bronquite infecciosa das galinhas

Propaganda
V SIMPÓSIO BRASIL SUL DE AVICULTURA
05 a 07 de abril de 2004 – Chapecó, SC - Brasil
BRONQUITE INFECCIOSA DAS GALINHAS
Mário Sérgio Assayag
Méd. Vet., D.Sc.,
[email protected]
A Doença
A bronquite infecciosa é uma doença viral, aguda e altamente contagiosa que
acomete as galinhas (Galus gallus domesticus). É uma doença de distribuição universal
(Back, 2002; Cavanagh, Naqi, 2003), com maior prevalência em regiões com maior
densidade populacional.
É encontrada em praticamente todas as regiões produtoras avícolas do mundo,
causando problemas em aves jovens e adultas. Acomete frangos de corte, poedeiras,
matrizes leves e pesadas (Cardoso, 1999; Di Fabio, Rossini, 2000; Cook, 2001).
O sitio primário para a replicação do vírus de bronquite infecciosa das galinhas
(VBIG) é o trato respiratório e, normalmente, a infecção respiratória é a primeira
manifestação clínica em aves jovens, ocorrendo espirros, ronqueira e descarga nasal
de muco (Cavanagh, Naqui, 2003; Cook, 2003). A morbidade é alta, podendo chegar a
100%, enquanto a mortalidade pode chegar a 20%, normalmente associada a
contaminações secundárias (Back, 2002). Vírus nefropáticos também podem ser
observados, acometendo o sistema urinário com lesões renais, diarréia moderada a
severa e urolitíase (Ignjatovic, Sapats, Ashton, 1997; Wang, Wu, Huang, et al., 1997; Di
Fábio, Rossini, Orbell et al., 2000; Gelb, Ladman, Tamayo, et al., 2001; Ignjatovic,
Reece, Ashton, 2002).
Cook (2003) descreve que o fato de não existir a observação clínica de infecção
respiratória, não significa a ausência do vírus da BIG. Pode ocorrer uma manifestação
clínica não tradicional, ou seja, sem os sinais característicos. Estas situações estão
ligadas a um bom programa de vacinação, bom manejo e também boa biossegurança.
Em aves adultas (aves de postura comercial e reprodutoras) podem ser
observados os mesmos sinais de aves jovens (Cavanagh, Naqui, 2003), mas também
lesões no sistema reprodutivo, com alterações de casca (fina e porosa) e no formato
dos ovos (Di Fabio, Rossini, 2000; Cook, 2003). Queda na produção de ovos e
alterações na qualidade do albúmem, também pode ser observadas (Di Fábio, Rossini,
Orbell et al., 2000; Back, 2002; Cook, 2003).
A ocorrência de problemas renais também são freqüentes no Brasil, sendo
descritos desde o final dos anos 80. Tem sido relatados vários surtos de BIG com
lesões renais pelo mundo (Ignjatovic, Sapats, Ashton, 1997; Wang, Wu, Huang, et al.,
1997; Ignjatovic, Ashton, Reece, et al., 2002; Ignjatovic, Reece, Ashton, et al., 2003;
Zanella, Lavazza, Marchi, 2003). Atualmente, a nefrite causada pelo vírus da BIG é
conhecido como um grande problema mundial (Cook, 2003).
Esta doença provoca grandes perdas econômicas devido à mortalidade, mal
desenvolvimento dos lotes, queda de produção e na qualidade dos ovos (Cavanagh,
Naqui, 2003).
A possibilidade da ocorrência de variantes de BIG, continua sendo uma grande
preocupação em todas as partes do mundo (Cook, 2003). A existência de variantes
está relacionada com a capacidade de variação antigênica do vírus da BIG. Isso ocorre
42
V SIMPÓSIO BRASIL SUL DE AVICULTURA
05 a 07 de abril de 2004 – Chapecó, SC - Brasil
em virtude da existência dos genes da região S, que é responsável por determinar os
sorotipos dos vírus e induzir a resposta imune. (Cavanagh, Ellis, Cook, 1997; Souza,
1999; Di Fábio, Rossini, 2000; Cook, 2001; Santiago, 2001; Cavanagh, Naqi, 2003).
