UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS – FMTAM MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS ROSSIC LÉIA LINS MONTE ESTUDO DA MICROBIOLOGIA DAS ADENÓIDES DE CRIANÇAS OPERADAS NA CIDADE DE MANAUS, AMAZONAS VIVIANE SALDANHA OLIVEIRA MANAUS 2005 ii VIVIANE SALDANHA OLIVEIRA ESTUDO DA MICROBIOLOGIA DAS ADENÓIDES DE CRIANÇAS OPERADAS NA CIDADE DE MANAUS, AMAZONAS Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador: Co-orientadora: Prof. Dr. João Bosco Lopes Botelho Profª. Rossicléia Lins Monte, MsC Prof. Dr. Wornei Miranda Braga MANAUS 2005 FICHA CATALOGRÁFICA OLIVEIRA, Viviane Saldanha Estudo da microbiologia das adenóides de crianças operadas na cidade de Manaus, Amazonas / Viviane Saldanha Oliveira – Manaus-AM: UEA; FMTAM, 2005. 55 p.: il. Dissertação (Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas) 1. tonsila faríngea 2. adenóide 3. cultura da adenóide 4. microbiologia I. Título iii FOLHA DE JULGAMENTO ESTUDO DA MICROBIOLOGIA DAS ADENÓIDES DE CRIANÇAS OPERADAS NA CIDADE DE MANAUS, AMAZONAS VIVIANE SALDANHA OLIVEIRA “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas”‘. Banca Julgadora: ______________________________________ Prof. João Bosco Lopes Botelho, Dr. Presidente ______________________________________ Prof. Luiz Carlos de Lima Ferreira, Dr. ______________________________________ Prof. Cláudio do Carmo Chaves, Dr. iv DEDICATÓRIA Aos meus pais, Edson e Edênia, por seu eterno amor, carinho e compreensão. Por estarem sempre presentes, independente da distância, com sua enorme energia e alegria de viver. À minha irmã Lílian, pelo exemplo na busca incansável pelo saber, transpondo as barreiras e conquistando seu espaço. Ao meu marido Milton Júnior, companheiro em todas as horas, por sua compreensão, sua amizade e seu amor. Ao meu filho Milton Neto, que me faz compreender melhor, a cada dia, o sentido da vida e do amor incondicional. v AGRADECIMENTOS Ao prof. Dr. João Bosco Lopes Botelho, por sua orientação na execução deste trabalho, por seu exemplo na Ciência Médica e na arte de ensinar. A Dr.a Rossicléia Lins Monte, farmacêutica-bioquímica, chefe do Laboratório de Microbiologia da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, por sua colaboração na execução da metodologia e co-orientação neste trabalho. À profa. Dr.a Maria Ivanilde Araújo, professora-adjunta do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal do Amazonas, por sua colaboração na análise estatística dos resultados desta pesquisa. A Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) e a Fundação Muraki. À Silvinha Costa de Souza, técnica do Laboratório de Microbiologia da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Aos residentes Waldyr Moisés de Oliveira Júnior e Givanildo Pádua Pires, pelo auxílio na execução deste trabalho. Aos funcionários da enfermaria de cirurgia e do centro cirúrgico do Hospital Universitário Getúlio Vargas (UFAM), onde foram realizadas as cirurgias. A Sr.a Celina secretária do serviço de cirurgia do Hospital Universitário Getúlio Vargas (UFAM) por sua grande ajuda na organização das cirurgias. Aos colegas de mestrado Cláudia, Gilson, Mariana, Alex, Irã, Gastão, Silvia, Gildo, Franklin, Luiza, Rauirys, Yonne, Socorro e Geraldo, por suas palavras de incentivo. Aos docentes do curso de mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas da Universidade do Estado do Amazonas, pelos ensinamentos. vi Às crianças que participaram deste estudo e a seus responsáveis que assim o permitiram. vii RESUMO As doenças do anel linfático de Waldeyer são muito comuns na infância. As cirurgias para tratamento destas patologias estão entre as mais freqüentes na criança. Em geral as crianças com patologia crônica destes tecidos são submetidas a tratamentos repetidos com antibióticos podendo levar à seleção bacteriana. Para identificar a flora bacteriana das tonsilas faríngeas nas crianças operadas no Hospital Universitário Getúlio Vargas, da Universidade Federal do Amazonas, foi realizada cultura, assim como o antibiograma para avaliar a sensibilidade da flora encontrada. Foram operadas 17 crianças de ambos os sexos, com idade variando de 5 a 14 anos, que foram submetidas à adenoidectomia ou adenoamigdalectomia após prévio exame físico e exames pré-operatórios de rotina. Foi realizada cultura do tecido macerado das tonsilas faríngeas nos meios agar sangue e agar chocolate. As colônias encontradas foram testadas quanto à sensibilidade à ampicilina, amoxicilina, amoxicilina-clavulanato de potássio, eritromicina, azitromicina, cefaclor, cefuroxima e sulfametoxazol-trimetroprima. As bactérias mais freqüentes foram os Staphylococcus aureus encontrados em 41,18% das culturas e os Streptoccocus pneumoniae em 23,54%. Os outros microrganismos cultivados foram Streptoccocus pyogenes, Neisseria meningitidis sorogrupo B, Staphylococcus epidermidis e Candida albicans. A sensibilidade dos S. aureus à penicilina foi de 28,57% e a dos S. pneumoniae foi de 100%. Em relação aos macrolídeos, a sensibilidade dos S. aureus foi de 85,71% e dos S. pneumoniae de 50%. A sensibilidade ao cefaclor foi de 71,43% para os S. aureus e 100% para os S. pneumoniae e o teste com a cefuroxima demonstrou 57,14% de S. aureus sensíveis e 100% de S. pneumoniae sensíveis. A resistência á associação sulfametoxazol-trimetroprima foi de 28,57% nos S. aureus e 100% nos S. pneumoniae. As bactérias Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae foram as mais freqüentes. Os S. aureus encontrados apresentaram alta resistência à penicilina, com maior sensibilidade às cefalosporinas, macrolídeos e associação sulfametoxazol-trimetroprima. Os S. pneumoniae foram sensíveis às penicilinas, cefaclor e á cefuroxima e apresentaram alta resistência à associação sulfametoxazol-trimetroprima. Palavras-chave: tonsila faríngea, adenóide, cultura da adenóide, microbiologia da adenóide. viii ABSTRACT The diseases of the Waldeyer´s ring are very common at childhood. The surgeries for treatment of these diseases are among the most frequent in the child. Generally, the children with chronic pathology of these tissues are subjected to repeated treatments with antibiotics, which may lead to bacterial selection. To identify the bacterial flora in the pharyngeal tonsils in the operated children in the University Hospital Getúlio Vargas, of the Federal University of Amazonas, a culture was established, as well the susceptibility testing to evaluate the sensibility of the found flora. 17 children of both sexes were operated, with age varying from 5 to14 years of age, which were subjected to adenoidectomy or adenotonsillectomy after routine previous physical examination and pre-operation examinations. A macerated pharyngeal tonsils tissue culture was conducted in agar blood medium and agar chocolate. The colonies found were tested for sensibility to ampicillin, amoxicillin, amoxicillin-clavulanic acid, erythromycin, azitromicin, cefaclor, cefuroxime axetil and trimethroprim- sulphamethoxazole. The more frequent bacteria were Staphylococcus aureus found in 41,18% of the cultures and the Streptoccocus pneumoniae in 23,54%. The other cultivated microorganisms were Streptoccocus pyogenes, Neisseria meningitidis serum group B, Staphylococcus epidermidis and Candida albicans. The sensibility of S. aureus to penicillin was of 28,57% and the one of S. pneumoniae was of 100%. In relation to the macrolides the sensibility of S. aureus was of 85,71% and of S. pneumoniae of 50%. The sensibility to cefaclor was of 71,43% to S. aureus and 100% to S. pneumoniae and the test with cefuroxime axetil demonstrated that 57,14% of sensitive S. aureus and 100% sensitive S. pneumoniae. The resistance to the association trimethroprim-sulphamethoxazole was of 28,57% in the S. aureus and 100% in the S. pneumoniae. The bacteria Staphylococcus aureus and Streptococcus pneumoniae were the most frequent. The S. aureus found presented high resistance to penicillin, with greater sensibility to the cephalosporins, macrolides and the association trimethroprim-sulphamethoxazole. The S. pneumoniae were sensitive to the penicillins, cefaclor and cefuroxime axetil and presented high resistance to the association trimethroprim- sulphamethoxazole. Key words: pharyngeal tonsil, adenoid, adenoid culture, adenoid microbiology. ix LISTA DE TABELAS Tabela 1 Tabela 2 Tabela 3 Tabela 4 Tabela 5 Distribuição por raça das crianças submetidas à adenoidectomia Distribuição por renda familiar das crianças submetidas à adenoidectomia Antecedentes familiares de adenoidectomia das crianças submetidas à adenoidectomia Grau de parentesco das crianças com antecedentes familiares de adenoidectomia Freqüência de doenças associadas