1 I. PSICOLOGIA SOCIAL O OBJECTO DA PSICOLOGIA SOCIAL: ANÁLISE COMPARATIVA DE 10 DEFINIÇÕES DE PSICOLOGIA SOCIAL 1. ALLPORT (1968/1985) Compreender e explicar o modo como os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos são influenciados pela presença real, imaginada ou implícita dos outros; Presença Implícita – actividades que o indivíduo desempenha em virtude do seu papel numa estrutura social e em virtude da sua pertença a um grupo cultural; Nenhum comportamento é indissociável da inserção numa dada estrutura social e da nossa presença a determinados grupos sociais. O conceito de papel remete para o estatuto – o que nos situam na sociedade (têm um carácter disposicional). O papel e o estatuto são conceitos complementares. o Papel – conjunto de expectativas que os outros tem a meu respeito; o que os outros esperam de mim; o Estatuto – aquilo que eu, em virtude da posição que ocupo, espero que os outros pensem e esperem de mim. Trata-se de explicar todo um leque de comportamentos, pensamentos e sentimentos, e até que ponto são influenciados pela presença dos outros. 2. Maisonneuve (1973) Domínio específico da psicossociologia = interacção: a) Dos processos sociais e psicológicos ao nível das condutas concretas; b) Das pessoas e dos grupos no quadro da vida quotidiana; c) Junção entre a aproximação objectiva e a do sentido vivido ao nível dos agentes em situação; Interacção – cadeias de acontecimentos (cognições, comportamentos e sentimentos) que ocorrem na pessoa P e pessoa O, e que estão de alguma forma ligados entre si; Podemos ter em conta, simultaneamente, uma dimensão objectiva e uma dimensão subjectiva de realidade. 3. Baron, Byrne & Griffitt (1974) Ramo da psicologia moderna que investiga o modo pelo qual o comportamento, os sentimentos e os pensamentos (ex. atitudes, crenças ou opiniões) de um indivíduo são influenciados pelo comportamento e características dos outros. Variação da definição de Allport 4. TEDESCHI & LINDSKOLD (1976) Estudo científico da interdependência, da interacção e da influência entre as pessoas: a) Interdependência: a maior parte daquilo que desejamos não pode ser obtido sem a colaboração dos outros. Está na base da cooperação e conflito (ambiguidade essencial das relações sociais) 2 b) Interacção: as pessoas interagem porque são interdependentes; c) Influência: no decurso da interacção, é exercida influência. Articulação teórica entre três conceitos (interdependência, interacção e influência); 5. Leyens (1979/1981) -Dependência e interdependência das condutas humanas; -Reconhece alguma ambiguidade naquilo que é a psicologia social. 6. Gergen & Gergen (1981/1984) -Estudo sistemático das interacções humanas e os seus fundamentos psicológicos; -Tónica nos fundamentos da psicologia das interacções. 7. MOSCOVICI (1984) -Ruptura com as outras definições; -1ª Fórmula: ciência do conflito entre o indivíduo e a sociedade; trata dos fenómenos da ideologia (sistemas de representações sociais e de atitudes ou cognições) e da comunicação (meios para transmitir informação e influenciar os outros); -Nova fórmula: ciência dos fenómenos da ideologia e dos fenómenos de comunicação. Existem diferentes níveis de análise na comunicação: Concreto Abstracto 1. 2. 3. 4. Comportamentos concretos Opiniões Atitudes Ideologias (sistemas de valores e orientações de uma sociedade) Distinção conceptual entre Psicologia Social e Psicologia e Sociologia: a) A psicologia assenta na relação entre o sujeito individual e o meio; b) A sociologia centra-se na relação entre o sujeito colectivo e o meio; c) A psicologia social escolhe uma modalidade triádica: a relação entre objecto-sujeito é mediatizada pela passagem por um outro objecto social – não há relações naturais! 8. Feldman (1985) -Modo como os pensamentos, os sentimentos e as acções de uma pessoa são afectados pelos outros. Variação da definição de Allport 3 9. Myers (1988) -Estudo científico sobre o modo como as pessoas pensam acerca dos outros, influenciam e se relacionam com os outros. Variação da definição de Allport 10. Smith & Mackie (1995) -Estudo científico dos efeitos dos processos sociais e cognitivos no modo como os indivíduos percebem, influenciam e se relacionam com os outros. -Há uma insistência nos processos cognitivos. A psicologia social nunca teve uma fase que não fosse cognitivista – a importância dos conteúdos internos foi desde o início o objectivo de estudo da psicologia social. 5 OPERADORES TEÓRICOS DA PSICOLOGIA SOCIAL 1) 2) 3) 4) 5) Interacção Comunicação Relação Interdependência Influência Plano descritivo da interacção social Plano explicativo da influência social Relação interpessoal = conjunto de interacções entre indivíduos com uma história e perspectivas relativas ao futuro semelhantes. Aspectos específicos salientados pelas definições: (1), (3) e (8) – Influência social; (2) e (6) – Interacção social; (4) e (5) – Interdependência; (7) – Comunicação; (9) e (10) – Não fazem referência a qualquer aspecto específico. GRANDES PERÍODOS DA HISTÓRIA DA Ψ E ORIENTAÇÃO COGNITIVISTA DA Ψ SOCIAL Desde o início que a psicologia social teve uma orientação cognitivista, ou seja, sempre se interessou pelos processos internos. 1) Psicologia estruturalista (2ªmetade do séc. XIX, até anos 20) -Wundt; -Psicologia = estudo científico dos estados e elementos da consciência; -Introspecção. 2) Behaviorismo (Finais do séc. XIX) -Pavlov e reflexologia (CC - associação entre Es) -Thorndike e a lei do efeito (CO - associação entre E e R) -Freud e os elementos não conscientes ↓ Behaviorismo (Watson) S-R 4 Neo-behaviorismo (Anos 30, 40) -Hall e as necessidades internas dos organismos -Tolmam e os mapas cognitivos -Skinner ↓ Liberalização do modelo S-R S-O-R 3) Cognitivismo (Final dos anos 50) -Influência da Gestalt ↓ Modelo O-S-O-R Modelo da Ψ social contemporânea Dupla função dos processos internos a) Definição das situações/estímulos b) Mediatização TEMAS, ACONTECIMENTOS E FIGURAS DOMINANTES NA HISTÓRIA DA Ψ SOCIAL Grécia Antiga -Apenas alusões à temática da Ψ social. 2 MOMENTOS INSTITUINTES A 1ª GRANDE OPOSIÇÃO Durkheim Tarde -Independência do facto social, irredutível aos indivíduos (fenómenos sociais); -Determinismo social; -Representações. -Inter-psicologia; -Importância dos fenómenos psicológicos; 2 OBRAS ESSENCIAIS McDougall “An Introduction to Social Psychology” -Psicólogo; -Conceito central: instinto; -Orientação centrada na pessoa. Ross “Social Psychology, an Outline and Source Book” -Sociológo; -Conceito central: sugestão-imitação; -Orientação centrada na situação social. -Fundação empírica da Psicologia social – Triplett, 1898 -Psicologia Social no paradigma behaviorista – Allport, 1924 Segundo McGuire, podemos traçar a história da Ψ social evolução do estudo das atitudes: 1) 1920-1935 – Medição das atitudes Thurstone, Likert, … 2) 1935-1955 – Dinâmica de grupos Kurt Lewin, Festinger, … 3) 1955-1965 – Mudança de atitudes 5 O homem procura a harmonia cognitiva; Teorias da existência de Osgood; Consonância cognitiva; 4) 1965-1980 – Cognição social Estudos sobre auto-percepção de Bem; Tónica nos processos de atribuição e nas representações sociais; Tenta-se minimizar os aspectos motivacionais e afectivos do comportamento social. 5) 1980 – Sistema de atitudes Moscovicci; Fenómenos da ideologia e da comunicação. Além disso podem definir-se 3 grandes fases da Ψ social enquanto ciência do pensamento social (“social mind”): 1) Atitudes sociais: Teoria da Dissonância Cognitiva 2) Cognições sociais: Teoria da Atribuição 3) Representações sociais: Teoria das Representações Sociais EMERGÊNCIA DO PARADIGMA AMERICANO Funcionalismo de W.James + Pragmatismo de J. Dewey EUA (1ª metade do séc. XX) reuniam as condições ideais para que a Ψ social se autonomizasse. Autores: Bartlett, Sherif, Lewin, Heider, Asch Ajudaram na criação de um objecto específico da psicologia social Por esta altura, iniciam-se os estudos sobre atitudes, que irão ser o constructo central da Ψ social por englobarem num só conceito: a) Componente cognitiva - crenças sobre a realidade social; b) Componente afectiva - atractividade ou repulsa; c) Componente volitiva/comportamental - propensão para agir. Verdadeiro texto institutivo “Social Psychology”, F. Allport (1924) NOTA: G.Allport – “Handbook of Social Psychology” (1954) Bartlett -“Remembering” (1932) -Psicologia social = estudo sistemático das modificações da experiência e respostas individuais directamente devidas à pertença a um grupo; Sherif -Os quadros de referência culturais determinam a interpretação os acontecimentos; -Essas convenções culturais são produto dos contactos entre indivíduos. David McClelland -Estudou as motivações sociais (de êxito, de poder, de afiliação e de inibição da acção); -Uso do mesmo corpo teórico para explicar tanto o comportamento individual como colectivo. 6 Década de 40 – a psicologia social dá os passos decisivos para a sua independência, por força dos emigrados europeus, fundamentalmente Kurt Lewin. Kurt Lewin “A dynamic theory of personality” (1935); -Teoria topológica -Influência da Gestalt; -Papel da liderança democrática (> satisfação e cooperação; <produção), autocrática (< satisfação; > produção) e laissez-faire (<satisfação e < produção) -Importante contribuição no estudo da dinâmica de grupos: Sempre que um sujeito se junta a um grupo, é mudado e induz mudança nos outros membros do grupo; Para se conseguir uma mudança num grupo é indispensável alterar o seu equilíbrio. É mais fácil alterar o comportamento de um grupo como um todo, do que alterar o comportamento dos seus membros isoladamente; A verificação de que, no grupo, é mais fácil atingir as finalidades, contribui para a coesão. Por isso, os grupos formam-se quando há dificuldades em resolver tarefas colectivas; Um grupo ou trabalha para a coesão ou para a resolução do problema; Os grupos bem organizados e produtivos têm membros muito diversos. Heider - “A psicologia das relações interpessoais” (1958) - Teoria configuracional das relações interpessoais (Princípio de equilíbrio); -Influencia também a teoria da dissonância cognitiva de Festinger (1957) e constitui a base das teorias da atribuição causal; Asch - “Psicologia social” (1952) - último dos grandes clássicos influenciado pela Gestalt; -Estudos sobre conformismo. 