ALINE AMARAL DE SOUSA A ATUAÇÃO DO PROGRAMA DE FINANCIAMENTO CARTA DE CRÉDITO CAIXA NO MERCADO IMOBILIÁRIO Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ Rio de Janeiro 2006 ALINE AMARAL DE SOUSA A ATUAÇÃO DO PROGRAMA DE FINANCIAMENTO CARTA DE CRÉDITO CAIXA NO MERCADO IMOBILIÁRIO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Orientador: Prof. Dr. Adauto Lúcio Cardoso Doutor em Planejamento Urbano - USP Rio de Janeiro 2006 ALINE AMARAL DE SOUSA A ATUAÇÃO DO PROGRAMA DE FINANCIAMENTO CARTA DE CRÉDITO CAIXA NO MERCADO IMOBILIÁRIO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Orientador: Prof. Dr. Adauto Lúcio Cardoso Doutor em Planejamento Urbano - USP Aprovado em: ____________________________________ Prof. Dr. Adauto Lúcio Cardoso – Orientador Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ ____________________________________ Prof. Dra. Ana Clara Torres Ribeiro Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ ____________________________________ Prof. Dr. José Agostinho Anachoreta Leal Universidade Cândido Mendes - UCAM Agradecimentos A Deus, por mais essa oportunidade. Ao César, pela presença e compreensão de sempre. Aos meus pais, pelo grande apoio. Ao Professor Adauto, pela orientação e pela ajuda na “hora certa”. Aos Professores Agostinho, Ana Clara e Luiz César, pela participação nas bancas examinadoras. Aos Professores do IPPUR, pela ajuda no período de “licença maternidade”. Aos colegas da turma do mestrado 2004, pelo carinho. Ao Aser Cortines, pelas longas conversas e explicações. À Luciana Costa e Rodrigo Uchôa, por toda ajuda e mais um pouco. Aos amigos da Caixa, em especial Vera Escudero e Jeanine Claper, que possibilitaram a conciliação do meu trabalho com o estudo. Para um número considerável de pessoas, o importante, nos dias atuais, é ter Crédito, seja ele qual for, porque crédito também é sinônimo de confiança. Leoni (1997) confima essa crença: “Credere é palavra latina que significa acreditar, ou seja, confiar; é forma de obter recursos para destinar a algum empreendimento ou atender a alguma necessidade.” Para Schrickel (1995), o conceito de crédito é mais amplo: “Crédito é todo ato de vontade ou diposição de alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, depois de decorrido o tempo estipulado.” Silva, J. (1997), trata o conceito de crédito num sentido mais restrito e específico: “Em um banco, que tem a intermediação financeira como sua principal atividade, o crédito consiste em colocar à disposição do cliente (tomador de recursos) certo valor sob a forma de empréstimo ou financiamento, mediante uma promessa de pagamento numa data futura.” Resumo Trata-se da investigação da atuação do Programa de financiamento Carta de Crédito Caixa no mercado imobiliário. A idéia central é verificar como o Programa está inserido no âmbito da produção e comercialização de imóveis - novos e usados - e em que sentido essas operações de financiamento influenciam e são influenciadas pela dinâmica do mercado – que nesse caso, devido às características do Programa, é um mercado voltado para as classes média e alta, onde em muitos casos a convergência de interesses de distintos capitais nutre a especulação imobiliária e contribui para a valorização fundiária. Palavras-chave: financiamento imobiliário, Caixa Econômica Federal, mercado imobiliário Abstract This is a study of the Caixa’s Letter of Credit Financing Program in the real estate market. The main idea is to find out how the Program fits in the production and commercialization of properties – new and used – and how these financing operations influence and are influenced by the market´s dynamic – which in that case, due to the Program’s characteristics, is directed to the medium and high classes, which in many cases the convergence of interests of distinct funds sustains the real estate speculation and contributes to the landed property valorization. Key-words: real estate financing, Caixa Econômica Federal, real estate Lista de Ilustrações Gráfico 1.1 Déficit habitacional urbano segundo as faixas de renda familiar em salários mínimos 23 Gráfico 1.2 SFH – Financiamentos Habitacionais – número de unidades 28 Figura 1.1 Segmentos de atuação da CAIXA 39 Figura 1.2 Desenvolvimento Urbano – diagnóstico Brasil 41 Gráfico 1.3 Financiamentos CAIXA – unidades contratadas até 2005 43 Figura 2.1 Fluxograma – Aquisição de Imóvel – Carta de Crédito Caixa 79 Figura 3.1 Fluxograma – Modelagem da Cadeia Produtiva da Construção Civil no Brasil: produção e comercialização de unidades habitacionais 85 Gráfico 3.1 Motivos de rejeição de solicitações de financiamento imobiliário 92 Gráfico 3.2 Total de financiamentos habitacionais concedidos no Brasil 114 Gráfico 3.3 Bancos conhecidos como concessores de financiamento imobiliário 114 Gráfico 4.1 Número de bairros por região – contratos CC Caixa – Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2006 132 Gráfico 4.2 Contratos CC Caixa – Município Rio de Janeiro por região – 1996 a 2006 Gráfico 4.3 Contratos CC Caixa por bairro em cada região – Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2006 133 Gráfico 4.4 Padrão CAIXA dos imóveis CC Caixa por região – Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2006 137 132 Lista de Tabelas Tabela 1.1 Famílias residentes em domicílios particulares por classes de rendimento mensal de todas as fontes da pessoa de referência da família 25 Indicadores de Crédito Imobiliário – evolução do saldo das contas de poupança SBPE 48 SBPE – Financiamentos Imobiliários – Número de unidades e valores contratados 49 Tabela 1.4 SBPE – Operações contratadas com recursos de caderneta 49 Tabela 2.1 Enquadramento CC FGTS – Geral 54 Tabela 2.2 Enquadramento CC FGTS – Regiões Metropolitanas RJ, SP e DF 54 Tabela 2.3 Enquadramento CC FGTS – Operações Especiais 55 Tabela 2.4 Programa CC Caixa – Aquisição de Imóvel Residencial – Caracterização ao longo do tempo 69 Desafio da Caixa para habitação em 2006 – Crédito imobiliário – Execução orçamentária – Exercício 2006 84 Tabela 3.2 Inadimplência CC Caixa – Total país – acima de 60 dias 99 Tabela 3.2 Inadimplência CC Caixa – Total país – acima de 90 dias 99 Tabela 3.3 Imóvel novo e usado – CC Caixa – Total país – Investimentos – quantidade e valor 111 Tabela 3.3 Imóvel novo e usado – CC Caixa – Total país – Custo médio por unidade 111 Tabela 3.4 Linhas de Crédito Habitacional 116 Tabela 3.5 Simulador de Evolução Contrato CC Caixa 117 Tabela 4.1 Contratos CC Caixa – Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2006 128 Tabela 4.2 Contratos CC Caixa por bairro em cada região – Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2006 129 Tabela 4.3 Padrão CAIXA dos imóveis comercializados – perfil dos imóveis 135 Tabela 4.4 Preços de venda de imóveis no Rio de Janeiro 139 Tabela 4.5 A evolução dos contratos CC Caixa no Município do Rio de Janeiro – Investimentos realizados em habitação – quantidade e valor 149 Tabela 4.5 A evolução dos contratos CC Caixa no Município do Rio de Janeiro – Investimentos – custo médio por unidade 149 Tabela 1.2 Tabela 1.3 Tabela 3.1 Tabela 4.6 A evolução dos contratos CC Caixa no Estado do Rio de Janeiro – Investimentos realizados em habitação – quantidade e valor 150 Tabela 4.6 A evolução dos contratos CC Caixa no Estado do Rio de Janeiro – Investimentos – custo médio por unidade 150 Tabela 4.7 A evolução dos contratos CC Caixa no Brasil – Investimentos realizados em habitação – quantidade e valor 151 Tabela 4.7 A evolução dos contratos CC Caixa no Brasil – Investimentos – custo médio por unidade 151 Tabela 4.8 A evolução dos contratos CC FGTS no Brasil – Investimentos realizados em habitação – quantidade e valor 152 Tabela 4.8 A evolução dos contratos CC FGTS no Brasil – Investimentos – custo médio por unidade 152 Lista de Abreviaturas e Siglas ABECIP – Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança ADEMI – Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário BACEN – Banco Central do Brasil BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNH – Banco Nacional da Habitação CAIXA – Caixa Econômica Federal CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil CC CAIXA – Carta de Crédito CAIXA CC FGTS – Carta de Crédito Fundo de Garantia por Tempo de Serviço CCI – Cédula de Crédito Imobiliário CIBRASEC – Companhia Brasileira de Securitização CMN – Conselho Monetário Nacional COHAB – Companhia Estadual de Habitação CRECI – Conselho Regional de Corretores de Imóveis CRI – Certificado de Recebíveis Imobiliários CVM – Comissão de Valores Mobiliários EN – Escritório de Negócios da Caixa FAR – Fundo de Arrendamento Residencial FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador FDS – Fundo de Desenvolvimento Social FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FHA – Federal Housing Administration FHLMC – Federal Home Loan Mortgage Corporation FNMA – Federal National Mortgage Association GECRI – Gerência Nacional de Crédito Imobiliário da CAIXA GEURB – Gerência Nacional de Serviços em Desenvolvimento Urbano da CAIXA IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IGPM – Índice Geral de Preços de Mercado IGP-DI – Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna INCC – Índice Nacional de Custo da Construção ITBI – Imposto sobre Transferência de Bens Imóveis OGU – Orçamento Geral da União PBQP-h – Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat PIB – Produto Interno Bruto PV – Ponto de Venda SAC – Sistema de Amortização Constante SACRE – Sistema de Amortização Crescente SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo SECOVI – Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis SFH – Sistema de Financiamento Habitacional SFI – Sistema de Financiamento Imobiliário SIAPC – Sistema de Avaliação de Pesquisa de Crédito SINDUSCON – Sindicato da Indústria da Construção Civil SIRIC – Sistema de Risco de Crédito da CAIXA SMF-RJ – Secretaria Municipal de Fazenda do Rio de Janeiro SUHAB – Superintendência Nacional de Habitação da CAIXA SUDUP – Superintendência Nacional de Parcerias e Apoio ao Desenvolvimento Urbano SUREP – Superintendência Nacional de Repasses da CAIXA VIURB – Vice-Presidência de Desenvolvimento Urbano e Governo da CAIXA Hipótese A principal hipótese a ser verificada no estudo em questão é a de que o Programa de Financiamento Carta de Crédito Caixa tem uma relevância significativa no mercado de crédito imobiliário voltado para as classes média-alta e alta, com uma certa influência nos outros programas de financiamento semelhantes no mercado. Uma hipótese secundária é a de que o aumento do número de operações de financiamento imobiliário faz crescer a demanda especulativa de imóveis em áreas específicas, nas quais o valor da terra é elevado e onde há liquidez nas operações imobiliárias – como na maior parte das regiões onde são efetuadas as contratações do Programa Carta de Crédito Caixa (cujas transações estão inseridas, em sua maioria, em um contexto de alto valor especulativo). Sumário INTRODUÇÃO 14 1. UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE O FINANCIAMENTO HABITACIONAL NO BRASIL E A DINÂMICA IMOBILIÁRIA NO ÂMBITO DO MERCADO 1.1 A IMPORTÂNCIA DA HABITAÇÃO NO CONTEXTO DO GRUPO FAMILIAR 1.2 O SFH E A EXPERIÊNCIA DO BNH NO FINANCIAMENTO HABITACIONAL NO BRASIL 1.3 O CONSUMO DO ESPAÇO VIA MERCADO IMOBILIÁRIO E O PROCESSO DE VALORIZAÇÃO/DESVALORIZAÇÃO INTRA URBANA 1.4 A LÓGICA DA INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA E OS PADRÕES DE ACUMULAÇÃO CAPITALISTA NAS ESTRUTURAS ESPACIAIS 1.5 A ATUAÇÃO DA CAIXA NO FINANCIAMENTO HABITACIONAL 1.6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O FINANCIAMENTO HABITACIONAL ATUAL 19 20 26 2. O PROGRAMA DE FINANCIAMENTO CARTA DE CRÉDITO CAIXA 2.1 ANTECEDENTES E CRIAÇÃO DO CC CAIXA 2.2 O SFI – SISTEMA FINANCEIRO IMOBILIÁRIO 51 52 56 62 66 2.2.1 A Companhia Brasileira de Securitização 2.3 CARACTERIZAÇÃO DO CC CAIXA 2.4 AQUISIÇÃO DE IMÓVEL RESIDENCIAL OU COMERCIAL NOVO OU USADO - A PRINCIPAL MODALIDADE 2.5 OUTRAS MODALIDADES DO PROGRAMA 2.5.1 Construção em terreno próprio ou aquisição de terreno e construção de imóvel residencial ou comercial 2.5.2 Reforma e ou ampliação de imóvel residencial ou comercial 2.5.3 Aquisição de lote urbanizado residencial ou comercial 2.6 A OPERACIONALIZAÇÃO DO PROGRAMA PELA CAIXA 2.7 A INTERRUPÇÃO TEMPORÁRIA – PROBLEMAS COM A FONTE DE RECURSOS 31 34 39 46 70 73 73 74 76 77 80 3.2 A INFLUÊNCIA DO MERCADO SECUNDÁRIO 3.3 O EFEITO DA DINÂMICA ECONÔMICA SOBRE O PROGRAMA CC CAIXA 3.4 O FINANCIAMENTO DE IMÓVEIS NOVOS E USADOS - EXISTEM DIFERENÇAS? 3.5 UMA COMPARAÇÃO DO CC CAIXA COM OS PROGRAMAS SIMILARES DO MERCADO 3.6 OS FINANCIAMENTOS DIRETOS COM AS INCORPORADORAS - UM PROBLEMA? 82 83 86 93 100 102 108 112 121 4. O CASO DO RIO DE JANEIRO: UMA AVALIAÇÃO DO CC CAIXA NA CAPITAL CARIOCA 4.1 ÁREAS ONDE HÁ UMA MAIOR UTILIZAÇÃO DO CC CAIXA 4.2 AS PREFERÊNCIAS DOS BENEFICIÁRIOS - O PERFIL MÉDIO DOS IMÓVEIS 4.3 O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DOS IMÓVEIS 4.4 A EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE CONTRATOS AO LONGO DOS ANOS 124 125 134 140 144 CONCLUSÃO 153 GLOSSÁRIO 160 REFERÊNCIAS 166 ANEXO 169 3. ASPECTOS RELEVANTES DO CC CAIXA E DO MERCADO IMOBILIÁRIO 3.1 FINANCIAMENTO PARA CLASSES MÉDIA E ALTA – O PÚBLICO ALVO DO CC CAIXA 3.1.1 Análise de crédito dos candidatos a financiamento 3.1.2 O risco de inadimplência e as possibilidades de ocorrência de pré-pagamentos 14 INTRODUÇÃO Em 1940 dois terços da população brasileira vivia em áreas rurais. A partir dessa década, iniciou-se um rápido processo de industrialização e urbanização, acelerados nas décadas de 50 e 60, sem um planejamento das cidades, da infra-estrutura e de um sistema de financiamento habitacional. Esta é uma importante causa do crescimento desordenado das cidades e do surgimento de inúmeras favelas, que aos poucos foram sendo consolidadas. Hoje, o Brasil possui aproximadamente 183 milhões de habitantes, com uma taxa de urbanização de 82%, sendo que 40% da população reside em áreas metropolitanas, que correspondem a 2% do território nacional.1 A urbanização acelerada, aliada à fragilidade dos processos de planejamento e à uma estrutura de distribuição de renda da população bastante desigual, resultou em uma ocupação desordenada das cidades e na fragmentação do tecido urbano e social. Além disso, a legislação urbana freqüentemente impõe regras dissociadas da realidade, com padrões e custos raramente apropriados à população, restando aos pobres soluções individuais, espontâneas, que em grande parte das vezes comprometem o meio ambiente urbano, bem como a qualidade de vida e a segurança desta população. As ocupações espontâneas de áreas da cidade têm origem, por um lado, na existência de grande percentual de população em extrema pobreza, situação que não lhes permite acesso ao mercado formal de moradias – e conseqüentemente ao sistema de financiamento habitacional – e por outro lado, na existência de parcelas de terreno urbano, de propriedade pública ou privada, desocupadas. Embora o mercado imobiliário formal não abranja a totalidade dos imóveis no Brasil (por exemplo, no Rio de Janeiro 33% dos imóveis estão na informalidade2), ele será a nossa referência no presente trabalho. O mercado imobiliário é o mecanismo social de coordenação das decisões individuais de localização e uso do solo urbano, de forma que desta coordenação surge uma cidade cujo solo urbano é (ou deveria ser) utilizado da forma mais eficiente. Cabe a 1 Fonte: IBGE, censo 2000. Fonte: IPP - Instituto Pereira Passos – Secretaria Municipal de Urbanismo – PCRJ, 2000 (considerando-se o nº de domicílios particulares permanentes do IBGE, como o universo de domicílios – formais e informais – do Município e subtraindo-se o cadastro do IPTU residencial desse universo, obtém-se um parâmetro de medida do estoque imobiliário informal). 2 15 esse mercado conciliar a liberdade de ação individual com a eficiência no uso dos recursos da sociedade. Temos assim, a metáfora do mercado imobiliário como sendo a “mão invisível urbana” que promove a cidade eficiente. Nos modelos tradicionais da economia urbana, a estrutura residencial é o produto das decisões autônomas e independentes dos participantes do mercado fundiário e imobiliário. O critério de decisão familiar da localização dos seus domicílios é formulado a partir da escolha (trade off) entre o consumo de “acessibilidade” (proximidade a certas externalidades urbanas) e o consumo de quantidades de solo urbano (ABRAMO, 2002). Os sistemas de financiamento, que são instrumentos de regulação do regime urbano, possuem uma relevância bastante considerável, posto que os mesmos são estratégicos para a estruturação e a consolidação do mercado imobiliário urbano capitalista. Esses sistemas institucionalizam uma lógica de funcionamento do mercado imobiliário na qual a determinação dos preços dos imóveis depende em larga escala das estratégias de atuação dos capitais de promoção e do volume de crédito que alimenta o ciclo de financiamento da produção imobiliária. As opções de financiamento influenciam o tempo de ocupação e a transformação do solo urbano. Pode-se afirmar também que as diferentes formas de financiamento se articulam com as classes ou frações de classes sociais, produzindo um espaço diferenciado e segregado na cidade. O estabelecimento de um mercado ativo de crédito imobiliário em geral – e o de financiamento habitacional em particular – tem sido foco de crescente preocupação dos governos e vem fazendo parte das prioridades de políticas públicas em vários países em desenvolvimento (COSTA, 2004). A explicação para tal preocupação se baseia tanto nos ganhos de bem-estar associados a um mercado de financiamento habitacional eficaz, como nos efeitos multiplicativos que seu desenvolvimento insere em termos de crescimento da renda e do emprego. (COSTA, 2004) 16 No Brasil, a primeira metade da década de 90 foi marcada por uma crise no financiamento no mercado formal de habitações. Os financiamentos públicos para a compra de imóveis residenciais foram praticamente suspensos entre a segunda metade da década de 80 e meados da década de 90, causando uma grande retração na produção de novas moradias para diversas camadas da população (populares, médias e altas). Uma das resultantes do encolhimento do sistema formal de financiamento de imóveis foi uma enorme desintermediação financeira do setor. As construtoras e incorporadoras não tiveram outra escolha senão o oferecimento de financiamentos diretos aos seus compradores, por meio do parcelamento do preço de venda dos imóveis ou modelos de autofinanciamento baseados em consórcios. Tais soluções nasceram tímidas e desacreditadas pelo mercado, mas com o passar do tempo e com a criatividade dos empresários da construção civil, passaram efetivamente a ocupar o espaço deixado pelo sistema financeiro (ABECIP, 2004). A partir de 1995, com a estabilização monetária, reduziu-se o grau de incerteza do mercado, sendo possíveis operações de crédito a prazos mais longos - maior facilidade para as operações de financiamentos imobiliários. Nessa época inicia-se uma reestruturação mais consistente do setor habitacional. Os efeitos da crise econômica sobre a produção imobiliária empresarial reduziram-se em função do controle da inflação, do retorno do financiamento público para os adquirentes de imóveis através da Caixa Econômica Federal, bem como do financiamento pelos bancos privados, que intensificaram seus investimentos no setor imobiliário. Atualmente existem dois sistemas que regem os financiamentos imobiliários no Brasil: o Sistema Financeiro de Habitação – SFH, que foi criado na década de 60 passando por vários ambientes econômicos e sofrendo perdas em conseqüência de políticas mal elaboradas; e o Sistema Financeiro Imobiliário – SFI, que foi criado em 1997 e introduziu a Alienação Fiduciária de Bens Imóveis. O objeto de análise desse trabalho é o Programa Carta de Crédito Caixa – CC Caixa, que é um programa de financiamento formatado pela Caixa Econômica Federal – CAIXA – principal agente de financiamento imobiliário do país – baseado no SFI e destinado às camadas de renda média e alta da população, que teve início em 1994. Devido ao perfil do público-alvo 17 do Programa, as operações de crédito no âmbito do CC Caixa geralmente referem-se a imóveis localizados nas áreas mais privilegiadas das cidades. Vale ressaltar que existe uma hierarquização dos lugares através do preço pago para se ter acesso à determinada localização no “urbano” e que alguns sub-setores do setor imobiliário possuem maior poder de atração do capital imobiliário, principalmente os ligados a empreendimentos residenciais de alto padrão e edifícios comerciais para as classes mais abastadas, cuja caracterização permite o enquadramento nas operações de financiamento do Programa Carta de Crédito Caixa. As formas mais sofisticadas de mobilização do capital financeiro, que garantem os recursos para a produção capitalista no setor imobiliário, somente são acessíveis às camadas da população de maior renda, sendo que as parcelas do mercado imobiliário com ligações mais intensas com o setor financeiro podem apropriar-se das áreas mais valorizadas da cidade, áreas que possuem melhores condições de infra-estrutura e de equipamentos urbanos. A grande dependência da produção habitacional com relação ao financiamento é um fator que incentiva a segmentação do mercado habitacional, com efeitos sobre o urbano. A sofisticação da captação* de recursos é um elemento que amplia o poder dos grandes capitais dos setores que atendem à população de maiores rendimentos, possibilitando sua atuação nas áreas mais valorizadas da cidade, cujo acesso torna-se cada vez mais exclusivo. A idéia central do trabalho é investigar a atuação do Programa de financiamento Carta de Crédito Caixa no mercado imobiliário, verificando como o Programa está inserido no âmbito da produção e comercialização de imóveis e em que sentido essas operações de financiamento influenciam e são influenciadas pela dinâmica do mercado – que nesse caso, devido às características do Programa, é um mercado voltado para as classes média e alta, onde em muitas vezes a convergência de interesses de distintos capitais nutre a especulação imobiliária e contribui para a valorização fundiária. Para tanto, busca-se inicialmente, no Capítulo I, contextualizar o tema por meio de uma breve reflexão sobre o financiamento habitacional no Brasil e a dinâmica imobiliária no âmbito do mercado, onde são abordadas questões acerca do consumo do espaço na cidade e dos padrões 18 de acumulação capitalista. No Capítulo II, é feita uma apresentação do Programa Carta de Crédito Caixa, focando a sua formatação, seus fundamentos, modalidades, fonte de recursos e operacionalização. No Capítulo III faz-se uma análise dos aspectos relevantes do CC Caixa e do mercado imobiliário, onde é tratada a questão do financiamento para as classes de renda mais alta, a influência do sistema econômico sobre o Programa e apresentada uma comparação do CC Caixa com outros programas de financiamento similares, existentes no mercado. Por fim, no Capítulo IV, é apresentado o estudo de caso do Rio de Janeiro, avaliando o Programa CC Caixa na cidade. Sabemos que o momento atual é de reestruturação das formas de financiamento habitacional, pois infelizmente as soluções de mercado hoje atendem apenas a uma pequena parcela da população. No entanto, o objeto desse trabalho está relacionado a essa parcela, que embora seja reduzida quando comparada à totalidade populacional, demanda uma produção específica de espaço, que é significativa na cidade. Cabe ainda dizer que nos últimos anos, um fator que vem contribuindo para o aquecimento do mercado imobiliário nas áreas mais valorizadas da cidade é uma relativa redução de produtos ofertados pelo mercado financeiro em função da estabilização monetária. O mercado imobiliário urbano aparece como uma opção de investimento dos capitais financeiros que passam a oferecer crédito habitacional como um “produto” capaz de concorrer com as outras opções oferecidas pelo mercado (ABECIP, 2002). Informamos que ao longo do texto aparecem algumas palavras e expressões seguidas de asterisco (*), o que indica que existe uma explicação para o termo no glossário, na página 160. 19 1. UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE O FINANCIAMENTO HABITACIONAL NO BRASIL E A DINÂMICA IMOBILIÁRIA NO ÂMBITO DO MERCADO 20 1.1 A IMPORTÂNCIA DA HABITAÇÃO NO CONTEXTO DO GRUPO FAMILIAR A habitação é sem dúvida alguma um importante fator de promoção social, que possibilita condições de melhoria da qualidade de vida das pessoas. Ela é um elemento chave para o pleno exercício da cidadania, considerando-se que quem tem sua habitação tem, entre outras coisas, sua individualidade preservada e maiores possibilidades de exercer um papel digno na sociedade (é muito comum inclusive, utilizar a habitação como um indicador social). O conceito da habitação compreende um conjunto de funções que se expressam na ocupação do espaço - "o habitat", abrangendo diversas dimensões – física, ambiental urbana, econômica e social, fazendo parte integrante da estrutura do meio ambiente urbano. A habitação deve prover o indivíduo das reais condições de habitabilidade, suprindo suas necessidades básicas e possibilitando um grau de acessibilidade suficiente à sua integração no contexto urbano. A habitação representa a expressão sócio-cultural do indivíduo e do grupo em que ele se insere, dentro das condições naturais locais existentes, utilizando situações e materiais possíveis e habitualmente adequados. (MYRON, 1970) Entre outras definições, a habitação também pode ser vista como a “materialização dos direitos humanos”, pois é com uma moradia que o indivíduo tem acesso a abrigo, saneamento, endereço, etc.; ou seja, a habitação é essencial para uma vida digna. Sua adequação se verifica pela situação de habitabilidade e salubridade, condições ambientais apropriadas, espaço suficiente, privacidade, segurança e durabilidade das construções, iluminação e ventilação, abastecimento de água, esgotamento sanitário e disposição de resíduos sólidos, bem como, acessibilidade em relação ao emprego e aos equipamentos urbanos. Assim, a habitação não é só a edificação, mas está estendida pelos espaços urbanos por onde o indivíduo circula e utiliza na vida diária: a rua, os acessos e as vias de circulação, a paisagem, sua relação com bairro e por extensão com a cidade. Além disso, a habitação é uma mercadoria que se difere das demais, pois engloba no seu valor o preço da terra, que não é um bem produzido (não se reproduz), o que a encarece. O valor da habitação varia em função de sua localização, da urbanização e da infra-estrutura disponível no seu entorno, além do acesso aos serviços e bens de consumo coletivo e de aspectos sociais 21 e ideológicos. Para assegurar as condições básicas de vida, como infra-estrutura, saúde, educação, transporte, trabalho e lazer, é fundamental que a moradia esteja inserida no meio ambiente urbano adequado (COSTA, 2004). A necessidade de produzir a "habitação" para usá-la como habitat, faz com que a mesma seja um produto, com valor econômico – uma mercadoria; e com valor social – um bem de uso. Muitas vezes o espaço habitado passa a ser corrompido em seus valores de uso, passando a ser operado apenas como valor de troca. Enquanto operado como valor de troca (mercadoria), o espaço é produzido e apropriado fundamentalmente ao nível da economia, privilegiando-se assim a propriedade privada e a especulação imobiliária. É inquestionável a função econômica da moradia: sua produção oferece novas oportunidades de geração de emprego e renda, mobiliza vários setores da economia e influencia os mercados imobiliários e de bens e serviços. Podemos afirmar também que a habitação é um bem imprescindível cujo custo de aquisição é relevante qualquer que seja o nível de renda do grupo familiar; sendo que, independentemente do estágio de desenvolvimento econômico, cultural e social dos países, na maior parte deles o sistema se divide em quatro grandes programas e/ou público alvo. No Brasil, a Caixa Econômica Federal (órgão público que tem como uma de suas atribuições o desenvolvimento urbano) classifica esses segmentos em: O nível de renda propicia condições de formação de uma poupança capaz de suprir esta necessidade sem ter que recorrer a financiamentos. Detentores de plena capacidade de pagamento, porém, não conseguem, dentro de um prazo aceitável fazer face a esta demanda com poupança doméstica, requerendo que se disponibilize recursos, a preço de mercado, respondendo pelo pleno retorno do capital emprestado, não requerendo subsídios de qualquer ordem. Possuem capacidade de pagamento, no entanto, esta é apenas parcial, não sendo capazes de retornar, na íntegra e a preço de mercado, o capital requerido para aquisição de sua residência própria e, portanto, necessitam que uma parcela dos recursos lhes seja subsidiada. 22 Formado por aqueles que estão “abaixo da linha de financiamento”, ou seja, que não possuem capacidade de pagamento e, por conseguinte, não têm acesso ao crédito por meio de financiamentos convencionais; dependem de subsídios do poder público. A cultura brasileira e, inclusive a nossa Constituição Federal, impõe ao Estado a obrigação de proporcionar condições de moradia digna a seus cidadãos e, portanto, a incapacidade de pagamento não retira das famílias o seu direito à casa própria, gerando, por conseguinte, a obrigação da União Federal de aportar não só recursos onerosos, mas também, subsidiar, total ou parcialmente, aqueles que não apresentam capacidade plena de pagamento. Nesse contexto, os dois primeiros segmentos supra citados não se constituem diretamente, público alvo do poder público, competindo a este direcionar esforços no sentido de atender àqueles que não possuem capacidade de pagamento ou que, a possuem apenas parcialmente. Subsidiar habitações para os estratos sociais com menor poder aquisitivo não é uma exclusividade de países pobres ou em desenvolvimento e, dadas as características peculiares dos bens imóveis que, em decorrência de sua relevância social e de seu valor econômico, sua aquisição exige sacrifícios mesmo para aqueles com melhor nível de renda, a prática da concessão de subsídios é praxe, inclusive, entre os países altamente desenvolvidos. Um dos grandes equívocos no que se refere à concessão de subsídios à habitação é a estruturação de modelos que não apresentam equilíbrio e sustentabilidade e que, na maioria das vezes resultam em concessão de benefícios de forma imensurada e ineficaz à geração presente, impedindo ações planejadas de longo prazo e gerando desequilíbrios a serem pagos por aqueles que não tiveram acesso aos privilégios que ficaram restritos a uma pequena minoria. Na elaboração de políticas públicas voltadas para o provimento e o financiamento de habitações deve-se perseguir alternativas que proporcionem a racionalização das ações, minimizem riscos*, modernizem o mercado, favoreçam a atuação dos diversos agentes econômicos e resultem na melhoria da qualidade das habitações, conjugada com a redução de custos. Neste sentido, deve-se dar tratamento diferenciado aos diferentes, tendo como foco e 23 reconhecendo a existência de segmentos bastante distintos e, por conseguinte, implementando ações diferenciadas: Faixa de renda situada abaixo da linha de financiamento: é o grande desafio a ser vencido, devendo-se ter como meta a expansão do acesso à moradia por meio da utilização de recursos orçamentários, induzindo a participação do poder público e comunidades locais, criando alternativas de financiamento não convencionais e fomentando a cultura da participação efetiva dos próprios beneficiários. Faixa de renda com capacidade parcial de pagamento: mix de funding oneroso com subsídios orçamentários. Faixa de renda com capacidade plena de pagamento: disponibilização de recursos e atendimento pelo próprio mercado, buscando o máximo de desregulamentação. 6,13% 2,56% até 3 sm 8,93% de 3 a 5 sm de 5 a 10 sm mais de 10 sm 82,38% Gráfico 1.1 - Déficit habitacional urbano segundo as faixas de renda familiar em salários mínimos – 2000 Fonte: Fundação João Pinheiro, Déficit Habitacional no Brasil - municípios selecionados e microrregiões geográficas, 2ª edição, abril de 2005 e Déficit Habitacional no Brasil 2000, dezembro de 2001. O nosso foco no presente trabalho refere-se à camada da população que possui capacidade plena de pagamento, pois é esse o público para o qual se destina o Programa Carta de Crédito Caixa – na verdade, a destinação desse programa são pessoas físicas em geral, independente da faixa de renda; porém, para a viabilização dos contratos existem pré-requisitos a serem 24 obedecidos, tais como pesquisa cadastral, análise da capacidade de pagamento, avaliação de risco da operação, etc., para os quais somente as camadas de maior renda obtém aprovação. Apresentamos na Tabela 1.1, como caracterização do cenário brasileiro, a distribuição das famílias no País por classes de rendimento mensal. A partir desses dados podemos concluir que no Brasil, apenas pouco mais de 5% das famílias têm condições de enquadramento no Programa CC Caixa; e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, esse número não chega a 10% (considerando-se que o público-alvo do CC Caixa são famílias com rendimento mensal superior a 10 salários mínimos). Outra evidência apresentada pelos dados que se seguem é que mais de 75% das famílias brasileiras ganham até 5 salários mínimos (dentre os quais quase 80% ganham até 3 salários mínimos). Ou seja, embora o nosso trabalho esteja relacionado à faixa populacional com plena capacidade de pagamento para fins de financiamento habitacional (público CC Caixa), a grande maioria da população brasileira necessita de uma parcela de recursos subsidiada – intervenção do poder público – sem a qual não é possível a aquisição da moradia própria. 25 Tabela 1.1 Famílias residentes em domicílios particulares por classes de rendimento mensal de todas as fontes da pessoa de referência da família Variável Brasil e Região Metropolitana Classes de rendimento mensal de todas as fontes Famílias residentes em domicílios particulares (Unidade) Total 56.039.518 100,00 2.788.512 4,98 Mais de 1/2 a 1 salário mínimo 10.473.203 18,69 Mais de 1 a 2 salários mínimos 14.973.424 26,72 Mais de 2 a 3 salários mínimos 6.919.308 12,35 Mais de 3 a 5 salários mínimos 7.710.539 13,76 Mais de 5 a 10 salários mínimos 5.160.053 9,21 Mais de 10 a 20 salários mínimos 2.309.595 4,12 949.639 1,69 Sem rendimento 3.863.100 6,89 Sem declaração 892.145 1,59 3.962.693 100,00 67.755 1,71 Mais de 1/2 a 1 salário mínimo 430.611 10,87 Mais de 1 a 2 salários mínimos 903.531 22,80 Mais de 2 a 3 salários mínimos 574.542 14,50 Mais de 3 a 5 salários mínimos 667.073 16,83 Mais de 5 a 10 salários mínimos 507.474 12,81 Mais de 10 a 20 salários mínimos 272.965 6,89 97.712 2,47 Sem rendimento 230.603 5,82 Sem declaração 210.427 5,31 Até 1/2 salário mínimo Brasil Mais de 20 salários mínimos Total Até 1/2 salário mínimo RM do Rio de Janeiro Famílias residentes em domicílios particulares (Percentual) Mais de 20 salários mínimos Nota: 1) Até 2003, exclusive a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. 