Quelen Raimunda Ferri Baggio - IFRS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL À
EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
DIAGNOSTICANDO OS LETRAMENTOS NOS ALUNOS
INGRESSANTES NO PROEJA DO IFRS CAMPUS BENTO GONÇALVES
Quelen Raimunda Ferri Baggio
Orientadora: Profª Ms. Daniela Brun Menegotto.
Bento Gonçalves
2009
FICHA CATALOGRÁFICA
______________________________________________________________________
B144d Baggio, Quelen Raimunda Ferri
Diagnosticando os letramentos nos alunos ingressantes no PROEJA do
IFRS – Campus Bento Gonçalves / Quelen Raimunda Ferri Baggio ;
orientadora Daniela Brun Menegotto. – Bento Gonçalves, 2009.
29 f.
Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa
de
PósGraduação em Educação. Curso de
Especialização em Educação
Profissional integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de
Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS.
1. Educação. 2. Educação profissional. 3. Programa Nacional de
Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade
de Educação de Jovens e Adultos. 4. PROEJA. 5. Práticas de leitura e escrita
– Alfabetização - Letramento – PROEJA. 6. Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves –
PROEJA. I. Menegotto, Daniela Brun. II. Título
CDU 374.7
__________________________________________________________________________
___
CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.
(Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável - CRB10/979)
3
Agradeço a Professora Orientadora Ms.
Daniela Brun Menegotto e ao Professor
Dr. Vilmar Alves Pereira, competentes
professores, pela orientação e pelo
comprometimento com desenvolvimento
da minha pesquisa.
O presente estudo é dedicado a:
Meu filho Douglas, razão da minha vida,
Minha mãe Dianei, pelos ensinamentos ,
Minha irmã Greice Kelly, que alegra nosso
conviver,
Minha tia Genni, pelo constante incentivo,
Meus Padrinhos Neri e Mariza, por me
oportunizarem uma educação sólida.
RESUMO
Esta pesquisa foi desenvolvida no Curso de Especialização em Educação
Profissional Técnica de Nível Médio Integrada a Educação Básica na Modalidade
Educação de Jovens e Adultos com objetivo principal de diagnosticar os aspectos de
letramento apresentado nos alunos ingressantes no PROEJA (Programa Nacional
de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de
Jovens e Adultos) do IFRS (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio Grande do Sul) – Campus Bento Gonçalves, relatando o uso da leitura e escrita
do cotidiano dos alunos que não possuem vínculo empregatício com a Instituição e
constatando os benefícios do letramento na vida social, política e econômica desses
alunos. Os principais teóricos que fundamentam o estudo e alguns autores que
possibilitam compreender a pesquisa são: Ferreiro & Teberosky (1985), Freire (1990,
1997), Kleiman (1995, 2001), Moraes (1986), Soares (2003), Tfouni (1998,2004).
A pesquisa é de natureza exploratória e envolve análise qualitativa dos dados
obtidos por meio de diálogos informais em diferentes momentos do ensino e da
aprendizagem e da aplicação de questionário - ANEXO I – Acessos de Letramento
aos alunos ingressantes no PROEJA do IFRS – Campus Bento Gonçalves, onde foi
possível conhecer as práticas e leituras de mundo que permeiam o processo da
construção do ensino e da aprendizagem desses alunos. Suas histórias de
alfabetização e a ruptura desse processo permeiam os anseios da retomada desses
alunos as salas de aula.
Os resultados mais significativos do estudo foram: as descobertas das práticas de
leituras dos alunos e as interferências dessa prática no seu convívio social,
educacional e familiar. O reconhecimento de que a escola não é o único certificador
do desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem como também da
leitura e da escrita, mas sim, são as práticas sociais dos alunos no seu cotidiano que
tornam-se vital para a convivência destes na sociedade letrada.
Palavras-Chave: PROEJA, Alfabetização, Letramento, Práticas de Leitura e Escrita.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................7
2 OS SUJEITOS DO PROEJA ................................................................................10
3 DESVENDANDO O CONCEITO DE LETRAMENTO...........................................13
4 O LETRAMENTO DOS SUJEITOS ......................................................................18
5 A OCORRÊNCIA DO LETRAMENTO NOS SUJEITOS INGRESSANTES NO
PROEJA IFRS – CAMPUS BENTO GONÇALVES.................................................20
6 AS PRÁTICAS DO EDUCADOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA
LEITURA E ESCRITA DOS SUJEITOS INGRESSANTES NO PROEJA ................22
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................24
REFERÊNCIAS.........................................................................................................26
ANEXOS ...................................................................................................................27
ANEXO I – ACESSOS DE LETRAMENTO .............................................................28
7
1 INTRODUÇÃO
O PROEJA é um programa que foi instituído pelo Decreto nº 5478/05,
revogado posteriormente pelo Decreto nº 5840/06, no contexto do governo Lula,
mostrando a decisão governamental de atender a uma demanda de jovens e adultos
por meio da educação profissional técnica de nível médio.
