MARIA LUZIA DA SILVA SANTANA A RELAÇÃO ENTRE SINTOMAS DEPRESSIVOS E HABILIDADESSOCIAIS EM ADOLESCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Psicologia. Orientadora: Drª. Erenice Natália Soares de Carvalho. Coorientadora: Drª. Cláudia Cristina Fukuda. Brasília 2014 S232r Santana, Maria Luzia da Silva. A relação entre sintomas depressivos e habilidades sociais em adolescentes do ensino fundamental. / Maria Luzia da Silva Santana – 2014. 80 f.; il.: 30 cm Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2014. Orientação: Profa. Dra. Erenice Natália Soares de Carvalho Coorientação: Profa. Dra. Cláudia Cristina Fukuda 1. Psicologia. 2. Depressão na adolescência. 3. Conscientização social. 4. Interação social em adolescentes. I. Carvalho, Erenice Natália Soares de, orient. II. Fukuda, Cláudia Cristina, coorient. III. Título. CDU 159.922.8 Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos aqueles que diretamente ou indiretamente contribuíram para a finalização dessa etapa da minha vida. A nossa gratidão aos adolescentes, professores, diretor e demais funcionários da escola. Agradeço as professoras Erenice e Cláudia que apostaram em mim e contribuíram efetivamente no processo de construção deste trabalho. E aos meus familiares pelo apoio durante esse processo de formação. Obrigada por existirem! RESUMO SANTANA, Maria Luzia da Silva. A Relação entre Sintomas Depressivos e Habilidades Sociais em Adolescentes do Ensino Fundamental. 2014, 80 f. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2014. Essa pesquisa teve como objetivo geral descrever a relação entre sintomas depressivos e o repertório de habilidades sociais em adolescentes, relacionando os níveis de depressão à frequência e dificuldades de habilidades sociais. Como objetivos específicos, identificar os níveis de depressão apresentados pelos participantes, caracterizar o repertório de habilidades sociais dos adolescentes e contribuir com a construção de conhecimento sobre a depressão na adolescência na perspectiva das interações sociais. Participaram 153 adolescentes com idades entre 12 e 17 anos de uma escola pública localizada em Planaltina, no Distrito Federal. Foram aplicados três instrumentos: o questionário sociodemográfico, que contém sete questões que possibilitam caracterizar os participantes nos aspectos sociais e escolares; o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II), que detecta sintomas depressivos conforme os critérios sintomáticos de Episódio Depressivo Maior; e o Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes Del Prette (IHSA- Del Prette) que caracteriza as interações sociais de adolescente entre 12 e 17 anos nos vários contextos e com diferentes interlocutores conforme a frequência e dificuldade na emissão de comportamento de interações sociais. Esses instrumentos foram aplicados coletivamente em uma sala reservada para essa finalidade. Na análise preliminar dos dados, verificou-se a existência de outliers e de dados perdidos (missings). A normalidade dos dados dos participantes foi verificada por meio dos testes Kolmogorov-Smirnov e do teste Shapiro-Wilk. Também, analisaram-se a consistência interna do BDI-II e do IHSA- Del Prette mediante o teste Alpha de Cronbach. Os escores brutos apresentados pelos participantes no IHSA-Del Prette foram convertidos em posição percentílica e caracterizados quanto à frequência e à dificuldade de habilidades sociais. Os níveis de sintomatologia depressiva foram aferidos por meio da soma dos pontos de cada item do BDI-II e foram posicionados nos níveis: mínimo, leve, moderado e grave de depressão. Na análise de correlação, empregou-se o teste de Coeficiente de Correlação de Pearson; na verificação das diferenças entre níveis de sintomas depressivos por sexo, usou-se o Teste t. Quatro participantes apresentaram nível moderado de sintomas depressivos e cinco adolescentes, nível grave. Desses, sete foram do sexo feminino. Encontrou-se diferenças entre os níveis de sintomas depressivos apresentados pelo sexo feminino e masculino, sendo que as adolescentes apresentaram índices de sintomatologia depressiva mais elevada que os adolescentes. Não houve diferenças significativas entre as médias nos escores de frequência e de dificuldade de habilidades sociais entre os sexos. Encontrou-se uma correlação inversa entre depressão e frequência de habilidades sociais e uma correlação positiva entre depressão e dificuldade de habilidades sociais, o que sugere uma relação entre sintomas depressivos e repertório de habilidades sociais em adolescentes. Palavras-chave: Sintomas Depressivos. Habilidades Sociais. Adolescentes. ABSTRACT The aim of this research is to describe the relation between depressive symptoms and social skills in teenagers, relating the depression levels to the frequency and difficulties in social skills. The main goals in this work were to identify the participants depression level, characterize the teenagers´ social skills and to contribute to the building knowledge about depression in teenagers from the social interactions perspective.153 teenagers between 12 and 17 years old from a public school located in Planaltina, Distrito Federal took part of this research. Three instruments has been applied in the work: the demographic questionnaire with seven questions that enable to characterize the social and