67% das pessoas optam pela solução conformista. Lindzey e Aronson -“Handbook of social psychology” (1985) passa a ser a referência fundamental A PSICOLOGIA SOCIAL EUROPEIA -Pais fundadores da PSE: Moscovici, Doise e Tajfel: -A PSE tem uma história mais curta que a PSA, muito embora se invoque por vezes que esta beneficiou da contribuição dos psicólogos europeus que emigraram para os EUA na altura da 2ªGuerra. A PSA não reconhece a existência de uma PSE Moscovici -“La Psychanalyse, son Image et son Public” (1961) -Estudos sobre o fenómeno risky-shift e sobre as minorias activas. -Formulou a Teoria da conversão; 7 -A Ψ social é interdisciplinar e não é uma mera sub-disciplina da psicologia. A origem da psicologia social deve ser procurada, preferencialmente, na sociologia (Durkheim ou Simmel) e na antropologia e não apenas na psicologia. -Teoria das representações sociais, 1961 -É necessário integrar nas explicações hipóteses sobre o funcionamento individual bem como o funcionamento da sociedade. É isto que caracteriza uma visão societal da psicologia. Triplett -“The dynamogenic factors in pacemaking and competition” (1898) - fundação empírica da Ψ social; -Facilitação social e competição: os ciclistas conseguem melhores tempos em competição, do que quando correm sozinhos. Zajonc -Efeito da mera exposição – a mera exposição a 1 E faz gostar mais dele; -Situações de facilitação social: A presença dos outros tende a maximizar as actividades que desenvolvemos de forma satisfatória e a minimizar aquelas que não fazemos tão bem. NÍVEIS DE EXPLICAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL - Doise I. Nível intrapessoal: -Processos internos de processamento de informação (cognições); -Teoria da DC de Festinger, Teoria da Atribuição de Kelley, Teoria do Equilíbrio de Heider, … II. Nível interpessoal ou situacional: -Interacções entre os indivíduos; -Fenómeno de atracção, Teorias sobre a ≠ entre actores e observadores de Nisbett e Ross – que depois dão origem ao que se chama “erro fundamental”… Diz respeito à ≠ no modo como eu explico o meu comportamento (variáveis situacionais) e como explico o comportamento dos outros (variáveis individuais). III. Nível posicional, categorial ou intergrupal: -Aquilo que trazemos para a interacção, ou seja, os marcadores sociais e grupais prévios à interacção – categorização social e pertença a grupos sociais; -Tem em conta as diferentes posições dos actores no tecido social e analisa como essas posições modulam os processos do 1º e 2º níveis (processamento da informação e interacções); -Pesquisas com grupos de status ≠, Teoria da Identidade e Categorização Social de Tajfell, … IV. Nível ideológico ou societal: -Ocupa-se dos sistemas de crenças, representações, avaliações e normas sociais. -Teoria das Representações Sociais de Moscovici; -As análises que recorrem às explicações do tipo societal (ideológica) são minoritárias em Ψ social. 8 -Articulação dos vários níveis teóricos análises mais completas! -A PSA centrou-se mais nos dois primeiros níveis, intra e inter-pessoal [indivíduo] enquanto a PSE dedica-se mais ao estudo dos dois últimos níveis, inter-grupal e societal [social]. 9 II. ATITUDES DEFINIÇÕES E DELIMITAÇÕES CONCEPTUAIS Definições clássicas: 1. Processo de consciência individual que determina actividades reais ou possíveis do indivíduo no mundo social (Thomas e Znaniecki, 1915) 2. Estado de preparação mental ou neural, organizado pela experiência, que exerce influência dinâmica nas respostas individuais aos objectos com que o indivíduo se relaciona (Allport, 1976) Conceito mais indispensável da Ψ Social; Referem-se a paixões e ódios, atracões e repulsões, gostares e não gostares. 3. Conjunto de scripts relativos ao objecto (Abelson, 1976) 4. Predisposições para responder a determinada classe de estímulos com determinada classe de respostas (Rosenberg e Hovland, 1969) 5. Inferência a partir da observação do próprio comportamento e das variáveis situacionais em que ocorre (Bem, 1967) 6. Predisposições comportamentais adquiridas; estados de preparação latente para agir de determinada forma; resíduos da experiência passada que orientam, enviesam e influenciam o comportamento (Jaspars, 1986) 7. Predisposição para responder de forma favorável ou desfavorável a um objecto, pessoa, instituição ou acontecimento (Ajzen, 1988) Eagly e Chaiken (1993) ATITUDE constructo hipotético referente à tendência psicológica que se expressa numa avaliação favorável ou desfavorável de uma entidade específica. 1. Constructo hipotético – não são directamente observáveis; inferência sobre os processos psicológicos internos de um indivíduo, feita a partir da observação dos seus comportamentos. Comportamento sistemático inferir sobre processos internos 2. Tendência psicológica – estado interior com alguma estabilidade temporal (≠ de traços de personalidade e estados emocionais que também são constructo hipotéticos); as atitudes são aprendidas e portanto alteráveis. -Disposição aprendida e nesse processo de formação podemos identificar os processos clássicos de aprendizagem (C.C. e C.O.) e aprendizagem por modelação (simbólica). 3. Julgamento avaliativo – situa um objecto atitudinal numa dimensão avaliativa com 3 características: a. Direcção (favorável vs desfavorável); b. Intensidade (posições extremadas vs posições fracas); c. Acessibilidade (probabilidade de ser automaticamente activada). 10 3 Modalidades da resposta avaliativa 3 FORMAS DE EXPRESSÃO DAS ATITUDES 1. Cognitivas - pensamentos, ideias, opiniões e crenças que ligam o objecto da atitude aos seus atributos ou consequências e que exprimem uma avaliação mais ou menos favorável ← Mecanismos de aprendizagem; 2. Afectivas - emoções e sentimentos provocados pelo objecto ← Efeito da mera exposição; 3. Comportamentais - comportamentos e intenções comportamentais ← Redução da dissonância cognitiva. 4. Referem-se sempre a objectos específicos (entidades abstractas ou concretas, específicas ou gerais, comportamentos ou classes de comportamentos) -Tudo o que pode ser cognitivamente construído pode ser objecto de atitude; -Atitude = conceito mais genéricos da Ψ Social. É o denominador comum de vários conceitos: ↓ -Auto-estima = atitude relativamente ao próprio “self”; -Atracção inter-pessoal = atitude relativamente a outras pessoas; -Preconceito, estereótipo e discriminação = atitude em relação a um grupo; -Valores = atitudes face a objectos abstractos ou estados da existência humana. 5 DIMENSÕES DO ESTUDO DAS ATITUDES: 1. 2. 3. 4. 5. Estrutura das atitudes; Função das atitudes; Medição das atitudes; Aquisição e mudança das atitudes – Persuasão; Relação entre atitudes e comportamentos. EVOLUÇÃO DO ESTUDO DAS ATITUDES - McGUIRE (1985) ATITUDE = situar um objecto numa dimensão avaliativa MEDIDA DAS ATITUDES CATEGORIAS DE RESPOSTAS ou COMPONENTES ATITUDINAIS AFECTOS Expressão de sentimentos e emoções Verbal Repostas fisiológicas Não-verbal COGNIÇÕES COMPORTAMENTOS Crenças Intenções comportamentais Respostas perceptivas Comportamento observável 11 A) MEDIÇÃO DAS ATITUDES ATRAVÉS DE RESPOSTAS COGNITIVAS ESCALAS DE ATITUDES Crenças, opiniões e avaliações dos sujeitos acerca de um objecto; Auto-descrição do posicionamento individual. 1. ESCALAS INTERVALARES DE THURSTONE -Modelo psicofísico; -Centra-se no E caracteriza a atitude do sujeito face a estímulos previamente cotados; -Escolha de frases objectivas os sujeitos escolhem apenas aquelas com que concordam; -Escalas intervalares (intervalos iguais); -Os estímulos escolhidos têm de corresponder à diversidade possível de posições; -Cotação das frases por um grupo de juízes; Critérios a ter em conta na escolha das frases a integrar a escala: 1. Ambiguidade (excluir itens em que não há consenso); 2. Irrelevância (excluir itens que não apresentam variação entre sujeitos com atitudes diferentes); 3. Sensibilidade (os itens deverão situar-se entre o 1 e o 11) Cada vez menos utilizada, por motivos de ordem prática, metodológica e de ordem científica: Morosidade; Necessidade permanente de reaferir os valores da escala; Contestação das capacidades dos juízes. 2. ESCALAS SOMATIVAS DE LIKERT -Prescindir da tarefa de avaliação dos juízes, centrando o processo nos sujeitos respondentes; -Modelo psicométrico é a própria resposta do indivíduo que a localiza directamente em termos de atitude; -Não existe escalonamento dos estímulos; -O investigador selecciona as frases que manifestam uma posição claramente favorável ou claramente desfavorável, eliminando as respostas neutras ou intermédias. -Mais popular: Mais económica de construir; Mais rápida de aplicar. 3. ESCALAS DE TIPO DIFERENCIADOR SEMÂNTICO (Osgood, Suci e Tannenbaum, 1957) -Significado de cada palavra = ponto num espaço semântico; Definido por dimensões bipolares (adjectivos antagónicos); -Escalas bipolares de 7 pontos (-3 a +3) define um espaço semântico de um conjunto heterogéneo de palavras; -Vantagem: o mesmo conjunto de adjectivos serve para avaliar qualquer objecto; -Limitação: centra-se unicamente na dimensão avaliativa, o que o torna um exercício abstracto e descontextualizado. 12 O significado organiza-se me torno de 3 grandes dimensões: a. Dimensão avaliativa (bom-mau, etc) explica a maioria da variância das respostas ↓ Forma privilegiada de medir as atitudes b. Dimensão de potência (grande-pequeno, etc) c. Dimensão de actividade (activo-passivo, etc) Escalas de Thurstone Escalas de Likert Escalas de Diferenciador Semântico Atitudes unidimensionais Posição do sujeito situa-se num continuum 4. ESCALAS DE GUTTMAN ou ESCALAS CUMULATIVAS -Escalanogramas; -Ao aceitar um item aceita-se também todos os outros níveis inferiores; -Limitação: Exige-se temáticas muito restritas e um conteúdo repetitivo de forma a garantir unidimensionalidade da escala. -ex. Escala de distância social de Bogardus Problemas das Escalas Saber se a resposta corresponde à atitude real; Relevância da atitude para o sujeito; Linguagem usada na formulação da questão; Escala de resposta; Efeitos do contexto nas respostas aos questionários. ↓ Alguns autores optam por medidas mais indirectas Enviesamentos da percepção; Acessibilidade. Medir atitudes não utilizando escalas? 