O TRABALHO FEMININO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS Daniela Aparecida Damas1; Jocyare Cristina Pereira de Souza 2 RESUMO O presente artigo, pautado em pesquisa bibliográfica e documental tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a situação da mulher no mundo do trabalho desde o marco da Revolução Industrial até os dias atuais. Destacamos a importância da mão de obra feminina, que foi fundamental para o próprio desenvolvimento do capitalismo. Além disso, fizemos alguns apontamentos sobre as manifestações das mulheres, na luta contra a exploração e a opressão vivenciadas nas atividades trabalhistas bem como algumas contribuições dos movimentos feministas que almejavam a emancipação feminina. Vale considerar que realizamos algumas reflexões sobre os impactos da reestruturação produtiva, demonstrando a precarização nas relações trabalhistas e o retrocesso nos direitos sociais que ocasionam várias formas de adoecimento na vida da mulher trabalhadora. Logo, percebemos a necessidade de existir políticas sociais que contribuem para o apoio às mulheres; principalmente, as que se encontram na esfera da informalidade e que necessitam de uma qualificação profissional. Dessa forma, citamos no final da presente pesquisa o exemplo do Centro de Referência da Assistência Social -CRAS como política social, uma unidade pública que é bastante procurada como um amparo às mulheres, pois querem valorizar o seu potencial por meio dos cursos profissionalizantes oferecidos por esta unidade, como uma oportunidade de ingressarem no mercado de trabalho formal. Palavras-Chave: Mulher. Trabalho. Políticas Sociais. 1 Acadêmico do Curso de Pós Graduação em Gestão Pública do IFTMUZ - e-mail: [email protected] Orientadora - Professora do Curso de Pós Graduação em Gestão Pública do IFTMUZ –e e-mail: [email protected] / Endereço para acessar o Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6971092838621749 2 2 ABSTRACT This article, based on bibliographical research and documentary aims to raise some reflections on the situation of women in the world of work since March of the Industrial Revolution to the present day. We stress the importance of hand-to-female workers, which was instrumental in the development of capitalism itself. In addition, we made some notes about the demonstrations of women in the struggle against exploitation and oppression experienced in labor activities, as well as some contributions of the feminist movement which sought to female emancipation. Consider that we have made some reflections on the impact of the restructuring process, demonstrating the precariousness in labor relations and social rights setback that cause various forms of illness in the lives of working women. Soon, we realized the need to have social policies to support women, especially those found in the sphere of informality and need a professional qualification. Thus, we quote at the end of the present study the example of the Reference Center for Social-CRAS as social policy, a public that is quite popular as a shelter for women, because they want to exploit their potential through training courses offered by this unit, having an opportunity to join the formal labor market. Keywords: Female. Labor. Social Policies. INTRODUÇÃO Pretende-se neste ensaio teórico, suscitar ponderações sobre a situação da mulher no mundo do trabalho desde o marco da Revolução Industrial até a contemporaneidade, como também tecer considerações através das pesquisas e especificações de gênero e a exploração da mulher nas relações de classes. Procuramos mostrar as desigualdades das mulheres presentes no mercado de trabalho, as quais estão sujeitas a dupla jornada na divisão sexual do trabalho e o processo de emancipação da mulher, levando em consideração o modo de produção capitalista, em que o marxismo já contribuiu e permanece contribuindo criticamente. Apresentamos os impactos que advém da reestruturação produtiva e o retrocesso nos direitos sociais nas conquistas femininas, devido à crise estrutural do capitalismo e as várias mudanças que foram ocorrendo no processo de produção e suas repercussões no trabalho. Como também do sistema fordista e taylorista que contribuíram para os avanços tecnológicos e para a acumulação flexível do capital, levando em 3 consideração as condições de trabalho e o impacto na saúde da mulher devido ao desgaste provocado pelas atividades trabalhistas. Também almeja-se discutir sobre as Políticas Públicas e a questão da mulher frente aos recursos do Centro de Referência da Assistência Social – CRAS, como exemplo de política social sendo que esta é uma unidade pública estatal responsável pela oferta de serviços continuados de proteção social básica de assistência social às famílias, grupos e indivíduos que se encontram em situação de vulnerabilidade social. As famílias, principalmente as mulheres, procuram esta unidade para se inscreverem nos Cursos Profissionalizantes, buscando qualificação profissional, para ingressarem no mercado de trabalho e visam obter assim, recurso de sobrevivência e contribuir com a renda familiar. 