dossiê Parada cardiorrespiratória: suporte básico de vida de acordo com as novas diretrizes 2010 Érika de Azevedo Leitão Mássimo Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela UFMG. Mestre em Enfermagem pela UFMG. Coordenadora do Curso de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Talline Arêdes Hang-Costa Enfermeira. Pós- Graduanda em Terapia Intensiva pelo Centro Universitário UNA. Hercília Najara Ferreira Souza Enfermeira. Pós-Graduanda em Terapia Intensiva pelo Centro Universitário UNA. Este estudo objetiva descrever a técnica de atendimento à Parada Cardiorrespiratória (PCR), para adultos considerando as novas diretrizes de Ressuscitação Cardiopulmonar da American Hearth Association (AHA) 2010. As novas diretrizes para RCP no adulto como principal mudança recomendam a alteração da sequência de procedimentos de Suporte Básico de Vida de A-BC (via aérea, respiração, compressões torácicas) para C-A-B (compressões torácicas, via aérea, respiração). Além de destaque para a precocidade das intervenções e compressões torácicas eficazes e de qualidade. Com isso a atualização do profissional de saúde para atendimento à vítima em PCR requer a compreensão das alterações propostas pelas novas diretrizes 2010 e se torna indispensável considerando que a detecção precoce e as intervenções eficazes e de qualidade podem influenciar no prognóstico da vítima de PCR. Descritores: parada cardiorrespiratória, enfermagem, ressuscitação cardiopulmonar;,assistência de enfermagem, atendimento de emergência pré-hospitalar. parada.indd 31 Introdução Parada Cardiorrespiratória (PCR) é caracterizada pela ausência de responsividade, apneia ou respiração agônica e ausência de atividade mecânica cardíaca, confirmada por pulso não detectável 1,2. A abordagem de tal situação requer dos profissionais de saúde agilidade para identificação e intervenção precoces sendo estes fatores determinantes do prognóstico dos pacientes em PCR2,3. Para a reversão da PCR um conjunto de medidas devem ser adotadas sobretudo, no que diz respeito à restauração da circulação e a instalação de respiração artificial, considerados como princípios fundamentais da Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP). Tais medidas visam reverter e/ou ofertar suporte ao indivíduo, até que suas funções vitais sejam restauradas 3. Outro aspecto importante é a detecção do ritmo cardíaco presente no momento da PCR (Fibrilação Ventricular; Atividade Elétrica Sem Pulso; Assistolia) e a atuação específica para o restabelecimento de um ritmo cardíaco espontâneo e efetivo 4. Para o êxito das manobras de RCP, os executores devem ser capazes de realizar compressões torácicas, ventilar os pulmões além de atender as situações específicas da etiologia de cada PCR5,6. A Enfermagem Prática Maio de 2011 31 28/04/11 10:36 Procedimentos dossiê Técnica de atendimento à vítima de PCR 7 4 1 Testar responsividade do paciente através de estímulo verbal e tátil; 2 Em caso de ausência de pulso,colocar as mãos na porção inferior do externo, um pouco acima do apêndice xifóide (aproximadamente 2cm ou dois dedos); 5 Os socorristas devem iniciar as compressões torácicas antes de aplicar as ventilações de resgate (C-A-B ao invés de A-B-C); 6 8 Não havendo resposta, o profissional deve acionar o serviço de emergência/urgência e buscar o DEA ou encarregar alguém disso; 3 Checar se o paciente tem pulso (artéria carótida) no período máximo de 10 segundos e assim checar a presença de sinais de circulação (tosse, respiração nasal, movimentos); 32 parada.indd 32 Posicionar a superfície hipotenar de uma das mãos, colocar a outra mão sobre a primeira e iniciar as compressões torácicas, mantendo seus braços esticados e alinhados a 90° com o tórax do paciente; Enfermagem Prática Maio de 2011 28/04/11 10:36 9 Realizar 5 ciclos (2 minutos) de 30 compressões e 2 ventilações; 12 10 Deve-se trocar o profissional que aplica as compressões (para evitar a fadiga) a cada 5 ciclos completos de 2 minutos e evitar a interrupção das compressões por mais que 10 segundos; 11 Durante o choqueos socorristas devem manter-se afastados e sem tocar o paciente; Aplicar um choque, reiniciar as manobras de RCP (5 ciclos), e avaliar o ritmo após 2 a 3 minutos de RCP; Reiniciar a RCP começando com compressões imediatamente após cada choque. Realizar 30 compressões, comprimindo a uma profundidade de 5 cm e permitindo que ele retorne totalmente a sua posição normal (frequência mínima de 100 compressões por minuto em vez de aproximadamente 100/minutos); 8 Abrir vias aéreas e realizar duas ventilações (1 segundo), com ambú/ máscara e volume suficiente para ver o tórax elevar; parada.indd 33 13 Prosseguir com a realização das Com a chegada do DEA ligá-lo, posicionar as pás adesivas sobre o tórax da vítima, e seguir suas orientações; manobras e utilização do DEA até a retomada do ritmo cardíaco espontâneo ou a chegada do suporte avançado de vida. 14 Fotos: Acervo das autoras a s, rax 7 Caso o DEA não recomende o choque, checar o pulso da vítima. Se estiver ausente, manter a RCP até a chegada do suporte avançado. Enfermagem Prática Maio de 2011 33 