2) A categoria Sem rendimento inclui as pessoas de referência que receberam somente em benefícios. Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, PNAD 2004. 26 1.2 O SFH E A EXPERIÊNCIA DO BNH NO FINANCIAMENTO HABITACIONAL NO BRASIL O Banco Nacional da Habitação – BNH foi criado em 1964 pelo Governo Federal com o objetivo de gerir o Sistema Financeiro da Habitação – SFH, cuja premissa era viabilizar a construção e a aquisição da casa própria. Com a criação do BNH surge a expectativa de estímulo à poupança, maior absorção de mão-de-obra e desenvolvimento da indústria da construção civil. A finalidade do BNH era compatibilizar os objetivos sociais e o desempenho econômico do Banco – através dos programas de habitação popular. Progressivamente o BNH tornou-se um banco de desenvolvimento urbano, e incorporou atividades de saneamento básico, financiamento de materiais de construção, transporte e pesquisa. O BNH era o órgão controlador do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos – SBPE, conjunto instituições captadoras de poupança voluntária, que financiavam investimentos imobiliários prioritariamente destinados às classes média e alta, e gestor do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, responsável por toda a política habitacional do governo federal. Ao BNH foi atribuída a função de formatar as condições gerais dos financiamentos baseados no SFH; podemos citar por exemplo taxa de juros, prazo, garantias* e condições de pagamento (VALPASSOS, 2003). Os recursos para o SFH eram provenientes, principalmente de uma contribuição compulsória de empresários e trabalhadores, o FGTS, instituído em 1967, e de caderneta de poupança, que conformaria o SBPE, responsável pelo financiamento de imóveis para a população de rendimentos médios. O SFH então utilizou poupança compulsória (FGTS) e voluntária (caderneta e letra de câmbio). Também como componentes do SFH foram criadas as sociedades de crédito imobiliário, que subordinadas ao BNH, funcionavam como agentes financeiros do sistema, operando no financiamento para a construção, venda ou aquisição de unidades habitacionais. Nesse contexto, as medidas destinadas a facilitar a compra da casa própria (inclusive a adoção de subsídios) mostraram a necessidade da intervenção do poder público no sentido de viabilizar o acesso ao mercado habitacional, sobretudo para as classes populares. 27 Juntamente com o SFH foi instituída a correção monetária, indexador calculado mensalmente pelo Governo, que permitia o reajuste das prestações de amortização* e juros com a correção do valor monetário da dívida. A correção monetária, além de corrigir o valor da dívida do mutuário, também era aplicada nos depósitos de caderneta de poupança, das letras hipotecárias e do FGTS. Também foram instituídas as COHAB’s (Companhias Estaduais de Habitação que obtinham financiamentos com recursos do FGTS junto ao BNH) que coordenavam os trabalhos das agências que participavam da construção das casas, reduzindo o preço das unidades produzidas (VALPASSOS, 2003). Logo após a adoção do SFH houve uma grande oferta de recursos para o financiamento habitacional, devido às condições favoráveis e atrativas das aplicações (decorrentes da segurança e rentabilidade* dos depósitos em caderneta de poupança e letras imobiliárias) e à lucratividade das sociedades de crédito imobiliário, já que os mutuários pagavam taxas superiores àquelas acordadas com o BNH. Entretanto, com a elevação da inflação, o desequilíbrio gerado pelos critérios de reajuste das prestações e do principal da dívida afetou negativamente o SFH (entre 1969 e 1974 os investimentos em habitação popular tornaram-se escassos e decrescentes, sendo o FGTS utilizado prioritariamente em investimentos em outras atividades – infra-estrutura, mercado financeiro, outros programas habitacionais, etc.). Após anos de financiamentos do SFH crescentes em quantidade, o sistema entrou na fase crítica em 1983. Os recursos tornaram-se insuficientes para a viabilização do desenvolvimento sustentável do setor imobiliário, devido à diminuição constante da renda doméstica (que causou significativa redução dos investimentos econômicos) e à falência dos mecanismos de investimento ao financiamento habitacional. Houve um crescimento quase que constante no número de financiamentos habitacionais pelo SFH desde a sua criação, sendo o ápice em 1980, com 627 mil unidades financiadas. Entretanto, com a brusca elevação da inflação nos anos subseqüentes, reduziu-se significativamente a quantidade de financiamentos, chegando a atingir uma média inferior a 150 mil unidades por ano, no período entre 1983 e 1996 (CBIC, 2002). 28 SFH - Financiamentos Habitacionais Unidades Financiadas Taxa Anual de Inflação 700.000 700% 600.000 600% 500.000 500% 400.000 400% 300.000 300% 200.000 200% 100.000 100% 0% Recursos 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 0 Inflação IPC-FIPE Gráfico 1.2 - SFH - Financiamentos Habitacionais - número de unidades Fonte: CBIC O SFH apresentou desempenho bastante significativo ao longo da existência do BNH, porém, o sistema não foi capaz de atender plenamente à população de baixa renda. Os objetivos sociais e econômicos do BNH não eram coerentes entre si e foram aos poucos perdendo amplitude e importância, devido à sua incompatibilidade com a lógica financeira do Banco, que fazia concessões à “retórica” empresarial para garantir uma certa eficácia no desempenho junto aos setores populares (AZEVEDO, 1996). O BNH não conseguiu atingir satisfatoriamente os setores de baixa renda através dos programas tradicionais (famílias com renda mensal entre um e três salários mínimos). Com a diminuição progressiva do salário mínimo real as prestações ficaram altas e cresceu a inadimplência*, provocando a crise financeira das COHAB’s. A política adotada foi reduzir os investimentos para as famílias de baixa renda e aumentar as aplicações para o mercado médio (classe média e alta). Essa estratégia foi facilitada pelo comportamento do mercado imobiliário, pois com a especulação diminuíram as alternativas habitacionais de segmentos da baixa classe média. A caracterização sócio-econômica dos mutuários do BNH sofreu uma mudança qualitativa e passou a ser formada principalmente por famílias com rendimentos mensais superiores a três 29 salários mínimos. Em virtude dessas mudanças, a inadimplência caiu para índices bem mais baixos, porém no início da década de 80 ela voltou a subir, com as prestações do BNH subindo acima do salário mínimo (na década de 80 o país enfrentou um período de instabilidade macroeconômica, extrema elevação da inflação com dificuldades para planos de longo prazo, tais como SFH e indexação de tarifas). Em meados da década de 80, devido à mobilização da opinião pública e fortes pressões sobre o governo, o BNH ofereceu um abono que favoreceu enormemente os mutuários, porém agravou o déficit do SFH, e conseqüentemente, a crise institucional do Banco. Nessa mesma época tentaram-se vários planos de estabilização monetária, culminando com o Plano Real em 1994 (cuja implantação gerou uma estabilidade monetária e boas perspectivas para o reaquecimento do setor imobiliário). Na área habitacional, os financiamentos voltaram-se cada vez mais aos mutuários ao invés das COHABs e cooperativas (AZEVEDO, 1996). A trajetória do BNH leva a concluir que apesar dos subsídios embutidos nos programas populares, a situação econômica das famílias com renda inferior a três salários é precária e não suporta a contrapartida exigida dos mutuários – no Brasil, e em demais países em desenvolvimento. Dado o problema habitacional da população pobre, a solução que apareceu foi a autoconstrução, que caracteriza-se em sua maioria por um longo período de tempo e por uma qualidade nem sempre satisfatória (o BNH iniciou ainda, a partir de 1975 vários projetos alternativos em autoconstrução e destinados aos segmentos mais carentes, porém, estes tiveram um baixo desempenho). De acordo com dados do censo (IBGE), das quase 4,5 milhões de unidades habitacionais financiadas pelo BNH nos seus 22 anos de existência, somente 33,5% foram formalmente destinadas aos setores populares. Dado que o valor médio dos financiamentos de interesse social era inferior ao valor médio dos financiamentos para as classes de renda mais elevada, conclui-se que uma parcela ainda menor do valor dos financiamentos foi direcionada para a habitação de interesse social. O BNH foi, sobretudo até início dos anos 80, uma das entidades mais poderosas dos sistemas político – administrativo e econômico do Brasil, pela diversidade e magnitude dos interesses afetados por sua atuação, que incluía entre outro, as dezenas de milhões de depositantes do FGTS e das cadernetas de poupança, os milhões de mutuários do sistema, os governos 30 estaduais e municipais, também devedores do sistema, as empresas de construção civil, os incorporadores imobiliários, empresas públicas de saneamento e outras entidades do Sistema Financeiro da Habitação. Dessa forma, o BNH ficou como uma espécie de "símbolo" do regime político que o criou e cuja deterioração, em termos políticos e econômicos, esteve claramente associada ao agravamento dos problemas que passou a enfrentar nos anos 80, com a perda do controle da inflação, a contenção dos salários, a redução do crescimento econômico, o aumento do desemprego e a crise financeira do poder público. O que podemos observar é que a criação do SFH e do BNH não conseguiu atender plenamente às necessidades habitacionais das camadas mais pobres da população, posto que grande parte do financiamento de moradias destinou-se aos estratos de rendimento médio e alto da população. O BNH, porém, produziu mudanças radicais no sistema financeiro público e privado, bem como propiciou a modernização e concentração das empresas do ramo de construção civil. Com a instalação da Nova República, era um consenso a crise do SFH e a necessidade de reestruturação do mesmo. O Governo então decretou a extinção do BNH em 1986 (quando estava longe de se alcançar consenso sobre pontos básicos da reforma do SFH), e a incorporação das atividades do Banco à CAIXA, sem porém estabelecer uma proposta clara de atuação para o setor habitacional e nenhuma solução para os problemas existentes até então. (AZEVEDO, 1996) 31 1.3 O CONSUMO DO ESPAÇO VIA MERCADO IMOBILIÁRIO E O PROCESSO DE VALORIZAÇÃO/DESVALORIZAÇÃO INTRA-URBANA O acesso ao espaço urbano é visto como a porta de entrada para a moradia definitiva. Para o entendimento dos mecanismos que viabilizam o acesso à “terra urbana” e o consumo do espaço é interessante conhecer o processo das operações de financiamento e a forma de funcionamento do mercado fundiário-imobiliário dentro de um tempo e espaço delimitados. O mercado imobiliário, juntamente com a política urbana, é um importante mecanismo de produção e regulação do processo de estruturação urbana e do espaço metropolitano. Este mercado, ao longo do regime urbano-concorrencial, pode ser caracterizado como componente de uma forte concentração fundiária urbana. (ABRAMO, 2001). Os valores do mercado imobiliário são afetados pelo crescimento da população, pela expansão da renda e pelo movimento geral dos preços. Uma importante característica do mercado imobiliário é que as construções consomem tempo para serem completadas, o que ocasiona um desconto no fluxo de caixa proveniente da receita da venda das unidades. Logo, o montante de tempo gasto com cada projeto afeta as decisões a serem tomadas. A literatura sobre o tema da dinâmica imobiliária vem revelando empiricamente a preferência dos capitais imobiliários pela produção de imóveis para as famílias de maior renda (demanda solvável), atraindo-as para áreas onde seu lucro é garantido pela transformação de seu uso. Por outro lado, o estoque residencial proporcionado pelo deslocamento dessas famílias, é utilizado pelas famílias de renda inferior. A procura dos indivíduos/famílias é controlada pela avaliação do “estoque” habitacional, e pela informação e percepção sobre este estoque. Pode-se dizer que o sistema de financiamento para as classes média e alta fundamenta-se na tendência de valorização futura do imóvel. Esse ciclo é alimentado pelo sistema de poupança e crédito habitacional. O capital imobiliário através da lógica de mercado envolve a valorização de certas áreas da cidade no intuito de atrair um segmento da demanda que se dispõe a comprometer um montante mais significativo de recursos na aquisição da moradia. Certamente, essa 32 valorização fundiária-imobiliária tem como suporte um sistema de financiamento que viabilize o acesso do mesmo público a residências de valores cada vez maiores. Para realizar seus ganhos fundiários, o capital imobiliário utiliza estratégias de ação, tais como a atuação de forma concentrada, delimitando áreas de valorização, e a inovação do produto-habitação. Essa inovação altera o padrão de ocupação de toda uma área, valorizandoa em relação às outras áreas da cidade. Essas estratégias se traduzem em externalidades, que são incorporadas ao valor dos imóveis, definindo assim, acesso diferenciado das famílias com diferentes rendimentos (PENALVA SANTOS, 1997). A estratégia de inovação para atrair demanda, se traduz na oferta do imóvel com todos os seus atributos intrínsecos (características físicas) e extrínsecos (acessibilidades que a localização permite usufruir). Esses atributos representam os valores de uso do imóvel, por sua condição essencial de abrigo do homem, como também representam um ativo da economia familiar, e sua aquisição levará em consideração a sua valorização futura na estrutura de preços imobiliários na cidade. Projetos inovadores e plenos de características inovadoras representam diferencial competitivo no mercado (tais como heliporto, áreas verdes, transporte particular de ônibus, etc.). Essa estratégia de inovação contribui para diferenciar o novo imóvel do estoque existente, e com isso produzir um efeito “depreciador” no estoque antigo, que perde parte da atratividade anterior, elevando a importância das novas construções. A estrutura imobiliária é fruto da dinâmica de valorização/desvalorização intra-urbana, empreendida pelos investimentos imobiliários, que regulam o mercado e modificam o estoque de imóveis e a estrutura de preços. Desse modo, as estratégias locacionais do capital imobiliário incidem em mudanças nas características das áreas da cidade, produzindo efeitos atrativos e repulsivos, deslocando a demanda. Neste sentido, grande parte das cidades no Brasil se estruturam segundo um padrão de urbanização e de segregação espacial marcado por diferenças nas formas de ocupação e produção do espaço. Nas áreas mais valorizadas das cidades, que muitas vezes são marcadas pela escassez do solo urbano, encontram-se prioritariamente as classes média e alta, sendo que boa parcela dessa população utiliza-se de operações de financiamento para a aquisição de imóveis do estoque já existente ou de novas produções. 33 A dinâmica imobiliária tem um importante papel na estruturação do espaço, via investimentos capazes de deslocar a demanda e influenciá-la em suas decisões. Essa decisão tem duas motivações básicas: acesso aos serviços de habitação, e posse de um ativo que no futuro poderá se valorizar, e viabilizar a mudança de residência da família. A menor ou maior importância dessas motivações depende do tipo de família (renda) e de sua condição de ocupação no imóvel anterior/atual (SMOLKA, 1994). Existe uma forte relação entre a dinâmica imobiliária e a mobilidade residencial, onde as áreas com maiores taxas de transação de compra e venda de imóveis na cidade, são as que estão sendo objeto de investimentos do capital imobiliário, ou seja, estão em processo de valorização – com possível transformação de sua estrutura urbana, por meio por exemplo, da produção de novos imóveis (SMOLKA, 1994). De acordo com a permanência ou o aumento da escassez relativa do solo urbano em áreas mais valorizadas das cidades, a valorização dos imóveis nelas localizados tende a crescer. O que pode se dizer é que existe uma coalizão de interesses por parte dos incorporadores imobiliários, grandes construtores e proprietários de terra para que esse modelo de organização sócio-espacial se mantenha, o que já vem acontecendo, devido ao poder desses segmentos. Tal fato relaciona-se à lógica de mercado que permeia os agentes de financiamento, em um contexto de economia de mercado em que a propriedade de terra atua como fator limitante à aquisição da moradia em locais de melhores condições de infra-estrutura e serviços urbanos. Pode-se observar que os agentes envolvidos na apropriação de renda da terra, tais como incorporadores imobiliários, construtores, proprietários, detém um poder que controla a dinâmica da produção e comercialização imobiliária e promove o agravamento da situação de segregação, já tão em evidência na maioria das cidades brasileiras – esses elementos contribuem para a produção de um espaço na cidades marcado pela fragmentação e hierarquização, bem como pela segregação sócio-espacial daí decorrente. 34 1.4 A LÓGICA DA INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA E OS PADRÕES DE ACUMULAÇÃO CAPITALISTA NAS ESTRUTURAS ESPACIAIS A estrutura urbana representa a segregação existente na cidade bem como demonstra a constante disputa pelos recursos urbanos. Podemos considerar que a localização é uma das características mais relevantes da terra urbana enquanto produto, tendo ela uma influência direta no processo de distribuição de poder entre as classes sociais. A obtenção de lucros pelos incorporadores devido à localização dos imóveis é baseada na renda da terra – venda da relativa escassez do solo urbano. A escassez da terra em razão de sua localização, considerados os usos que podem ser feitos dela, é um dos fatores determinantes do valor que ela pode alcançar e das rendas que ela pode gerar (ABRAMO, 2002). O preço que a terra, como mercadoria, pode alcançar no mercado varia em razão da qualidade do solo urbano enquanto suporte físico para a produção da habitação – onde se processa a reprodução do capital. A vizinhança, os serviços e equipamentos urbanos disponíveis, aspectos que não podem ser reproduzidos, caracterizam o espaço urbano onde as rendas produzidas são absolutas e de monopólio, e resultam na produção da segregação social no espaço. A acumulação capitalista nas estruturas espaciais, em termos urbanos, tem origem na valorização do capital imobiliário - na monopolização do acesso a uma condição indispensável às atividades a serem desenvolvidas. Quanto maior for a desigualdade no desenvolvimento dos espaços referente à distribuição de equipamentos, bens e serviços, maior a frequência da incorporação imobiliária na dinâmica de organização da cidade (SMOLKA, 1994). O valor da propriedade imobiliária na economia pode ser definido como a renda que ela proporciona, capitalizada a determinada taxa de juros. O uso do solo urbano na economia capitalista e o seu regulamento pelo mecanismo de mercado, no qual o preço desta mercadoria se forma pela sua acessibilidade à utilização do espaço, acabam por determinar os preços do mercado imobiliário pelo qual a demanda estiver disposta a pagar. Cabe ressaltar aqui a importância da acumulação patrimonial das famílias adquirentes de imóveis (em muitos casos 35 requerentes ao crédito imobiliário), pois esse fator também é determinante na formação dos preços do mercado imobiliário. Um dos principais elementos que interage na produção do espaço construído é o Estado, que além de representar o local para articulações dos interesses de classe, age através de políticas públicas. Já do ponto de vista das relações econômicas, não se pode negar que a produção do espaço construído está associada aos processos de acumulação e suas crises. O Estado articula os conflitos entre as classes e setores interessados na ocupação do solo urbano. Ele provê na medida de seus interesses (e no das classes detentoras do poder acumuladoras de capital), os equipamentos urbanos direcionando as políticas públicas (BOTELHO, 2005). O regime de acumulação capitalista, ao determinar a formatação do espaço construído, segmenta a cidade produzindo áreas diversificadas, umas mais aprazíveis e outras nem tanto. Assim, para uma melhor compreensão da dinâmica das mudanças espaciais faz-se necessário um contínuo acompanhamento das mudanças nos quadros político e social. Podemos observar que os problemas urbanos resultam das contradições entre os interesses das classes alta e média e das camadas populares que sofrem com a organização social e espacial imposta pelo capital. Observa-se, pois, que, do ponto de vista da distribuição e do consumo, a localização é imprescindível para entender-se os efeitos da distribuição dos equipamentos urbanos (de sua exteriorização) em um sistema urbano. Podemos analisar a gestão das estruturas espaciais urbanas (espaço urbano construído) sob os aspectos dos interesses neles envolvidos e do regime de acumulação. Quanto ao regime de acumulação, o que na verdade interfere no espaço construído é a sua dinâmica, ou melhor, a forma de se articular os interesses dos capitais e do Estado. Os diversos interesses de distintos capitais, do Estado e de classes sociais por regiões específicas do território promove de forma crescente a especulação imobiliária e a maior valorização da terra. Em relação à transação imobiliária, são elementos influentes na valorização dos terrenos, a singularidade de cada um, pelas suas características estruturais, e 36 as possibilidades de majoração de seu valor em função do desenvolvimento da malha urbana (fatores subjetivos). Observa-se entretanto, que o papel do Estado é um dos mais importantes no que diz respeito à ordenação espacial urbana, a partir do sistema capitalista, e ainda, nos reflexos na formação social. Um dos sistemas mais desenvolvidos de produção da habitação é o denominado "Promoção Imobiliária" (ou seja, da atividade imobiliária enquanto parte do processo da aquisição da habitação) que possui duas características básicas, quais sejam: a visão da habitação como mercadoria e a figuração do incorporador imobiliário paralela à figura do proprietário da terra (considerando o fato de que para o desenvolvimento das atividades econômicas é necessária uma base espacial e que tal recurso é escasso, uma vez que não se reproduz; e é necessário que a cada operação imobiliária seja pago, pelo incorporador, um valor ao proprietário pelo uso da terra). Esse sistema não é, porém, generalizado em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil, pois ele focaliza, principalmente, os setores da população que têm renda mais alta, logo, inviabiliza o acesso à habitação pela maioria da população. A produção de novos empreendimentos para a comercialização no mercado imobiliário é feita sob o comando do capital de incorporação – compra do terreno e execução da obra. Cabe ao incorporador (de forma direta ou indireta) a obtenção do financiamento e a organização dos processos construtivos e comercial; ou seja, ele torna-se um dos mais importantes agentes da estruturação do espaço na cidade, à medida que participa ativamente das determinações quanto ao uso do solo urbano. No sistema de promoção imobiliária, é o incorporador imobiliário que se responsabiliza pela articulação da ação dos demais atores. O incorporador viabiliza a construção de imóveis, assumindo para si as funções de compra do imóvel-base (terreno) com a atividade de construção, repassando as atividades de divulgação e venda das unidades. Nessa operação deve o incorporador tirar seu lucro, ressarcidos os gastos de construção e planejamento, o que representa a valorização do capital. Sendo assim, o capital de incorporação, ao desempenhar seus papéis de liberar o terreno e financiar as empresas construtoras, viabiliza uma maior circulação do capital comercial. (COSTA, 2004) Quanto ao preço da incorporação, esse engloba o preço da terra, a ser pago ao proprietário urbano, e o lucro a ser obtido pelo incorporador. O preço da terra não pode ser excessivo, pois inviabilizaria o lucro na promoção imobiliária. O preço deve ater-se à demanda capitalista do 37 solo (preço oferecido pela incorporação imobiliária). Quando, porém, o incorporador não dispõe da verba necessária à construção, deve recorrer às agências de financiamento ou ao capital dos futuros compradores (entrada), calculando-se e adicionando-se ao preço os lucros a serem ganhos. O ciclo capitalista de promoção e incorporação imobiliária tem a sua consolidação nos sistemas de poupança e empréstimo. Os sistemas de poupança e empréstimo habitacional sempre estiveram voltados principalmente para as camadas de renda média e superior da população urbana, o que promove a consolidação de uma lógica de valorização fundiária – forma segmentada da oferta de imóveis. Essa estratégia de valorização de certas áreas da cidade visa a atrair um segmento da demanda que possui disponibilidade de comprometimento de uma parcela maior de recursos na aquisição do imóvel residencial. Cabe dizer que no crédito imobiliário as garantias prioritárias são a Alienação Fiduciária de Bens Imóveis (transferência ao credor do domínio e posse de um bem, em garantia de pagamento por uma obrigação que lhe é devida) e o Patrimônio de Afetação* (mecanismo legal pelo qual se materializa a segregação patrimonial de uma incorporação imobiliária dos demais ativos do incorporador, com o objetivo de proteger as partes envolvidas, tais como incorporador, construtora, promitentes compradores, financiador e investidor) nas incorporações imobiliárias*. O alto padrão é o preferido das construtoras e incorporadoras brasileiras, segmento que já a alguns anos lidera o mercado imobiliário no país e está no topo da lista dos lançamentos. O foco ocorre a despeito da maior oferta de recursos para o financiamento de imóveis residenciais para as classes de renda média e da melhoria das condições para contratação de crédito - que impulsionariam principalmente os negócios na classe média (BOTELHO, 2005). A estratégia se justifica pela rentabilidade maior no alto padrão, já que a venda desse tipo de imóvel traz preços mais elevados. Pelos indicadores do mercado pode-se prever que não haverá ainda uma forte retomada dos negócios nas classes de menor renda no médio prazo. Observa-se que já na época de atuação do BNH (1967/1986) havia uma tendência a priorizar o financiamento para as camadas sociais de renda mais elevada, que apresentavam-se como demanda efetiva, configurando-se como preferências dos setores empresariais ligados à 38 questão imobiliária – o que já pode ser considerado como um fator de segregação. De acordo com a chamada “visão do mercado”, a segregação é a expressão da distribuição espacial das classes – seja com base em critérios de renda, ocupação, etc., pelo mercado imobiliário e fundiário e onde os mecanismos institucionais aparecem subordinados à própria lógica do mercado. Pode-se dizer que no momento atual a capacidade governamental de implementação de políticas públicas corretivas, preventivas e distributivas é reduzida e os mecanismos de correção do mercado se mostram incapazes de solucionar os danos sociais e distribuir a renda. Observa-se claramente, que a estrutura espacial urbana, em termos de infra-estrutura, serviços e equipamentos coletivos, rege-se em consonância com as relações decorrentes do sistema de acumulação de capitais, acompanhando e refletindo suas crises. O investimento que o Estado injeta no tecido urbano é fator de intensa valorização diferencial da terra, o que gera grande especulação imobiliária e produz um espaço social desigual e segregador (RIBEIRO e LAGO, 2002). Nos municípios brasileiros, a maior parcela dos investimentos públicos são dirigidos às áreas destinadas aos grupos de renda média e alta, o que gera grande parte das condições gerais necessárias para os padrões de acumulação capitalista se reproduzirem em escala ampliada. A produção das estruturas espaciais gera portanto, zonas que, devido ao preço da terra só podem ser destinadas às camadas de maior poder aquisitivo. 39 1.5 A ATUAÇÃO DA CAIXA NO FINANCIAMENTO HABITACIONAL Com a extinção do Banco Nacional da Habitação – BNH em 1986 a Caixa Econômica Federal – Caixa incorporou as funções do Banco e assumiu o papel de principal agente de financiamento habitacional no Brasil. Desde então, a Caixa tem como um de seus objetivos principais promover a melhoria contínua da qualidade de vida da sociedade, intermediando recursos e negócios financeiros de qualquer natureza, atuando, prioritariamente, no fomento ao desenvolvimento urbano e nos segmentos de habitação, saneamento e infra-estrutura, e na administração de fundos, programas e serviços de caráter social. A Caixa é uma instituição do Governo Federal, subordinada ao Ministério da Fazenda, que possui essencialmente três macro segmentos de atuação, sendo eles: Banco Comercial, Transferência de Benefícios e Desenvolvimento Urbano. o az Pr o ng Lo os ci de gó to Ne en de am s on de ci la da ni Re tu or Op Banco Comercial (Depósitos, Crédito, Tesouraria e Serviços) Figura 1.1 - Segmentos de atuação da CAIXA Fonte: VIURB/CAIXA Transferência de Benefícios (Benefícios Sociais e Loterias) aE xt en Op sa or tu Ba ni se da de de sd Cl ien eN te eg s óc io s Implementação Política Habitacional o (Habitação, Saneamento e Infra-estrutura) Financiamento de Longo Prazo Ac es s Desenvolvimento Urbano 40 A Caixa é o principal agente do Governo Federal na implementação da política urbana. Financia, repassa recursos orçamentários federais e presta assistência técnica nos seguintes setores: Habitação Saneamento ambiental Infra-estrutura urbana Gestão municipal Transportes Regularização fundiária Em 2005, o orçamento da Caixa para desenvolvimento urbano foi de R$ 15 bilhões, abrangendo as seguintes fontes de recursos: FGTS, FAR, FDS, OGU, FAT, CAIXA, BNDES. A questão central, e a principal meta da área de Desenvolvimento Urbano da Caixa, é tornar a moradia acessível para os segmentos populacionais de baixa renda, através de programas de financiamento habitacional de interesse social, embora isso não seja uma questão fácil. Segundo a Vice-Presidência de Desenvolvimento Urbano e Governo (VIURB), os principais objetivos da área de Desenvolvimento Urbano da Caixa são: consolidar a Caixa como agente de mudança das questões sociais, urbanas e ambientais assegurar a universalização do acesso à moradia atuar como principal agente na implementação das políticas de universalização dos serviços de saneamento ambiental e de infra-estrutura integrar, no âmbito da Caixa, as ações e políticas de Governo participar do processo de desenvolvimento científico e tecnológico apoiar a implementação de ações sociais do Governo, em especial no que concerne ao meio ambiente, saúde e gestão pública articular parcerias e interagir de com vários atores na elaboração e regulamentação de ações relacionadas ao desenvolvimento social, ambiental e econômico disponibilizar informações para facilitar a interação com os segmentos da sociedade 41 utilizar a expertise da Caixa no saneamento ambiental, habitação, infraestrutura e gestão urbana, com vistas à prestação de serviços, assistência técnica e gerenciamento de programas crescimento desordenado das cidades fragilidade técnica, institucional e financeira dos governos muninicipais instrumentos inadequados de gestão e planejamento urbano e territorial investimentos urbanos escassos ocupação desordenada das cidades segregação sócio-espacial carência de infra-estrutura degradação dos ambientes naturais Figura 1.2 - Desenvolvimento urbano – diagnóstico Brasil Fonte: VIURB/CAIXA Dentro da visão de que os municípios devem ser os principais agentes de implementação da política habitacional, a Caixa busca trabalhar no sentido de que a aplicação de recursos de caráter social deve guardar sintonia com o perfil do déficit habitacional, e vem desenvolvendo parcerias com as Prefeituras Municipais e os Estados, de forma a permitir a estruturação de operações que viabilizem a concessão de financiamentos por meio de modelos não convencionais e assim, viabilizar o atendimento às famílias que se encontram abaixo da linha de financiamento, as quais correspondem a aproximadamente 84% do déficit habitacional. 3 O ideal é que a Caixa conseguisse, principalmente por meio dessas parcerias, neutralizar o risco de crédito e assim, atender a um segmento do estrato social que, quando submetido às avaliações de risco de crédito convencional, apresentam elevado nível de rejeição. 3 Fonte: IBGE, censo 2000. 42 Outro fator de relevância é que se deve trabalhar no sentido de reduzir o custo operacional, requerendo portanto, menor volume de subsídios, e também criando condições para que os Estados e Municípios se utilizem da estrutura logística e operacional da Caixa para implementarem suas políticas habitacionais voltadas para os segmentos de baixa renda. A Caixa atua enquanto agente financiador em dois momentos, quais sejam: quando da construção dos imóveis e quando da comercialização dos mesmos. O agente proponente (incorporador imobiliário, construtor, etc.) recorre, no primeiro momento, à Caixa para complementar seu capital, através de empréstimos, ressarcindo-a com os recursos provenientes da venda dos imóveis. Em um segundo momento, devido aos altos preços alcançados pelos imóveis e sua desconexão com os salários vigentes no mercado, faz-se necessário capital circulante que viabilize a compra do imóvel parcelada em vários meses. Atualmente, a CAIXA trabalha com programas de financiamento habitacional para diferentes faixas de renda, em diferentes modalidades, através de fontes de recursos diversas – FGTS, FAT, FDS, OGU, recursos próprios da CAIXA, etc. Podemos citar principalmente: Aquisição de material de construção (para construção ou reforma) Aquisição de Imóvel novo ou usado Financiamento de imóvel na planta Arrendamento Residencial Poupança de crédito imobiliário Apoio à produção de habitações Crédito Solidário Revitalização de áreas centrais Subsídio à Habitação de Interesse Social O principal elemento de definição para o tipo de financiamento a ser concedido para cada beneficiário é a renda mensal. Para recursos subsidiados, como os provenientes do Orçamento Geral da União – OGU, ou FGTS, por exemplo, existe um limite de renda estabelecido. 43 O leque de produtos habitacionais oferecidos pela CAIXA é realmente diversificado, porém, o número de financiamentos concedidos está aquém do desejado. Unidades Contratadas (mil) 627 488 541 465 383 338 280 231 274268 362 334 167 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 65 54 61 59 1990 1989 1988 100 1987 1985 1984 1983 1982 1981 1979 1980 1978 1977 1976 77 86 78 107 1986 96 1975 391 369 339 330 244 142 1974 446 439 397 Gráfico 1.3 - Financiamentos Caixa – Unidades contratadas até 2005 (Imóveis novos e usados) Fonte: VIURB/CAIXA Para que os financiamentos sejam concedidos a contento, é preciso ter a ponta principal, que é o beneficiário (comprador), e que espera crédito com condições atraentes, ou seja: juros mais baixos, prazo maior, percentual de entrada menor. A utilização de recursos do orçamento de 2005 da CAIXA para habitação no 1º semestre de 2005 também foi menor do que o esperado (para um ano em que se anunciava um boom imobiliário). A promessa de um novo ciclo para esse ano teve dois principais fundamentos: as novas regras do Conselho Monetário Nacional – CMN, que obrigariam os bancos a até quadruplicarem o crédito em imóveis, e a Lei 10.9314, promulgada em 2004, que deu mais segurança jurídica às 4 A Lei Nº 10.931, de 02 de agosto de 2004 dispõe sobre o Patrimônio de Afetação de Incorporações Imobiliárias, Letra de Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Bancário e dá outras providências. Esta Lei institui o regime especial de tributação aplicável às incorporações imobiliárias, em caráter opcional e irretratável enquanto perdurarem direitos de crédito ou obrigações do incorporador junto aos adquirentes dos imóveis que compõem a incorporação. 