UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DIAGNOSTICANDO OS LETRAMENTOS NOS ALUNOS INGRESSANTES NO PROEJA DO IFRS CAMPUS BENTO GONÇALVES Quelen Raimunda Ferri Baggio Orientadora: Profª Ms. Daniela Brun Menegotto. Bento Gonçalves 2009 FICHA CATALOGRÁFICA ______________________________________________________________________ B144d Baggio, Quelen Raimunda Ferri Diagnosticando os letramentos nos alunos ingressantes no PROEJA do IFRS – Campus Bento Gonçalves / Quelen Raimunda Ferri Baggio ; orientadora Daniela Brun Menegotto. – Bento Gonçalves, 2009. 29 f. Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de PósGraduação em Educação. Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS. 1. Educação. 2. Educação profissional. 3. Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. 4. PROEJA. 5. Práticas de leitura e escrita – Alfabetização - Letramento – PROEJA. 6. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves – PROEJA. I. Menegotto, Daniela Brun. II. Título CDU 374.7 __________________________________________________________________________ ___ CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação. (Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável - CRB10/979) 3 Agradeço a Professora Orientadora Ms. Daniela Brun Menegotto e ao Professor Dr. Vilmar Alves Pereira, competentes professores, pela orientação e pelo comprometimento com desenvolvimento da minha pesquisa. O presente estudo é dedicado a: Meu filho Douglas, razão da minha vida, Minha mãe Dianei, pelos ensinamentos , Minha irmã Greice Kelly, que alegra nosso conviver, Minha tia Genni, pelo constante incentivo, Meus Padrinhos Neri e Mariza, por me oportunizarem uma educação sólida. RESUMO Esta pesquisa foi desenvolvida no Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada a Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos com objetivo principal de diagnosticar os aspectos de letramento apresentado nos alunos ingressantes no PROEJA (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos) do IFRS (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul) – Campus Bento Gonçalves, relatando o uso da leitura e escrita do cotidiano dos alunos que não possuem vínculo empregatício com a Instituição e constatando os benefícios do letramento na vida social, política e econômica desses alunos. Os principais teóricos que fundamentam o estudo e alguns autores que possibilitam compreender a pesquisa são: Ferreiro & Teberosky (1985), Freire (1990, 1997), Kleiman (1995, 2001), Moraes (1986), Soares (2003), Tfouni (1998,2004). A pesquisa é de natureza exploratória e envolve análise qualitativa dos dados obtidos por meio de diálogos informais em diferentes momentos do ensino e da aprendizagem e da aplicação de questionário - ANEXO I – Acessos de Letramento aos alunos ingressantes no PROEJA do IFRS – Campus Bento Gonçalves, onde foi possível conhecer as práticas e leituras de mundo que permeiam o processo da construção do ensino e da aprendizagem desses alunos. Suas histórias de alfabetização e a ruptura desse processo permeiam os anseios da retomada desses alunos as salas de aula. Os resultados mais significativos do estudo foram: as descobertas das práticas de leituras dos alunos e as interferências dessa prática no seu convívio social, educacional e familiar. O reconhecimento de que a escola não é o único certificador do desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem como também da leitura e da escrita, mas sim, são as práticas sociais dos alunos no seu cotidiano que tornam-se vital para a convivência destes na sociedade letrada. Palavras-Chave: PROEJA, Alfabetização, Letramento, Práticas de Leitura e Escrita. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................7 2 OS SUJEITOS DO PROEJA ................................................................................10 3 DESVENDANDO O CONCEITO DE LETRAMENTO...........................................13 4 O LETRAMENTO DOS SUJEITOS ......................................................................18 5 A OCORRÊNCIA DO LETRAMENTO NOS SUJEITOS INGRESSANTES NO PROEJA IFRS – CAMPUS BENTO GONÇALVES.................................................20 6 AS PRÁTICAS DO EDUCADOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA DOS SUJEITOS INGRESSANTES NO PROEJA ................22 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................24 REFERÊNCIAS.........................................................................................................26 ANEXOS ...................................................................................................................27 ANEXO I – ACESSOS DE LETRAMENTO .............................................................28 7 1 INTRODUÇÃO O PROEJA é um programa que foi instituído pelo Decreto nº 5478/05, revogado posteriormente pelo Decreto nº 5840/06, no contexto do governo Lula, mostrando a decisão governamental de atender a uma demanda de jovens e adultos por meio da educação profissional técnica de nível médio. De acordo com o Documento Base do PROEJA, o mesmo constitui-se em um desafio político e pedagógico para todos aqueles que desejam transformar este país dentro de uma perspectiva de desenvolvimento e justiça social. Compreende a construção de um projeto possível de sociedade mais igualitária e fundamenta-se nos eixos norteadores das políticas de educação profissional do atual governo, no desenvolvimento de