ESTABILIDADE MICROBIOLÓGICA DE MORTADELA COM TEOR REDUZIDO DE SAL MICROBIOLOGICAL STABILITY OF LOW-SODIUM MORTADELLA Claudia Nakamura Horita 1, Andrea Carla Barretto 2 , Marise Aparecida Rodrigues Pollonio 3 1 Doutoranda em Tecnologia de Alimentos – Universidade Estadual de Campinas 2 Docente – Universidade São Judas Tadeu 3 Docente – Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas Palavras-chave: mortadela, redução de sódio, estabilidade microbiológica Introdução Mortadela é um produto amplamente consumido em todo o mundo, inclusive no Brasil, sendo uma fonte protéica e de sódio para alguns segmentos da população, especialmente indivíduos de baixa renda. O alto consumo de sódio, no entanto, tem sido associado ao desenvolvimento de doenças crônicas, como a hipertensão arterial (FERNÁNDEZ-GINÉS et al., 2005). Assim, para atender tendências atuais de produtos cárneos com menores teores de sódio, estudos sobre reformulação de produtos embutidos são necessários e a substituição parcial de cloreto sódio por outros sais apresenta-se como uma alternativa para tal finalidade. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi estudar a estabilidade microbiológica de mortadela com teor reduzido de sódio com adição de mix de sais substitutos composto por cloreto de potássio, cloreto de cálcio e cloreto de magnésio a fim de assegurar a qualidade do produto sob o ponto de vista de segurança alimentar. Material e Métodos Foram elaboradas 7 formulações de mortadela com as seguintes proporções de sais de cloreto: F1NaCl 2%; F2- NaCl 1,0%, KCl 0,5%, CaCl2 0,5%; F3 - NaCl 1%, KCl 0,5%, MgCl2 0,5%; F4 – NaCl 0,5%, KCl 1%, CaCl2 0,5%; F5- NaCl 0,5%, KCl 1%, MgCl20,5%; F6 – NaCl 1%, KCl 1%; F7 - NaCl 1%. As mortadelas foram processadas em planta piloto industrial (Newmax) utilizando-se aditivos, ingredientes e matérias primas em concentrações de acordo com o regulamento técnico para o produto. Após processamento, as amostras de mortadelas estocadas sob refrigeração a 4ºC foram realizadas a cada 15 dias análises microbiológicas referentes a contagem total de mesófilos, coliformes totais e termotolerantes, bactérias lácticas e bactérias psicrotróficas (DOWNES & ITO, 2001). Resultados e Discussão De acordo com os valores reportados na Tabela 1, o tratamento F7 (1% de NaCl) apresentou a maior contagem total e de bactérias lácticas, indicando a deterioração em menor tempo. Os demais tratamentos (F1, F2, F3, F4, F5 e F6) apresentaram contagem total e de bactérias lácticas muito próximas entre si, não alcançando o limite estabelecido pela Resolução 12 para o final do prazo de validade (106UFC/g). Segundo os resultados para contagem de microrganismos psicrotróficos, o tratamento que apresentou a maior estabilidade microbiológica até 45 dias de estocagem foi a F1 (controle). Aos 60 dias de armazenamento, as formulações F2, F3, F4 e F7 mostraram-se fora dos limites microbiológicos estabelecidos pela RDC12, indicando redução de vida de prateleira. Para todos os tratamentos foram encontradas baixas contagens de coliformes fecais, máximo de 7,5 NMP/g que indicaram boas condições sanitárias e boas práticas de processamento sendo que todas as amostras encontraram-se dentro do