PINK Torne pessoal Os radiologistas têm vidas profissionais solitárias. Ao contrário de muitos profissionais da medicina, que passam grande parte de seus dias interagindo diretamente com pacientes, os radiologistas geralmente ficam sozinhos, em salas pouco iluminadas, ou debruçados em computadores, analisando imagens de Raio-X, tomografias computadorizadas e ressonâncias magnéticas. Tal isolamento pode entediar esses profissionais e levá-los a perder o interesse por seus empregos. E, pior, se o trabalho começa a dar uma sensação impessoal e mecânica, isso pode causar o declínio de seus desempenhos. Há alguns anos, um jovem radiologista israelense chamado Yehonatan Turner teve uma ideia de como induzir mais de seus colegas de função a desempenharem o trabalho com mais gosto e habilidade. Trabalhando como residente no Shaare Zedek Medical Center, em Jerusalém, com o consentimento dos pacientes, Turner providenciou fotos de mais de trezentas pessoas que chegavam para se submeterem a uma tomografia computadorizada (TC). Depois ele relacionou um grupo de radiologistas para uma experiência, sem que eles soubessem o que ele estava estudando. Quando os radiologistas sentavam em seus computadores e abriam uma das TCs desses pacientes, para fazer a análise, a fotografia do paciente automaticamente aparecia ao lado da imagem. Depois que haviam feito a análise, os radiologistas preenchiam um questionário. Todos eles relataram sentir “mais empatia com os pacientes depois de verem as fotografias”e serem mais meticulosos na forma como analisavam o exame. 170 Mas o verdadeiro poder da ideia de Turner se revelou três meses depois. Uma das habilidades que distingue radiologistas extraordinários dos que são medianos é sua capacidade de identificar o que são chamadas de “descobertas acidentais”, anormalidades numa imagem que o médico não estava procurando, e não são relacionadas à doença pela qual o paciente está sendo tratado. Por exemplo, suponha que eu desconfie que quebrei o braço e vá ao hospital fazer um Raio-X. A principal função da médica é ver se tenho uma fratura de ulna. Mas se ela também detectar um cisto não relacionado, perto de meu cotovelo, isso é uma “descoberta acidental”. Turner selecionou 81 exames de imagem com fotos anexas, nas quais eles haviam encontrado descobertas acidentais, e apresentou-as novamente ao mesmo grupo de radiologistas, três meses depois. Só que dessa vez, sem as fotos dos pacientes (pelo fato de os radiologistas lerem tantas imagens diariamente e por não saberem o que Turner estava estudando, eles não sabiam que já haviam visto esses exames, especificamente). O resultado foi estarrecedor. Turner descobriu que “80% das descobertas acidentais não foram relatadas quando a fotografia do paciente foi omitida do arquivo”. 171 Embora os radiologistas estivessem olhando precisamente as mesmas imagens que haviam analisado noventa dias antes, dessa vez eles foram bem menos meticulosos e precisos. “Nosso estudo enfatiza uma abordagem ao paciente como um ser humano, não como um caso de estudo anônimo”, Turner disse, à ScienceDaily. 172 Médicos, como o restante de nós, estão no negócio da indução. Porém, de modo a terem um bom desempenho de suas funções –ou seja, induzirem pessoas da doença e dos ferimentos para a saúde e o bem-estar –os médicos se saem bem melhor quando tornam as coisas pessoais. Em vez de olharem os pacientes como sacolas de sintomas, olhá-los como seres humanos é algo que ajuda os médicos a realizarem seu trabalho, e aos pacientes em seus tratamentos. Isso não significa que os médicos e enfermeiros devam abandonar as listas de checagem e os protocolos. 