AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PARADA E REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR DA EQUIPE DE ENFERMAGEM ATUANTE EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTA KNOWLEDGE ASSESSMENT ON PARADE AND CARDIOPULMONARY RESUSCITATION NURSING TEAM ACTING IN A HOSPITAL COUNTRY SIDE SÃO PAULO Elizângela de Paula Paulino – [email protected] Jéssica Patrícia Vieira – [email protected] Rosalina Rodrigues – [email protected] Graduandas em Enfermagem – UNISALESIANO Lins Profª Fabiana Aparecida Monção Fidelis – UNISALESIANO Lins – [email protected] RESUMO A parada cardiorrespiratória (PCR) pode ser definida como a cessação abrupta da atividade mecânica ventricular do coração, juntamente com a respiração. Seu diagnóstico acontece a partir do reconhecimento da morte clínica do paciente, ou seja, da falta de incursões respiratórias e batimentos cardíacos eficientes com viabilidade cerebral e biológica. Nas últimas décadas, os cuidados prestados aos pacientes vítimas de PCR desenvolveram-se muito. A American Heart Association (AHA) atualiza a cada cinco anos o protocolo de atendimento à vítima, tentando melhorar a assistência e aumentar a sobrevida destes pacientes. Pensando no atendimento à vítima e nas tentativas de reanimação cardiopulmonar, vê-se a necessidade da equipe de enfermagem estar atualizada neste assunto, a fim de aumentar o sucesso na reanimação. Dessa forma é que se dá a importância da realização deste trabalho, demonstrando o conhecimento deficiente da equipe de enfermagem atuante em um hospital do interior paulista, confirmando a necessidade de investimento em cursos de capacitação e programas de educação continuada. Palavras-chave: Parada Cardiorrespiratória. Conhecimento de Enfermagem. Reanimação Cardiopulmonar. ABSTRACT The cardiopulmonary arrest (CPA) can be defined as the abrupt cessation of ventricular mechanical activity of the heart, along with breathing. Diagnosis takes place from recognizing the clinical death of the patient, ie the lack of breaths and efficient heartbeat brain and biological viability. In recent decades, the care of cardiac arrest victims patients developed a lot. The American Heart Association (AHA) updated every five years to the victim care protocol, trying to improve care and increase patient survival. Thinking of care to the victim and the attempts of cardiopulmonary resuscitation, sees the need for nursing staff to be updated on this subject in order to increase successful resuscitation. Thus it is that gives the importance of this work, demonstrating the lack of knowledge of the nursing team Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 1 active in a hospital in the interior, confirming the need for investment in training courses and continuing education programs. Key-words: Cardiorespiratory Knowledge Nursing. Arrest. Cardiopulmonary Resuscitation. INTRODUÇÃO O Consenso Nacional de Ressuscitação Cardiorrespiratória (1996) apud Pereira et. al, (2015) definem a parada cardiorrespiratória (PCR) como “a interrupção súbita da atividade mecânica ventricular e da respiração”. Esta, é diagnosticada mediante o reconhecimento da morte clínica, ou seja, falta de movimentos respiratórios e batimentos cardíacos eficientes na ausência de consciência, com viabilidade cerebral e biológica. É seguro afirmar, portanto, que trata-se da maior emergência clínica que ameaça a vida de um indivíduo e estar apto para detectá-la e corrigi-la a tempo faz toda diferença no cuidado ao paciente. Para Silva (2001, p.26), "a tomada de decisão do enfermeiro na ocorrência de uma parada cardiorrespiratória (PCR) apresenta dificuldades desde o diagnóstico e prescrição da assistência de enfermagem até a execução das tarefas de cuidado. Tomar decisão significa decidir, escolher, entre uma ou mais alternativas ou opções, com o objetivo de alcançar o melhor resultado". Por essa razão, a capacitação profissional se torna peça-chave para este cuidado, entretanto, nem sempre o profissional de enfermagem está apto para tal socorro. É de fundamental importância o papel da equipe de enfermagem no sucesso da reanimação cardiopulmonar (RCP), pois cabe a ela iniciar assistência rápida, eficiente e segura para minimizar sequelas e ter maior eficácia do atendimento, aumentando a chance de sobrevivência do paciente vítima de PCR. É sabido que profissionais que são treinados e bem capacitados desenvolvem assistência de enfermagem de maneira mais eficiente do que profissionais que trabalham e sem treinamento adequado e educação continuada, visto que várias descobertas e atualizações no âmbito da saúde são realizadas com frequência. Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar o conhecimento dos profissionais de enfermagem de um hospital no interior paulista, sobre a atuação na Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 2 parada e reanimação cardiorrespiratória mediante as novas diretrizes da American Heart Association (2015). A partir desta questão, levantou-se a seguinte pergunta que norteia o trabalho: a equipe de enfermagem está apta para atender um paciente vítima de PCR dentro das novas diretrizes da AHA de 2015? Espera-se que a equipe esteja apta a atender o paciente vítima de parada, entretanto, acredita-se que por ser uma mudança recente, os mesmos terão pouco conhecimento sobre as novas diretrizes da AHA, uma vez que de acordo com Pereira, et al., (2015) em estudo similar, 51% dos enfermeiros admitiram não ter conhecimento sobre as modificações da AHA (2010). 1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS Por se manifestar, muitas vezes, de forma silenciosa, a Parada cardiorrespiratória (PCR) pode ocorrer em qualquer tipo de ambiente. No nível hospitalar, pode ocorrer desde setores menos equipados, como ambulatórios e unidades básicas de saúde (UBS), e até mesmo em locais muito bem equipados e preparados para este tipo de emergência, como unidades de terapia intensiva (UTI) e unidades coronarianas. Apesar de avanços nos últimos anos relacionados à prevenção e ao treinamento em ressuscitação cardiopulmonar (RCP), bem como à legislação sobre acesso público à desfibrilação com obrigatoriedade de disponibilização de desfibrilador externo automático (DEA) em locais públicos, muitas vidas ainda são perdidas anualmente no Brasil, relacionadas à parada cardiorrespiratória (PCR). (KAWAKAME, MIYADAHIRA, 2015, p. 658). 1.1 Modalidades de Parada Cardiorrespiratória 1.2 Ritmos chocáveis 1.2.1 Fibrilação ventricular (FV) “A fibrilação ventricular (FV) caracteriza-se pela ausência de atividade elétrica organizada, com distribuição caótica de complexos de várias amplitudes”. (TALLO, Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 3 2012, p. 196). É a principal causa de parada no adulto e resulta na ineficácia do coração em manter o bombeamento adequado de sangue para o corpo. Dentre as modalidades de PCR, a FV é entendida como a modalidade de parada de melhor prognóstico. Sendo assim, a RCP deve continuar até que o ritmo deixe de ser FV – ou porque reverteu para sinusal (ritmo normal do coração), ou porque evoluiu para um ritmo terminal. 1.2.2 Taquicardia ventricular sem pulso (TVSP) A TVSP pode ser entendida como a sequência rápida de batimentos ventriculares, que podem levar a degradação hemodinâmica, chegando à ausência de pulso arterial palpável. Esta modalidade ocorre principalmente em pacientes com doenças coronarianas, como isquemia miocárdica, apresentando frequência cardíaca (FC) >100 batimentos por minuto (bpm) e <220 bpm. 1.3 Ritmos não chocáveis 1.3.1 Atividade elétrica sem pulso (AESP) A AESP pode ser definida como a ausência de pulso detectável. “É caracterizada pela ausência de pulso na presença de atividade elétrica organizada, o que impõe um alto grau de suspeita por parte do socorrista para se chegar ao diagnóstico”. (TALLO, et al. 2012, p. 197). O foco nesta modalidade deve ser sempre a procura da sua causa, pois dessa maneira, é possível se realizar a reversão da parada através do tratamento adequado. 