Devido à existência de diferentes sorotipos (Epiphanio, 1998) e o fato da
imunidade poder ser específica a um sorotipo, pode não existir proteção cruzada total,
dificultando o controle da BIG (Di Fábio, Rossini, Orbell et al., 2000).
Diferentes regiões de produção avícola em toda América Latina, continuam com
problemas de BIG causados por diversos sorotipos (Cubillos, Ulloa, Cubillos, 1991;
Cook et al., 1999; Di Fábio, Rossini, Orbell et al., 2000; Gelb, Ladman, Tamayo, et al.,
2001; Cook, 2003). Muitos destes sorotipos são conhecidos e novos tem sido descrito
recentemente (Cook, 1984; King, 1988; Cubillos, Ulloa, Cubillos, 1991; Wentz, 1992;
Cook, Orbell, Woods, 1996; Gough, 1996). Em algumas situações, aves imunizadas
com vacinas com amostras do sorotipo Massachusetts não ficaram devidamente
protegidas, possibilitando o aparecimento de sinais clínicos e do isolamento do vírus
4/91 (793B), demonstrando assim que não existiu proteção cruzada entre as variantes
(Adzhar, Shaw, Britton, et al., 1995; Cook, Orbell, Woods, 1996; Adzhar, Gough,
Haydon, 1997; Capua, Minta, Karpinska, 1999).
No Brasil, alguns trabalhos indicam a existência de variantes antigênicas, mas
não chegaram a concluir sobre a magnitude destes vírus nos plantéis (Miyaji, 1996;
Souza, 1999; Abreu, 2000; Di Fábio, Rossini, Orbell et al., 2000).
Situação Atual da Big no Brasil
Os sinais clínicos e as sorologias realizadas indicam a existência de bronquite
infecciosa. Essa enfermidade, causada por Coronavírus tipo 3, tem ocorrido com
grande freqüência na Serra Gaúcha, oeste de Santa Catarina, sudoeste, oeste e norte
do Paraná, além do sul e norte de São Paulo e Triângulo Mineiro.
Várias empresas relatam grandes prejuízos causados pelo aumento de problemas
respiratórios em frangos de corte com mais de 28 dias de idade. Em muitos casos, os
problemas respiratórios não são diagnosticados no campo, causando importantes
perdas por condenação total e/ou parcial no momento do abate.
Também são relatados casos de lesões musculares em frangos de corte a partir
do 30 dias de idade, aumentando as condenações nos abatedouros e comprometendo
a qualidade da carne para o consumidor final.
Com grande freqüência, também são observados casos de urolitíase, com lesões
renais em frangos de corte, matrizes e aves de postura comercial. Estes casos, muitas
vezes são mal diagnosticados e freqüentemente subavaliados, pois, podem ser
considerados decorrentes de desidratação que normalmente as aves apresentam e
não como o principal sinal clínico.
Em matrizes pesadas, são observados quadros de necrose no músculo peitoral
profundo a partir da 28a semana de idade, com quedas de produção significativas,
causando um baixo número de pintos produzidos por ave alojada. São encontrados
casos com queda na densidade de ovos, aumentando o número de ovos trincados e
quebrados, além de liquefazer o albúmem, diminuindo a qualidade de pintos oriundos
destes ovos.
Em matrizes pesadas e aves de postura comercial, observa-se um aumento
significativo dos problemas de “cabeça inchada”, com recidivas das infecções
43
V SIMPÓSIO BRASIL SUL DE AVICULTURA
05 a 07 de abril de 2004 – Chapecó, SC - Brasil
secundárias como peritonites e salpingites. Em alguns quadros observa-se uma maior
suscetibilidade aos quadros de enterite.
