só com o parceiro ( ) Sozinha 07. Em algum momento da sua vida você teve acesso a discussão das temáticas “sexualidade” e/ou “prevenção da gravidez”? ( ) Sim ( ) Não 08. Se sim, onde esse assunto foi trabalhado? ( ) Escola ( ) Família ( ) Palestras/cursos do município 09.Você acredita que os temas “sexualidade”, “gravidez” e “doenças sexualmente transmissíveis”, são necessários adolescentes? ( ) Sim ( ) Não 10. Sua gravidez foi planejada? ( ) Sim ( ) Não 11. Você desejou engravidar? ( ) Sim ( ) Não serem trabalhados com crianças e pré- 75 12. Você se utilizava de métodos contraceptivos quando engravidou? ( ) Sim ( ) Não 13. Quem lhe encaminhou para o projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes de Marechal Cândido Rondon? ( ) Secretaria de Assistência do Município ( ) Secretaria de Saúde ( ) SESC ( ) Outros 14. Você acredita que o projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes é: ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 15. Os assuntos abordados nas palestras do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes são: ( ) Ótimos ( ) Bons ( ) Regulares ( ) Ruins 16. Você acredita que o projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes é/foi importante para o futuro do seu bebê? ( ) Sim ( ) Não 17. Você se sente/sentiu melhor preparada para a chegada do seu bebê após ter participado do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes? 76 ( ) Sim ( ) Não 18. A coordenação do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes é: ( ) Ótima ( )Boa ( ) Regular ( ) Ruim 19. Sua família apoia a sua participação no projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestante? ( ) Sim ( ) Não 20. Com a sua participação no projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes , onde são abordados vários temas e há uma vasta troca de informações, como você vê uma próxima gravidez? Faria de outra forma? Comente. 21. Hoje, o que você percebe que lhe faltou em termos de informação para que você não engravidasse na sua adolescência? 22. Como você se sente participando/tendo participado do projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestante? 77 APÊNDICE C – FORMULÁRIO DE ENTREVISTA COM AS PROFISSIONAIS 78 FORMULÁRIO DE ENTREVISTA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO PROFESSORA ORIENTADORA DE TCC: ACADÊMICO (A): LAIARA WESCHENFELDER OBJETIVO GERAL DA PESQUISA:DISCUTIR A EXECUÇÃO DO PROJETO À ESPERA DO BEBÊ - ADOLESCENTES GESTANTESDA SECRETARIA DE SAÚDE, DE ASSISTÊNCIA E SESC DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Entrevista aberta SUJEITOS DA PESQUISA: COORDENADORAS DO PROJETO À ESPERA DO BEBÊ – GRUPO DE ADOLESCENTES GESTANTES DA CIDADE DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON. DATA DA ENTREVISTA: Nº DA ENTREVISTA: _____________ ____/____/2011 PERGUNTAS: 01. Qual sua idade? 02. Em que local você se formou? 03. Em qual ano foi sua colação de grau? 04. Quanto tempo você atua como Assistente Social? 05. Como você avalia os números de gravidez na adolescência na cidade de Marechal Cândido Rondon e a que/quem atribui tais números? 06. Na sua visão, de que forma as Políticas de Saúde e de Assistência intervém na adolescência e prevenção da gravidez? 07. Qual a importância e a contribuiçãodo Serviço Social frente a coordenaçãodo projeto À espera do bebê – grupo de adolescentes gestantes da cidade de Marechal Cândido Rondon? 79 ANEXOS 80 ANEXO A – LEI Nº 9.263, DE 12 DE JANEIRO DE 1996. 81 PLANEJAMENTO FAMILIAR LEI N. 9.263, DE 12 DE JANEIRO DE 1996 Regula o § 7º do artigo 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades e dá outras providências. O Presidente da República: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DO PLANEJAMENTO FAMILIAR Artigo 1º - O planejamento familiar é direito de todo cidadão, observado o disposto nesta Lei. Artigo 2º - Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal. Parágrafo único - É proibida a utilização das ações a que se refere o caput para qualquer tipo de controle demográfico. Artigo 3º - O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde. Parágrafo único - As instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde, em todos os seus níveis, na prestação das ações previstas no caput, obrigam-se a garantir, em toda a sua rede de serviços, no que respeita a atenção à mulher, ao homem ou ao casal, programa de atenção integral à saúde, em todos os seus ciclos vitais, que inclua, como atividades básicas, entre outras: I - a assistência à concepção e contracepção; II - o atendimento pré-natal; III - a assistência ao parto, ao puerpério e ao neonato; IV - o controle das doenças sexualmente transmissíveis; V - o controle e prevenção do câncer cérvico-uterino, do câncer de mama e do câncer de pênis. Artigo 4º - O planejamento familiar orienta-se por ações preventivas e educativas e pela garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade. Parágrafo único - O Sistema Único de Saúde promoverá o treinamento de recursos humanos, com ênfase na capacitação do pessoal técnico, visando a promoção de ações