estratégias de financiamento público que permitam a obtenção de recursos para um atendimento de qualidade, uma oferta de educação profissional dentro da concepção de formação integral do cidadão. Enfatiza a importância da formação humana dos sujeitos envolvidos, isto é, dos jovens e adultos aos quais se destina a implementação desse programa. A construção do documento teve a participação de representantes das Escolas e Centros Federais de Educação Tecnológica, do Fórum Nacional da EJA e da Universidade Brasileira. O direito a educação básica, em um projeto nacional de desenvolvimento soberano, frente aos desafios da inclusão social e da globalização econômica. De acordo com o Documento Base do PROEJA (2006, p.26), o seu objetivo principal é “uma política educacional para proporcionar o acesso ao público da EJA ao ensino médio integrado à educação profissional técnica de nível médio”. O PROEJA é ofertado pelas Instituições Federais de Educação Profissional, visto que se constitui em uma nova forma de pensar a EJA, integrando formação geral e educação profissional, reincidindo no sistema escolar um imenso contingente de sujeitos, possibilitando-lhes uma formação integral. Além disso, abre-se uma nova possibilidade de inclusão, visto que o atendimento aos jovens e adultos no Ensino Médio ainda é escasso e sua integração com a educação profissional também representa desafios a serem enfrentados. Os jovens e adultos devem ser sujeitos de direitos de uma educação de qualidade, com formas pedagógicas diferenciadas que não os leves a novos fracassos. Essa busca pela qualidade da educação na EJA, entretanto, esbarra em uma série de questões, que podem ser 8 atribuídos tanto a fatores relacionados à escola, que perpassam por ela, mas que não são dela, como, por exemplo, a má distribuição de renda no país, fatores internos à escola, projetos pedagógicos inadequados, formação e valorização dos docentes, dentre outros. Além disso, é necessário que haja vontade política para enfrentar os diferentes problemas que afetam a educação no atual momento histórico para que se garanta, de fato, a educação como direito de todos. A concepção de Educação do programa em foco, constante no seu Documento Base, configura-se como uma possibilidade de conquista de uma sociedade mais justa, portanto, mais igualitária. Essa idéia é ratificada pela oferta de educação profissional, visando à formação integral do homem, para viver em consonância com esse mundo científico-tecnológico. De acordo com o Documento Base PROEJA (2006): “PROEJA é um desafio pedagógico e político para todos aqueles que desejam transformar este país dentro de uma perspectiva de desenvolvimento e justiça social” (Documento Base PROEJA, 2006, p.1) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9394/96, promulgada em 1996, vigente até hoje, aborda e enfatiza a educação como direito de todos que indefere de classe social, nível de escolarização, condição social e econômica, uma educação de direitos, onde TODOS têm acesso. No que se refere à Educação de Jovens e Adultos no Título III “Do direito à educação e do dever de educar”, em seu artigo 4º prevê: “O dever do Estado com educação pública será efetivado mediante a garantia de”: VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola. Os parágrafos do artigo 37 garantem a modalidade de ensino de jovens e adultos que em seu caput prevê: “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na modalidade própria”. 9 § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Asseguradas pela Lei maior, as escolas então puderam construir seus planos político-pedagógicos e seus regimentos adaptados à nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 10 2 OS SUJEITOS DO PROEJA No decorrer dos anos a EJA foi conquistando novos e diferentes espaços em nossa sociedade. Desta forma, de acordo com as necessidades e exigências do mercado de trabalho, surge o PROEJA. Mesmo assim, percebo que o desenvolvimento educacional do sistema político brasileiro não cumpriu com seu legado a educação às gerações futuras, hoje ainda existem crianças, jovens e adultos fora da sala de aula. São esses que, hoje são os atuais alunos do PROEJA os que não tiveram oportunidade da idade regular de freqüentar a escola e concluir seus estudos. A realidade é um contexto de jovens e adultos trabalhadores que tem o compromisso “maior” o sustento da própria família, o pagamento das contas mensais, compromisso com futuro dos filhos e da família, além da preocupação da educação dos filhos a conclusão da formação da sua própria educação. Eles são os sujeitos “não oportunizados” pela política de educação da sua época e que tiverem que optar pela vida profissional antes de seu tempo real, proporcionando experiências de vida e profissional, constituindo saberes, que podem ser compreendidos como conhecimentos de vida. Assim sendo os sujeitos atendidos pelo PROEJA são os egressos do Ensino Fundamental, de diferentes faixas etárias que não tiveram oportunidade de acesso à escola ou dela foram excluídos por vários aspectos sociais e econômicos, dentre eles, a busca pela sobrevivência. Sabe-se que, em sociedades industrializadas e com a evolução das inovações tecnológicas, as habilidades de leitura e escrita são mais que solicitadas para a conquista de um espaço no mercado de trabalho. Desde as situações simples do cotidiano até as condições mais complexas, existe grande necessidade de familiarização com o código da escrita, da habilidade da escrita à oralidade. O ser humano é um ser social e para se realizar como tal, precisa indiscutivelmente da linguagem, já que a realidade social vivenciada pelos indivíduos torna-se condição essencial para que a língua se una à fala e se torne processo de comunicação. 