nas crianças submetidas à adenoidectomia 30 31 31 31 32 x LISTA DE FIGURAS Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7a Figura 7b Figura 7c Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11a Figura 11b Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Rinofaringe Fendas da tonsila faríngea Tecido linfoepitelial Captação do antígeno Fisiopatologia da cripta Hipertrofia da tonsila faríngea Palato ogival Facies adenoidiano Prognatismo do maxilar superior Radiografia em perfil do cavum Imagem endoscópica da tonsila faríngea hipertrofiada Adenoidectomia Técnica cirúrgica Cureta de Beckman Meios de cultura Distribuição por sexo das crianças submetidas à adenoidectomia Alterações no exame físico das crianças submetidas à adenoidectomia Freqüência dos microrganismos isolados na cultura da tonsila faríngea das crianças submetidas à adenoidectomia Perfil da resistência dos Staphylococcus aureus, isolados da tonsila fa ríngea em crianças Perfil de resistência dos Streptococcus pneumoniae isolados da tonsila faríngea em crianças 3 5 5 6 7 10 12 12 12 14 14 27 27 27 28 30 33 33 35 36 xi LISTA DE ABREVIATURAS EUA FMTAM GH H. HUGV IgA IgD IgE IgG IgM N. SAOS SENTRY sp. UEA UFAM Estados Unidos da América Fundação de Medicina Tropical do Amazonas Hormônio do crescimento Haemophilus Hospital Universitário Getúlio Vargas Imunoglobulina A Imunoglobulina D Imunoglobulina E Imunoglobulina G Imunoglobulina M Neisseria Síndrome da apnéia obstrutiva do sono Antimicrobial Surveillance Program species Universidade do Estado do Amazonas Universidade Federal do Amazonas xii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1.1 Embriologia da tonsila faríngea 1.2 Anatomia da tonsila faríngea 1.3 Histologia da tonsila faríngea 1.4 Fisiopatologia 1.5 Aspectos clínicos das doenças da tonsila faríngea 1.5.1 Diagnóstico das doenças da tonsila faríngea 1.5.2 Tratamento da hipertrofia da tonsila faríngea 1.6 Microbiologia da tonsila faríngea 1.7 Resistência bacteriana 1 1 2 3 5 9 13 15 16 20 2 OBJETIVOS 24 2.1 Geral 2.2 Específico 24 24 METODOLOGIA 25 3.1 Modelo de estudo 3.2 Universo de estudo 3.2.1 População de Referência 3.2.2 População de Estudo 3.3 Participantes 3.3.1 Critérios de Inclusão 3.3.2 Critérios de Exclusão 3.4 Procedimentos 3.5 Análise dos dados 25 25 25 25 25 26 26 26 29 4 RESULTADOS 30 5 DISCUSSÃO 37 6 CONCLUSÃO 46 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47 3 ANEXO A 51 ANEXO B 53 ANEXO C 54 ANEXO D 55 1 1. INTRODUÇÃO A tonsila faríngea também chamada de adenóide e tonsila de Luschka localiza-se na parede póstero-superior da rinofaringe e faz parte do anel linfático de Waldeyer (BALLENGER, 1996). Além da adenóide, também fazem parte deste anel o tecido linfóide das paredes faríngeas, o tecido linfático peritubário, as tonsilas palatinas e as tonsilas linguais (CICERÁN, 2003; BONFILS e CHEVALLIER, 1998). Estas estruturas participam ativamente da função imunológica e são importante causa de morbidade, sendo as cirurgias das tonsilas faríngea e palatina das mais freqüentes nas crianças (SIEBERT, 2003). Anteriormente, as cirurgias para tratamento das patologias deste anel eram ainda mais freqüentes. Houve declínio nestas indicações que se tornaram mais criteriosas (DISCOLO e col, 2003). Apesar da evolução dos antibióticos, as indicações de tratamento cirúrgico para as doenças deste anel continuam altas e a maior parte das cirurgias é realizada para tratamento da hiperplasia (DISCOLO e col, 2003). 1.1 Embriologia da tonsila faríngea A formação do anel linfático de Waldeyer está ligada ao desenvolvimento da primeira e segunda bolsas faríngeas, que são de origem endodérmica e fazem parte 2 do aparelho branquial ou faríngeo que, por sua vez, inicia sua formação na quarta semana de gestação (CRUZ e COSTA, 1994). A tonsila faríngea desenvolve-se a partir do terceiro mês de gestação (GOERINGER, 1987). A evolução no quarto mês cursa com o desenvolvimento dos vasos linfáticos, do primórdio glandular e intensa infiltração linfocitária. O quinto mês é marcado pela formação das fendas e das criptas que serão revestidas por epitélio do tipo respiratório, assim como a organização dos folículos linfóides ao redor dos ductos glandulares. No sexto mês as bolsas tonsilares aprofundam-se e no sétimo o desenvolvimento está completo (CRUZ e COSTA, 1994). 1.2 Anatomia da tonsila faríngea A tonsila faríngea é um órgão linfoepitelial. Localizada na rinofaringe, estende-se da parede superior a posterior desta região anatômica. Sua posição, na parte superior da faringe, é anterior a coluna cervical, posterior às cavidades nasais e aos orifícios das coanas e medial aos orifícios das tubas timpânicas (BONFILS e CHEVALLIER, 1998) (Figura 1). Estendendo-se da base do crânio ao palato fibroso, a rinofaringe tem os seguintes limites topográficos: − Parede superior: dois terços posteriores da face inferior do osso esfenóide e parte basilar do osso occiptal; − Parede posterior: parte basilar do occiptal e membrana atlanto-occiptal; 3 − Parede anterior: orifícios das coanas, separados pela parte posterior do septo nasal; − Parede inferior: palato fibroso e óstio de comunicação com a cavidade orofaríngea; − Paredes laterais: óstios das tubas auditivas com os tórus tubáreos. A irrigação desta região anatômica é realizada pela artéria faríngea ascendente, palatina ascendente ou ramos da artéria maxilar que, por sua vez, são ramos da artéria carótida externa. A drenagem linfática se faz por intermédio dos linfonodos retrofaríngeos e jugulo-digástricos (BONFILS e CHEVALLIER, 1998). Figura 1: Rinofaringe (Schering-Ploug, Tópicos de Otorrinolaringologia, CD-ROM) 1.3 Histologia da tonsila faríngea A tonsila faríngea apresenta a superfície revestida por epitélio respiratório do tipo pseudo-estratificado cilíndrico ciliado com zonas de tecido escamoso (JUNQUEIRA, 1995). 4 Sua estrutura é formada por invaginações com formato de fendas (Figura 2), e algumas criptas, que são revestidas por epitélio reticulado – semelhante a uma rede – nas quais são encontradas células epiteliais, linfócitos T e B, plasmócitos, macrófagos e células dendríticas. No epitélio reticulado a membrana basal é descontínua facilitando a passagem das células e antígenos que irão induzir a resposta imune (BECKER e col, 1994; ENDO, 2000; CICERÁN, 2003). A estrutura linfoepitelial da tonsila faríngea é mais difusa se comparada a das tonsilas palatinas e assim como nestas há poucos vasos linfáticos aferentes. Distinguem-se quatro compartimentos linfóides especializados (Figura 3) exercendo a função imune, são eles: 1. Epitélio reticular da cripta: local onde predominam os linfócitos T; 2. Área extra folicular: onde há o predomínio dos linfócitos T, presença de macrófagos e células dendríticas interdigitais; 3. Zona do manto folicular: área que contorna o centro germinativo, constituída por pequenos linfócitos, principalmente células B e células dendríticas interdigitais; 4. Centro germinativo: estrutura com duas zonas denominadas A (escura) e B (clara). A zona escura, mais próxima da cripta, contém pequenos linfócitos B (centroblastos) imaturos e proliferativos e a zona clara, mais central, contém grandes linfócitos B (centroblastos), maduros, não proliferativos, além de células dendríticas foliculares que formam o arcabouço onde se localizam os linfócitos B, macrófagos e poucos linfócitos T (CICERÁN, 2003). 5 Diferenciam-se nesta estrutura os folículos linfóides em primários e secundários. No recém-nascido são chamados de primários, pois ainda não sofreram estímulo antigênico e não desenvolveram o centro germinativo. Após a formação do centro germinativo transformam-se em folículos secundários (BRANDTZAEG, 2003). Figura 2: Fendas da tonsila faríngea (BECKER, W., 1994) Figura 3: Tecido linfoepitelial (BECKER, W., 1994) 1-epitélio escamoso; 2-Epitélio reticular; 3-Zona escura do folículo secundário 1.4 Fisiopatologia O anel linfático de Waldeyer: aparentemente, tem função protetora. Os órgãos linfáticos desta estrutura anatômica estão localizados na entrada das vias 6 aéreas e digestivas permitindo o contato primário com os antígenos ingeridos ou inalados (BECKER e col, 1994, BRANDTZAEG, 2003, CICERÁN, 2003). A estimulação antigênica das tonsilas leva ao aumento da superfície das criptas facilitando a captação dos antígenos. Nas criptas os antígenos penetram no epitélio reticular (Figura 4). A seguir são processados pelas células interdigitais na área extra-folicular e apresentados por estas células aos linfócitos TCD4+ que sofrerão expansão clonal com aumento das citocinas. Há estímulo dos linfócitos B da área extra folicular que interagem com as células dendríticas foliculares colonizando o folículo primário e formando o centro germinativo. No centro germinativo os linfócitos B sofrerão expansão clonal (CICERÁN, 2003) (Figura 5). Figura 4: Captação do antígeno (FILIZZOLA, 2003) 7 Figura 5: Fisiopatologia da cripta (FILIZZOLA, 2003) A estrutura anatômica do anel contém linfócitos B e T em quantidades semelhantes entre si. Por essa razão, é capaz de realizar resposta imunológica humoral (linfócitos B – resposta imediata) e celular (linfócitos T – resposta tardia). A resposta dos linfócitos T é dependente dos linfócitos B. Esse conjunto de ações consiste em: – Expansão clonal de linfócitos B; – Mutação somática dos linfócitos B – célula imunoglobulina variável; – Seleção dos linfócitos B com habilidade em receber o sinal antígeno específico por alta afinidade; – Diferenciação em linfócitos B de memória e células plamáticas (formadoras de anticorpos) de vários isótipos; – Indução do gen da cadeia J que faz parte da estrutura polimérica das imunoglobulinas e é essencial para formar as imunoglobulinas A (IgA) e M (IgM) secretoras (BRANDTZAEG, 2003). 