Cultivo de sorgo em sistema de vazante com e sem cobertura morta

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CULTIVO DE SORGO EM SISTEMA DE VAZANTE COM E SEM
COBERTURA MORTA
Autor1
1
Cultivo de sorgo em sistema de vazante com e sem cobertura morta
RESUMO
O sistema de vazante consiste em plantar nas margens dos reservatórios, em solos com declive
suave, enquanto o nível de água diminui progressivamente. Trata-se uma alternativa de autosustento constantemente empregada pelos agricultores nos períodos de estiagem no semiárido. O
objetivo do trabalho foi avaliar o desempenho produtivo de quatro variedades de sorgo (IPA
2502, IPA 4202, IPA 467-42 e IPA SF-25) em sistema de vazante com e sem cobertura morta no
solo. A cobertura morta foi a palhada de Taboa (Typha domingensis), escolhida por ser abundante
na região. Foram avaliadas a biometria das plantas e as produções de matéria verde (MV) e de
matéria seca (MS). O experimento foi em blocos ao acaso, em esquema fatorial 4 x 2, com 4
repetições. As maiores produções de biomassa foram obtidas para as cultivares IPA 467-42 e IPA
SF-25. O efeito da cobertura morta foi significativo na produção de MS para a variedade IPA SF25 e proporcionou um incremento de 62%. A produtividade média de MS de 12,85 t/ha do
experimento indica o sistema de vazante como uma excelente alternativa para produção de sorgo
em período de seca.
Palavras chave: Sorghum bicolor, semiárido, Taboa (Typha domingensis).
1
GROWING OF SORGHUM IN FLOOD RECESSION AGRICULTURE WITH AND
WITHOUT MULCHING
ABSTRACT
Flood recession agriculture consists of cropping the margins of the reservoirs, on slight slope,
while the water level progressively decreases. It is an alternative of self-support widely used by
farmers in dry periods. The objective of this research was to evaluate the performance of four
sorghum varieties (IPA 2502 , IPA 4202 , IPA and IPA 467-42 SF - 25) on flood recession
agriculture when subjected to two conditions of soil cover (with and without mulch). For
mulching it was used southern cattail straw (Typha domingensis), chosen because it is abundant
in the region. Biometrics plants and the productions of green matter (GM) and dry matter (DM)
were avaluated. The experimental design adopted for this study was the one of randomized
blocks, with a factorial of 4 x 2, with four replicates. The highest yields of biomass are obtained
for the cultivars IPA 467-42 and IPA SF-25. Mulching effect was significant in dry matter for the
IPA SF-25variety. Mulched sorghum plants (IPA SF-25 variety) produced more dry matter than
the unmulched plants. The average yield of 12.85 t DM / ha of the experiment indicates that the
flood recession agriculture is an excellent alternative to sorghum production in the dry season.
Keywords: Semi-arid. Sorghum bicolor, semiarid, Southern Cattail (Typha domingensis).
2
No semiárido brasileiro, as áreas dos vales, baixadas ou baixios, e as áreas planas ou
suavemente onduladas que lhes são adjacentes, são as que têm maior potencial de produção
agrícola, em função de uma maior disponibilidade hídrica. Para elas convergem as águas das
bacias, seja na forma dos riachos intermitentes, do escoamento subterrâneo ou da revência dos
açudes. A agricultura de vazante consiste em cultivar nestas bordas ou margens, em declive
suave, à medida que a água vai baixando. A cultura utiliza apenas a água presente no solo para
realizar o seu ciclo e produzir em plena época de estiagem. A agricultura de vazante é sem duvida
uma das técnicas mais barata, pois requer poucos insumos, não necessita de energia e de
equipamentos. Apesar de ser uma técnica bastante utilizada é notória a ausência de estudos mais
aprofundados sobre o cultivo de vazante, o que não possibilita uma avaliação das suas
potencialidades (Antonino et al., 2005).