Todos estes casos descritos acarretam um aumento no consumo de antibióticos,
aumentando as perdas financeiras, além de dificultar o manejo para conseguir respeitar
o período de retirada das drogas recomendadas pela legislação em vigor.
Atualmente, observa-se também que as vacinas H-120 não estão mais
conseguindo controlar todos os casos de bronquite infecciosa (Gelb, Ladman, Tamayo,
et al., 2001), além de aumentar grandemente o aumento do consumo da vacina Ma-5,
que apresenta proteção mais duradoura (Back, 2002) e maior antigenicidade que a H120.
Assim, a Bronquite Infecciosa das Galinhas está presente em grande parte das
empresas brasileiras e provavelmente é a enfermidade viral que está causando as
maiores perdas econômicas da atualidade. Também, em várias regiões, o controle tem
sido difícil, pois as vacinas disponíveis não se apresentam totalmente eficientes contra
os vírus encontrados no campo, restando à pesquisa uma proposta futura de solução
definitiva.
Referências Bibliográficas
ABREU JT. Identificação de isolados brasileiros do vírus da bronquite infecciosa das
galinhas com RT-PCR universal e análises por RPLP de parte do gene N [tese]. Belo
Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2000.
ADZHAR AB, SHAW K, BRITTON P, CAVANAGH D. Avian infectious bronchitis virus:
differences bitween 793/B and other strains. Vet. Rec. 1995; May 27.
ADZHAR A, GOUGH RE, HAYDON D, SHAW K, BRITTON P, CAVANAGH D.
Molecular analysis of the 793B serotype of infectious bronchitis virus in Great Britain.
Avian Pathol. 1997; 26, 625-640.
BACK A. Manual de doenças de aves. Cascavel; 2002.
CAPUA I, MINTA Z, KARPINSKA E, MAWDITT K, BRITTON P, CAVANAGH D, et al..
Co-circulation of four types of infectious bronchitis virus (793/B, 624/I, B1648 and
Massachusetts). Avain Pathol. 1999; 28, 587-592.
CARDOSO RM. Produção e caracterização de anticorpos monoclonais contra o vírus
da bronquite infecciosa das galinhas [tese]. Belo Horizonte: Universidade Federal de
Minas Gerais; 1999.
CAVANAGH D, ELLIS MM, COOK JKA. Relationship between sequence variation in the
S1 spike protein of infectious bronchitis virus and the extent of cross-protection in vivo.
Avian Pathol. 1997; 26, 63-74.
CAVANAGH D, NAQI SA. Infectious bronchitis. In: Saif YM, Barnes HJ, Glisson JR,
Fadly AM, McDougald LR, Swayne DE. Diseases of Poultry. 11a ed. Ames: Iowa State
Press; 2003. p. 101-119.
44
V SIMPÓSIO BRASIL SUL DE AVICULTURA
05 a 07 de abril de 2004 – Chapecó, SC - Brasil
COOK JKA. The classification of new serotyjpes of inefectious bronchitis vírus isolated
from poultry flocks in Britain between 1981 and 1983. Avian Pathol. 1984; 13 (3): 733741.
COOK JKA, ORBELL SJ, WOODS MA, HUGGINS MB. A survey of the presence of a
new infectious bronchitis virus designated 4/91 (793B). Vet. Rec. 1996; 138 (8): 178180.
COOK JKA. Coronaviridae. In: Jordan F, Pattison M, Alexander D, Faragher T, editores.
Poultry diseases. 5ª ed. London: W. B. Saunders; 2001. p. 298-306.
COOK JKA. Bronquitis infecciosa: Situación actual a nivel mundial. In: XVIII Congreso
Latinoamericano de Avicultura; 2003; Santa Cruz. Anais. Santa Cruz - Bolivia:
Asociación Latinoamericana de Avicultura; 2003. p. 171-178.
CUBILLOS A, ULLOA J, CUBILLOS V. Characterization of infectious bronchitis virus
isolated in Chile. Avian Pathol. 1991; 20 (1): 85-99.