1.3.2 Assistolia “O principal motivo para a ocorrência da assistolia no paciente é a hipóxia, logo, ofertas de oxigênio e ventilações de qualidade devem ser prioridades no atendimento à vítima”. (PAIZIN-FILHO et al., 2003, p.167). Esta pode ser entendida Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 4 como a ausência total de qualquer ritmo cardíaco e a situação terminal das modalidades de parada. CAPÍTULO II REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR 1 DIRETRIZES EM REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR DA AMERICAN HEART ASSOCIOATION DE 2010 E 2015 Conforme afirma a AHA (2015), “as novas diretrizes trazem consigo procedimentos para RCP em adultos, pediatria e neonatologia e oferecem aos profissionais de saúde 315 itens revisados voltados ao cuidado para o paciente que porta enfermidades de urgência cardiovascular”. 1.1 Principais alterações a) Cadeia de sobrevivência: É recomendado o uso de cadeias de sobrevivência distintas que identifiquem as diferentes vias de cuidado dos pacientes que sofrem uma PCR no hospital ou no ambiente extrahospitalar. (AHA 2015). b) Time de resposta rápida (TRR): A diretriz da AHA de 2010 trazia que, apesar de haver evidências conflitantes, o consenso entre especialistas recomendava-se a utilização do TRR. Com a atualização das diretrizes em 2015, identificou-se que o TRR os benefícios da implantação do TRR intrahospitalar, pois o mesmo pode ser eficaz na redução de incidência de PCR, especialmente nos setores de clínica médica. c) Frequência das compressões torácicas: As recomendações da AHA de 2010 nos traziam: “Frequência de compressão mínima de 100/minuto”. Entretanto, Dois estudos encontraram aumento da sobrevida pacientes que receberam compressões torácicas a uma frequência100 a 120/min. Frequência das compressões torácicas muito elevada é associada com a diminuição da profundidade das mesmas. É recomendado, por conseguinte, que compressões torácicas devem ser realizados com uma frequência de 100 a 120/min. (MONSIEURS et al., 2015, p. 14 – Tradução nossa). Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 5 d) Profundidade das compressões torácicas: Anteriormente, nas recomendações de 2010 da AHA, o esterno de um adulto deveria ser comprimido a uma profundidade de 2 polegadas (5 cm). Entretanto, nas atualizações de 2015, o esterno deve ser comprimido numa profundidade de 2 a 2,4 polegadas. (5-6 cm). e) Velocidade das compressões: As recomendações de 2010 nos traziam que as compressões torácicas deveriam ser realizadas a uma frequência mínima de 100 por minuto. Agora, padronizou-se que as mesmas deverão ser realizadas entre 100-120/minuto. (MONSIEURS et al., 2015, p. 14 – Tradução nossa). f) Uso de vasopressina: A vasopressina foi definitivamente retirada do protocolo do ACLS. O motivo foi por mera simplificação de conduta, visto que a vasopressina não oferece vantagem alguma em relação à adrenalina, nem mesmo em associação. Portanto, não há motivos de mantê-la no protocolo. (MOURA, 2015, p.01). g) Uso precoce da adrenalina: Ainda observando Moura (2015): Outra mudança no protocolo é quanto à recomendação de início precoce de adrenalina. Tão logo a droga esteja disponível em pacientes com ritmo não-chocável, a mesma deve ser administrada, visto que estudos demonstraram melhores desfechos na administração precoce da droga. 1.2 Atendimento ao RN em criança em PCR – diretrizes da AHA 2015 Mesmo que a técnica de socorro à criança parada seja similar à do adulto, existe, entretanto, algumas diferenças que precisam ser levadas em consideração, como pode ser observado nas diretrizes da AHA (2015) a seguir: Relação compressão x Ventilação até a colocação de via aérea avançada: Adultos: 30:2 – 1 ou 2 socorristas Crianças: 30:2 – 1 socorrista ou 15:2, se houver dois socorristas. Bebês: 30:2 – 1 socorrista ou 15:2, se houver dois socorristas. