formação teórico-prática dos estudantes de ensino médio

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FORMAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA DOS ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO
PROFISSIONALIZANTE PARA ATUAREM NA PARADA CARDIORESPIRATÓRIA: UM ESTUDO PROSPECTIVO
Autores : Jadson de Oliveira RODRIGUES; Vanessa de Freitas MARÇOLLA; Leticia LISBOA; Evandro SILER;
Gracielli SILVA; Ivana ARAGÃO; Edna RIVEIRO; Luciane MOURA; Geizi Jane Alves de CARVALHO.
Identificação autores: Bolsista da FAPERJ; Orientadora docente da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de
Janeiro (FAETEC); Bolsista da FAPERJ; Bolsista da FAPERJ; Bolsista da FAPERJ; Co-orientadora docente da
FAETEC; Co-orientadora docente da FAETEC; Co-orientadora docente da FAETEC; Co-orientadora docente da
FAETEC.
Introdução
Doenças cardiovasculares são a causa mais comum de óbitos no Brasil e no
mundo. A parada cardíaca súbita é um dos principais contribuintes para este índice.
Estima-se que ocorra, no Brasil, cerca de 200.000 paradas cardiorrespiratórias (PCR)
anualmente, onde 50% dos casos ocorre em ambiente extra-hospitalar (Fernandes et al.,
2014) no qual a maioria das vítimas não recebe manobras de ressuscitação
cardiopulmonar (RCP) das pessoas presentes. O tempo para realização das manobras é
de fundamental importância, pois estima-se que a cada minuto a sobrevida da vítima
decai em 10% (Pazin-Filho, 2003).
Segundo Mioto et al. (2009), a mortalidade e morbidade das vítimas de parada
cardíaca súbita está diretamente relacionada à habilidade dos profissionais de saúde ou
leigos em usar apropriadamente seu conhecimento (cognição) e capacidade de realizar a
RCP. Ao observar o efeito do treinamento em primeiros socorros, incluindo RCP, no
resgate realizado por leigos, Pelinka et al. (2004) concluiu que a performance do resgate
dos leigos que receberam treinamento era proporcionalmente superior em relação ao
nível de treinamento (básico, avançado e profissional) e que o número de vítimas que
deixaram de ser socorridas era menor.
O treinamento de médicos, enfermeiras e pessoas leigas em muitos países é
baseado no Suporte Básico de Vida (Basic Life Suport - BLS), curso criado pela
American Heart Association (AHA) que estabelece diretrizes para o ensino de
emergência cardíaca. Em 2010 a reanimação cardiopulmonar moderna completou 50
anos de existência e de aprimoramento, onde neste mesmo ano foi estabelecido o novo
Guideline publicado no Journal of the American Heart Association, que visa maior
rapidez e eficácia na realização da RCP. A sequência do BLS denominada ABC,
respectivamente, airway (vias aéreas), breathing (respiração) e chest compressions
(compressões torácicas), alterou-se para CAB (chest compressions – airway –
breathing).
Cabe frisar que, embora a AHA tenha lançado um novo Guideline em 2015,
este não apresentou mudanças bruscas no protocolo de atendimento realizado por
socorristas leigos (AHA, 2015).
A Associação observou que se perdia muito tempo com as vias aéreas e
respiração, o que fazia com que o tempo para iniciação das compressões torácicas fosse
cada vez mais longo. Decidiu, então, priorizar as compressões torácicas, a fim de
diminuir o risco de danos cerebrais irreparáveis, já que em poucos minutos ocorre morte
das células neuronais e edema cerebral se o suprimento de oxigênio não for rapidamente
reestabelecido (Bertelli et al., 1999). Em razão dos procedimentos de abertura da via
aérea e a aplicação da ventilação serem considerados pelos socorristas os mais difíceis,
o início com compressões torácicas pode encorajar mais socorristas a iniciarem a RCP.
O surgimento de um novo padrão no protocolo de atendimento às vítimas
ainda hoje está em total desconhecimento dos leigos, caracterizando a necessidade
veemente de treinamento da população com base nessa nova diretriz.
O treinamento reduz o desconhecimento e medo, aumentando a segurança para
reconhecer que a vítima não respira adequadamente, de forma a acionar o socorro e
iniciar a RCP o mais breve possível, com o mínimo de interrupções nas manobras de
compressões torácicas. Fleischhacker et al. (2009), em um estudo acerca do treinamento
de RCP em estudantes adolescentes, conclui que após o aprendizado 95% dos alunos
reconheceram a parada cardíaca e acionaram o sistema de emergência, 85% aprenderam
a checar os sinais vitais e 93% souberam utilizar o desfibrilador externo automático
(DEA), demonstrando que o treinamento em RCP é efetivamente bem aprendido e
executado em crianças acima de 9 anos de idade.
Um estudo publicado no Circulation (AHA, 2011), Jornal da American Heart
Association, sobre a importância de implementação de treinamento de RCP nas escolas
refere que nos casos de parada cardiorrespiratória: apenas 5% das pessoas leigas não
treinadas fazem RCP para salvar a vida da vítima, ao passo que 35% dos indivíduos
leigos treinados realizam RCP visando salvar a vítima. Portanto, devemos considerar
que estes indivíduos podem salvar vidas quando treinados e que com a adoção de
programas de treinamento periódicos em escolas de ensino médio será alcançada a meta
de diminuição da mortalidade.