O sucesso do sistema de vazante está associado a capacidade dos solos armazenar água por
período de tempo satisfatório à finalização do ciclo da cultura, e a aptidão da cultura suportar o
estresse hídrico. O sorgo surge como alternativa para o cultivo de vazante, pois se trata de uma
planta capaz de sobreviver e produzir em condições de limitado suprimento de água em períodos
longos de seca. Devido a sua tolerância ao estresse hídrico, o sorgo pode ocupar áreas onde a
cultura do milho não apresenta desempenho satisfatório, e o seu uso se justifica por suas
características agronômicas que, entre outras, incluem elevada produtividade de biomassa
(Tabosa et al., 2007).
Embora os solos funcionem como um excelente reservatório de água para o cultivo de
vazante existe uma considerável evaporação de água quando ocorre o período de seca. A
utilização de palhadas ou restolhos de culturas como cobertura morta, pode contribuir para
retenção da umidade no solo, garantindo a produção mais regular das plantas cultivadas no
sistema de vazante. A presença de palhada na superfície do solo reduz a taxa de
evapotranspiração das culturas, sendo uma prática importante principalmente nas regiões
semiáridas, onde a demanda evapotranspirativa da planta é aumentada em decorrência da alta
incidência de radiação solar e baixa umidade do ar, concorrendo para uma maior demanda hídrica
(Santos et al., 2012).
A espécie vegetal para a cobertura morta deve ser escolhida em função da farta
disponibilidade de biomassa e que de preferência não se constitua como fonte de alimento
3
humano e/ou animal da região. Neste contexto, a taboa (Typha domingensis), planta de regiões
alagadas, típica de brejos e várzeas, e que se encontra espalhada por todo o mundo, apresenta
atributos relevantes para que seja empregada como cobertura morta de solos.
Diante do exposto, nesta pesquisa buscou-se avaliar a viabilidade e a produtividade de
quatro cultivares de sorgo em sistema de vazante, submetidos a duas condições de cobertura do
solo (com e sem cobertura morta). Para garantir uma cobertura morta com espessura de
aproximadamente cinco centímetros na superfície do solo, foi aplicada a palhada de Taboa com
uma proporção de cinco toneladas/ha de matéria seca.
Material e métodos
O ensaio experimental foi conduzido no ano agrícola de 2012, na Estação Experimental Dr.
Lauro Ramos Bezerra, (07o 59’ 00’’ S, 38o 19’ 16’’ W.Gr. e 500m de altitude), pertencente ao
Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA, município de Serra Talhada, localizado na Zona
Fisiográfica do Sertão, na Microrregião Alto Pajeú. Segundo Koopen, o clima local é do tipo
BSwh’. A precipitação pluviométrica média anual fica em torno 632 mm, com o período mais
chuvoso concentrado nos meses de janeiro a abril e é responsável por 65% das chuvas anuais. As
temperaturas médias mensais oscilam entre 23,6 e 27,7 °C e as temperaturas mínimas entre 18,4 e
21,6 °C (SECTMA, 2006).
As temperaturas altas ocorrem durante os meses de novembro, dezembro e janeiro, com
valores superiores a 32 °C. O solo da área experimental é classificado como Argissolo Vermelho
Amarelo (EMBRAPA, 2006).
Na Tabela 1 são apresentadas as propriedades físicas do solo da vazante. A superfície do
solo é uniforme de textura franco-arenosa nos Blocos I e IV, enquanto que os Blocos II e III são
mais arenosos (areia franca). Os valores são aproximados para as demais propriedades físicas (s,
p , RP). As medidas de densidade do solo foram realizadas com cilindro tipo Uhland de 0,05m
de altura e diâmetro, enquanto que as medidas resistência mecânica à penetração foram realizadas
até 0,20 m de profundidade com o penetrômetro de impacto modelo Stolf (Stolf et al., 1983).