8 As tonsilas comportam-se como órgãos efetores e indutores da resposta imune. Além da produção de IgG, a resposta imune é disseminada pela recirculação seletiva dos linfócitos B de memória que se diferenciam em células plasmáticas para produzir, principalmente, IgA secretora. Em condições normais, a mucosa do trato respiratório é abastecida por linfócitos B de memória produtores de anticorpos quase exclusivamente por meio do Anel de Waldeyer (CICERÁN, 2003). A IgA liga-se aos microrganismos e, desse modo, evita a aderência e colonização da mucosa. Algumas bactérias podem produzir uma protease que cliva a IgA facilitando a penetração nestes tecidos (ENDO, 2003). A função protetora da IgG parece ser ainda maior do que a conferida pela IgA. Foi observado que na deficiência de IgA ocorre aumento de IgG e incidência normal no número de infecções, enquanto na deficiência de IgG, as infecções são recorrentes (FILIZZOLA, 2003). Além da IgA e IgG, as tonsilas produzem as imunoglobulinas IgM, IgD e IgE (FILIZZOLA, 2003). Segundo Cicerán (2003), podemos considerar o anel linfático de Waldeyer a maior porta de entrada do organismo visto que nos primeiros anos de vida está exposto ao contato com os agentes infecciosos da via aérea e digestiva. Os estímulos repetidos levam, progressivamente, a maturação do sistema podendo ocasionar aumento persistente no tamanho das estruturas linfóideas denominado hipertrofia. As etiologias destas hipertrofias nestes órgãos não são claras. É possível que este estímulo imunológico ocasionado pelas infecções virais e bacterianas de repetição, assim como por processos alérgicos, estejam relacionados no seu crescimento 9 excessivo, mas os mecanismos exatos que levam a este aumento não estão elucidados (ENDO, 2000). O pico de crescimento destes tecidos ocorre entre 3 e 5 anos de idade. Fase que coincide com maior número de infecções nas vias aéreas superiores. Na puberdade estes tecidos tendem a sofrer involução, mas a tendência não é a regra sendo possível comprovar a presença da tonsila faríngea nos adultos (ENDO, 2003). Segundo Scharf (1997), este aumento seria maior dos 4 aos 10 anos. Na tonsila palatina, mantendo-se até os 20-30 anos e então inicia seu declínio causando involução tonsilar, com diminuição, sobretudo da função das células B. Na tonsila faríngea a involução progride de forma parecida, mas com maior velocidade. No tecido cronicamente doente a progressão causa: dilatação das criptas com retenção de secreções e transformação do epitélio reticular em escamoso, diminuindo a capacidade de captação e transporte dos antígenos na área extra folicular e a interação entre antígeno e linfócito TCD4+ e deste com o linfócito B. No folículo linfóide diminui a expansão clonal dos linfócitos B e a expressão da cadeia J e de forma global há fibrose do parênquima (CICERÁN, 2003). 1.5 Aspectos clínicos das doenças da tonsila faríngea As doenças das tonsilas faríngeas podem ser agudas, recorrentes e crônicas. Os quadros agudos infecciosos podem ser causados por vírus ou bactérias. Na infecção viral os agentes mais freqüentes são o Adenovírus, o Vírus sincicial respiratório, Influenzae e Para-influenzae. Em relação à infecção bacteriana, 10 são citados como agentes etiológicos o Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Haemophylus influenzae, Staphylococcus aureus e a Moraxella catarrhalis (ENDO, 2003). Bussi e col (1996) consideram haver duas entidades clínicas diferentes do ponto de vista fisiopatológico. As tonsilites recorrentes e a hiperplasia tonsilar (Figura 6). No quadro de tonsilites recorrentes o paciente apresenta entre cinco a sete infecções por ano ou quatro infecções por ano em dois anos consecutivos (PIGNATARI, 2003). Segundo Passàli e col (2003), os repetidos episódios de infecção nas vias aéreas superiores causados pelas tonsilites de repetição, afetam negativamente a qualidade de vida e a saúde geral dos jovens pacientes e se as defesas locais falham em combater a infecção pode advir a sepse. Figura 6: Hipertrofia da tonsila faríngea (Tópicos de Otorrinolaringologia, CD-ROM) 11 Estima-se, aproximadamente, quatro infecções anuais dos tecidos linfáticos do anel de Waldeyer na população infantil (ENDO e col, 2003). Nos pacientes com hipertrofia destes tecidos estas infecções são ainda mais freqüentes, elevando a necessidade de prescrições de antibióticos e relata-se a freqüência cada vez maior de insucessos terapêuticos que, acredita-se, ocorram pelo desenvolvimento de cepas bacterianas resistentes, sobretudo das bactérias produtoras de betalactamase (ENDO e col, 2003; PIGNATARI, 2003). O paciente com hipertrofia da tonsila faríngea apresenta obstrução nasal crônica determinada pela obstrução parcial ou total ao fluxo aéreo na rinofaringe. Em conseqüência da restrição, a respiração passa a ser oral e, ao contrário da respiração nasal passiva, depende de esforço respiratório(HUNGRIA, 1995). O fluxo crônico do ar na cavidade oral altera o crescimento da estrutura óssea da face, sobretudo dos ossos palatino e maxilar, ocasionando o palato ogivado e o prognatismo da maxila superior (HUNGRIA, 1995; VALERA e col, 2003) (Figura 7a). Essas mudanças associadas à respiração oral de suplência são facilmente observadas na criança e denominadas fácies adenoidiano (BALLENGER, 1996) (Figura 7b). Se não tratadas, a evolução cursa com as hipotonias da musculatura mastigatória e da língua, prognatismo dos incisivos superiores e mordida cruzada aberta (SAFFER, 1994) (Figura 7c). Observa-se um grande esforço respiratório, sobretudo durante o sono, fase 12 em que há relaxamento da musculatura da faringe e da língua, que tende a tombar em direção posterior, prejudicando o fluxo aéreo por via oral. Na tentativa de vencer as barreiras o ar será inspirado mediante um grande esforço da musculatura do tórax ocasionando deformidades e fará vibrar as estruturas da faringe com roncos ruidosos e apnéias. A baixa oxigenação cerebral noturna e o sono agitado com despertares freqüentes, causam liberação irregular do hormônio do crescimento (GH). A criança torna-se sonolenta e irritadiça durante o dia prejudicando o desempenho escolar. Além destas alterações, a diminuição do olfato, em razão da obstrução e inflamação crônica da mucosa nasal, reduz o apetite e prejudica o desenvolvimento e o crescimento pôndero-estatural (FRANCESCO e col, 2003). Figura 7(a-c) – a: Imagem Palato ogival; b: Imagem Facies adenoidiano; Prognatismo do maxilar superior c: Ainda como resultantes da respiração oral e obstrução ao fluxo aéreo passivo nasal poderá desenvolver-se a hipertensão pulmonar por sobrecarga das câmaras cardíacas direitas com complicações cardíacas graves como o cor pulmonale (ENDO e col, 1981; CAZERTA, 1990; FERREIRA, 1991). 13 De igual modo a hipertrofia da tonsila faríngea pode causar obstrução dos orifícios das tubas de Eustáquio, localizadas nas paredes laterais da rinofaringe, podendo determinar: – diminuição da aeração do ouvido médio, facilitando as otites de repetição, retração timpânica e atelectasia, com risco de desenvolvimento da otite média crônica colesteatomatosa; – otite média crônica com efusão causando hipoacusia de transmissão (SANTAMARÍA e col, 1990). A maior predisposição para infecções recorrentes do ouvido médio, nas quais o Streptoccocus pneumoniae e o Haemophilus influenzae são os patógenos mais implicados aumenta a utilização de antibioticoterapia e tem-se observado o desenvolvimento cada vez maior de cepas bacterianas resistentes, notadamente às penicilinas (ALMEIDA, 2003; ARGUEDAS, 2003; MCCLAY, 2000; MUHLEMANN, 2003; SADER, 2001; SIH, 2003). 