UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG Instituto de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis - ICEAC Disciplina: Economia Brasileira Curso: Administração Rio Grande 2009 1 Em 1993, o ministro da Economia do governo Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, implementou um plano econômico de estabilização, conhecido como Plano Real. Esse foi apoiado por uma equipe de economistas, em sua maioria oriundos da PUC-RJ, dentre os quais se incluem Gustavo Franco, Winston Fritsch, André Lara Resende, Edmar Bacha e Pérsio Arida. Ao contrário dos planos anteriores, o Real não incluiu congelamento de preços. 2 O Programa de Estabilização Econômica, ou Plano Real, foi concebido e implementado em três etapas: estabelecimento do equilíbrio das contas do governo com o objetivo de eliminar a principal causa da inflação; criação de um padrão estável de valor, a Unidade Real de Valor (URV); emissão de uma nova moeda nacional com poder aquisitivo estável, o Real. 3 A primeira etapa do Real foi implantada com o Programa de Ação Imediata (PAI), em 14 de junho de 1993. A necessidade de equilibrar as contas públicas implicava efetuar uma ampla reorganização do setor público e de suas relações com a economia privada. Para tanto, o governo diagnosticou as seguintes necessidades: 4 redução dos gastos da União e aumento da deficiência no ano de 1993; equacionamento das dívidas de estados e municípios com a União; controle mais rígido dos bancos estaduais; saneamento dos bancos federais; aperfeiçoamento do programa de privatização, ou seja, redução da participação do governo na economia por meio da privatização das estatais. 5 O setor financeiro era o beneficiário direto do desajuste fiscal, pelo efeito das taxas de juros e da inflação sobre suas receitas. Assim, quando a inflação caísse e os juros baixassem, diversas instituições financeiras teriam que recorrer ao Banco Central para sobreviver. Seria necessário promover um processo de saneamento dos bancos públicos e privados. 6 Medidas iniciais do PAI: corte orçamentário de US$ 6 bilhões em 1993; a proposta de orçamento de 1994 deveria ser baseada em estimativa realista de receita, ao invés das pretensões de gastos do governo; limite de despesas com os servidores civis em 60% da receita corrente da União, estados e municípios; projeto de lei que definisse claramente as normas de cooperação da União com estados e municípios. 7 O aprofundamento do ajuste foi viabilizado a partir da criação do Fundo Social de Emergência, cujo objetivo era equilibrar o orçamento e atenuar a excessiva rigidez dos gastos da União determinada pela Constituição de 1988. Para auxiliar o governo federal a equilibrar suas contas no biênio 1993-1994, foi aprovado o Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF). 8 Combate à sonegação: evasão fiscal. Para cada cruzeiro arrecadado, outro cruzeiro era sonegado; aumento da fiscalização sobre as maiores empresas do país e cobrança dos impostos das pessoas físicas; proibiu-se a inadimplentes do governo federal a participação em concorrências públicas; o objetivo expresso pelo governo para a realização desse ajuste tributário era criar condições para uma reforma tributária. 9 a reforma tributária não foi realizada por causa da inviabilidade de alguns projetos, da falta de “vontade política” de realizá-los e do fato de ela ter sido preterida por sucessivos “pacotes” de medidas emergenciais. 10 Relacionamento com estados e municípios: redução das transferências de recursos federais, regularização do pagamento de dívidas vencidas com a União e tentativa de impedir que os estados voltassem à condição de insolvência. Foram estabelecidas condições globais para o endividamento público, restringindo-se, também, o acesso ao crédito e retendo-se os repasses de recursos federais para os estados e municípios em débito com instituições federais. 11 Bancos estaduais: o Banco Central deveria exercer um controle mais rígido sobre os bancos estaduais, com severo cumprimento das normas relativas ao montante mínimo de capital dessas instituições, bem como limitação na concessão de empréstimos para entidades do setor público; promoção da reestruturação dos bancos estaduais e federais, para racionalizar suas estruturas, tornando-os mais competitivos. O Banco do Brasil teria sua vocação agrícola incentivada. 12 Privatizações: o equilíbrio fiscal demandava o fim das transferências para empresas estatais deficitárias; transferência para o setor privado dos custos necessários à modernização da infraestrutura, pré-requisito para o desenvolvimento do país. 13 A URV foi implementada em 27 de maio de 1994 e serviu como transição para a introdução de uma nova moeda. Seu objetivo era o de proporcionar aos agentes econômicos uma fase de transição para a estabilidade de preços. O Cruzeiro Real, introduzido em 1993, estava se desvalorizando a taxas crescentes, o que alimentava aumentos constantes de preços e salários. 14 A URV foi utilizada para restaurar a função de unidade de conta da moeda, que havia sido destruída pela inflação, bem como para referenciar preços e salários. O Banco Central emitia, diariamente, relatórios sobre a desvalorização do Cruzeiro Real e sobre a cotação da URV. Patrões e empregados utilizavam a URV para determinar preços e salários. 