44 empresas do setor e aos mutuários. Mesmo assim, os bancos – inclusive a Caixa – emprestaram menos do que era inicialmente previsto e, ao contrário do que se imaginava, quase não houve ampliação das facilidades para os financiamentos para a casa própria (ABECIP, 2005). De janeiro a junho de 2005 foram emprestados em operações de financiamento habitacional em todo o Brasil pela Caixa somente R$ 2,9 bilhões, do total de R$ 10,3 bilhões disponíveis para moradia. Ou seja, apenas 28,5%. Devido a isso, em julho a Caixa anunciou algumas medidas, como por exemplo a redução das exigências para comprovação de renda na tomada do crédito, para tentar reverter essa situação (CAIXA, 2005). Até o final de dezembro, o valor total gasto pela Caixa no ano de 2005 para financiar habitações foi R$ 7,6 bilhões. Outro ponto importante a ser considerado no âmbito dos financiamentos concedidos pela Caixa é a questão da inadimplência dos mutuários, que abrange uma parcela significativa dos tomadores. Podemos acreditar que atualmente está ausente no processo das operações de financiamento habitacional um foco direcionado ao combate à inadimplência. Uma maior mediação para resolver problemas e criar canais eficazes de relacionamento poderia melhorar significativamente a “satisfação do cliente” gerando, em decorrência, uma maior adimplência. No âmbito do Plano Geral de Negócios da Caixa para 2005, a Habitação foi definida como uma das metas prioritárias para a Rede de Distribuição de Produtos, com destaque para as linhas de financiamento voltadas à produção habitacional. Em nível operacional, foram implementadas medidas necessárias ao pleno funcionamento dos mecanismos introduzidos por intermédio da Resolução do Conselho Curador do FGTS – CCFGTS 460/04, que tem como objetivo a concessão de subsídio a pessoas físicas nos financiamentos de habitação popular destinado a complementação da capacidade de pagamento (para famílias/proponentes pessoas físicas com renda bruta mensal até R$ 1,5 mil). A estratégia de atuação consiste em operações estruturadas e realizadas em parceria com Estados e municípios e suas entidades da administração indireta. Cabe citar que a Caixa é a principal instituição financeira governamental responsável pelo atendimento às famílias de baixa renda – em particular àquelas situadas na faixa de até três salários mínimos. 45 Entretanto, é importante ressaltar que existe uma contradição a ser administrada, pois a Caixa, que embora seja uma instituição financeira de vocação social, possui objetivos de um banco comercial, como equilíbrio financeiro, retorno do capital aplicado, etc. Sendo assim, não é sempre fácil dinamizar programas alternativos de financiamento para os setores de renda mais baixa, que exigem elevado grau de subsídios, envolvimento institucional, desenvolvimento de pesquisas, entre outros fatores. Vale dizer ainda que a Caixa vem recentemente perdendo participação na concessão de crédito imobiliário no país. Historicamente, a instituição era responsável por 90% de todo financiamento habitacional concedido no país. Entretanto, essa situação começa a dar sinais de mudança. Em 2004, a Caixa contratou R$ 6 bilhões em operações de crédito imobiliário. O setor privado, por sua vez, liberou outros R$ 3 bilhões para o financiamento habitacional. Com isso, a participação da Caixa na concessão de crédito imobiliário recuou de 90 para 66%. Ainda assim, a Caixa se mantém no posto de maior operadora de crédito imobiliário do país (ABECIP, 2005). Cabe enfatizar que a Caixa é a maior Instituição Financeira em volume de depósitos à vista, empréstimos e financiamentos – a maior com foco no segmento imobiliário. É também a segunda maior Instituição Financeira do Brasil em ativos. 46 1.6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE FINANCIAMENTO HABITACIONAL ATUAL Após o Plano Real ocorreu uma elevação significativa no número de unidades residenciais lançadas, principalmente nas regiões metropolitanas, e com ela cresceu também o número de concessões de financiamentos imobiliários, sendo evidente a incompatibilidade de qualquer mecanismo de financiamento de longo prazo com o risco de inflação elevada (a atividade de financiamento promove uma ligação entre o setor imobiliário e o ambiente macroeconômico). Com a estabilidade da economia, ficou mais fácil comprar um imóvel através de financiamento, tanto pela capacidade de planejamento do orçamento doméstico, quanto pela maior oferta de crédito por parte das instituições financeiras. Nos últimos anos os financiamentos imobiliários com recursos da caderneta de poupança e do FGTS têm registrado crescimento, embora o crédito à habitação ainda corresponda a uma pequena fração do Produto Interno Bruto – PIB – cerca de 1,5 %. (BANCO CENTRAL, 2005) O Brasil dispõe atualmente de duas estruturas formais de financiamento habitacional: o Sistema Financeiro Habitacional – SFH, com características rígidas em termos de taxas, opções contratuais e limites de financiamento; e o Sistema Financeiro Imobiliário – SFI, criado a partir do esgotamento do SFH, com características menos rígidas, e amparado na figura legal da Alienação Fiduciária de Bens Imóveis. Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança – ABECIP, a disposição dos bancos é a de ampliar as linhas de crédito imobiliário, sobretudo aquelas destinadas à construção de imóveis novos (que segundo a ABECIP já registrou uma alta de 93% em 2005). Entretanto, o sistema de financiamento depende da poupança, que nos últimos anos perdeu captação de recursos para outras modalidades de investimento. Ainda de acordo com a ABECIP um outro problema para a expansão do crédito no país é a capacidade de endividamento das famílias, pois a questão da renda está diretamente ligada ao aumento da demanda por crédito (o déficit habitacional está concentrado na faixa de renda familiar de até 5 salários mínimos e essas pessoas estão fora do mercado financeiro). 47 Um fator que contribuiu para o aumento dos financiamentos vinculados à poupança foi a fixação de metas de expansão do crédito definidas pelo Conselho Monetário Nacional – CMN, em troca de não penalizar os bancos que não cumprissem o limite obrigatório de emprestar 65% dos depósitos de poupança à habitação. As metas, acertadas entre os bancos e o setor imobiliário, definiram que no segundo semestre de 2005 os financiamentos teriam que subir 50% em relação ao mesmo período de 2004. Se os bancos não alcançassem o limite, o dinheiro seria então recolhido ao Banco Central com remuneração de somente 80% da variação da TR (2% ao ano), ou seja, menos do que a poupança paga ao correntista (TR mais 6% ao ano). Observa-se que os bancos/agentes de financiamento têm demonstrado empenho em ampliar a concessão de crédito imobiliário para a classe média. Segundo o jornal Folha de São Paulo: Para disputar a clientela da classe média, segmento pouco explorado até pouco tempo atrás, o setor está se valendo de várias estratégias, como a redução do custo do financiamento habitacional e a criação de agências com funcionários especializados no assunto. (FOLHA DE SÃO PAULO, 24 agosto de 2005) O aumento do financiamento habitacional também é reflexo da combinação da regulamentação de instrumentos que trouxeram mais segurança para as operações de crédito imobiliário - como a Alienação Fiduciária de Bens Imóveis e o Patrimônio de Afetação, que aprimoraram o sistema de garantias nas operações de crédito imobiliário - com resoluções do CMN, que passaram a incentivar a ampliação da contratação de crédito para a habitação. Antes da implementação da Alienação Fiduciária de Bens Imóveis, as operações eram garantidas pelo sistema de hipoteca*, no qual os bancos tinham menos segurança para operar o crédito imobiliário, pois com a garantia hipotecária, a retomada do imóvel em casos de inadimplência era um processo jurídico lento, na maioria das vezes. Com a Alienação Fiduciária, o mutuário que atrasar o pagamento da prestação por três meses consecutivos pode ter o imóvel retomado em até seis meses, o que proporciona uma maior garantia para os agentes financiadores. 48 Muitos bancos que trabalham com crédito imobiliário, investem nessas operações devido ao fato das mesmas contribuírem para a "fidelização" da clientela. O cliente do crédito imobiliário normalmente terá uma relação de longo prazo com a instituição financiadora. Dessa forma, durante esse período, o banco tem a oportunidade de conquistar a fidelidade do cliente, que pode se transformar em usuário de outros produtos (ABECIP, 2005). De acordo com a ABECIP, em dezembro de 2004, os depósitos em caderneta de poupança nos agentes que integram o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo – SBPE, superaram os saques em aproximadamente R$ 3 bilhões, permitindo que o ano de 2004 fechasse com captação líquida positiva. Tabela 1.2 - Indicadores do Crédito Imobiliário - evolução do saldo das contas de poupança: SBPE Valores em R$ Milhões 2.003 Variação do Saldo* Meses Saldo No Mês No Ano 2.004 Captação Líquida** No Ano % No Mês No Ano Variação do Saldo* Saldo No Mês No Ano Captação Líquida** No Ano % No Mês No Ano Jan 112.317 (106) (106) -0,09% (1.003) (1.003) 115.306 49 49 0,04% (638) (638) Fev 112.167 (150) (256) -0,23% (1.166) (2.169) 115.632 326 375 0,33% (345) (983) Mar 111.141 (1.026) (1.282) -1,14% (1.920) (4.089) 115.016 (616) (241) -0,21% (1.230) (2.213) Abr 110.352 (789) (2.071) -1,84% (1.800) (5.889) 115.227 211 (30) -0,03% (483) Mai 110.032 (320) (2.391) -2,13% (1.227) (7.116) 117.209 1.982 1.952 1,69% Jun 110.032 0 (2.391) -2,13% (1.015) (8.131) 118.593 1.384 3.336 Jul 110.514 482 (1.909) -1,70% (503) (8.634) 120.211 1.618 4.954 Ago 111.064 550 (1.359) -1,21% (464) (9.098) 120.729 518 Set 110.945 (119) (1.478) -1,31% (1.042) (10.140) 121.178 Out 110.897 (48) (1.526) -1,36% (891) (11.031) 121.853 Nov 112.630 1.733 207 0,18% 927 (10.104) Dez 115.257 2.627 2.834 2,52% 1.909 (8.195) (2.696) 1.325 (1.371) 2,89% 645 (726) 4,30% 865 139 5.472 4,75% (246) (107) 449 5.921 5,14% (330) (437) 675 6.596 5,72% (65) (502) 123.184 1.331 7.927 6,88% 650 148 126.853 3.669 11.596 10,06% 2.910 3.058 * (Depósitos.Rendimentos - Retiradas) ** (Depósitos - Retiradas) Fontes: BACEN e ABECIP Ainda segundo a ABECIP, os resultados obtidos em 2004 (os melhores desde a edição do Plano Real), confirmam a continuidade da retomada das operações de crédito imobiliário iniciada em 2003, quando o crescimento girou em torno de 25%, tanto no número de unidades como no volume de recursos, em relação ao ano 2002. 49 Tabela 1.3 - SBPE: Financiamentos Imobiliários – Número de unidades e valores contratados 2.003 Meses Número de Unidades No Mês No Ano 12 Meses 2.004 R$ Milhões Contratados No Mês No Ano 12 Meses Número de Unidades No Mês No Ano R$ Milhões Contratados 12 Meses No Mês No Ano 12 Meses Jan 1.875 1.875 29.128 114,77 114,77 1.785,54 2.450 2.450 37.021 172,46 172,46 2.274,49 Fev 2.838 4.713 30.029 145,20 259,97 1.802,63 2.743 5.193 36.926 167,83 340,28 2.297,12 Mar 2.104 6.817 29.563 137,18 397,15 1.775,54 6.070 11.263 40.892 212,26 552,54 2.372,20 Abr 2.796 9.613 29.955 148,86 546,01 1.771,87 8.210 19.473 46.306 282,55 835,09 2.505,89 Mai 3.596 13.209 31.445 187,31 733,32 1.837,46 4.211 23.684 46.921 214,16 1.049,25 2.532,74 Jun 2.526 15.735 31.326 148,12 881,44 1.826,96 4.094 27.778 48.489 266,60 1.315,85 2.651,21 Jul 3.309 19.044 32.716 219,59 1.101,03 1.928,21 4.378 32.156 49.558 278,17 1.594,02 2.709,80 Ago 3.482 22.526 33.857 219,99 1.321,02 1.998,90 3.491 35.647 49.567 225,05 1.819,07 2.714,85 Set 2.601 25.127 33.196 159,62 1.480,64 1.944,99 3.462 39.109 50.428 230,17 2.049,24 2.785,40 Out 3.046 28.173 34.220 201,57 1.682,21 2.020,76 3.464 42.573 50.846 211,18 2.260,42 2.795,01 Nov 4.541 32.714 35.380 271,99 1.954,21 2.110,56 5.817 48.390 52.122 344,70 2.605,12 2.867,72 Dez 3.732 36.446 36.446 262,60 2.216,88 2.216,88 6.077 54.467 54.467 455,27 3.060,39 3.060,39 Fontes: BACEN e ABECIP Tabela 1.4 - SBPE: Operações contratadas com recursos de caderneta Unidades Anos Unidades Valores em Financiadas R$ Milhões Unidades R$ Milhões 1995 46.594 1.876,5 1996 38.286 1.462,7 1997 35.487 1.724,3 1998 39.368 2.095,1 1999 35.131 1.652,1 2000 36.355 1.916,4 2001 35.768 1.870,2 2002 28.902 1.768,4 2003 36.446 2.216,7 2004 54.467 3.060,2 R$ Milhões 60.000 3.500 50.000 3.000 2.500 40.000 2.000 30.000 1.500 20.000 1.000 10.000 500 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Fontes: BACEN e ABECIP Observa-se que o crédito imobiliário tem apresentado crescimento, e que as perspectivas são favoráveis para a atividade imobiliária e a evolução dos financiamentos. Entretanto, não podemos deixar de observar que para dar continuidade à sua evolução, o crédito imobiliário requer condições econômicas favoráveis, para permitir o alargamento da base de mutuários – condição fundamental para a viabilização de novos contratos. 50 É fato que o sistema de financiamento habitacional no Brasil precisa de uma reformulação. Atualmente, de um total dos 167 bancos em operação no país somente 26 deles operam com carteira imobiliária, dos quais 11 são bancos públicos que respondem por 56% dos financiamentos, sendo 82% do total, concedidos pela Caixa Econômica Federal. 5 Podemos afirmar que a estrutura do financiamento imobiliário no Brasil deveria ser discutida. Somente a partir de uma análise global visando à identificação e correção dos fatores que determinaram sua estagnação nas últimas décadas e impediram o avanço da estrutura criada a partir do SFI, é que ganhos institucionais significativos poderão ser atingidos e o desenvolvimento desse mercado poderá ser conseguido (COSTA, 2004). Como informação adicional – no âmbito das questões relacionadas ao financiamento habitacional, podemos citar que atualmente no Brasil existem várias empresas no mercado que prestam serviços de assessoria na área de negócios imobiliários, direcionados para atividades específicas, tais como: elaboração de estudos de viabilidade de empreendimentos, prospecção de alternativas de aplicação de recursos, consultoria de gestão imobiliária, processamento de operações de financiamento imobiliário, cálculo de operações de financiamento imobiliário, administração e cobrança de créditos imobiliários, entre outros. 5 ABECIP – Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança 51 2. O PROGRAMA DE FINANCIAMENTO CARTA DE CRÉDITO CAIXA 52 2.1 ANTECEDENTES E CRIAÇÃO DO CC CAIXA Antes da existência da chamada “Carta de Crédito”, o financiamento imobiliário no Brasil era concedido basicamente ao construtor/incorporador da obra, ou seja, historicamente o financiamento de imóveis sempre esteve nas mãos do setor da construção civil, atrelado ao imóvel que estava sendo produzido (o que facilitava muito a venda do imóvel). Isto é, financiava-se a produção de imóveis para os empresários da construção. Devido a pressões legítimas do próprio setor da construção – que sempre foi muito forte, essa lógica de funcionamento se manteve por bastante tempo, pois era importante para o setor dispor deste “poder”, através do qual a determinação do preço do imóvel era em função de seu interesse próprio. Dentre os vários interesses do setor da construção civil podemos citar o desejo de ter uma maior facilidade nesse processo, como aumentar o limite de financiamento (para obtenção de uma maior lucratividade de quem produz), ter um maior prazo (para a diminuição do valor da prestação mensal para o comprador), e principalmente ter o monopólio do financiamento diretamente para o setor (para a garantia de um maior poder e controle do mercado). Observa-se que como menos de 1% da população brasileira possui condições de comprar um imóvel à vista, e todo o restante necessita financiar a compra para esse tipo de aquisição, é importate ressaltar aqui que as pessoas não compram “financiamento”, o que elas compram é a “prestação”. Por isso, o interesse do setor da construção civil em aumentar o prazo de financiamento, pois com um prazo maior, a prestação mensal pode diminuir e assim a venda do imóvel é facilitada. A grande “revolução” da Carta de Crédito foi a de disponibilizar os recursos nas mãos daquele que vai comprar o imóvel e não nas mãos de quem vai vender. Ou seja, a Carta de Crédito passou a dar um poder de compra para o comprador da casa própria. Podemos dizer que do ponto de vista da democracia e do ponto de vista de uma política habitacional, essa mudança proporcionada pela Carta de Crédito foi um instrumento fantástico, ou seja, passou-se a dar o crédito a quem precisa comprar e não a quem produz e/ou vende o imóvel. 53 A Carta de Crédito Caixa – CC Caixa – foi criada em meados da década de 90 (mais precisamente no final de 1995), obviamente com uma pressão contrária muito grande do setor da construção civil, que sem dúvida alguma, sofreu uma perda de poder. O principal argumento contrário do setor da construção era o de que a Carta de Crédito incentivaria o financiamento/comercialização de imóveis usados – fato este que além de não impactar na construção de novos imóveis (não contribui para a diminuição do déficit habitacional), não contribuiria para a geração de emprego e renda no país. A pressão contrária ao financiamento de imóveis usados pelo setor da construção civil foi realmente enorme. Entretanto, estava claro que este tipo de financiamento era extremamente importante para equilibrar o mercado, principalmente devido ao mercado secundário de imóveis (a grande maioria dos compradores de imóveis precisam vender seu imóvel atual para comprar outro). A saída para este impasse foi a formatação de um financiamento para imóveis usados com condições diferenciadas do financiamento de novos imóveis, tais como um menor limite do valor do imóvel a ser financiado, e uma taxa de juros mais elevada. Na ocasião, os imóveis usados a serem financiados no âmbito do CC Caixa obedeciam às seguintes regras: limite de financiamento de 70% do valor do imóvel, taxa de juros de 10,5% ao ano e valor máximo do imóvel a ser financiado de R$ 260 mil. E os imóveis novos: limite de financiamento de 80% do valor do imóvel, taxa de juros de 10% ao ano e valor máximo do imóvel a ser financiado de R$ 280 mil. O prazo máximo de financiamento para ambos era de 240 meses. Cabe aqui, ressaltar a diferença entre os programas Carta de Crédito Caixa e a Carta de Crédito FGTS: a Carta de Crédito FGTS é uma linha de financiamento com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, destinada à aquisição de moradia, no âmbito do SFH, por famílias conforme enquadramento abaixo:1 1 Mês de referência: maio de 2006 54 Para enquadramento no CC FGTS, são considerados a renda familiar bruta e o valor venal do imóvel, observadas as diferenciações conforme as modalidades, exceto para as regiões metropolitanas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal: Tabela 2.1 - Enquadramento CC FGTS – Geral Renda Familiar Bruta Valor Venal do Imóvel (R$) (R$) Aquisição de Material de Construção FGTS De 300 a 1.500 Até 62.000 Conclusão, ampliação e/ou melhoria De 300 a 2.400 Até 62.000 Aquisição de Imóvel Usado De 300 a 3.000 Até 72.000 Aquisição de Imóvel Novo Construção em terreno próprio Aquisição de terreno e construção De 300 a 3.900 Até 72.000 MODALIDADE Fonte: VIURB/SUHAB/CAIXA Para as regiões metropolitanas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e do Distrito Federal: Tabela 2.2 - Enquadramento CC FGTS – Regiões Metropolitanas RJ, SP e DF Renda Familiar Bruta Valor Venal do Imóvel (R$) (R$) Aquisição de Material de Construção FGTS De 300 a 1.650 Até 68.000 Conclusão, ampliação e/ou melhoria De 300 a 2.650 Até 68.000 Aquisição de Imóvel Usado De 300 a 3.300 Até 80.000 Aquisição de Imóvel Novo Construção em terreno próprio Aquisição de terreno e construção De 300 a 3.900 Até 80.000 MODALIDADE Fonte: VIURB/SUHAB/CAIXA 55 Para enquadramento em Operações Especiais deve ser considerado o valor da renda familiar bruta ou o valor venal do imóvel e as modalidades conforme demonstrado na tabela abaixo: Tabela 2.3 - Enquadramento CC FGTS – Operações Especiais MODALIDADE Aquisição de Imóvel Novo Construção em terreno próprio Aquisição de terreno e construção Renda Familiar Bruta Valor Venal do Imóvel(R$) (R$) RM de SP, RJ e DF DEMAIS REGIÕES De 3.900 a 4.900 De 72.000 a 80.000 De 72.000 a 80.000 Fonte: VIURB/SUHAB/CAIXA A taxa de juros cobrada no Programa CC FGTS varia em função da renda familiar, sendo que até R$ 1.500,00 a taxa é de 6% ao ano; de R$ 1.500,00 a R$ 2.400 a taxa é de 8,16 ao ano; e acima de R$ 2.400,00 a taxa é de 10,16% ao ano. No caso das Regiões Metropolitanas de RJ, SP e DF e em operações especiais os valores de renda correspondentes são R$ 1.650,00 e R$ 2.650,00 respectivamente. O Programa Carta de Crédito FGTS não será abordado no presente trabalho. Os dados a serem apresentados referir-se-ão ao Programa Carta de Crédito Caixa, que será caracterizado adiante. 56 2.2 O SFI – SISTEMA FINANCEIRO IMOBILIÁRIO Em 1997, foi criada a Lei 9.514, aprovada pelo Congresso Nacional a partir de proposta de Lei da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança – ABECIP, que estabeleceu o Sistema Financeiro Imobiliário – SFI, sistema complementar ao Sistema Financeiro da Habitação – SFH. Uma das finalidades do SFI era a de aliviar o SFH (no qual havia uma incompatibilidade do funding utilizado com o sistema de financiamento – limitações das fontes de recursos tradicionais para os financiamentos), atendendo à demanda por financiamento imobiliário para as classes média e alta.2 O SFI é um conjunto de normas legais que regulam a participação de instituições financeiras (caixas econômicas, bancos comerciais, bancos de investimento, bancos com carteira de crédito imobiliário, sociedades de crédito imobiliário, associações de poupança e empréstimo e companhias hipotecárias) e não-financeiras (companhias securitizadoras) na realização de operações de financiamento de imóveis residenciais e comerciais, com a efetiva garantia de retorno dos capitais emprestados. As condições do SFI podem ser aplicadas, entretanto, a quaisquer operações de comercialização de imóveis com pagamento parcelado, de arrendamento mercantil de imóveis e de financiamento de imóveis em geral. Os princípios básicos do SFI são a implementação da economia de mercado, a desregulamentação das operações imobiliárias e a desoneração dos cofres públicos. As operações do SFI são efetuadas segundo as "condições de mercado", isto é, as condições livremente praticadas nas diversas operações do mercado imobiliário (CIBRASEC, 2005). Com a implementação do SFI foram então realizadas inovações no financiamento imobiliário nacional, com a criação de instrumentos de securitização imobiliária3, ou seja, que 2 O SFI inspirou-se no modelo americano de crédito imobiliário, que hoje movimenta valores correspondentes a cerca de 60% do Pib americano. 3 Securitização é um processo estruturado, coordenado por uma instituição especializada (companhia securitizadora), através do qual os créditos imobiliários descontados pelo originador são transformados em títulos, denominados Certificados de Recebíveis Imobiliários – CRI, a serem negociados nos mercados financeiro e de capitais. A securitização transforma um fluxo de recebíveis de médio e longo prazo em ativos financeiros negociáveis à vista, propiciando novas alavancagens financeiras para empresas incorporadoras, construtoras, imobiliárias, instituições financeiras, enfim para todas aquelas que possuem créditos com lastro imobiliário e que possam atrelar a eles uma garantia, também imobiliária (Fonte: CIBRASEC). 57 possibilitam a transformação de bens imóveis em títulos mobiliários, como os Fundos de Investimento Imobiliários – FII’s e os Certificados de Recebíveis* Imobiliários – CRI’s4. A lei que criou o SFI introduziu também um novo veículo legal denominado Companhia Securitizadora de Créditos Imobiliários, que são sociedades com propósitos de fazer a securitização dos recebíveis imobiliários através da emissão dos CRI’s*, títulos imobiliários equivalentes a debêntures.5 Essas inovações do SFI buscam articular o setor imobiliário com o mercado financeiro, estabelecendo um processo de desintermediação bancária para o financiamento da produção, ao mesmo tempo em que oferecem possibilidades de ganhos financeiros aos investidores. A partir de 2002 alguns FII’s passaram a ser negociados na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo, representando um marco na integração do setor imobiliário com o mercado financeiro. A principal fonte de recursos do SFI são os grandes investidores institucionais, que possuem expressivos ativos, não só no Brasil, como em outros países: fundos de pensão, fundos de renda fixa, companhias seguradoras, bancos de investimento, entre outros (esses são os principais compradores dos recebíveis imobiliários). Em nosso País, esses ativos somam bilhões de reais e têm de ser aplicados em investimentos que lhes proporcionem não só uma razoável lucratividade, mas sobretudo, segurança efetiva para o retorno dos capitais investidos. Por sua vez, a securitizadora utilizará esses recursos para a compra de outros créditos imobiliários junto às entidades financiadoras e outras integrantes do mercado imobiliário, as quais, desse modo, serão estimuladas a incrementar a concessão de financiamentos, incorporações, loteamentos, locações, entre outros, das mais variadas espécies de imóveis (CIBRASEC, 2005). 4 Recebíveis imobiliários são todos e quaisquer créditos decorrentes de operação de venda e compra ou promessa de venda e compra a prazo, financiamento, arrendamento, locação, entre outros, que tenham por objeto um imóvel residencial, comercial, industrial, rural ou lote urbanizado (Fonte: CIBRASEC). 5 Títulos de crédito ao portador, emitidos em séries uniformes, os quais vencem juros, são representativos de empréstimos amortizáveis, contraídos a longo prazo mediante garantia de todo o seu ativo, especialmente abonados por hipotecas ou penhores. (Fonte: CIBRASEC). 58 A partir da introdução do SFI pretendeu-se criar condições inovadoras no sentido de direcionar maiores investimentos para o setor imobiliário, visando aumentar a oferta de créditos destinados à construção civil e à aquisição de imóveis. A possibilidade do Brasil de consolidar seu processo de estabilidade monetária nos próximos anos abre perspectivas de uma elevação e aperfeiçoamento das atividades de concessão de crédito privado, em especial aqueles destinados ao financiamento da casa própria. Desta forma, o desenvolvimento de um mercado secundário de letras hipotecárias no Brasil é essencial para atrair capitais para a construção civil e gerar eficiência alocativa de recursos no setor. (VALPASSOS, 2003) Um mercado de crédito imobiliário dinâmico capaz de canalizar grandes recursos a longo prazo, a livre contratação entre as partes quanto ao custo (remuneração do capital, por exemplo) e prazos do financiamento contratado, assim como as garantias que protegem o investidor, são características fundamentais do Sistema Financeiro Imobiliário. A flexibilidade na forma de contratação do financiamento é um dos princípios básicos do SFI, sendo que nenhuma das cláusulas é previamente regulamentada de maneira oficial (uma das idéias centrais do sistema era retirar o intervencionismo estatal das relações contratuais, pois suas operações seriam destinadas somente a financiar as “operações de mercado”, livremente pactuadas entre as partes). O SFI teve como preocupação estabelecer uma estrutura que fosse compatível com o levantamento de recursos para fundeá-lo. Nesse sentido, um conjunto de normas legais regulam a participação de instituições financeiras e não financeiras nas operações de financiamento de imóveis. Busca-se assim, estabelecer condições para o desenvolvimento de um mercado de crédito imobiliário baseado em mecanismos que permitam que operações sejam livremente negociadas e pactuadas e que novos recursos sejam canalizados para o financiamento habitacional. O SFI não estabelece limites de financiamento ou tetos para as taxas de juros cobradas, nem valores máximos para os imóveis. As operações são livremente contratadas entre as partes, definindo-se assim um sistema baseado em contratos menos restritos e potencialmente mais atrativos para as instituições originadoras. (COSTA, 2004) Contudo, o SFI indica as condições necessárias para contratação das operações de financiamento imobiliário, quais sejam: pagamento total do montante financiado e dos 59 encargos estipulados no contrato, capitalização dos juros e a contratação de seguros pelo beneficiário (riscos de morte e invalidez). Os imóveis que se enquadram na modalidade de operação do SFI são todos aqueles capazes de gerar uma garantia imobiliária, ou seja, imóveis residenciais, comerciais, industriais, rurais, lojas ou lotes urbanizados, com base nos quais tiver sido constituído um fluxo de recebíveis imobiliários securitizáveis.6 A principal vantagem oferecida pelo SFI ao setor da construção civil é que as construtoras e incorporadoras podem deixar de aplicar a maior parte do seu capital de giro no financiamento direto dos adquirentes finais das unidades. Podem, mediante a venda dos recebíveis gerados pela venda a prazo das unidades construídas, reconstituir esse capital de giro, direcionando-o para aplicação em novos projetos – ou seja, podem concentrar-se em sua principal finalidade, a construção de imóveis, devolvendo às instituições financiadoras e ao mercado de capitais a função de bancar o financiamento aos compradores. Quanto à possibilidade de retomada do imóvel no caso de inadimplência, essa é uma questão jurídica de grande importância no que diz respeito ao sucesso das operações de securitização de hipotecas. Com relação às garantias, a inovação do SFI é a Alienação Fiduciária, que prevê a transferência ao credor do direito de conservar e recuperar a posse dos títulos representativos dos créditos cedidos, bem como promover a cobrança judicial dos devedores (mutuários inadimplentes). A aplicação maciça do mecanismo da Alienação Fiduciária é um passo decisivo para a expansão do SFI, pois permitirá a geração de créditos de boa qualidade. E, em conseqüência, estimulará os negócios e propiciará, com a diminuição das disputas judiciais e da inadimplência, a redução dos custos dos empréstimos imobiliários, ampliando as possibilidades de acesso da população ao imóvel próprio. (ABECIP, 2000) 6 As companhias securitizadoras de créditos imobiliários são sociedades anônimas, classificadas como instituições não financeiras, que tem por finalidade a aquisição de recebíveis imobiliários e sua securitização mediante emissão e colocação, no mercado financeiro e de capitais, de Certificados de Recebíveis Imobiliários – CRI. Elas são fiscalizadas pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, cabendo ao Conselho Monetário Nacional fixar as condições para seu funcionamento (Fonte: CIBRASEC). 60 Apesar das altas taxas de juros o SFI vem atraindo cada vez mais investidores. Isso porque com a introdução da Alienação Fiduciária (que permite a retomada imediata do imóvel por via extrajudicial em caso de inadimplência), os Certificados de Recebíveis Imobiliários (papéis que têm como garantia o imóvel financiado) estão sendo muito procurados por fundos de pensão e seguradoras (CIBRASEC, 2005). Entretanto, é fato que para que o Brasil estruture e desenvolva um mercado de títulos de recebíveis ativo, é necessário que haja uma queda na taxa de juros. O principal objetivo a ser atingido pelo SFI é fazer a conexão entre os maiores poupadores da economia brasileira – que são os fundos de pensão, as seguradoras, e outras instituições demandantes de ativos de longo prazo (que são também os maiores compradores de recebíveis imobiliários) e os indivíduos demandantes de crédito imobiliário, que estão presentes em grande número, em todo o país. A implementação do SFI busca uma maior facilidade no funcionamento desse processo, que é uma tendência mundial, proporcionando condições adequadas para que seja feita a ligação entre esses setores envolvidos na questão. Podemos perceber que no momento atual, está em curso no País uma modificação no sistema de financiamento (haja visto por exemplo, a criação do SFI e da CIBRASEC). Este processo que estamos vivenciando pode ser definido como uma etapa dessa transformação, na qual o sistema busca uma maior aproximação com o mercado imobiliário, com vistas a ampliar o número de financiamentos. A partir do exposto, podemos intuir que para que funcione no Brasil um sistema de financiamento imobiliário perfeitamente integrado ao mercado de capitais, deve-se adotar um modelo com o SFI semelhante ao existente nos Estados Unidos, cujas políticas adotadas (desde a época subseqüente à Grande Depressão) determinam a participação do governo americano de maneira proeminente no processo de financiamento imobiliário, em especial naqueles destinados à aquisição de unidades residenciais.7 Esse tipo de atuação tem influenciado de forma decisiva o comportamento dos vários setores que participam do 7 A Federal Housing Administration (FHA) foi criada pelo governo americano com o objetivo de amortecer os efeitos da depressão e gerar as condições para o reaquecimento da economia. Ela desenvolveu os principais programas (federais, estaduais e locais) destinados a gerar as condições necessárias ao funcionamento satisfatório do sistema de financiamento imobiliário. Esses programas tornaram-se os pilares sustentadores da securitização de hipotecas nos Estados Unidos (BOYKIN e HANEY, 1993). 61 mercado imobiliário, principalmente por meio da criação de agências governamentais ou de patrocínio de algumas entidades.8 O excesso de regras e de normas tornou o SFH difícil para todos. O Sistema Financeiro Imobiliário – SFI nasceu com poucas regras, pois sistemas fáceis de aprender são melhores para todos os interessados – empresários, famílias, agentes financeiros, investidores. Com o SFI e a adoção de mecanismos de securitização, os patrimônios imobiliários terão mais liquidez, beneficiando os produtores e os investidores. Estamos, pois às vésperas da redenção de toda a economia imobiliária – da incorporação à securitização, que não pode depender de um modelo fechado, que mal serve a poucos, mas, isto sim, da aplicação de um modelo crescentemente aberto, menos sujeito ao arbítrio e à intervenção do Estado. (ABECIP, 2000) Cabe ressaltar aqui, que o Sistema de Financiamento Imobiliário, criado com o objetivo principal de preencher as lacunas deixadas pelo SFH e atender à demanda por financiamento das classes de renda mais elevada, contribuiu para a institucionalização da segregação social no País, posto que o SFI fundamenta-se na implementação da economia de mercado e não estabelece limites de financiamento ou tetos para as taxas de juros cobradas, nem valores máximos para os imóveis comercializados. 