Estas avaliações foram realizadas antes da instalação do experimento na área.
--------------------------------------------TABELA 1-----------------------------------------------------------
4
Para o manejo racional do cultivo de vazante foi estabelecido os valores mínimo (Pmin) e
máximo (Pmax) de profundidade de lençol freático (Antonino & Audry, 2001). No inicio do
experimento determinou-se a profundidade do lençol através de tradagens. No dia 02/08/2012
foram instalados seis poços de observação na área experimental, para acompanhamento semanal
do nível do lençol freático e verificação da profundidade máxima do lençol ao final do ciclo da
cultura.
Com os valores de profundidades e da taxa de rebaixamento do lençol freático (Rd),
determinou-se o turno de plantio na vazante (Tv) para analisar a sua adequação ao ciclo da cultura
do sorgo. De acordo com Antonino & Audry (2001), o turno de plantio da vazante (Tv) pode ser
identificado pela relação Tv = (Pmax – Pmin)/Rd.
As características agronômicas e a produtividade do sorgo na presença e ausência de
cobertura morta, foram avaliados obedecendo a um delineamento experimental em blocos ao
acaso, em esquema fatorial 4 x 2 (quatro cultivares de sorgo x duas condições de cobertura de
solo), com quatro repetições. Para análise dos dados utilizou-se o programa estatístico Sisvar
sendo empregado o teste Tukey, em nível de 5% de probabilidade, para a comparação entre as
médias de tratamentos.
As cultivares IPA 2502 (de duplo propósito e de porte médio), IPA 4202 (Sudanense de
porte intermediário), IPA 467-42 e IPA SF 25 (forrageiro de porte alto), foram cultivadas em
duas condições de cobertura de solo (presença e ausência de cobertura morta). Como cobertura
morta utilizou-se a palhada de Taboa (Typha domingensis), escolhida para este propósito devido
à presença em abundância do material próximo a área experimental, bem como por ser um
material resistente, fibroso e com potencial para ser utilizado como cobertura.
No dia 27/06/2012, realizou-se o semeio manual do sorgo empregando-se o espaçamento
de 0,15 m entre covas, e profundidade de três centímetros, utilizando-se três sementes por cova.
Utilizou-se um gabarito de madeira para garantir covas de profundidades e espaçamentos
uniformes. A parcela foi constituída por três fileiras de 5,0 m de comprimento, espaçadas por
0,80 m. Para fins de avaliação, foi considerada 3 m da fileira central, perfazendo uma área útil de
2,4 m2.
No dia 07/07/2012, dez dias após a semeadura, as covas que não apresentaram germinação
foram replantadas para assegurar uma uniformidade no estande de plantas. Vinte e oito dias após
5
a semeadura (DAS), no dia (25/07/2012), foram realizados os desbastes, deixando-se três plantas
por cova.
No dia 14/08/2012 foi realizada a adubação de cobertura utilizando a mistura 14-0-18. Foi
aplicado 0,78 kg da mistura para cada parcela experimental. Conforme análise de solo, foi
aplicado 90 kg de N e 20 kg de K2O por hectare. Após o desbaste das plantas e determinação do
estande inicial, foi colocada a cobertura morta. As plantas de taboa foram cortadas, retirando-se
todas as sementes para evitar propagação indesejável na área. Em seguida a palhada de taboa foi
pesada no campo com uma balança portátil e levada para área experimental, utilizando-se 40 kg
de material verde por parcela. Estes valores foram calculados para que o equivalente a cinco
toneladas/ha de matéria seca, com uma espessura de aproximadamente 5 cm, fosse mantida
dentro da parcela.