28/04/11 10:37 dossiê As novas diretrizes 2010 para RCP no adulto recomendam uma alteração na sequência de procedimentos de Suporte Básico de Vida de A-B-C (via aérea, respiração, compressões torácicas) para C-A-B (compressões torácicas, via aérea, respiração)6. Considerando a alteração do ABC primário para CAB, as compressões torácicas devem ser iniciadas imediatamente com qualidade e eficiência, tendo em vista que posicionar a cabeça e iniciar a respiração boca a boca ou boca/máscara demanda certo tempo. A diretriz reforça que quer haja um ou mais socorristas presentes, o início da RCP com compressões torácicas de qualidade garante que a vítima receba logo intervenção6. Com isso a atualização do profissional de saúde para atendimento à vítima em PCR requer a compreensão das alterações propostas pelas novas diretrizes 2010 e se torna indispensável considerando que os estudos que embasam o novo guideline foram baseados em evidências científicas, avaliadas por um consenso de experts do mundo inteiro. Tais recomendações reforçam que a detecção precoce e as intervenções eficazes e de qualidade podem influenciar no prognóstico da vítima de PCR. Objetivo Este artigo objetiva descrever a técnica de atendimento à parada cardiorrespiratória (PCR) para adultos, considerando as novas diretrizes de Ressuscitação Cardiopulmonar da American Hearth Association (AHA) 2010. Na avaliação primária, concentre-se na RCP básica de qualidade e na desfibrilação (BLS): Primeiro “C-A-B” Circulation - Faça compressões torácicas Airway - Abra as vias aéreas Breathing - Realize ventilações Defibrilate – Choque FV Na avaliação secundária, realize Suporte Avançado de Vida (ACLS): Sequencialmente ao C-A-B primário, faz-se importante a detecção do ritmo de parada para determinação da conduta e abordagem adequada. Caso utilize o desfibrilador manual determinar cargas de choque: Monofásico – iniciar com 360 joules; Bifásico – aplicar a maior carga do aparelho. Como atribuição do enfermeiro está: auxiliar a equipe na obtenção de via aérea definitiva, suporte ventilatório, monitorização eletrocardiográfica na derivação DII, além do preparo das medicações indicadas para cada ritmo de PCR. A droga de primeira escolha para qualquer ritmo de PCR é a epinefri- na, sendo 1mg EV a cada 3 a 5 minutos. Como vasoconstritor, espera-se que a epinefrina através da vasoconstrição periférica promova o aumento de pressão de perfusão coronariana e cerebral, otimizando a perfusão desses órgãos durante a RCP. Em caso de Fibrilação Ventricular utilizase droga antiarrítmica como terapia adjuvante (indica-se geralmente Amiodarona 300mg), associada a RCP, desfibrilação e vasoconstritor6. Cadeia de Sobrevivência Outra questão de destaque para RCP é a incorporação de cuidados pós-PCR, a importância desses cuidados é enfatizada pela inclusão de um novo elo na Cadeia de Sobrevivência de Adultos em Atendimento Cardiovascular de Emergência da AHA que agora passa a ter 5 elos6 (Figura 1). Figura 1. Cadeia de Sobrevivência de Atendimento Cardiovascular de Emergência Fonte: American Hearth Association 2010. Os elos na nova Cadeia de Sobrevivência de Atendimento Cardiovascular de Emergência em Adulto da AHA são: 1. Reconhecimento imediato da PCR e acionamento do serviço de emergência/urgência; 2. RCP precoce, com ênfase nas compressões torácicas; 3. Rápida desfibrilação; 4. Suporte avançado de vida eficaz; 5. Cuidados pós-PCR integrados. Considerações As manobras de RCP podem ser divididas como Suporte Básico de Vida (BLS) e Suporte Avançado de Vida (ACLS). A divisão destas ações é descrita como: BLS consiste na oxigenação e na perfusão dos órgãos vitais, através de manobras simples e mantidas continuamente (Avaliação do pulso, compressões torácicas, abrir as vias aéreas, ventilar, desfibrilação). Enquanto o ACLS consiste na intubação traqueal, avaliação do posicionamento, fixação do tubo, punção de acesso venoso e monitorização dos sinais vitais, administração de fármacos e avaliação de ritmo, desfibrilação7. Referências bibliográficas 1. Aehlert B. ACLS, advanced cardiac life support: emergências em cardiologia: suporte avançado de vida em cardiologia: um guia para estudo. 3a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2007. 2. Leitão EA, Cortez MSM, Carvalho DV, Júnior HMM. Atualização cardiopulmonar. Rev Min Saúde Pub. 2005; 5(6): 4-12. 3. Mássimo EAL, Carvalho DV, Hang-Costa 34 parada.indd 34 TA, Oliveira DU. Evolução histórica da ressuscitação cardiopulmonar: estudo de revisão. Rev Enferm UFPE. 2009; 3(3):1-6. 4. Lane JC. Novas diretrizes de reanimação cardiorrespiratória cerebral da sociedade americana de cardiologia (2005 – 2006). Arq Bras Cardiol. 2007; 89 (2): 17-8. 5. American Heart Association. New Guidelines for Cardiopulmonary Ressucitation. Dallas: Medline; 2005. 6. American Heart Association. Destaques das Diretrizes da American Heart Association 2010 para RCP e ACE. Dallas: AHA; 2010 7. Feitosa-Filho GS, et al. Atualização em reanimação cardiopulmonar: o que mudou com as novas diretrizes! Rev Bras de Terapia Intensiva. 2006; 18(2): 177-185. Enfermagem Prática Maio de 2011 28/04/11 10:37