11 Kleiman (1999) nos auxilia quando diz que as: (...) atividades que, para um sujeito letrado, são apenas se comunicar com os outros e de agir sobre o meio, quase tão automáticas como falar e que não requerem, portanto, grandes esforços de concentração ou interpretação, representam verdadeiros obstáculos para os grandes grupos brasileiros não-escolarizados, que não tiveram acesso à escola, ou foram prematuramente expulsos dela. (p.7) Na grande maioria das vezes a linguagem age como mecanismo de exclusão social, demonstrando como a escola tradicional e a mídia atualmente estão contribuindo para o agravamento das diferenças que existem entre os supostos alfabetizados e os não alfabetizados. Os aspectos da linguagem quando bem trabalhados e aperfeiçoados por meio da educação, o indivíduo apresenta plenas condições de atuar no sistema que se torna cada vez mais exigente. Entretanto, se esse indivíduo receber uma formação desqualificada, ou simplesmente, não receber esse tipo de orientação, sua inserção no âmbito atual fica absolutamente comprometida, cabendo a ele exercer funções subalternas e, muitas vezes, trabalhos subumanos. As ações da EJA ao longo da história tem sido viabilizar melhores chances para esse público, vítima dos descasos demonstrados pelos vários governos brasileiros ao longo dos tempos. Com o PROEJA, essas expectativas permanecem, e ainda são amplificadas pela parceria estabelecida com o ensino profissionalizante. O PROEJA vem a ser a promoção de qualidade de vida ao público estipulado, e isso poderá ser conquistado, apenas e somente, com a instauração de um sistema de ensino que aperfeiçoe as habilidades desse público, sempre havendo o enfoque das peculiaridades inerentes a esse grupo, que não necessita apenas de instrução para o domínio do código da escrita (alfabetização). Deve-se também realizar uma conexão com fatores sociais que permeiam a realidade dos alunos, pois o processo de saber ler e escrever se desenvolve através do envolvimento de pessoas nas suas diversas culturas, condições sócio-econômicas, práticas sociais... FREIRE (1999) ao tratar de uma Educação social, parte da necessidade do aluno, ir além de se conhecer, conhecer também os problemas sociais que o afligem. Desta forma, o autor enfatiza a necessidade de estimular o povo a participar do seu processo de emersão na vida pública, engajando-se no todo social. É desta forma 12 que se percebe a necessidade do uso do letramento, uma vez que parte das experiências escritas e orais elaboradas até o momento pelos sujeitos, procurando a partir daí, o aperfeiçoamento das habilidades de leituras e escritas, pois de acordo com Kleiman (1999, p.153) deve-se “utilizar o conhecimento anterior do aluno para construir o novo”. Ainda de acordo com Freire (1997, p.93), “Não somos só o que herdamos nem apenas o que adquirimos, mas a relação dinâmica, processual do que herdamos e do que adquirimos”. Assim entende-se que a educação se desenvolve através de um processo contínuo que passa de geração a geração, transcende os limites da sala de aula tradicional, vai além de uma educação formal. 13 3 DESVENDANDO O CONCEITO DE LETRAMENTO O letramento na prática pedagógica da EJA é a reflexão de que a educação, na modalidade de jovens e adultos como em qualquer outra, é um processo vivo, que envolve a participação ativa tanto do docente quanto do discente, tanto do ser humano, enquanto ser individual, quanto da sociedade. O letramento não traz consigo a idéia de que a linguagem em si transforma as pessoas, mas problematiza os usos que as pessoas fazem desse instrumento chamado escrita. Assim, os estudos do letramento, podem contribuir para as turmas de educação de jovens e adultos porque abre novas portas e perspectivas para a reflexão crítica sobre o papel da escola, e também para o desenvolvimento de práticas educativas de leitura e escrita que possam inserir, de forma mais eficiente, esses sujeitos em demandas sociais. A palavra letramento ainda não está dicionarizada, porque foi introduzida muito recentemente na língua portuguesa, tanto que quase podemos datar com precisão sua entrada na nossa língua, identificar quando e onde essa palavra foi usada pela primeira vez. Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa literacy; os dicionários definem assim essa palavra: LITERACY: the condition of being literate. Littera + cy. Palavra latina= letra cy: sufixo indica: qualidade, condição, estado. Traduzindo a definição acima, literacy é “a condição de ser letrado. Em inglês, o sentido de literate é: o adjetivo que caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita (SOARES, 1998, p. 35-36, grifo da autora). A palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística, de 1986 em 1988 no livro Adultos não alfabetizados: o avesso do avesso, de Leda Verdiani Tfouni em 1995 no livro Os significados do Letramento, de Ângela Kleiman (SOARES, 1998, p. 32-33). Como esse termo é recente, no vocabulário da educação e das ciências lingüísticas, inserido há pouco mais de duas décadas, considera-se importante citar o conceito, a origem e a causa do