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 6 Profundidade das compressões torácicas Adultos: 5 a 6 cm de profundidade. Crianças: 5 cm de profundidade Bebês: 4 cm de profundidade. Localização das mãos durante a RCP: Adultos: Duas mãos sobre a metade inferior do esterno. Crianças: Uma ou duas mãos sobre a metade inferior do esterno (opcional se a criança for muito pequena) Bebês menores de um ano: Um socorrista: Dois dedos no centro do tórax, abaixo da linha mamilar; Dois socorristas: Dois polegares no centro do tórax, abaixo da linha mamilar; 1.3 Medicações mais utilizadas na RCP Conforme descrito por Gonzales et. al., (2013): A utilização de medicamentos durante a PCR tem como objetivo aumentar a taxa de sucesso da reanimação. Este processo envolve o estímulo e a intensificação da contratilidade miocárdica, tratamento de arritmias, otimização das perfusões coronariana (aumento de pressão diastólica aórtica) e cerebral; além da correção de acidose metabólica (p.100). Durante a PCR, a droga sugerida pode variar de acordo com a escolha do profissional médico e o tipo de parada. Dentre as principais, podemos citar, de acordo com SMELTZER et al., 2002 e PAIZIN-FILHO et al., 2003: Adrenalina: Aumenta resistência vascular sistêmica e melhora perfusão coronária, cerebral e contratilidade miocárdica. Atropina: Aumenta a FC por acelerar a descarga do nódulo sinoatrial (NSA). Lidocaína: Inibe o influxo de sódio através dos canais rápidos das células miocárdicas e diminui a condução em tecidos isquêmicos. CAPÍTULO III A PESQUISA Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 7 1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA Trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa que visa levantar dados a respeito do conhecimento do enfermeiro e sua equipe, frente à atuação na PCR e RCP mediante as novas diretrizes da American Heart Association (AHA) 2015, através de um questionário elaborado pelos autores da pesquisa. Optou-se em realizar uma pesquisa de campo nos setores de Pronto-Socorro, UTI adulto, UTI Neonatal, Pediatria, Maternidade, Clínica Médica e Centro Cirúrgico de um hospital no interior paulista, no período de agosto a setembro de 2016. A hipótese levantada é que a equipe esteja apta a atender o paciente vítima de parada, entretanto, acredita-se que por ser uma mudança recente, os mesmos terão pouco conhecimento sobre as novas diretrizes da AHA, uma vez que de acordo com Pereira et al (2015) em estudo similar, 51% dos enfermeiros admitiram não ter conhecimento sobre as modificações da AHA 2010. 1.1 Aplicação do questionário Anteriormente à aplicação do questionário, o TCLE foi assinado, afirmando assim, que aceitavam participar da coleta de dados para a pesquisa. Porém, faz-se necessário citar que alguns funcionários não participaram da coleta, pois se encontravam de ferias, fora do setor, ou recusaram-se a participar da pesquisa, alegando não ter tempo disponível. 1.2 Discussão dos dados Área de atuação: Quando perguntado qual a área de atuação dos funcionários da instituição, obtivemos o resultado de que 13 participantes eram enfermeiros (16,04%), 67 participantes eram técnicos em enfermagem (82,72%) e um funcionário era auxiliar de enfermagem (1,24%), totalizando 81 participantes. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 8 Quando perguntados, em qual setor os participantes atuavam, alguns enfermeiros afirmaram atuar em mais de um setor hospitalar, totalizando 111,08% na área de atuação, distribuídas assim: Pronto Socorro: 16 funcionários (19,75%), UTI adulto: 12 funcionários (14,81%), UTI Neonatal: 16 funcionários (19,75%), Pediatria: 07 funcionários (08,64%), maternidade: 15 funcionários (18,51%), clínica médica: 16 funcionários (19,75%) e centro cirúrgico: 08 funcionários (09,87%). Também percebemos que a maior porcentagem dos acertos ocorreu nos funcionários do Pronto-socorro e UTI’s, comprovando nosso pensamento de que funcionários que trabalham em setores críticos têm mais acertos frente ao tema, enquanto funcionários de setores não intensivos possuíam conhecimento mais deficiente sobre o tema, talvez, por não haver tantos episódios de PCR no dia-a-dia. Referente ao tempo de formação dos mesmos, 34 funcionários (41,76%) responderam ter formação de até cinco anos, representando a maior porcentagem dos entrevistados com este período de formação. Outros 19 funcionários (23,24%) afirmaram terem se formado entre 06 e 10 anos. 12 funcionários (41,41%) responderam