2. A QUESTÃO DO TRABALHO FEMININO No século XX, as mulheres não eram reconhecidas cidadãs, o poder era destinado apenas ao gênero masculino, mas ao longo da história, a mulher foi adquirindo conquistas significantes que são relevantes até a contemporaneidade, elas se uniam e lutavam para alcançar seus objetivos, pois toda luta que era explícita se tornou implícita, talvez seja pelas multifaces do capitalismo ou simplesmente por acomodação por parte do gênero feminino. A organização do movimento feminista na luta pelo reconhecimento da sua cidadania tem como referência a inserção da mulher no mundo do trabalho e está diretamente vinculado ao marco da Revolução Industrial que, segundo Arruda (2004), nasceu por meio da reflexão sobre a organização do trabalho, a fim de obter melhores resultados na produção. A mulher trabalhadora acentuava a sua participação nas lutas de sua classe e na organização política e sindical, mantendo o enfrentamento em relação ao discurso conservador que preconizava o futuro de uma mulher que deseja ser mãe e esposa, mas sempre mantendo o conceito de família como instituição básica e universal. No Brasil, segundo Nogueira (2004), a organização dos movimentos feministas tem como luta a conquista de espaço tanto no mercado de trabalho, quanto na vida social, ou seja, pela sua emancipação. Este movimento procurava defender os interesses das mulheres por 4 questionar os sistemas culturais e políticos construídos a partir dos papéis historicamente atribuídos às mulheres e as políticas públicas a elas destinadas. A inserção da mulher no mercado de trabalho tem implicações no âmbito familiar e social, como por exemplo, a divisão das tarefas domésticas, o cuidado dos filhos, a relação de gênero e dentre outros, visando os acontecimentos que marcam a trajetória as lutas sociais da mulher encoberta pela dominação masculina. E também era preciso o combate à opressão contra a mulher, ou seja, lutar pela sua emancipação econômica e social, pelo seu direito ao trabalho, salários iguais para trabalhos iguais, além da reivindicação de uma divisão justa no trabalho doméstico, na esfera reprodutiva, libertando a mulher da dupla jornada de trabalho. O processo da reestruturação produtiva alterou o modo de produção no sistema capitalista e, por conseguinte, as relações no mundo do trabalho. Atualmente, a inserção das mulheres no mercado de trabalho formal e informal se expandiu, alcançando uma grande força de trabalho em diversos países avançados, mas, sobretudo, no universo do trabalho precarizado e desvalorizado, devido a relação de desigualdade social das mulheres sujeitas à dupla jornada de trabalho, sendo possível realizar uma comparação com a trajetória da mulher trabalhadora diante da reestruturação produtiva frente a contemporaneidade. 2.1 Processo Produtivo e Direitos Sociais A questão do trabalho feminino frente ao processo produtivo no mundo do trabalho contemporâneo, as tarefas monótonas, repetitivas são estressantes na maior parte do tempo. Nesse sentido, é importante destacar as atribuições precárias que estão reservadas para as mulheres, pois se encontram diretamente ligadas às relações de poder, possuindo menos valor que o trabalho masculino, ou seja, o que é imposto pelo sistema capitalista sobre as mulheres para que haja a manutenção da família é enorme e a situação delas no espaço produtivo é totalmente injusta. 