De acordo com o Documento Base do PROEJA, o mesmo constitui-se em
um desafio político e pedagógico para todos aqueles que desejam transformar este
país dentro de uma perspectiva de desenvolvimento e justiça social. Compreende a
construção de um projeto possível de sociedade mais igualitária e fundamenta-se
nos eixos norteadores das políticas de educação profissional do atual governo, no
desenvolvimento de estratégias de financiamento público que permitam a obtenção
de recursos para um atendimento de qualidade, uma oferta de educação profissional
dentro da concepção de formação integral do cidadão. Enfatiza a importância da
formação humana dos sujeitos envolvidos, isto é, dos jovens e adultos aos quais se
destina a implementação desse programa. A construção do documento teve a
participação de representantes das Escolas e Centros Federais de Educação
Tecnológica, do Fórum Nacional da EJA e da Universidade Brasileira. O direito a
educação básica, em um projeto nacional de desenvolvimento soberano, frente aos
desafios da inclusão social e da globalização econômica. De acordo com o
Documento Base do PROEJA (2006, p.26), o seu objetivo principal é “uma política
educacional para proporcionar o acesso ao público da EJA ao ensino médio
integrado à educação profissional técnica de nível médio”.
O PROEJA é ofertado pelas Instituições Federais de Educação Profissional,
visto que se constitui em uma nova forma de pensar a EJA, integrando formação
geral e educação profissional, reincidindo no sistema escolar um imenso contingente
de sujeitos, possibilitando-lhes uma formação integral. Além disso, abre-se uma
nova possibilidade de inclusão, visto que o atendimento aos jovens e adultos no
Ensino Médio ainda é escasso e sua integração com a educação profissional
também representa desafios a serem enfrentados. Os jovens e adultos devem ser
sujeitos de direitos de uma educação de qualidade, com formas pedagógicas
diferenciadas que não os leves a novos fracassos. Essa busca pela qualidade da
educação na EJA, entretanto, esbarra em uma série de questões, que podem ser
8
atribuídos tanto a fatores relacionados à escola, que perpassam por ela, mas que
não são dela, como, por exemplo, a má distribuição de renda no país, fatores
internos à escola, projetos pedagógicos inadequados, formação e valorização dos
docentes, dentre outros. Além disso, é necessário que haja vontade política para
enfrentar os diferentes problemas que afetam a educação no atual momento
histórico para que se garanta, de fato, a educação como direito de todos.
A concepção de Educação do programa em foco, constante no seu
Documento Base, configura-se como uma possibilidade de conquista de uma
sociedade mais justa, portanto, mais igualitária. Essa idéia é ratificada pela oferta de
educação profissional, visando à formação integral do homem, para viver em
consonância com esse mundo científico-tecnológico.
De acordo com o Documento Base PROEJA (2006): “PROEJA é um desafio
pedagógico e político para todos aqueles que desejam transformar este país dentro
de uma perspectiva de desenvolvimento e justiça social” (Documento Base
PROEJA, 2006, p.1)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9394/96,
promulgada em 1996, vigente até hoje, aborda e enfatiza a educação como direito
de todos que indefere de classe social, nível de escolarização, condição social e
econômica, uma educação de direitos, onde TODOS têm acesso. No que se refere à
Educação de Jovens e Adultos no Título III “Do direito à educação e do dever de
educar”, em seu artigo 4º prevê: “O dever do Estado com educação pública será
efetivado mediante a garantia de”:
VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com
características e modalidades adequadas às suas necessidades e
disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições
de acesso e permanência na escola.
Os parágrafos do artigo 37 garantem a modalidade de ensino de jovens e
adultos que em seu caput prevê: “A educação de jovens e adultos será destinada
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental
e médio na modalidade própria”.
9
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular,
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do
alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos
e exames. § 2º O poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a
permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e
complementares entre si.
Asseguradas pela Lei maior, as escolas então puderam construir seus
planos político-pedagógicos e seus regimentos adaptados à nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional.
10
2 OS SUJEITOS DO PROEJA
No decorrer dos anos a EJA foi conquistando novos e diferentes espaços em
nossa sociedade. Desta forma, de acordo com as necessidades e exigências do
mercado de trabalho, surge o PROEJA. Mesmo assim, percebo que o
desenvolvimento educacional do sistema político brasileiro não cumpriu com seu
legado a educação às gerações futuras, hoje ainda existem crianças, jovens e
adultos fora da sala de aula.
São esses que, hoje são os atuais alunos do PROEJA os que não tiveram
oportunidade da idade regular de freqüentar a escola e concluir seus estudos.
A realidade é um contexto de jovens e adultos trabalhadores que tem o
compromisso “maior” o sustento da própria família, o pagamento das contas
mensais, compromisso com futuro dos filhos e da família, além da preocupação da
educação dos filhos a conclusão da formação da sua própria educação. Eles são os
sujeitos “não oportunizados” pela política de educação da sua época e que tiverem
que optar pela vida profissional antes de seu tempo real, proporcionando
experiências de vida e profissional, constituindo saberes, que podem ser
compreendidos como conhecimentos de vida.
Assim sendo os sujeitos atendidos pelo PROEJA são os egressos do Ensino
Fundamental, de diferentes faixas etárias que não tiveram oportunidade de acesso à
escola ou dela foram excluídos por vários aspectos sociais e econômicos, dentre
eles, a busca pela sobrevivência.
Sabe-se que, em sociedades industrializadas e com a evolução das
inovações tecnológicas, as habilidades de leitura e escrita são mais que solicitadas
para a conquista de um espaço no mercado de trabalho. Desde as situações simples
do cotidiano até as condições mais complexas, existe grande necessidade de
familiarização com o código da escrita, da habilidade da escrita à oralidade.