8 Esses organismos participantes do mercado imobiliário realizam importantes funções, tais como promover seguros ou garantir os empréstimos hipotecários contra o risco de inadimplência; gerar liquidez para o mercado através da compra de empréstimos hipotecários; promover facilidades de crédito para alguns fornecedores de financiamentos imobiliários; subsidiar financiamentos a taxas de juros inferiores a de mercado para a construção de habitações para a população de baixa renda. A principal agência criada e regulamentada pelo governo americano com o objetivo final de gerar liquidez para a comercialização de hipotecas foi a Federal National Mortgage Association (FNMA), conhecida como Fannie Mae. Originalmente, a FNMA estava autorizada a comprar empréstimos concedidos pela FHA. Mais tarede, tornou-se uma empresa privada com o privilégio, concedido pelo Congresso, de fomentar o mercado secundário para as hipotecas convencionais, isto é, para empréstimos que não sejam concedidos pela FHA. A FNMA possui ações que são negociadas regularmente nas bolsas de Nova Iorque, do Pacífico e de Chicago. A reputação de ser uma empresa sólida, bem gerida e lucrativa pode ser evidenciada pela sua capacidade de gerar lucros que cresçam a taxas de dois dígitos, ano após ano, mesmo em um ambiente de taxas de juros voláteis e de mudanças nas condições de crédito. A Federal Home Loan Mortgage Corporation (FHLMC), conhecida como Freddie Mac, é a segunda maior agência emissora de “títulos baseados em hipotecas” nos EUA. Ainda que todos os investidores que compram ativos emitidos por agências como a FNMA e a FHLMC estejam incorrendo em risco de crédito, existe uma crença generalizada de que o governo dos Estados Unidos não deixará que estas agências tornem-se inadimplentes, socorrendo-as em caso de crise generalizada (VALPASSOS, 2003). 62 2.2.1 A Companhia Brasileira de Securitização9 A Companhia Brasileira de Securitização – CIBRASEC – é a maior e mais antiga companhia de securitização do Brasil. Foi criada em julho de 1997, com o objetivo de estruturar o mercado secundário de recebíveis imobiliários no país e ampliar os recursos disponíveis para o financiamento imobiliário. A CIBRASEC integra os mercados imobiliário e de capitais para permitir a geração de recursos necessários para o incremento das atividades na construção e no financiamento imobiliário, bem como propiciar liquidez aos créditos e patrimônios imobiliários existentes. A CIBRASEC não é uma instituição financeira – embora suas atividades estejam diretamente relacionadas aos mercados financeiros e de capitais – e sendo assim, não está sujeita à regulamentação e supervisão do Banco Central do Brasil. Como suas atividades incluem a emissão e colocação de instrumentos de investimento no mercado, ela é regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM. O principal objetivo da CIBRASEC é desenvolver um mercado secundário para os recebíveis imobiliários; mercado este que ainda é bastante incipiente no Brasil. Como componente fundamental do processo de securitizacão encontra-se a figura dos originadores de créditos imobiliários, responsáveis pela geração dos créditos a serem avaliados e adquiridos pela CIBRASEC. Como exemplos de originadores podemos destacar: Empresas do mercado imobiliário (construtoras, incorporadoras, loteadoras, imobiliárias) instituições financeiras que operam com crédito imobiliário (Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú, Unibanco, etc.) A criação da CIBRASEC foi precedida de uma série de estudos e análises realizados pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança – Abecip – sobre alternativas para o antigo Sistema Financeiro da Habitação – SFH, pois desde o inicio dos 9 Fonte: CIBRASEC – Companhia Brasileira de Securitização 63 anos 90, estavam limitadas as fontes de recursos tradicionais para os financiamentos imobiliários no País. Começou a ser delineada em 1994, durante seminário patrocinado pela ABECIP (com a participação de representantes do Governo Federal, Banco Central, bancos privados e estatais, além de técnicos de outros países), a criação de uma securitizadora brasileira, nos moldes das norte-americanas. Em 1997, em Assembléia Geral de Acionistas na sede da Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN, foi criada a CIBRASEC, com capital subscrito de R$ 60 milhões e os maiores bancos do mercado brasileiro como acionistas (Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Unibanco, Itaú, Real/ABN, Santander, HSBC). Em decorrência, com base em Projeto de Lei encaminhado pelo Poder Executivo Federal, o Congresso Nacional aprovou, em regime de urgência, a proposta que passou a ser a Lei nº. 9.514/1997, lançando as bases de um novo modelo de financiamento imobiliário no País (SFI) e cujas principais inovações foram: instituição das companhias securitizadoras de créditos imobiliários como agente de liquidez dos créditos imobiliários no mercado secundário; criação do Certificado de Recebíveis Imobiliários – CRI, instrumento financeiro de médio e longo prazo, de emissão exclusiva das companhias securitizadoras e classificado como Valor Mobiliário pelo Conselho Monetário Nacional – CMN; fixação de regras básicas para a securitização de recebíveis* imobiliários; instituição do regime fiduciário para recebíveis imobiliários, permitindo a total e efetiva segregação de operações, resultando em proteção adicional para o direito dos investidores; introdução, na legislação brasileira, da Alienação Fiduciária de Bens Imóveis A atuação da CIBRASEC se dá como intermediária entre originadores de créditos e investidores. Para tanto, a companhia adquire créditos imobiliários de instituições financeiras e empresas do setor imobiliário e estrutura seu financiamento por meio de emissões de 64 Certificados de Recebíveis Imobiliários – CRIs, que são lançados no mercado e comercializados junto a investidores institucionais. Ou seja, a atuação da CIBRASEC busca aumentar os recursos disponíveis para o financiamento imobiliário, criando condições para o aumento da produção imobiliária do país, o que permite a interlocução entre a demanda e a oferta de imóveis, tanto habitacionais como comerciais, já existentes ou a serem produzidos. É evidente a importância do papel das companhias de securitização de recebíveis imobiliários no Sistema Financeiro Imobiliário. Experiências em outros países (nos Estados Unidos, por exemplo) mostram que o crescimento do financiamento habitacional está intimamente ligado, entre outros fatores, à existência de garantias efetivas de recursos aplicados e a um mercado de crédito imobiliário capaz de captar recursos de longo prazo, especialmente junto a grandes investidores. No sistema hipotecário norte-americano, é evidente o papel das securitizadoras como estimuladoras do mercado secundário de recebíveis imobiliários (os MBS ou Mortgage-Backed Securities – títulos imobiliários equivalentes aos CRls brasileiros). A partir de 1970, os investidores institucionais, na busca por instrumentos de renda fixa de longo prazo, descobriram neles atrativos de estruturação, risco e remuneração sem precedentes. Foi tão grande o interesse despertado pelos MBS entre os investidores institucionais norte-americanos desde a sua concepção, que eles se tornaram um dos instrumentos de maior volume de negociação nos mercados financeiros e de capitais globais, atingindo, no final de 2003, a cifra acumulada de aproximadamente US$ 4 trilhões em emissões. (CIBRASEC, 2004) Existem dois pressupostos básicos de uma operação de securitização, quais sejam: a necessidade de se fazer a segregação do risco de crédito dos originadores; a possibilidade (para os originadores) do crédito imobiliário de captar recursos sem incorrer na contratação de dívidas, com financiamentos ou empréstimos, evitando assim elevar o seu grau de endividamento e limitar novas alavancagens. 65 Pode-se dizer que a maior função da securitização é ampliar a capacidade de investimento do setor produtivo, na medida em que se transforma bens de baixa liquidez – imóveis – em ativos financeiros, que são totalmente negociáveis. O fato da operação de securitização no Brasil ainda não ter atingido patamares mais elevados deve-se, sem dúvida alguma, ao cenário de altas taxas de juros. Com a perspectiva de um novo cenário econômico, com uma taxa menor de juros, aumenta substancialmente a atratividade da securitização. 66 2.3 CARACTERIZAÇÃO DO CC CAIXA O Programa Carta de Crédito Caixa é uma linha de crédito* imobiliário criada em 1995, e destinada ao financiamento direto para o beneficiário – pessoa física. Atualmente, o Programa trabalha sem limite máximo de valor de avaliação ou de venda e compra do imóvel. Desde a sua criação até outubro de 2000 o Programa utilizava recursos próprios da Caixa e recursos da caderneta de poupança, e estava vinculado ao SFH. De novembro de 2000 a agosto de 2001, passou a utilizar somente recursos próprios da Caixa (mix funding) e a estar vinculado ao Sistema de Financiamento Imobiliário – SFI. De setembro de 2001 a fevereiro de 2003, a linha de financiamento foi interrompida. Em março de 2003, quando começou a operar novamente, o Programa seguiu nos moldes da época de sua interrupção. A Carta de Crédito Caixa é comercializada diretamente agências da Caixa em todo o país.10 A Carta de Crédito é válida por 30 (trinta) dias a contar da data da emissão da avaliação de risco de crédito, que é realizada pela Caixa. Em alguns casos, é permitida a prorrogação do prazo de validade, sendo a mesma condicionada à validade da avaliação de risco original e também à dotação orçamentária. O CC Caixa abrange as seguintes modalidades: Aquisição de imóvel urbano residencial ou comercial, novo ou usado (CC Caixa Individual Imóvel Novo ou CC Caixa Individual Imóvel Usado) Construção em Terreno Próprio e Aquisição de Terreno e Construção de imóvel residencial ou comercial (CC Caixa Associativo) Reforma e/ou Ampliação de imóvel residencial ou comercial (CC Caixa Material de Construção) Aquisição de lote urbanizado residencial ou comercial As condições básicas do proponente ao financiamento por meio do Programa Carta de Crédito Caixa são principalmente: possuir idoneidade cadastral e possuir capacidade de endividamento, ou seja, capacidade econômico-financeira para arcar com o encargo mensal – 10 A partir de dezembro de 2005, a Caixa volta a financiar com recursos da poupança no âmbito de um novo Programa: Carta de Crédito SBPE (nos moldes do SFH). 67 de acordo com a análise de risco* do Sistema de Risco de Crédito da Caixa – SIRIC – sendo apurada a renda familiar do solicitante ao financiamento. Além dessas exigências apresentadas acima, existem outras qualificações básicas, que são comuns a outros programas de crédito, como por exemplo, ter maioridade e capacidade civil, de acordo com a legislação em vigor.11 A garantia adotada em todas as modalidades do CC Caixa é a Alienação Fiduciária de Bens Imóveis – contrato pelo qual o devedor, como garantia de uma dívida, pactua a transferência da propriedade fiduciária do bem imóvel ao credor, sob condição resolutiva expressa. Uma das exigências do CC Caixa é a apresentação do Certificado de Conformidade* do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat – PBQP-H,12 nas modalidades de aquisição de terreno e construção, construção em terreno próprio e aquisição de imóvel novo (independentemente de unidade isolada ou não), nos casos em que o construtor for empresa da construção civil (o certificado é emitido por Organismo de Certificação Credenciado – OCC, autorizado pela Comissão Nacional do Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras – SIQ Construtoras, conforme exige o PBQP-H). Essa exigência é para o cumprimento ao Acordo Setorial firmado entre a Caixa e o Sindicato da Indústria da Construção Civil – SINDUSCON,13 devendo ser observados o teor e os prazos pactuados. A apresentação do certificado é dispensada quando a data do Habite-se da obra for anterior àquela prevista no Acordo Setorial para implementação da certificação do PBQP-H e nas situações em que o AS não tenha estendido a implementação do PBQP-H.14 11 Fonte: VIURB/CAIXA O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) é coordenado pelo Ministério das Cidades e objetiva a melhoria da qualidade, o aumento da produtividade e a redução de custos da construção, por meio de mobilização e articulação dos segmentos da Cadeia Produtiva do setor. 13 Os Acordos Setoriais foram assinados entre a Caixa e as representações locais do SINDUSCON, ou seja, são acordos locais, que variam de região para região. 14 A empresa construtora do imóvel deve apresentar qualificação no PBQP-H no nível definido do cronograma do Acordo Setorial Estadual, firmado entre a CAIXA e o SINDUSCON local. O nível de qualificação a ser exigido da empresa construtora, na data de assinatura do contrato, é aquele previsto no respectivo Acordo Setorial, referente a data de entrada do projeto na CAIXA, devendo, entretanto, estar dentro de seu prazo de validade. 12 68 É importante deixar claro que o CC Caixa é um programa de financiamento destinado à pessoa física e não participa da produção empresarial de imóveis no País (na verdade, a Caixa tem uma participação muito restrita nessa produção empresarial, sendo que a maior parte das suas linhas de crédito são destinadas à pessoa física, com exceção de alguns poucos programas, como por exemplo o Programa de Apoio à Produção15). A figura da construtora, nos casos de exigência do Certificado de Conformidade do PBQP-H aparece da seguinte forma: Na aquisição de imóvel novo, a construtora deve ser certificada pelo PBQP-H Na aquisição de terreno e construção e na construção em terreno próprio, o construtor contratado pelo mutuário para a execução da obra, se for uma empresa da construção civil, esta deve ser certificada pelo PBQP-H Desde a sua criação o Programa Carta de Crédito Caixa já passou por diversas alterações nas regras de funcionamento (conforme tabela 2.4). É importante ressaltar que as características do Programa descritas à frente referem-se às normas em vigência (maio/2006). Outra questão que merece ser aqui destacada é que embora a premissa básica do CC Caixa seja financiar a aquisição de imóveis com valores superiores a R$ 350 mil, podemos observar de acordo com os dados dos contratos até então efetuados, apresentados mais adiante, que a média dos valores dos imóveis das operações realizadas encontra-se aquém do pretendido, demonstrando uma certa inadequação da formatação do programa com a realidade das contratações. 15 Programa de Apoio à Produção de Habitações – Recursos FGTS: Linha de crédito para produção de empreendimentos habitacionais pelo Programa de Apoio à Produção de Habitações, com financiamento direto à pessoa jurídica do ramo da construção civil, com comercialização comprovada de, no mínimo, 30% (trinta por cento) das unidades habitacionais do empreendimento e execução de obras com recursos próprios de no mínimo 15% ou percentual definido na análise econômico-financeira do projeto. Programa de Apoio à Produção - Recursos SBPE: Linha de crédito para produção de empreendimentos habitacionais pelo Programa de Apoio à Produção - Recursos SBPE, com financiamento direto à pessoa jurídica do ramo da construção civil, com comercialização comprovada de, no mínimo, 30% (trinta por cento) das unidades do empreendimento e execução de obras com recursos próprios de no mínimo 15% ou percentual definido na análise econômico-financeira do projeto. Tabela 2.4 – Programa CC Caixa – Aquisição de Imóvel Residencial – Caracterização ao longo do tempo Dez 1997 a Mar 2000 Abr 2000 a Jun 2000 Jul 2000 a Out 2000 Nov 2000 a Ago 2001 Set 2001 a Fev 2003 Mar 2003 a Mai 2004 Jun 2004 a Out 2004 A partir de Nov 2004 Limite mínimo de financiamento Não há Não há Não há Não há _ R$ 5,1 mil Não há R$ 15 mil Limite máximo de financiamento Não há Até R$ 500 mil Até R$ 180 mil Até R$ 180 mil _ Não há Não há Não há Limite de valor venal do imóvel Não há Não há Não há Não há _ Não há Não há Não há 30% 30% 30% _ 30% 30% 30% De acordo com o valor de avaliação do imóvel: . até R$ 100 mil: 80% . de R$ 100 a R$ 200 mil: 70% . acima de R$ 200 mil: 60% De acordo com o valor de avaliação do imóvel: . até R$ 100 mil: 80% . de R$ 100 a R$ 200 mil: 70% . acima de R$ 200 mil: 60% _ 50% do valor do imóvel 60% do valor do imóvel 80% do valor do imóvel 12% a.a. 12% a.a. _ 18% a.a. 13,7% a.a. 12,5% a.a. Comprometimento de renda Quota de financiamento Taxa de juros Prazo de amortização Sistema de amortização Sistema de financiamento Garantia Fonte: VIURB/SUHAB/CAIXA 30% 12% a.a. De acordo com o valor de avaliação do imóvel: . até R$ 200 mil: 100% . de R$ 200 a R$ 250 mil: 90% . de R$ 250 a R$ 300 mil: 80% . de R$ 300 a R$ 350 mil: 70% . de R$ 350 a R$ 400 mil: 60% . acima de R$ 400 mil: 50% 12% a.a. 240 meses 240 meses 240 meses 240 meses _ 240 meses 240 meses 240 meses SACRE SACRE SACRE SACRE _ SAC SAC SAC SFH SFH SFH SFI _ Garantia hipotecária Alienação De acordo com o valor de avaliação do imóvel: . até R$ 400 mil: 100% . acima de R$ 400 mil: 30% Garantia hipotecária Garantia hipotecária Fiduciária _ SFI SFI SFI Alienação Alienação Alienação Fiduciária Fiduciária Fiduciária 2.4 AQUISIÇÃO DE IMÓVEL RESIDENCIAL OU COMERCIAL NOVO OU USADO – A PRINCIPAL MODALIDADE A “Aquisição de imóvel residencial ou comercial novo ou usado” é a principal modalidade do Programa Carta de Crédito Caixa, e a mais utilizada pelos beneficiários do Programa, merecendo portanto aqui, um destaque especial. Nessa modalidade, o limite mínimo de financiamento para aquisição de imóvel residencial é de R$ 15 mil e para aquisição de imóvel comercial é de R$ 5,1 mil. Não existe um limite máximo de financiamento. O que deve ser observado é a capacidade de pagamento do proponente. Também não há limite do valor venal do imóvel e o comprometimento de renda é de até 30% da renda comprovada ou não, considerando-se o encargo mensal total em função da análise de risco de crédito e da capacidade de pagamento do proponente, apurada pelo Sistema de Risco de Crédito da Caixa – SIRIC. Quanto à cota de financiamento é considerado o menor dos valores entre o de compra e venda e o de avaliação do imóvel efetuada pela Caixa, limitada ainda à quota estabelecida pelo SIRIC, em função da capacidade de pagamento do proponente: imóvel residencial até 80% e imóvel comercial até 50%. Uma questão importante a ser observada é que no CC Caixa a idade do proponente mais idoso participante da composição de renda para fins securitários, somada ao prazo de amortização, não pode ultrapassar 80 anos completos. No que diz respeito à taxa de juros, esta é composta por: Imóvel residencial: TR capitalizada ao cupom de 12,5% a.a, o que é proporcional a 1,05% a.m. Imóvel comercial: TR capitalizada ao cupom de 18,0% a.a, o que é proporcional a 1,5% a.m. 71 O Programa prevê que na hipótese de extinção da TR, será utilizada a taxa que vier a ser indicada pelo Governo Federal em sua substituição, adotando-se a sistemática de aplicação do novo normativo que a instituir e a regulamentar. O Sistema de Amortização adotado é o Sistema de Amortização Constante – SAC, sendo que para imóvel residencial o prazo de amortização é de até 240 meses, e para imóvel comercial o prazo de amortização é de até 72 meses.16 Quanto ao pagamento de eventual resíduo, esse saldo residual deve ser pago com recursos próprios na data do vencimento do último encargo devido. O encargo mensal do CC Caixa corresponde ao somatório da prestação de amortização e juros, dos prêmios de seguro17 e da Taxa Operacional Mensal – TOM, cujo valor é de R$ 25,00. O primeiro encargo mensal vence no mês subseqüente ao de assinatura do contrato, na data definida entre as partes. A prestação de amortização é fixa e a parcela de juros é calculada mensalmente, considerando o último saldo devedor evoluído pelo SAC e Taxa de Juros vigente. 16 A primeira prestação de amortização e juros (A+J) é calculada pelo SAC, tomando-se por base o valor do financiamento, a taxa de juros e o prazo de amortização contratados, de acordo com as fórmulas a seguir: TR = TR da data do vencimento da prestação, ou seja, a divulgada 30 dias antes do seu vencimento expressa na forma percentual mês. - Imóvel residencial:CUPOM = 12,5% a.a, proporcional ao cupom mensal de 1,041667% a.m. - Imóvel comercial: CUPOM = 18,00% a.a, proporcional ao cupom mensal de 1,500000% a.m. 17 Prêmios de Seguro: apurados conforme o previsto para o primeiro prêmio de seguro na contratação, observando-se que,12 meses após a contratação, o prêmio de seguro MIP deve ser obtido mediante aplicação, no saldo devedor, das taxas definidas para a faixa etária do mutuário. Os prêmios de seguro são recalculados a cada período de 12 meses, sendo o MIP (Morte e Invalidez Permanente) recalculado com base no saldo devedor evoluído em função do SAC, mediante aplicação, no saldo devedor, da taxa definida para a faixa etária dos devedores, e o DFI (Danos Físicos do Imóvel) recalculado em função do valor da garantia atualizado pela TR (Fonte: CAIXA). 72 O encargo mensal não é objeto de revisão em decorrência da extrapolação do limite máximo de comprometimento de renda. O limite máximo de comprometimento é observado apenas no momento da contratação do financiamento. Dessa forma, a parcela de juros é calculada mensalmente e a parcela de amortização é constante. Quanto ao saldo devedor, este não sofre atualização monetária sendo evoluído, mensalmente, na data correspondente ao aniversário do contrato, em função do pagamento da parcela de amortização decorrente da prestação (a+j), que é calculada pelo Sistema de Amortização Constante – SAC. 73 2.5 OUTRAS MODALIDADES DO PROGRAMA Além da modalidade “Aquisição de imóvel urbano residencial ou comercial, novo ou usado”, o Programa Carta de Crédito Caixa possui também “Construção em Terreno Próprio e Aquisição de Terreno e Construção de imóvel residencial ou comercial”, “Reforma e/ou Ampliação de imóvel residencial ou comercial” e “Aquisição de lote urbanizado residencial ou comercial”. Para essas modalidades também não há limite máximo de financiamento, devendo ser observada a capacidade de pagamento do proponente. O valor venal do imóvel não é limitado e o comprometimento de renda é de até 30% da renda familiar comprovada ou não, considerando-se o encargo mensal total e observada a capacidade de pagamento do proponente. O Sistema de Amortização é o mesmo para todas as modalidades: Sistema de Amortização Constante – SAC; a parcela de juros é calculada mensalmente e o saldo devedor não sofre atualização monetária (evolução pela parcela de amortização paga mensalmente) – a prestação de amortização é fixa e a parcela de juros é calculada mensalmente, considerando o último saldo devedor evoluído pelo SAC e a Taxa de Juros vigente. O encargo mensal não é objeto de revisão em decorrência da extrapolação do limite máximo de comprometimento de renda; este é observado apenas no momento da contratação do financiamento. 2.5.1 Construção em Terreno Próprio e Aquisição de Terreno e Construção de imóvel residencial ou comercial Nessa modalidade, o limite mínimo de financiamento para construção de imóvel residencial é de R$ 15 mil e para construção de imóvel comercial é de R$ 5,1 mil. A cota máxima de financiamento para imóvel residencial é de 60% e para imóvel comercial é de 50% da avaliação pela Caixa do imóvel considerado pronto, ou do somatório do valor do terreno e do valor do orçamento aceito pela Caixa, objeto do pedido de financiamento – 74 limitado à quota estabelecida pelo SIRIC em função da capacidade de pagamento do proponente, e ainda, ao valor do orçamento da obra aceito pela Caixa. O prazo máximo de amortização para construção em terreno próprio ou aquisição de terreno e construção residencial é de 180 meses, e para construção em terreno próprio ou aquisição de terreno e construção comercial é de 72 meses. Quanto à taxa de juros, esta é composta pela TR + 13 % a.a para construção de imóvel residencial, proporcional a 1,083 % a.m., e de TR + 18 % a.a para construção de imóvel comercial, proporcional a 1,5 % a.m. O prazo máximo de construção, tanto para imóveis residenciais quanto para imóveis comerciais é de até 18 meses, contados a partir da data de assinatura do contrato. Nessa modalidade, a Caixa realiza um acompanhamento das obras por meio de vistorias periódicas, que são feitas por profissionais técnicos (engenheiros) do quadro de funcionários, ou por terceirizados. Essas vistorias são exclusivamente para o efeito de medição do andamento da obra e verificação da aplicação dos recursos, sem qualquer responsabilidade técnica pela edificação em si. Nos casos em que for constatada diferença entre o percentual de obra executada e o montante liberado, as demais parcelas ficam condicionadas à regularização da obra, devendo o cliente ser convocado para justificar o atraso e reformular o cronograma físico-financeiro, se for o caso. Essa reformulação do cronograma pode ser efetuada, desde que não extrapole o prazo máximo previsto para a modalidade (o novo cronograma deve ser anexado ao processo). 2.5.2 Reforma e/ou Ampliação de imóvel residencial ou comercial Essa modalidade consiste na concessão de financiamento para reforma e/ou ampliação de imóvel residencial ou comercial de propriedade do proponente. Entende-se como ampliação, obras e serviços que possibilitem melhores condições de habitabilidade e resultem em aumento da área construída do imóvel. Como reforma, entende-se obras e serviços que possibilitem melhores condições de salubridade e segurança, sem ampliação do imóvel. 75 Os recursos são liberados de acordo com o cronograma físico-financeiro da obra, devendo este prever, no mínimo, duas parcelas, devidamente atestado pela área de engenharia da Caixa. Nessa modalidade, o limite mínimo de financiamento para reforma e/ou ampliação de imóvel residencial é de R$ 15 mil e para reforma e/ou ampliação de imóvel comercial é de R$ 10 mil. Não há limite de avaliação do imóvel, seja ele residencial ou comercial. Com relação à cota, para a obtenção do valor máximo de financiamento deve ser aplicado o percentual correspondente sobre o valor da avaliação do imóvel, efetuada pela área de engenharia da Caixa, considerando-se a reforma e/ou a ampliação a ser realizada. Para imóvel residencial a cota é de até 50% e para imóvel comercial de até 40%. Observado o valor máximo definido, pode ser financiado até 100% do orçamento aprovado para a reforma e/ou ampliação, objeto do pedido de financiamento, limitado ainda, à cota definida pelo SIRIC. O prazo máximo de reforma e/ou ampliação, tanto para imóveis residenciais quanto para imóveis comerciais é de 12 meses, contados a partir da data de assinatura do contrato. Já o prazo máximo de amortização do financiamento para imóveis residenciais é de 72 meses e para imóveis comerciais é de 60 meses. A taxa de juros para reforma e/ou ampliação de imóvel residencial é composta pela TR capitalizada ao cupom de 15,5% a.a, que é proporcional a 1,3% a.m; e para reforma e/ou ampliação de imóvel comercial é composta pela TR capitalizada ao cupom de 18,0% a.a, proporcional a 1,5% a.m. Também nessa modalidade, a Caixa realiza um acompanhamento das obras por meio de vistorias periódicas, feitas por engenheiros da Caixa ou terceirizados. O objetivo das vistorias é a medição do andamento da obra e a verificação da aplicação dos recursos, sem qualquer responsabilidade técnica pela edificação em si. O cronograma físico-financeiro da obra pode ser reformulado, desde que não extrapole o prazo máximo previsto para a modalidade. 76 2.5.3 Aquisição de lote urbanizado residencial ou comercial É considerado lote urbanizado aquele dotado de infra-estrutura, assim entendida com vias de acesso, soluções para abastecimento de água, energia elétrica e esgoto pluvial e sanitário. Aqui, o limite mínimo de financiamento para aquisição de lote urbanizado residencial ou comercial é de R$ 15 mil, sendo que não há limite de avaliação do lote. No que diz respeito à cota, considera-se o menor dos valores entre o de compra e venda e o de avaliação do imóvel efetuada pela Caixa, limitada ainda à cota estabelecida pelo SIRIC, em função da capacidade de pagamento do proponente. Para imóvel residencial a cota é de até 50% e para imóvel comercial, de até 40%. O prazo de amortização do financiamento é de até 60 meses. A taxa de juros para aquisição de lote urbanizado residencial é composta pela TR capitalizada ao cupom de 15,5% a.a, que é proporcional a 1,3% a.m; e para aquisição de lote urbanizado comercial é composta pela TR capitalizada ao cupom de 18,0% a.a, proporcional a 1,5% a.m. 77 2.6 A OPERACIONALIZAÇÃO DO PROGRAMA PELA CAIXA Ao iniciar a operação, a Caixa informa aos proponentes as condições da mesma, solicita os documentos pessoais, os documentos de renda, bem como o preenchimento da Ficha Cadastro Pessoa Física – Habitacional. Entrevista: o passo seguinte é a entrevista, que é realizada na agência concessora do crédito e na qual o proponente é esclarecido sobre as condições, direitos e obrigações decorrentes do financiamento, bem como da importância da adimplência do contrato. A Caixa solicita a pesquisa cadastral dos proponentes – verificação do nível de alçada competente e adimplência do contrato, se for o caso. Avaliação de Risco: a Caixa providencia a avaliação de risco, apuração da renda e da capacidade de pagamento dos proponentes, no Sistema de Avaliação de Risco de Crédito – SIRIC. Em seguida, verifica a aprovação do cadastro pelos Relatório de Avaliação Básica de Crédito para Pessoa Física e Relatório de Avaliação Básica de Crédito para Habitação, ambos emitidos também pelo SIRIC. Avaliação da Garantia e Análise Jurídica: a concessão do financiamento é precedida, obrigatoriamente, da avaliação do imóvel pela área de engenharia (o prazo de validade da avaliação é de 180 dias). Já a análise jurídica consiste no exame da operação sob o aspecto jurídico-legal, especialmente quanto à capacidade e representação das partes, garantia da operação, origem e titularidade do bem recebido em garantia, situação de domínio e prevenção de operações que possam resultar em fraudes à execução ou contra credores. Laudo de Avaliação: a Caixa recebe o Laudo de Avaliação, verifica se o valor avaliado está compatível com as condições do Programa, com o financiamento pretendido, observando as condições de garantia. Reserva Orçamentária: a Caixa efetua a reserva orçamentária e automaticamente emite a Carta de Crédito; em seguida confirma a reserva (o prazo de validade da carta de crédito é de 30 dias, contados a partir da data de sua emissão; é permitida a prorrogação do prazo de validade, desde que a avaliação de risco esteja válida e que seja efetuada nova reserva orçamentária). Logo após, a Caixa entrega aos proponentes a Carta de Crédito e a relação de 78 documentos e formulários. Na seqüência, recebe dos proponentes os documentos solicitados, autenticando-os, e verifica se estão devidamente preenchidos e assinados. Feito isso, providencia então, a pesquisa cadastral dos vendedores. Contratação: no ato da assinatura do contrato, os proponentes devem apresentar o recibo de recolhimento do Imposto de Transmissão de Bens e Imóveis – ITBI. A Caixa recolhe os encargos devidos e recebe os comprovantes para arquivamento no processo. Após a conferência do crédito na conta dos vendedores, a Caixa entrega aos proponentes as condições gerais da Apólice Habitacional e colhe assinatura na declaração de concordância e recebimento. Em seguida, é arquivado no processo, uma via do contrato assinado e com protocolo de entrega das outras vias ao proponente. Levantamento dos Recursos: a Caixa recebe o contrato e a Certidão do cartório competente e confere o registro da alienação fiduciária. Na seqüência, providencia a liberação dos valores creditados sob bloqueio e arquiva os documentos no processo. Para encerrar, finaliza a autuação e encaminha o processo para arquivo. Cobertura Securitária: é necessária autorização prévia da Caixa Seguros para contratação de operação cujos valores de avaliação forem maiores que R$ 700 mil ou valores de financiamento maiores que R$ 300 mil, em função do somatório das operações concedidas ao proponente no crédito imobiliário. 79 Figura 2.1 – Fluxograma – Aquisição de Imóvel – Carta de Crédito Caixa Fonte: VIURB/CAIXA 80 2.7 A INTERRUPÇÃO TEMPORÁRIA – PROBLEMAS COM A FONTE DE RECURSOS No Brasil, existe toda uma regra para as instituições bancárias, definida pelo Banco Central, que relaciona limites de aplicação em financiamento de habitação e saldo de poupança. A fonte inicial de recursos do Programa Carta de Crédito Caixa foi a caderneta de poupança, e historicamente a Caixa estava nesse sentido sobreaplicada, ou seja, estava com as aplicações acima da exigibilidade. Estar acima do que deveria estar aplicando em financiamento habitacional por exigência do Banco Central, significou na prática, que a Caixa estava tendo prejuízo com essa aplicação, pois esse mesmo recurso poderia estar sendo aplicado no mercado financeiro, com uma taxa de juros bem mais elevada, o que logicamente traria uma lucratividade bem maior para a empresa. Na verdade, essa aplicação acima do limite exigido representou uma “queima de resultado” para a instituição. Devido a este fato, no ano de 2001, quando foi feita a reestruturação patrimonial da empresa, o Conselho Diretor tomou a decisão de que a Caixa não mais poderia estar sobreaplicada, e com isso, a linha de financiamento Carta de Crédito Caixa, que utilizava recursos da poupança, foi interrompida por período indeterminado. O que estava claro para o Conselho Diretor, que tomou essa decisão, era que a Caixa não poderia continuar pedindo recursos ao governo federal para se equilibrar economicamente e ao mesmo tempo realizar uma operação que resultava em prejuízo para a empresa – era uma condição que não tinha nenhuma forma de sustentação, ainda sendo a Caixa uma instituição de cunho social. Outra questão que contribuiu decisivamente para a interrupção do Programa Carta de Crédito Caixa foi o fato de ter havido na época uma diminuição considerável nos recursos da caderneta de poupança (de acordo com a ABECIP, não somente na Caixa, mas em grande parte das instituições bancárias). Passou a ser comum saques da poupança para a aplicação em outros investimentos do mercado, como por exemplo, os fundos de renda fixa. Com a retirada de recursos da poupança, o montante total a ser aplicado em financiamento habitacional diminui, pois existe uma relação direta entre o limite de aplicação e o saldo da 81 poupança. Dessa forma, se a Caixa já estava sobreaplicada, a situação ficou ainda mais grave, aumentando a discrepância entre os recursos aplicados e o saldo existente. O que algumas correntes de pensamento dentro da própria Caixa alegam é que a utilização de recursos da caderneta de poupança para financiamento de habitação é problemática devido ao fato da poupança ser uma aplicação de curto prazo e o financiamento habitacional ser uma operação de longo prazo, ou seja, o funding é incompatível para a finalidade a que se propõe. Apesar de todo o exposto acima, no ano de 2003 a Caixa retomou o Programa Carta de Crédito Caixa (que ficou dois anos inativo), porém agora atrelado ao SFI, com uma taxa de juros maior, e utilizando recursos próprios da Caixa (mix funding). Em dezembro de 2005 a Caixa disponibilizou uma nova linha de crédito com recursos da poupança, para operar financiamentos para a classe média, no âmbito do SFH: o Carta de Crédito SBPE (destina-se a pessoas físicas independente da faixa da renda). Os recursos disponíveis para essa nova linha entre novembro de 2005 e dezembro de 2006 são de R$ 2 bilhões. 