1 única pergunta, havendo uma avaliação directa da atitude. É uma metodologia muito menos fiável e mais maleável a estratégias de autoapresentação. Contudo permite obter resultados de uma forma muito rápida. B) MEDIÇÃO DAS ATITUDES ATRAVÉS DE RESPOSTAS AFECTIVAS Tipos de técnicas de avaliação das atitudes através de sinais corporais: 1. Respostas naturais manifestas - comportamento não verbal ou directamente observável; sinais posturais ou expressões faciais (mais difíceis de avaliar, porque podem ser falseadas). 2. Respostas naturais escondidas – alterações fisiológicas; RGP; resposta pupilar; actividade electromiográfica facial; 3. Respostas condicionadas – mecanismos de aprendizagem; EC + EI → RC; 13 4. Falsas respostas psicofisiológicas - Convence-se o sujeito que temos uma máquina que mede com precisão a intensidade e direcção das suas atitudes. Assim a pessoa fica motivada a predizer aquilo que a máquina “vai dizer”, ou seja, a verdade. Em suma… As medidas corporais não têm produzido técnicas e resultados importantes devido a: a. Dificuldade de interpretar univocamente as respostas psicofisiológicas; b. Dificuldades práticas de aceder a este tipo de material; ↓ As respostas afectivas podem ser obtidas por técnicas de papel e lápis, em que os indivíduos descrevem as suas próprias emoções (à semelhança do que acontece com a técnica alternativa às escalas de atitudes) C) MEDIÇÃO DAS ATITUDES ATRAVÉS DE RESPOSTAS COMPORTAMENTAIS -Permite superar a falta de sinceridade (≠ da auto-descrição); -Permite produzir observações em meio natural (≠ medidas corporais); -Observação de comportamentos ou intenções comportamentais reveladores de atitudes, mas estas observações têm de passar completamente despercebidas medidas não obstrutivas/intrusivas (Ex. “técnica da carta perdida”); -Técnicas mais puras, ou seja, mais próximas da realidade; -Inconvenientes: Influência das condições situacionais na determinação do comportamento; Não é simples nem linear que o comportamento corresponda às atitudes. ESTRUTURA DAS ATITUDES 1. INTRA-ATITUDINAL – grau de interligação entre os componentes cognitivo, afectivo e comportamental. Modelo tripartido da atitude de Rosenberg & Hovland (1960) 1) Cognições (crenças sobre o objecto); 2) Afectos (emoções experimentadas na relação com o objecto); 3) Comportamentos (que pode ser verbal ou não). 2. INTER-ATITUDINAL – organização das atitudes num sistema mais vasto. Modelo hierárquico de Eysenck 1) Nível ideológico 2) Nível atitudinal 3) Nível opinativo Lazarsfeld procurou sistematizar um conjunto de CONCEITOS DISPOSICIONAIS de acordo com 3 dimensões: 1) Campo de acção – margem de aplicação; 2) Dinâmica – grau de ligação com o objecto; 3) Horizonte temporal – orientação para o presente ou futuro. 14 FUNÇÕES DAS ATITUDES 1. 2. 3. 4. Motivacionais Cognitivas Papel de orientação para a acção Sociais 1. FUNÇÕES MOTIVACIONAIS -Motivações psicológicas - são necessidades psicológicas que sustentam as atitudes: a) Funções instrumentais ou avaliativas optar pelas atitudes que maximizam os ganhos e que minimizam os custos; b) Funções simbólicas ou expressivas forma de transmitir os valores e a identidade do sujeito; protecção contra conflitos; preservação da sua imagem. 2. FUNÇÕES COGNITIVAS -As atitudes influenciam o processamento de informação. -Princípios gerais da organização da cognição: 1. Princípio do Equilíbrio de Heider 2. Princípio da Redução da Dissonância Cognitiva de Festinger PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO de Heider -Princípio organizador do ambiente subjectivo (Conjunto de entidades e relações, tal como percepcionadas pelo sujeito); -Representado por tríades: 1. Indivíduo que percepciona (P); 2. Entidades – pessoa (O) ou objecto (X) ; 15 3. Relação – atitude positiva ou negativa de P face a X ou a O; a. Relações de unidade - relação cognitiva: quando os sujeitos percebem que estão relacionados; b. Relações de sentimento – avaliação dos afectos. -Situações equilibradas – concordância com alguém de quem gostamos e discordância em relação a alguém de quem não gostamos; as relações de unidade e de sentimento estão em equilíbrio; Podemos verificar se o sistema está em equilíbrio multiplicando os sinais. -Situações desequilibradas – o indivíduo percebe discordância em relação a alguém de quem gosta e concordância em relação a alguém de quem não gosta. Psicologicamente desagradáveis. Atitude = sinalizadora da realidade: As situações equilibradas são mais estáveis e resistentes à mudança, uma vez que evitam a tensão. Por isso, conhecendo 2 relações entre as entidades tendemos a completar a situação de forma equilibrada. PRINCÍPIO DA REDUÇÃO DA DISSONÂNCIA COGNITIVA de Festinger -Princípio do Equilíbrio baseia-se na relação entre as atitudes; -Princípio da Redução da Dissonância baseia-se na consistência interna de uma atitude; Dissonância cognitiva – relação entre 2 cognições incompatíveis: Estado desagradável constituindo uma motivação para reduzir a dissonância; Esta activação é tanto >, quanto > a DC: 𝐷𝐶 = importância x nº cognições dissonantes importância x nº de cognições consonantes Nem todas as cognições dissonantes produzem dissonância; Redução da dissonância: o Aumentar o nº ou a importância dos argumentos consonantes; o Diminuir o nº ou a importância dos argumentos dissonantes. Consequências das atitudes no processamento da informação: 1. Exposição selectiva; 2. Percepção selectiva; 3. Memória selectiva. 3. FUNÇÕES DE ORIENTAÇÃO PARA A ACÇÃO Disposições ou Atitudes a) Definem objecto atitudinal; b) Modulam o comportamento em função desse objecto orientação da acção 16 Inicialmente acreditava-se numa coerência muito forte entre atitudes e comportamentos (medição pelas escalas de atitudes). Mais tarde o poder preditivo das atitudes ou traços de personalidade foi posto em causa. Mischel – elaborou o Modelo dos 5 grandes factores/traços de personalidade. Demonstrou empiricamente que os traços de personalidade não têm muito a ver com os comportamentos, com a excepção da inteligência. Wicker – conclui que as atitudes explicam muito pouco dos comportamentos. Likert – baixas correlações entre atitudes e comportamentos, o que demonstra que não se podem predizer os comportamentos pelas atitudes. La Pierre – correlação baixa entre atitudes e comportamentos. Abandono dos traços/atitudes como preditoras do comportamento! Ajzen e Fishbein afirmam que a insuficiência das correlações resultava de erros metodológicos e conceptuais. Assim, propuseram soluções: a) Agregação das atitudes – aumentar o nº de comportamentos avaliados para calcular a correlação entre 2 conjuntos atitudinais; b) Identificação de factores moderadores. Entrar em linha de conta com as intenções comportamentais. TEORIA DA ACÇÃO REFLECTIDA de Fishbein e Ajzen – 1975 Uma atitude específica (relativa a um objecto) é determinada por: -expectativa dos resultados de determinado comportamento; -valor desses resultados. 17 O comportamento é uma escolha entre várias alternativas, que depende de: a) ATITUDE ESPECÍFICA -Resultado do somatório das crenças acerca das consequências do comportamento (expectativas) pesadas pela avaliação dessas mesmas consequências (valor). b) NORMA SUBJECTIVA -Resultado do somatório das crenças normativas (aquilo que os outros esperam de nós) pesadas pelo valor dessas crenças (motivação para seguir as normas) [pressões sociais] c) VARIÁVEL INTERMÉDIA – INTENÇÃO COMPORTAMENTAL -Peso relativo das atitudes e das normas. As atitudes gerais são fracos preditores do comportamento específico. A norma subjectiva e a atitude específica são melhores preditores. Nalguns casos a norma subjectiva tem mais peso na determinação da intenção comportamental. Contudo o preditor mais forte do comportamento é a intenção comportamental. Limitação da teoria da acção reflectida: -Não reconhece a importância de factores externos, como o comportamento anterior do sujeito. O que quer dizer que esta teoria se aplica a situações de tomada de decisão e não a comportamentos habituais, onde a componente decisão é muito menor. TEORIA DA ACÇÃO PLANEADA de Fishbein e Ajzen – 1987 Novo componente: o CONTROLO COMPORTAMENTAL PERCEBIDO – a capacidade do indivíduo controlar o seu próprio comportamento (auto-eficácia) 18 Limitação da teoria da acção planeada: -conceptualização limitada da norma subjectiva -desvalorização de variáveis emocionais -todos os modelos pressupõem algum grau de controlo do pensamento atitudinal MODELO MODE de Fazio – 1990 Há uma activação automática das atitudes altamente acessíveis (baseadas na experiência directa) na presença do objecto, o que leva, através da atenção selectiva nos aspectos e crenças congruentes com a atitude, a uma definição da situação de forma a tornar altamente provável a ocorrência do comportamento. A definição do acontecimento pode ainda ser influenciada pelas normas dos grupos em que o sujeito se insere. IMPACTO DO COMPORTAMENTO NAS ATITUDES Muitas vezes a realização de certos comportamentos Mudança de atitudes -Janis e King – mudança de atitudes ← auto-persuasão -Festinger – mudança de atitudes ← necessidade de consonância cognitiva Não são só as atitudes que orientam o comportamento, mas também os comportamentos voluntários que levam a mudança de atitudes. MUDANÇA DE ATITUDES Existem três processos básicos susceptíveis de conduzir à mudança de atitudes: 1. Persuasão; 2. Exposição directa e repetida ao objecto → Efeito da mera exposição de Zajong; 3. Modificação das contingências de reforço (mecanismos básicos de aprendizagem). 