O ser humano é um ser social e para se realizar como tal, precisa
indiscutivelmente da linguagem, já que a realidade social vivenciada pelos indivíduos
torna-se condição essencial para que a língua se una à fala e se torne processo de
comunicação.
11
Kleiman (1999) nos auxilia quando diz que as:
(...) atividades que, para um sujeito letrado, são apenas se comunicar com
os outros e de agir sobre o meio, quase tão automáticas como falar e que
não requerem, portanto, grandes esforços de concentração ou
interpretação, representam verdadeiros obstáculos para os grandes grupos
brasileiros não-escolarizados, que não tiveram acesso à escola, ou foram
prematuramente expulsos dela. (p.7)
Na grande maioria das vezes a linguagem age como mecanismo de
exclusão social, demonstrando como a escola tradicional e a mídia atualmente estão
contribuindo para o agravamento das diferenças que existem entre os supostos
alfabetizados e os não alfabetizados. Os aspectos da linguagem quando bem
trabalhados e aperfeiçoados por meio da educação, o indivíduo apresenta plenas
condições de atuar no sistema que se torna cada vez mais exigente. Entretanto, se
esse indivíduo receber uma formação desqualificada, ou simplesmente, não receber
esse tipo de orientação, sua inserção no âmbito atual fica absolutamente
comprometida, cabendo a ele exercer funções subalternas e, muitas vezes,
trabalhos subumanos.
As ações da EJA ao longo da história tem sido viabilizar melhores chances
para esse público, vítima dos descasos demonstrados pelos vários governos
brasileiros ao longo dos tempos. Com o PROEJA, essas expectativas permanecem,
e ainda são amplificadas pela parceria estabelecida com o ensino profissionalizante.
O PROEJA vem a ser a promoção de qualidade de vida ao público
estipulado, e isso poderá ser conquistado, apenas e somente, com a instauração de
um sistema de ensino que aperfeiçoe as habilidades desse público, sempre havendo
o enfoque das peculiaridades inerentes a esse grupo, que não necessita apenas de
instrução para o domínio do código da escrita (alfabetização). Deve-se também
realizar uma conexão com fatores sociais que permeiam a realidade dos alunos, pois
o processo de saber ler e escrever se desenvolve através do envolvimento de
pessoas nas suas diversas culturas, condições sócio-econômicas, práticas sociais...
FREIRE (1999) ao tratar de uma Educação social, parte da necessidade do aluno, ir
além de se conhecer, conhecer também os problemas sociais que o afligem. Desta
forma, o autor enfatiza a necessidade de estimular o povo a participar do seu
processo de emersão na vida pública, engajando-se no todo social. É desta forma
12
que se percebe a necessidade do uso do letramento, uma vez que parte das
experiências escritas e orais elaboradas até o momento pelos sujeitos, procurando a
partir daí, o aperfeiçoamento das habilidades de leituras e escritas, pois de acordo
com Kleiman (1999, p.153) deve-se “utilizar o conhecimento anterior do aluno para
construir o novo”.
Ainda de acordo com Freire (1997, p.93), “Não somos só o que herdamos
nem apenas o que adquirimos, mas a relação dinâmica, processual do que
herdamos e do que adquirimos”.
Assim entende-se que a educação se desenvolve através de um processo
contínuo que passa de geração a geração, transcende os limites da sala de aula
tradicional, vai além de uma educação formal.
13
3 DESVENDANDO O CONCEITO DE LETRAMENTO
O letramento na prática pedagógica da EJA é a reflexão de que a educação,
na modalidade de jovens e adultos como em qualquer outra, é um processo vivo,
que envolve a participação ativa tanto do docente quanto do discente, tanto do ser
humano, enquanto ser individual, quanto da sociedade.
O letramento não traz consigo a idéia de que a linguagem em si transforma
as pessoas, mas problematiza os usos que as pessoas fazem desse instrumento
chamado escrita. Assim, os estudos do letramento, podem contribuir para as turmas
de educação de jovens e adultos porque abre novas portas e perspectivas para a
reflexão crítica sobre o papel da escola, e também para o desenvolvimento de
práticas educativas de leitura e escrita que possam inserir, de forma mais eficiente,
esses sujeitos em demandas sociais.
A palavra letramento ainda não está dicionarizada, porque foi introduzida
muito recentemente na língua portuguesa, tanto que quase podemos datar com
precisão sua entrada na nossa língua, identificar quando e onde essa palavra foi
usada pela primeira vez.
Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa literacy; os
dicionários definem assim essa palavra: LITERACY: the condition of
being literate. Littera + cy. Palavra latina= letra cy: sufixo indica: qualidade,
condição, estado. Traduzindo a definição acima, literacy é “a condição de
ser letrado. Em inglês, o sentido de literate é: o adjetivo que caracteriza a
pessoa que domina a leitura e a escrita (SOARES, 1998, p. 35-36, grifo da
autora). A palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de Mary
Kato: No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística, de 1986 em
1988 no livro Adultos não alfabetizados: o avesso do avesso, de Leda
Verdiani Tfouni em 1995 no livro Os significados do Letramento, de Ângela
Kleiman (SOARES, 1998, p. 32-33).