3. ASPECTOS RELEVANTES DO CC CAIXA E DO MERCADO IMOBILIÁRIO 83 3.1 FINANCIAMENTO PARA AS CLASSES MÉDIA E ALTA – O PÚBLICO ALVO DO CC CAIXA Existe uma parcela mínima da população brasileira cuja renda proporciona a aquisição de imóveis sem a necessidade de recorrência a financiamentos. Já boa parte da classe alta e praticamente a totalidade da classe média, que necessitam financiar a compra de seus imóveis, constituem o público alvo do Programa de financiamento Carta de Crédito Caixa. O financiamento para as classes média e alta está fundamentado nas regras de mercado, com a disponibilização de recursos – a preço de mercado – com vistas ao pleno retorno do capital emprestado, com a ausência de qualquer ordem de subsídios. Cabe dizer que a forma como os financiamentos imobiliários são concedidos difere de acordo com a capacidade de pagamento dos candidatos ao crédito. A classe média alta e a classe alta, que são alvo do Programa CC Caixa, investem em unidades de alto valor ou desejam utilizar o financiamento para compra de outro imóvel. Pode-se dizer que as condições do Programa são atrativas para essas camadas, tanto para uso residencial quanto para utilização não residencial, pois não existe limite de crédito* e a aprovação do candidato é em função da renda e da capacidade de pagamento do comprador. A pretensão da Caixa é alavancar por meio do CC Caixa os financiamentos de imóveis com valor acima de R$ 350 mil, que é o teto máximo para utilização de recursos da Carta de Crédito do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo – SBPE (que não se enquadram no Sistema Financeiro da Habitação – SFH). Como exemplo, cabe dizer que em 2005, dos mais de R$ 752 milhões financiados pela Caixa para habitação no Rio de Janeiro, 10% corresponderam a imóveis com valor acima de R$ 350 mil. Dos R$ 18,7 bilhões destinados à habitação para o ano de 2006 (que são recursos da Caixa, do OGU e do setor privado), R$ 10 bilhões serão provenientes da contribuição da Caixa, maior agente financeiro da habitação no país.1 1 Toda essa soma de investimentos em habitação, em 2006, é cinco vezes superior a tudo que se investiu em 2002 e 44% maior do que o investido em 2005 (os investimentos da Caixa em 2005 foram os maiores da sua história, com a aplicação de mais de R$ 9 bilhões, o maior volume de recursos dos últimos 10 anos). Esse orçamento recorde promete resultados melhores do que os aguardados pelo setor da construção civil, com aquecimento da economia e geração de mais de dois milhões de empregos, diretos e indiretos, em toda a cadeia produtiva. Apenas com os recursos aplicados pela Caixa, a estimativa é gerar 1,2 milhão de empregos. (Fonte: Assessoria de Imprensa da Caixa Econômica Federal). 84 A classe média, que em 2006 ganha uma atenção especial no que se refere ao financiamento habitacional, terá à disposição R$ 8,7 bilhões para financiar habitações, provenientes da Poupança dos bancos públicos e privados. Na Caixa, o aporte da Poupança em 2006 é de R$ 2 bilhões para financiamento habitacional destinado a essa classe. Além disso, estão disponíveis mais de R$ 800 milhões em recursos próprios para esse público financiar a compra de imóveis (Carta de Crédito Caixa) e de material de construção (Carta de Crédito Material de Construção – Construcard). Tabela 3.1 – Desafio da Caixa para habitação em 2006 Crédito Imobiliário – Execução orçamentária – Exercício 2006 – Posição: março/2006 Valores em R$ mil PROGRAMA Orçamento Realizado (Valor) (valor) Realizado (% de utilização do valor) Recursos FGTS, PSH e outros 5.800.000 106.641 35 Recursos FAR 1.268.000 8.482 22 Recursos FDS 100.000 624 7 70.000 2.052 30 2.785.000 20.849 31 Recursos FAT Recursos CAIXA OGU – Repasse TOTAL 38.431 0 0 10.061.431 138.648 32 Fonte: VIURB/SUHAB/SUSAN/SUREP/CAIXA Como ilustração, mostramos a seguir um exemplo de fluxograma sobre a modelagem da cadeia produtiva da construção civil – produção habitacional, na qual o consumidor final está caracterizado em classes sociais, sendo estas: Alta renda Média alta renda Média baixa renda Baixa renda Insumos consumidor final Setor de Produção Preço de custo comercialização Alta renda Materiais Básicos Privada Imobiliária Média alta renda Produção Privada Componentes Média baixa renda Produção Estatal Estatal (Cohab,CDHU) Elementos e Subsistemas Baixa renda Autoconstrução Figura 3.1 – Modelagem da Cadeia Produtiva da Construção Civil – produção e comercialização de unidades habitacionais Fonte: Estudo prospectivo da Cadeia Produtiva da Construção Civil no Brasil: produção e comercialização de unidades habitacionais – artigo ENTAC 2002 3.1.1 Análise de risco de crédito dos candidatos a financiamento O objetivo da Avaliação de Risco de Crédito Pessoa Física é avaliar o risco de crédito do cliente e da operação pretendida para concessão de crédito nas áreas comercial e habitacional. Na Caixa, as avaliações de risco de crédito e de operação de crédito* são feitas no Sistema de Risco de Crédito – SIRIC. O SIRIC avalia a Pessoa Física para mensurar o risco para contratação de crédito. A avaliação da operação tem a finalidade de apurar o risco da operação e a garantia oferecida para fins de aprovisionamento do crédito. A capacidade de pagamento e o conceito apurado pelo SIRIC não determinam a efetivação da contratação do crédito, sendo que o concessor – Caixa – observa criteriosamente, os limites máximos e mínimos a serem contratados, além dos procedimentos operacionais normatizados pelo gestor do produto. A Caixa trata as informações de modo sigiloso e com discrição, de forma a não expor, indevidamente, sua própria imagem e a de seus clientes. No Programa Carta de Crédito Caixa, bem como nos outros programas de financiamento habitacional é obrigatória a realização de entrevista com o cliente para fins de avaliação de risco de crédito. É necessária a identificação apropriada dos clientes, para conhecer o registro de suas transações, a origem e legitimidade de seus recursos, e verificar a compatibilidade entre a sua renda/faturamento e as suas movimentações financeiras, reconhecendo dessa forma, possíveis condutas e atividades suspeitas. É obrigatório na avaliação de risco de crédito o preenchimento da Ficha Cadastro, cujas informações são conferidas com os documentos originais obrigatórios e respectivos documentos de comprovação de renda. Para avaliação do risco de crédito são consideradas a “Renda Comprovada” e a “Renda Não Comprovada”. A apuração de renda, comprovada ou não, é efetuada por meio de documentos hábeis, classificados como básicos e alternativos,1 podendo ser exigido um documento básico e, na falta desse, no mínimo dois alternativos, se houver. 1 São exemplos de documentos básicos: CTPS devidamente atualizada, documentos comprobatórios do Imposto de Renda, declaração do empregador, contra-cheques de remuneração mensal, extrato semestral emitido pelo INSS, DARF ou “Carnê Leão”, extrato de aplicação em instituições financeiras, entre outros. Até o limite de 5 salários mínimos é admitida a comprovação de renda por meio de declaração do respectivo sindicato, que ateste 87 A Caixa efetua a apuração da Renda de acordo com o tipo de Renda declarada – comprovada ou não comprovada, e nos casos em que o cliente comprovar mais de uma renda, a apuração é feita separadamente. O tempo mínimo de renda exigido para operar com a Caixa é de 120 dias, consecutivos ou não, podendo ser computado o tempo de emprego anterior, desde que o intervalo entre o anterior e o atual seja inferior a 12 meses. A Renda Comprovada Bruta é composta dos créditos recebidos a título de remuneração pelo exercício de atividade econômica. A Renda Comprovada Líquida é meramente informativa, podendo ser informada na Ficha Cadastro o valor do salário líquido mensal do último contracheque apresentado. Com relação à apuração da Renda Não Comprovada, é realizada entrevista, direcionada e criteriosa, onde o proponente/participante presta informações e apresenta documentos que evidenciem a atividade exercida e compromissos e/ou movimentação financeira compatíveis com as declarações prestadas, e documentos básicos para análise de crédito para operações no âmbito habitacional. Os documentos adicionais apresentados, como extratos bancários, faturas de cartões e pagamento de contas devem ser analisados para verificar a relação entre a renda informada e a movimentação financeira. A renda obtida na atividade informal corresponde à receita obtida menos as despesas necessárias ao exercício da atividade. A aceitação da renda não comprovada está condicionada à ratificação das informações prestadas, por meio da referência pessoal (que é informada na Ficha Cadastro). É importante salientar que a atividade informal exercida por período inferior a 12 meses terá tratamento diferenciado pelo SIRIC, que aplicará redutor não linear de até 25% no cálculo da renda não comprovada. ser a renda originária do exercício da profissão e prova de que o interessado está vinculado ao mesmo sindicato há no mínimo 1 ano. São exemplos de documentos alternativos: GR-FGTS, com a respectiva relação de empregados, extrato do FGTS, RAIS, guia de recolhimento de contribuição sindical dos empregados, cópia da folha de pagamento dos empregados, notas fiscais de venda, contrato de locação e arrendamento, Livro Caixa, Livro Diário, Recibos de Pagamentos de Autônomos – RPA, comprovante de recolhimento do ISS, comprovante de imposto sobre serviço descontado na fonte (fornecido pela firma locadora de serviços), contrato social e certidão atualizada da junta comercial/declaração de firma individual, declaração de empresa (quando se tratar de sociedade), guia de recolhimento do INSS referente ao Pró-Labore dos sócios, extrato de conta bancária comprovando crédito do salário, entre outros. 88 No que diz respeito às pesquisas cadastrais e de relacionamento com a Caixa, estas são feitas automaticamente pelo SIRIC, exceto às referentes ao SCR, que devem ser informadas manualmente, pela própria Caixa, após consulta àqueles cadastros. A pesquisa cadastral é composta pela verificação da existência de registro do CPF avaliado nos cadastros restritivos de crédito internos e externos.2 Além das pesquisas cadastrais e de relacionamento, é feita pelo SIRIC, de forma on-line, consulta ao SIAPC no momento da avaliação do cliente e da operação de crédito.3 As metodologias aplicadas à apuração de risco de crédito são determinadas a partir de estudos específicos para cada produto de crédito. Na avaliação de risco de crédito para as operações do Programa Carta de Crédito Caixa é utilizada a metodologia de Credit Score4 (modelo de avaliação de perfil). O chamado “Credit Score” é um modelo estatístico (americano) para a decisão quanto à aceitação de proponentes a um crédito, quer clientes novos, quer já clientes. Em cada fórmula utilizada são atribuídos, estatisticamente, pesos (pontos) aos atributos das características e o somatório dos pesos é chamado de score total. Cada score (ou classe de scores) corresponde a uma probabilidade de sinistro no período de previsão. Esse modelo efetua automaticamente a avaliação. Na prática, o modelo de Credit Score compara as características do proponente ao financiamento com as características referentes aos perfis de bons e maus pagadores e fornece uma nota (score). A nota fornecida pelo modelo de Credit Score indicará, de acordo com a 2 Os cadastros externos são: SERASA (Centralização de Serviços dos Bancos S/A), CADIN (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal), SCR (Sistema de Informações de Crédito do Banco Central do Brasil). Os cadastros internos são: SINAD, CONRES (Cadastro Informativo de Pessoas Físicas e Jurídicas com relacionamento com a Caixa). 3 No CC Caixa, assim como em todos os programas de financiamento habitacional da Caixa Econômica Federal, a avaliação de risco de crédito dos candidatos a financiamento é individual, de acordo com a renda do proponente (pretenso mutuário) e das pessoas que compõem o seu grupo familiar (cônjuge, filhos). Porém, existem casos, como em algumas operações de financiamento habitacional da África do Sul, em que as avaliações são coletivas, ou seja, financia-se um empreendimento com várias unidades habitacionais, e avalia-se o grupo como um todo, que dá a garantia para os membros individualmente. 4 Não só a Caixa, mas a grande maioria dos bancos trabalha, hoje em dia, com o sistema de avaliação americano de Credit Score, que nada mais é do que um modelo estatístico de seleção de candidatos a crédito, utilizado para selecionar clientes pessoas físicas e pré-aprovar linhas de crédito, facilitando dessa forma decisões mais seguras. Trata-se, fundamentalmente, de levantar situações passadas e, através de tratamento matemático, encontrar um modelo consistente que torne possível a tomada de decisões para o futuro de curto prazo. 89 pontuação, um maior ou menor risco de crédito para o proponente ao crédito. Essa mesma nota determinará o conceito do cliente, disponível no relatório de avaliação. A metodologia do Credit Score utilizada para avaliação de risco dos contratos do CC Caixa é baseada na experiência da carteira da própria Instituição (através do histórico de bons e maus pagadores). Na Caixa, o Credit Score, que é uma análise discriminante usada como instrumento de concessão de crédito para pessoa física, tem como base uma amostra de fichas cadastrais de seus clientes com histórico conhecido, que foi estudada e separada em dois grupos: o grupo considerado “bom” e o grupo que foi considerado “mau”. Após ser definido pela Caixa o conceito de bom e mau (ou, mais exatamente, o “tipo de cliente que é interessante para a Instituição obter ou conservar, e o tipo de cliente com o qual não se quer trabalhar), a Caixa estudou cada grupo de acordo com suas características de idade, renda, propriedades, situação profissional, etc., de forma a obter o seu perfil. Isto feito, montou-se um modelo estatístico (através de análise discriminante), que torna possível a tomada de decisões de crédito mais objetivas, num modelo consistente, mais aderentes à política de crédito da empresa e, comprovadamente, de menor risco do que as obtidas com os métodos tradicionais. Cabe ressaltar, que na análise do cálculo de risco, o SIRIC ainda não utiliza critérios de ordem urbanista, tais como localização do imóvel (bairro, cidade, município), distribuição de investimentos na cidade, caracterização da região e do entorno (quanto a usos predominantes, infra-estrutura urbana, serviços públicos e comunitários), liquidez do imóvel no mercado imobiliário local (se é afetada por fatores significativamente valorizantes ou não), condições de estabilidade e habitabilidade do imóvel, entre outros. Esses aspectos somente são observados no processo de avaliação do imóvel, para subsidiar as operações de crédito. Ou seja, a problemática urbana (como a valorização e desvalorização urbana) ainda não está incorporada nos modelos de cálculo de risco. As avaliações de risco de crédito são solicitadas pelos pontos de venda (agências da Caixa), após a digitação e a homologação dos dados da Ficha Cadastro no SIRIC. No geral, a avaliação de risco de crédito habitacional, incluindo o CC Caixa, envolve a avaliação do grupo habitacional constituído pelo proponente, participante (s) e dos respectivos cônjuges. Essa avaliação é precedida de entrevista – fase preliminar à realização da operação de crédito. 90 O processo de crédito é composto das seguintes etapas: entrevista, avaliação de risco do tomador/grupo familiar, avaliação de risco da operação e contratação. Essas etapas se interrelacionam, ou seja, cada uma sofre a influência das anteriores, tendo, com ponto de partida, a entrevista. É com base na entrevista que os modelos estatísticos de credit score, inseridos no SIRIC, definem o perfil e a capacidade de pagamento do proponente ao crédito. Sendo assim, pode-se afirmar que a entrevista é um instrumento primordial para a qualificação do risco de crédito das operações de crédito. A política de limites para operações habitacionais considera a renda bruta do tomador, participante (s) e grupo (s) familiar (es). O fluxo financeiro do grupo é determinado a partir da renda total menos as despesas apuradas, que resulta na renda final para habitação. São deduzidos da renda final para habitação os compromissos apurados, resultando no fluxo financeiro final. A esta renda é aplicado o percentual definido pelo gestor do produto (no caso do CC Caixa 30%) para verificar o comprometimento máximo para o produto em questão. A prestação a contratar é determinada então pelo menor valor entre o fluxo financeiro final e o comprometimento máximo para o produto. As informações sobre o resultado da avaliação são emitidas mediante relatórios de avaliação de risco de crédito, que expressam: Resultado “Aceito” ou “Não aceito” Prestação máxima a contratar Cota do financiamento habitacional Registros sobre operações contratadas Registros cadastrais identificados na pesquisa automática e manual Registro do conceito no SIAPC O resultado da avaliação não é suficiente para autorizar a contratação do crédito, devendo serem obedecidas as determinações normativas do CC Caixa e o regime de alçadas*. A Caixa pode efetuar uma reavaliação de clientes independentemente do resultado da avaliação anterior. Para reavaliações, devem ser observados as ocorrências, os relacionamentos e os quadros de valores que são passíveis de alterações. 91 Nas avaliações de operações para habitação pode ser utilizado o Critério Julgamental*. É de responsabilidade do Comitê de Crédito e Renegociação* do PV (Ponto de Venda) a seleção dos casos para serem submetidos ao Critério Julgamental e do Comitê de Crédito e Renegociação do EN (Escritório de Negócios) a análise e a aprovação, ou não, de avaliações pelo Critério Julgamental encaminhadas pelo PV. Não é permitida avaliação pelo critério julgamental ao cliente cujo motivo da reprovação seja: Restrição cadastral Histórico de inadimplência com a Caixa Incapacidade de pagamento Existência de contrato de renegociação com a Caixa em situação de ativo A contratação de uma operação de crédito habitacional é precedida da avaliação da operação, que tem seu conceito determinado com base no conceito do candidato, aliado à garantia oferecida. Cabe enfatizar que os valores referentes ao imóvel, ao financiamento pretendido e à prestação, (de acordo com a simulação no sistema), devem estar devidamente definidos, pois subsidiarão a avaliação de risco de crédito da proposta no âmbito do CC Caixa. Uma pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado do Rio de Janeiro – CRECI – em 2004, apurou que a insuficiência de renda é o principal motivo de rejeição de pedidos de financiamento imobiliário feitos aos bancos.5 Ela somou 50,81% das respostas na consulta. O segundo motivo de rejeição do crédito — 30,27% das respostas — foi problemas com a documentação do imóvel e dos compradores e vendedores. Em terceiro lugar aparece a restrição de crédito, 7,57%, e em quarto, a idade dos interessados no financiamento, com 3,24% do total. Outros motivos somaram 8,11% das respostas. 5 Os bancos que participaram da pesquisa do Creci foram a Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú, Unibanco, Banco Real/ABN e Santander. 92 3,24% 8,11% 7,57% 50,8% 30,27% Insuficiência de renda Problemas de documentação (do imóvel, dos compradores ou dos vendedores) Restrição de crédito Idade dos interessados ao financiamento Outros motivos Gráfico 3.1 – Motivos de Rejeição de Solicitações de financiamentos imobiliários Fonte: Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Rio de Janeiro – CRECI/RJ, 2004 Cabe enfatizar que todas as medidas tomadas pela Caixa na análise de crédito dos candidatos a financiamento, são com vistas à reduzir o risco de inadimplência dos créditos concedidos. Sumariamente, risco significa incerteza, imponderável, imprevisível, e estes (a incerteza, a imponderabilidade e a imprevisibilidade) situam-se, necessária e unicamente, no futuro. Assim, embora a análise de crédito deva lidar com eventos passados do tomador de empréstimos (a análise histórica), as decisões de crédito devem considerar primordialmente o futuro desse mesmo tomador. O risco situa-se no futuro; no passado, encontra-se apenas história; história relevante ao extremo, é bem verdade, mas apenas história... (SCHRINCKEL, 1995) 93 A Caixa, que adota instrumentos na concessão do crédito que utilizam desde o simples preenchimento de cadastro do cliente até a avaliação do contrato pelo departamento jurídico, busca aprimoramento e segurança da Instituição, com vistas ao retorno dos recursos emprestados, trazendo garantia e segurança a seus poupadores e correntistas. Compatibilizar indexadores e mecanismos que mantenham a capacidade de pagamento dos financiamentos concedidos, aliado a uma diversificação do portfólio de aplicações e o combate à inadimplência, são fatores essenciais para se manterem condições de alocações de recursos em um maior número de financiamentos habitacionais. 3.1.2 O risco de inadimplência e as possibilidades de ocorrência de pré-pagamentos Desde a implementação do Plano Real, em 1994, o País passou a conviver com uma elevação do índice de inadimplência em todos os setores da economia nacional. A população, já habituada a índices de inflação acima dos 1.000% anuais, começou a conviver com uma economia estável, com inflação abaixo dos 20% ao ano. Foi necessário então, uma adaptação à nova realidade: não existem mais os reajustes mensais de salário e nem as aplicações bancárias de over-night, open-market, onde era possível proteger, de certa forma, os salários da inflação, por meio da compra de títulos públicos federais, que davam lastro ao Governo Federal para rolar a dívida pública interna. Dentro dessa nova realidade econômica, a sociedade brasileira teve que se acostumar com um salário sem alterações mensais indexadas pela inflação e passou a contar com um orçamento doméstico fixo (sem a “ilusão” da inflação) e com despesas que teoricamente deveriam ser totalmente pagas com o mesmo. O risco de inadimplência pode ser definido como o risco de perda pela incapacidade de pagamento do tomador de um empréstimo, contraparte de um contrato ou emissor de um título. A principal causa da inadimplência no Brasil está relacionada à instabilidade macroeconômica do país. Pode-se afirmar que a partir de 1994 institucionalizou-se a inadimplência no Brasil. Nessa época, o Banco Central criou normas de renegociação de dívidas, tamanha a crise que se instalou pela falta de pagamento nos mais diversos setores da economia brasileira. 94 “O cliente que queria pagar seus compromissos em dia, se os atrasasse, poderia renegociar com taxas menores. O próprio Banco Central criou condições para renegociação com privilégios de prazos e de taxas.” (GRANEMANN, 2001) Na Caixa, principalmente na área de habitação, com seus contratos já extremamente desequilibrados financeiramente, a inadimplência também aumentou (segundo declarações da própria instituição). O Governo Federal editou uma Medida Provisória, oferecendo desconto para quitação do financiamento da casa própria, de modo a minimizar estes desequilíbrios financeiros, originados por vários planos econômicos, implementados em governos anteriores. Para a Caixa (Boletim da Caixa, Fatos de um Ano Positivo, 1999), essa Medida Provisória proporcionou, além da liquidação de contratos desequilibrados financeiramente, uma nova injeção de recursos no mercado. A quitação antecipada ou a renegociação dos contratos habitacionais foram oferecidas aos mutuários, durante todo o ano, com descontos, variando de 10% a 90% do saldo devedor. Uma oferta que atraiu 209 mil famílias, cujos acordos permitiram converter R$ 1,5 bilhão para novos fundos habitacionais e lançar novos programas. (Boletim da Caixa, 1999) O elevado custo de crédito em geral, principalmente de crédito habitacional, resulta em parte, do alto risco de inadimplência dos devedores. Quanto maior o risco da inadimplência de crédito maior o seu custo, formando, assim, um círculo vicioso entre a alta estrutura de custo e o risco de crédito.6 Os juros cobrados nas operações de crédito são compostos de várias parcelas. Uma parte destes juros remunera os aplicadores na instituição financeira. Outra parte remunera a instituição financeira que faz a intermediação, seus custos e também seu lucro. Por fim, uma terceira parte serve para cobrir o risco de inadimplência da operação, ou seja, o risco de que parte dos devedores não vai honrar seus compromissos. Quanto maior o risco de inadimplência, maior será a taxa de juros, para compensar as perdas (ou seja, existe uma “socialização dos riscos”, feita através das altas taxas de juros praticadas nos contratos de financiamento). 6 O aumento do volume de crédito deve ser acompanhado pelo aumento médio da renda, sendo que caso contrário, o risco de inadimplência torna-se maior. 95 Uma outra definição de risco de crédito aborda não a taxa de inadimplência absoluta, mas a variabilidade das taxas de inadimplência relativa à taxa de inadimplência esperada em um determinado produto. Utiliza-se essa definição porque a taxa de juros já estaria ajustada para a taxa de inadimplência esperada. O risco de crédito sofre influência de eventos específicos relacionados a determinados setores econômicos e/ou das condições econômicas; diminui durante um período de expansão econômica, mantendo a taxa de inadimplência baixa, enquanto aumenta durante períodos de recessão econômica, tornando mais difícil o pagamento dos empréstimos. Em uma operação de financiamento imobiliário – neste caso, do CC Caixa – é essencial a análise dos diversos componentes que afetam a probabilidade de inadimplência do mutuário, daí, a extrema importância de uma análise de risco de crédito dos candidatos a financiamento baseada em critérios bem definidos. A forma de amortização do financiamento é um fator que tem influência direta na inadimplência do mutuário. No Sistema de Amortização Constante – SAC, que é utilizado atualmente no CC Caixa, os pagamentos são calculados de forma que, a cada prestação, o valor amortizado seja constante, quitando a dívida no último período. Nesse caso, como o montante amortizado é constante, o principal vai diminuindo uniformemente até a exaustão total da dívida. Assim, o risco de inadimplência no SAC é menor do que em um financiamento baseado na Tabela Price, caracterizado por uma amortização mais lenta no início do período, quando o principal é maior, fazendo com que o pagamento de juros ocupe grande parte do valor da prestação, seguido de uma elevação constante da amortização com o passar do tempo.7 7 No Sistema de Amortização Constante (SAC) as parcelas são iguais entre si. Os juros são calculados a cada período, multiplicando-se a taxa de juros contratada pelo saldo devedor existente no período anterior. Nesse sistema, o credor exige a devolução do principal em “ ”parcelas iguais, incidindo os juros sobre o saldo devedor. Na Tabela Price (também conhecida como “Sistema Francês”) as prestações são iguais e calculadas de tal modo que uma parte paga os juros e a outra parte paga o principal da dívida. A dívida fica completamente saldada na última prestação. Nesse sistema, o mutuário obriga-se a devolver o principal mais os juros em prestações iguais entre si e periódicas. As prestações são constantes e a parcela de juros decresce com o tempo, ao passo que a parcela de amortização aumenta com o tempo, de forma exponencial. É importante que o tomador do empréstimo saiba como calcular a prestação, para tomar conhecimento do que está pagando de juros, bem como o valor do principal da dívida cobrada. A Caixa atualmente, utiliza em seus programas de financiamento habitacional a Tabela Price e o SAC, sendo que no Programa Carta de Crédito Caixa – objeto desse estudo – só é utilizado o SAC. 96 Na tentativa de tornar mais fácil o acesso aos financiamentos imobiliários e diminuir o risco de inadimplência, os bancos que trabalham com crédito imobiliário solicitaram ao Governo que os futuros mutuários possam descontar as parcelas do financiamento direto na folha de pagamento (o chamado crédito consignado);8 projeto este que ainda encontra-se em estudo. As argumentações favoráveis são que além da diminuição da inadimplência, a compra de um imóvel com crédito consignado pode alongar os prazos de pagamento e até diminuir os juros para o consumidor. A Caixa já opera o desconto em folha para financiamentos no âmbito do CC Caixa (bem como para financiamentos de outros programas habitacionais). Esse procedimento é feito apenas com empresas que fecharam acordos de até 15 anos com o banco, para prestação de vários serviços. São empresas públicas e privadas que participam do Programa Caixa Trabalhador. O prazo de amortização também é um fator relevante no que diz respeito à inadimplência. O pagamento de amortizações aumenta o montante despendido no imóvel, reduzindo a possibilidade de inadimplência. Desta forma, contratos de financiamento imobiliário com prazo maior apresentam maiores probabilidades de perdas, devido ao fato de apresentarem perfis de amortização mais lentos. (VALPASSOS, 2003). Nesse contexto, outro elemento que deve ser citado diz respeito à utilização do imóvel. O mutuário que mora no imóvel financiado tem menos incentivo a ficar inadimplente, caso em que perderia sua própria residência (principalmente quando a garantia utilizada é a Alienação Fiduciária, como no CC Caixa), do que aquele que o usa como objeto de investimento ou outros fins. Ainda com relação à inadimplência, o valor da propriedade é um fator de peso, pois a probabilidade de inadimplência está diretamente relacionada ao preço do imóvel.9 Isso decorre do fato de que o mercado para imóveis muito caros é limitado e, portanto, sua revenda 8 Segundo o SECOVI-SP mesmo sem o crédito consignado é cada vez maior o número de mutuários que paga as parcelas em dia. 9 A própria inadimplência, ocorrida de forma explosiva em meados da década de 80, foi o resultado do aumento do comprometimento de renda dos compradores, gerado pelas sucessivas tentativas de adaptar o sistema à dinâmica especulativa de produção. 97 pode se tornar mais complexa em ambientes econômicos adversos, gerando dificuldades ao mutuário, e conseqüentemente ao investidor. (VALPASSOS, 2003). Considerando todas as modalidades do Programa Carta de Crédito Caixa, detectamos que dos contratos atualmente em vigência, de um total de 116.506 contratos, 12.582 estão em atraso acima de 60 dias (o que representa 10,8% do total) e 9.793 estão em atraso acima de 90 dias (o equivalente a 8,41% dos contratos).10 É importante dizer que os recursos utilizados nos financiamentos do CC Caixa são finitos, e para não desequilibrar o sistema de concessão de créditos imobiliários, é de extrema importância o retorno desses recursos emprestados, para que os mesmos possam ser novamente injetados na economia na forma de novos financiamentos.11 Ou seja, o aumento do problema da inadimplência pode inviabilizar novos financiamentos para a aquisição da casa própria por várias outras famílias. Dessa forma, a falta de pagamentos dos atuais financiamentos imobiliários acaba por impossibilitar a Instituição repor novos recursos nesse mercado. “A qualidade das garantias tem sido um dos problemas mais agudos na área de crédito imobiliário, em que a inadimplência é elevada e o número de ações é expresso em centenas de milhares.” (ABECIP, 2001) Com relação à ocorrência de pré-pagamentos, a Lei 9.514, que rege o SFI, veda a possibilidade de proibir pagamentos antecipados da dívida,12 porém ela permite que sejam aplicadas penalidades ao mutuário em casos de pré-pagamentos. Isso porque o pagamento 10 Somente a título de comparação, analisando todas as modalidades dos Programas do FGTS, dos 1.066.043 de contratos em vigência, 110.126 estão inadimplentes acima de 60 dias (10,33%) e 78.957 estão inadimplentes acima de 90 dias (7,41%). Concluímos que, comparando-se os programas que utilizam recursos CAIXA (recurso mais oneroso) e FGTS, no que diz respeito à inadimplência, o comportamento dos contratos é semelhante. 11 A Caixa criou, a partir de 1999, Gerências de Recuperação de Ativos (GIRAT), que são gestoras do processo de cobrança de inadimplência dos créditos concedidos pela Empresa. Essa Gerência possui analistas especializados em cobrança de ativos que são responsáveis pelo acompanhamento das empresas contratadas pela Caixa para executar os servi;os de cobrança. Tal Gerência também é responsável pela recuperação dos créditos inadimplentes e pelo planejamento de ações e atitudes corretivas de créditos inadimplentes. 