19 Modelo Central de Lasswel: Quem (1) disse o quê (2) a quem (3) e com que efeito (4)? MODELO DA COMUNICAÇÃO PERSUASIVA de Yale (Hovland) 1) Efeitos da fonte Atenção; Mudança das crenças; Credibilidade, grau de atracção, estatuto social, … 2) Efeito da mensagem Compreensão; Mudança atitudinal; Apelo ao medo, conclusão implícita, argumentos de uma única posição, … 3) Efeito do tipo de audiência/receptor Aceitação; Mudança atitudinal; Variáveis sócio-demográficas, variáveis psicológicas, … 4) Efeito do canal Retenção; Mudança comportamental. A mudança de atitudes está dependente de processos cognitivos anteriores. MODELO BIFACTORIAL DE MCGUIRE 1. Atenção - componente motivacional ; RECEPÇÃO 2. Compreensão -componente cognitiva; 3. ACEITAÇÃO das conclusões; 4. Retenção – a mudança atitudinal deve manter-se na memória; 5. Acção – a mudança atitudinal deve ter consequências comportamentais. 20 FORMAS DE TORNAR AS ATITUDES RESISTENTES À MUDANÇA: 1) Fornecer mais argumentos favoráveis; 2) Expor os sujeitos a opiniões contrárias, de forma a fortalecer a contra-argumentação (estratégia mais eficiente). MODELOS DE PROCESSAMENTO DUAL DA INFORMAÇÃO PERSUASIVA: 1) Modelo Heurístico-Sistemático (Chaiken e Eagly) 2) Modelo da Probabilidade da Elaboração (Petty e Cacioppo) MODELO HEURÍSTICO-SISTEMÁTICO DO PROCESSAMENTO de Chaiken e Eagly 1) Processamento Heurístico, superficial ou periférico – menor envolvimento cognitivo; a mensagem é rapidamente aceite; 2) Processamento Sistemático ou central – grande elaboração cognitiva; o resultado depende da qualidade dos argumentos; Publicidade apelo à heurística -salienta a formação e posição social da fonte -menor velocidade a falar (confiança) -simpatia da fonte -mensagem maior (muitos argumentos) -gráficos e estatísticas … MODELO DE PROBABILIDADE DE ELABORAÇÃO de Petty e Cacioppo 21 1) Processamento Central – elevada elaboração; avaliação dos argumentos persuasivos de acordo com conhecimentos prévios e chega-se de forma ponderada a uma atitude; 2) Processamento Periférico – menor elaboração cognitiva; centramo-nos nos factores extrínsecos. Modelo heurístico-sistemático Teoria da Probabilidade de Elaboração Activação automática da heurística Não recorre, mas também não excluir o processamento automático. Os elementos na publicidade funcionam como estratégia distractiva para as pessoas não se centrarem na via central de descodificação de mensagem. Condições que influenciam a probabilidade de elaboração das mensagens persuasivas: 1) Factor cognitivo – capacidade para processar a informação; 2) Factor motivacional – motivação para processar a informação. Estudo realizado por Petty e Cacciopo: -VI1 – envolvimento emocional (motivacional -Baixo – daqui a 5 anos; -Alto – já para o ano que vem; -VI2 – grau de elaboração dos argumentos -Argumentação de qualidade para justificar a introdução dos exames globais; -Argumentação de baixa qualidade; -VI3 – credibilidade da fonte de comunicação -“Expert” (alguém do ME); -Não “expert” (colega mais velho). -VD – concordância ou discordância com a medida de introdução de exames globais; Quando a fonte é especialista há maior favorabilidade. Quando o envolvimento é elevado, a credibilidade da fonte tem pouca importância. 22 Quando há envolvimento a qualidade dos argumentos pesa bastante. Quando estamos envolvidos damos mais importância aos argumentos que à credibilidade da fonte. Quando há envolvimento optamos pelo processamento central para a descodificação da mensagem. Mas quando não estamos envolvidos recorremos à via periférica, ou seja, centramo-nos nos factores extrínsecos (fonte) e não nos factores internos (argumentos). 23 III. FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES E TEORIAS IMPLÍCITAS DA PERSONALIDADE Asch: Formar uma impressão = organizar a informação acerca de uma pessoa de modo a integrá-la numa categoria significativa para nós. Componente fundamental da organização de impressões = CATEGORIA AVALIATIVA Afectiva; Moral; Instrumental. As 1ªs impressões organizam-se fundamentalmente em função de uma categoria avaliativa. Mas, a impressão geral é mais vasta do que essa avaliação e permite fazer inferências para outras dimensões ou categorias. Importância das 1ªs impressões: Filtrar a variabilidade do comportamento do outro e fixar determinados traços como estáveis; Predizer o comportamento. ABORDAGENS DA FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES 3 grandes períodos 3 GRANDES ABORDAGENS 1. Abordagem “gestáltica” ou configuracional [1946 – fins dos anos 50] 2. Abordagem linear ou de integração da informação [Início dos anos 60 – meados dos anos 70] 3. Abordagem da memória de pessoas ou cognição social [fins dos anos 70] 1. ABORDAGEM CONFIGURACIONAL ou “GESTÁLTICA” -Abordagem Construtivista – “processamento conceptualmente guiado” A formação das impressões é determinada pelos processos cognitivos e afectivos. As pessoas integram as várias informações e reinterpretam-nas de modo a constituírem um todo coerente. O significado de cada elemento é determinado em função das suas relações contextuais com os restantes; Carácter holístico do processo de formação de impressões: os traços que caracterizam uma pessoa organizam-se de tal forma que o todo é ≠ da simples soma das partes. Alterando um traço, alteramos por completo a impressão global. De acordo com Asch, os traços podem ser: a) Centrais b) Periféricos -Uma qualidade central tem um peso maior que uma qualidade subsidiária, e determina o conteúdo e o valor funcional dos traços periféricos na impressão total; -Mudança de um traço periférico produz um efeito mais fraco na impressão total do que a mudança de um traço central, a qual pode alterar completamente a impressão; 24 -O conteúdo e o valor dos traços são determinados pela relação com o contexto. Modelo de Asch Traços-estímulo Inferência geral Inferência de traços particulares Kelley – mudanças nos traços levariam não apenas a mudanças ao nível perceptivo, mas também ao nível comportamental. TEORIAS IMPLÍCITAS DA PERSONALIDADE de Bruner e Tagiuri (1954) -Crenças gerais acerca da população, no que diz respeito à frequência e variabilidade de determinados traços. “Teorias” conjunto estruturado de categorias e crenças. São obviamente teorias sem fundamentos científicos, às quais recorremos para nos avaliar a nós mesmos e aos outros, ao nosso comportamento e ao dos outros e para prevermos os comportamentos. “Implícitas” não se apresentam formalmente nem fornecem critérios objectivos da sua validade. Os sujeitos não têm necessariamente consciência delas e é provável que não as saibam formalizar. Importância das TIP: Seleccionar e codificar a informação relativa às outras pessoas; Realizar inferências, a partir de poucos elementos informativos; Têm um carácter normativo, uma vez que determinam o conjunto das relações possíveis entre os traços. Mapa cognitivo que orienta a interacção na vida quotidiana! Modelo de Bruner e Tagiuri Traços-estímulo Teorias implícitas da personalidade (TIP) Inferência geral Inferência de traços particulares As teorias implícitas dependem de: Motivação - Toda a observação que fazemos subordina-se aos nossos objectivos enquanto observadores; Estados emocionais; Funcionamento cognitivo. Rosenberg São 2 as dimensões ao longo das quais se distribuem os traços: Desejabilidade social; Desejabilidade intelectual. Um traço é central caso tenha um valor extremo numa dimensão. 25 Schneider Aponta para a necessidade de, para além dos traços de personalidade, ter em conta outros estímulos, como o vestuário, a aparência e o comportamento não-verbal, na inferência de traços e de atitudes estímulos não verbais na formação de impressões. 2. ABORDAGEM LINEAR ou DA INTEGRAÇÃO DA INFORMAÇÃO -Abordagem Associacionista – “processamento guiado pelos dados” As características físicas e comportamentais da pessoa-alvo determinam a produção de uma impressão específica. Anderson: Cada item, com o seu valor independente, combina-se com os outros itens segundo regras aditivas, multiplicativas ou de média (processos aritméticos), contribuindo para a formação da impressão. 3 Modelos: 1. Modelo da média simples; 2. Modelo da média ponderada (Valor + peso das características); 3. Modelo aditivo (menos eficaz). -Modificação do modelo da média: os 1ºs adjectivos criam um factor (impressão inicial) que vai fazer média com a informação seguinte. Assim, a polaridade da resposta torna-se negativamente acelerada em função da quantidade de traços. 3. ABORDAGEM DA MEMÓRIA DE PESSOAS ou COGNIÇÃO SOCIAL Os processos de memória desempenham um papel fundamental na formação de impressões: A nova informação é interpretada em função de conhecimentos anteriores; Processos cognitivos relativos à memória: 1. Codificação 2. Armazenamento 3. Recuperação MODELO DE SRULL E WYER O comportamento da pessoa-alvo fica armazenado na MLP sob a forma de 2 representações: 1. Representação descritiva: agrupamentos comportamento-traço; 2. Representação avaliativa: formação do conceito avaliativo. MODELO DUAL DA FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES de BREWER 4 Etapas: 1. Identificação inicial 2. Categorização/tipificação 3. Personalização NOTA: O processo pode terminar em qualquer uma das etapas. 