1.5.1 Diagnóstico das doenças da tonsila faríngea O diagnóstico da hipertrofia da tonsila faríngea baseia-se nos aspectos clínicos, radiológicos e endoscópicos. Clinicamente os pacientes apresentam-se com respiração oral de suplência, lábios secos, musculatura facial hipotônica e voz hiponasal (PEREIRA, 2003). Para o diagnóstico por imagem, Endo (2000) considera a radiografia em perfil do cavum o exame mais barato e inócuo. Neste exame observa-se que a 14 hipertrofia da tonsila faríngea obstrui, de forma parcial ou total, a coluna aérea do rinofaringe (Figura 8). Figura 8: Radiografia em perfil do cavum No caso de obstrução com presença da adenóide no interior das coanas, a radiografia pode mostrar uma coluna aérea preservada o que torna necessária a avaliação através da nasofibroscopia (CHAMI, 1998; ENDO, 2000) (Figura 9). Figura 9: Imagem endoscópica da tonsila faríngea hipertrofiada (BENJAMIN, e col. A Coulour Atlas of Otorhinolaryngology, 1996) 15 1.5.2 Tratamento da hipertrofia da tonsila faríngea Segundo, Becker e col (1994), o tratamento conservador para tratamento da hipertrofia da tonsila faríngea, através da mudança alimentar, uso de medicamentos e mudança climática, não é satisfatório. Furuta e col (2003), após analisarem o tratamento de pacientes com hipertrofia obstrutiva da tonsila faríngea com medicamentos homeopáticos, observaram que o mesmo não foi eficaz mantendo a indicação cirúrgica em 85% dos casos. Endo e col (1995) observaram que em pacientes alérgicos o tratamento da alergia melhorou o quadro obstrutivo, pois nestes casos há presença de edema do cório observado no estudo histológico. Segundo Almeida e Campos (2003), as indicações de tratamento cirúrgico através de adenotonsilectomias participam de um processo dinâmico necessitando do avanço de estudos científicos para avaliar os seus benefícios. Atualmente, o tratamento cirúrgico, através da adenoidectomia, está indicado quando a hipertrofia determina a obstrução do fluxo aéreo na rinofaringe, causando obstrução nasal crônica, respiração oral de suplência, síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS), cor pulmonale, deformidade facial (palato ogival, prognatismo maxilar, mordida aberta), otite média com efusão, otites médias recorrentes, rinossinusites e adenoidites BALLENGER, 1996, AKKER, 2003). de repetição (HUNGRIA, 1995; 16 Quando além das alterações descritas estão associadas infecções de repetição ou hipertrofia obstrutiva das tonsilas palatinas ou ainda antecedentes de abscesso periamigdaliano, há indicação de amigdalectomia, com exérese das tonsilas palatinas no mesmo tempo cirúrgico (HUNGRIA, 1995; BALLENGER, 1996; PIGNATARI, 2003; DISCOLO e col, 2003). 1.6 Microbiologia da tonsila faríngea A flora microbiana da tonsila faríngea foi estudada em diversos trabalhos em vários países (CASTRO JR. e col, 1995; BROOK e BETHESDA, 1981; DEDIO e col, 1988; FEARON e col, 1992; BROOK e col, 2000; MCCLAY, 2000; PASSÀLI e col, 2003; BROOK e SHAH, 2003; TUNCER e col, 2004). Segundo Endo (2003), a importância do conhecimento da microbiologia deste anel está em auxiliar no diagnóstico e tratamento das infecções destas estruturas e contribuir para a diminuição do uso inadequado dos antibióticos. Frisando que o avanço nestas linhas de pesquisa poderá fornecer informações valiosas para melhorar a compreensão da participação dos microrganismos na hipertrofia dos tecidos do anel de Waldeyer (FILIZZOLA, 2003). Nas tonsilas, acredita-se que o equilíbrio da flora bacteriana funcione como fator de proteção contra o crescimento e invasão deste tecido pelas bactérias consideradas patogênicas ali presentes (BROOK, 2000; ENDO, 2003). 17 O conceito de flora patogênica foi citado por alguns autores (BROOK, e BETHESDA, 1981; DEDIO e col, 1988; MCCLAY, 2000, PASSÀLI e col, 2003). Para Brook e col (2000), estas floras apresentariam os mesmos microrganismos que o grupo considerado “normal”, porém o número de bactérias potencialmente patogênicas como Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae seria maior. Neste estudo o conceito de flora “normal” foi utilizado para a flora encontrada no grupo controle sem doença da tonsila faríngea comparado a flora do grupo com doença tonsilar. Os diferentes estudos descreveram floras polimicrobianas com bactérias aeróbias e anaeróbias e fungos. Dentre as principais bactérias aeróbias foram encontradas Streptococcus α hemolítico, Streptococcus β hemolítico, Streptococcus gama-hemolítico, S. pneumoniae, S. aureus, Staphylococcus epidermidis, H. influenzae, H. parainfluenzae, Moraxella catarrhalis, Neisseria species, Diphtheroid species (CASTRO JR. e col, 1995; BROOK e BETHESDA, 1981; DEDIO e col, 1988; FEARON e col, 1992; BROOK e col, 2000; MCCLAY, 2000; PASSÀLI e col, 2003; BROOK e SHAH, 2003; TUNCER e col, 2004). Os principais anaeróbios citados foram: Fusobacterium nucleatum, Fusobacterium species, Prevotella melaninogenica, Prevotella intermédia, Prevotella oris, Bacteroids fragillis, Peptococcus e Peptostreptococcus (BROOK e BETHESDA, 1981; BROOK e col, 2000). Castro Júnior e col (1995) estudaram no Brasil as tonsilas faríngeas de 15 crianças e encontraram o predomínio dos Streptococcus viridans em 33% dos casos, S. aureus em 29% e S. pneumoniae em 14%. 18 A maior parte dos trabalhos foi realizada nos Estados Unidos (BROOK e BETHESDA, 1981; DEDIO e col, 1988; BROOK e col, 2000; MCCLAY, 2000; BROOK e SHAH, 2003). BrooK e Bethesda (1981), após analisarem a cultura da tonsila faríngea em 30 crianças em Washington (EUA), separou-as em dois grupos, com e sem tonsilites de repetição. Em ambos encontraram uma flora polimicrobiana constituída por bactérias aeróbias e anaeróbias. As bactérias mais freqüentes nos dois grupos estudados foram os Streptococcus α hemolítico e gama hemolítico, S. aureus, Streptococcus β hemolítico. Os S. pneumoniae, H. influenzae e S. aureus, considerados potencialmente patogênicos, foram mais freqüentes no grupo com infecções de repetição. DeDio e col (1988), em 50 crianças de 18 meses a 5 anos, na Filadélfia (EUA), isolaram em ordem de freqüência os aeróbios: Streptococcus α hemolíticos em 38 tonsilas, Neisseria sp em 32, Haemophilus sp em 18 e S. aureus em 15. Os S. pneumoniae foram identificados em 12% das culturas. Estes autores não isolaram bactérias anaeróbicas. As potencialmente patogênicas mais freqüentes foram os Haemophilus sp e S. aureus. Brook e col (2000) compararam a flora em 4 grupos de crianças submetidas à adenoidectomia. Divididos em crianças com hipertrofia e otite média, apenas com tonsilites de repetição, somente hipertrofia e o grupo controle sem doença infecciosa ou hipertrófica. Nos quatro grupos predominaram os Streptococcus α e gama hemolíticos, H. influenzae, S. aureus, Streptococcus β hemolítico do grupo A e M. 19 catarrhalis. A flora foi semelhante nos quatro grupos com menor concentração bacteriana no grupo controle, podendo sugerir a contribuição bacteriana na patogenia desta hipertrofia. BrooK e Bethesda (1981),) Fearon e col (1992) e Brook e col (2000) encontraram a presença de aeróbios e anaeróbios na flora das tonsilas faríngeas. Estudando 45 crianças em Washington, Brook e Shah (2003) encontraram dentre os aeróbios predominantemente Streptococcus α hemolíticos e não hemolíticos, H. influenzae, S. aureus, M. catarrhalis e S. pneumoniae. Enquanto McClay (2000), em Dalas, havia encontrado em 46 crianças como mais freqüentes o H. influenzae, S. pneumoniae e M. catarrhalis. Fearon e col (1992) em Toronto no Canadá, em 39 crianças, encontraram o H. influenzae em 84%, seguido pelos Diphteroids, Neisseria sp e Streptococcus α hemolítico. Não relataram a presença de fungos entre os microrganismos isolados. Estes autores isolaram S. aureus em 28%, Streptococcus pyogenes e S. pneumoniae ambos em 15%. Passàli e col (2003) na Itália, estudando 19 crianças, isolaram H. influenzae, S. pneumoniae, Streptococcus β hemolítico do grupo A, Streptococcus β hemolítico do grupo F, Neisseria, Streptococcus α hemolítico, Streptococcus gama-hemolítico, Haemophilus spp, Staphylococcus não aureus, S. aureus. O patógeno mais freqüente foi o H. influenzae, seguido pelo S. pneumoniae e Streptococcus β hemolítico do grupo A. 20 Tuncer e col (2004) na Turquia, em 30 crianças, isolaram Streptococcus α hemolíticos, Neisseria sp e Streptococcus β hemolíticos como mais freqüentes. Os S. pneumoniae e S. aureus foram isolados em 33,3% e 16,6% das culturas. 