12 “O crédito imobiliário caucionado poderá ser substituído por outro crédito da mesma natureza por iniciativa do emitente da Letra de Crédito Imobiliário, nos casos de liquidação ou vencimento antecipados do crédito, ou por solicitação justificada do credor da letra.” (Art. 4º, § 2º - Medida Provisória 2.223, de 4 de setembro de 2001) 98 antecipado da dívida pode representar perdas ao investidor/financiador (há casos em que o rendimento no prazo pré-estabelecido é maior que o montante pago pelo mutuário). No âmbito do CC Caixa, a apuração do valor para liquidação antecipada* da dívida é composta pelo saldo devedor acrescido dos juros remuneratórios referentes ao período compreendido entre a data de assinatura do contrato ou da última atualização contratual, se já ocorrida, e a data do evento, adicionado de eventuais débitos em atraso. Pode ocorrer também, a realização de amortizações extraordinárias para a redução do prazo de financiamento ou do valor dos encargos*. O abatimento do montante oferecido para amortização deve ser precedido da cobrança de juros remuneratórios.13 Dentro do Programa Carta de Crédito Caixa, os novos valores dos encargos mensais e/ou prazo remanescente resultantes da amortização extraordinária são apurados em função do saldo devedor já amortizado, da taxa de juros, do sistema de amortização e do prazo remanescente, não se interrompendo a contagem do período para efeito de recálculo do encargo mensal. Analisando-se o CC Caixa, nota-se que nessa linha de crédito os principais aspectos na determinação da probabilidade da ocorrência de pré-pagamentos são referentes tanto a aspectos individuais, pouco relacionados a aspectos do mercado financeiro (tais como transferência de trabalho, compra de uma residência mais cara, entre outros), quanto a aspectos gerais da economia, tais como as variáveis macroeconômicas relevantes e a taxa de juros. Cabe dizer que a maior taxa de pré-pagamentos é decorrente de aspectos gerais do setor econômico.14 13 O valor do financiamento será restituído à Caixa, acrescido dos juros remuneratórios cobrados à seguinte taxa: TR + 18 a.a., nominal proporcional a 1,5% a.m. 14 Segundo a SUHAB – Superintendência Nacional de Habitação, da Caixa Econômica Federal. Tabela 3.2 – Inadimplência CC Caixa – Total país 3.2 A INFLUÊNCIA DO MERCADO SECUNDÁRIO O mercado secundário de imóveis é extremamente importante na análise de um programa de financiamento imobiliário, posto que uma parte considerável das aquisições de imóveis residenciais depende da venda ou do repasse do financiamento do imóvel anterior, que será substituído. Como exemplo, podemos afirmar que famílias com rendimento entre 10 e 20 salários mínimos são totalmente dependentes do financiamento e só vão para outro imóvel quando sentem segurança de que poderão investir sem terem problemas de inadimplência futuros.1 Além disso, a alimentação do ciclo de valorização fundiária-imobiliária (que baseia-se em um sistema de financiamento que viabilize o acesso a imóveis com valores cada vez mais altos) depende em parte da liquidez do mercado secundário de imóveis.2 As transações que ocorrem nesse mercado necessitam, em tese, que haja um encontro de interesses. Segundo a Medida Provisória 252, a “MP do Bem” (que entrou em vigor em janeiro de 2006), cujos dispositivos buscam incrementar o mercado imobiliário e incentivar a formação da poupança de longo prazo – no que diz respeito às mudanças para o setor imobiliário e da construção civil – o contribuinte que vender o imóvel para comprar outro terá isenção de Imposto de Renda sobre o lucro imobiliário, desde que a transação seja feita em 180 dias. O intervalo para que este benefício seja usado é de cinco anos entre uma transação e outra. Na prática, isso significa que o consumidor que deseja vender o imóvel e comprar outro terá 15% a mais (o percentual que seria deduzido do Imposto de Renda) para comprar uma nova casa ou apartamento. A mudança, na verdade, é um retorno ao que era aplicado como regra até 1988 e foi modificado pelas oscilações da economia. É interessante dizer que a efetiva implementação da securitização de créditos imobiliários e as limitações para a participação de investidores institucionais em imóveis e incorporações tendem a fazer com que o mercado secundário seja a forma mais segura e adequada para 1 Fonte: Caixa Econômica Federal O Sistema Financeiro da Habitação – SFI , criado em 1997 através da Lei 9.514 estabeleceu as bases formais para um mercado secundário de crédito imobiliário, com o objetivo de dar liquidez ao sistema, até então dependente das captações em caderneta de poupança e de repasses de fundos geridos pelo governo. Entretanto, o mercado secundário de crédito imobiliário no Brasil ainda não se estabeleceu de forma sólida - o que continua limitando a liquidez no mercado primário – e os ganhos vinculados à provisão de recursos para esse segmento não são muito observados (COSTA, 2004). 2 101 viabilizar o aporte de recursos necessários para os grandes projetos imobiliários, garantida a rentabilidade e a liquidez exigida por esse segmento. Quanto ao mercado secundário de imóveis propriamente dito, pode-se afirmar que desde 2002 este passou a receber aplicações de uma parte do dinheiro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS. Nesse mercado, empresas compram empréstimos e hipotecas imobiliários e revendem a investidores como bancos e fundos de pensão. Nesse mesmo ano a Caixa firmou um acordo com a Companhia Brasileira de Securitização CIBRASEC, através do qual a CIBRASEC passou a assumir milhões de reais em empréstimos liberados pela Caixa, para pessoas que compraram a casa própria através de financiamentos. Segundo os termos desse Acordo, a CIBRASEC ficou responsável por R$ 58 milhões (em financiamentos habitacionais operacionalizados pela Caixa), provenientes de 1.876 contratos com prazos de amortização de 15 anos. Com isso, a CIBRASEC passa a ser a responsável pelo recebimento dos empréstimos concedidos aos mutuários. A empresa transforma as dívidas dos mutuários em papéis, os Certificados de Recebíveis Imobiliários – CRIs*, e revende os títulos ao FGTS. Isso significa que nesses casos a Caixa passa a receber à vista recursos que seus clientes levariam 15 anos para pagar. A grande vantagem desse sistema é que não é necessário esperar o pagamento dos financiamentos pelos mutuários para a abertura de créditos para outras pessoas. Esse acordo firmado entre a Caixa e a CIBRASEC beneficia vários programas de financiamento habitacional da Caixa, e em especial aqueles voltados para as classes média e alta, como o Programa Carta de Crédito Caixa. Isto ocorre devido ao fato das respectivas operações estarem atreladas a um maior volume de recursos, que retornam à Instituição em um período de tempo mais curto, facilitando as possibilidades de novas contratações. Destacamos por fim, que o desenvolvimento de instituições de mercado secundário apoiadas pelos Governos, assim como um ordenamento jurídico de regulamentação para a securitização contribuem para a ampliação do acesso a novas fontes de recursos para financiamento imobiliário. 102 3.3 O EFEITO DA DINÂMICA ECONÔMICA SOBRE O PROGRAMA CC CAIXA A evidência empírica hoje disponível indica que os ciclos mais longos de crescimento econômico, em geral, são decorrentes de aumentos iniciais da eficiência econômica, muitas vezes conseqüência de reformas institucionais, que resultam em aumentos da produtividade como um todo, da renda e da taxa de retorno das decisões de investimento, induzindo, posteriormente, aumentos na taxa de investimento na economia. Essa caracterização é consistente com a realidade brasileira, que indica a causalidade da taxa de crescimento econômico e da produtividade no país para a taxa de investimento, desencadeando o círculo virtuoso de crescimento econômico. O crescimento estimula as decisões de investimento, enquanto a estabilidade econômica permite que pessoas e empresas se concentrem em planos de médio e longo prazos. Deve-se aproveitar a estabilização macroeconômica e a retomada do nível de produção para adotar políticas ativas de estímulo ao aumento da produtividade, à difusão de novas tecnologias, ao desenvolvimento institucional do mercado de crédito, ao investimento em infraestrutura e de incentivo ao empreendedorismo, de modo a garantir sólidos fundamentos para que nossa economia possa iniciar um ciclo longo de crescimento econômico. (SECRETARIA DE POLÍTICA ECONÔMICA - MF, 2004) Na área de crédito em geral, as medidas decorrentes do crescimento econômico devem objetivar o desenvolvimento de novos instrumentos para aprimorar o financiamento privado e o sistema de securitização, além de buscar o aperfeiçoamento dos instrumentos já existentes e criar condições para a queda das taxas de juros de mercado. Nesse contexto, vale lembrar que um fator que também teve sua parcela de contribuição para o crescimento econômico recente foi a desoneração da poupança de longo prazo, que promove a redução dos custos do investimento e incentiva a formação de fontes de financiamento para prazos mais longos. Além disso, foram reduzidos os impostos e contribuições sobre o mercado de capitais e instrumentos de securitização, com destaque para a construção civil. 103 Deve-se objetivar não apenas a redução do custo do novo investimento, mas também o custo do seu financiamento, assim como estimular a formação de poupança de prazo longo e, portanto, aumentar a taxa de crescimento do produto potencial da nossa economia. (SECRETARIA DE POLÍTICA ECONÔMICA - MF, 2004) Ao longo dos últimos anos, pode-se observar no Brasil um expressivo avanço na modernização do mercado de crédito, inclusive o imobiliário – em grande parte acompanhando os avanços tecnológicos da última década – bem como da estrutura de fiscalização e supervisão bancária; entretanto, ainda há muito que avançar. No mercado brasileiro, um dos fatores mais evidentes que justificam o baixo volume e o elevado custo do crédito são os longos e onerosos processos de execução das garantias e ressarcimento de dívidas, prevalecendo, inclusive, a incerteza se após esses processos as dívidas serão ou não pagas.3 No crédito imobiliário, esse problema foi atacado com a introdução da Alienação Fiduciária de Bens Imóveis – que teve início com o SFI. É evidente a influência da dinâmica da economia sobre o mercado de imóveis4 e conseqüentemente sobre as operações de financiamento imobiliário. O Programa Carta de Crédito Caixa é uma linha de financiamento bastante suscetível às mudanças na economia do País. Com a implantação do Plano Real, o Sistema Financeiro Nacional teve que se adaptar à nova realidade, ou seja, um novo processo de estabilização da economia. Acostumados com inflação alta, onde as principais receitas vinham do “float” e elevados “spreads”, os bancos passaram por profundas modificações. O mercado os obrigou a um redimensionamento e criatividade para buscar novas fontes de receitas. Nesse contexto, foi criado o Programa Carta de Crédito Caixa. 3 Naturalmente, os maus pagadores representam uma parcela menor do universo dos mutuários. Contudo, na ausência de informações que permitam, antes da concessão de crédito, diferenciar os bons dos maus pagadores, os primeiros acabam sendo penalizados, problema que é conhecido na literatura econômica como seleção adversa. (VICRE – Vice-presidência de Crédito da Caixa Econômica Federal) 4 Como exemplo, podemos citar que no ciclo expansivo de 1985/87 ocorreu aumento da área média das unidades concomitantemente com o aumento do preço do metro quadrado. Este fenômeno sucedeu em várias cidades do País, tendo como base os efeitos do Plano Cruzado que, além de gerar um crescimento da massa salarial, tornou atrativo o investimento imobiliário frente aos outros ativos para um conjunto de capitais sobrantes que circulam na economia. (RIBEIRO, 1996) 104 Desde a sua criação até a sua interrupção temporária, o CC Caixa sofreu modificações em sua formatação, em função principalmente, do cenário econômico existente no Brasil. Por exemplo, o limite máximo de financiamento do imóvel, que anteriormente não existia, passou a ser de R$ 500 mil, caindo para R$ 180 mil em meados de 2000. Além disso, houve também uma redução progressiva na quota de financiamento dos imóveis (tabela 2.4). Essas mudanças ocorreram principalmente devido a fortes pressões de setores da economia, como o setor da construção civil, cuja demanda e oferta para a classe média é maior do que para a classe alta. Outra mudança significativa no CC Caixa decorrente dos rumos do sistema econômico foi a passagem do SFH para o SFI, visando com essa modificação, um aumento considerável no número de contratações de financiamentos. Além disso, com a introdução da Alienação Fiduciária como garantia dos contratos, era também esperado uma redução nos casos de inadimplência. A principal causa da interrupção do CC Caixa em 2001 foi a regra (decorrente do sistema econômico vigente) definida pelo Banco Central, para que as instituições bancárias obedecessem uma relação entre limites de aplicação em financiamento de habitação e saldo de caderneta de poupança. A Caixa estava com problemas de sobreaplicação, e se aplicasse os recursos do CC Caixa no mercado financeiro, por exemplo, teria uma lucratividade bastante superior, devido à taxa de juros bem mais elevada. Esse é um claro exemplo da forte influência que a dinâmica econômica exerce sobre o Programa. Com a reativação do Programa em 2003, após um período de interrupção (a classe média estava com poucas opções para financiar o imóvel próprio, devido ao fechamento de várias linhas de crédito habitacional para esse segmento), sua formatação havia sido modificada em vários aspectos: limites e quotas de financiamento, sistema de amortização e taxa de juros. Essa nova formatação, que levava em consideração os parâmetros da economia na época, não foi bem vista pelo mercado, e em junho de 2004 novas alterações foram necessárias. No final desse mesmo ano ainda foram feitos alguns ajustes, que ainda estão em vigência no período atual (tabela 2.4). Quanto à mudança do sistema de amortização – do SACRE para o SAC – podemos dizer que o SACRE consiste numa variação do SAC, do qual retirou-se a razão de decréscimo, mantendo-se as prestações constantes, aumentando-se a parcela de amortização, ou seja, de 105 retorno do capital investido, por força da redução da parcela relativa aos juros sobre o saldo devedor. Ou seja, a adoção do SAC pelo CC Caixa significa portanto, que as parcelas passam a ser iguais entre si, e os juros calculados a cada período (multiplicando-se a taxa de juros contratada pelo saldo devedor existente no período anterior). Quando o CC Caixa foi reativado, a idéia era reduzir o custo do financiamento e aumentar o acesso ao crédito, principalmente, através da introdução de novos instrumentos no mercado de crédito, mais modernos, eficientes e juridicamente mais seguros. Destacam-se os instrumentos de securitização de créditos, que contribuem para o desenvolvimento de uma fonte importante de captação de recursos ainda não amplamente utilizada na nossa economia, que é o mercado de capitais. Quanto às mais recentes medidas econômicas relacionadas à construção civil, destacam-se a criação de novos instrumentos de crédito e regimes tributários adequados às suas características setoriais, reduzindo o custo do financiamento de produção e investimento.5 Foram adotadas medidas tendo por objetivo reduzir a insegurança dos mutuários e a incidência tributária sobre a compra ou financiamento de novas residências. A forte retração do crédito do setor imobiliário, observada desde o começo dos anos noventa, decorreu de mecanismos de financiamento inapropriados e da adoção de planos econômicos e mudanças legais que resultaram em desequilíbrios nos contratos de financiamentos habitacionais. Esse quadro agravou-se pela elevação do nível de inadimplência das carteiras, interrupção dos fluxos de pagamento em função de inúmeras ações na Justiça e ainda pela dificuldade na retomada das garantias vinculadas aos financiamentos. A nova formatação do Programa Carta de Crédito Caixa foi uma resposta à dinâmica da economia, cuja gestão macroeconômica preconizava um maior comprometimento com o fomento ao mercado imobiliário no País. O objetivo principal era a adoção de medidas para estimular o desenvolvimento do financiamento privado na construção civil, por meio da 5 A Lei nº 10.931/2004 desenvolveu e aperfeiçoou os instrumentos de financiamento e securitização no segmento imobiliário. O setor da construção civil apresenta grande importância para a economia nacional, por várias razões, dentre as quais destacam-se aqui apenas duas: (i) pelo lado da demanda, devido ao seu efeito na redução do déficit habitacional brasileiro, e (ii) pelo lado da oferta, devido ao peso expressivo do setor, que responde por 21% da indústria brasileira e apresenta significativa capacidade de geração de empregos. 106 introdução e aperfeiçoamento dos instrumentos de crédito e securitização, a melhoria da segurança jurídica para mutuários e financiadores, e um regime tributário mais eficiente. Algumas medidas de aperfeiçoamento legal e institucional que colaboram para o desenvolvimento do mercado de crédito imobiliário de forma sustentável e que permitem a canalização de novos recursos privados para o financiamento habitacional são: Patrimônio de Afetação,6 Títulos de Securitização de Créditos do Setor Imobiliário, Carta Garantia*. Todos eles, decorrentes de decisões relacionadas às prioridades da gestão econômica, estão devidamente contemplados no CC Caixa. Nas últimas duas décadas houve no âmbito do SBPE um predomínio de queda significativa nas unidades contratadas, refletindo uma diminuição continuada das disponibilidades ofertadas pela caderneta de poupança. Mais recentemente, algumas medidas governamentais de estímulo ao funcionamento mais ativo do SBPE em direção ao crédito imobiliário e a perspectiva de que a remuneração das cadernetas pode se tornar mais atraente em função de previsíveis quedas na taxa de juros de referência, acabaram por resultar num crescimento das captações nesse ativo e num aumento visível nas operações de financiamento imobiliário.7 Uma nova linha de crédito voltada para a classe média, fundamentada em recursos da caderneta de poupança e baseada no SFI, passou a ser disponibilizada pela Caixa em dezembro de 2005 – a Carta de Crédito SBPE – CC SBPE. Essa linha estará aberta até dezembro de 2006 e sua grande vantagem é a taxa de juros aplicada, de 10 a 12% ao ano, variando de acordo com o prazo de pagamento. Sem dúvida alguma, o CC SBPE provoca um impacto no CC Caixa, pois o público alvo é semelhante, e suas condições são mais atrativas. No entanto, ele só afeta parte do Programa, pois nele existe um limite máximo de valor venal do imóvel, que é de R$ 350 mil e um limite máximo de financiamento, que é de R$ 245 mil. Ou seja, imóveis que necessitem de uma 6 A Lei nº 10.931/2004 atribui maior segurança jurídica e eficiência econômica ao financiamento imobiliário, mediante instrumentos como o Patrimônio de Afetação de incorporações imobiliárias, a Letra de Crédito Imobiliário e a Cédula de Crédito Imobiliário. 7 As fontes de recursos para o Subsistema de Mercado estão baseadas na captação via cadernetas de poupança e demais instrumentos de atração de investidores institucionais e pessoas físicas, tais como os relacionados ao fortalecimento e ampliação da presença no mercado de capitais dos títulos securitizados lastreados em recebíveis imobiliários, e outras modalidades. 107 parcela de financiamento maior ou que sejam avaliados em valores superiores a R$ 350 mil não podem ser financiados pelo CC SBPE, enquanto que no CC Caixa não existe restrição dessa natureza. O que se pode apreender com essa breve reflexão é que existe uma estreita relação entre o setor imobiliário, a dinâmica econômica e o mercado financeiro; sendo que ocorrências em um deles acabam por gerar impactos nos demais, desencadeando mudanças significativas, que podem ser decisivas para o bom andamento ou não dos mesmos. “Os efeitos da política econômico-financeira, que freqüentemente alternam orientações expansivas e recessivas, geram conjunturas de entrada e saída de capitais na produção habitacional e no mercado imobiliário.” (RIBEIRO, 1996) “(...) a ação de fatores macroeconômicos tem suplantado quaisquer eventuais particularidades locais na determinação do comportamento dos mercados imobiliários das grandes cidades brasileiras.” (LEAL, 1992) 108 3.4 O FINANCIAMENTO DE IMÓVEIS NOVOS E USADOS - EXISTEM DIFERENÇAS? É considerado imóvel novo aquele que não tenha sido transacionado anteriormente e nunca tenha sido habitado. É considerado imóvel usado aquele que já tenha sido transacionado ou ocupado anteriormente. O mercado imobiliário funciona como um complexo interligado em que os imóveis usados, mais baratos que os novos de condições semelhantes, são uma opção natural de compra inicial e/ou de troca de endereço por espaço, fornecendo os recursos a quem já possui casa própria para dar o passo adiante, usualmente de aquisição de imóvel novo e maior porte. “A indústria imobiliária funciona como a indústria automobilística: há consumidores que não têm carro e que precisam de financiamento integral para comprar o seu primeiro veículo, e há os que têm automóvel, mas só conseguem trocá-lo por um zero quilômetro porque há financiamento para os interessados em comprar os usados” (JOSÉ AUGUSTO VIANA NETO, presidente do Creci/SP, 2004) De acordo com informações da Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBIC, para o setor da construção civil as políticas públicas recentes não priorizam a construção de imóveis novos. Segundo empresários do setor houve um excessivo direcionamento dos financiamentos habitacionais à aquisição de materiais de construção, imóveis usados, lotes urbanos, reforma e ampliação. Na análise da CBIC, isso prejudicou o financiamento da produção de imóveis novos, fato este que não ajuda a diminuir o déficit habitacional, nem a criar mais empregos e renda na economia brasileira. Podemos dizer entretanto, que na verdade, sem a venda de imóveis usados mais baratos são paralisadas todas as operações subseqüentes de um universo muito maior. Um mercado inerte não gera impostos, e deixa de absorver mão-de-obra não especializada – acaba inclusive, gerando demissões. Por outro lado, segundo o Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo – Creci/SP, a mecânica natural do mercado (venda de um imóvel usado para a compra de um imóvel novo) foi durante muito tempo distorcida pelo privilégio que se dava ao financiamento de imóveis novos. 109 Segundo o Creci/SP essa distorção contribuiu para o encolhimento do mercado como um todo, eliminado o direito de escolha dos compradores (que sem crédito para o usado, eram forçados a comprar os novos) e criando uma reserva de mercado para os empreendedores que conseguiam acesso ao financiamento bancário para repassar aos compradores finais. A recente decisão do governo de aumentar o percentual de recursos vinculados a créditos do FCVS — Fundo de Compensação das Variações Salariais — que os bancos têm de aplicar no financiamento imobiliário só deverá ter efeito, e reduzido, em nichos do mercado de imóveis novos, mas não resolverá o problema da indústria habitacional como um todo porque deixa de fora os usados e não estende o crédito a 100% do valor de venda do imóvel (JOSÉ AUGUSTO VIANA NETO, presidente do Creci/SP, 2004) Em 2001, o governo decidiu em reunião do Conselho Monetário Nacional – CMN, ampliar para os candidatos a mutuário de um imóvel usado os benefícios do pacote habitacional anunciado em janeiro/01 dentro do Sistema Financeiro de Habitação – SFH para imóveis novos. Em janeiro, havia sido autorizado para empreendimentos novos o aumento de R$ 300 mil para R$ 350 mil no valor máximo do imóvel a ser financiado, ajustando os valores do SFH aos preços de mercado, e a elevação de R$ 150 mil para R$ 245 mil do valor máximo de financiamento de imóveis pelo SFH. A decisão do governo foi embasada na dinâmica do mercado. Para estimular os empréstimos do SFH a taxas inferiores ao teto permitido (12% ao ano), o CMN autorizou que não fosse cumprida a exigibilidade de aplicação nesta modalidade de 65% dos depósitos da poupança. A contrapartida era que houvesse crescimento no volume de empréstimos do conjunto dos bancos pelo SFH a cada trimestre. Ao final do ano (2001), a meta de expansão havia sido alcançada. No âmbito do Programa Carta de Crédito Caixa, ao compararmos as contratações de imóveis novos e usados no Brasil, temos que: no período analisado (de 1996 a 2006), somente em 2001 (ano no final do qual foi interrompida a linha para aquisição de imóveis) o número de contratos de imóveis novos foi superior ao de imóveis usados.8 Conseqüentemente, o volume 8 Vale colocar aqui que, curiosamente, justamente em 2001, ano em que as contratações de imóveis novos superaram a contratação de imóveis usados (no âmbito do CC Caixa), o governo em reunião do CMN decidiu ampliar para mutuários de imóveis usados os benefícios do pacote habitacional anunciado em janeiro/01 dentro do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) para imóveis novos. Nesse ano, o Programa CC Caixa já trabalhava 110 de recursos (valor total dos contratos) também foi durante esse período de análise maior para as contratações de imóveis usados (com exceção de 2001). Quanto ao custo médio por unidade, este sofreu oscilação ao longo do período, sendo que de 1996 a 1998 o custo do imóvel usado ficou maior. Em 1999, o maior custo ficou com o imóvel novo, em 2000 voltou para o imóvel usado, em 2001 novamente o imóvel novo, em 2002 imóvel usado (não houve contratações de imóveis novos nesse ano), e a partir de 2003, o custo do imóvel novo permanece mais elevado. Cabe ressaltar que em 2002 não houve nenhum contrato de imóveis novos. As contratações de imóveis usados que foram feitas nesse ano já tinham iniciado seu processo (tramitação/negocição) no ano anterior. Quanto à população beneficiada, o quadro é semelhante ao do número de contratos efetivados, o que é bastante coerente: ou seja, somente em 2001 a população beneficiada por imóveis novos foi maior do que a beneficiada por imóveis usados. Os preços praticados nas transações com o estoque habitacional (imóveis novos e usados) fornecem o parâmetro que determina o fluxo de produção de novas habitações ou o nível da atividade de edificação. As diferenças entre os preços do estoque e os custos de produção de imóveis novos definem o patamar de rentabilidade vigente no setor, orientando, portanto, o volume de investimentos. (LEAL, 1992) com o Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), portanto o pacote anunciado que beneficiava as operações de financiamento de imóveis usados, nada afetou as contratações no âmbito do CC Caixa. Tabela 3.3 – Imóvel novo e usado – CC Caixa – Total país 3.5 UMA COMPARAÇÃO DO CC CAIXA COM OS PROGRAMAS SIMILARES DO MERCADO Em meados da década de 90, a estabilização monetária no Brasil fez com que o grau de incerteza do mercado se reduzisse, e as operações de crédito a prazos maiores – como os financiamentos imobiliários – foram facilitadas. O controle inflacionário contribuiu para a redução dos efeitos da crise econômica sobre a produção imobiliária empresarial e o setor habitacional passou por uma reestruturação. A Caixa retomou com mais força os financiamentos habitacionais e os bancos privados intensificaram os investimentos no setor imobiliário. Atualmente vários bancos privados trabalham com linhas de crédito via Sistema Financeiro da Habitação – SFH abertas para a classe média. A participação dos bancos privados nesse nicho do mercado vem sendo ampliada: por exemplo, de R$ 3 bilhões em 2004 para R$ 4,5 bilhões em 2005. O que se pode afirmar é que quanto mais agentes atuando nesse mercado melhor para o consumidor. A Caixa opera hoje em financiamentos habitacionais, com juros que variam de 6 % a 12,5 % ao ano, mais TR, de acordo com o programa utilizado. A taxa de 12,5 %, que é a mais cara, é a taxa cobrada nos contratos do Programa Carta de Crédito Caixa. Está em estudo, pela equipe gestora, uma proposta para reduzir a taxa de juros, sob a justificativa de que a Caixa precisa ficar mais competitiva, devido ao fato de algumas instituições bancárias privadas oferecerem taxas reduzidas no crédito imobiliário para programas semelhantes. Entretanto, cabe ressaltar que não somente a taxa de juros deve ser observada nas comparações entre linhas de crédito similares, mas também as taxas de administração e os seguros devem ser computados, pois tudo isso tem impacto nas prestações. Alguns bancos privados aceitam inclusive, negociar as condições de crédito com o candidato a mutuário, se o mesmo já mantiver algum tipo de relacionamento com o banco. É que de acordo com o relacionamento que se tem com um banco, é possível obter condições diferentes das oferecidas no portfólio de produtos, desde a isenção de taxas até a redução de juros. A maioria dos programas do mercado similares ao CC Caixa operam pelo SFI. Embora a Caixa no âmbito do SFH já tenha emprestado mais do que captado em recursos, foi criado na 113 própria Caixa em novembro de 2005 a Carta de Crédito SBPE (justamente para ampliar a competitividade da Caixa nas classes média e alta), que não deixa de ser um concorrente do CC Caixa. Como a Caixa financia imóveis novos e usados e é o maior operador desse tipo de crédito no mercado imobiliário brasileiro, a Carta de Crédito Caixa é bastante conhecida – tanto pelos mutuários quanto pelos bancos privados que trabalham com financiamento habitacional. Uma pesquisa feita pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo – Creci/SP – em 2005, sobre as instituições que trabalham com crédito habitacional, apurou que o Banco Itaú (segundo maior banco privado do País) aparece com quase o dobro de citações do Bradesco, que é o primeiro no ranking (após a Caixa), entre as instituições que os corretores de imóveis sabem que concedem financiamento para a compra da casa própria. Na pergunta “além da Caixa Econômica Federal, que outros bancos você conhece que estão concedendo financiamento imobiliário?”, o Itaú totalizou 26,54% das respostas e o Bradesco, 15,21%. O terceiro banco mais citado foi o Unibanco, com 13,59%. Os outros dois bancos de grande porte que aparecem na seqüência foram o Real/ABN, com 10,03% das respostas, e o Santander/Banespa, com 8,41%. A Caixa concentra 85,2% dos financiamentos habitacionais concedidos no país, ficando os demais bancos com 14,8%.1 Entre os bancos que financiam imóveis usados, a maioria (25,27%) opta por conceder aos compradores financiamento equivalente a 70% do valor do imóvel desejado. O financiamento de 60% do valor foi citado por 20,88% dos corretores consultados na pesquisa Creci, e 15,38% mencionaram o financiamento de 50% do imóvel. Apenas 3,3% dos corretores consultados disseram ter conhecimento de bancos que financiam até 80% do valor de venda dos imóveis usados. Comparando a Carta de Crédito Caixa com programas de financiamento similares de outros bancos, o CC Caixa é o que tem o prazo mais longo do mercado (20 anos, enquanto a média é 15) e também o maior percentual de financiamento (80% contra 70% dos demais agentes). Cabe dizer, que quanto mais longo o prazo, mais juro se paga. 1 Segundo os dados da pesquisa realizada pelo Creci/SP, em fevereiro de 2005. 114 T 100 80 60 85,2% 40 20 14,8% 0 CAIXA Outros bancos Gráfico 3.2 – Total de financiamentos habitacionais concedidos no Brasil Fonte: Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo – CRECI/SP, 2004 Bancos 30 25 20 15 26,54% 10 15,21% 13,59% 10,03% 5 8,41% 0 Itaú Bradesco Unibanco Real/ABN Santander/Banespa Gráfico 3.3 – Bancos conhecidos como concessores de financiamento imobiliário Fonte: Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo – CRECI/SP, 2004 115 A decisão pelo percentual do imóvel a ser financiado está diretamente relacionada ao valor da prestação que será paga. Normalmente, o mutuário do Programa Carta de Crédito Caixa faz a opção de financiar o máximo possível (a prestação será maior quanto maior for o valor financiado). A medida em que o valor financiado é maior e a taxa de juros é aplicada sobre o saldo devedor, o mutuário pagará juros na mesma proporção; maior o valor financiado, maiores os juros incidentes sobre o mesmo. Simulações Os resultados obtidos a partir dos mesmos dados para diversos programas de bancos diferentes representam apenas uma simulação e não valem como proposta, pois estão sujeitos a alterações de acordo com a apuração da capacidade de pagamento e à aprovação da análise de risco a ser efetuada pelas respectivas instituições. Poderá haver alteração das taxas, dos prazos e demais condições, de acordo com a época em que forem feitas as consultas. Tabela 3.4 – Linhas de Crédito Habitacional CAIXA Programa Modalidade Comprometimento renda Porcentagem financiamento Prazo financiamento máximo Sistema de amortização Sistema de financiamento Garantia Bradesco Real Unibanco Itaú HSBC Santander Carta de Crédito Crédito Imobiliário Crédito Imobiliário Crédito Imobiliário Crédito Imobiliário Crédito Imobiliário Super Casa 10 Caixa Bradesco Real Unibanco Itaú HSBC aquisição de imóvel aquisição de imóvel aquisição de imóvel aquisição de imóvel aquisição de imóvel taxa de mercado aquisição de imóvel residencial residencial residencial residencial residencial residencial residencial no máximo 30% no máximo 25% no máximo 25% no máximo 25% no máximo 25% no máximo 25% no máximo 27% até 80% do valor do até 70% do valor do até 70% do valor do até 70% do valor do até 60% do valor do até 70% do valor do até 70% do valor do imóvel imóvel imóvel imóvel imóvel imóvel imóvel até 240 meses até 180 meses até 180 meses até 180 meses até 180 meses até 180 meses até 180 meses SAC SAC SAC SAC SAC SAC SAC SFI SFI SFI SFI SFI SFI SFI alienação fiduciária alienação fiduciária alienação fiduciária alienação fiduciária alienação fiduciária alienação fiduciária alienação fiduciária 12,50% 13,00% 13,00% 12,80% 12,80% 13,00% 13,00% Renda familiar (em R$) 15.000,00 15.000,00 15.000,00 15.000,00 15.000,00 15.000,00 15.000,00 Valor do imóvel (em R$) 380.000,00 380.000,00 380.000,00 380.000,00 380.000,00 380.000,00 380.000,00 Valor da operação (em R$) 200.000,00 200.000,00 200.000,00 200.000,00 200.000,00 200.000,00 200.000,00 180 meses 180 meses 180 meses 180 meses 180 meses 180 meses 180 meses 3.868,89 3.202,06 3.299,24 3.249,40 3.265,92 3.374,29 3.345,93 Taxa de juros (a.a.) Prazo de financiamento Seguro + TOM Valor prestação mensal (em R$) Fonte: Bancos pesquisados Posição: fev/2006 A seguir, apresentamos algumas simulações de evoluções de supostos contratos no âmbito do CC Caixa. A planilha a seguir permite simular essas evoluções, disponibilizando para alterações a data de nascimento do mutuário, o valor do imóvel, o valor do financiamento pretendido, o prazo de financiamento, a projeção da TR e a operação desejada (cabe ressaltar que a TR utilizada na simulação é projetada e os valores são ajustados à medida em que o governo faça a divulgação do índice). Apresentamos na Tabela 3.5 três simulações diferentes, para um mutuário de 31 anos que financiará parte de um imóvel no valor de R$ 380 mil, em um prazo de 240 meses (20 anos), com uma TR projetada de 0,19% a.m: na primeira simulação o valor a ser financiado é de R$ 250 mil, na segunda de R$ 275 mil e na terceira de R$ 300 mil. Tabela 3.5 – Simulador de Evolução Contrato CC Caixa 119 120 3.6 OS FINANCIAMENTOS DIRETOS COM AS INCORPORADORAS - UM PROBLEMA? As incorporadoras passaram a financiar (com maior intensidade) imóveis diretamente para os compradores, sem intermédio bancário, devido ao encolhimento do sistema formal de financiamento imobiliário, que causou uma grande desintermediação financeira do setor. Isto ocorreu entre meados das décadas de 80 e 90, período em que os financiamentos públicos para habitação foram praticamente suspensos, e houve uma forte retração na produção de novas moradias, inclusive para as classes média e alta. Numa tentativa de contornar a crise instaurada, as incorporadoras passaram a oferecer financiamento direto aos seus compradores, através do parcelamento do preço de venda dos imóveis – em alguns casos, foram utilizados modelos de autofinanciamento baseado em consórcios. Essa alternativa, que surgiu de forma contida e de certo modo sem muita credibilidade, ao longo do tempo passou a ocupar um espaço relevante no mercado imobiliário (embora a lógica da incorporação imobiliária promova altos custos sociais, ao elevar o preço dos imóveis). Durante muito tempo existiu uma lacuna no mercado para a classe média alta, pois os recursos disponíveis para o financiamento de imóveis a partir de R$ 350 mil não eram suficientes para atender a todos os clientes. Esse fato fez com que a grande maioria dos clientes que compram imóveis novos financiasse diretamente com os incorporadores. “Hoje não existe efetivamente um mercado imobiliário no Rio de Janeiro, já que mais da metade da oferta tem preço superior a R$ 350 mil, e isso atinge no máximo 5% da população”. (MÁRCIO FORTES, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário – Ademi, 2004) Atualmente, grande parte das construtoras/incorporadoras que financiam seus imóveis diretamente ao consumidor, já o fazem antes mesmo do início da obra. Alguns empreendimentos são totalmente vendidos assim que lançados, ou seja, bem antes da entrega das unidades.1 1 Note-se que o custo da terra não fica definido no momento da negociação do terreno, pois irá depender das condições de realização do empreendimento (por exemplo, preço e velocidade de venda das unidades). Os terrenos são negociados com base no preço vigente da habitação. O incorporador corre o risco de flutuações na diferença entre o preço da habitação e o custo de construção durante o período entre a aquisição do terreno e a 122 A justificativa para tal procedimento é que o imóvel na planta pode ser comprado por um preço inferior ao do imóvel pronto, pois além do risco, leva-se em consideração o tempo de construção. Normalmente, quando os imóveis são financiados na planta, utiliza-se o INCC (Índice Nacional do Custo da Construção - FGV) como índice de correção das parcelas até a conclusão da obra. Após a conclusão, faz-se a migração do INCC para outro índice como o IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado - FGV) ou o IGP-DI (Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna - FGV). Além da correção pelo INCC, as incorporadoras costumavam cobrar ainda juros anuais durante o período de construção dos imóveis. Em 2001, o Ministério da Justiça aprovou uma Portaria Ministerial que considera essa cobrança como abusiva; entretanto, ainda hoje existem contratos de financiamento de imóveis na planta que prevêem este tipo de cobrança. A tendência para o ano de 2006 é que haja um aumento nos investimentos no mercado imobiliário. As vantagens de se comprar um imóvel na planta financiado direto com a incorporadora podem ser grandes. Além de não haver mais a cobrança de juros durante a obra (embora ainda existam empresas que utilizem essa prática ilegal), os imóveis na planta têm condições de pagamento cada vez melhores, com longos prazos para prestações. Outra vantagem está na possibilidade de o comprador poder escolher materiais e fazer pequenas mudanças no projeto durante a construção de seu imóvel. Progressivamente os compradores estão perdendo o receio de comprar imóveis na planta, que são indiscutivelmente mais baratos do que imóveis prontos. Segundo empresários do setor, o que falta para esse mercado decolar é a redução da taxa de juros (além é claro, de um maior “refinamento” da adequação dos sistemas de financiamento – a dimensão dos juros e prazos e suas garantias exigidas). No que diz respeito aos imóveis prontos, o financiamento direto com as incorporadoras deixa a desejar com relação ao financiamento bancário. Isso porque sendo o preço do imóvel mais elevado, vale mais a pena financiar através de uma instituição financeira, que normalmente, produção e comercialização do empreendimento. O terreno, freqüentemente, é transacionado por permuta de unidades a construir. Isso diminui em parte o risco do incorporador, mas, por outro lado, torna rígido o custo do terreno. 