Seminário Sistema Financeiro de Habitação - SFH Problemas e Propostas de Solução em Debate Data 12/12/2006 Visão macro-econômica da questão habitacional - Histórico das últimas décadas - Panorama atual - Medidas a serem tomadas - Renato Ventura Superintendente de Negócios Imobiliários do Unibanco Renato Ventura iniciou sua exposição endossando as palavras do Secretário Marcio Bueno, e acrescentou: “a questão habitacional é muito ampla e enseja vários caminhos no sentido de tornar o crédito habitacional um importante instrumento de acesso à moradia para a população de baixa renda”. Não se furtou a uma explanação do tema sob uma ótica macro-econômica, ressaltando a função social do crédito imobiliário. Qualificou-o de importante instrumento de inclusão social, não apenas por garantir à população de baixa renda o acesso à moradia, mas também por seu potencial na geração de empregos às pessoas de menor qualificação profissional. Dividiu a sua abordagem em três tópicos: histórico das últimas décadas; panorama atual; medidas a serem tomadas. Para elucidar, de forma didática, o papel dos bancos na intermediação financeira no setor imobiliário, representou por meio de fluxograma a interligação dos agentes desse sistema econômico. BANCOS VENDEDORES INCORPORADORES CONSTRUTORES COMPRADORES POUPADORES TOMADORES GOVERNO E JUSTIÇA No papel de agentes financeiros, os bancos permitem a construção e a compra de imóveis, com a regulação e fiscalização procedida pelo poder executivo e pela justiça. No seu entender, o setor imobiliário está dividido em dois segmentos: 1. segmento de interesse social, cujo enfoque é a proteção da população menos favorecida, com a participação mais direta do setor público, que promove, inclusive, programas de subsídios, a exemplo do SFH; 2. segmento de mercado, voltado para a construção, a comercialização e ao financiamento de imóveis, que se desenvolvem em consonância com as leis do próprio mercado e por parâmetros regulatórios governamentais. Atribuiu grande responsabilidade às instituições financeiras enquanto administradoras dos recursos depositados pelo público em geral, os quais devem ser aplicados em financiamentos que gerem rentabilidade, liquidez e riscos adequados. A fim de ilustrar o caráter de programa social que o governo procurou dar ao SFH, criado em 1964, mencionou que os recursos para o financiamento tanto da construção como da aquisição de imóveis são provenientes da caderneta de poupança e do Fundo de Garantia por tempo de Serviço - FGTS, com regras bem específicas quanto aos valores de imóveis, financiamento e taxa de juros. Com o intuito de reservar os benefícios do SFH aos mais necessitados foi criado o Sistema Financeiro Imobiliário - SFI, com fortes pretensões em reforçar a segurança jurídica e assim ampliar o universo dos recursos, de modo a injetar dinheiro no financiamento imobiliário. Para descrever o controle governamental sobre o papel de intermediador financeiro exercido pelos bancos no SFH, Ventura referiu-se à captação, que é oriunda de recursos de poupadores com liquidez mensal, enquanto o emprego ocorre em financiamentos imobiliários cujos contratos são de longa duração (15 a 20 anos), com taxas de juros menores e normatizadas pelo órgão regulador. Lembrou ainda das medidas antiespeculativas, como a proibição de financiamento de terrenos, que tem por finalidade a reserva dos recursos para fins exclusivos de moradia. Descreveu também os cuidados com possíveis riscos inerentes ao sistema, mencionando as análises pelas quais passam as propostas de concessão de crédito, com vistas à compatibilização do comprador ao financiamento pleiteado, bem como a adoção de medidas de segurança, como a avaliação do imóvel, verificação da sua situação jurídica, análise jurídica do vendedor, entre outras. Salientou que a execução da dívida implica, geralmente, em perdas para os agentes financeiro: “Após a realização da venda, o banco é obrigado a restituir ao mutuário qualquer valor superior ao saldo devedor”. No que tange aos problemas enfrentados pelo SFH, Ventura citou a instabilidade econômica, por considerá-la fator desencadeante de várias crises enfrentados pelo SFH. Destacou o descompasso dramático entre os valores envolvidos em um contrato imobiliário: do imóvel, do salário e das prestações. Esse quadro, que ensejou debates acalorados, motivou um grande número de liminares com índices que afetaram o instituto do crédito de modo geral. Por fim, mencionou a drástica redução dos recursos financeiros por qual passa o SFH, com o Fundo de Compensação de Variação Salarial FCVS não retornando aos bancos, o capital emprestado. Ventura considera que a estabilidade econômica representou um grande avanço no SFH, pois tornou possível uma queda na taxa de juros reais da economia, o que favoreceu os contratos de financiamento. Ressaltou a adoção de medidas de segurança jurídica, as quais, no seu entender, abrangem todos os participantes do sistema, ou seja, o comprador, o investidor e o financiador. São elas: alienação fiduciária, patrimônio de afetação e incontroverso. Para ilustrar a dimensão do desafio que enfrentamos na área habitacional, comparou a demanda reprimida atual 7.500.000 (residências inadequadas), além de 1.500.000 de novas residências - com a modesta participação dos financiamentos imobiliários na economia. “Estamos, em termos classificatórios, bem aquém da Holanda, dos EUA, da Espanha, do Chile e do México, concluiu”. Como alternativa para melhorar esse panorama, sugeriu algumas medidas a serem empreendidas: 1) Do ponto de vista do comprador: 1. crescimento econômico com emprego, redução da informalidade e incremento da renda familiar; 2. simplificação e desburocratização do processo de financiamento; 3. redução dos custos operacionais e de todos os elementos que envolvem o sistema imobiliário como um todo. 2) Do ponto de vista macro-econômico governamental: 1. crescimento sustentável da economia, com continuidade da queda da taxa de juros, o que propiciará redução dos gastos e endividamento do governo; 2. incentivos fiscais (ex. isenção de ITBI na baixa renda, incentivos no IR aos financiamentos imobiliários) 3) Do ponto de vista dos financiadores: 1. operações com retornos adequados aos riscos incorridos; 2. segurança jurídica dos contratos, com eficácia das garantias; 3. aumento no volume das operações como condição de redução dos custos operacionais. Acredita que, através dessas medidas, os financiamentos imobiliários cumprirão seu papel social, não apenas quanto à promoção do acesso à moradia à baixa renda, mas também no tocante ao crescimento econômico, através da sua expressiva capacidade de geração de empregos. Ressaltou que embora a produção de imóveis esteja atualmente restrita a um mercado com renda de dez salários mínimos ou mais, o Unibanco pretende ofertar financiamento imobiliário para pessoas com renda a partir de cinco salários mínimos. Lembrou que o setor da construção civil responde por 9 milhões de empregos da nossa economia. Referindo-se aos números de um estudo recente da FGV, mencionou a seguinte proporção na relação investimento x empregos: cada R$ 10 milhões, investidos no setor, geram 658 novos empregos na cadeia como um todo.