1.7 Resistência bacteriana A sensibilidade bacteriana aos antibióticos implicados na etiologia das infecções das vias aéreas tem sido descrita em vários países (SADER e col, 2001; MÜHLEMANN e col, 2000). Na nasofaringe algumas pesquisas avaliaram a sensibilidade da flora bacteriana a partir da cultura do tecido da tonsila faríngea (CASTRO JR. e col, 1995; MCCLAY, 2000) e outros através de swabs, tanto em crianças saudáveis (CHENG, 2004) como em crianças com infecções das vias aéreas (MÜHLEMANN e col, 2003). Alguns dos estudos da flora da tonsila faríngea em crianças descreveram a produção de beta-lactamase por cepas bacterianas ali presentes (BROOK e BETHESDA, 1981; BROOK e col, 2000). Para Endo (2003), o sinergismo entre as bactérias nas infecções do anel de Waldeyer determina maior risco de ocorrer resistência bacteriana, notadamente quando há associação com bactérias produtoras de beta-lactamase. As chances deste sinergismo são muito grandes, visto que na tonsila faríngea a flora é polimicrobiana (BROOK e BETHESDA, 1981; BROOK e col, 2000; ENDO, 2003). 21 Sabemos que as crianças com hipertrofia da tonsila faríngea estão mais predispostas às infecções de repetição tanto do ouvido médio como das cavidades sinusais e do próprio tecido tonsilar. Por esta razão são submetidas com maior freqüência à antibioticoterapia, aumentando as chances de selecionar patógenos resistentes (BROOK, 2003). Brook e Bethesda (1981) observaram que a maioria das bactérias produtoras de beta-lactamase foi identificada nas crianças que apresentavam hipertrofia da tonsila faríngea associada com infecções recorrentes. Este grupo apresentou 85% das bactérias produtoras de beta-lactamase, enquanto 25% ocorreram nas crianças com hipertrofia sem infecções recorrentes. Nestes grupos foi verificada a produção de beta-lactamase em aeróbios (S. aureus e H. influenzae) e anaeróbios (Bacteróides fragilis, B. oralis, B. melaninogenicus). Brook e col (2000) também encontraram maior número de bactérias produtoras de beta-lactamase nas tonsilas faríngeas de crianças com hipertrofia associada ou não com otites e adenoidites quando comparadas às crianças sem hipertrofia tonsilar. Nestes casos as cepas produtoras desta enzima foram de S. aureus, M. catarrhalis, B. fragilis, Fusobacterium e Prevotella. Em outra observação, Brook e Shah (2003) demonstraram que em crianças tratadas com clindamicina e amoxicilina houve redução no número de bactérias isoladas nas tonsilas faríngeas mais significativa com uso da primeira, talvez pelo melhor efeito desta sobre as bactérias produtoras de beta-lactamase. 22 No Brasil, Castro Jr. e col (1995), em culturas da tonsila faríngea, encontraram 100% de sensibilidade do S. aureus à oxacilina, eritromicina e clindamicina e 80% de resistência à penicilina G. Para o S. pneumoniae, os resultados demonstraram 100% de sensibilidade à eritromicina e ampicilina e para S. viridans a sensibilidade foi de 50% à ampicilina e penicilina G e 100% à eritromicina. Mais recentemente, Sader (2001), em colônias isoladas a partir de secreções de pacientes com pneumonia adquirida na comunidade, relatou 2,3% de S. pneumoniae resistentes à penicilina com a taxa de 4% de resistência à cefotaxima. Este trabalho do programa SENTRY (Antimicrobial Surveillance Program) foi realizado em amostras obtidas de laboratórios situados no Sul, Sudeste e CentroOeste do Brasil e não podemos saber se traduzem a realidade de nossa região, visto que a taxa de resistência pode sofrer variação regional. Este mesmo autor cita um exemplo destas diferenças relatando uma taxa de resistência à penicilina em relação ao H. influenza de 10 a 15% no Brasil, enquanto nos Estados Unidos esta taxa é de um terço. Neste sentido, McClay (2000), em Dalas (EUA), encontrou 37% dos S. pneumoniae, 65% dos H. influenzae, e 100% das M. catarrhalis isolados na tonsila faríngea de crianças com hipertrofia, associada ou não a otites, foram resistentes á oxacilina. 23 Para Mühlemann e col (2003), na Suíça, em swabs da nasofaringe de crianças com otite média ou pneumonia a resistência do S. pneumoniae foi de 13%. Cheng (2004), em culturas de swabs nasofaríngeos de crianças saudáveis em Chicago (EUA), encontrou 6,4% de S. pneumoniae resistentes à penicilina, 4,2% à eritromicina e 19,1% à sulfametoxazol-trimetoprima. Para os S. aureus, encontrou 9,20% de resistência à penicilina – meticilino resistente (MRSA) – e 100% de sensibilidade à sulfametoxazol-trimetoprima, rifampicina, vancomicina e oxacilina. De acordo com Sader (2001), trabalhos locais que auxiliem na avaliação de resistência bacteriana são extremamente importantes, e Brook (2000) enfatizou a necessidade de mais estudos que comparem a eficácia de antimicrobianos no tratamento das doenças das tonsilas faríngeas. O uso clínico destes antibióticos no tratamento das tonsilites, sinusites e otites é empírico. Mesmo nos quadros de infecções de repetição não é rotina, nas crianças, lançar mão de métodos invasivos para coleta de material para cultura e escolha do antibiótico. Atualmente, o norteamento da melhor escolha antibiótica se faz baseado em critérios de estudos realizados principalmente em países do Primeiro Mundo. Não sabemos se os resultados encontrados nestes países estão de acordo com a nossa realidade. Neste sentido, segundo Brook e col (2000), novos estudos poderiam auxiliar em tratamentos clínicos mais eficazes, notadamente quanto ao uso de antimicrobianos. 24 2. OBJETIVOS 2.1 Geral Identificar a flora bacteriana das tonsilas faríngeas das crianças, com idades variando entre 3 e 14 anos, submetidas à adenoidectomia ou adenoamigdalectomia, no Hospital Universitário Getúlio Vargas (UFAM), na cidade de Manaus, no período de março a junho de 2005. 2.2 Específico Identificar a sensibilidade da flora bacteriana em relação aos antibióticos utilizados no tratamento das infecções das vias aéreas superiores em crianças. 25 3. METODOLOGIA 3.1 Modelo de Estudo Estudo descritivo transversal da flora bacteriana das tonsilas faríngeas hipertrofiadas em crianças com indicação de tratamento cirúrgico – adenoidectomia ou adenoamigdalectomia – e da análise do perfil de resistência aos antibióticos das bactérias identificadas. 3.2 Universo de Estudo 3.2.1 População de Referência Constituída pelos pacientes, com idades entre 3 e 14, anos atendidos no Serviço de Otorrinolaringologia do Ambulatório Araújo Lima (AAL) do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) – Universidade Federal do Amazonas (UFAM). 3.2.2 População de Estudo Composta pelos pacientes, com idades entre 3 e 14 anos, portadores de hipertrofia da tonsila faríngea, atendidos no Serviço de Otorrinolaringologia do AAL (HUGV/UFAM), e submetidos à adenoidectomia ou adenoamigdalectomia no Hospital Universitário Getúlio Vargas (UFAM), no período de março a junho de 2005. 3.3 Participantes Pacientes de ambos os sexos, portadores de hipertrofia da tonsila faríngea, apresentando clínica respiratória obstrutiva alta, com indicação cirúrgica de 26 adenoidectomia ou adenoamigdalectomia, comprovada por meio da radiografia simples do cavum, submetidos a este procedimento cirúrgico no HUGV/UFAM, no período de março a junho de 2005, cujos responsáveis assinaram o termo de consentimento pós-informação (Anexo A). 3.3.1 Critérios de Inclusão Pacientes portadores de hipertrofia da tonsila faríngea com sintomatologia obstrutiva respiratória alta na faixa etária de 3 a 14 anos de idade. 3.3.2 Critérios de Exclusão Crianças tratadas com antibióticos nas três semanas anteriores à cirurgia. 3.4 Procedimentos As crianças portadoras de doença obstrutiva alta, atendidas no Ambulatório Araújo Lima da Universidade Federal do Amazonas, foram submetidas à avaliação clínica diagnóstica por meio da anamnese e do exame físico. Desse modo, as portadoras de sinais e sintomas sugestivos de hipertrofia da tonsila faríngea foram submetidas à avaliação diagnóstica por meio da radiografia simples em perfil do cavum. Os dados foram inseridos no questionário padrão (Anexo B). Confirmada a hipertrofia obstrutiva do rinofaringe, determinada pelo aumento da tonsila faríngea, receberam indicação cirúrgica e foram submetidas aos exames 27 pré-operatórios. Os pacientes de ambos os sexos que preenchiam os critérios de inclusão foram submetidos à adenoidectomia ou adenoamigdalectomia no HUGV. Na adenoidectomia, foi utilizada a técnica convencional (Figura 10) com a exérese da adenóide por meio da curetagem com a cureta de Beckman de números 1, 2 e 3 (Figuras 11a e 11b). O tecido adenoidiano foi macerado e colocado em dois meios de cultura líquidos: no caldo tioglicolato e no meio enriquecido BHI (Figura 12). A seguir o conjunto foi enviado para cultura, no setor de Microbiologia da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM) e incubado em estufa a 37ºC até 5 horas após a coleta. Figura 10: Adenoidectomia (COIFMAN, H; TREVIZAN,G. L, 2003) Figura 11(a-b) - a: Técnica cirúrgica; b: Cureta de Beckman 28 Após 24 horas o conjunto foi analisado por meio do gram. Na presença de bactérias realizou-se a semeadura nos meios de cultura sólidos agar sangue e agar chocolate. Em caso negativo, foi incubado por mais 24 horas e novamente avaliado por meio do gram. Figura 12: Meios de cultura As placas semeadas foram incubadas a 37ºC e após 24 e 48 horas analisadas para identificação das colônias. As culturas que identificaram estreptococos beta hemolíticos e estafilococos foram submetidas à identificação antigênica através de testes específicos. As colônias foram testadas quanto à sensibilidade através do método de difusão em discos para os seguintes antibióticos: ampicilina, amoxicilina, amoxicilinaclavulanato, azitromicina, eritromicina, cefaclor, cefuroxima e sulfametoxazoltrimetoprima. 