terem se formado entre 11 e 15 anos. 07 funcionários (08,44%) apresentavam formação entre 16 e 20 anos e somente 10 funcionários (12,14%) disseram ter mais de 20 anos de formação. Logo após, foi perguntado se estes acreditavam que “o tempo de formação acadêmica propicia ao Enfermeiro maior habilidade frente a um episódio de PCR”. Assim, 38 entrevistados (46,92%) responderam que sim, 42 entrevistados (51,85%) responderam que não e um funcionário (01,23%) não respondeu a questão. Durante a análise dos dados, percebeu-se que o tempo de formação foi essencial para a acertiva das questões, visto que 01 funcionário com 6 a 10 anos de formação não acertou nenhuma das 08 questões referente ao conhecimento frente à parada, enquanto 01 funcionário com tempo de formação de 15 a 20 anos acertou completamente o questionário apresentado. Também foi perguntado se os entrevistados já haviam trabalhado nos setores de Pronto-socorro e/ou UTI, acreditando que, com a vivência nestes dois setores, as chances de presenciar um episódio de parada pudesse ser maior, aumentando assim, as chances de acerto nas questões de conhecimento deste questionário. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 9 Logo, 61 profissionais (75,30%) afirmaram já ter atuado em algum (ou ambos) setores acima, enquanto 20 entrevistados (24,70%) afirmaram nunca terem atuado nestes campos. Desta maneira, durante a análise destes dados, percebe-se que dois terços dos profissionais entrevistados afirmaram trabalhar ou já terem trabalhado em setores de cuidados críticos da instituição. Referente ao conhecimento da equipe de Enfermagem do hospital de coleta em relação às mudanças nas diretrizes da American Heart Association (2015), 39 entrevistados (48,14%) afirmaram ter conhecimento e 40 (49,51%) afirmaram não ter conhecimento, sendo que 02 funcionários (02,35%) não responderam a questão, o que nos confirma a necessidade de educação continuada para esta instituição, a fim de melhorar o conhecimento e atualizar a performance dos profissionais, aumentando, assim, as chances de sobrevida da vítima. Araújo et al., (2012, p. 73) conclui em seu estudo que “os profissionais que integram a emergência de um hospital necessitam de capacitação, para poderem, assim, desempenhar, de forma adequada, a assistência aos pacientes vítimas de qualquer situação de emergência e, principalmente, a equipe de enfermagem por estar mais próxima do paciente”. Desta maneira, trabalhar na área da saúde significa estar em constante reciclagem e atualização, pois todos os dias a ciência evolui e traz consigo uma nova maneira mais fácil e correta de trabalhar, tornando os cursos de atualização e educação continuada cada vez mais necessárias. Quando perguntou-se a opinião da equipe de Enfermagem do hospital de coleta referente aos fatores que interferem em adequado SBV e auxílio no SAV na vítima de parada, era possível assinalar mais de uma questão. Logo, 19 funcionários (23,45%) afirmaram que é a insegurança, 30 funcionários que é a falta de habilidade técnica (37,03%), 32 que é o déficit de conhecimento (39,50%), inexperiência 22 (27,16%). Já “outro fator” foi respondido por 06 funcionários (07,40%) e 04 pessoas não responderam (04,93%). Quando indagou-se a opinião da equipe de Enfermagem referente à frequência das compressões na atual diretriz ser de 100 a 120/min. e a profundidade das compressões torácicas em adultos é de até 5 cm, 56 funcionários (69,14%) responderam que a resposta é verdadeira, 20 funcionários que a resposta é falsa Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 10 (24,69%) e 05 não responderam (06,17%). Sendo que esta resposta está incorreta, uma vez que a profundidade das compressões torácicas em adultos é de até 6 cm, mantendo a massagem mais profunda e eficaz. Enquanto 05 entrevistados não souberam responder, demonstrando déficit no conhecimento frente uma parada, caso fosse necessário realizar a RCP em alguém. Em relação à equipe de Enfermagem usar a ordem A (abertura das vias aéreas), B (Breathing = respiração), C (circulação) na prestação de Socorro à vítima, 47% dos