Como esse termo é recente, no vocabulário da educação e das ciências
lingüísticas, inserido há pouco mais de duas décadas, considera-se importante citar
o conceito, a origem e a causa do surgimento, a fim de propiciar o esclarecimento na
opinião de alguns autores, antes de dar continuidade ao trabalho. Assim, os autores
citados abaixo compreendem o letramento:
14
(...) o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura
e escrita. (SOARES, 1998, p. 39). [...] melhor tradução para o português da
palavra 'literacy' seria a expressão “cultura escrita” (FERREIRO, 2005, p.
09). [...) conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema
simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos
específicos (KLEIMAN, 1995, p. 19). (...) supõe saber ler ou escutar a leitura
e que a possibilidade de compor textos supõe conhecer as normas de como
colocar esta linguagem na sua forma gráfica (TEBEROSKY, 1997, p. 99)
Desta forma, podemos compreender que o letramento é o estado ou a
condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas quem cultiva e exerce as
práticas sociais de leitura e escrita, o que geralmente é ignorado no cotidiano
escolar, pois a Escola não reconhece práticas sociais de leitura se não as
certificadas pela própria escola. Conforme Kleiman (1995, p.20):
(...) a escola, a mais importante das agências de letramento, preocupa-se,
não com o letramento, prática social, mas com apenas um tipo de prática de
letramento, a alfabetização, o processo de aquisição de códigos (alfabético,
numérico), processo geralmente concebido em termos de uma competência
individual necessária para o sucesso e promoção na escola. Já outras
agências de letramento, como a família, a igreja, a rua como, lugar de
trabalho, mostram orientações de letramento muito diferentes.
O sujeito letrado já não é o mesmo que era quando analfabeto, passa a ter
outra condição social e cultural, não se trata propriamente de mudar de nível ou de
classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na
sociedade, sua inserção na cultura, a relação com os outros, torna-se diferente.
Segundo Teberosky (1997, p.87):
(...) os propósitos comunicativos são a base para determinar os gêneros, ou,
dizendo de outro modo, os gêneros se identificam à base do uso e da
necessidade comunicativa.
O estado de letrado se manifesta a partir das práticas sociais de uso da
leitura e da escrita dentro de um contexto social específico no qual o sujeito está
inserido, um fenômeno que entrelaça língua e cultura, que transcende a escrita,
ampliando o processo de leitura e da escrita na escola, nas suas variadas formas de
15
expressão. Tfouni (1997) e Kleiman (2000) auxiliam na compreensão do fenômeno
“letramento”:
O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos sócio-históricos da
aquisição da escrita. Entre outros casos, procura estudar e descrever o que
ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira
restrita ou generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais
substituem as práticas "letradas" em sociedades ágrafas. Desse modo, o
letramento tem por objetivo investigar não somente quem é alfabetizado,
mas também quem não é alfabetizado, e, nesse sentido, desliga-se de
verificar o individual e centraliza-se no social (p. 9-10). A compreensão de
um texto é um processo que se caracteriza pela utilização do conhecimento
prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe o conhecimento adquirido
ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de
conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento
do mundo, que o leitor consegue construir o sentido de um texto. (p. 13).
O letramento é evidenciado quando um sujeito pede para alguém ler alguma
carta que recebeu, ou texto que contém informações importantes para ele: seja uma
notícia em um jornal ou rádio; itinerário de transportes; placas e sinalizações
diversas. Este sujeito é analfabeto, não possui a tecnologia da decodificação dos
signos, mas, ele possui certo grau de letramento devido a sua experiência de vida
em uma sociedade que é atravessada pela escrita, logo esse sujeito é letrado.
Kleiman, (1998, p. 181-182) nos auxilia a compreender que:
O letramento está também presente na oralidade, uma vez que, em
sociedades tecnológicas como a nossa, o impacto da escrita é de largo
alcance: uma atividade que envolve apenas a modalidade oral, como
escutar notícias de rádio, é um evento de letramento, pois o texto ouvido
tem as marcas de planejamento e exicalização típicas da modalidade
escrita.
Ainda, Kleiman (1995) diz que os estudos do letramento têm como objetivo
de conhecimento os aspectos e os impactos sociais do uso da língua escrita. De
origem acadêmica, o conceito foi aos poucos se infiltrando no discurso escolar,
contrariamente ao que a criação do novo termo pretendia: desvincular os estudos da
língua escrita dos usos escolares, a fim de marcar o caráter ideológico de todo uso
da língua escrita e distinguir as múltiplas práticas de letramento da prática de
alfabetização, tida como única e geral, mas apenas uma das práticas de letramento
16
da nossa sociedade, embora possivelmente a mais importante, até mesmo pelo fato
de ser realizada pela também mais importante agência de letramento, a instituição
escolar.
O contraste estabelecido entre alfabetização e letramento, iniciou no Brasil
na década de 80, o que limitou a relevância e o impacto do conceito de letramento
para o ensino e aprendizagem aos primeiros anos de contato do aluno com a língua
escrita, ou seja, período em que o educador está em processo de aquisição dos
fundamentos do código da língua escrita. Educadores alfabetizadores preocupam-se
em tornar seus alunos letrados, os educadores de língua materna se preocupam
com a melhor forma de introduzirem os gêneros, criando aí uma falsa dicotomia do
seu processo de escolarização, em processo de letramento.