29 3.5 Análise dos Dados A análise estatística dos dados foi realizada através de tabulação dos dados utilizando o programa Minitab 12.0 e análise através do programa Estatística 6.0. 30 4. RESULTADOS Foram estudadas as tonsilas faríngeas de 17 crianças. Onze crianças do sexo feminino e 6 do sexo masculino (Figura 13). A idade variou de 5 a 14 anos, com média de 6,7 anos. Masculino Feminino 6 (35,29%) Feminino Masculino 11 (64,71%) N = 17 Figura 13: Distribuição por sexo das crianças submetidas à adenoidectomia, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. Em relação à raça, 14 crianças eram pardas, 2 brancas e 1 negra, conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1: Distribuição por raça das crianças submetidas à adenoidectomia, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. Raça Parda Branca Negra Indígena Freqüência 14 2 1 0 Percentual 82,4% 11,8% 5,9% 0% 31 A renda familiar predominante foi entre 2 a 5 salários mínimos com 14 crianças e 3 crianças apresentaram renda familiar acima de 5 salários mínimos (Tabela 2). Tabela 2: Distribuição por renda familiar das crianças submetidas à adenoidectomia, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. Renda familiar 2 a 5 salários Acima de 5 salários Freqüência 14 3 Percentual 82,4% 17,6% A presença de antecedentes familiares de adenoidectomia foi positiva em 3 crianças (Tabela 3), em 2 dos casos os parentes foram os irmãos e em 1 caso o primo (Tabela 4). Tabela 3: Antecedentes familiares de adenoidectomia das crianças submetidas à adenoidectomia, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. Antecedentes familiares de adenoidectomia Presente Ausente Freqüência Percentual 3 14 17,65% 82,35% Tabela 4: Grau de parentesco das crianças com antecedentes familiares de adenoidectomia, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. Grau do parentesco Irmã Primo Freqüência 2 1 Percentual 11,76% 5,88% 32 No relato dos antecedentes de doenças pregressas foi encontrada atopia em 29,41% (5) das crianças, rinite alérgica em 29,41% (5), sinusites em 17,65% (3), asma em 11,76% (2), e otites em 11,76% (2), conforme mostra a Tabela 5. Tabela 5: Freqüência de doenças associadas nas crianças submetidas à adenoidectomia, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. Antecedentes doenças Alergias Rinite alérgica Sinusites Asma Otites de Freqüência Percentual 5 5 3 2 2 29,41% 29,41% 17,65% 11,76% 11,76% A freqüência de antibioticoterapia prévia foi de 76,47% (13) e o antibiótico mais utilizado foi a amoxicilina. Duas crianças não haviam utilizado antibióticos e dois dos responsáveis não souberam informar sobre este item. Os outros antibióticos relatados foram cefalexina, cefaclor, eritromicina, azitromicina, claritromicina e sulfametoxazol-trimetroprima (Anexo C). As alterações encontradas no exame físico foram: respiração oral em 100% das crianças, palato ogival presente em 88,24%, deformidade do tórax em 17,65% e alterações da otoscopia, presentes em 11,76% das crianças (Figura 14). Os resultados das culturas das tonsilas faríngeas demonstraram Staphyloccus aureus em 41,18% (7), Streptoccocus pneumoniae em 23,54% (4) das crianças, Streptoccocus pyogenes em 11,76% (2) dos casos, Neisseria meningitidis sorogrupo B em 11,76% (2) crianças, Staphylococcus epidermidis em 5,88% (1) das crianças e Candida albicans em 5,88% (1) das crianças (Figura 15). 33 17 (100,00%) Respiração oral 15 (88,24%) Deformidade do palato 3 (17,65%) Deformidade do tórax 2 (11,76%) Otite 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Percentual Figura 14: Alterações no exame físico das crianças submetidas à adenoidectomia, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. Neisseria meningitidis 2 (11,76%) Streptotoccus Staphylococcus epidermidis 1 (5,88%) Candida albicans 1 (5,88%) pyogenes 2 (11,76%) Streptococcus pneumoniae 4 (23,53%) Staphylococcus aureus 7 (41,18%) N = 17 Figura 15: Freqüência dos microrganismos isolados na cultura da tonsila faríngea das crianças submetidas à adenoidectomia, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. 34 A avaliação da sensibilidade aos antibióticos demonstrou que, em relação à ampicilina e amoxicilina, 71,43% (5) dos S. aureus encontrados foram resistentes e 28,57% (2) sensíveis. Para os S. pneumoniae, a sensibilidade foi de 100% (4). Os S. pyogenes e as N. meningitidis foram 100% (2) sensíveis assim como o S. epidermidis cultivado. Na avaliação da sensibilidade, a associação amoxicilina-clavulanato de potássio, os resultados foram semelhantes com 71,43% (5) de S. aureus resistentes e 28,57 (2) sensíveis, 100% (4) de S. pneumoniae sensíveis, 100% (2) de N. meningitidis sensíveis, 100% (2) de S. pyogenes sensíveis e 100% (1) de S. epidermidis sensíveis. Quando testadas quanto à sensibilidade aos antibióticos eritromicina e azitromicina, foi encontrado 14,29% (1) de Staphylococcus aureus resistentes e 85,71% (6) sensíveis, 50% (2) de Streptoccocus pneumoniae sensíveis, 50% (1) de Streptoccocus pyogenes sensíveis, 100% (1) de Staphyloccus epidermidis sensíveis. As colônias de N. meningitidis não foram testadas para estes antibióticos. A sensibilidade ao cefaclor foi de 71,43% (5) para os S. aureus, 100% (4) para os S. pneumoniae, 100% (2) para o S. pyogenes, 100% (2) das N. meningitidis e 100% (1) de S. epidermidis. O teste da sensibilidade à cefuroxima demonstrou 42,86% (3) de S. aureus resistentes e 57,14% (4) sensíveis, 100% (4) de S. pneumoniae sensíveis, 100% (2) 35 de S. pyogenes sensíveis, 100% (2) de N. meningitidis e 100% (1) de S. epidermidis sensíveis. E relação à associação sulfametoxazol-trimetroprima, 28,57% (2) dos S. aureus foram resistentes e 71,43% (5) sensíveis, 100% dos de S. pneumoniae testados foram resistentes e 100% (2) dos S. pyogenes foram resistentes. As colônias de S. epidermidis e N. meningitidis não foram testadas para este antibiótico. O perfil de resistência aos antibióticos dos S. aureus isolados está demonstrado na Figura 16 e dos S. pneumoniae na Figura 17. Sulfametoxazol+TMP Azitromicina 14,29 Eritromicina 14,29 85,71 85,71 Cefuroxima 42,86 Cefaclor 28,57 Amoxicilina+Clavulanato 28,57 Amoxicilina 28,57 Ampicilina 28,57 Sensível Resistente 71,43 28,57 - 10 20 30 40 57,14 71,43 71,43 71,43 71,43 50 60 70 80 90 100 Percentual Figura 16: Perfil da resistência dos Staphylococcus aureus, isolados da tonsila faríngea em crianças, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. 36 - Sulfametoxazol+TMP 100,00 Azitromicina 50,00 50,00 Eritromicina 50,00 50,00 Cefuroxima - Cefaclor - Amoxicilina+Clavulanato - Amoxicilina - Ampicilina - Sensível Resistente - 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Percentual Figura 17 – Perfil de resistência dos Streptococcus pneumoniae isolados da tonsila faríngea em crianças, Manaus, Amazonas, Brasil, 2005. O perfil de sensibilidade dos microrganismos isolados à amoxicilina está demonstrado no Anexo D. 37 5. DISCUSSÃO A fisiologia e a imunologia das estruturas do anel de Waldeyer nas crianças vem sendo melhor estudadas, tornando mais criteriosas as indicações cirúrgicas para retirada destes órgãos. Apesar disto a freqüência no número destas cirurgias ainda é elevada, tanto para tratar os distúrbios obstrutivos, derivados das hipertrofias, como para o tratamento das infecções recorrentes. Está descrita a presença das bactérias nesta estrutura, mas não é conhecida a forma pela qual estas participariam na persistência da doença. Sabemos que as bactérias ali presentes estão implicadas não só nas infecções do próprio tecido mas também de estruturas circunvizinhas como a orelha média e cavidades nasossinusais e neste sentido aumentam a exposição destas crianças à antibioticoterapia, favorecendo a seleção bacteriana. Neste trabalho foi avaliada a flora microbiana e a resistência das bactérias isoladas em crianças submetidas à adenoidectomia. Foi verificada a presença em ordem de freqüência dos seguintes microrganismos: Staphyloccus aureus 41,18% (7), Streptoccocus pneumoniae 23,54% (4), Streptoccocus pyogenes 11,76% (2), Neisseria meningitidis sorogrupo B 11,76% (2), Staphylococcus epidermidis 5,88% (1) e Candida albicans 5,88% (1). 