surgimento, a fim de propiciar o esclarecimento na opinião de alguns autores, antes de dar continuidade ao trabalho. Assim, os autores citados abaixo compreendem o letramento: 14 (...) o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita. (SOARES, 1998, p. 39). [...] melhor tradução para o português da palavra 'literacy' seria a expressão “cultura escrita” (FERREIRO, 2005, p. 09). [...) conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos (KLEIMAN, 1995, p. 19). (...) supõe saber ler ou escutar a leitura e que a possibilidade de compor textos supõe conhecer as normas de como colocar esta linguagem na sua forma gráfica (TEBEROSKY, 1997, p. 99) Desta forma, podemos compreender que o letramento é o estado ou a condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas quem cultiva e exerce as práticas sociais de leitura e escrita, o que geralmente é ignorado no cotidiano escolar, pois a Escola não reconhece práticas sociais de leitura se não as certificadas pela própria escola. Conforme Kleiman (1995, p.20): (...) a escola, a mais importante das agências de letramento, preocupa-se, não com o letramento, prática social, mas com apenas um tipo de prática de letramento, a alfabetização, o processo de aquisição de códigos (alfabético, numérico), processo geralmente concebido em termos de uma competência individual necessária para o sucesso e promoção na escola. Já outras agências de letramento, como a família, a igreja, a rua como, lugar de trabalho, mostram orientações de letramento muito diferentes. O sujeito letrado já não é o mesmo que era quando analfabeto, passa a ter outra condição social e cultural, não se trata propriamente de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura, a relação com os outros, torna-se diferente. Segundo Teberosky (1997, p.87): (...) os propósitos comunicativos são a base para determinar os gêneros, ou, dizendo de outro modo, os gêneros se identificam à base do uso e da necessidade comunicativa. O estado de letrado se manifesta a partir das práticas sociais de uso da leitura e da escrita dentro de um contexto social específico no qual o sujeito está inserido, um fenômeno que entrelaça língua e cultura, que transcende a escrita, ampliando o processo de leitura e da escrita na escola, nas suas variadas formas de 15 expressão. Tfouni (1997) e Kleiman (2000) auxiliam na compreensão do fenômeno “letramento”: O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição da escrita. Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as práticas "letradas" em sociedades ágrafas. Desse modo, o letramento tem por objetivo investigar não somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado, e, nesse sentido, desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social (p. 9-10). A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização do conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento do mundo, que o leitor consegue construir o sentido de um texto. (p. 13). O letramento é evidenciado quando um sujeito pede para alguém ler alguma carta que recebeu, ou texto que contém informações importantes para ele: seja uma notícia em um jornal ou rádio; itinerário de transportes; placas e sinalizações diversas. Este sujeito é analfabeto, não possui a tecnologia da decodificação dos signos, mas, ele possui certo grau de letramento devido a sua experiência de vida em uma sociedade que é atravessada pela escrita, logo esse sujeito é letrado. Kleiman, (1998, p. 181-182) nos auxilia a compreender que: O letramento está também presente na oralidade, uma vez que, em sociedades tecnológicas como a nossa, o impacto da escrita é de largo alcance: uma atividade que envolve apenas a modalidade oral, como escutar notícias de rádio, é um evento de letramento, pois o texto ouvido tem as marcas de planejamento e exicalização típicas da modalidade escrita. Ainda, Kleiman (1995) diz que os estudos do letramento têm como objetivo de conhecimento os aspectos e os impactos sociais do uso da língua escrita. De origem acadêmica, o conceito foi aos poucos se infiltrando no discurso escolar, contrariamente ao que a criação do novo termo pretendia: desvincular os estudos da língua escrita dos usos escolares, a fim de marcar o caráter ideológico de todo uso da língua escrita e distinguir as múltiplas práticas de letramento da prática de alfabetização, tida como única e geral, mas apenas uma das práticas de letramento 16 da nossa sociedade, embora possivelmente a mais importante, até mesmo pelo fato de ser realizada pela também mais importante agência de letramento, a instituição escolar. O contraste estabelecido entre alfabetização e letramento, iniciou no Brasil na década de 80, o que limitou a relevância e o impacto do conceito de letramento para o ensino e aprendizagem aos primeiros anos de contato do aluno com a língua escrita, ou seja, período em que o educador está em processo de aquisição dos fundamentos do código da língua escrita. Educadores alfabetizadores preocupam-se em tornar seus alunos letrados, os educadores de língua materna se preocupam com a melhor forma de introduzirem os gêneros, criando aí uma falsa dicotomia do seu processo de escolarização, em processo de letramento. É na escola, agência de letramento por excelência de nossa sociedade, que devem ser criados espaços para experimentar formas de participação nas práticas sociais letradas e, portanto, acreditamos também na pertinência de assumir o