5 Porém, percebemos que é imprescindível a luta por uma divisão sexual do trabalho com mais igualdade, na qual esteja presente o combate da opressão masculina sobre a mulher e também o objetivo da superação da questão social. Os impactos da reestruturação produtiva abriram caminhos para a maquinaria, autorizando a intensa inserção da força de trabalho feminina e também da maior exploração da força de trabalho infantil. Mas por outro lado o capitalismo necessita da expansão da extração de mais valia, ampliando seu espaço produtivo de exploração, englobando mulheres e crianças e ampliando ainda mais a precarização de toda a classe trabalhadora, além da redução salarial para o trabalhador, também há uma ampliação do exército industrial de reserva. Segundo Marx (1988), o exército industrial de reserva está diretamente relacionado com a acumulação do capital. A acumulação capitalista produz constantemente – isso em proporção à sua energia e as suas dimensões uma população trabalhadora adicional relativamente supérflua ou subsidiária, ao menos no concernente as necessidades de aproveitamento por parte do capital. (ibid; p.190). A exploração do capital sobre o gênero feminino é identificado pelo trabalho das operárias em domicílio, o qual constatou no cotidiano e que muitas dessas trabalhadoras se encontram em falta de vínculo empregatício formal, ou mediante trabalhos produtivos em casa, assim como fazem as trabalhadoras do setor calçadista. Com a inserção da mulher no processo produtivo do trabalho, essa se torna trabalhadora assalariada, o que gerou grande importância da mulher neste processo de qualificação. Também podemos mencionar que a acumulação flexível do capital sugere indicações tecnológicas, aparecendo novos modos de relação homem/máquina, ou seja, o trabalhador também se transforma para um perfil de trabalhador multifuncional, devendo ter conhecimento para manusear as máquinas, porque já nos tempos modernos o que se precisaria de anos de experiência para se ingressar no mercado de trabalho, hoje é necessário apenas apertar botões para monitorar as máquinas, obtendo uma grande redução da mão de obra nas fábricas, pois no local que havia dez trabalhadores, agora necessitava apenas de dois para o manuseio das mesmas e ao mesmo tempo aumentando a produção em menos tempo, ocorrendo um fluxo maior da mais valia extraída do trabalho, porque nem sempre há aumento 6 salarial, pois este é calculado mediante a produção, o tempo gasto e a qualidade do serviço realizado. [...] tal procedimento faz do trabalhador uma fonte potencia ligada de auto – exploração, pois o trabalhador nessas circunstancias, tem interesse em apreciar sua força de trabalho o mais intensamente possível e prolongar sua jornada de trabalho, ou seja, trata – se, em ultima instância, de um processo de potencialização de produção de mais valia. (OLIVEIRA, 1995, p.140). Sendo assim, abre espaço para a terceirização da mão de obra, porque diante desse processo, o trabalhador não possui contribuição sindical, direitos trabalhistas e remuneração adequada nas horas extras e trabalhos temporários, gerando maior valorização do capital. A proteção ao trabalho da mulher é devido à sua fragilidade física, que está repleto de preconceitos, vinda de uma sociedade patriarcal, ou seja, o pai como o chefe de família, somente ele deve trabalhar, sendo esta uma causa da discriminação contra a mulher. Na medida em que elas se submetem a exercer trabalhos, em que seu salário seja inferior ao da classe masculina, sendo subordinadas a jornadas de trabalho excedentes e suportam tudo isso apenas para conseguir uma vaga no mercado de trabalho em troca de uma renda mensal. De acordo com a Constituição Federal de 1988, a mulher somente estará apta para exercer suas atividades trabalhistas a partir dos 18 anos de idade, e sua duração de trabalho são de 8 horas diárias, perfazendo 44 horas semanais, podendo prorrogar sua jornada de trabalho, fazendo horas extras, assim como os homens. Os salários devem ser iguais tanto para homens quanto para as mulheres. No artigo 377 da Consolidação das Leis do Trabalho CLT “a adoção de medidas de proteção ao trabalho das mulheres é considerada de ordem pública não justificando, em hipótese alguma, a redução do salário.” (CLT, 1943). Os períodos de descanso do homem e da mulher também devem ser iguais, como, por exemplo, entre duas jornadas de trabalho, deve haver um intervalo no mínimo de 11 horas para descanso.O ambiente de trabalho deve ser adequado possuindo higienização, ventilação, garantindo o bem estar das mulheres. É preciso ter equipamentos básico tais como: bebedouros, lavatórios, sanitários, cadeiras confortáveis que contribuem para um trabalho digno e favorável as trabalhadoras. Há também aquelas mulheres que trabalham em fábricas ou em lavouras que necessitam dos EPI (Equipamento de Proteção Individual), o que é totalmente indispensável para a realização de suas atividades trabalhistas, sem contar que elas possuem todo direito de receber insalubridade por conta de trabalhar com equipamentos e materiais perigosos. Já o auxílio maternidade, a trabalhadora deverá se dirigir ao INSS (Instituto Nacional Seguro Social) para receber o salário-maternidade “avulso”, tendo direito 7 a uma renda mensal semelhante a sua remuneração, mas ciente que estará na qualidade de segurada pelo INSS. No entanto, percebemos que as mulheres estão lutando a cada dia em prol da sua emancipação e seus direitos sociais trabalhistas, procurando informações pelos meios de comunicação e através das Instituições Públicas. 