15 O pressuposto básico do Plano Real foi o da neutralidade distributiva. Salários foram convertidos pela média de quatro meses. Ao transformar negócios prefixados em pósfixados, o novo padrão monetário levou os agentes a analisar de maneira criteriosa seus custos e iniciou um processo de eliminação da memória inflacionária, facilitado pela ampla disseminação da URV. 16 Como grande parte dos valores havia sido convertida para a URV, a nova moeda, o Real, foi introduzida sem que houvesse um consenso na sociedade de que a transição já estava completa. Em 1º de julho de 1994, o governo decretou a Medida Provisória do Plano Real, acusado de render-se a objetivos eleitorais. 17 Para manter o valor da nova moeda, o governo alterou radicalmente os métodos empregados para definição da política monetária, tornandoos mais rígidos. Estabeleceu-se um teto máximo na taxa de câmbio, um Real equivalia a um Dólar. O Banco Central detinha US$ 40 bilhões em reservas, porém a taxa de câmbio não era fixa. 18 O PIB cresceu 5,6% em 1994 e o setor industrial apresentou expansão de 7%. O setor de serviços cresceu 4%, menos que os outros setores, em parte como resultado do desaparecimento do ganho inflacionário. Embora muitos acreditassem que o programa seria recessivo, a economia manteve-se em expansão nos primeiros três meses de 1995. 19 Ao adotar, no final de 1995, medidas de aumentos dos empréstimos compulsórios, restrições de crédito e juros elevados, o governo sacrificou o crescimento, a fim de evitar um déficit alto no balanço comercial e de previnir eventual inflação de demanda. A brusca queda da inflação teve efeitos significativos sobre o poder de compra da população. 20 Ganho adicional de renda real adveio da eliminação da incerteza associada à forte oscilação dos salários reais. Esse ganho, derivado da estabilidade da moeda, explicitou-se no mercado pela maior facilidade que os assalariados passaram a ter no acesso ao crédito ao consumidor. Entre junho e dezembro de 1994, os empréstimos do sistema financeiro às pessoas físicas aumentaram em 150%. 21 O Plano Real é apontado como a melhor experiência de estabilização da economia brasileira. No entanto, a sua sustentabilidade e, principalmente, a retomada do crescimento econômico dependem de reformas mais profundas, de âmbito estrutural, envolvendo as áreas fiscal-tributária, patrimonial, financeira e administrativa. 22 Desafios que ocorreram simultaneamente: alteração do perfil do mercado consumidor; reestruturação produtiva com o aumento do coeficiente de importação; privatização, entrada de novos concorrentes por meio dos investimentos diretos, etc. Como a capacidade instalada não cresceu o suficiente, movimentos de crescimento de consumo foram abortados por medidas de redução do crédito e aumento dos juros. 23 A carência de poupança interna é um dos principais fatores de restrição da expansão dos investimentos, pois a poupança externa pode exercer apenas um papel complementar. 24 A redução das alíquotas tarifárias e a queda do dólar estimularam o aumento das importações, ao mesmo tempo que exportar se tornava um mau negócio. A restrição externa tornou-se o maior fator de limitação ao crescimento econômico, porque, sempre que a atividade econômica cresce, as importações aumentam. 25 Adicionalmente, quando o mercado interno está aquecido, os produtores tendem a se voltar para o atendimento da demanda interna, geralmente em condições mais rentáveis, em virtude da situação cambial. Em 1997, diante da crise asiática, a vulnerabilidade da economia brasileira tornouse evidente e o governo foi mais uma vez obrigado a adotar medidas de contenção do nível de atividade para evitar o descontrole externo. 26 O enorme déficit em conta corrente e o déficit público em 1998, somados à crise russa, aumentaram a desconfiança dos credores e dificultaram a obtenção de créditos externos. A grande perda de reservas cambiais levou o Brasil a recorrer ao FMI, que ofereceu uma linha de empréstimos de US$ 41,5 bilhões a serem sacados sob demanda. 27 Em janeiro de 1999, existiam muitas dúvidas sobre a capacidade do Brasil de honrar os compromissos assumidos com o FMI. Manter a taxa de juros elevada era um remédio que debilitava mais que a “doença”, pois o seu aumento agravaria a recessão e diminuiria a receita do governo, afetando-o também nas suas contas pela elevação do custo do financiamento da dívida pública. 28 A mudança, um tanto atabalhoada, do sistema cambial (de fixo para flutuante) iria permitir um ajuste lento no balanço de pagamentos, reduzindo consideravelmente o déficit em conta corrente desde então. A adoção do regime de metas de inflação, a partir de 2000, deu maior credibilidade à política monetária e permitiu taxas de juros menores, ainda que elevadas, do que as do antigo regime. 29 A instabilidade no nível de atividade econômica manteve-se em razão do quadro de desaquecimento simultâneo dos principais países da economia internacional e, internamente, do racionamento de energia, que restringiu o crescimento econômico. 30 2002 foi marcado pela disputa política Serra (PSDB) X Lula (PT) Expectativas sob o governo Lula Pilar da macroeconomia pós 2000 Metas de inflação Câmbio flutuante Superávit primário 2002 Expressivo ajuste no BP ↓ Vulnerabilidade externa Em 2005, exportou US$ 118 bi. Necessidade de políticas para exportação 31