O estabelecimento do estande de plantas no campo foi avaliado por: i) Estande inicial (EI)
onde foi registrada a percentagem de plantas sobreviventes após o desbaste; ii) Estande final (EF)
onde foi contabilizado o número de plantas que atingiram o ponto de colheita. Aleatoriamente
foram amostradas cinco plantas da área útil de cada parcela para avaliação da altura média das
plantas, aos 30, 60 e 90 dias após o plantio (DAS), bem como na ocasião da colheita, aos 110
DAS. Contou-se o número de dias compreendido entre a data de semeadura até o estágio de 50%
do florescimento para cada cultivar.
Nos dias 16/10/2012 e 17/10/2012 na ocasião da colheita, quando todas as panículas
estavam completamente abertas e os grãos de sorgo apresentavam-se no estádio pastoso,
tendendo para farináceo, foi realizada uma contagem das plantas para a determinação da
densidade (No de plantas/área útil da parcela). Em seguida foram cortadas (a 2,5 cm do solo) e
pesadas para determinação da produção de matéria verde (PMV), sendo os valores extrapolados
para t ha-1.
No momento da colheita, também foram coletadas oito plantas ao acaso por parcela para
quantificação das partes integrantes da planta: colmo, folhas e panícula. Após a pesagem o
material foi colocado para secagem em estufa de circulação forçada a uma temperatura de 65ºC,
até atingirem peso constante. A partir do peso da biomassa colhida em cada área útil da parcela,
obteve-se a produção de matéria seca (PMS) e depois se extrapolou esse valor para t ha-1.
6
Resultados e discussão
No período de condução do experimento (27 de junho a 15 de outubro de 2012), a
temperatura média foi de 24ºC e o valor de precipitação pluvial foi de 24,4 mm. Esse valor é
inferior a lâmina pluviométrica média registrada para o mesmo período entre os anos de 2008 a
2011, onde se têm valores médios de precipitação superiores a 150 mm (INMET, 2010). Durante
todo o período do cultivo na vazante, de agosto a outubro de 2012, os níveis do lençol freático
apresentaram rebaixamento constante em todos os piezômetros.
No início do cultivo do sorgo (27/06/12), foram realizadas algumas perfurações no solo
com auxílio de um trado (tipo holandês) e constatou-se que a profundidade mínima do lençol
freático foi de 15 centímetros. Em seguida, de 02/08 a 12/10, quando a profundidade do lençol
freático passou a ser monitorada por meio de piezômetros (poços de observação), verificou-se um
aumento na profundidade do lençol freático de 63 centímetros em média. Os poços P1, P3 e P5
devido a maior proximidade ao açude, apresentaram níveis de lençol freático mais superficiais,
enquanto que os poços P2, P4 e P6 apresentaram níveis mais profundos por estarem mais
distantes. No dia 02/08/12 as médias de profundidade do lençol freático foram iguais a 47,3 e
70,3 cm para os poços próximos ao açude e os mais distantes, respectivamente. No dia 15/10/12
as médias de profundidade do lençol freático aumentaram para 115,7 e 128 cm para os mesmos
poços (Figura 1).
Os valores médios de profundidades do lençol freático obtidos no intervalo de 74 dias e a
taxa de rebaixamento do lençol freático de 8,5 mm/dia em média (Rd = [(128-70,3)/74 + (115,7 –
47,3)/74]/2), permitiu um turno de plantio para a vazante de 137 dias, ao considerar as
profundidades mínima e máxima do lençol freático iguais a 15 e 128 cm, respectivamente. Com
base nesses cálculos, pôde-se concluir que, mesmo no período de seca, o solo da vazante do
açude Saco apresenta segurança hídrica para atender os 110 dias do ciclo do sorgo.
7
Precipitação pluvial (mm)
7.0
6.0
Poço (P1)
Poço (P4)
Poço (P2)
Poço (P5)
Poço (P3)
Poço (P6)
0
20
40
5.0
60
4.0
80
3.0
2.0
100
1.0
120
0.0
140
Figura 1. Precipitação pluvial e variação do nível do lençol freático nos poços de observação
obtidos durante o plantio de sorgo na vazante do Açude Saco, Serra Talhada-PE.