2.2 O Trabalho precarizado e a condição da mulher nas relações trabalhistas As condições precárias de trabalho e o impacto na saúde da mulher é um suceder de transformações ou permanência dos fatos, dessa forma verifica-se que sem contexto não pode haver significados e as transformações sociais ocorreram em função de diferentes momentos históricos relacionados às transformações no mundo do trabalho, principalmente nas formas de organização. A sociedade capitalista se caracteriza por controlar o processo de trabalho, esse fenômeno se expressa no sistema de produção fordista e taylorista, o que embasa sua essência social, ou seja, focando as transformações das relações de maneira dialética, analisando as diversas formas de precarização da mulher nas relações trabalhistas. O modelo de organização fordista é uma indústria automobilística que se caracterizou nos momentos da luta de classes, em que o trabalho era mecanizado por via esteira de montagem. Com a padronização deste modelo fordista trabalha-se com a produção de carros em série, podendo abastecer o consumo de massa. Já o modelo taylorista tem como princípio a preocupação com o desperdício, as normas e leis científicas da administração do trabalho que visam a exploração do trabalho e o tempo gasto para a execução desse, havendo todo um planejamento para seguir durante as atividades trabalhistas. Ao realizarmos uma comparação da organização do trabalho fordista e taylorista, a dimensão subjetiva dos trabalhadores se tornou essencial para manter o fluxo de produção em níveis mínimos para a acumulação capitalista, foi o término da ideologia gerencial, cujas formas de gestão advindas do fordismo e taylorismo não deixaram de existir e cujo controle se converteu em controle social, não se limitando ao ambiente de realização da atividade e tampouco ao setor industrial ou de serviços. 8 Contudo, essas condições de trabalho causam um enorme desgaste físico e mental principalmente nas mulheres, pois as atividades trabalhistas são precárias, causando um impacto negativo na saúde da mulher. As mulheres trabalhadoras das fábricas mesmo cansadas, esgotadas pela exploração e opressão, ainda contribuíam mais com a produtividade, mesmo frente aos baixos salários e sabendo que eram pouco valorizadas. A questão da organização do trabalho capitalista se intensificou com o surgimento de muitas doenças advindas da precarização do trabalho que estão relacionadas à carga horária de trabalho. Mediante essa compreensão, é importante conhecer os conceitos fundamentais com os quais presenciamos no dia a dia na saúde do trabalhador, o que reforça a importância de se conhecer e distinguir as cargas de trabalho e de se saber conceituar um acidente de trabalho das doenças relacionadas com o trabalho, evitando assim possíveis adoecimentos. O processo de adoecimento das mulheres e sua relação com o trabalho (produtivo/reprodutivo) que já era ocultado e tratado como doença de mulheres sem nexo com a organização do trabalho,estarão duplamente agravados pela conjunção da precariedade do emprego com as formas recentes de intensificação do trabalho impostas pelas novas tecnologias e processos produtivos. (HIRATA, 1997, p.30). Os sintomas e doenças relacionados à situação do trabalho têm crescido muito nos últimos anos, os processos de adoecimento têm se tornado mais graves devido às condições precárias de trabalho que atingem principalmente as mulheres além dos baixos salários, do aumento chamado trabalho informal e em domicílio, pela presença nos serviços terceirizados de asseio e limpeza e pela subcontratação ou contrato por tarefas, sem carteira assinada e sem direitos trabalhistas. Por outro lado, a maioria das trabalhadoras nos setores formais está ligada às atividades que exigem passar muitas horas em posturas imóveis, com movimentos rápidos, precisos e repetitivos, o que produz um grande desgaste físico ou estão em ocupações que as deixam mais expostas a compostos químicos que provocam reações tóxicas como problemas respiratórios e alérgicos. Isso se