Visto que os estudantes de ensino médio se caracterizam adolescentes e que os
eventos de parada cardíaca súbita ocorrem nos mais diversos ambientes, onde há grande
possibilidade de o adolescente se encontrar, faz-se necessário a capacitação deste
individuo para que ele se torne um multiplicador de conhecimento em sua família e
comunidade.
Este projeto visa, portanto, o treinamento teórico-prático aos estudantes do
ensino médio profissionalizante de escola pública, a fim de que estes adolescentes
atuem corretamente, de forma rápida e segura, em uma parada cardiorrespiratória, de
modo que as manobras de reanimação funcionem de forma eficiente, a fim de salvar
vidas.
Material e Métodos
O desenvolvimento se deu através da implementação de um Programa de
Treinamento teórico-prático, com duração de 2 horas, destinado a todos os alunos da
Escola Técnica Estadual de Santa Cruz – ETESC. Este tempo baseia-se no estudo
publicado pelo Circulation (AHA, 2011) onde demonstra que o treinamento requer, no
mínimo, 2 horas. Os benefícios para a comunidade escolar são: conhecimento do
“guideline”
para
manobras
de
ressuscitação
cardiopulmonar
teórico-prático;
multiplicação do conhecimento para os familiares e comunidade; diminuir comorbidades; e salvar vidas.
Este projeto tem o objetivo de implementar um protocolo de treinamento de
RCP aos estudantes do ensino médio profissionalizante, com destaque aos alunos da
ETESC. Cada treinamento foi feito com no máximo 21 alunos, que receberam matérias
didáticos de apoio, com o objetivo de facilitar o processo ensino-aprendizagem e
multiplicar os conhecimentos adquiridos.
Ao final de cada treinamento, os alunos foram avaliados através dos passos
críticos de desempenho, a saber: (i) avaliação da responsividade e respiração; (ii)
acionar o serviço de emergência / pegar desfibrilador externo automático; (iii) iniciar
ressuscitação cardiopulmonar; (iv) verificar ritmo; (v) uso da força e rapidez na
compressão.
Todos os dados foram armazenados para posterior análise.
Resultados e discussão
Em análise preliminar, mais de 50% não tinha qualquer conhecimento sobre o
assunto. Esta avaliação revelou que, após duas horas de treinamento e analisadas as
listas de verificação de desempenho, 85% sabiam como executar o procedimento de
pedir ajuda de forma eficaz, 30% foram capazes de reconhecer a ausência de respiração,
35% se posicionaram e iniciaram as compressões de forma recomendada.
Tendo em vista que mais da metade dos alunos não possuíam qualquer
conhecimento sobre RCP, este projeto possibilitou que os alunos obtivessem um saber
acerca do método de ressuscitação cardiopulmonar e também aos alunos que possuíam
algum conhecimento, que este fosse reafirmado e intensificado. Visto que apenas 15%
dos pesquisados não souberam acionar o serviço de emergência, demonstra que a
maioria absoluta soube pedir ajuda de forma eficiente, o que caracteriza um dos
principais gestos de salvamento realizado por um leigo, que é solicitar ajuda de um
profissional qualificado.
Além disto, 35% foram capazes de realizar a manobras correta de compressão,
mostrando que em apenas um treinamento o adolescente é capaz de desenvolver um
estágio cognitivo de habilidade motora, descrito por Fitts e Posner (1967).
Treinamentos posteriores podem levar a um nível autônomo de desenvolvimento das
manobras.
Conclusão
Os estudantes, em sua maioria adolescentes, quando treinados são capazes de
agir na cena de uma parada cardíaca, minimizando os danos e sequelas as vitimas, e
principalmente, salvando vidas. Além de propagarem o conhecimento adquirido a seus
familiares e amigos de forma a diminuir os índices de mortalidade.
A reciclagem no treinamento faz com que o nível de habilidade na realização da
RCP possa alcançar níveis autônomos de prática. O ensino dos métodos de Suporte
Básico de Vida deve alcançar todas as escolas, sendo implementado, através de políticas
educacionais, o ensino obrigatório de tais medidas, que visem o saber lidar em casos de
parada cardíaca.
Este estudo apresenta-se, por fim, como proposta pioneira no desenvolvimento
deste saber prático junto aos alunos da rede pública, especificamente no Estado do Rio
de Janeiro, atendendo às recomendações da American Heart Association, contribuindo
na formação dos sujeitos envolvidos e possibilitando condições cada vez mais
promissoras de salvamento em casos de parada cardiorrespiratória.
Referências
AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2011. Circulation. (http://circ.ahajournals.org/).
Acesso em 28/04/2011.
AMERICAN HEART ASSOCIATION. Destaque da Atualização as Diretrizes da AHA
2015 para RCP e ACE. Dallas, 2015.
BERTELLI. A. et al. Estudo preliminar das relações entre duração da parada cardiorrespiratória e suas consequências nas vítimas de trauma. Rev.Esc.Enf.USP., v.33, n.2, p.
130-41, jun. 1999.
FERNANDES et al. Ensino de Suporte Básico de Vida para alunos de escolas pública e
privada do ensino médio. Arq Bras Cardiol, 2014.
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FLEISCHHACKER et al. School children sufficiently apply life supporting first AID: a
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MIOTTO et al. Efeitos na Ressuscitação Cardiopulmonar utilizando treinamento teórico
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PAZIN FILHO et al. Parada cardiorrespiratória (PCR). Medicina, Ribeirão Preto, n. 36,
p. 163-178, abr./dez. 2003.
PELINKA et al. Bystander trauma care-effect of the level of training. Ressuscitacion, n.
61, p. 289-296, 2004.
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