É na escola, agência de letramento por excelência de nossa sociedade, que
devem ser criados espaços para experimentar formas de participação nas práticas
sociais letradas e, portanto, acreditamos também na pertinência de assumir o
letramento, ou melhor, os múltiplos letramentos da vida social, como o objetivo
estruturante do trabalho escolar em todos os níveis.
A EJA no início se baseava na idéia de apenas alfabetizar seu público alvo,
sem, contudo, efetivar uma metodologia que se elevasse a um plano superior à
prática social, envolvendo a linguagem escrita. Sabe-se segundo Tfouni (1995, p.5657) que “enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um
indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos
da aquisição de uma sociedade” configurando-se como o mecanismo mais
adequado para se trabalhar a linguagem com jovens e adultos.
Sendo assim, pode-se dizer que o ato de ensinar pressupõe o conseqüente
ato de aprender, respaldado pelos ensinamentos de Freire (1997, p.20), quando
afirma que: “Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo
socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível
ensinar.”
É oportuno trazer e discutir o conceito do termo letramento, pois a partir do
mesmo, tem-se a idéia de que as práticas sociais são as verdadeiras bases para se
estabelecer a educação no seu mais amplo sentido, ou seja, voltada para a vida. No
Brasil, conforme explica Soares (1998), o aparecimento do termo letramento está
associado ao fenômeno da superação do analfabetismo em uma sociedade que
vem, progressivamente, valorizando a escrita:
17
À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada
vez maior de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que,
concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada
na escrita (cada vez mais grafocêntrica), um novo fenômeno se evidencia:
não basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam,
aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente incorporam a
prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência
para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com as práticas sociais de
escrita [...] Esse novo fenômeno só ganha visibilidade depois que é
minimamente resolvido o problema do analfabetismo e que o
desenvolvimento social, cultural, econômico e político traz novas, intensas e
variadas práticas de leitura e de escrita, fazendo emergirem novas
necessidades além de novas alternativas de lazer (SOARES, 1998, p.4546).
18
4 O LETRAMENTO DOS SUJEITOS
Uma inferência que se pode tirar do conceito de letramento é que o indivíduo
pode não saber ler e escrever, isto é ser analfabeto, mas ser, de certa forma,
letrado, adjetivo vinculado ao sentido de letramento. Um adulto pode ser analfabeto,
porque marginalizado social e economicamente vive em um meio que a leitura e a
escrita têm presença forte. Quando se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por
um alfabetizado, por exemplo, recebe cartas e outros lêem para ele, dita cartas para
que um alfabetizado as escreva, pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações
afixados em algum lugar. Esse analfabeto é dito letrado, porque faz uso da escrita,
envolve-se em práticas sociais de leitura e escrita.
A criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los,
brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material escrito
e percebe seu uso e função. Essa criança é ainda analfabeta, porque não aprendeu
a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do letramento, já é de certa forma,
letrada.
Compreendemos por letramento como sendo o estado ou condição de não
apenas saber ler ou escrever, conforme vimos no item anterior, mas cultivar e
exercer as práticas sociais que usam a escrita. O adulto pode até ser analfabeto,
contudo pode ser letrado, ou seja, por mais que ele não tenha aprendido a ler e a
escrever, utiliza a escrita a partir do conhecimento de seus usos e funções. Para
emitir qualquer documento escrito, por exemplo, através de outras pessoas
alfabetizadas, ele próprio edita o texto e usa os recursos necessários da língua para
se comunicar, demonstrando que conhece de alguma forma, as estruturas das
funções da escrita. Considerando-se que esse indivíduo seja analfabeto porque não
consegue decodificar os signos, ele possui certo grau de letramento em virtude da
sua experiência de vida, em uma sociedade que é atravessada pela escrita.
A compreensão do letramento também se faz através da construção de
alternativas pedagógicas que contribuam efetivamente com o processo da aquisição
do letramento, de maneira a ampliar suas práticas de leitura e de escrita. O
fenômeno letramento é considerado um conjunto de práticas sociais, cujos modos
específicos de funcionamento têm implicações importantes para as formas pelas
19
quais os sujeitos envolvidos nessas práticas constroem relações de identidade e
poder.
Acredita-se que toda forma de conhecimento gera um aprendizado. O
letramento auxilia o sujeito nas diferentes maneiras de compreensão da escrita
apresentada na sociedade. Por não ser um processo aplicado no cotidiano de sala
de aula, demonstra-se desafiador. Portanto provocá-lo e desafiá-lo, traria o processo
de letramento para o meio escolar, possibilitando ressurgir a continuidade da leitura
e escrita.
As possibilidades de se tornar um sujeito letrado inicia quando se começa a
conviver com as primeiras manifestações da escrita (primeira infância) e se prolonga
por toda a vida com a participação nas práticas sociais que envolvem a língua
escrita. O sujeito letrado tem a facilidade de compreender e explicar os
conhecimentos de mundo, pois nele foram aplicados os diversos métodos para se
chegar ao estado de letrado.