Na Tabela 2 são apresentados os resultados referentes aos estandes de plantas,
percentagem de sobrevivência, número de plantas por hectare e a contagem do número de dias
para o alcance de 50% do florescimento. Para os estandes inicial e final das plantas de sorgo, foi
observada diferença significativa (P<0,05) somente para a cultivar IPA 2502, que apresentou um
estande de plantas inferior as demais cultivares. Cunha et al (2010) encontraram valores de
sobrevivência média de plantas iguais a 90,1%, sendo os maiores valores para IPA 467-42 e SF
25 que tiveram percentual máximo (100%) de sobrevivência. Igarasi et al. (2008) afirmaram que
o elevado percentual de sobrevivência das cultivares de sorgo justifica a sua utilização como
excelente material para produção de forragem. Na vazante do açude Saco todas as cultivares de
sorgo, independente da condição de cobertura do solo, obtiveram percentual de sobrevivência
superior a 80 %.
Oliveira et al. (2005), estudando o comportamento agronômico de quatro cultivares de
sorgo, encontraram valores de produção de biomassa ligeiramente superiores aos deste
8
Profundidade do lençol freático (cm)
8.0
experimento com uma densidade de plantio variando de 167,27 a 212,85 mil plantas por hectare.
Já quanto ao número de plantas/ha obtiveram-se valores entre 200 a 232 mil plantas. Dalla Chiesa
et al. (2008) verificaram que as maiores produções são obtidas nas densidades de 180 e de 210
mil plantas por hectare.
--------------------------------------------TABELA 2----------------------------------------------------------A taxa de sobrevivência das plantas apresentou diferença estatística somente para a cultivar
IPA 2502, com valor inferior as demais cultivares. Os resultados obtidos referentes ao início do
florescimento indicam que a cultivar IPA 2502 pode ser considerada de ciclo intermediário, pois
atingiu a floração cerca de 70 dias após o plantio. A cultivar IPA 4202 foi a mais precoce,
atingindo a floração em pouco menos de 60 dias. Kenga et al. (2006), verificaram que a floração
precoce está associada com a estatura da planta. Cultivares de sorgo de baixo porte tendem a
atingir a floração mais precocemente. Neste experimento esse fato foi evidenciado nas cultivares
de menor porte, IPA 2502 e IPA 4202, pois atingiram mais rapidamente a floração, diferindo
estatisticamente das demais cultivares de maior porte, IPA 467-42 e IPA SF-25. Quando
comparados os dias de início do florescimento das cultivares, na presença e na ausência de
cobertura morta no solo, percebe-se que não há diferença significativa entre esses materiais,
sendo os mais tardios IPA SF-25 e IPA 467-42 (Tabela 2).
A análise de variância para altura de plantas das cultivares de sorgo mostrou diferença
significativa para as cultivares ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey (Figura 2).
Aos 30 e 60 dias após a semeadura, não houve diferença significativa para altura de plantas entre
as quatro cultivares, tanto na ausência como na presença de cobertura morta. Porém, a partir dos
90 DAS, as parcelas com cobertura morta apresentaram plantas com maior porte que aquelas sem
cobertura.
Na presença de cobertura morta obteve-se os maiores valores de altura de plantas para a
cultivar IPA SF-25 e os menores valores para IPA 2502, a partir dos 60 DAS. Aos 90 dias após a
semeadura (27/09/2012), na presença de cobertura morta, a cultivar IPA SF-25 apresentou porte
de 2,35 m, diferindo estatisticamente das cultivares IPA 2502 e IPA 4202 para mesma condição.
Esse mesmo comportamento foi observado na ausência de cobertura morta (Figura 2).
Boer et al. (2007) e Torres et al. (2008) demonstraram os efeitos benéficos da cobertura
morta nas propriedades do solo, bem como na produção das culturas. De acordo com esses
9
autores a palhada além de aumentar a estabilidade estrutural e proteger contra a erosão hídrica
reduz também a evaporação da água, mantendo a umidade nessas parcelas por mais tempo.