limite estabelecido pela RDC 12 (BRASIL, 2001). Tabela 1. Contagem total (UFC/g), Bactérias Láticas (UFC/g), Psicrotróficos (UFC/g) e Coliformes (NMP/g) das mortadelas com teor reduzido de NaCl CONTAGEM TOTAL (UFC/g) 0 15 30 45 7,2x10 2 2,7x10 4 5,7x10 2 6,5x10 2 2,0x10 2 5,1x10 4 2,9x10 <10 <10 1,3x10 F2 <10 <10 3,5x10 F3 <10 <10 1,4x10 F4 <10 <10 4,5x10 F5 <10 <10 2,9x10 F6 <10 <10 1,5x10 F7 <10 4,5x10 2 60 2 F1 3,0x10 BACTÉRIAS LÁCTICAS (UFC/g) 0 3 7,2x10 3 5,6x10 4 2,4x10 3 7,0x10 3 1,1x10 3 4,0x10 4 3,1x10 15 <10 2,8x10 5 <10 <10 3,9x10 5 <10 <10 1,9x10 5 <10 <10 5,0x10 5 <10 <10 4,8x10 5 <10 <10 3,4x10 6 <10 3,4x10 2 F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 <100 <100 <100 <100 <100 <100 <100 <100 <100 <100 <100 <100 <100 <100 30 45 2 2,3x10 2 3,1x10 5 4,1x10 3 4,7x10 3 4,2x10 3 3,8x10 5 4,8x10 60 5 1,7x10 5 5,8x10 6 1,7x10 5 2,3x10 4 5,2x10 4 8,2x10 5 3,4x10 60 2 9,5x10 2 1,7x10 4 1,4x10 2 9,2x10 2 3,6x10 2 7,6x10 4 2,9x10 3,0x10 3 2,1x10 5 3 8,7x10 5 4,1x10 4 4,4x10 3 8,8x10 3 5,8x10 4 2,5x10 5 5 5 5 5 6 COLIFORMES (NMP/g) 0 15 45 <10 PSICROTRÓFICOS (UFC/g) 0 30 4 15 30 45 60 CT CF CT CF CT CF CT CF CT CF 6 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 7,5 <3 7 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 7 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 0,9 <3 7 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 6 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 0,9 <3 6 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 2,3 <3 7 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 24 <3 4,7x10 2,2x10 2,1x10 8,9x10 3,4x10 2,5x10 2,7x10 CT – coliforme total; CF – coliforme fecal; F1 – Formulação controle com 2% de NaCl; F2 – Formulação com 1% de NaCl, 0,5% KCl e 0,5% CaCl2 ; F3 – Formulação com 1% de NaCl, 0,5% KCl e 0,5% MgCl2 ; F4 – Formulação com 0,5% de NaCl, 1%KCl e 0,5% CaCl2; F5 – Formulação com 0,5% de NaCl, 1% KCl e 0,5%MgCl2; F6 – Formulação com 1% de NaCl, 1%KCl; F7 – Formulação com 1% de NaCl Conclusões A substituição do cloreto de sódio, por outros sais, não compromete a estabilidade microbiológica da mortadela, em até 45 dias de prateleira, especialmente com relação ao crescimento de microrganismos psicrotróficos. No entanto, a redução de NaCl em 50% sem o uso de sais substitutos apresenta-se muito suscetível à deterioração o que demonstra que a redução de sódio em produtos cárneos emulsionados precisa ser acompanhada de outros obstáculos para garantir sua segurança durante a vida de prateleira. Referências Bibliográficas BRASIL. Resolução RDC/ANVISA n. 12 de 2001. Aprova o regulamento técnico sobre padrões microbiológicas para alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Seção 01, p. 54, jan. 2001. DOWNES,F.P.; ITO, H. Compendium of Methods for the Microbiological Examination of Foods. 4ed. Washington: American Public Health Association, 2001, 676 p. FERNÁNDS-GINÉS, J.M.; FERNÁNDEZ-LÓPEZ, J.; SAYAS-BARBERÁ, E.; PÉREZ-ALVAREZ, J.A. (2005). Meat products as functional foods: a review. Journal of Food Science. vol.70, p. 37-43. *Autor correspondente: Marise Aparecida Rodrigues Pollonio, Professora do Departamento de Tecnologia de Alimentos, Fea, Unicamp, e-mail: [email protected]