Quem somos e para onde vamos? Se em torno de nossas relações não
identificamos, ainda, nossa identidade cultural, o berço de nossa existência, então
não somos só o que herdamos nem apenas o que adquirimos, mas a relação
dinâmica, processual do que herdamos e do que adquirimos. Assim é aquisição do
conhecimento, da escrita, das práticas de leitura, ato e atitude de respeitar o
conhecimento que o sujeito traz em sua herança e lançá-la como forma de ponte
entre seu contexto de mundo e o proposto pela educação formal. Não existe uma
fórmula para aquisição do saber, existe sim diferentes formas de se construir esse
saber, que não é necessariamente certificado pela Escola. Conforme Freire (1997,
p.67) “ele não falava de seu saber na linguagem formal e bem comportada,
mecanicamente memorizada, que a escola reconhece como única e legítima”.
20
5 A OCORRÊNCIA DO LETRAMENTO NOS SUJEITOS INGRESSANTES NO
PROEJA IFRS – CAMPUS BENTO GONÇALVES
O presente estudo tem por objetivo diagnosticar os aspectos de letramento
nos alunos ingressantes no PROEJA do IFRS - Instituto Federal de Educação do Rio
Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves, conhecer suas práticas de leitura dentro
do contexto, familiar, escolar e social. A pesquisa realizada com os alunos, num
primeiro momento fora de observação a partir dos diálogos informais em diferentes
momentos do ensino e da aprendizagem do cotidiano da turma e seus hábitos de
leitura, seus diálogos formais e informais, assuntos que prendem a atenção da
grande maioria, como: notícias de política e econômica (enfoque salarial), divulgação
de promoção de produtos alimentícios, informativos internos da escola com enfoque
em cursos, atividades festivas e informais realizadas na escola ou pela escola.
Assuntos que interessam a pequenos grupos por se caracterizarem de comum
interesse como: notas de falecimento em jornais (senso comum - participativo),
comentários e discussões dos fatos das telenovelas e seriados ligados diretamente à
cultura local.
Num segundo momento fora aplicado o questionário com intuito de conhecer
as práticas de letramento e as leituras de mundo que permeiam o processo da
construção do ensino e da aprendizagem desses alunos. No decorrer da aplicação
observei suas falas do cotidiano e constatei que se assemelham em diferentes
momentos, as mesmas falas ocorrem em ambiente familiar, transpostas para meio
escolar e levadas para o cotidiano do trabalho. Assim como se defendem
diariamente em uma sociedade letrada cientificamente, permeiam seus diálogos em
qualquer das esferas, familiar, escolar ou social.
Ao ler os questionários percebi o envolvimento que possuem com as leituras
de seu cotidiano, chamou-me a atenção um aluno de meia idade que trabalha em
cozinha industrial e conhece profundamente a tabela calórica, os ingredientes
maléficos a saúde, educação alimentar, sua forma de armazenar os alimentos, a
preocupação com a qualidade e controle desses alimentos,... Leituras que são
estereotipa ao sexo masculino, praticadas quase que em sua totalidade pelo sexo
feminino tanto no trabalho como no ambiente doméstico.
Seus anseios em concluir o PROEJA são impulsionados pelos Educadores
que na sua grande maioria são agentes medidores entre alunos, para que se sintam
21
bem na Escola, ao retornar a escola o sujeito sente que não está preparado para
acompanhar o rendimento escolar atual. É também nesse momento que existe a
interferência do Educador, como amigo, conselheiro e acima de tudo incentivando o
aluno para que conclua sua escolarização.
Alunos que tem receio de iniciar novamente sua escolarização por não
sentir-se preparado para o mesmo, devido ao tempo que estiveram distante da sala
de aula, ao mesmo tempo em que se sentem bem acolhidos e seguros no curso
realizado.
Suas práticas de letramento acontecem a todo o momento, em todos os
convívios, mais fortemente apresentados no cotidiano familiar, por ser uma forma de
sobrevivência: atualizar a lista de compras em folhetos de supermercado procurando
melhores preços e produtos. Nos investimentos para melhora da moradia e
aquisição de móveis e eletrodomésticos, proporcionando maior conforto e segurança
a família, nesse meio tudo o que envolve essas falas são cotidianas para esses
alunos.
Acreditam que após a conclusão do PROEJA, serão sujeitos de maior valor,
mas que devem se utilizar todo e qualquer tipo de conhecimento ao seu redor para
que contribua nas suas práticas de leituras. Essa metodologia é diária nas práticas
das salas do PROEJA, valorizar o que se sabe e o que se tem para dar continuidade
na construção do seu conhecimento, é importante ressaltar de que nada vale
práticas de leitura se não estão associadas as práticas de aprendizagem.
Nos
questionamentos
foram
constatados
que
os
resultados
mais
significativos do estudo foram: a descobertas das práticas de leituras dos alunos e
as interferências dessa prática no seu convívio social, educacional e familiar.
Reconhecimento de que a escola não é o único certificador da aquisição do
processo de ensino - aprendizagem e da leitura – escrita, mas sim, as práticas
sociais dos alunos no seu cotidiano, tornando-se vital para sua convivência na
sociedade letrada.
22
6 AS PRÁTICAS DO EDUCADOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA
LEITURA E ESCRITA DOS SUJEITOS INGRESSANTES NO PROEJA
Buscando atingir a aplicação de metodologias que incentivem seus
educandos a reflexões mais profundas sobre as práticas sociais, faz-se necessário
que haja a atuação de um "professor-letrador", o qual desvende as práticas sociais
pertinentes ao dia-dia do aluno para, assim, adequar os assuntos trabalhados em
sala de aula.