38 No Brasil, Castro Jr. e col (1995), em São Paulo, avaliaram 15 crianças com idade variando entre 4 a 11 anos. Na cultura da tonsila faríngea destas crianças encontraram como predominantes os S. viridans em 33% das culturas, em segundo lugar os S. aureus em 29% dos casos e em terceiro os S. pneumoniae em 14% das crianças. Em 7% dos casos as culturas foram negativas. Neste estudo, ao contrário de Castro Jr. e col (1995), não foi isolada nenhuma colônia de S. viridans e os S. aureus apareceram com maior freqüência em 41,18% das colônias. O S. pneumoniae foi o segundo microrganismo mais freqüente em 23,54% das culturas. Em relação à sensibilidade aos antibióticos, Castro Jr. e col (1995) constataram que a maioria dos S. aureus foi suscetível aos antibióticos cloranfenicol, eritromicina, co-trimoxazol, oxacilina, cefazolina, cefixitima, clindamicina, imipenem, vancomicina e ciprofloxacina. No presente trabalho, o perfil de resistência do S. aureus foi superior com 71,43% de colônias resistentes à ampicilina, amoxicilina e amoxicilina-clavulanato de potássio. Houve 28,57% de resistência ao cefaclor e 42,86% de resistência à cefuroxima. A resistência à eritromicina e azitromicina foi de 14,29% e de 28,57% à sulfametoxazol+trimetoprima. A maioria das crianças estudadas foi submetida previamente a tratamento com amoxicilina, aumentando as chances de selecionar patógenos resistentes, o 39 que segundo Brook e Shah (2003), é freqüente nas crianças com doenças crônicas das tonsilas faríngeas. Estes autores verificaram que a utilização prévia da amoxicilina e da clindamicina modificaram a flora das tonsilas faríngeas em crianças. Os dois antibióticos reduziram o número de bactérias isoladas, porém a clindamicina reduziu de forma mais significativa as bactérias consideradas como patógenos potenciais. Esta redução, segundo os autores, poderia ser creditada a melhor eficácia deste antimicrobiano contra as bactérias produtoras de beta-lactamase. Ao testar a sensibilidade dos S. pneumoniae identificados, Castro Jr. e col (1995) encontraram 50% de resistência ao antibiótico co-trimoxazol e 100% de sensibilidade à ampicilina. O presente estudo encontrou resultado semelhante demonstrando 100% de sensibilidade à ampicilina, amoxicilina e amoxicilina-clavulanato de potássio para os S. pneumoniae isolados. O predomínio dos S. aureus e S. pneumoniae encontrado nesta pesquisa difere dos resultados encontrados em trabalhos internacionais. Apesar de não terem sido as mais isoladas estas bactérias estão presentes nas séries estudadas. BrooK e Bethesda (1981), após analisarem a cultura da tonsila faríngea em 30 crianças em Washington (EUA), separou dois grupos de estudo, um com adenoidites ou tonsilites de repetição e outro com hipertrofia da tonsila faríngea, sem 40 infecções de repetição. Em ambos encontraram uma flora polimicrobiana constituída por bactérias aeróbias e anaeróbias. As bactérias mais freqüentes nos dois grupos foram os Streptococcus α hemolítico (23) e gama hemolítico (12), S. aureus (11), Streptococcus β hemolítico (7). Os S. pneumoniae (5), H. influenzae (7) e S. aureus (9), considerados potencialmente patogênicos, foram mais freqüentes no grupo com infecções de repetição. Os S. aureus nesta série apareceram em terceiro lugar em freqüência, diferindo dos resultados de nossa avaliação na qual, conforme já citado, foram os mais freqüentes. No trabalho de BrooK e Bethesda (1981) não foi analisada a resistência bacteriana aos antimicrobianos, mas a avaliação da produção de beta-lactamase por estes autores demonstrou que todos os S. aureus isolados eram produtores desta enzima. Os autores citaram que a persistência de bactérias patogênicas na faringe de crianças sugere um incremento no número de bactérias produtoras de betalactamase como o S. aureus e o H. influenzae e o aparecimento de Streptococcus α hemolíticos resistentes à penicilina. Estes autores isolaram Candida albicans em 13% dos casos, contra 5,8% da atual pesquisa. 41 DeDio e col (1988) estudaram as culturas das tonsilas faríngeas e palatinas de 50 crianças, com idade entre 18 meses e 15 anos, na Filadélfia (EUA). Obtiveram como bactérias aeróbicas mais freqüentes os Streptococcus α hemolíticos, identificados em 38 tonsilas faríngeas, as Neisseria sp em 32 casos, os Haemophilus sp com 18 casos e S. aureus em 15 (30%) casos. Estes autores não isolaram bactérias anaeróbicas e os S.pneumoniae ocorreram em 12% (6) das culturas. Este estudo encontrou porcentagens mais elevadas de S. aureus e S. pneumoniae com 41,18% e 23,54%, respectivamente. Para os mesmos autores as bactérias potencialmente patogênicas mais freqüentes foram os Haemophilus sp e S. aureus. No presente estudo não foi isolada nenhuma cultura de Haemophilus sp. No estudo feito em Toronto no Canadá por Fearon e col (1992) em 39 tonsilas faríngeas de crianças estes autores, assim como Brook e Bethesda (1981), encontraram flora polimicrobiana constituída por bactérias aeróbias e anaeróbias. Ao contrário de Brook e Bethesda (1981), o aeróbio mais comum foi o H. influenzae em 84% dos tecidos. A seguir vieram os Diphteroids em 66%, Neisseria sp em 66% e Streptococcus α hemolítico em 64%. Não relataram a presença de fungos entre os microrganismos isolados. 42 Os S. aureus estiveram presentes em 28% das culturas e os Streptococcus pyogenes e S. pneumoniae ambos em 15%. Nas culturas analisadas neste trabalho, o S. pyogenes foi isolado em apenas 11,76% das culturas e as porcentagens de S. pneumoniae e S. aureus foram maiores, como referido anteriormente, com 23,54% e 41,18%, respectivamente. Fearon e col (1992), assim como DeDio e col (1988) e BrooK e Bethesda (1981), não avaliaram o perfil de resistência aos antimicrobianos dos microrganismos isolados. Na pesquisa de Brook e col (2000), os autores compararam a flora da tonsila faríngea em 4 grupos de crianças submetidas à adenoidectomia. O primeiro com otite média, o segundo com tonsilites de repetição, o terceiro com hipertrofia da tonsila faríngea e o grupo controle de pacientes com obstrução nasal sem doença infecciosa ou hipertrófica. De forma semelhante a BrooK e Bethesda (1981) e Fearon e col (1992), encontraram a presença de aeróbios e anaeróbios. Nos quatro grupos houve predomínio por ordem de freqüência dos Streptococcus α e gama hemolíticos, H. influenzae, S. aureus, Streptococcus β hemolítico do grupo A e Moraxella catarrhalis. A flora foi semelhante nos quatro grupos, mas a concentração de bactérias foi menor no grupo controle. Segundo estes autores, este achado pode sugerir a contribuição bacteriana na patogenia da hipertrofia da tonsila faríngea nos 3 grupos de estudo. 43 Assim como Brook e Bethesda (1981), Brook e col (2000) avaliaram a produção de beta-lactamase e encontraram que a maioria das colônias de M. catarrhalis e todas as de S. aureus identificadas eram produtoras desta enzima. McClay (2000), em Dallas (EUA), encontrou nas tonsilas faríngeas de 46 crianças com maior freqüência H. influenzae, S. pneumoniae e M. catarrhalis. Testando a sensibilidade em relação à oxacilina, encontrou que 65% das colônias de H. influenzae isoladas foram resistentes. Dentre os S. pneumoniae a resistência foi de 37% e em relação a M. catarrhalis foi de 100%. No presente trabalho, como citado anteriormente, a sensibilidade do S. pneumoniae às penicilinas testadas foi de 100%, frisando que a amostra foi menor. Não foi isolada nenhuma colônia de H. influenzae e M. catarrhalis. Como possível explicação, pode-se pensar no uso em menor escala da antibioticoterapia de amplo espectro em nosso meio, apesar de 76,47% das crianças estudadas terem apresentado antecedentes de uso prévio da amoxicilina. Passàli e col (2003) na Itália, em 19 crianças, isolaram dentre as bactérias mais freqüentes os Streptococcus α hemolíticos, Neisseria sp, Haemophilus sp e H. influenzae. Os S. pneumoniae e S. aureus foram encontrados em 42% (8) e 10,5% (2) das culturas, respectivamente. 