entrevistados (58,02%) responderam que esta sequência está verdadeira, 33 responderam que é falso (40,75%) e um funcionário não respondeu (01,23%). As diretrizes da AHA (2010) para RCP recomendaram uma alteração na sequência de procedimentos de SBV de A-B-C para C-A-B (compressões torácicas, abertura das vias aéreas e respiração). Com a recomendação da AHA de 2015 de realizar a alteração para sequência para C-A-B, as compressões torácicas serão iniciadas precocemente e o atraso na ventilação será mínimo, enfatizando e iniciando a massagem para circulação com mais rapidez. Também foi perguntado se a vasopressina continua mantida na RCP em adultos. Logo, 35 entrevistados responderam “verdadeiro” (43,21%), 40 responderam “falso” (49,39%) e 06 (07,40%) não souberam responder. Entretanto, é sabido que A AHA (2015) indica que o uso combinado de vasopressina e epinefrina não oferece vantagem em comparação ao uso padrão de epinefrina, ou em uso isolado durante a PCR. Deste modo, para simplificar as manobras de reanimação cardiopulmonar, esta droga foi removida na atualização de 2015. Na elaboração do caso clínico: “M.S.V, 58 anos, hipertensa, diabética, portadora de Insuficiência renal Crônica, 1.65m, 85 kg, apresenta-se internada na clínica médica do Hospital Santa Margarida há 3 dias em tratamento de pneumonia. Apresenta no momento os seguintes parâmetros: PA: 200/130mmHg, Sat. O2: 94%, glicemia capilar 558 mg/Dl, Tº: 38,5 °C e precordialgia intensa com posterior PCR”, perguntou-se qual conduta seria adequada para esta paciente. Logo, houve grande surpresa ao perceber-se que 08,74% dos entrevistados (07 profissionais) afirmaram que controlariam a glicemia para, posteriormente reanimar a paciente e outros 28,61% (24 entrevistados) afirmaram que o correto seria encaminhar a paciente para Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 11 UTI para a reversão da PCR. 02 deles, (02,32%) afirmaram que o correto é a utilização do DEA, apenas. 04 (04,82%) não responderam e 03 entrevistados (03,30%) afirmaram que nenhuma das alternativas está correta. Somente 44 dos 81 entrevistados responderam corretamente (52,21%) onde afirmava-se que o correto seria realizar RCP com massagem cardíaca até a chegada do carrinho de emergência. Gonzales (2013) afirma que a cada um minuto que uma vítima de PCR não recebe RCP, ela perde de 7 a 10% de chance de sobreviver. Diante desta afirmativa, o paciente que aguardaria sua transferência para UTI ou aguarda sua glicemia se estabilizar para então ser realizado a reversão da parada, teria, fatalmente, o óbito declarado em poucos minutos. Também, quando questionado se, durante a PCR utiliza-se uma dose de vasopressina EV/IO, que substitui a primeira ou a segunda dose de epinefrina, 60,50% da equipe entrevistada (49 pessoas) afirmaram ser verdadeiro, enquanto 26 responderam que é falso (32,10%), além de 06 entrevistados não responderem (07,40%). Durante a aplicação do questionário, percebeu-se que esta foi a questão que causou mais dúvidas nos entrevistados. Várias pessoas afirmaram que não sabiam a resposta correta e julgaram esta afirmativa como uma conduta médica, logo, os mesmos “não tinham a necessidade de saber”, entretanto, o enfermeiro e sua equipe possuem uma responsabilidade muito grande na administração dos fármacos, sendo sim, necessário saber sua posologia, indicação, via de administração, dentre tantas outras coisas antes de administrar, a fim de prevenir iatrogenia nestes pacientes. A atual diretriz nos indica que o uso combinado de vasopressina e epinefrina não oferece nenhuma vantagem em comparação ao uso padrão de epinefrina, ou em uso isolado durante a PCR. Deste modo, para simplificar as manobras de reanimação cardiopulmonar, esta droga foi removida na atualização de 2015. Assim, 49 dos 81 participantes erraram na escolha da resposta. Na questão seguinte, foi perguntado se, durante a massagem cardíaca, o correto é não permitir o retorno do tórax. Logo, 32 profissionais (39,50%) Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 12 responderam que é a afirmativa é verdadeira, 45 responderam “falso” (55,55%) e 04 deles não responderam (04,95%). A AHA (2015) afirma que o socorrista deve evitar apoiar-se sobre o tórax entre as compressões, para permitir o retorno total da parede do tórax em adultos com PCR, visto que o retorno da parede do tórax cria uma pressão intratorácica negativa relativa. É esta pressão que promove o retorno venoso e o fluxo sanguíneo cardiopulmonar. Não permitir que o tórax retorne, influencia em uma RCP deficiente e com maior chance de insucesso. Sobre a utilização do DEA, quando disponível em uma parada, 30 funcionários (37,04%) afirmaram que o correto é a utilização do aparelho de imediato, apenas, 36 responderam que deve-se Realizar compressões torácicas por 10 minutos e só depois usar o DEA (44,44%), 14 (17,29%) que o correto é a utilização das compressões, apenas e um entrevistado (01,23%) não respondeu a questão. Porém, no que diz respeito a esta questão, as diretrizes da AHA afirmam que deve-se usar o DEA de imediato para maximizar as chances de tirar a vítima da parada. Se o DEA não estiver disponível, realizar massagem enquanto o providencia, pois este equipamento indicará se a modalidade de parada que a vítima tem é chocável ou não. Além disso, também perguntou-se se o correto é a administração de 01 ventilação a cada 6 segundos, enquanto são aplicadas compressões torácicas contínuas, durante a RCP. Obteve-se os seguintes resultados: 54 funcionários (66,66%) afirmaram que a afirmativa é verdadeira, 24 (29,63%) que é falso e 03 (03,71%) não responderam. É sabido que, além das compressões torácicas, a ventilação também é de extrema importância para a reanimação do paciente. Sendo assim perguntou-se se era verdadeiro ou falso que durante a RCP com via aérea avançada, o correto é administrar 01 ventilação a cada 6 segundos, pois antes das novas diretrizes da AHA, a ventilação era de 6-8 segundos. Entretanto agora recomenda-se que seja realizada somente a cada 6 segundos, totalizando 10 ventilações por minuto. Essa nova técnica é simples, fácil Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 13 de aprender, memorizar e realizar, facilitando o trabalho da equipe de enfermagem ao atender a vítima parada. CONCLUSÃO A partir da questão: “os enfermeiros estão capacitados para atender um paciente vítima de PCR dentro das novas diretrizes da AHA de 2015?”, levantou-se a hipótese de que esperava-se que os enfermeiros estariam aptos a atender o paciente vítima de parada, entretanto, acreditava-se que por ser uma mudança recente, os mesmos terão pouco conhecimento sobre as novas diretrizes da AHA, uma vez que de acordo com Pereira, Pinheiro et al (2015) em estudo similar, 51% dos enfermeiros admitiram não ter conhecimento sobre as modificações da AHA 2010. Após análise dos dados, foi observado que, de modo geral, vários profissionais possuíam um conhecimento regular sobre o tema, de acordo com as diretrizes da AHA (2010), entretanto, grande parte da equipe possuem conhecimento insuficiente sobre as atualizações de 2015, principalmente no que diz respeito à RCP e farmacologia utilizada no atendimento à vítima, comprovando nossa hipótese. Enfim, espera-se que futuramente este estudo possa contribuir para a melhoria do conhecimento dos profissionais envolvidos para que os mesmos busquem sempre o interesse pela atualização e educação continuada, atendendo os pacientes com conhecimento e capacidade necessárias para prestar uma assistência digna e livre de erros e complicações ao paciente. REFERÊNCIAS AMERICAN HEART ASSOCIATION. Destaques da American Heart Association 2015: Atualizações das diretrizes de RCP e ACE. ECC Guidelines Heart, [s.l.], [2015?]. Disponível em: <https://eccguidelines.heart.org/wpcontent/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf>. Acesso em 20 de Jul de 2016. AMERICAN HEART ASSOCIATION. Destaques da American Heart Association 2010: Atualizações das diretrizes de RCP e ACE. Heart, [s.l], [2015?]. Disponível em:<https://www.heart.org/idc/groups/heartpublic/@wcm/@ecc/documents/download able/ucm_317343.pdf>. 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