123 oferece prazos maiores e juros um pouco mais baixos do que os oferecidos pelas incorporadoras em geral. O financiamento direto com a construtora é mais caro. No financiamento bancário, o empreendedor recebe o valor do imóvel à vista, o que aumenta a capacidade construtiva da empresa. Assim, aumenta a oferta, o que certamente vai se refletir no preço, que tende a cair. (ALEXANDRE SOARES, diretor comercial da Habitare Construtora e Incorporadora, 2005). No que se refere aos imóveis em construção, o financiamento direto com as incorporadoras normalmente adota como regra, no tocante à inadimplência, o seguinte: fica estipulado no contrato que a impontualidade de qualquer pagamento por parte do comprador caracteriza a mora de pleno direito, ficando expresso que a ultrapassagem dos dias marcados para os resgates das parcelas componentes do saldo total, determina a incidência de juros de 1% ao mês, e se o pagamento se efetuar além do dia estabelecido para o seu vencimento, se acrescenta a multa de cunho moratório, que é de 10%. Após 20 dias contados da data do vencimento sem que o comprador satisfaça a obrigação poderá a incorporadora promover Interpelação (assegurada por lei) e considerar a rescindido o contrato, com as conseqüências previstas no mesmo. O que podemos depreender é que os financiamentos diretos com as incorporadoras só são competitivos quando se trata de imóveis em construção (embora a análise de risco de crédito tanto para imóveis na planta quanto para imóveis prontos seja menos rigorosa nas incorporadoras). Para imóveis prontos os financiamentos bancários ainda são mais atrativos para os pretensos mutuários. 124 4. O CASO DO RIO DE JANEIRO: uma avaliação do CC Caixa na capital carioca 4.1 ÁREAS ONDE HÁ UMA MAIOR UTILIZAÇÃO DO CC CAIXA A estruturação espacial da cidade do Rio de Janeiro gerou desigualdades de condições de vida entre os territórios da metrópole e segregação residencial, resultados da ação social de grupos sociais específicos, com o objetivo de apropriar a renda real – desigual acesso ao consumo de bens e serviços coletivos, e aos ganhos conseqüentes da valorização imobiliária das áreas dotadas de maiores atrativos.1 No Rio de Janeiro, com a crise do Sistema Financeiro de Habitação – SFH, a produção das grandes empresas tendenciou a se concentrar nas áreas nobres da cidade. Até 1995 pode-se destacar duas tendências marcantes na produção imobiliária empresarial do Rio: a retração da oferta de moradia, e a mudança do padrão dessa oferta com a redução do porte dos empreendimentos e com o aumento do tamanho médio e do preço das unidades lançadas – elitização do mercado imobiliário carioca.2 (LAGO, 2002) A produção de mercado na cidade do Rio de Janeiro até a metade da década de 90, apresentou um perfil de estagnação, pois não se verificam aumentos na produção física e no volume dos investimentos realizados. Ao mesmo tempo, ocorreu significativo crescimento do preço e do tamanho médio das unidades, o que revela um movimento de elitização. (RIBEIRO, 1996) A partir de meados dos anos 90, vários bairros da zona sul carioca começaram a sofrer um processo mais intenso de renovação do seu estoque imobiliário pelas grandes empresas incorporadoras. Pode-se destacar, sobre as tendências do setor de incorporação imobiliária, que o reaquecimento da produção intensificou a renovação do estoque na zona sul – elitização do mercado. Observa-se também uma elitização da população residente em áreas com relevante intervenção do capital imobiliário, responsável por mudanças de uso do espaço. “...verificamos que se produziram imóveis predominantemente destinados aos estratos de alta renda, em zonas da cidade consideradas nobres.” (RIBEIRO, 1996) 1 O caso do Rio de Janeiro pode ser considerado típico do que ocorreu nas grandes cidades brasileiras. Uma importante questão a ser observada é a percepção de que promoveu-se, mais do que a elitização do produto habitacional em si, uma enorme elitização do crédito imobiliário. 2 126 A zona sul do Rio de Janeiro compõe-se de áreas com vantagens em termos de qualidade do solo urbano e de acesso às “amenidades naturais” relacionadas à proximidade da praia e das áreas verdes – situação bastante valorizada na cultura predominante desde os anos 40. “Cabe ressaltar que os preços dos imóveis nessas áreas são elevados e ainda sofrem grande diferenciação em situações específicas de microlocalização.”(LAGO, 2002) Na zona sul, onde estão as áreas mais bem equipadas e mais valorizadas da cidade, encontram-se os grupos sociais de mais alta renda, e ocorrem privilégios quanto aos investimentos públicos, o que provoca e alimenta um ciclo vicioso, cuja tendência é aumentar cada vez mais a desigualdade social na cidade – desigualdade esta que torna-se um mecanismo da questão distributiva. A zona sul da cidade do Rio de Janeiro é hoje uma região onde há uma relativa escassez do solo urbano. De acordo com a permanência ou o aumento dessa escassez, a valorização dos imóveis situados nessa área tende a crescer. A tendência inclusive, é que essa valorização imobiliária seja maior que as dívidas decorrentes do financiamento dos imóveis.3 A oferta de novos imóveis na zona sul do Rio de Janeiro tem seu principal fundamento na lógica da incorporação imobiliária, que promove altos custos sociais, à medida em que eleva os preços desses imóveis.4 O preço dos imóveis nas áreas privilegiadas do Rio de Janeiro – onde estão as camadas da população de maior renda – são superiores à média nacional (quando comparados àqueles de áreas semelhantes em outras metrópoles brasileiras).5 Os imóveis situados na zona sul do Rio de Janeiro estão localizados em uma área que envolve uma expectativa de valorização futura nas próximas décadas, e por isso são vistos como uma 3 Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança - ABECIP Este comportamento no mercado ocorreu juntamente com a mudança na organização de uma parcela dos capitais de incorporação, aos quais aparecem articulados grandes empresas imobiliárias, proprietários de terra e o Estado. Devemos considerar que há hoje uma profunda diferenciação na produção do mercado no Rio de Janeiro, com o surgimento de incorporadores de micro, pequeno, médio e grande porte, que participam de modo desigual na formação da oferta de moradias. A partir da década de 80, ocorreu uma forte tendência ao estabelecimento de submercados na cidade, nos quais encontramos uma distribuição diferenciada dos incorporadores segundo o porte. Se tomarmos a Barra da Tijuca, por exemplo, que se constitui hoje na frente de expansão da produção imobiliária na cidade, encontramos uma estrutura de oferta controlada pelos grandes incorporadores. (RIBEIRO, 1996) 5 Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança - ABECIP 4 127 opção de investimento patrimonial em que a decisão de financiamento (condições e taxas de juros) poderá ser cotejada com o preço esperado no futuro e as outras opções de aplicação em ativos. Assim, as opções de financiamento influenciam o tempo de ocupação e a transformação do solo urbano. As diferentes formas de financiamento são um parâmetro na forma e na temporalidade das mudanças do uso da terra urbana. Na zona sul do Rio de Janeiro há uma maior especulação imobiliária e valorização fundiária, devido à escassez de áreas a serem ocupadas, o que supostamente traz conseqüências específicas para o mercado de imóveis – tanto novos quanto usados. A produção do espaço nessa localidade gera regiões que, devido ao elevado preço do solo urbano só são acessíveis às classes mais altas da população – que têm disponibilidade de comprometer uma parcela maior de recursos na aquisição de imóveis, seja por meio de financiamento (clientes potenciais do Programa Carta de Crédito Caixa) ou não. 128 Tabela 4.1 – Contratos CC Caixa – Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2006 Bairro Barra da Tijuca Copacabana Recreio dos Bandeirantes Jacarepaguá Botafogo Flamengo Ilha do Governador Tijuca Laranjeiras Vila Isabel Leblon São Conrado Ipanema Méier Grajaú Catete Humaitá Lagoa Jardim Botânico Santa Teresa Rio Comprido Gávea Glória Cosme Velho Lins Campo Grande Andaraí Centro Leme Cachambi Maracanã Urca Bonsucesso Penha Bento Ribeiro São Cristóvão Alto da Boa Vista Praça da Bandeira Colégio Estácio Olaria Joá Marechal Hermes Pavuna Santa Cruz Vargem Grande Cidade Nova TOTAL Quantidade contratos 2886 1910 1741 1421 984 953 935 861 697 602 493 475 473 469 412 355 350 339 319 315 311 275 263 228 198 197 179 126 117 101 98 71 69 51 42 36 35 34 33 30 30 23 23 14 13 11 10 19608 em unidades Fonte: CAIXA - SIFOB e SIACI Posição: 31/01/2006 Tabela 4.2 – Contratos CC Caixa por bairro em cada região – Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2006 Contratos CC Caixa Região Zona Norte Ilha do Governador Tijuca Vila Isabel Méier Grajaú Rio Comprido Lins Andaraí Cachambi Maracanã Bonsucesso Penha Bento Ribeiro São Cristóvão Alto da Boa Vista Praça da Bandeira Colégio Estácio Olaria Marechal Hermes Pavuna Fonte: CAIXA - SIFOB e SIACI Posição: 31/01/2006 Quantidade contratos 4563 935 861 602 469 412 311 198 179 101 98 69 51 42 36 35 34 33 30 30 23 14 Região Zona Sul Copacabana Botafogo Flamengo Laranjeiras Leblon São Conrado Ipanema Catete Humaitá Lagoa Jardim Botânico Gávea Glória Cosme Velho Leme Urca Joá Município Rio de Janeiro Quantidade contratos 8325 1910 984 953 697 493 475 473 355 350 339 319 275 263 228 117 71 23 Região Zona Oeste Barra da Tijuca Recreio dos Bandeirantes Jacarepaguá Campo Grande Santa Cruz Vargem Grande 1996 a 2006 Quantidade contratos 6269 2886 1741 1421 197 13 11 Quantidade contratos 451 Área Central Santa Teresa 315 Centro 126 Cidade Nova 10 Região Total de contratos: 19608 quantidade contratos em unidades Analisando as operações de financiamento no âmbito do Programa Carta de Crédito Caixa nos últimos dez anos (a partir de 1996) no município do Rio de Janeiro, observamos que até o final de janeiro de 2006 foram fechados 19.608 (dezenove mil, seiscentos e oito) contratos. Essas contratações foram feitas em 47 bairros da cidade, situados nas zonas norte, sul, oeste e área central, conforme se apresenta:6 Zona Norte: total de 4.563 contratos abrangendo 21 bairros: Ilha do Governador, Tijuca, Vila Isabel, Méier, Grajaú, Rio Comprido, Lins, Andaraí, Cachambi, Maracanã, Bonsucesso, Penha, Bento Ribeiro, São Cristóvão, Alto da Boa Vista, Praça da Bandeira, Colégio, Estácio, Olaria, Marechal Hermes e Pavuna. Zona Sul: total de 8.325 contratos abrangendo 17 bairros: Copacabana, Botafogo, Flamengo, Laranjeiras, Leblon, São Conrado, Ipanema, Catete, Humaitá, Lagoa, Jardim Botânico, Gávea, Glória, Cosme Velho, Leme, Urca e Joá. Zona Oeste: total de 6.259 contratos abrangendo 6 bairros: Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Jacarepaguá, Campo Grande, Santa Cruz e Vargem Grande. Área Central: total de 451 contratos abrangendo 3 bairros: Santa Teresa, Centro e Cidade Nova. A partir desses dados pode-se apreender que, de acordo com o observado anteriormente, a zona sul do Rio aparece como uma região privilegiada, na qual o espaço urbano está acessível para camadas sociais com renda mais elevada. Quase a metade dos contratos firmados durante o período em análise referem-se a imóveis localizados nessa região, embora o número de bairros com contratos CC Caixa na zona norte seja maior que na zona sul. ________________________ 6 A inclusão dos bairros em cada região não foi feita por RAs (Regiões Administrativas – definidas pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro), embora as tenha levado em consideração; e sim por uma classificação meramente geográfica. 131 Após a zona sul, a segunda região que aparece com o maior número de contratos CC Caixa é a zona oeste, mesmo abrangendo somente 6 bairros. Só a Barra da Tijuca7, o Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá (áreas de expansão urbana) representam mais de 30% dos contratos realizados em todo o município. Na seqüência, aparece a zona norte, que embora abranja o maior número de bairros com relação às outras regiões, mostra-se com uma participação pouco expressiva, exceto em cinco dos 21 bairros nos quais foram registradas contratações no âmbito do Programa. Isso remonta à idéia de segregação urbana na cidade, que é decorrente da estruturação espacial existente. Os bairros da zona norte do Rio de Janeiro, que são menos privilegiados no que diz respeito aos investimentos públicos, são compostos na sua maioria (naturalmente, com algumas exceções), por camadas populacionais de rendas mais modestas. O que torna-se compatível com os dados apresentados, já que as contratações do Carta de Crédito Caixa pressupõem, pelas características do Programa, um público alvo com renda mais elevada. A região que aparece com o menor número de contratos é a área central da cidade, com apenas 451 registros em 10 anos. Nessa área, somente o bairro Santa Teresa configura-se como residencial, sendo que nesse bairro o perfil da população é uma classe com rendimentos medianos, não muito voltada para o enquadramento nos padrões do CC Caixa. Pode-se dizer então, que as áreas da cidade do Rio de Janeiro onde há uma maior utilização de operações de financiamento no Programa Carta de Crédito Caixa, são a zona sul8, prioritariamente, juntamente com a Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá (bairros da zona oeste da capital). Segundo um estudo da própria Caixa, nessas mesmas regiões estão também a maior parte dos contratos de financiamento habitacional em programas de bancos privados semelhantes ao CC Caixa. _______________________ 7 “A Barra da Tijuca trata-se de uma região que se caracteriza por uma homogeneidade de renda, concentrando as camadas mais favorecidas da população, e por forte exclusão social. (...) O foco preferencial da ação dos grandes e megaincorporadores na Barra da Tijuca é favorecido pela estrutura fundiária altamente concentrada, que permite ampliar a escala dos empreendimentos, em grandes glebas, possibilitando o planejamento de longo prazo e práticas de lançamentos em etapas. Assim, valoriza-se o empreendimento gradativamente pela internalização do processo de geração de sobrelucros de localização. A existência e a permanência de normas edilícias estáveis é outro fator que favorece essa concentração.” (CARDOSO, 2000) 8 “Os grandes e mega incorporadores atuam preferencialmente na área delimitada pelas RAs do Leblon, de Copacabana, de Botafogo, da Tijuca e da Barra da Tijuca.” (CARDOSO, 2000) 132 A segregação residencial e as desigualdades de condições de vida entre os territórios do Rio de Janeiro resultam da ação dos grupos sociais interessados na apropriação da renda real, entendida como o acesso desigual ao consumo dos bens e serviços coletivos e aos ganhos decorrentes da valorização imobiliária e fundiária dos terrenos mais bem equipados. Como as regiões de maior renda real são as que concentram os segmentos de maior renda monetária, forma-se um processo de causação circular que tende sempre a instaurar e aumentar a desigualdade social na cidade. (RIBEIRO, 2002) 25 20 15 10 5 0 Zona Norte Zona Sul Zona Oeste Área Central Gráfico 4.1 – Número de bairros por região - Contratos CC Caixa – Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2006 Fonte: CAIXA – SIFOB E SIAC, janeiro de 2006 2,5% 23% 32% Zona Norte Zona Sul Zona Oeste Área Central 42,5% Gráfico 4.2 – Contratos CC Caixa – Município do Rio de Janeiro por região – 1996 a 2006 Fonte: CAIXA – SIFOB E SIAC, janeiro de 2006 133 Zona Norte e c Ola r ha l H ia er m es Pa vu na V ist a iro da Bo a Ri be M ar A lto so ha Pe n nt o Be Bo ns uc es Ri o Ca Co m ch a m bi Li ns pr id o ju ca V ila Is ab el Ilh ad o G ov er Ti na do r 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Zona Sul 2500 2000 1500 1000 500 rc a U e ho Le m el eV Co sm La go a a Ca te te ne m Ip a s Le bl on nj ei ra La ra en go am Fl Bo t Co pa c ab an a af og o 0 Zona Oeste 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Barra da Tijuca Recreio dos Bandeirantes Jacarepaguá Campo Grande Santa Cruz Vargem Grande Área Central 350 300 250 200 150 100 50 0 S a nt a Te r e sa Ce nt r o Cida de Nova Gráfico 4.3 – Contratos CC Caixa por bairro em cada região – Município Rio de Janeiro – 1996 a 2006 4.2 AS PREFERÊNCIAS DOS BENEFICIÁRIOS - O PERFIL MÉDIO DOS IMÓVEIS Como já descrito na seção anterior, grande parte dos beneficiários do Programa Carta de Crédito Caixa prefere imóveis localizados em áreas mais nobres da cidade (essencialmente zona sul1 e Barra da Tijuca), regiões mais bem dotadas e mais valorizadas, nas quais estão concentrados os segmentos populacionais de maior renda monetária – o poder social e político que essas classes detêm proporciona-lhes uma vantagem competitiva na disputa pela distribuição espacial não somente dos investimentos públicos na cidade, mas também pela facilidade de acesso a determinados bens e serviços urbanos. Os beneficiários dos imóveis adquiridos por meio do financiamento Carta de Crédito Caixa passam a ter posse de um patrimônio imobiliário de alto valor, que aumenta à medida em que permanece ou aumenta a escassez relativa do solo urbano – o que caracteriza um processo de elitização e de forte investimento imobiliário privado. A Caixa adota uma classificação para o padrão dos imóveis em que opera, que possui seis conceitos diferentes, quais sejam: 1 • Luxo • Alto • Normal/alto • Normal • Normal/baixo • Baixo • Mínimo Segundo LAGO (2002), nos anos 90, alguns bairros da zona sul do Rio de Janeiro, como Ipanema e Leblon, começaram a sofrer um processo mais intenso de renovação do seu estoque imobiliário pelas grandes empresas incorporadoras, com a construção de apartamentos de luxo e edifícios de escritórios. Tabela 4.3 – Padrão CAIXA dos imóveis comercializados – perfil dos imóveis Conceito LUXO Fachadas/Esquadrias Fachadas Granitos e mármores especiais. Projeto diferenciado. Circulação Predial Esquadrias Madeira nobre com veneziana. Alumínio anodizado colorido, perfil largo. Vidro fumê. Pisos Granitos e mármores especiais. Tábua corrida, parquês especiais. Projeto diferenciado. Madeira nobre com Mármore. veneziana. Cerâmica Alumínio anodizado esmaltada especial. perfil largo. Madeira. Vidro fumê. Tapete. Ambientes da unidade Paredes Forros Granitos e mármores Rebaixados especiais. com Projeto diferenciado. madeira/vidro ou gesso trabalhado. Pisos Secos: Tábua corrida, parquês especiais. Molhados: Granitos e mármores especiais. Paredes Secas: Acrílico sobre massa corrida. Molhadas: Granito e mármores especiais. Acessórios: Louças e metais de luxo. Forros Rebaixado com madeira/vidro ou gesso trabalhado. Parcialmente revestidas com granitos e mármores especiais. Rebaixados com gesso ou madeira com acabamentos tipo rodaforro. Secos: Cerâmica esmaltada especial. Molhados: Mármore. Cerâmica esmaltada especial. Rebaixado com gesso ou madeira. Outras pedras. Madeira. Cerâmica Mármore ou outras esmaltada especial. pedras. Cerâmica esmaltada. Cerâmica Acrílico sobre massa esmaltada. corrida. Granitina/Marmorite Papel de parede trabalhada com impermeável. filetes, cores e Tijolinho. rodapé. Carpete. Granitina. Pintura acrílica. Acrílico sobre gesso e rodaforro. Secos: Laminado. Tapete. Molhados: Mármore branco. Cerâmica esmaltada. Secas:: Acrílico sobre massa corrida. Molhadas: Mármore. Cerâmica esmaltada especial. Acessórios: Louças e metais de luxo Secas: PVA sobre massa corrida. Molhadas: Mármore branco. Cerâmica esmaltada. PVA. Secos:: Taco de madeira. Carpete. Molhados: Cerâmica esmaltada (sup.). Secas:: PVA sobre massa corrida. Molhados: Cerâmica esmaltada (sup.). PVA. PVA. Secos: Forração. Molhados: Cerâmica esmaltada (inf.). Secas: PVA sobre reboco. Molhadas: Cerâmica esmaltada (inf.). Acessórios: Louças e metais pad. popular. Secas: PVA sobre emboço. Molhadas: Lajota cerâmica. Acessórios: Louças e metais pad. popular. Secas: Pintura sobre bloco de concreto. Molhadas: Cimentado liso. Acessórios: Acessórios plásticos de banheiro e cozinha. PVA. Sem forro. ALTO Cerâmica. Revestimento parcial com granitos e mármores especiais. NORMAL/ ALTO Revestimento parcial com cerâmica. Concreto aparente. Madeira nobre. Alumínio anodizado perfil médio. Persiana. NORMAL Pintura acrílica simples ou texturizada. Revestimento tipo granilha. Pastilha. Madeira. Alumínio perfil econômico. PVC. Persiana. NORMAL/ BAIXO Pintura PVA sobre reboco. Madeira. PVC. BAIXO Pintura sobre emboço. Aço. PVC. Lajota cerâmica. Cimentado liso. PVA. PVA. Secos: Cimentado liso. Molhados: Lajota cerâmica. MÍNIMO Cal sobre emboço. Pintura sobre bloco de concreto. Aço. Madeira (inf.). Cimentado comum. Cal. Pintura sobre bloco de concreto. Cal. Secos: Cimentado comum. Molhados: Cimentado liso. Fonte: CAIXA – GIDUR/RJ, janeiro de 2006 Acrílico sobre gesso e rodaforro. PVA. Sem forro. Cal. Sem forro. No município do Rio de Janeiro, no âmbito do Programa Carta de Crédito Caixa, encontramos somente operações realizadas com imóveis nos padrões luxo, alto, normal/alto e normal. Essa informação é compatível com a preferência e o perfil dos beneficiários do Programa – extrato social com renda mais elevada. Considerando o município como um todo, o padrão que mais aparece nos imóveis financiados pelo CC Caixa é o Normal, seguido pelo Normal/Alto, depois pelo Alto e por fim, o Luxo, que tem a menor incidência.2 Na zona norte, encontramos 78% dos imóveis contratados com padrão normal, 12% com padrão normal/alto, 8,5% com padrão alto e apenas 1,5% com padrão luxo. Na zona sul, a porcentagem é de 17,5% dos imóveis com padrão normal, 53% com padrão normal/alto, 22% com padrão alto e 7,5% com padrão luxo. Na zona oeste, podemos observar 31% dos imóveis com padrão normal, 44% com padrão normal/alto, 19% com padrão alto e 6% com padrão luxo. Na área central, encontramos um montante de 87% do total de imóveis com padrão normal e 13% com padrão normal/alto. Não foram contratados imóveis com padrões alto e luxo nessa região. Os dados apresentados confirmam a nossa convicção de que os preços dos imóveis são formados pela sua acessibilidade à determinadas maneiras de utilização do espaço, que determinam os preços desse mercado, de acordo com o que a demanda está disposta a pagar – é fato que a demanda do Programa Carta de Crédito Caixa possui disponibilidade de comprometimento de uma parcela maior de recursos na aquisição do seu imóvel. No município do Rio de Janeiro, o alto padrão, que segundo BOTELHO (2005) é o preferido das construtoras e incorporadoras brasileiras, além de ser o segmento que já há alguns anos lidera o mercado imobiliário no país, aparece com maior freqüência na zona sul e em seguida _______________________ 2 Verificar descrição dos padrões na tabela 4.3 137 na zona oeste, embora em ambos os casos seja superado em quantidade pelos imóveis de padrão normal/alto. Outra observação importante, é que no âmbito do CC Caixa, as operações com imóveis de padrão luxo são ainda bastante reduzidas, em relação ao volume total de contratações. Podemos intuir, que imóveis nesse padrão, devido ao seu preço elevado, são adquiridos na maior parte dos casos por uma camada da população cujo nível de renda lhes permite esse tipo de aquisição sem a utilização de financiamentos. A tabela 4.4 (Preços de venda de imóveis no Rio de Janeiro) vem comprovar que o preço dos imóveis nos bairros da zona sul da cidade, bem como na Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes (zona oeste) são bem mais elevados do que imóveis similares em bairros da zona norte. Estes dados são compatíveis com as informações da seção anterior, que apontam os bairros da zona sul como os de maior incidência das contratações de operações de financiamento habitacional no âmbito do Programa Carta de Crédito Caixa. Zona Norte 1,5% 8,5% 12% Luxo Alto Normal/Alto Normal 78% 138 Zona Sul 17,5% 7,5% 22% Luxo Alto Normal/Alto Normal 53% Zona Oeste 6% 31% 19% Luxo Alto Normal/Alto Normal 44% Área Central 13% Luxo Alto Normal/Alto Normal 87% Gráfico 4.4 – Padrão CAIXA dos imóveis CC Caixa por região – Município do Rio de Janeiro – 1996 a 2006 Fonte: CAIXA – SIFOB E SIAC, janeiro de 2006 Tabela 4.4 – Preços de venda de imóveis no Rio de Janeiro em R$ 1 QUARTO 2 QUARTOS 3 QUARTOS 4 QUARTOS Máximo Médio Mínimo Máximo Médio Mínimo Máximo Médio Mínimo Máximo Médio Mínimo Andaraí e Grajaú 245.000 117.731 42.000 313.000 138.568 46.000 363.000 177.918 70.000 390.000 219.115 98.000 Barra e Recreio 450.000 193.617 85.000 1.000.000 254.491 100.000 1.250.000 438.573 145.000 1.350.000 545.367 200.000 Botafogo e Humaitá 342.000 168.140 65.000 498.000 263.531 100.000 670.000 357.328 170.000 785.000 428.947 200.000 Centro 150.000 75.457 30.000 200.000 116.210 51.000 250.000 132.750 64.000 265.000 169.738 80.000 Copacabana e Leme 450.000 159.744 69.500 850.000 257.495 110.000 1.250.000 404.958 190.000 1.300.000 682.900 230.000 Flamengo e Catete 400.000 167.874 65.000 750.000 257.738 85.000 1.100.000 426.133 150.000 1.150.000 660.243 200.000 Gávea 270.000 200.833 120.000 495.000 308.611 180.000 890.000 448.888 230.000 1.400.000 566.052 260.000 Ilha do Governador 150.000 77.241 35.110 370.000 158.463 57.000 475.000 223.888 70.000 500.000 294.000 110.000 Ipanema 500.000 293.782 130.000 1.000.000 444.414 180.000 1.200.000 635.217 190.000 1.300.000 751.777 250.000 Jacarepaguá 150.000 66.600 35.000 250.000 113.040 50.000 360.000 188.000 50.000 400.000 241.526 100.000 Jardim Botânico 400.000 240.400 130.000 850.000 384.264 160.000 1.000.000 465.945 185.000 1.200.000 639.166 240.000 Lagoa 460.000 266.722 140.000 1.100.000 461.432 185.000 1.200.000 573.071 220.000 1.300.000 764.285 280.000 Leblon 550.000 309.263 130.000 1.200.000 522.808 220.000 1.300.000 631.903 245.000 1.400.000 908.857 320.000 Laranjeiras e Cosme Velho 300.000 176.944 70.000 550.000 246.278 80.000 700.000 354.474 155.000 800.000 479.583 200.000 Madureira 110.000 58.263 30.000 180.000 84.700 42.000 220.000 118.100 60.000 250.000 141.722 75.000 Méier e Lins 160.000 79.571 35.000 250.000 121.664 45.000 350.000 191.038 70.000 380.000 207.227 85.000 Tijuca e Rio Comprido 255.000 106.763 42.000 350.000 144.164 68.000 450.000 206.369 75.000 630.000 347.571 120.000 Urca 450.000 248.052 115.000 850.000 386.851 160.000 1.100.000 479.600 180.000 1.200.000 562.800 220.000 Fonte: Jornal O Globo – 21/05/2006 4.3 O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DOS IMÓVEIS O trabalho de avaliação dos imóveis no âmbito do Programa Carta de Crédito Caixa é feito por profissionais do quadro da empresa ou por empresas de engenharia contratadas.1 As avaliações são realizadas para subsidiar operações de crédito, renegociação de contratos e demandas judiciais. Os Laudos de Avaliação podem ser apresentados nas modalidades Simplificada e Completa. No Rio de Janeiro, usa-se geralmente o Laudo Simplificado, que deve conter, no mínimo: Identificação do Solicitante Finalidade do Laudo Objetivo da Avaliação Pressupostos, ressalvas e fatores limitantes Identificação e caracterização do imóvel avaliado Diagnóstico de mercado Indicação dos métodos e procedimentos utilizados Especificação da avaliação Relatório fotográfico Dados da amostra Resultado da avaliação, local e data de referência Qualificação completa e assinatura do profissional responsável pela avaliação Pode ser utilizado ainda, o parecer técnico, que pode ser emitido no caso de informações insuficientes para a utilização dos métodos, e enquadramento quanto ao grau de fundamentação e precisão, previstos na NBR 14653.2 1 Todo trabalho de avaliação de imóveis é feito conforme a NBR 14653 da ABNT - Associação Brasileira de Normas e Técnicas (determinações legais existentes). 2 Os métodos utilizados para a avaliação de bens são os previstos na norma NBR 14653-1: - Métodos para indicar o valor de um bem (método comparativo direto de dados do mercado, método involutivo, método evolutivo, método da capitalização da renda) - Métodos para indicar o custo de um bem (método comparativo direto de custo, método da quantificação de custo, métodos para identificar indicadores de viabilidade da utilização econômica de um empreendimento) 141 O Laudo de avaliação tem validade para a data de referência (explicitada em cada caso); no caso de alterações físicas no imóvel, alterações significativas de mercado e/ou fatores locais que possam influenciar o valor, é efetuada nova avaliação. A maioria das avaliações realizadas no Rio de Janeiro utilizam o método comparativo direto de dados de mercado para a obtenção do valor de mercado do imóvel. Considera-se que o imóvel apresenta condições de garantia para o financiamento, sob os aspectos de viabilidade técnica na avaliação, nas seguintes situações: Apresenta condições de estabilidade e solidez Apresenta documentação/situação regular, ou passível de regularização sob os aspectos jurídicos e urbanísticos Não esteja localizado em áreas que apresentem riscos naturais Construído com utilização de tecnologia convencional ou com inovações tecnológicas autorizadas pela CAIXA No caso de imóveis com áreas construídas não averbadas, a avaliação considera a área total do imóvel, sendo que no laudo são apresentados, separadamente, os valores das áreas averbadas e não averbadas. O avaliador (engenheiro ou arquiteto designado pela Caixa), faz um diagnóstico no qual analisa o mercado onde se situa o imóvel em avaliação, para indicar a liquidez desse bem, além de conhecer a estrutura, a conduta e o desempenho do mercado. A identificação do valor de mercado do imóvel é efetuada de acordo com a metodologia mais adequada para aplicação ao mercado de inserção desse imóvel e a partir do tratamento dos dados de mercado. É permitido arredondar o resultado da avaliação, desde que o ajuste final não varie mais de 1% do valor estimado; bem como indicar a faixa de variação de preços do mercado admitida como tolerável em relação ao valor final, desde que indicada a probabilidade associada. A metodologia escolhida deve ser compatível com a natureza do bem avaliado, com a finalidade da avaliação e com os dados de mercado disponíveis. Para a identificação do valor de mercado, é recomendável, sempre que possível, a utilização do método comparativo direto 142 de dados de mercado – esse método identifica o custo do imóvel por meio de tratamento técnico dos atributos dos elementos comparáveis, constituintes da amostra. Normalmente, a amostra contém dados de mercado com atributos mais semelhantes possíveis aos do imóvel que está sendo avaliado. As informações, cujas fontes são identificadas e diversas, são cruzadas tanto quanto possível, com objetivo de aumentar a confiabilidade dos dados de mercado. A especificação é estabelecida em razão do prazo demandado, dos recursos despendidos, bem como da disponibilidade de dados de mercado e da natureza do tratamento a ser empregado. Os principais itens levados em consideração na avaliação de imóveis no âmbito do CC Caixa são: Caracterização da região (aspectos físicos, localização, infra-estrutura urbana, atividades econômicas existentes) Caracterização do terreno (localização, dimensões, restrições físicas e legais); Caracterização da edificação (aspectos construtivos, aspectos arquitetônicos, condições de ocupação, número de pavimentos, padrão de acabamento,3 estado de conservação, áreas comuns, número de elevadores, idade de construção) Caracterização da unidade (aspectos construtivos, aspectos arquitetônicos, posição da unidade,4 padrão de acabamento,5 estado de conservação, áreas, divisão interna) O Método comparativo direto de dados de mercado Esse método busca a composição de uma amostra representativa de dados de mercado de imóveis com características, o máximo possível, semelhantes às do imóvel em avaliação – é feita uma caracterização e delimitação do mercado em análise, com o auxílio de teorias e conceitos existentes ou hipóteses advindas de experiências adquiridas pelo avaliador sobre a formação do valor. São eleitas variáveis relevantes para explicar a formação de valor e estabelecidas as supostas relações entre si e com a variável dependente. 