resulta do trabalho em alta velocidade com as máquinas, o controle computadorizado, as pressões da chefia e o ritmo intenso. Diante disso, nos deparamos com um maior quadro de sintomas e doenças como a Lesão por Esforços Repetitivos (LER), fadiga, depressão, transtornos mentais, problemas gástricos, audição, visão, respiratórios e alergias, além das intoxicações por uso de produtos químicos. As trabalhadoras mais velhas apresentam, em particular, problemas de saúde como 9 artrite e varizes, dores na coluna que podem ser conseqüência do trabalho que realizaram durante anos. Verificou-se também que as mulheres sofrem acidentes de trabalho provocado por queda, como os verificados entre as faxineiras, devido ao cansaço do dia a dia que vai se acumulando cada vez mais. Lembramos que a maior parte das empresas não se interessa em reconhecer ou modificar a organização do trabalho, principalmente no que diz respeito à diminuição e à intensidade dos ritmos e fazer novas contratações para amenizar a sobrecarga de trabalho. Geralmente quando a empregada leva a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) fornecida pelo médico, muitas dessas empresas obrigam-na a tirar férias ou depois da alta médica, demitem-na, fazendo com que muitas funcionárias se recusem a levar a CAT, pois o medo de perder o emprego faz com que suportem o sofrimento até o limite. Além disso, grande parte das pequenas e micro empresas não cumpre a legislação quanto às normas minimamente necessárias de higiene e segurança do trabalho. As empresas utilizam do desconhecimento das trabalhadoras e de seu medo de perder o emprego, para fraudar a lei e não assumir as responsabilidades pelo processo de adoecimento e situações que o envolve. Muitas vezes os convênios e os médicos das empresas, mesmo em casos em que há reconhecimento formal e legal do tipo de trabalho e a doença, negam-se a liberá-las do trabalho. Para as mulheres, e aqui se está falando das classes populares, não se trata de evitar a doença, o problema é domesticá-la, contê-la, controlá-la, viver com ela. As mulheres, dizem, são todas doentes, mas essas doenças são de alguma maneira, mantida à distância pelo desprezo. Somente são reconhecidas aquelas que se exprimem por sintomas muito evidentes, que signifique uma síndrome deficitária grave. Para que uma doença seja reconhecida, para que se resigne a consultar um médico, para que se aceite ir ao hospital, é preciso que a doença tenha atingido uma gravidade tal que ela impeça a continuidade seja da atividade profissional, no caso dos homens, seja nas atividades domésticas e familiares, no caso das mulheres. (DEJOURS, 1992, p.30). Salientamos que essa relação do trabalho feminino não deve ser sinônimo de desgaste, doença, exploração e dominação, mas sim o exercício de criatividade, de auto-realização e bem-estar, não se submetendo à lógica do capital, nem a padrões discriminatórios de gênero, classe e raça. 10 3. POLÍTICAS SOCIAIS: UM AVANÇO PARA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA FEMININA Entendemos como política social as propostas por meio do estado do enfrentamento às expressões da questão social no capitalismo, ou seja, ações no âmbito do estado normalmente setorizadas e fragmentadas para atender as mazelas provocadas pelo modo de produção capitalista. A assistência social está prevista como direito do cidadão e dever do Estado, devendo ser reconhecida como política pública, conforme posto na LOAS 8.742 – Lei Orgânica da Assistência Social de 1993 e também destacada no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), esse direito é garantido para as famílias em situação de vulnerabilidade social tenham suas necessidades asseguradas. O SUAS “constitui-se na regulação e organização em todo território nacional da rede de serviços socioassistenciais” (PNAS,2004b, p.23). É de responsabilidade do Estado legitimar suas ações através das políticas públicas, procurando construir políticas sociais para satisfazer as famílias, já que a sociedade se depara com tantos desafios no dia-a-dia. Com isso surgem novos fenômenos sociais que contribuem para modificar os outros, impondo um acompanhamento constante na evolução do impacto das políticas públicas. Também é preciso pensar em novos caminhos a seguir para chegar à efetivação e à eficácia das propostas de centralidade da família, colocando em prática o que consta na Política Nacional de Assistência Social (PNAS) como também nas demais políticas sociais e públicas. Valorizar as políticas sociais de modo universal