letramento, ou melhor, os múltiplos letramentos da vida social, como o objetivo estruturante do trabalho escolar em todos os níveis. A EJA no início se baseava na idéia de apenas alfabetizar seu público alvo, sem, contudo, efetivar uma metodologia que se elevasse a um plano superior à prática social, envolvendo a linguagem escrita. Sabe-se segundo Tfouni (1995, p.5657) que “enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade” configurando-se como o mecanismo mais adequado para se trabalhar a linguagem com jovens e adultos. Sendo assim, pode-se dizer que o ato de ensinar pressupõe o conseqüente ato de aprender, respaldado pelos ensinamentos de Freire (1997, p.20), quando afirma que: “Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar.” É oportuno trazer e discutir o conceito do termo letramento, pois a partir do mesmo, tem-se a idéia de que as práticas sociais são as verdadeiras bases para se estabelecer a educação no seu mais amplo sentido, ou seja, voltada para a vida. No Brasil, conforme explica Soares (1998), o aparecimento do termo letramento está associado ao fenômeno da superação do analfabetismo em uma sociedade que vem, progressivamente, valorizando a escrita: 17 À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez maior de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que, concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada na escrita (cada vez mais grafocêntrica), um novo fenômeno se evidencia: não basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com as práticas sociais de escrita [...] Esse novo fenômeno só ganha visibilidade depois que é minimamente resolvido o problema do analfabetismo e que o desenvolvimento social, cultural, econômico e político traz novas, intensas e variadas práticas de leitura e de escrita, fazendo emergirem novas necessidades além de novas alternativas de lazer (SOARES, 1998, p.4546). 18 4 O LETRAMENTO DOS SUJEITOS Uma inferência que se pode tirar do conceito de letramento é que o indivíduo pode não saber ler e escrever, isto é ser analfabeto, mas ser, de certa forma, letrado, adjetivo vinculado ao sentido de letramento. Um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado social e economicamente vive em um meio que a leitura e a escrita têm presença forte. Quando se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por um alfabetizado, por exemplo, recebe cartas e outros lêem para ele, dita cartas para que um alfabetizado as escreva, pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum lugar. Esse analfabeto é dito letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e escrita. A criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los, brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material escrito e percebe seu uso e função. Essa criança é ainda analfabeta, porque não aprendeu a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do letramento, já é de certa forma, letrada. Compreendemos por letramento como sendo o estado ou condição de não apenas saber ler ou escrever, conforme vimos no item anterior, mas cultivar e exercer as práticas sociais que usam a escrita. O adulto pode até ser analfabeto, contudo pode ser letrado, ou seja, por mais que ele não tenha aprendido a ler e a escrever, utiliza a escrita a partir do conhecimento de seus usos e funções. Para emitir qualquer documento escrito, por exemplo, através de outras pessoas alfabetizadas, ele próprio edita o texto e usa os recursos necessários da língua para se comunicar, demonstrando que conhece de alguma forma, as estruturas das funções da escrita. Considerando-se que esse indivíduo seja analfabeto porque não consegue decodificar os signos, ele possui certo grau de letramento em virtude da sua experiência de vida, em uma sociedade que é atravessada pela escrita. A compreensão do letramento também se faz através da construção de alternativas pedagógicas que contribuam efetivamente com o processo da aquisição do letramento, de maneira a ampliar suas práticas de leitura e de escrita. O fenômeno letramento é considerado um conjunto de práticas sociais, cujos modos específicos de funcionamento têm implicações importantes para as formas pelas 19 quais os sujeitos envolvidos nessas práticas constroem relações de identidade e poder. Acredita-se que toda forma de conhecimento gera um aprendizado. O letramento auxilia o sujeito nas diferentes maneiras de compreensão da escrita apresentada na sociedade. Por não ser um processo aplicado no cotidiano de sala de aula, demonstra-se desafiador. Portanto provocá-lo e desafiá-lo, traria o processo de letramento para o meio escolar, possibilitando ressurgir a continuidade da leitura e escrita. As possibilidades de se tornar um sujeito letrado inicia quando se começa a conviver com as primeiras manifestações da escrita (primeira infância) e se prolonga por toda a vida com a participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita. O sujeito letrado tem a facilidade de compreender e explicar os conhecimentos de mundo, pois nele foram aplicados os diversos métodos para se chegar ao estado de letrado. Quem somos e para onde vamos? Se em torno de nossas relações não identificamos, ainda, nossa identidade cultural, o berço de nossa existência, então não somos só o que herdamos nem apenas o que adquirimos, mas a relação dinâmica, processual do que herdamos e do que adquirimos. Assim é aquisição do conhecimento, da escrita, das práticas de leitura, ato e atitude de respeitar o conhecimento que o sujeito traz em sua herança e lançá-la como forma de ponte entre seu contexto de mundo e o proposto pela educação formal. Não existe uma fórmula para aquisição do saber, existe sim diferentes formas de se construir esse saber, que não é necessariamente certificado pela Escola. Conforme Freire (1997, p.67) “ele não falava de seu saber na linguagem formal e bem comportada, mecanicamente memorizada, que a escola reconhece como única e legítima”. 