4. Individualização 26 Modelo dual porque assume um processamento: a. Baseado nas características do estímulo (3) b. Categorial (1, 2 e 4) 2 Tipos de processamento: a. Automático (1) b. Controlado (2, 3 e 4) Importância dos objectivos e motivações do percepcionador para usar este ou aquele processo. MODELO CONTÍNUO DA FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES de FISKE E Cols. Integra as perspectivas holísticas e lineares, e também as teorias dos esquemas desenvolvidas pela cognição social. Processamento contínuo e sequencial da informação: Teorias e conceitos pré-existentes [extremo holístico] Processos de combinação linear dos atributos da pessoa-alvo [extremo linear] 5 Etapas entre os 2 extremos: 1. Categorização inicial Impressão baseada em categorias 2. Atenção 3. Confirmação da categorização inicial Impressão baseada em categorias 4. Recategorização Impressão baseada em categorias 5. Integração peça a peça Impressão baseada em atributos -O processamento baseado em categorias tem prioridade em relação ao baseado em atributos; MODELO DO PROCESSAMENTO PARALELO de KUNDA E THAGARD -Os estereótipos, os traços e os comportamentos são nódulos numa rede de activação e a extensão dessa activação é determinada por associações positivas e negativas. Essas associações da informação observada condicionam a impressão que se cria acerca da pessoa alvo. 1. Há a activação da informação observada. 2. Essa activação expande-se para as associações imediatas. O carácter excitatório ou inibitório e a intensidade das ligações provêm da base de conhecimento pré-existente (≠ estereótipos). 3. Há uma actualização repetida de todos os nódulos até que a rede se estabiliza – existem ciclos de ajustamento da activação. 4. Geralmente, os processos inferenciais são automáticos, embora possam acontecer de forma mais controlada. 5. Os resultados das inferências são integrados no conhecimento activado, chegando-se à impressão final. 27 MODELOS CLÁSSICOS Carácter descritivo dos resultados da formação de impressões. MODELO CONFIGURACIONAL Processamento guiado conceptualmente MODELO DA INTEGRAÇÃO DA INFORMAÇÃO Processamento guiado pelos dados Como mostram as abordagens da memória de pessoas, os modelos apesar de divergentes são conciliáveis! As impressões são, com mais frequência, guiadas conceptualmente, havendo uma combinação linear. Estes modelos tiveram a capacidade de integrar alguns contributos dos modelos clássicos. MODELOS DA COGNIÇÃO SOCIAL Explicar a dinâmica da formação das impressões Geralmente, a formação de impressões desencadeia-se através do processamento automático, embora possa ocorrer processamento controlado; O processamento da informação depende de factores contextuais (motivação, natureza da informação, natureza do julgamento, etc). MODELOS BASEADOS NO PROCESSAMENTO SEQUENCIAL MODELO BASEADO NO PROCESSAMENTO PARALELO Brewer e Fiske Kunda e Thagard Existência de várias etapas não coincidentes. Não existem fases discretas. O processo inicia-se com o processamento de informação categorial (estereótipos), fazendose, noutra fase, a integração da informação individualizante. Não atribui um papel especial aos estereótipos. Os estereótipos, os traços e os comportamentos são activados paralelamente, tendo maior influência o tipo de informação que na situação concreta activar mais associações no decorrer dos ciclos inferenciais. MOTIVAÇÃO E EXACTIDÃO NA FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES A formação de impressões é influenciada por factores de ordem: Cognitiva; Afectiva; Motivacional. 1. ESTRATÉGIAS NA FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES Leyens e Fiske – 2 factores motivacionais para o processamento a informação: 1) Objectivos de exactidão - julgamento preciso; adequação à pessoa-alvo. 2) Objectivos direccionais - outros objectivos mais importantes; Objectivos de exactidão não significam impressão mais válida do que no caso dos objectivos direccionais. 28 2 Estratégias, nenhuma com maior exactidão que a outra: 1. Estratégia de suficiência – informação confirmatória (indícios que reforcem a 1ª impressão); 2. Estratégia de necessidade – informação infirmatória (indícios que rejeitem a 1ª impressão). 2. PROBLEMAS DE EXACTIDÃO DAS IMPRESSÕES Formar uma impressão é, a partir de pouca informação, criar uma representação cognitiva e coerente de alguém. Mas o processamento da informação está sujeito à influência de: Objectivos do percepcionador; Efeitos de ordem (precedência e recência); Efeito de halo; Distorções de positividade e de negatividade. EFEITOS DE ORDEM Asch – Efeito de precedência: os 1ºs termos criam uma direcção que exerce um efeito nos últimos termos. Anderson - 3 Hipóteses para a explicação do efeito de precedência: 1) Mudança de significado: os adjectivos mudam de sentido consoante o contexto em que são integrados; 2) Desvalorização da inconsistência: os últimos adjectivos sofrem uma mudança não no seu significado nem no seu valor, mas no seu peso, por se revelarem inconsistentes com os primeiros. 3) Diminuição da atenção: a diminuição do peso dos últimos adjectivos resultaria de uma progressiva diminuição da atenção. Por vezes verifica-se efeito de recência (últimos termos). EFEITOS DE HALO -Tendência para percepcionar na outra pessoa características que sejam consistentes com a 1ª impressão formada generalização das 1ªs impressões DISTORÇÕES DE POSITIVIDADE E DE NEGATIVIDADE a) Distorção de positividade: As pessoas estão mais predispostas para fazer avaliações positivas. b) Distorção de negatividade: quando se tem conhecimento de características positivas e negativas, a informação negativa torna-se mais importante. 3. ABORDAGEM DA JULGABILIDADE SOCIAL Factores que condicionam a emissão de julgamentos: Disponibilidade (real ou fictícia) de informação suficiente sobre a pessoa-alvo; Posição social do percepcionador - o percepcionador tem de determinar se tem legitimidade social para julgar a pessoa-alvo. 29 4. PRINCÍPIOS DE FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES O percepcionador vê nas outras pessoas unidade e coerência. A outra pessoa é vista como uma entidade organizada que se mantém estável ao longo do tempo. Ao formar uma impressão, o percepcionador procura descobrir as principais características da pessoa, com base nessa ideia de unidade e consistência. Hamilton e Sherman – 4 Princípios da formação de impressões: 1. Procuramos fazer inferências espontâneas acerca de traços que constituem o núcleo central da personalidade da pessoa-alvo. 2. Esperamos consistência nos traços e comportamentos da pessoa-alvo. Existe uma “teoria implícita de estabilidade” que permite fazer inferências consistentes com os traços e comportamentos já conhecidos. 3. Os traços ganham significado específico em função do todo organizado que se supõe ser a personalidade da pessoa-alvo. 4. Procuramos resolver inconsistências na informação acerca da pessoa-alvo. Perante informação inconsistente, recorremos a processos de atribuição causal para descobrir a razão da incongruência. COGNIÇÃO E PENSAMENTO SOCIAL A realidade social não é dada mas sim construída. Os processos de representação visam reduzir a complexidade do real. O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL McDougall - termo espírito de grupo (“group mind”). É semelhante ao termo “representações colectivas” de Moscovici. Jodelet – define as representações sociais como uma modalidade de conhecimentos socialmente elaborados e partilhados com um objectivo prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Di Giacumo – as representações sociais constituem modelos explicativos categorizando as relações entre diversos objectos do meio. Moscovici -As representações sociais são um conjunto de conceitos, preposições e disposições criadas no decurso da comunicação inter-individual. Seriam equivalentes aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais contemporâneas. Têm uma função prática nas nossas vidas. Paralelismo entre sistemas de comunicação e sistemas cognitivos: Imprensa genérica centrada na difusão formação de opinião; Imprensa católica centrada na propagação formação de atitude consistente; Imprensa comunista centrada na propaganda formação de estereótipo. 30 -As opiniões são passageiras; -As atitudes necessitam de um trabalho de assimilação; -Os estereótipos são consensuais no interior de um grupo [componente cognitivo]; -A discriminação [componente comportamental]; -O preconceito é uma atitude a respeito de determinados grupos minoritários [componente afectivo]. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Modalidades de conhecimento prático, socialmente elaboradas e partilhadas; Modelos de interpretação e categorização do real; Guias de acção. No sistema cognitivo, existem subsistemas onde há uma ancoragem das representações sociais. A partir daí os sujeitos procederam à objectivação do objecto, para formar uma representação – que funcionará como fonte de ancoragem para novos objectos A construção de uma representação social envolve dois processos complementares: 1) Objectivação: génese das RS – materialização das significações. 1º Selecção de elementos do real; 2º Organização dos mesmos no núcleo figurativo; 3º Naturalização: os elementos passam a ser vistos como algo natural (não construído). 2) Ancoragem: enraizamento social da representação. Num certo sentido a ancoragem precede a objectivação (ter pontos de referência) mas numa segunda acepção a ancoragem vem a seguir à objectivação (a RS, uma vez construída, funciona como um esquema de sistematização, categorização e organização do real). Assimilação - incorporação no sistema cognitivo de um objecto exterior; Acomodação - diferenciação do sistema cognitivo para dar conta dos nossos objectivos; Reificação - é a “coisificação”. Os objectos são naturalizados (reificados). Categorização – surge no final, para novos objectos. 