é de suma importância para um compromisso de coordenar os programas, os projetos e as ações, que necessitam também ser reconhecidas. As políticas sociais, assim como todas as políticas públicas devem assumir o compromisso em relação ao envelhecimento da sociedade, com o intuito de garantir os mínimos necessários para um envelhecimento saudável e também para a proteção social do idoso, como cidadão de direitos e também de uma convivência familiar e comunitária, visando a participação ativa das mesmas perante a comunidade a qual estão inseridas, 11 mediante as associações, organizações comunitárias e através do controle social dentro das diversas políticas públicas. Destacamos então, os Centros de Referência da Assistência Social – CRAS, como exemplo das políticas sociais mais importantes voltada para as mulheres a partir de 16 anos de idade, ofertando Cursos Profissionalizantes de Geração de Trabalho e Renda, com o objetivo de fortalecer os vínculos familiares e capacitá-las para se ingressarem no mercado de trabalho de maneira mais qualificada e formal, pois pretendem sair do seu “cotidiano” que é realizar trabalhos domésticos em casas de famílias, fazer “bicos” para contribuir na renda familiar. A procura para os cursos é de mulheres que estão em fase de desemprego, com filhos e geralmente pretendem um futuro melhor para si e para os filhos, por isso enfrentam qualquer tipo de serviço, mas se torna desgastante, na oportunidade procuram os CRAS para buscar melhores recursos de sobrevivência através dos cursos profissionalizantes. Os CRAS são unidades públicas estatais responsáveis pela oferta de serviços continuados de proteção social básica, programas e projetos destinados as famílias, grupos e indivíduos que se encontram em vulnerabilidade social, concretizando o direito socioassistencial quanto a garantia de acessos a serviços de proteção social básica com matricialidade sócio-familiar e ênfase no território de referência. São serviços e ações do Programa de Atenção Integral à Família (PAIF) dentre outros relativos a segurança de rendimentos, autonomia, acolhida, convívio ou vivência familiar e comunitária, socioeducativos e sobrevivência de riscos circunstanciais. Esta unidade pública tem que ser composta por uma equipe altamente qualificada e capacitada para exercer suas funções, devem ter conhecimento da Constituição Federal de 1988; Lei Orgânica da Assistência Social- LOAS/1993; Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA/ 1990; Política Nacional de Assistência Social- PNAS/2004; Política Nacional do Idoso; Política Nacional de Integração da Pessoa com Deficiência/ 1989; Norma Operacional Básica da Assistência Social- NOB-SUAS/ 2005; Leis, decretos e portarias do MDS; Fundamentos éticos, legais, teóricos e metodológicos do trabalho social com e para famílias, seus membros e indivíduos; legislações específicas das profissões regulamentadas e trabalho com grupos e redes sociais. Com capacidade de realizar procedimentos profissionais para dar atenção individual ou até mesmo em grupo, procurando identificar o que é indispensável e dando orientações aos indivíduos e famílias, fundamentados em pressupostos teórico-metodológicos, éticos-políticos e legais; articular serviços e recursos para 12 atendimento, encaminhamento e acompanhamento das famílias e indivíduos; desenvolver atividades socioeducativas de apoio, acolhida, reflexão e participação que visem o fortalecimento familiar e a convivência comunitária. De acordo com a NOB- SUAS a União, os Estados, os municípios em gestão plena e o DF são responsáveis por elaborar e executar política de recursos humanos, com a implantação de carreira para os servidores públicos que atuem na área de assistência social. (BRASIL, 2006b, p.18). No entanto, todos os profissionais que compõe o CRAS devem passar por capacitações regularmente e constantemente. Deve-se também realizar reuniões semanais com toda a equipe para discutir e planejar os trabalhos favoráveis às famílias atendidas. Aos usuários cabe o direito de conhecer os profissionais que o atendem e receber informações claras mediante o atendimento. 