20 5 A OCORRÊNCIA DO LETRAMENTO NOS SUJEITOS INGRESSANTES NO PROEJA IFRS – CAMPUS BENTO GONÇALVES O presente estudo tem por objetivo diagnosticar os aspectos de letramento nos alunos ingressantes no PROEJA do IFRS - Instituto Federal de Educação do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves, conhecer suas práticas de leitura dentro do contexto, familiar, escolar e social. A pesquisa realizada com os alunos, num primeiro momento fora de observação a partir dos diálogos informais em diferentes momentos do ensino e da aprendizagem do cotidiano da turma e seus hábitos de leitura, seus diálogos formais e informais, assuntos que prendem a atenção da grande maioria, como: notícias de política e econômica (enfoque salarial), divulgação de promoção de produtos alimentícios, informativos internos da escola com enfoque em cursos, atividades festivas e informais realizadas na escola ou pela escola. Assuntos que interessam a pequenos grupos por se caracterizarem de comum interesse como: notas de falecimento em jornais (senso comum - participativo), comentários e discussões dos fatos das telenovelas e seriados ligados diretamente à cultura local. Num segundo momento fora aplicado o questionário com intuito de conhecer as práticas de letramento e as leituras de mundo que permeiam o processo da construção do ensino e da aprendizagem desses alunos. No decorrer da aplicação observei suas falas do cotidiano e constatei que se assemelham em diferentes momentos, as mesmas falas ocorrem em ambiente familiar, transpostas para meio escolar e levadas para o cotidiano do trabalho. Assim como se defendem diariamente em uma sociedade letrada cientificamente, permeiam seus diálogos em qualquer das esferas, familiar, escolar ou social. Ao ler os questionários percebi o envolvimento que possuem com as leituras de seu cotidiano, chamou-me a atenção um aluno de meia idade que trabalha em cozinha industrial e conhece profundamente a tabela calórica, os ingredientes maléficos a saúde, educação alimentar, sua forma de armazenar os alimentos, a preocupação com a qualidade e controle desses alimentos,... Leituras que são estereotipa ao sexo masculino, praticadas quase que em sua totalidade pelo sexo feminino tanto no trabalho como no ambiente doméstico. Seus anseios em concluir o PROEJA são impulsionados pelos Educadores que na sua grande maioria são agentes medidores entre alunos, para que se sintam 21 bem na Escola, ao retornar a escola o sujeito sente que não está preparado para acompanhar o rendimento escolar atual. É também nesse momento que existe a interferência do Educador, como amigo, conselheiro e acima de tudo incentivando o aluno para que conclua sua escolarização. Alunos que tem receio de iniciar novamente sua escolarização por não sentir-se preparado para o mesmo, devido ao tempo que estiveram distante da sala de aula, ao mesmo tempo em que se sentem bem acolhidos e seguros no curso realizado. Suas práticas de letramento acontecem a todo o momento, em todos os convívios, mais fortemente apresentados no cotidiano familiar, por ser uma forma de sobrevivência: atualizar a lista de compras em folhetos de supermercado procurando melhores preços e produtos. Nos investimentos para melhora da moradia e aquisição de móveis e eletrodomésticos, proporcionando maior conforto e segurança a família, nesse meio tudo o que envolve essas falas são cotidianas para esses alunos. Acreditam que após a conclusão do PROEJA, serão sujeitos de maior valor, mas que devem se utilizar todo e qualquer tipo de conhecimento ao seu redor para que contribua nas suas práticas de leituras. Essa metodologia é diária nas práticas das salas do PROEJA, valorizar o que se sabe e o que se tem para dar continuidade na construção do seu conhecimento, é importante ressaltar de que nada vale práticas de leitura se não estão associadas as práticas de aprendizagem. Nos questionamentos foram constatados que os resultados mais significativos do estudo foram: a descobertas das práticas de leituras dos alunos e as interferências dessa prática no seu convívio social, educacional e familiar. Reconhecimento de que a escola não é o único certificador da aquisição do processo de ensino - aprendizagem e da leitura – escrita, mas sim, as práticas sociais dos alunos no seu cotidiano, tornando-se vital para sua convivência na sociedade letrada. 