Na colheita, a cultivar IPA SF-25 sem cobertura morta atingiu uma altura de 2,65 m, porém
a mesma cultivar com cobertura teve um aumento significativo no porte da planta, apresentando
altura de 2,91 m. A cultivar IPA 467-42 também diferiu estatisticamente quando na presença e
ausência de cobertura morta, apresentando alturas de 2,45 e 2,20 m, respectivamente (Figura 2).
IPA 2502 CC
IPA 2502 SC
IPA 4202 CC
IPA 4202 SC
IPA 467-42 CC
IPA 467-42 SC
IPA SF -25 CC
IPA SF - 25 SC
Aa
3
Bb
Aa
2.5
Ab
Bb
Altura de Plantas (m)
Aab
2
Abc
Ac
Ac
1.5
Aa
1
0.5
Aa
0
30
60
90
110
DAS
FIGURA 2. Altura de plantas de sorgo aos 30, 60, 90 e 110 dias após o semeio, em função da
cobertura de solo, Serra Talhada, 2012.
CC- com cobertura morta; SC sem cobertura morta. Médias seguidas por letras iguais, maiúsculas não diferem estatisticamente de acordo com a
presença ou ausência de cobertura morta. Médias seguidas por letras iguais, minúsculas não diferem estatisticamente entre cultivares pelo teste de
Tukey (P<0,05%).
Estes valores são ligeiramente inferiores aos observados por Tabosa et al. (2007), em
experimento realizado na estação do IPA de Serra Talhada no ano agrícola de 1997. Porém vale
salientar que a precipitação pluvial no decorrer do período experimental em Serra Talhada (PE)
em 1997, foi de 507,4 mm, valor bem superior ao do período desse experimento, que foi
considerado insignificante, sendo a produção dependente exclusivamente da vazante. Segundo
Magalhães et al. (2007), os desempenhos inferiores das cultivares de sorgo pode ser atribuído à
menor disponibilidade hídrica e aos maiores valores de temperatura média durante o
desenvolvimento das plantas.
10
Na Tabela 3 são apresentados os dados de produção de biomassa das quatro cultivares de
sorgo. A cultivar IPA SF-25 apresentou melhores rendimentos e diferiu estatisticamente quando
cultivadas com e sem cobertura morta. A presença de cobertura morta proporcionou um aumento
na produção de MS de 5, 35, 23% para as respectivas cultivares IPA 2502, IPA 4202 e IPA 46742, chegando aumentar a produção em até 62% para a cultivar IPA SF-25.
--------------------------------------------TABELA 3----------------------------------------------------------Os resultados obtidos neste experimento para produção de MV estão próximos aos valores
observados em cultivo convencional por Silva et al. (2013), que encontraram valores entre 22,7 e
39,5 t/ha, para cultivares de sorgo forrageiro e de duplo-propósito. Por outro lado, todas as
cultivares apresentaram produtividades de MV inferiores ao valor médio de 46,7 t/ha observado
por Cunha & Lima (2010), ao avaliarem 29 cultivares de sorgo forrageiro em condições de
sequeiro no Rio Grande do Norte. No entanto, a percentagem de MS é quem exerce maior
influência sobre a qualidade da forragem, e varia de acordo com a idade da planta. Nesse
experimento esses valores variaram de 37,43% a 47,11%.
Na Tabela 4 são apresentados os dados de percentual de matéria seca dos constituintes da
planta. De modo geral foi observado efeito significativo entre as cultivares para a porcentagem de
matéria seca de colmo (P < 0,05). Esses valores variaram entre 58,19 a 80,59% do total da planta.