31 Jodelet elaborou uma grelha de estudo para os fenómenos de representação social: As condições de produção e circulação das RS implicam uma compreensão da cultura, da linguagem e comunicação e por último de aspectos especificamente sociais. O estatuto epistemológico das RS prende-se com o seu valor de verdade. Há um desfasamento entre a representação e a realidade, em que o real pode ser distorcido, pode ser desfalcado (podem ser suprimidas ou aumentadas coisas) durante o processo de objectivação. A RS é uma forma de saber, o que implica uma modelização do real a partir de diferentes suportes, conteúdos, estruturas e processos lógicos. As RS são uma forma de conhecimento prático, destinando-se a facilitar as interacções e as próprias interpretações dessas interacções. A RS é sempre a representação de um objecto, o que quer dizer que envolve simbolização do objecto, que lhe confere um significado - interpretação. Nas suas relações com o sujeito a RS é objectivamente uma construção mas é simultaneamente uma expressão (é expressa pelos sujeitos através da linguagem). Por exemplo, na definição de partida de Jodelet: “As representações sociais são uma modalidade de conhecimento socialmente elaborada (critério genético) e partilhada (critério quantitativo) com um objectivo prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (critério funcional). Moscovici desdobra os sujeitos em quatro categorias: Sujeito epistémico: refere-se aos processos cognitivos. Sujeito psicológico: refere-se a processos imaginários e fantasmáticos. Sujeito social: refere-se a crenças sociais dos indivíduos. Sujeito colectivo: refere-se às actividades/acções de um determinado grupo Concepção de Moscovicci não é uma concepção só de mediatização: S E RS R RS R A representação social define ao mesmo tempo: estímulos (interpretação) e orientação para a acção. Moscovici refere que entre as condições sociais que afectam a emergência de uma representação social temos que considerar três ordens de fenómenos: Dispersão da informação - desfasamento da informação disponível e da informação necessária; Focalização - os indivíduos geram RS mais sólidas ou mais fluidas consoante os recursos do meio ambiente; Pressão para a inferência - necessidade que todos sentimos de tomar posição em sentido dos objectivos grupais ou individuais. 32 III. ATRIBUIÇÃO CAUSAL – DA INFERÊNCIA À ESTRATÉGIA DE COMPORTAMENTO Atribuição Causal: -Forma como as pessoas explicam o comportamento; -Processos de imputação de causalidade. HEIDER E A PSICOLOGIA INGÉNUA ou DO SENSO-COMUM -Perceber o modo como o “homem de rua” explicava o comportamento; -O processo de atribuição é desencadeado pela necessidade de avaliação. Introduziu dois conceitos principais: 1. Formação de unidade: processos através dos quais a causa e o efeito, o autor e o acto são vistos como fazendo parte de uma mesma unidade causal. 2. Pessoa como protótipo das origens: tendência para imputar ao autor a origem dos actos; o actor é compreendido como causa dos comportamentos. 2 Tipos de causas: a) Internas ou estáveis factores disposicionais (os efeitos são espontâneos e imputáveis ao actor); b) Externas, circunstanciais ou instáveis factores situacionais (os efeitos resultam de constrangimentos situacionais). Há uma tendência para exagerar os factores disposicionais; No sentido de formalizar o modo como o sujeito explica as condutas dos outros Heider introduz outros conceitos: Poder ou capacidade; Tentativa ou esforço (natureza motivacional); Dificuldades das tarefas/situações (conceito externo). Para que estejamos em condições de afirmar que existe uma causalidade pessoal é necessário que atribuamos ao outro a capacidade de esforço para realizar determinadas acções/tarefas. JONES E DAVIS – TEORIA DA INFERÊNCIA CORRESPONDENTE -Modelo centrado nos ganhos informacionais; A partir da observação das acções e efeitos, fazemos inferências de intenções e, por detrás delas imputamos traços fixos - predisposição para o comportamento. 1) Processo de inferência de intenção: A inferência de intenção será mais provável se o comportamento se desviar da norma. O sujeito recorre às expectativas sociais, de forma a decidir se se trata de algo a imputar à pessoa (factores disposicionais) ou à situação/estímulo (factores situacionais) 33 2) Processo de inferência de predisposições: O percipiente tem de decidir se está na posse de dados que indiciem a presença de uma predisposição subjacente à intenção. Para isso tem de observar a pessoa-alvo em várias situações de forma a averiguar a consistência e distintividade do seu comportamento. No processo de imputação de intenções e disposições o observador tem que pressupor que o actor tem conhecimento das suas acções e efeitos e tem capacidade para realizar essas acções. Princípios de regulação: 1) Desejabilidade social – crenças acerca daquilo que os outros fariam na mesma situação [expectativas sociais]; 2) Nº de efeitos não comuns à escolha comportamental – disposição e intenção que orienta uma acção é indicada pelos efeitos dessa acção que não são comuns a acções alternativas. 1. DESEJABILIDADE SOCIAL -Quanto menor a desejabilidade social e mais inesperado o comportamento, mais informativo será sobre o actor e maior a probabilidade de que sejam privilegiados factores pessoais. 2. OS EFEITOS NÃO COMUNS -Quanto maior a semelhança entre as escolhas comportamentais, maior a dificuldade em estabelecer uma inferência correspondente, porque o comportamento é pouco informativo; -Quanto menor o nº de efeitos não comuns, maior a probabilidade de o percipiente efectuar uma inferência correspondente com confiança. -Quanto maior o nº de efeitos não comuns, maior a dificuldade em inferir algo sobre o actor e menor a confiança no julgamento. 3. RELEVÂNCIA HEDÓNICA E PERSONALISMO A escolha por factores pessoais pode ser afectada por factores motivacionais: 1) Relevância hedónica – o efeito pode beneficiar ou prejudicar o percipiente factores disposicionais; 2) Personalismo – o efeito pode ser percebido como intencional ou não. A correspondência percebida entre o comportamento e a intenção aumenta a relevância hedónica e personalismo do comportamento. 34 KELLEY – MODELO DA CO-VARIAÇÃO ou cubo ANOVA -Processo atribucional global = hetero-atribuição + auto-atribuição O processo de atribuição causal depende da quantidade de informação disponível. Distinguemse dois tipos de situações em que fazemos atribuições: 1) VÁRIAS PONTOS: informação proveniente de múltiplas fontes sendo possível avaliar correlações entre efeitos e causas. Os actores sociais comportam-se como cientistas que fazem uma análise causal do comportamento Modelo da Covariação 2) UM PONTO: Circunstâncias em que a informação é limitada e os sujeitos não têm oportunidade de avaliar as covariações entre as causas e efeitos. Nesse caso, recorrem a esquemas causais pré-existentes Modelo de Configuração 1. MODELO DA CO-VARIAÇÃO No processo de atribuição estão envolvidos: Pessoas [factores classificatórios] Cenário ou Entidades [estímulos ou VI] Situação ou Circunstâncias [pseudofactores] Podemos atribuir as causas à pessoa, entidades ou circunstâncias 3 Tipos de informação conjugados pelo percipiente: 1) Consenso – forma como os outros actores reagem à entidade; utilizado quando estamos a avaliar as pessoas como causa. -Baixo consenso – só eu é que gosto de bolo de chocolate Factor Pessoal -Alto consenso - todos gostam de bolo de chocolate Entidade 2) Distintividade – forma como o actor se relaciona com outras entidades; utilizado quando avaliamos as entidades como causa; -Baixa distintividade – eu gosto de todos os bolos Factores pessoais -Alta distintividade – eu só gosto de bolo de chocolate Estímulo/Entidade 3) Consistência – conhecimento da história do comportamento do actor; quando avaliamos as circunstâncias como causa; -Alta consistência – eu sempre gostei de bolo de chocolate Factores pessoais -Baixa consistência – eu não costumo gostar de bolo de chocolate Factores situacionais 8 combinações possíveis: 2x2x2 35 Atribuição interna ou à pessoa factores pessoais: Fraco consenso + fraca distintividade + alta consistência Atribuição ao estímulo/entidade: Alto consenso + alta distintividade + alta consistência Atribuição situacionais ou às circunstâncias factores situacionais: Baixo consenso + Alta distintividade + Fraca consistência Os observadores centram-se no consenso (factores pessoais), ao contrário dos actores que se baseiam na distintividade e consistência (situações e entidades), uma vez que possuem mais informação sobre o seu comportamento. 2. MODELO DA CONFIGURAÇÃO - esquemas causais Esquema causal: -Estrutura cognitiva representando relações causa-efeito (crenças causais). Concepção geral que o indivíduo tem sobre o modo como determinadas causas interagem para produzir o efeito. 1) Esquemas de causas múltiplas necessárias (MNC) – o efeito só se produz estando todas as causas presentes. 2) Esquemas de causas múltiplas suficientes (MSC) – o efeito produz-se mesmo que só esteja uma causa presente. 36 3) Esquemas de causas compensatórias – O efeito depende de um conjunto de causas que é responsável pela sua força. 2 Mecanismos no processo de atribuição causal: 1) Princípio de Desconto: o papel de uma causa diminui quando estão presentes outras causas igualmente plausíveis. (múltiplas causas – menos confiança na inferência); 2) Princípio do Aumento: o papel de uma causa é sobrevalorizado caso esta produza um efeito na presença de uma causa inibitória (causa facilitadora e causas inibitórias – maior confiança na inferência); A TEORIA DA AUTO-PERCEPÇÃO de BEM O percipiente pretende compreender os seus próprios comportamentos. O sujeito é capaz de gerar significações quando activado por estímulos externos que lhe suscitem reflexões aprofundadas sobre si próprio e o seu meio ambiente. JONES E NISBETT – DIFERENÇA DE PERSPECTIVAS ACTORES Factores situacionais OBSERVADORES Factores disposicionais Razões para a discrepância: 1) Informação histórica – os actores conhecem o historial das suas respostas (consistência e distintividade), ao contrário dos observadores (consenso); 2) Informação sobre os efeitos – os actores valorizam mais as consequências; 3) Informação sobre as causas – os actores focam a sua atenção nos constrangimentos situacionais, já os observadores estão centrados no actor; 4) Os factores motivacionais podem acentuar as divergências. ERRO FUNDAMENTAL DA ATRIBUIÇÃO - ROSS Erro fundamental = tendência para sobrestimar o papel dos factores pessoais/disposicionais e a subestimar o impacte dos factores situacionais. É característico dos observadores, mas pode actuar nos actores! Podemos cometer estes enviesamentos/erros atribucionais: Em benefício próprio ("Self