22 6 AS PRÁTICAS DO EDUCADOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA DOS SUJEITOS INGRESSANTES NO PROEJA Buscando atingir a aplicação de metodologias que incentivem seus educandos a reflexões mais profundas sobre as práticas sociais, faz-se necessário que haja a atuação de um "professor-letrador", o qual desvende as práticas sociais pertinentes ao dia-dia do aluno para, assim, adequar os assuntos trabalhados em sala de aula. O educador necessita então superar velhos métodos e formas de ensinar, respeitar o educando dentro de suas possibilidades, aceitar e compreender seus limites, suas dúvidas, inquietudes em processo da construção do seu conhecimento através da sua leitura de mundo. De acordo com Freire (2006), ensinar é a forma que torna o ato de conhecimento que o educador necessariamente faz na busca de saber o que ensina, para provocar nos educandos seu ato de conhecimento também. Ao ensinar o educador (re) conhece o objetivo já conhecido, também aprende a aprender. Para Freire (2006) ensinar somente é válido quando o educador e o educando aprendem a aprender e não simplesmente transmitem mecanicamente as informações obtidas do objetivo ou conteúdo. De acordo com Freire (2006, p.47) “Ensinar e aprender são assim momentos de um processo maior – o de conhecer que implica (re) conhecer”. Os educadores necessitam ser mediadores da produção do conhecimento do educando, provocando a construção, desconstrução e reconstrução do seu objetivo de conhecimento. O educador portador do embasamento teórico irá proporcionar ao educando formas de ver e pensar o mundo através de debates e transformar a linguagem popular em linguagem científica, sempre considerando a realidade de cada indivíduo. A base do ensinar e do aprender acontece quando é estimulada a curiosidade do educando. Para ensinar determinado conteúdo é preciso atravessar a prática individual de cada educando para que gradativamente tornem-se sujeitos mais críticos. É preciso aproximar este encontro entre teoria e prática e não separá-las. Esse processo acontecerá quando educando e educador assumirem seu papel real. É necessário que o educador tenha um feeling de seus educando, abstendo-se da 23 postura autoritária, inflexível e muitas vezes sentindo-se superior a qualquer tema ou assunto abordado. Ouvindo seus educandos, o educador compreenderá a leitura de mundo que trazem consigo, aceitando suas variadas interpretações, podendo sim partir daí a construção do ato de ler e escrever, partindo da expansão do pré-conhecimento do educando. A sala de aula deve ser um ambiente de trocas, explorações, construções e diálogos. O educador com embasamento teórico e prático auxilia a construção da autonomia do educando, possibilitando o desenvolvimento do senso crítico, discussões de conteúdos, sua oratória em grupo e na descoberta de sua autodisciplina. Segundo Moraes (1986, p.39) constroem juntos e juntos perpetuam relações de seu viver e conviver: “IN-SIGNARE: marcar com um sinal, marcar com o sinal da paixão de viver e de conhecer, conviver e participar. Esta é a razão pela qual o ensinar e o educar jamais poderão ser apolíticos”. Ensinar e aprender são também ato político, se dá quando em ambientes como a sala de aula propiciam o desenvolvimento do processo educacional de uma forma democrática, através das convivências, do compartilhamento de saberes e da troca de experiências. Conforme Freire (2006, p.47-48) “o educando tornar-se ou sentir-se parte do processo, assumindo-se como sujeito cognoscente e não, como incidência do -discurso do educador”. A amorosidade pelos educandos, o respeito aos limites de cada um, o gosto por ensinar, fazem dos momentos de ensino um momento iluminado, desmistificando as disciplinas que marcaram de maneira negativa a trajetória escolar do educando tornando cada momento de aprendizagem um processo precioso. Diante do contexto, questiono: Como são as práticas do educador no processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita dos sujeitos ingressante no PROEJA? E assim abro a possibilidade de um novo tema a ser pesquisado. 24 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da análise dos dados coletados por meio de pesquisa foi constatado que a ocorrência de letramento dos alunos do PROEJA DO IFRS –CAMPUS BENTO GONÇALVES, acontece por meio de leituras do cotidiano doméstico, como: jornais locais, revistas, folhetins de lojas e mercados – efetuando comparativo de preços e juros, validade de medicamentos e alimentos, receitas, telejornais, novelas, filmes e programas de culinária, produtos de higiene e produtos em geral. As leituras do trabalho como listas de preços, informativo interno, ofícios, planilhas, documentos, leis, etc... são menos evidentes por não se fazerem obrigatórias e por serem realizadas diariamente e repetitivamente, tornando-se cansativas e sem prazer por não oferecerem atualizações constantes, ou informativos internos que trazem assuntos dos quais não dominam e não oferecem benefício a sua vida. No relato verbal e nas respostas da pesquisa com os alunos constatei que as leituras mais importantes são as direcionadas diretamente ao contexto familiar/econômico/social, o maior enfoque é nos encartes de supermercados onde pesquisam melhores preços e marcas dos produtos, são leituras de produtos alimentícios, de higiene/limpeza, material escolar, considerados essenciais para a sustentação familiar. Seguido de folhetins de anúncios de móveis e eletrodomésticos por representarem conforto familiar juntamente com folhetins de financiamentos de materiais de construção para construir, ampliar ou reformar sua residência, enfocando novamente a família, união do lar. Os dados coletados constatam as leituras de mundo do cotidiano dos alunos do PROEJA DO IFRS – CAMPUS BENTO GONÇALVES dentro do seu contexto familiar, social, educacional e intelectual. A partir desta pesquisa pode se reconhecer com mais facilidades as dificuldades de leitura e escrita dos sujeitos que não possuem aquela