--------------------------------------------TABELA 4----------------------------------------------------------Novamente a cultivar IPA SF-25, na presença de cobertura morta obteve a maior
porcentagem de colmos, diferindo estatisticamente para as duas condições com e sem cobertura
morta do solo. Esses valores, entretanto diferiram estatisticamente da cultivar IPA 4202. Os
menores valores de porcentagem de MS de colmo foram observados na cultivar IPA 4202 na
ausência de cobertura morta. Porém esses valores não diferiram estatisticamente para a condição
com cobertura morta. A maior porcentagem de colmos está associada ao maior porte das
cultivares. Isso foi verificado com a cultivar IPA SF 25 na presença de cobertura que apresentou
os maiores valores de alturas de planta. Esse comportamento também foi verificado por Silva et
al. (2005) e Santos et al. (2013).
De acordo com Machado (2012), a maior participação do colmo pode comprometer o valor
nutritivo da forragem por ser a fração que apresenta menores índices de digestibilidade no sorgo.
Portanto quanto maior o índice de folhosidade melhor a qualidade da forragem. Com base nessa
11
relação, pode-se afirmar que as cultivares IPA 2502 e IPA 4202 se destacaram, pois apresentam
índices superiores as demais. Dessa forma, apesar de não possuírem as maiores produções de
biomassa no cultivo de vazante, podem ser considerados materiais de boa qualidade forrageira,
devido a maior participação de folhas.
Oliveira et al. (2005) encontraram proporção de colmo na planta de sorgo forrageiro
variando de 17,1 a 72,8% na MS, de folhas de 17,4 a 26,3% e de panícula de 5,2 a 64,6%. Nas
condições experimentais da vazante, foram encontrados valores superiores para o fracionamento
das partes da planta.
Na análise da porcentagem de MS de folha, verificou-se que os maiores valores foram para
a cultivar IPA 2502. Esses valores mostraram diferença significativa sobre as demais cultivares
na presença de cobertura morta. Oliveira et al. (2005), ao estudarem o comportamento
agronômico de quatro cultivares de sorgo forrageiro, encontraram variação de 11,53 a 13,56% de
MS de folhas. Os valores relatados por esses autores são inferiores aos valores encontrados neste
experimento.
Com relação à porcentagem de MS de panícula, a cultivar IPA 4202 apresentou os maiores
valores, diferindo estatisticamente das demais cultivares, que não diferiram entre si. Não houve
diferença significativa para as condições de cobertura do solo. Dalla Chiesa et al. (2008)
observaram variação de 1,57 a 6,95% para o percentual de panícula (base da matéria seca). Von
Pinho et al. (2007), avaliando a produtividade de cultivares de sorgo, obtiveram 29,8% de MS de
panícula para materiais de duplo propósito. Eles também encontraram valor de MS da panícula
próximo a 17,7% em cultivares de sorgo forrageiro.
Conclusões
As cultivares IPA 467-42 e IPA SF-25 apresentaram as maiores produções de biomassa. A
presença de cobertura morta proporcionou um incremento de 62% de matéria seca para a cultivar
IPA SF-25. O maior índice de folhosidade para as cultivares IPA 2502 e IPA 4202, em
detrimento da quantidade de colmo, as caracterizaram como forragem de melhor qualidade em
relação as demais cultivares estudadas. O cultivo de vazante mostrou-se uma alternativa viável
para produção de sorgo e a utilização da taboa como cobertura morta proporcionou melhores
rendimentos de biomassa nestas condições. A taxa de rebaixamento do lençol freático de 8,5
12
mm/dia em média, as declividades do terreno e do lençol freático proporcionaram um turno de
plantio da vazante superior ao ciclo de desenvolvimento do sorgo, permitindo a sua finalização
em período longo de seca.