3 Alto, entre normal e alto, normal, entre normal e baixo, baixo Frente/canto; frente/meio, fundos/canto, fundos/meio, lateral, outros 5 Alto, entre normal e alto, normal, entre normal e baixo, baixo 4 143 A variável dependente é especificada em decorrência de uma investigação no mercado em relação à sua conduta e às formas de expressão dos preços. As variáveis independentes referem-se às características físicas, de localização e econômicas. São escolhidas com base em teorias existentes, conhecimentos adquiridos, senso comum, entre outros aspectos considerados importantes. A técnica mais utilizada para estudar o comportamento de uma variável dependente em relação a outras que são responsáveis pela variabilidade observada nos preços é a análise de regressão. No modelo linear para representar o mercado, a variável dependente é expressa por uma combinação linear das variáveis independentes, em escala original ou transformadas, e respectivas estimativas dos parâmetros populacionais, acrescida de erro aleatório, oriundo de variações do comportamento humano – habilidades diversas de negociação, desejos, necessidades, compulsões, caprichos, ansiedades, diferenças de poder aquisitivo, entre outros – imperfeições acidentais de observação ou de medida e efeitos de variáveis irrelevantes não incluídas no modelo. (ABNT NBR 14653-2:2004) Além de ser a base do processo de avaliação, o levantamento de dados de mercado tem como objetivo obter uma amostra representativa que explique o comportamento do mercado no qual o imóvel em avaliação está inserido (considera-se informações sobre negociações realizadas e ofertas, contemporâneas à data de referência da avaliação, com as principais características econômicas, físicas e de localização). É importante que a qualidade da amostra esteja assegurada quanto à correta identificação dos dados de mercado, especificação e quantificação das principais variáveis levantadas; número de dados de mercado efetivamente utilizados, de acordo com o grau de fundamentação; e sua semelhança com o imóvel objeto da avaliação, no que diz respeito à sua situação, destinação, grau de aproveitamento e características físicas. 144 4.4 A EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE CONTRATOS AO LONGO DOS ANOS Analisando os dados das contratações no âmbito do Programa Carta de Crédito Caixa no Rio de Janeiro nos últimos dez anos, podemos observar que até o ano 2000 houve um progressivo aumento nas operações contratadas. A partir de 2001 esse número começa a cair, só voltando a crescer novamente em 2003, e seguindo em crescimento até 2005. Esse mesmo comportamento se repete quando analisamos os dados do País. A queda entre 2001 e 2003 coincide com o período em que o Programa foi interrompido. O número de contratações entretanto não foi nulo, pois as tramitações que já estavam em andamento em 2001, na época da interrupção foram contratadas em 2002. No Rio de Janeiro, fazendo uma comparação entre os contratos de aquisição de imóveis novos e imóveis usados podemos perceber que as contratações de imóveis novos aumentaram até 2000, começando a cair em 2001 e retornando ao crescimento em 2003. Já os imóveis usados também tiveram um comportamento semelhante, pois cresceram até 2000 (com um leve declínio em 1999), iniciaram a queda em 2001, e voltaram a crescer em 2003. O valor dos contratos para aquisição de imóvel novo por sua vez cresceu até 2001; em 2002 (ano em que a linha de crédito estava inativa) não houve nenhum contrato e em 2003, os valores voltaram a subir progressivamente. O custo médio por unidade habitacional nessa modalidade cresceu continuamente, exceto em 2002, que não houve contratação e em 2004 com uma ligeira queda. O valor dos contratos para imóveis usados aumentou até 1998 e a partir de 1999 começou a cair, só retornando a crescer em 2003. O custo médio por unidade habitacional foi crescente até 2000, caindo em 2001 e retornando ao crescimento em 2003. Podemos ressaltar que no âmbito do Rio de Janeiro das quatro modalidades do CC Caixa analisadas (aquisição de imóvel novo, aquisição de imóvel usado, aquisição de material de construção e aquisição de imóvel na planta) no período em questão (1996 a 2005), a modalidade aquisição de imóvel usado foi a que teve o maior número de contratos entre 1996 a 2000. Em 2005, o maior número de contratos ficou com a modalidade imóvel na planta (CC Caixa Associativo). A partir de 2002, a modalidade com maior quantidade de contratações foi aquisição de material de construção. 145 No Rio de Janeiro, dentre as 4 modalidades analisadas, o maior valor do custo médio por unidade oscila entre “aquisição de imóvel novo” e “aquisição de imóvel na planta” (carta de crédito associativo), com exceção de 1996 – ano em que só foram contratadas operações de “aquisição de imóveis usados”: em 1997 o maior valor do custo médio ficou com o imóvel novo, de 1998 a 2002 com o imóvel na planta, e a partir de 2003 o maior valor fica novamente com o imóvel novo. Ao se fazer uma análise do Programa Carta de Crédito Caixa como um todo no Rio de Janeiro, notamos que a quantidade das contratações teve um aumento progressivo de 1996 até 2000 (ano que teve o ápice do número de contratos do período em análise). Em 2001, ano em que o Programa interrompeu a linha para aquisição de imóveis, esse número começou a cair, só voltando a crescer em 2003, quando essa linha foi reativada. A partir daí, o crescimento também foi contínuo a cada ano. Entretanto, em contrapartida às constatações do parágrafo anterior, percebemos que o volume de recursos alocados no CC Caixa não é diretamente proporcional ao número de contratações realizadas. O montante de recursos total do Programa cresce somente até o ano de 1998, já iniciando sua queda em 1999, caindo progressivamente até 2003, só retornando a crescer em 2004. Em 2005 o valor total dos contratos foi praticamente o dobro do ano anterior. Com base em todos esses dados acima, que embora sejam regionais (analisamos o caso do Rio de Janeiro) mas representam uma amostra significativa do todo, podemos depreender que o Programa CC Caixa, que foi criado após o Plano Real, em um período de estabilidade econômica, foi sendo aprimorado até o ano 2001, quando a Caixa, devido a problemas de sobreaplicação, interrompeu as linhas de aquisição de imóveis prontos no âmbito do Programa. O auge do Programa CC Caixa foi o ano 2000, pois em 2001, ele já sofreu as conseqüências da interrupção das linhas. Em 2001 e 2002 o Programa ficou praticamente restrito à aquisição de material de construção, só retomando sua força em 2003, quando as linhas que estavam inativas voltaram a operar. A partir daí, nota-se um contínuo crescimento do Programa, sendo que em 2005 o desempenho foi bastante superior ao dos anos anteriores. 146 Uma das causas desse bom desempenho em 2005 foi o fato do “Plano Geral de Negócios da Caixa” para esse ano ter definido o produto Habitação como uma das metas prioritárias para a Rede de Distribuição de Produtos, com destaque para as linhas de financiamento voltadas à produção e aquisição habitacional. No entanto, o foco foi dado à Habitação de Interesse Social, onde o Programa Carta de Crédito Caixa não pode ser enquadrado. Segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo do Rio de Janeiro, a cidade detém uma dinâmica imobiliária das mais efetivas, o que a transforma numa rica fonte de estudos e pesquisas para um melhor entendimento do real funcionamento da lógica deste complexo setor. Considerando a dinâmica imobiliária como fruto do binômio "Produção e Mercado", e entendidos estes conceitualmente da forma mais ampla possível, pode-se buscar visualizar como a cidade vem sendo construída e sofrendo modificações em seu "estoque imobiliário", face à evolução do "fluxo" de transações imobiliárias efetuadas. Ao se analisar o mercado imobiliário formal na cidade do Rio de Janeiro através do número de transações registradas pelas guias do ITBI (Imposto de Transferência de Bens Imóveis), podemos verificar a evolução da venda de imóveis em um determinado período. Com essas informações, podemos fazer um comparativo entre o volume total de imóveis comercializados na cidade e o número de contratos operacionalizados no âmbito do Programa Carta de Crédito Caixa. Segundo dados da Secretaria Municipal de Fazenda do Rio de Janeiro (Coordenação do ITBI), o movimento de vendas de imóveis (novos e usados) no ano de 2004 foi de 55.326 guias de ITBI pagas (transações efetuadas). Nesse mesmo ano, foram registrados na cidade 732 contratos do Programa CC Caixa, ou seja, aproximadamente 1,3% do total. Já no ano de 2005 (também de acordo com a SMF-RJ), o movimento das vendas imobiliárias no Rio foi de 61.778 guias de ITBI pagas (transações efetuadas), sendo que nesse ano (em que as contratações do CC Caixa foram superiores às dos anos anteriores), foram contratados 1.739 financiamentos do CC Caixa, ou seja, algo em torno de 2,8% do total. Ao se fazer essas comparações (tendo aqui como exemplo a cidade do Rio de Janeiro), podemos depreender que a incidência do Programa Carta de Crédito Caixa é bastante restrita em termos absolutos, considerando-se a totalidade das transações imobiliárias realizadas no 147 mercado formal. Isso decorre principalmente do direcionamento do CC Caixa a um público reduzido, que possui uma renda mais alta, capaz de atender às exigências do Programa (que por sua vez, que operacionaliza contratos referentes a imóveis com valores elevados). Tabela 4.5 – A evolução dos contratos CC Caixa no Município do Rio de Janeiro Tabela 4.6 - A evolução dos contratos CC Caixa no Estado do Rio de Janeiro Tabela 4.7 - A evolução dos contratos CC Caixa no Brasil 152 Tabela 4.8 - A evolução dos contratos CC FGTS no Brasil CONCLUSÃO O crescimento constante da economia mundial e a globalização têm proporcionado movimentos constantes de mudança, nos mais diversos setores. No entanto, o papel de um Banco continua sendo, no mundo todo, o mesmo há vários anos: transacionar dinheiro, captar dos clientes poupadores, de um lado, pagando-lhes uma taxa de juros em um prazo previamente contratado de acordo com a operação; e por outro lado, emprestar também aos tomadores de crédito, a uma taxa de juros e prazo pré-determinados. Dessa forma, ao receber do tomador no prazo contratado, o Banco fecha o ciclo de: captar-emprestar-receber. Entre os vários elementos tradicionalmente apontados como essenciais para o crescimento econômico sustentado está o de uma adequada oferta de crédito. Tal oferta amplia a capacidade de compra da população, permitindo que ela acesse uma variedade de bens fundamentais para a boa qualidade de vida e para o seu desenvolvimento social e produtivo. Indicadores recentes mostram que a ampliação na oferta de crédito vem ocorrendo simultaneamente a uma melhoria na qualidade das carteiras dos bancos privados e públicos. Portanto, diferentemente de outros momentos da história brasileira, estamos vivenciando um ciclo de expansão do crédito, sem que isso implique fragilização do sistema bancário nacional. Tal evolução não é resultado do mero acaso. Reflete sim uma série de medidas e ações aplicadas no País nos últimos anos. Vão elas desde a adoção da nova Lei de Falências ao estímulo para o crédito consignado, passando pela implantação das novas regras para o crédito e mercado imobiliário. É resultado também da diminuição das incertezas a respeito da economia brasileira, sintetizada na queda do risco-país para os seus menores níveis históricos no começo de 2006. A atividade imobiliária, que transcende em muito o conceito de construção, é uma alavanca viável para o crescimento econômico. Não só porque constrói, alimentando a economia, gerando empregos e ampliando as indústrias de materiais. Sua importância vai além, pois, ordena as cidades, organiza o desenvolvimento urbano e possibilita o acesso à moradia. Porém, além da necessidade de terrenos urbanos para se construir e projetos que conciliem o interesse e as possibilidades dos agentes do mercado com a demanda existente, é preciso 154 também existir o financiamento para a comercialização do imóvel, e a renda que concilie a aspiração de cada família com sua possibilidade de pagamento. A CAIXA, maior Instituição Financeira em volume de depósitos à vista, empréstimos e financiamentos no Brasil, é o principal Banco do País com foco no segmento imobiliário. Possui atualmente mais de 2.200 agências distribuídas em todo o território nacional, nas quais são concedidas diariamente centenas de financiamentos habitacionais, dentro das diretrizes e dos parâmetros definidos pela Empresa. Entretanto, pode-se concluir que o financiamento habitacional no Brasil ainda não é capaz de suprir a grande demanda existente no País, em especial das classes de renda mais baixa. Alguns problemas estruturais permanecem como impeditivos para o exercício da atividade de financiamento imobiliário, tais como a discrepância acentuada entre os prazos de aplicação e captação dos recursos. Diante desse quadro, é necessário repensar o sistema de financiamento habitacional sob novas bases, de forma consistente com a realidade econômica e as prioridades sociais do país. Para isso, é preciso formular uma política de desenvolvimento urbano nacional, de forma ampla, com identificação clara das ações públicas e privadas, com baixa regulamentação e forte utilização dos instrumentos de mercado para obtenção de fundos e alocação de recursos ao setor urbano, especialmente para o setor habitacional. É importante estabelecer uma diferenciação entre os segmentos da sociedade (faixa de renda situada abaixo da linha de financiamento, faixa de renda com capacidade parcial de pagamento e faixa de renda com capacidade plena de pagamento), diferenciando os setores da população que não têm possibilidade de acesso ao sistema financeiro e que requerem mecanismos de subsídios diretos, e os clientes bancários, aqueles potenciais demandantes de moradia com capacidade de pagamento dos créditos. Em cada caso, as fontes de recursos empregadas, bem como os instrumentos adotados por instituições financiadoras para habitação, devem ter características peculiares e adaptarem-se às possibilidades de cada tipo de cliente. Um sistema de financiamento habitacional ideal deve identificar e segmentar a demanda, permitindo um tratamento diferenciado para cada segmento – para ser completo, deve 155 abranger todas as classes sociais. Assim, existe uma parcela da população que necessita da intervenção direta do Estado, pela concessão parcial ou total de subsídio. Outros segmentos que se constituem são as classes média e alta, para as quais a atuação do Estado deve ser apenas intervencionista, limitando-se a proporcionar estabilidade e credibilidade para o mercado captar recursos e financiar a aquisição de moradias. Para esses segmentos da população (classes média e alta) a Caixa formatou o Programa Carta de Crédito Caixa – foco do trabalho em questão, que é um Programa de referência no mercado imobiliário – em linhas de crédito para camadas de renda mais elevada, e que em decorrência de suas características, é utilizado principalmente em áreas nas quais prevalece a valorização da terra urbana e a especulação imobiliária. Concluímos que a inserção do Programa Carta de Crédito Caixa no âmbito do mercado imobiliário no Brasil é relevante se considerarmos uma parcela reduzida da população: parte da classe média e as classes média-alta e alta. No contexto desse público-alvo, o CC Caixa é uma linha de crédito imobiliário que se destaca entre as demais (de bancos privados) de formatação semelhante – devido principalmente à forte tradição da Caixa em financiamento imobiliário e da alta credibilidade que a Instituição possui nesse segmento de atuação. Por outro lado, quando consideramos a totalidade das operações de crédito realizadas no âmbito do mercado imobiliário formal (produção integralmente de mercado, ou seja, produto da atividade construtiva na qual a incorporação, construção, financiamento e comercialização são realizados como circuitos da acumulação) concluímos que a participação do CC Caixa é reduzida, por atingir um público que é minoria entre a população brasileira (cerca de apenas 5% das famílias), detentores de uma renda – e conseqüente capacidade de pagamento – compatível com as exigências do Programa. Isso ocorre principalmente, devido aos preços elevados dos imóveis financiados pelo CC Caixa (existe uma relação direta entre os preços praticados no mercado imobiliário, a demanda e os mecanismos de crédito). O nível de preços dos imóveis no âmbito do CC Caixa é determinado pela demanda, que depende essencialmente da renda dos pretensos beneficiários. A relativa escassez da terra urbana nas áreas em que o Programa é mais incidente também contribui para a determinação dos preços (a escassez, que está relacionada ao aumento da demanda, provoca um aumento nos custos dos terrenos e conseqüentemente dos imóveis). 156 Podemos afirmar também que o aumento das operações de financiamento imobiliário faz crescer a demanda especulativa de imóveis em áreas específicas, nas quais o valor da terra é elevado e onde há liquidez nas operações imobiliárias – características das regiões de maior incidência do CC Caixa – pois há uma profunda relação entre a utilização do sistema de crédito e os volumes negociados nesse mercado, que nesse caso, possui um alto valor especulativo. A pressão conjuntural da demanda, devido a alterações nas condições de financiamento, gera uma expectativa de alta dos preços dos imóveis. Sabemos que a especulação é a principal característica da dinâmica da construção por incorporação no Brasil – cujos efeitos dependem das condições específicas da reprodução do capital no setor. Uma das faces do caráter especulativo do mercado imobiliário (que é decorrente da natureza periférica do nosso capitalismo) é a existência de um pequeno número de grandes incorporadores que controlam uma expressiva parcela da oferta – o que permite o gerenciamento desse mercado, englobando a utilização de práticas que visam ampliar os ganhos de incorporação. A natureza especulativa do mercado imobiliário, caracterizada pela predominância da lógica fundiária do capital de incorporação, fundamenta-se em uma estrutura urbana com grandes desigualdades quanto às condições habitacionais. A dinâmica construtiva especulativa se alimenta dessas desigualdades, ao mesmo tempo que contribui para a manutenção e reprodução dessa forma de produção do espaço. A cidade em que vivemos hoje é a cidade do capital imobiliário, na qual há uma creditização desigual do território – fenômeno esse que se realiza nas estruturas de classes. O Programa CC Caixa é extremamente segregador, à medida que trabalha com uma taxa de juros elevada e que estabelece um comprometimento máximo de 30% da renda – ou seja, é necessário uma renda elevada para arcar com o ônus do financiamento. O mercado imobiliário em geral, funciona como um mecanismo de segregação social, onde lucram (além dos proprietários de terra e dos incorporadores) as camadas de maior poder aquisitivo, que podem ter acesso a espaços exclusivos, nos quais prevalecem as melhores condições de vida – enquadra-se aqui o público-alvo do CC Caixa. Nesses espaços, onde a produção imobiliária é mais elitizada – e onde estão as maiores ocorrências do CC Caixa, ocorre um constante encarecimento dos imóveis, o que gera uma permanente necessidade de 157 aumento do crédito para a comercialização dos mesmos a fim de solvabilizar a demanda e continuar a expansão. É fato que a questão habitacional é extremamente condicionada pelos mecanismos que produzem a estrutura urbana, a distribuição dos equipamentos e serviços na cidade. Os enormes ganhos de incorporação são viáveis somente em razão da instabilidade urbana, que permite operações de transformações das condições habitacionais, e da existência de uma estrutura produtiva que reproduz a escassez. É nessa lógica que fundamenta-se a inserção do CC Caixa no mercado. A permanência da lógica fundiária que orienta a atuação dos incorporadores e produz um aumento no preço dos imóveis – provocando uma maior dificuldade na solvabilização da demanda – não decorre somente da ação especulativa dos incorporadores. A ampliação dos ganhos comerciais-fundiários pela venda da diferenciação (material e simbólica) de determinados imóveis tem sua base na desigualdade urbana, que resulta em uma escassez social da terra. Sendo assim, é desejável para a expansão da oferta de moradias, uma alteração nos mecanismos que reproduzem a escassez social da terra urbanizada, e em conseqüência, da dinâmica especulativa. Comprovamos que a incidência do CC Caixa é maior em áreas mais valorizadas (do ponto de vista urbano), que são mais suscetíveis à especulação imobiliária. Essa especulação, em grande parte dos casos, vem incidindo de forma constante nos imóveis objeto das contratações de crédito do Programa. Podemos afirmar também que as ofertas de terra e de crédito condicionam e direcionam o mercado imobiliário. No entanto, a geração dessas duas ofertas é um tanto quanto complexa: o financiamento depende de condições econômicas e financeiras específicas que permitam o estabelecimento de um sistema de crédito relacionado a um bem cujo valor relativo é alto. Daí a concentração da oferta global em segmentos de renda mais elevada, com maior capacidade de pagamento – nos quais a incidência do CC Caixa é mais significativa – configurando-se como demanda solvável para o setor (efeito segregador do Programa CC Caixa). Concluímos ainda, que as operações no âmbito do Programa de Financiamento Carta de Crédito Caixa influenciam menos a dinâmica do mercado imobiliário, do que são por ela 158 influenciadas, devido principalmente, à participação relativamente restrita do Programa no contexto geral das transações imobiliárias. Entretanto, sofre uma grande influência da dinâmica do mercado, buscando adequações constantes para a obtenção de um melhor desempenho: aumento do número de contratações, redução das taxas de inadimplência, maior visibilidade, aumento da lucratividade, etc. Além disso, tendo em vista a relevância do CC Caixa no mercado de imóveis voltados para as classes média-alta e alta, nota-se uma certa influência deste nos outros programas de financiamento semelhantes no mercado (de bancos privados), devido ao fato de a Caixa ser considerada a principal Instituição na concessão de financiamentos imobiliários no Brasil – apresentando tradição consolidada na operacionalização desses financiamentos. Sendo assim, as outras instituições que operam linhas de crédito similares buscam, de alguma forma, uma certa compatibilização das condições apresentadas em seus programas com o CC Caixa, com vistas a uma maior competitividade desses programas no mercado propriamente dito. Podemos afirmar que o principal problema existente hoje no CC Caixa é sem dúvida alguma a elevada taxa de juros cobrada nas operações de crédito. Sabe-se que as perspectivas para o crédito imobiliário serão tanto melhores quanto mais rapidamente declinar a taxa de juros e, principalmente, se forem bem sucedidos os esforços para reduzir a inadimplência. Tais tendências fortalecem o sistema de financiamento e tornam mais seguras as operações de securitização, assegurando uma reciclagem mais rápida dos recursos e o crescimento do mercado. O Banco Central tem procurado tomar decisões para atacar a inadimplência, ainda muito elevada. Sem que a inadimplência reduza-se de forma expressiva, o ambiente não favorecerá uma baixa generalizada das taxas de juros. Com a queda da taxa de juros e com o fortalecimento do setor, será possível ampliar em bases seguras a alavancagem e, em conseqüência, a oferta de crédito no âmbito do CC Caixa. O sistema de financiamento precisa ter créditos mais consistentes, com retorno no mercado imobiliário nacional, disponibilizando formas e linhas de crédito, principalmente à população 159 de mais baixa renda, para que se tenha acesso à casa própria. O que se pode perceber é que a política de crédito em vigor não tem sido suficiente para o enfrentamento dessa questão. É necessário e urgente que se reavaliem as taxas de juros praticadas pelos Bancos e que se torne possível e disponível aos mutuários de empréstimos habitacionais taxas de juros que possam ser negociadas de acordo com o prazo de amortização a ser utilizado. As perspectivas para 2006 são animadoras, pois está em curso o fortalecimento institucional do crédito imobiliário, em decorrência da aplicação crescente da alienação fiduciária de bens imóveis (utilizada como garantia nas operações do CC Caixa), em substituição à hipoteca, e de medidas tributárias que propiciam o aumento da liquidez das moradias, como a redução do Imposto de Renda nas vendas de imóveis ou a total desoneração do IR, se o produto da venda for reaplicado integralmente na aquisição de outro imóvel. Mais do que a recuperação da economia e do crédito em geral, os financiamentos imobiliários estão sendo beneficiados pela redução dos custos de transação, propiciada pelos avanços normativos. Estão sendo criadas, portanto, condições adequadas para a expansão das operações de securitização de recebíveis imobiliários, aproveitando a demanda por CRIs. Concluímos por fim, que para que a atuação do Programa de Financiamento Carta de Crédito Caixa no mercado imobiliário apresente um melhor desempenho, com uma ampliação cada vez maior no número de unidades financiadas, será indispensável a consolidação do Sistema de Financiamento Imobiliário – SFI. 160 GLOSSÁRIO Agente Fiduciário Criado pela lei nº 6.404/76 (a “Lei das S/A”), é qualquer empresa credenciada pelo Banco Central para promover a execução extrajudicial de empréstimos hipotecários vinculados ao SFH. Representa o interesse dos credores e investidores e entre suas atribuições fiscaliza e faz cumprir os dispositivos relativos à escritura de emissão de um título de crédito. Alçada Decisória Nível de responsabilidade definido para as diversas autoridades concessoras de crédito para aprovação de uma operação. Alienação Fiduciária Transferência ao credor do domínio e posse de um bem, em garantia de pagamento por uma obrigação que lhe é devida. Amortização Pagamento periódico realizado para abater (reduzir) uma dívida. Nos financiamentos em geral, a amortização é feita por uma das parcelas que compõem as prestações. Amortização Extraordinária Pagamento parcial de um crédito antes do fim do prazo inicialmente acordado. Análise de Risco Avaliação minuciosa dos diversos aspectos da carteira de crédito de uma instituição financeira com o objetivo de determinar o seu risco. Análise Econômico-Financeira Análise, comparação e interpretação das Demonstrações Contábeis. É a decomposição dos demonstrativos financeiros em elementos mais facilmente entendíveis, para por meio de índices e valores, possa se avaliar a situação de risco da empresa. 161 Cadastro de Clientes Conjunto de dados e informações gerais sobre a qualificação dos clientes. Captação Obtenção de recursos para aplicação a curto, médio ou longo prazos. Carta Garantia Instituída a partir da criação do Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) pela Lei nº 9.514/1997, que foi um importante instrumento para desenvolver o mercado de securitização de créditos imobiliários. Carteira Ativa Conjunto das operações de crédito ou com características de crédito contabilizados no balancete patrimonial da instituição financeira, representando direito de futuros recebimentos de operações vencidas e a vencer. Cessão de Créditos Operações em que uma instituição financeira (cedente) vende parte de sua carteira de crédito para outra instituição financeira (cessionária). As operações cedidas deixam de fazer parte do ativo da Instituição Financeira cedente e passam a compor o ativo da cessionária. Conformidade Aderência a um conjunto de leis, regulamentos, normas, regras e instruções sejam emanadas por órgãos regulatórios ou internas da instituição. Créditos Problemáticos Créditos que apresentam alguma dificuldade de recebimento CRI – Certificado de Recebíveis Imobiliários Título mobiliário privado. São papéis emitidos por empresas securitizadoras e lastreados em contratos de financiamento de imóveis. O CRI permite que o concedente desse tipo de crédito possa repassá-lo a outros investidores com perfil mais compatível com o risco e o prazo do contrato de financiamento imobiliário, cujo prazo médio supera 10 anos. Além disso, o CRI permite que diversos contratos de baixo valor possam ser negociados em conjunto, em um 162 único título de securitização, dando maior escala à operação e possibilitando maior volume e liquidez ao mercado primário de crédito imobiliário. Critério Julgamental Reflete a probabilidade do evento de inadimplência ocorrer, atribuída em decorrência da análise de informações disponíveis, sem a utilização de um modelo de avaliação de risco estatístico. Dação Entregar ao credor uma coisa em pagamento de outra, como um imóvel em lugar de dinheiro, para saldar uma dívida. Disponibilidade Orçamentária Existência de importância consignada no orçamento ou em crédito adicional, para atender determinada despesa. Encargos Custos relacionados com as operações de crédito representado por taxas de juros, impostos e taxas administrativas. Execução Extrajudicial Processo de aplicação das penalidades previstas em contratos sem recorrer à Justiça. Execução Judicial Processo que tramita na Justiça para aplicação das penalidades previstas em contratos. Financiamento Operação bancária pela qual o banco antecipa numerário sobre créditos que o cliente (pessoa física ou jurídica) possa ter, com o objetivo de emprestar-lhe certa soma e proporcionar-lhe recursos necessários para a realização de certo negócio ou empreendimento. Financiamento Imobiliário Empréstimo concedido por instituições financeiras para custear a construção, a reforma ou a compra de um imóvel. 163 Garantia Garantia ou colateral são itens usados pelo credor como forma de assegurar o pagamento da obrigação pelo devedor. Garantia Real Recai diretamente sobre os bens especificados. O devedor destaca um bem específico que garantirá o ressarcimento do credor na hipótese de inadimplemento do devedor. Hipoteca Colocação de bens imóveis e móveis como garantia de pagamento de uma dívida. O devedor detém a propriedade e a posse do imóvel, que poderá ser tomado pelo credor por meio de execução judicial ou execução extrajudicial. Inadimplência Situação em que não é possível efetuar o pagamento como acordado. Não reflete uma situação temporária, ou problemas operacionais, mas sim é resultado de dificuldades financeiras. Incorporações Imobiliárias Contrato pelo qual alguém vende, ou se compromete a vender, fração de terreno com vinculação à unidade autônoma de edificação, por construir sob regime condominial, na forma de projeto de construção aprovado pela autoridade administrativa e de memorial que o descreva (Memorial de Incorporação) e arquivado no Registro de Imóveis. Limite de Crédito Valores definidos contratualmente pela Instituição Financeira para um cliente, que traduz o valor máximo à disposição do cliente numa operação específica. Linha de Crédito É um acordo sujeito a revisões periódicas, que um banco e um cliente fazem para tomar crédito de forma simples, dentro de um limite previamente estabelecido. Liquidação Antecipada Pagamento total de uma dívida antes do prazo fixado em contrato. 164 Liquidez Disponibilidade de moeda corrente ou posse de títulos ou bens conversíveis rapidamente em moeda corrente. Operação de Crédito É o compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financeira de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros. Patrimônio de Afetação É o mecanismo legal pelo qual se materializa a segregação patrimonial de uma incorporação imobiliária dos demais ativos do incorporador, com o objetivo de proteger as partes envolvidas, incorporador, construtora, promitentes compradores, financiador e investidor, em um projeto imobiliário. A Lei n.º 10.931/2004 introduziu aperfeiçoamentos no Patrimônio de Afetação para que este funcione como instrumento de melhoria do grau de governança do empreendimento, propiciando meios eficazes de fiscalização do patrimônio afetado e viabilizando a continuidade da obra em caso de falência da incorporadora. Recebíveis São títulos de crédito originados do faturamento de bens e serviços vendidos e, usualmente, entregues. Podem ser duplicatas, notas promissórias e etc. Regime de Alçadas Instrumento normativo que define, para cada instância aprovadora de crédito, os valores máximos para aprovação de comprometimento de recursos financeiros, seja por operação ou cliente. Determina as condições e os valores máximos em que cada instância aprovadora de crédito pode atuar. Renegociação Composição de dívida, prorrogação, novação, concessão de nova operação para liquidação parcial ou integral de operação anterior ou qualquer outro tipo de acordo que implique alteração nos prazos de vencimento ou nas condições de pagamento originalmente pactuadas. 165 Rentabilidade Representa o ganho financeiro de uma operação ou carteira de crédito, traduzido entre a diferença dos custos de captação e as receitas de aplicação. Risco Elemento de incerteza que pode afetar a atividade de um agente ou o desenrolar de uma operação econômica. Securitização de Recebíveis Conversão de empréstimos bancários e outros ativos em títulos para vendê-los a investidores. A instituição que fez o empréstimo vende-o a uma empresa securitizadora. Com lastro nesse crédito, a securitizadora emite “certificados de recebíveis imobiliários”, ou simplesmente recebíveis, postos à venda para investidores. Sistema de Amortização Sistemas utilizados para cálculo do valor de juros e pagamentos em dívidas parceladas. Títulos de Securitização de Créditos do Setor Imobiliário Complementarmente à instituição do patrimônio de afetação, a Lei nº 10.931/2004 concluiu também a regulamentação do processo de securitização de créditos imobiliários, que havia sido iniciada com a Lei nº 9.514/1997, que criou o Sistema Financeiro Imobiliário. Foram criados dois novos instrumentos complementares: a Cédula de Crédito Imobiliário (CCI) e a Letra de Crédito Imobiliário (LCI). Esses dois instrumentos fortalecem os canais de financiamento ao setor imobiliário, pois propiciam a fácil emissão e negociação dos direitos creditórios decorrentes de operações de financiamento. 166 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENTIDADES DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO E POUPANÇA. A Securitização da Dívida do FCVS, 1994. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENTIDADES DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO E POUPANÇA. Imprensa – Informes Abecip. 2005. ABRAMO, Pedro. A dinâmica imobiliária: elementos para o entendimento da espacialidade urbana. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1988. ABRAMO, Pedro. Dinâmica espacial e instabilidade do mercado imobiliário: a ordemdesordem urbana. In: Curso de Gestão Urbana e de Cidades. Belo Horizonte: EG/FJP WBI ESAF IPEA, 2001. 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