leitura específica, seja um artigo acadêmico, uma bula medicamento, um conto infantil... Cada qual traz suas leituras de mundo para compartilhar com seu meio escolar e transcender nos conhecimentos futuros do uso da linguagem e escrita. No vínculo escolar suas leituras são constantes e direcionadas ao aprendizado, do qual o aluno está fortemente comprometido pelo seu anseio de não 25 ser mais um sujeito na sociedade, mas poder defender-se dela. As leituras do convívio social dos alunos são direcionadas a interesses diferentes, os jovens buscam leituras de cursos, eventos, filmes e entretenimento, quase que só para si, já os adultos direcionam suas leituras a fatos, acontecimentos, que possam contribuir para o crescimento de sua vida particular, social e familiar. Educandos e educadores são co-autores e co-produtores do ato de ensinar a ler e escrever, assim o processo pedagógico se reestrutura na interação, na troca de idéias, numa análise contínua, priorizando os acertos e repensando nos erros. É no processo de interação entre educando e educador que acontece a transformação intelectual, social e política dos sujeitos. 26 REFERÊNCIAS FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. FREIRE, Paulo; Donaldo, Macedo. Alfabetização: leitura da palavra leitura do mundo. Rio de Janeiro: Paz Terra, 1990. FREIRE, Paulo; Professora sim, tia não: Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d’água, 1997. KLEIMAN, Ângela B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas. Mercado de Letras, 1995. KLEIMAN, Angela B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. Campinas. Mercado de Letras, 1995. MORAES, Régis. O que é ensinar. Editora Pedagógica e Universitária LTDA, São Paulo, SP.1986. SANTOS, Sônia de Fátima Rodrigues; DE ALMEIDA, Cristiane Silva; DE ARAÚJO, Ádria Maria Neves Monteiro; TEODORO, Elinilze Guedes. O Curso De Especialização Do Proeja No Cefet/Pa Em Debate: Experiências, Estudos E Propostas. Belém: CEFET-PA, 2008. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. 6ª reimper. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. TEBEROSKY, Ana. Além da Alfabetização. São Paulo: Ática, 1995 TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. 6ª ed. São Paulo: Cortez,2004. TFOUNI, Leda. Veridiani. Adultos não alfabetizados: o avesso do avesso. Campinas: Pontes, 1988. 27 ANEXOS 28 ANEXO I – ACESSOS DE LETRAMENTO Das alternativas abaixo, assinale com que freqüência você utiliza esses acessos de letramento. 1. Folhetins explicativos em geral (na área da saúde, educação, economia, política,...) ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 2. Folders. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 3. Manuais de operação de máquinas ou de usos de defensivos. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 4. Atas das reuniões. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 5. Ofícios-circulares. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 6. Documentos em geral ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 7. Cartazes. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 8. Fichas cadastrais. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 9. Projetos. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 10. Documentos de Financiamentos/créditos. ( ) 1 vez na semana * ( ) ) diariamente * ( ) diariamente * ( ) raramente 11. Relatórios de Custeios. ( ) 1 vez na semana * ( raramente 12. Panfletos ( de eventos, festas, shows, teatro, espetáculos... ). ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 13. Materiais de apoio e divulgação (cartilhas, cadernos, calendários, livro de canções, livros de receitas, livros, etc.…) ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 14. Jornais locais e nacionais. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 15. Revistas e outras publicações (boletins informativos, jornais, guia telefônico, encartes de lojas, etc.…) ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 16. Rótulos dos produtos alimentícios e de higiene pessoal e coletiva dados sobre. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 29 17. Quantidade, validade e tipo do produto, tipos de componentes, valor alimentício, modos de uso, cuidados a serem tomados, endereço de contanto com a empresa produtora, etc.…) ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 18. Manuais dos eletrodomésticos (TV, liqüidificador, ventilador, aparelho sonoro, etc.…) ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 19. Remédios (invólucro e bula) ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente. 20. TV (anúncios, telejornais, telenovelas, filmes, documentários, programas de entrevistas, etc.…) ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente. 21. Conta de luz. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 22. Bilhetes, cartas. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 23. Boletim escolar. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 24. Dicionários. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 25. Livros didáticos. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 26. Cadernos. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 27. Tarefas escolares. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 28. Produção dos alunos (poesias, músicas, narrativas orais, contos). ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente 29. Cartazes. ( ) 1 vez na semana * ( ) diariamente * ( ) raramente