173 Mas significa que recorrer de forma determinante a processos e algoritmos que obscurecem o ser humano tende ao erro clínico. Como demonstra o estudo de Turner –e por conta de seu trabalho, agora as fotografias são inseridas em exames de Papanicolaou, exames de sangue e outros diagnósticos174 –inserir o pessoal no profissional pode aumentar a qualidade do tratamento. E o que é verdade para médicos é verdade para o restante de nós. Em cada circunstância em que tentamos induzir os outros, invariavelmente envolvemos outro ser humano. No entanto, em nome do profissionalismo, nós frequentemente negligenciamos o elemento humano e adotamos uma postura abstrata e distante. Em lugar disso, devemos re-calibrar nossa abordagem para que se torne concreta e pessoal –não por motivos compassivos, mas por motivos práticos. Equipar passageiros para influenciarem seus próprios motoristas de matatus torna a coisa concreta e pessoal. Analisar uma TC sozinho, numa sala, é algo abstrato e distante. Analisar essa TC com uma fotografia do paciente torna aquilo concreto e pessoal. Tanto nas vendas tradicionais quanto nas vendas sem venda, nos saímos melhor quando vamos além da resolução de uma charada para servir uma pessoa. Mas o valor de tornar a coisa pessoal tem dois lados. Um é reconhecer a pessoa que você está tentando servir, lembrando do ser humano individual por trás da TC. Outra coisa é se colocar por trás seja do que for que você esteja tentando vender. 170 Yehonatan Turner e Irith Hadas-Halpern, “The Effects of Including a Patient’s Photograph to the Radiographic Examination”, estudo apresentado na Radiological Society of North America Ninety-fourth Assembly and Annual Meeting, 3 de dezembro de 2008. Veja também “Patient Photos Spur Radiologist Empathy and Eye for Detail”, RSNA Press Release, 2 de dezembro de 2008; Dina Kraft, “Radiologist Adds a Human Touch: Photos”, New York Times, 7 de abril de 2009. 171 Turner e Hadas-Halpern, “The Effects of Including a Patient’s Photograph”. 172 “Patient Photos Spur Radiologist Empathy and Eye for Detail”, ScienceDaily, 14 de dezembro de 2008, disponível em: http:// bit.ly/ JbbEQt. 173 Veja Atul Gawande, The Checklist Manifesto: How to Get Things Right (New York: Picador, 2011). 174 Veja, por exemplo, “Disconnection from Patients and Care Providers: A Latent Error in Pathology and Laboratory Medicine: An Interview with Stephen Raab, MD”, Clinical Laboratory News 35 no. 4 (abril de 2009). 175 Sally Herships, “The Power of a Simple ‘Thank You’”, Marketplace Radio, 22 de dezembro de 2010. 176 R. Douglas Scott II, The Direct Medical Costsof HealthcareAssociated Infections in U.S. Hospitals and the Benefits of Prevention, Centers for Disease Control and Prevention, março de 2009, disponível em: http:// www.cdc.gov/ HAI/ pdfs/ hai/ Scott_CostPaper.pdf; Andrew Pollack, “Rising Threat of Infections Unfazed by Antibiotics”, New York Times, 26 de fevereiro de 2010; R. Monina Klevens et al., “Estimating Health Care-Associated Infections and Deaths in U.S. Hospitals, 2002, “Public Health Reports 122, no. 2 (março-abril de 2007): 160-66. 177 Adam M. Grant e David A. Hofmann, “It’s Not All About Me: Motivating Hand Hygiene Among Health Care Professionals by Focusing on Patients”, Psychological Science 22, no. 12 (dezembro 2011): 1494-99. Trate a todos como você trataria sua avó Yehonatan Turner, o radiologista israelense que liderou o estudo com fotografias, disse ao The New York Times que a forma com que ele lidou com a natureza impessoal de seu trabalho foi imaginar que todos os exames eram de seu pai. Você pode pegar esse insight emprestado, com essa técnica simples, para induzir os outros. Em cada encontro, imagine que a pessoa com quem você está lidando é sua avó. Essa é a forma máxima de tornar aquilo pessoal. Como você se portaria se a pessoa que está entrando na sua vaga, no estacionamento, não fosse um estranho, mas sua avó? Que mudanças você faria se o empregado a quem você está prestes a pedir para fazer uma tarefa desagradável não fosse um novo contratado, aparentemente tão descartável, mas a mulher que deu à luz um de seus pais? Com que honestidade e ética você agiria se a pessoa com quem você está se correspondendo via e-mail não fosse um colaborador, mas a boa senhora que lhe envia cartões de aniversário com uma nota de 5 dentro? Ao remover a capa de anonimato e substituí-la por essa forma de conexão pessoal, você estará mais inclinado a verdadeiramente servir, algo que, mais adiante, será para benefício de todos. E se você é cético, tente essa variação. Trate a todos como trataria sua avó, mas imagine que sua avó tem oitenta mil seguidores no Twitter.