3.1 As Mulheres e seus desafios contemporâneos De acordo com o II Plano Nacional de Política para as Mulheres, relata que nas últimas décadas foram marcadas a dinâmica demográfica brasileira, por um período de transição. A redução de fecundidade e o avanço nas tecnologias de saúde e condições de saneamento e acesso à água vêm se transformando a estrutura etária do país. A proporção de crianças é cada vez menor e maior de idosos que alarga o topo da pirâmide etária e um estreitamento da base. É através dessa transição que o estado toma iniciativa em desenvolver projeto para igualdade e inclusão social para diferentes grupos. O mercado de trabalho oferece maior oportunidade para a idade adulta e menos para jovens e idosas. Mulheres jovens e idosas devem ser olhadas mais de perto em questão de sua saúde, pois a maioria delas está na faixa etária que mais se destaca: início da sexualidade, gravidez na adolescência, no término do período reprodutor, com isso as mais idosas se tornam chefes de família tendo que usufruir da sua aposentadoria para o sustento do domicílio. E muitas mulheres por serem domésticas ou trabalharem no campo não eram contribuintes da Previdência Social, por isso não tinha direito a aposentadoria e também desconheciam todo o processo que necessitava para requerê-la. 13 Mas atualmente as mulheres jovens e as que já se encontram na fase adulta estão preocupadas com a velhice e procuram se ingressar no mercado de trabalho rapidamente. E também podem contar com o apoio das políticas públicas voltada para as mulheres que estão acolhendo as transversalidades de programas para as mulheres e tudo isso não pode ser tratado de maneira isolada e sim por setores responsáveis pela execução das políticas, em que as mulheres tenham acesso ao trabalho, consumo, saúde, justiça, direitos sociais e sexuais. Mediante os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE 2007, as mulheres cada vez mais estão se tornando chefes de família na faixa etária de 25 a 30 anos, até mesmo de 60 anos ou mais. No mercado de trabalho as mulheres negras jovens têm menos chance, obtendo assim maior preocupação para o futuro com a Previdência Social neste quadro de desigualdade social. Em nosso país os marcadores da cultura é a beleza, a juventude e a sensualidade das mulheres, a velhice não pode ser encarada como um momento de perda ou decadência física, deve valorizar os ganhos acumulados com a idade. A noção de juventude da mulher é construída pelas culturas, mudanças corporais, condições políticas, econômicas e geográficas. Os jovens estão em desvantagens com a falta de controle com a própria vida, as mulheres na juventude preocupa muito com seu aspecto moderno, e a responsabilidade consigo mesmo, casa, filhos, trabalho e estudos, nesta etapa de vida dupla feminina. A estética é uma preocupação para as mulheres que interfere muito, pois a estética é muito comercializada, em um modelo único, tendo um padrão de beleza para terem seu espaço. O governo brasileiro tem se preocupado muito com tudo isso, mas dando oportunidades para todas as diferenças, que variam de acordo com os aspectos culturais, sociais, econômicos e territoriais. E suas ações estão voltadas para as oportunidades e direitos aos jovens, para a construção de uma vida cidadã.(BRASIL;2006a). Nas diferentes áreas de atuação temos oportunidades à educação, acesso ao mercado de trabalho, lazer e oferta de serviços para a necessidade básica do jovem. Essas oportunidades estão sendo dirigidas a todos os grupos com todas as desigualdades. Todos têm oportunidades de acordo com sua capacidade e qualificação, independente de raça, etnia, sexo ou origem, para que todos alcance seus objetivos. É preciso que os governantes atendam essa desigualdade, olhando principalmente para as mulheres jovens e idosas, pois são marcadas por múltiplas identidades. 14 Este contexto retrata um passo pelas políticas públicas no Brasil, é necessário reconhecer as diferenças entre as mulheres que devem ser superadas, pois estão reforçando a importância da experiência e vivência que não se muda mesmo frente à atualidade. 3.2 Conquistas femininas no mercado de trabalho “As promessas não cumpridas e impossíveis de serem realizadas pelo sistema do capital transformam a grandiosa causa da emancipação feminina numa impossibilidade dentro do domínio do capital.”