serving bias"); Em benefício do grupo. Factores que explicam o erro fundamental: Perceptivo-cognitivos Motivacionais Culturais 37 Experiência: VI1 – carácter esperado/inesperado da dissertação -esperado – contra Fidel -inesperado – a favor de Fidel VI2 – escolha -obrigados a escrever -possibilidade de escolha VD – o que pensavam do redactor da dissertação Poder-se-ia esperar que os inquiridos fossem sensíveis à situação em que o texto foi escrito, e que não pudessem inferir nada acerca do autor que foi obrigado a escrever a dissertação. Quer dizer que os factores situacionais seriam suficientes para explicar o comportamento do autor. Contudo, os inquiridos recorreram a inferências disposicionais. Os resultados obtidos mostram que os sujeitos ignoraram a causa situacional e fizeram uma imputação de causalidade disposicional interna. WEINER - ATRIBUIÇÃO EM CONTEXTOS DE REALIZAÇÃO/DESEMPENHO Carácter inesperado do acontecimento ou a não obtenção de um objectivo Base do processo atribucional -Capacidade, Esforço, Dificuldade da tarefa e Sorte Dimensões nas atribuições de sucesso e fracasso: 1) Locus de causalidade - localização das causas a. Interna b. Externa 2) Estabilidade - invariância das causas ao longo do tempo a. Estável b. Instável 3) Controlabilidade – influência volitiva sobre a causa a. Controlável b. Incontrolável 38 Qual o objectivo destas atribuições? Não baixar a auto-estime! -As atribuições em termos de sucessos e fracassos têm consequências afectivas. -Se os resultados forem bons tendemos a atribui-lo a causas internas mas se os resultados forem maus atribuímos a causas externas. É uma posição ego defensiva! É uma forma de se proteger e de exibir a sua auto-estima. LIMITAÇÕES DAS PERSPECTIVAS TRADICIONAIS Suporte empírico baseado em estudos que não incluem atribuições causais mas atributos de personalidade. A atribuição de traços e a atribuição causal implicam processamentos distintos (sendo este último mais lento). PROCURA EPISTÉMICA RACIONAL vs HEDONISMO 2 Paradigmas no estudo das atribuições: 1) Racionalista – o percipiente procura as causas rigorosas; 2) Hedonista – necessidade do percipiente pôr em evidência o seu valor e de alguns outros. 39 Modelos clássicos abordam o processo de atribuição causal como ocorrendo num vácuo: a) Teórico - não têm em conta o conhecimento prévio e as capacidades de processamento do percipiente; b) Social - não têm em conta os constrangimentos sociais Gillbert - 3 ESTÁDIOS: 1. Identificação 2. Atribuição 2.1. Inferência disposicional automática 2.2. Correcção situacional envolvendo controlo Geralmente somos levados a privilegiar as respostas de carácter automático e crenças. O processamento controlado só é levado a cabo quando a informação é incongruente com as expectativas. A DIMENSÃO ESTRATÉGICA DAS ATRIBUIÇÕES Estratégia de auto-apresentação = comportamento é motivado pela necessidade de comunicar algo sobre o self a outro. ↓ “self-handicaps” = estratégias sociais de defesa do nosso eu. -É importante que a auto-apresentação seja consistente com as expectativas da audiência ↓ “Efeito do falso consenso” – tendência para o indivíduo acreditar que as suas posições são partilhadas pelos outros. -O self está submetido a uma série de constrangimentos, que levam o sujeito a procurar a sua positividade ao longo de diferentes dimensões. É necessário accionar uma estratégia que leve os outros a coordenar as perspectivas com o actor. -Ex. Desvalorização do próprio grupo = estratégia de positividade 40 A DIMENSÃO SOCIAL DAS ATRIBUIÇÕES Pettigrew Comportamento socialmente desejável do endogrupo Comportamento socialmente indesejável do exogrupo ↓ Factores pessoais Comportamento socialmente indesejável do endogrupo Comportamento socialmente desejável do exogrupo ↓ Factores situacionais Hewstonse e Ward -Existem diferenças nos padrões atribuicionais em função da posição ocupada na matriz social: Estatuto elevado – comportamento etnocêntrico, favorecimento do endogrupo; Estatuto baixo – favorece o outro grupo em vez do seu. 41 IV. ATRACÇÃO INTERPESSOAL, SEXUALIDADE E RELAÇÕES ÍNTIMAS Moreno - “Who shall survive? A new approach to the problems of human interactions” introduz a sociometria e marca o início do estudo sistemático da atracção interpessoal. ATRACÇÃO INTERPESSOAL Componentes afectivos das relações sociais - atitudes, emoções e sentimentos que experimentamos na relação com os outros Génese, desenvolvimento e ruptura das relações preferenciais (amor e amizade). Newcomb: Atracção interpessoal = atitude (orientação avaliativa de A relativamente a B) -3 componentes da atitude 3 componentes da atracção interpessoal a) Cognitivo – crenças sobre o objecto de atracção; b) Afectivo – sentimentos e emoções positivas por ele provocados; c) Comportamental – acções de aproximação. 2 Grupos das teorias da atracção interpessoal: a) Teorias da organização cognitiva: a atracção é explicada pela necessidade de consistência interna entre cognições e sentimentos; b) Terias da troca social e do reforço: relação entre componentes avaliativo e comportamental; a atracção é explicada pela interdependência comportamental e afectiva. A) TEORIAS DA ORGANIZAÇÃO COGNITIVA TEORIA DO EQUILÍBRIO DE HEIDER -3 elementos do sistema de cognições: a) Relativas ao próprio sujeito (P); b) Relativas ao outro indivíduo em interacção (O); c) Relativas a qualquer outro objecto (X). -2 tipos de relações: a) De unidade – elementos são percepcionados como fazendo parte da mesma unidade funcional; b) De sentimento – dimensão avaliativa ou emocional da relação. -Existem estados de equilíbrio (compatibilidade) e estados de desequilíbrio (incompatibilidade). As relações de desequilíbrio são psicologicamente desagradáveis, havendo uma tendência para o restabelecimento do equilíbrio. -No caso da atracção, a existência de uma relação de unidade implica uma relação de sentimento positiva. Mas a existência de uma relação de sentimento negativa pode levar à ruptura da relação de unidade. A dinâmica da atracção consiste nas modificações das relações de unidade e de sentimento. 42 Newcomb – só se verifica uma tendência para o equilíbrio se a relação de sentimento correspondente à relação de unidade for positiva. Nos casos em que não gosto do outro, é-me indiferente a concordância dos nossos sentimentos relativamente a um 3º objecto. Festinger – Segundo a Teoria da comparação social, tendemos a comparar-nos com indivíduos que têm atitudes e opiniões semelhantes às nossas. Desta forma, geram-se as condições conducentes à atracção. B) TEORIAS DO REFORÇO E DA TROCA SOCIAL Regra da reciprocidade: “Gosto de quem gosta de mim” Lott e Lott – Qualquer pessoa numa situação reforçadora torna-se alvo de atracção, porque se pode tornar em reforço secundário a que ficarão associados sentimentos e atitudes positivas. A atracção é uma resposta antecipatória do objectivo. Byrne – A atracção é uma resposta afectiva implícita a um EN que foi progressivamente associado a um EI positivo. Mas por vezes, existem situações simultaneamente positivas e negativas. Aronson e Linder – São os elogios e as críticas inesperadas que mais influenciam a atracção. De acordo com o princípio da maximização/minimização, os indivíduos sentem-se atraídos pelas relações em que os benefícios são maiores que os custos. Já de acordo com o princípio da justiça distributiva apenas as relações em que existe proporcionalidade entre custos e lucros para cada um dos intervenientes são geradoras de atracção. Kelley e Thibaut – Segundo a Teoria da interdependência social, o grau de atracção vai depender da avaliação dos resultados de uma relação comparando-os com os ganhos e perdas (nível de comparação). Só quando os resultados estão acima desse nível é que a relação é satisfatória. Para que uma relação acabe é preciso que se atinja o nível de comparação de alternativas (mais baixo possível). DETERMINANTES DA ATRACÇÃO Proximidade física; Familiaridade (Efeito da mera exposição de Zajonc); Motivo de afiliação – necessidade de proximidade e de suporte emocional; Beleza física; Semelhanças interpessoais; Avaliações positivas. 1. BELEZA FÍSICA Os padrões de beleza apresentam variabilidade histórica e relatividade cultural. Mas, dentro de uma mesma cultura e numa mesma época há convergência. A beleza física não depende exclusivamente dos atributos objectivos, é influenciada também por factores de situacionais e mediatizada por estados emocionais e motivacionais. 43 Os indivíduos tendem a associar a beleza a traços de personalidade positivos (“o belo é bom”). Não existe nenhuma razão plausível para aceitar esta ideia. Mas trata-se do processo da Autorealização das expectativas (Merton) – os sujeitos mais atraentes são tratados de forma diferente, o que conduz a um aumento da auto-estima, favorecendo o desenvolvimento de certas competências. Por regra os homens tendem a valorizar mais a beleza. Os indivíduos tendem a estabelecer relações com aqueles cujo grau de beleza física é relativamente próximo do seu. As assimetrias na beleza são compensadas por assimetrias de sinal contrário ao nível do estatuto sócio-económico ou das características da personalidade. A maior ou menor importância da beleza física relaciona-se com o tipo de relação desejado (amizade, amor, aventura amorosa, etc.) 2. SEMELHANÇAS INTERPESSOAIS Byrne - o grau de atracção depende do grau de semelhança atitudinal. A constatação de convergência atitudinal é uma situação reforçadora, na medida em que a validação consensual satisfaz a necessidade de organização lógica do mundo social. Rosenbaum - não é a semelhança entre atitudes que gera atracção, é a dissemelhança que leva ao afastamento/repulsão. A semelhança em termos práticos aparece apenas como facilitadora das interacções comportamentais. 