O educador necessita então superar velhos métodos e formas de ensinar,
respeitar o educando dentro de suas possibilidades, aceitar e compreender seus
limites, suas dúvidas, inquietudes em processo da construção do seu conhecimento
através da sua leitura de mundo.
De acordo com Freire (2006), ensinar é a forma que torna o ato de
conhecimento que o educador necessariamente faz na busca de saber o que ensina,
para provocar nos educandos seu ato de conhecimento também. Ao ensinar o
educador (re) conhece o objetivo já conhecido, também aprende a aprender.
Para Freire (2006) ensinar somente é válido quando o educador e o
educando aprendem a aprender e não simplesmente transmitem mecanicamente as
informações obtidas do objetivo ou conteúdo. De acordo com Freire (2006, p.47)
“Ensinar e aprender são assim momentos de um processo maior – o de conhecer
que implica (re) conhecer”.
Os educadores necessitam ser mediadores da produção do conhecimento
do educando, provocando a construção, desconstrução e reconstrução do seu
objetivo de conhecimento. O educador portador do embasamento teórico irá
proporcionar ao educando formas de ver e pensar o mundo através de debates e
transformar a linguagem popular em linguagem científica, sempre considerando a
realidade de cada indivíduo.
A base do ensinar e do aprender acontece quando é estimulada a
curiosidade do educando. Para ensinar determinado conteúdo é preciso atravessar a
prática individual de cada educando para que gradativamente tornem-se sujeitos
mais críticos.
É preciso aproximar este encontro entre teoria e prática e não separá-las.
Esse processo acontecerá quando educando e educador assumirem seu papel real.
É necessário que o educador tenha um feeling de seus educando, abstendo-se da
23
postura autoritária, inflexível e muitas vezes sentindo-se superior a qualquer tema ou
assunto abordado.
Ouvindo seus educandos, o educador compreenderá a leitura de mundo que
trazem consigo, aceitando suas variadas interpretações, podendo sim partir daí a
construção do ato de ler e escrever, partindo da expansão do pré-conhecimento do
educando.
A sala de aula deve ser um ambiente de trocas, explorações, construções e
diálogos. O educador com embasamento teórico e prático auxilia a construção da
autonomia do educando, possibilitando o desenvolvimento do senso crítico,
discussões de conteúdos, sua oratória em grupo e na descoberta de sua
autodisciplina.
Segundo Moraes (1986, p.39) constroem juntos e juntos perpetuam relações
de seu viver e conviver: “IN-SIGNARE: marcar com um sinal, marcar com o sinal da
paixão de viver e de conhecer, conviver e participar. Esta é a razão pela qual o
ensinar e o educar jamais poderão ser apolíticos”.
Ensinar e aprender são também ato político, se dá quando em ambientes
como a sala de aula propiciam o desenvolvimento do processo educacional de uma
forma democrática, através das convivências, do compartilhamento de saberes e da
troca de experiências.
Conforme Freire (2006, p.47-48) “o educando tornar-se ou sentir-se parte do
processo, assumindo-se como sujeito cognoscente e não, como incidência do -discurso do educador”. A amorosidade pelos educandos, o respeito aos limites de
cada um, o gosto por ensinar, fazem dos momentos de ensino um momento
iluminado, desmistificando as disciplinas que marcaram de maneira negativa a
trajetória escolar do educando tornando cada momento de aprendizagem um
processo precioso.
Diante do contexto, questiono:
Como são as práticas do educador no processo de ensino e aprendizagem
da leitura e escrita dos sujeitos ingressante no PROEJA?
E assim abro a possibilidade de um novo tema a ser pesquisado.
24
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise dos dados coletados por meio de pesquisa foi constatado
que a ocorrência de letramento dos alunos do PROEJA DO IFRS –CAMPUS BENTO
GONÇALVES, acontece por meio de leituras do cotidiano doméstico, como: jornais
locais, revistas, folhetins de lojas e mercados – efetuando comparativo de preços e
juros, validade de medicamentos e alimentos, receitas, telejornais, novelas, filmes e
programas de culinária, produtos de higiene e produtos em geral. As leituras do
trabalho como listas de preços, informativo interno, ofícios, planilhas, documentos,
leis, etc... são menos evidentes por não se fazerem obrigatórias e por serem
realizadas diariamente e repetitivamente, tornando-se cansativas e sem prazer por
não oferecerem atualizações constantes, ou informativos internos que trazem
assuntos dos quais não dominam e não oferecem benefício a sua vida. No relato
verbal e nas respostas da pesquisa com os alunos constatei que as leituras mais
importantes são as direcionadas diretamente ao contexto familiar/econômico/social,
o maior enfoque é nos encartes de supermercados onde pesquisam melhores
preços e marcas dos produtos, são leituras de produtos alimentícios, de
higiene/limpeza, material escolar, considerados essenciais para a sustentação
familiar.
Seguido de folhetins de anúncios de móveis e eletrodomésticos por
representarem conforto familiar juntamente com folhetins de financiamentos de
materiais de construção para construir, ampliar ou reformar sua residência,
enfocando novamente a família, união do lar. Os dados coletados constatam as
leituras de mundo do cotidiano dos alunos do PROEJA DO IFRS – CAMPUS
BENTO GONÇALVES dentro do seu contexto familiar, social, educacional e
intelectual. A partir desta pesquisa pode se reconhecer com mais facilidades as
dificuldades de leitura e escrita dos sujeitos que não possuem aquela leitura
específica, seja um artigo acadêmico, uma bula medicamento, um conto infantil...