44 Mais recentemente na Turquia, na cultura da tonsila faríngea realizada por Tuncer e col (2004) em 30 crianças, isolaram Streptococcus α hemolíticos, Neisseria sp e Streptococcus β hemolíticos como mais freqüentes. Os S. pneumoniae e S. aureus foram isolados em 33,3% e 16,6% das culturas. Os resultados deste trabalho diferiram dos encontrados por estes dois autores. Foram encontradas maiores porcentagens de S. aureus do que de S. pneumoniae e não foi isolada nenhuma colônia de Streptococcus α hemolíticos. Estudando as tonsilas faríngeas de 45 crianças em Washington, Brook e Shah (2003) encontraram aeróbios e anaeróbios. Dentre os aeróbios, predominaram os Streptococcus α hemolíticos (13) e não hemolíticos (14), H. influenzae (12), S. aureus (7), M. catarrhalis (8) e S. pneumoniae (4). Cheng (2004), em 291 culturas de swabs nasofaríngeos de crianças saudáveis de 0 a 5 anos em Chicago (EUA), encontrou 16,2% de pacientes colonizados por S. pneumoniae e 18,6% de pacientes colonizados por S. aureus com 9,20% de estafilococos meticilino resistentes (MRSA). Em comparação ao resultado de Cheng (2004), Brook e col (2000) encontraram nas culturas das tonsilas faríngeas do seu grupo controle, constituído de crianças sem doença da tonsila faríngea, menor porcentagem de S. pneumoniae (6,6%) e porcentagem semelhante de S. aureus (20%). 45 Na avaliação das crianças com doença da tonsila faríngea, foram verificadas porcentagens maiores destas duas bactérias o que poderia indicar a participação bacteriana na doença destes tecidos, assim como sugerido por Brook e col (2000). Sader (2001), no Brasil, encontrou 2,3% de S. pneumoniae resistentes à penicilina e 4% de resistência à cefotaxima, em colônias isoladas a partir de secre- ções de pacientes com pneumonia adquirida na comunidade. Em avaliações através de swabs coletados na nasofaringe, Mühlemann e col (2003), na Suíça, encontraram em 2.769 menores de 17 anos, com otite média ou pneumonia 13% de resistência à penicilina pelo S. pneumoniae. Diferindo dos dois autores supracitados, foi verificada sensibilidade à penicilina de 100% para os S. pneumoniae. No entanto, deve-se observar que esta série foi menor que a dos dois autores e as metodologias foram diferentes, pois foram realizadas culturas de crianças com doença crônica da tonsila faríngea e sem infecção aguda. 46 6. CONCLUSÃO A bactéria mais freqüente nas culturas das tonsilas faríngeas foi o Staphyloccus aureus, identificado em 41,18% dos casos. Em segundo lugar ficou o Streptoccocus pneumoniae, presente em 23,54% das culturas. As outras bactérias encontradas foram os Streptoccocus pyogenes em 11,76%, Neisseria meningitidis sorogrupo B em 11,76% e Staphylococcus epidermidis em 5,88%. Houve crescimento do fungo Candida albicans em um caso. Os Staphylococcus aureus encontrados apresentaram alta resistência à penicilina, com maior sensibilidade as cefalosporinas, macrolídeos e associação sulfametoxazol-trimetroprima. Os Streptoccocus pneumoniae foram sensíveis às penicilinas, cefaclor e à cefuroxima e trimetroprima. apresentaram alta resistência à associação sulfametoxazol- 47 7. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS AKKER, E. H.; SCHILDER, A. G. M.; KEMPS, Y. J. M.; BALEN, F. A. M.; HORDIJK, G. J.; HOES, A. W. Current indications for (adeno) tonsillectomy in children: a survey in The Netherlands. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. V. 67, n. 6, p. 603-7, june 2003. ALMEIDA, C. I. R. de; ALMEIDA, R. R. Otite média aguda. In: CAMPOS, C. A. H. de; COSTA, H. O. (ed.). Tratado de otorrinolaringologia. 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Dr.a Viviane Saldanha Oliveira 52 Eu,_________________________________________________________________ ____RG. n.º_______________________________________, responsável pelo(a) menor, _____________________________________________, tendo recebido as informações pertinentes, e ciente dos meus direitos abaixo relacionados, concordo que o menor____________________________________ participe do estudo. 1. A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a qualquer dúvida acerca dos procedimentos, riscos e banefícios da pesquisa realizada. 2. A liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem que isso prejudique o tratamento do menor pelo qual sou reponsável. 3. A segurança de que o menor pelo qual sou responsável não será identificado, mantendo caráter confidencial das informações. 4. O compromisso de receber informações atualizadas durante o estudo. 5. Se existirem gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento da pesquisa. Tenho ciência do exposto acima e autorizo a participação do menor _________________________________________________ na presente pesquisa. Manaus, _____ de ____________________ de 2004 Nome: _________________________________________________________ Assinatura: _____________________________________________________ 53 ANEXO B Questionário para levantamento dos dados Nome da pesquisa: Estudo da Microbiologia das Adenóides de Crianças Operadas na cidade de Manaus, Amazonas Pesquisadora responsável: Dr.a Viviane Saldanha Oliveira Data____/____/___ Prontuário_______________________ Nome:______________________________________________________________ Endereço:___________________________________________________________ Cidade:________________UF:________CEP:______________Telefone:________ Data de Nascimento:_____/___/______ Idade:__________________ Nacionalidade:___________________Naturalidade__________________________ Cor: ( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda ( ) Indígena Renda familiar: ( ) < salário mínimo ( ) salário mínimo ( ) de 2 a 5 salários mínimos ( ) + de 5 salários mínimos Antecedentes familiares de adenoidectomia ( ) S ( ) N Qual grau de parentesco_____________________________________ Antecedentes de doenças pregressas Alergias ( ) S ( ) N Tipo:______________________________________ Asma ( ) S ( ) N Tipo:______________________________________ Rinites ( ) S ( ) N Tipo:______________________________________ Sinusites ( ) S ( ) N Tipo:______________________________________ Otites ( ) S ( ) N Tipo:______________________________________ Medicações atuais Antibióticos ( ) S ( ) N Qual ? Antiinflamatórios ( ) S ( ) N Qual? Antialérgicos ( ) S ( ) N Qual? Corticóides tópicos ( ) S ( ) N Qual ? Outros __________________________________________________________ MEDICAÇÕES ANTERIORES Antibióticos ( ) S ( ) N Quais: __________________________________ Exames laboratoriais Hematócrito: ___ Hemoglobina:___ Tipo Sangüíneo: _____ Plaquetas:_______ Leucograma _____________________________________________________ EAS ___________________________________________________________ EPF ___________________________________________________________ Radiografia do cavum Resultado_______________________________________________________ Endoscopia nasal ( ) S ( ) N Resultado ______________________________________________ Exame físico ( ) Respiração oral ( ) Palato ogival ( ) Deformidade do tórax ( ) Retração timpânica ( ) Ouvido direito ( ) Ouvido esquerdo ( ) Perfuração timpânica ( ) Ouvido direito ( ) Ouvido esquerdo ( ) Otite serosa ( ) Ouvido direito ( )Ouvidoesquerdo 54 ANEXO C Relato do uso prévio de antibióticos Número 1 Resultado da Cultura Staphylococcus aureus 2 Staphylococcus aureus 3 Staphylococcus aureus Neisseria meningitidis sorogrupo B Staphylococcus aureus Streptococcus pyogenes Streptococcus pneumoniae Streptococcus pneumoniae Streptococcus pneumoniae Streptococcus pneumoniae Neisseria meningitidis sorogrupo B Staphylococcus aureus Staphylococcus epidermidis Staphylococcus aureus Staphylococcus aureus Streptococcus pyogenes Candida albicans 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Antibióticos Não utilizou Amoxicilina, cefalexina, sulfametoxazoltrimetoprima Não soube informar Amoxicilina Amoxicilina Amoxicilina Amoxicilina, sulfametoxazol-trimetoprima Amoxicilina Amoxicilina, cefaclor Amoxicilina, eritromicina Eritromicina, amoxicilina Não utilizou Amoxicilina Amoxicilina Amoxicilina, azitromicina, claritromicina Amoxicilina Não soube informar 55 ANEXO D Perfil da sensibilidade à amoxicilina das bactérias isoladas na cultura das tonsilas faríngeas Número Resultado da Cultura 1 Staphylococcus aureus 2 Staphylococcus aureus 3 4 5 6 Staphylococcus aureus Neisseria meningitidis sorogrupo B Staphylococcus aureus Streptococcus pyogenes 7 Streptococcus pneumoniae 8 9 Streptococcus pneumoniae Streptococcus pneumoniae 10 Streptococcus pneumoniae 11 Neisseria meningitidis sorogrupo B 12 13 14 Staphylococcus aureus Staphylococcus epidermidis Staphylococcus aureus 15 Staphylococcus aureus 16 17 Streptococcus pyogenes Candida albicans Uso prévio de antibióticos Não Amoxicilina, cefalexina, sulfametoxazoltrimetoprima Não soube informar Amoxicilina Amoxicilina Amoxicilina Amoxicilina, sulfametoxazoltrimetoprima Amoxicilina Amoxicilina, cefaclor Amoxicilina, eritromicina Eritromicina, amoxicilina Não Amoxicilina Amoxicilina Amoxicilina, azitromicina, claritromicina Amoxicilina Não soube informar Sensibilidade a amoxicilina Resistente Resistente Resistente Sensível Resistente Sensível Sensível Sensível Sensível Sensível Sensível Sensível Sensível Sensível Resistente Sensível Não testada