3. AVALIAÇÕES POSITIVAS Rogers – Os elogios ou comentários positivos do outro relativamente ao meu comportamento levam-me a gostar dele, afinal “as amizades são sociedades de admiração mútua”. Homans - A aprovação social constitui um reforço generalizado mas a sua eficácia depende da especificidade das situações, da presença de variáveis moderadoras associadas a traços de personalidade. Jones - Indivíduos com uma auto-estima mais alta são menos vulneráveis às apreciações. 44 Se não há consonância entre os elogios que me fazem e aquilo que efectivamente penso de mim, sou levado a duvidar do meu interlocutor. Jones e Pitman – As estratégias de auto-apresentação são comportamentos motivados pelo desejo de aumentar o poder sobre o outro através da indução de atribuições disposicionais acerca do actor. São 5 as estratégias de auto-apresentação: aliciamento/sedução, intimidação, autopromoção, exemplaridade e súplica. No aliciamento/sedução corro o risco de ser visto como impostor. Trata-se do dilema do sedutor - quanto mais intensos são os motivos que me levam a aliciar o outro, maior é a probabilidade que ele se questione sobre as verdadeiras razões do meu comportamento. O AMOR PASSIONAL – caso particular da atracção Tem um carácter intenso, efémero e vulnerável. Caracteriza-se pela idealização do ser amado e por um conjunto de emoções positivas e negativas. Rubin – o amor envolve vinculação, preocupação e intimidade. O simples gostar remete para respeito e afeição. Walster e Hatfield – O amor passional é um estado de profunda activação fisiológica que se expressa num desejo intenso de união com o outro. Quando o amor é retribuído há satisfação e êxtase, mas no amor não retribuído há uma sensação de vazio, ansiedade ou desespero. Dutton e Aron – Existem diversas situações aversivas que facilitam a emergência do amor passional. Segundo o modelo do reforço negativo, a presença da comparsa reduziria a ansiedade. Berscheid e Walster – A experiência de paixão envolve activação fisiológica intensa e rotulação cognitiva dessa activação com base nos índices situacionais [modelo da falsa atribuição]. White, Fishbein e Rutstein – na condição forte activação as avaliações são mais extremadas: sobreavaliação do modelo atraente e subavaliação do modelo menos atraente. 45 Emoções positivas, como a excitação e gratificação sexual ou satisfação de necessidades em geral, podem levar à paixão. Snyder – indivíduos com elevada automonitorização são mais capazes de iniciar uma relação com base na aparência exterior e escolher cenários românticos, ao passo que os indivíduos com baixa automonitorização se centram nos atributos internos. CONSTRUÇÃO SOCIAL DA SEXUALIDADE Sexualidade – componente central da atracção e principal recurso nas relações íntimas. Dicotomia instinto/norma: Perspectiva psicobiológica – a sexualidade é uma necessidade biológica, determinada pelos mecanismos filogenéticos (≈ fome, sono, etc.); Perspectivas antropológicas/sociológicas – insistem nas regularidades normativas, e ignoram o sujeito como capaz de gerir o corpo e as suas experiências. 1. ENCENAÇÕES CULTURAIS, INTERPESSOAIS E INTRAPSÍQUICAS Gagnon e Simon – Os scripts sexuais são esquemas, socialmente construídos, de atribuição de significado e de orientação da acção. A importância dos scripts pode ser perspectivada em 3 níveis: A) Scripts ou Encenações culturais Os scripts sexuais são guias gerais da acção, em função das significações e normas colectivas, das orientações e ideologias das instituições sociais. B) Scripts interpessoais A sexualidade é perspectivada em função das respostas dos sujeitos às expectativas normativas que decorrem das encenações culturais. Os scripts interpessoais permitem a interpretação comum e contextualizada das encenações culturais mais pertinentes, o que facilita as trocas sexuais. Aqui é fundamental a comunicação. Os rapazes usam mais frequentemente estratégias de sedução. 39,9% das mulheres já recusaram, pelo menos uma vez, ter relações sexuais, ainda que o desejassem. Isto é explicado pelos estereótipos dos papéis sexuais. Os homens mostram maior disponibilidade para entrarem num script sexual independentemente do conhecimento prévio do parceiro (efeito coolidge – validade sexual masculina). É ao nível dos scripts interpessoais que se desenvolvem as estratégias de sedução e que os factores pessoais de atracção assumem uma função estratégica - automonitorização, o humor, o estilo competitivo favorecem a entrada nos scripts sexuais. 46 C) Scripts intrapsíquicos Os scripts intrapsíquicos são a encenação privada do desejo, são o conjunto de significações que induz e mantém a activação sexual, levando eventualmente ao orgasmo. São a articulação entre as fantasias e o comportamento sexual – mapas amorosos individualizados. 2. EXPERIÊNCIAS SEXUAIS Byrne – as reacções fisiológicas e os comportamentos manifestos são desencadeados por estimulação, mediatizados por processos internos, que induzem e mantém a activação sexual, e regulados pela avaliação dos resultados. -Mediação cognitiva e do papel dos scripts e das representações sociais; -Avaliação dos resultados da própria actividade sexual - o papel das expectativas positivas e negativas relativas às eventuais consequências das suas acções -O corpo e os movimentos expressivos do outro são o principal estímulo externo. Também a percepção destes sinais como excitantes está dependente de scripts sexuais. -Os scripts intrapsíquicos permitem a passagem do registo simbólico (sexualidade culturalmente codificada) ao registo metafórico (sexualidade como expressão de motivações e significados pessoalmente construídos). RELAÇÕES ÍNTIMAS Levinger e Snoek - todas as relações humanas se podem caracterizar pelo respectivo grau de intimidade. A intimidade pode pois ser perspectivada como um padrão específico de interacções que caracteriza determinadas relações. Kelley e cols distinguem dois planos: o plano descritivo (identificação dos padrões específicos de interacção) e o plano explicativo (explicitação dos mecanismos de interdependência). A interacção é definida como um padrão de acontecimentos interpessoais. Por acontecimento designam qualquer modificação que ocorre a nível individual, no plano cognitivo, emocional ou da própria acção. 47 Para falarmos em interacção, as modificações ocorridas em P têm de estar directamente relacionadas com as de O (conexões causais). A estrutura destas ligações define as propriedades da interacção (duração, frequência e intensidade). As interacções são condicionadas (laços causais) por factores do tipo disposicional (scripts intrapsíquicos), relacional (scripts sexuais interpessoais), social (encenações culturais) e ambiencial. As relações interpessoais íntimas definem-se como aquelas em que as conexões causais entre P e O são simultaneamente intensas, frequentes, diversificadas e duradouras. Todas as relações interpessoais se caracterizam pela capacidade recíproca dos intervenientes em controlar os recursos materiais e simbólicos do outro através de comportamentos específicos ou pela expressão de atitudes. 1. COMUNICAÇÃO E AUTO-REVELAÇÃO A comunicação tem uma função auto-referencial, ou de auto-revelação, permitindo troca de informações acerca do eu, contribuindo para a intensificação do grau de intimidade. É importante que haja reciprocidade nos comportamentos de auto-revelação (estados iniciais de intimidade). Os comportamentos de auto-revelação podem ainda ser usados como forma de adquirir poder e controlo na relação. Fisher propõe que se defina auto-revelação em função da veracidade das informações, sinceridade relativa aos motivos, intencionalidade, novidade e carácter privado dos conteúdos comunicados. 2. PROCESSOS EMOCIONAIS Berscheid - Para que P possa induzir emoções em O, é necessário que as respectivas cadeias de acontecimentos intrapessoais estejam interconectadas. Assim qualquer acontecimento na cadeia de P, que interfira na cadeia dos acontecimentos de O, é susceptível de gerar emoções em O. O carácter positivo ou negativo das emoções depende das expectativas em relação a essa interferência. O investimento emocional numa relação é uma extensão em que cada um dos actores pode interromper as sequências de acção do outro, ou o grau em que cada um deles é vulnerável às interrupções do outro. Então existe uma ligação entre investimento emocional e dependência relacional : quanto maior é o primeiro, maior é a segunda. 48 Roseman – os estados emocionais são definidos pela convergência ou não entre desejos e resultados obtidos. 3. PODER E CONFLITO Huston - distingue poder de influência e de dominância. O conceito de poder refere-se a uma relação instrumental (obtenção de objectivos e benefícios), não transitiva e desequilibrada. A gestão dos recursos e as estratégias de poder nas relações íntimas dão geralmente lugar a conflitos. Buunk e Bringle - O ciúme é uma reacção emocional aversiva, desencadeada por uma relação que envolve o nosso parceiro sexual actual ou anterior e uma 3ª pessoa. Esta relação pode ser real, imaginada ou esperada, ou pode ter ocorrido no passado. Conceptualizado como uma ameaça contra a relação existente, o ciúme pressupõe a existência de uma situação triangular e distingue-se de inveja ou rivalidade. Brehm – O ciúme é determinado culturalmente, mas não podemos esquecer o papel da autoestima na sua génese. “O que está em causa no ciúme é menos o amor do que o amorpróprio”. Nas mulheres o ciúme seria explicado pela dependência face à relação, e nos homens pela dependência auto-avaliativa. MODELOS DE AMOR Kelley - Modelos de amor – modelos das relações interpessoais íntimas Amor passional – necessidade do outro Amor pragmático – confiança e tolerância Amor altruísta – preocupação e cuidado Sternberg – Teoria triangular do amor - 3 componentes principais do amor Intimidade – sentimentos de proximidade e de vinculação (componente emocional) Paixão – atracção física e sexualidade (componente motivacional) Decisão/compromisso (componente cognitiva) Inexistência de amor Amizade Amor à primeira vista Amor vazio Amor romântico Amor conjugal Amor irreflectido Amor consumado Intimidade Paixão + + + + + + + + Decisão Compromisso + + + +