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TABELAS
TABELA 1. Propriedades físicas do solo da vazante do açude Saco
s
Blocos
p
RP
----g cm-3----
MPa
Areia
Silte
Argila
--------------%-------------------81
7
12
Classe textural
I
1,51
2,49
1,95
II
1,54
2,50
2,38
83
7
10
Areia franca
III
1,49
2,49
2,05
82
8
10
Areia franca
IV
1,53
2,50
3,32
80
8
12
Franco arenoso
Franco arenoso
s: densidade do solo; p: densidade das partículas; RP: resistência a penetração
TABELA 2. Estande inicial (EI), estande final (EF), taxa de sobrevivência (S), número de plantas
por hectare e data de floração das cultivares de sorgo sob cultivo de vazante, Serra Talhada,
setembro de 2012
Cultivares
Condições de
IPA 2502
IPA 4202
IPA 467-42
IPA SF 25
cobertura do solo
EI
com cobertura
sem cobertura
47,25 b
47,25 b
56,25 a
54,50 a
56,25 a
54,00 a
56,25 a
57,00 a
51,50 a
49,25 a
52,50 a
51,75 a
91,57 a
92,91 a
EF
com cobertura
sem cobertura
38,50 b
38,00 b
51,00 a
48,25 a
S (%)
com cobertura
81,51 b
90,65 a
15
sem cobertura
80,05 b
88,50 a
90,87 a
Nº de Plantas/ha
91,23 a
com cobertura
203,79 b
200,13 b
226,63 a
228,92 a
221,25 a
227,17 a
50% Floração (dias)
232,29 a
228,08 a
72,75 b
73,25 b
57,75 c
57,00 c
96,50 a
96,25 a
sem cobertura
com cobertura
sem cobertura
94,00 a
94,75 a
Médias seguidas por letras iguais, minúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente de acordo com o teste de Tukey
(P<0,05%).
TABELA 31. Produção de matéria verde (MV), matéria seca (MS) e percentagem de matéria
seca (% MS) de quatro cultivares de sorgo com e sem cobertura morta, Serra Talhada
Cultivares
Condições de
cobertura do solo
IPA 2502
IPA 4202
IPA 467-42
IPA SF 25
MV(t/ha/corte)
com cobertura
26,98 Ab
24,31 Ab
44,02 Aa
42,52 Aa
sem cobertura
24,54 Abc
20,69 Ac
39,41 Aa
32,17 Bab
MS (t/ha/corte)
com cobertura
10,29 Aa
10,63 Aa
17,56 Aa
19,97 Aa
sem cobertura
9,84 Aa
7,85 Aa
14,33 Aa
12,34 Ba
(%) MS
com cobertura
39,84 Aa
43,65 Aa
39,99 Aa
47,11 Aa
sem cobertura
38,10 Aa
38,09 Aa
36,19 Aa
37,43 Ba
Médias seguidas por letras iguais, maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente de acordo com o
teste de Tukey (P<0,05%).
TABELA 4. Relação da Matéria seca (MS) de colmo, folha e panícula em relação a matéria seca
total das plantas da parcela, Serra Talhada
Cultivares
Condições de
cobertura do solo
IPA 2502
IPA 4202
IPA 467-42
IPA SF 25
------------(%) MS Colmo-----------com cobertura
66,21 Abc
62,37 Ac
74,52 Aab
80,59 Aa
sem cobertura
66,50 Abc
58,19 Ac
74,47 Aa
72,78 Bab
CV (%)
6,08
-------------(%) MS Folha----------com cobertura
20,81 Aa
12,51 Bb
14,18 Ab
13,27 Ab
sem cobertura
23,42 Aa
18,05 Aab
16,27 Ab
16,49 Ab
CV (%)
17,40
-------------(%) MS Panícula-----------16
com cobertura
sem cobertura
CV (%)
12,98 Ab
10,08 Ab
30,49
25,12 Aa
23,76 Aa
11,30 Ab
8,26 Ab
6,14 Ab
10,73Ab
Médias seguidas por letras iguais, maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente de
acordo com o teste de Tukey (P<0,05%).
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