DI FABIO J, ROSSINI LI. Bronquite infecciosa das galinhas. In: Berchieri Jr A, Macari
M. Doenças das Aves. Campinas: FACTA: 2000. p. 293-300.
DI FABIO J, ROSSINI LI, ORBELL SJ, PAUL G, HUGGINS MB, MALO A, et al..
Characterization of infectious bronchitis viruses isolated from outbreaks of disease in
commercial flocks in Brazil. Avian Dis. 2000; 44: 582-589.
EPIPHANIO EOB. Cultivo de anéis de traquéia para ensaios com o vírus da bronquite
infecciosa das galinhas [tese]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais;
1998.
GELB JR J, LADMAN BS, TAMAYO M, GONZALEZ M, SIVANANDAN V. Novel
infectious bronchitis virus S1 genotypes in Mexico 1998-1999. Avian Dis. 2001; 45,
1060-1063.
GOUGH RE, COX WJ, GUTIERREZ E, MACKENZIE G, WOOD AM, DAGLESS MD.
Isolation of “variant” strains of infectious bronchitis virus from vaccinated chichens in
Great Britain. Vet. Rec. 1996; 139 (22): 552.
HIPÓLITO O. Isolamento e identificação do vírus da bronquite infecciosa das galinhas
no Brasil. Arq. Esc. Superior Vet. UREMG 1957; 10: 131-150.
IGNJATOVIC J, SAPATS SI, ASHTON F. A long-term study of Australian infectious
bronchitis viruses indicates major antigenic change in recently isolates strains. Avian
Pathol. 1997; 26: 535-552.
IGNJATOVIC J, ASHTON DF, REECE R, SCOTT P, HOOPER P. Pathogenicity of
australian strains of avian infectious bronchitis virus. J. Comp. Path. 2002; 126: 115123.
45
V SIMPÓSIO BRASIL SUL DE AVICULTURA
05 a 07 de abril de 2004 – Chapecó, SC - Brasil
IGNJATOVIC J, REECE R, ASHTON F. Susceptibility of three genetic lines of chicks to
infection with a nephropathogenic T strain of avian infectious bronchitis vírus. J. Comp.
Path. 2003; 128: 92-98.
KING DJ. Identification of recent infectious bronchitis virus isolates that are serologically
different from current vaccine strains. Avian Dis. 1988; 32: 362-364.
MIYAJI CI. Vírus da bronquite infecciosa das galinhas: Estudo comparativo de
amostras isoladas de rim de galinha d’angola e de frangos de corte [tese]. São Paulo:
Universidade de São Paulo; 1996.
SANTIAGO SLT. Análise molecular de isolados do vírus da bronquite infecciosa das
galinhas em Minas Gerais [tese]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas
Gerais; 2001.
SCHALK AF, HAWN MC. An apparently new respiratory disease of baby chick. J. Am.
Vet. Med. Assoc. 1931; 78: 413-422.
SOUZA MB. Afinicades antigênicas de amostras de campo do vírus da bronquite
infecciosa das galinhas com a amostra Massachusetts M41 [tese]. Belo Horizonte:
Universidade Federal de Minas Gerais; 1999.
WANG HN, WU QZ, HUANG Y, LIU P.. Isolation and identification of infectious
bronchitis virus from chickens in Sichuan, China. Avian Dis. 1997; 41, 279-282.
WANG X, KHAN MI. Molecular characterization of an infectious bronchitis virus strain
isolated from an outbreak in vaccinated layers. Avian Dis. 2000; 44, 1000-1006.
WENTZ I. Bronquite infecciosa. Que cepa vicinal usar? In: Conferência Apinco de
ciência e tecnologia avícolas; 1992; São Paulo. Anais. São Paulo: Facta; 1992. p.165168.
ZANELLA A, LAVAZZA A, MARCHI R, MARTIN AM, PAGANELLI F. Avian infectious
bronchitis: Characterization of new isolates from Italy. Avian Dis. 2003; 47, 180-185.
46
Download