de atendimento à saúde reprodutiva. Artigo 5º - É dever do Estado, através do Sistema Único de Saúde, em associação, no que couber, às instâncias componentes do sistema educacional, promover condições e recursos informativos, educacionais, técnicos e científicos que assegurem o livre exercício do planejamento familiar. Artigo 6º - As ações de planejamento familiar serão exercidas pelas instituições públicas e privadas, filantrópicas ou não, nos termos desta Lei e das normas de funcionamento e mecanismos de fiscalização estabelecidos pelas instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde. Parágrafo único - Compete à direção nacional do Sistema Único de Saúde definir as normas gerais de planejamento familiar. Artigo 7º - É permitida a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros nas ações e pesquisas de planejamento familiar, desde que autorizada, fiscalizada e controlada pelo órgão de direção nacional do Sistema Único de Saúde. Artigo 8º - A realização de experiências com seres humanos no campo da regulação da fecundidade somente será permitida se previamente autorizada, fiscalizada e controlada pela direção nacional do Sistema Único de Saúde e atendidos os critérios estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde. Artigo 9º - Para o exercício do direito ao planejamento familiar, serão oferecidos todos os métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, garantida a liberdade de opção. Parágrafo único - A prescrição a que se refere o caput só poderá ocorrer mediante avaliação e acompanhamento clínico e com informação sobre os seus riscos, vantagens, desvantagens e eficácia. Artigo 10 - Vetado. Artigo 11 - Vetado. Artigo 12 - É vedada a indução ou instigamento individual ou coletivo à prática da esterilização cirúrgica. 82 Artigo 13 - É vedada a exigência de atestado de esterilização ou de teste de gravidez para quaisquer fins. Artigo 14 - Cabe à instância gestora do Sistema Único de Saúde, guardado o seu nível de competência e atribuições, cadastrar, fiscalizar e controlar as instituições e serviços que realizam ações e pesquisas na área do planejamento familiar. Parágrafo único - Vetado. CAPÍTULO II DOS CRIMES E DAS PENALIDADES Artigo 15 - Vetado. Artigo 16 - Deixar o médico de notificar à autoridade sanitária as esterilizações cirúrgicas que realizar. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Artigo 17 - Induzir ou instigar dolosamente a prática de esterilização cirúrgica. Pena - reclusão, de um a dois anos. Parágrafo único - Se o crime for cometido contra a coletividade, caracteriza-se como genocídio, aplicando-se o disposto na Lei n. 2.889, de 1º de outubro de 1956. Artigo 18 - Exigir atestado de esterilização para qualquer fim. Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa. Artigo 19 - Aplica-se aos gestores e responsáveis por instituições que permitam a prática de qualquer dos atos ilícitos previstos nesta Lei o disposto no caput e nos §§ 1º e 2º do artigo 29 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal. Artigo 20 - As instituições a que se refere o artigo anterior sofrerão as seguintes sanções, sem prejuízo das aplicáveis aos agentes do ilícito, aos co-autores ou aos partícipes: I - se particular a instituição: a) de duzentos a trezentos e sessenta dias-multa e, se reincidente, suspensão das atividades ou descredenciamento, sem direito a qualquer indenização ou cobertura de gastos ou investimentos efetuados; b) proibição de estabelecer contratos ou convênios com entidades públicas e de se beneficiar de créditos oriundos de instituições governamentais ou daquelas em que o Estado é acionista; II - se pública a instituição, afastamento temporário ou definitivo dos agentes do ilícito, dos gestores e responsáveis dos cargos ou funções ocupados, sem prejuízo de outras penalidades. Artigo 21 - Os agentes do ilícito e, se for o caso, as instituições a que pertençam ficam obrigados a reparar os danos morais e materiais decorrentes de esterilização não autorizada na forma desta Lei, observados, nesse caso, o disposto nos artigos 159, 1.518 e 1.521 e seu parágrafo único do Código Civil, combinados com o artigo 63 do Código de Processo Penal. CAPÍTULO III DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Artigo 22 - Aplica-se subsidiariamente a esta Lei o disposto no Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, e, em especial, nos seus artigos 29, caput, e §§ 1º e 2º; 43, caput e incisos I , II e III ; 44, caput e incisos I e II e III e parágrafo único; 45, caput e incisos I e II; 46, caput e parágrafo único; 47, caput e incisos I, II e III; 48, caput e parágrafo único; 49, caput e §§ 1º e 2º; 50, caput, § 1º e alíneas e § 2º; 51, caput e §§ 1º e 2º; 52; 56; 129, caput e § 1º, incisos I, II e III, § 2º, incisos I, III e IV e § 3º. Artigo 23 - O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias, a contar da data de sua publicação. Artigo 24 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Artigo 25 - Revogam-se as disposições em contrário. 83 ANEXO B – PARECER DE APROVAÇÃO DA PESQUISA