A CRISE DO CAPITAL E A PRECARIZAÇÃO ESTRUTURAL DO TRABALHO Prof. Dr. Ricardo Lara Departamento de Serviço Social Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. CRISE DO CAPITAL • Sistema sociometabólico do capital: assalariado e Estado. (MESZÁROS) capital, trabalho • Capital - não possui mais a força expansionista que gozou durante o século XX em busca do crescente mais-valor. • Trabalho assalariado - força de trabalho apresenta-se numa crescente precarização estrutural • Estado - quase totalmente privatizado CRISE DO CAPITAL • Mundialização do capital - produção e reprodução do capital em escala mundial, orientada cada vez mais pela forma mais absurda e fetichizada do capital portador de juros. • Capital que se valoriza sem sair da esfera financeira (D–D’), sem a mediação da produção de mercadorias (D–M–D’). CRISE DO CAPITAL • Conseqüências imediatas dessa forma de acumulação de capital: • desregulamentação das “finanças”; crescimento da dívida pública; surgimento de “novos atores financeiros” (fundos mútuos, fundos de pensão e companhia de seguros); indústria bélica; desemprego estrutural; precarização do trabalho; guerras; destruição ambiental. PRECARIZAÇÃO ESTRUTURAL DO TRABALHO • Segundo a OIT (2009) - 50 milhões de desempregados no mundo. • Cerca de 1,5 bilhão de trabalhadores sofrerão forte erosão salarial e ampliação do desemprego. PRECARIZAÇÃO ESTRUTURAL DO TRABALHO • Na China, 26 milhões de ex-trabalhadores rurais que estavam trabalhando nas indústrias das cidades perderam seus empregos nos últimos meses de 2008 e no início de 2009 e não encontram trabalhos disponível no campo, desencadeando uma nova ondas de revoltas operárias naquele país. • Na América Latina, a OIT acrescenta que, devido à crise, ‘até 2,4 milhões de pessoas poderão entrar nas filas do desemprego regional em 2009’, somando-se aos quase 16 milhões hoje desempregados. PRECARIZAÇÃO ESTRUTURAL DO TRABALHO • Os últimos 40 anos do Brasil são sinônimos de: • privatização, informalidade, precarização das relações e condições de trabalho, destruição dos direitos sociais, estratégias empresariais (terceirização, subcontratação, relocalizações industriais), recuo da responsabilidade estatal, refilantropização das políticas sociais, neoliberalismo, ou seja, ressonâncias particulares das contradições universais da acumulação capitalista recente. PRECARIZAÇÃO ESTRUTURAL DO TRABALHO • Nova morfologia da classe trabalhadora “compreende desde o operariado industrial e rural clássicos, em processo de encolhimento, até os assalariados de serviços, os novos contingentes de homens e mulheres terceirizados, subcontratados, temporários que se ampliam”. (ANTUNES, 2007, p. 14) O Serviço Social diante da crise do capital e da precarização estrutural do trabalho • Serviço Social – resistência político e teórica contra “a doce melodia pós-moderna”. • Diretrizes Curriculares – centralidade da categoria “questão social”. SERVIÇO SOCIAL E “QUESTÃO SOCIAL” • O Serviço Social se particulariza nas relações sociais de produção e reprodução da vida social como uma profissão interventiva no âmbito da “questão social”, expressa pelas contradições do da relação capital versus trabalho. Serviço Social e “questão social” • Modo de produção capitalista – relação contraditória entre capital e trabalho. • “Questão Social” – Lei Geral da Acumulação Capitalista • Produção da superpopulação relativa – “exército industrial de reserva.” LEI GERAL DA ACUMULAÇÃO CAPITALISTA • Acumular capital é aumentar proletariado. • Proletariado – assalariado que produz e expande o capital e é descartado quando se torna supérfluo às necessidades de expansão do capital. • Produção progressiva da superpopulação relativa. Lei Geral da Acumulação Capitalista • Modo de produção capitalista – “[...] o trabalhador existe para as necessidades de expansão dos valores existentes, em vez de a riqueza material existir para as necessidades de desenvolvimento do trabalhador.” (MARX, 2002, p. 724) • Objetivo do modo de produção capitalista: Diminuir a parte variável do capital. Aumentar a parte constante do capital. Lei Geral da Acumulação Capitalista • Superpopulação relativa de trabalhadores – “[...] aumentando e acelerando os efeitos da acumulação, a centralização amplia e acelera ao mesmo tempo as transformações na composição técnica do capital, as quais aumentam a parte constante à custa da parte variável, reduzindo assim a procura relativa de trabalho”. (MARX, 2002, p. 731) • Produção de riqueza versus aumento de trabalhadores supérfluos (produção de miséria). • Produção da população excedente – condição vital do modo de produção especificamente capitalista. SERVIÇO SOCIAL • Serviço Social (profissão) – mecanismo institucional utilizado pelo Estado para responder às refrações da “questão social”, por meio das políticas sociais. • O Serviço Social profissional não se resume a “questão social”, mas com suas peculiaridades no âmbito da sociedade burguesa. (NETTO, 1992) Serviço Social • Em cada época do desenvolvimento capitalista, a “questão social” apresenta refrações em consonância com as determinações próprias da exploração da força de trabalho e de acordo com o modelo de produção. • Otávio Ianni (2000, p. 35) – “[...] o mesmo processo de amplas proporções que expressa a globalização do capitalismo expressa também a globalização da questão social.” Serviço Social e mudanças no mundo do trabalho: novos desafios. • Mudanças societárias exigem do Serviço Social: novas demandas para a profissão; reconfiguração da intervenção profissional; novos espaços de intervenção e legitimação; novas atribuições. Mundo do Trabalho e Políticas Sociais • Precarização das relações e condições de trabalho. • Perda dos padrões de proteção social dos trabalhadores e dos “segmentos sociais vulneráveis”. • As expressões da “questão social” tornaram-se alvo de ações solidárias e da filantropia. • Emergência da filantropia e do terceiro setor nos anos 1990 e 2000. Mundo do Trabalho e Políticas Sociais • Despolitização da questão social alternativas privatistas para enfrentar a questão social. • Subalternidade e produção da desigualdade em todos os setores da vida social (econômica, política, cultural, social, gênero, etnia, classe). (YAZBEK, 2001). Serviço Social e Mundo do Trabalho: desafios para intervenção profissional Desafios para as políticas sociais Preservar a vinculação entre os direitos conquistados e a efetivação das políticas sociais. Evitar a refilantropização, como desresponsabilização do Estado pelas ações em virtude de transferi-las para a sociedade civil. Evitar a focalização das políticas setoriais com atenção apenas às camadas mais pauperizadas. Consolidação e criação de espaços de participação e deliberação destinados a zelar pelos direitos conquistados.