Cada qual traz suas leituras de mundo para compartilhar com seu meio escolar e
transcender nos conhecimentos futuros do uso da linguagem e escrita.
No vínculo escolar suas leituras são constantes e direcionadas ao
aprendizado, do qual o aluno está fortemente comprometido pelo seu anseio de não
25
ser mais um sujeito na sociedade, mas poder defender-se dela. As leituras do
convívio social dos alunos são direcionadas a interesses diferentes, os jovens
buscam leituras de cursos, eventos, filmes e entretenimento, quase que só para si, já
os adultos direcionam suas leituras a fatos, acontecimentos, que possam contribuir
para o crescimento de sua vida particular, social e familiar.
Educandos e educadores são co-autores e co-produtores do ato de ensinar
a ler e escrever, assim o processo pedagógico se reestrutura na interação, na troca
de idéias, numa análise contínua, priorizando os acertos e repensando nos erros. É
no processo de interação entre educando e educador que acontece a transformação
intelectual, social e política dos sujeitos.
26
REFERÊNCIAS
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1985.
FREIRE, Paulo; Donaldo, Macedo. Alfabetização: leitura da palavra leitura do
mundo. Rio de Janeiro: Paz Terra, 1990.
FREIRE, Paulo; Professora sim, tia não: Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo:
Olho d’água, 1997.
KLEIMAN, Ângela B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva
sobre a prática social da escrita. Campinas. Mercado de Letras, 1995.
KLEIMAN, Angela B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na
escola. Campinas. Mercado de Letras, 1995.
MORAES, Régis. O que é ensinar. Editora Pedagógica e Universitária LTDA, São
Paulo, SP.1986.
SANTOS, Sônia de Fátima Rodrigues; DE ALMEIDA, Cristiane Silva; DE ARAÚJO,
Ádria Maria Neves Monteiro; TEODORO, Elinilze Guedes. O Curso De
Especialização Do Proeja No Cefet/Pa Em Debate: Experiências, Estudos E
Propostas. Belém: CEFET-PA, 2008.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. 6ª reimper. Belo
Horizonte: Autêntica, 2003.
TEBEROSKY, Ana. Além da Alfabetização. São Paulo: Ática, 1995
TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. 6ª ed. São Paulo:
Cortez,2004.
TFOUNI, Leda. Veridiani. Adultos não alfabetizados: o avesso do avesso.
Campinas: Pontes, 1988.
27
ANEXOS
28
ANEXO I – ACESSOS DE LETRAMENTO
Das alternativas abaixo, assinale com que freqüência você utiliza esses acessos de
letramento.
1. Folhetins explicativos em geral (na área da saúde, educação, economia,
política,...) ( ) 1 vez na semana *
( ) diariamente * ( ) raramente
2. Folders. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
3. Manuais de operação de máquinas ou de usos de defensivos. ( ) 1 vez na
semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
4. Atas das reuniões. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
5. Ofícios-circulares. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
6. Documentos em geral (
) 1 vez na semana * (
) diariamente * (
)
raramente
7. Cartazes. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
8. Fichas cadastrais. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
9. Projetos. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
10. Documentos de Financiamentos/créditos. (
) 1 vez na semana *
(
)
) diariamente * (
)
diariamente * ( ) raramente
11. Relatórios de Custeios. (
) 1 vez na semana * (
raramente
12. Panfletos ( de eventos, festas, shows, teatro, espetáculos... ). (
) 1 vez na
semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
13. Materiais de apoio e divulgação (cartilhas, cadernos, calendários, livro de
canções, livros de receitas, livros, etc.…) (
) 1 vez na semana * (
)
diariamente * ( ) raramente
14. Jornais locais e nacionais. (
) 1 vez na semana * (
) diariamente * (
)
raramente
15. Revistas e outras publicações (boletins informativos, jornais, guia telefônico,
encartes de lojas, etc.…) (
) 1 vez na semana * (
) diariamente * (
)
raramente
16. Rótulos dos produtos alimentícios e de higiene pessoal e coletiva dados
sobre.
( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
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17. Quantidade, validade e tipo do produto, tipos de componentes, valor
alimentício, modos de uso, cuidados a serem tomados, endereço de contanto
com a empresa produtora, etc.…) ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente *
( ) raramente
18. Manuais dos eletrodomésticos (TV, liqüidificador, ventilador, aparelho sonoro,
etc.…) (
) 1 vez na semana * (
) diariamente * (
) raramente
19. Remédios (invólucro e bula) ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( )
raramente.
20. TV (anúncios, telejornais, telenovelas, filmes, documentários, programas de
entrevistas, etc.…) (
) 1 vez na semana * (
) diariamente * (
)
raramente.
21. Conta de luz. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
22. Bilhetes, cartas. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
23. Boletim escolar. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
24. Dicionários. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
25. Livros didáticos. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
26. Cadernos. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
27. Tarefas escolares. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
28. Produção dos alunos (poesias, músicas, narrativas orais, contos). ( ) 1 vez na
semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
29. Cartazes. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente
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