(MÉSZÁROS; 2002, p. 223). Por meio dessa citação pudemos perceber que não há outra maneira de se alcançar a emancipação da mulher sem que ocorra uma mudança nas relações estabelecidas de desigualdade social. Para analisar o processo de feminização do trabalho há um sentido contraditório, marcado pela positividade do ingresso da mulher no mundo do trabalho e pela negatividade da precarização, fortalecimento e ampliação das formas e modalidades de exploração da mão de obra. No Brasil, por exemplo, devido à luta pelo desenvolvimento social, cultural e político ao longo dos anos as mulheres vêm conquistando o seu espaço no mercado de trabalho, embora seja de forma lenta, mas tem sido significativa, pois deixaram de serem apenas esposas, donas de casa e mães para desenvolver com sucesso sua competência e habilidade perante as atividades trabalhistas. Este processo de emancipação na qual a sociedade ganha uma dimensão mais humana, abre espaço para um complemento inovador, pois a mulher abrange perspectivas de democracia com uma visão estratégica de combate à exclusão social entre a igualdade de gênero, deixando seu lugar no âmbito privado e conquista seu caminho rumo ao mercado de trabalho, criando nova relação de igualdade no ambiente familiar, reconhecendo e valorizando os seus direitos. As mulheres estão em busca de sua realização profissional, procurando se qualificar através do aumento do grau de escolaridade estão dispostas a estudarem, percebendo que realmente são capazes de alcançar seus objetivos com eficiência e dedicação para futuramente adquirir melhores empregos com competência técnica e interpessoal, conquistando sua independência financeira. 15 Dentro desse cenário caracteriza-se que a inserção da mulher no mercado de trabalho se deu pela necessidade de auxiliar seus maridos no sustento do núcleo familiar e também da questão de autoestima e autorealização feminina. Por isso que elas enfrentam jornadas de trabalho, estudam, cuidam da casa, dos filhos, entre outras ocupações. Diante dessas argumentações que a feminização do trabalho continua se oscilando entre a emancipação e a precarização, mas buscando sempre caminhar da precarização para a emancipação. Agora, resta à mulher comemorar a vitória, o sucesso e o grande destaque no mundo do trabalho, pois lutaram por isso e são merecedoras de suas conquistas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse artigo objetivou tecer algumas considerações acerca da presença feminina no mundo do trabalho e também trazer elementos para compreender as Política Públicas na atualidade. A opção pela escolha da temática deu-se no sentido de refletir acerca de algumas análises teóricas relacionadas ao trabalho feminino, que corroboram as diversas condições de trabalho precarizado. Podemos observar que além de enfrentarem a precarização no mundo do trabalho, também lutam contra a opressão, a exploração e os desafios que a mulher encontrava durante o século XX e que ainda se faz presente neste século XXI. Salientamos ainda que as mulheres vêem buscando cada vez mais se qualificar tanto intelectual, quanto profissionalmente para sua inserção no mercado de trabalho. Atualmente as mulheres possuem mais oportunidades de se ingressarem no mercado de trabalho formal, uma vez que as políticas sociais contribuem para a realização da qualificação, por meio de cursos profissionalizantes, todavia, temos ciência que as diferenças de gênero precisam ser consideradas numa perspectiva das políticas sociais dentro de uma vertente intersetorial. Com isso, pudemos analisar que houve avanços no que tange à realidade das mulheres no contexto societário, não obstante é inegável que as faces de desumanização no espaço produtivo ainda se fazem presentes, exigindo novos enfrentamentos. Além disso, há avanços no acesso dos bens e serviços, sendo que na atualidade está cada vez mais fácil, tendo em 16 vista as lutas sociais por uma divisão sexual do trabalho com direitos iguais a todos, não somente por meio dos movimentos feministas, mas por diversos movimentos sociais, objetivando a superação da questão social. Avanços significativos no âmbito das políticas públicas e dos direitos sociais, especificamente a questão feminina tem sido percebida pós constituição de 1988. Foi possível vislumbrar a valorização e a emancipação da mulher, sendo que recentemente com o SUAS, a família passa a ser considerada como centralidade. E as transformações e o incentivo na busca de novas oportunidades de trabalho objetivam contribuir com a renda familiar no intuito de melhores condições de vida da família. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho?: Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 7. ed. São Paulo, Cortez, 2000. ARRUDA, José Jobson de Andrade. Toda História: História Geral e História do Brasil. 12.ed. São Paulo, Ática, 2004. BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e historia. 2. ed. São Paulo, Cortez, 2007. BRASIL. Constituição Federal de 1988. 1° ed. – São Paulo: IOB – Thomson, 2005. – (Coleção Códigos Universitários). 1. 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