educational aspects of the participants; the Beck Depression Inventory ( BDI - II ) , which detects depressive symptoms as symptomatic criteria for Major Depressive Episode; and Social Skills Inventory for Teenagers Del Prette (IHSA - Del Prette) featuring social interactions in teenagers between 12 and 17 years old in various contexts and with different interlocutors as frequency and difficulty in issuing behavior in social interactions. These instruments have been applied in a reserved room prepared for this purpose. In preliminary analysis of the data, we verified the existence of outliers and missing data. The participants data normality has been verified by the Kolmogorov - Smirnov and the Shapiro - Wilk tests. We also analyzed the internal consistency of the BDI - II and IHSA - Del Prette by the Cronbach's Alpha test. The participants scores in IHSA - Del Prette were converted to percentile and characterized as the frequency and difficulty of social skills position.The depressive symptoms levels have been measured by the sum of points for each item of the BDI - II and they have been placed in differents depression levels : minimal, mild, moderate and severe. In the correlation analysis, we used the coefficient of Pearson's correlation test; for the verification of diferences in depressive symptoms levels by gender, we used the t test. Four participants had a moderate level of depressive symptoms and five teenagers had serious level. Among them seven were females. Differences in the depressive symptoms levels have been reported by males and females, and the females teenagers had higher rates of depressive symptoms than the males ones. There were no significant differences in the frequency and difficulty in social skills mean scores between the genders. We found an inverse correlation between depression and social skills frequency and a positive correlation between depression and social skills difficulty, suggesting a relation between depressive symptoms and social skills in teenagers. Keywords : Depressive Symptoms . Social Skills. Teenagers. LISTA DE TABELAS Tabela 1- Frequência de idades por sexo ............................................... 35 Tabela 2- Renda familiar dos participantes ............................................. 35 Tabela 3- Consistência interna das subescalas do IHSA-Del Prette aferida por meio dos dados da pesquisa....................................... 43 Tabela 4- Frequência de habilidades sociais por idade ........................... 45 Tabela 5- Frequência de habilidades sociais por sexo............................. 45 Tabela 6- Dificuldade de habilidades sociais por idade ........................... 46 Tabela 7- Dificuldade na emissão de habilidades sociais por sexo........ 47 Tabela 8- Níveis de sintomas depressivos por idade .............................. 49 Tabela 9- Níveis de sintomas depressivos por sexo .............................. 50 Tabela 10- Relação entre sintomas depressivos e frequência de habilidades sociais .................................................................. 56 Tabela 11- Relação entre sintomas depressivos e dificuldades de habilidades sociais................................................................... 56 SUMÁRIO INTRODUÇÃO …………………………………………………………..........…. 10 1. REFERENCIAL TEÓRICO ……….............................................................. 13 1.1 ADOLESCÊNCIA ..................................................................................... 13 1.1.1 A depressão na adolescência ............................................................ 14 1.1.1.1 Pesquisas brasileiras sobre depressão em adolescentes ................. 18 1.2 AS HABILIDADES SOCIAIS ................................................................... 25 1.2.1 Habilidades sociais: conceitos e caracterizações............................ 27 1.2.2 Habilidades sociais e depressão em adolescentes ......................... 29 2. OBJETIVOS …………………………………………………………….…........ 33 2.1 OBJETIVO GERAL …………………………………………………….…...... 33 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ……………………………………………....... 33 3. RECURSOS METODOLÓGICOS ……....................................................... 34 3.1 QUESTÕES ETICAS ................................................................................ 34 3.2 PARTICIPANTES ..................................................................................... 34 3.3 INSTRUMENTOS ..................................................................................... 36 3.3.1 Questionário Sociodemográfico ........................................................ 36 3.3.2 Inventário de Depressão Beck– BDI-II .............................................. 36 3.3.3 Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes- Del Prette 37 (IHSA- Del Prette).......................................................................................... 3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DOS DADOS ................................ 39 3.5 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS ............................... 40 4. RESULTADOSE DISCUSSÃO ................................................................. 42 4.1 EXPLORAÇÃO INICIAL DOS DADOS .................................................... 42 4.2 AS HABILIDADES SOCIAS NOS ADOLESCENETS............................... 43 4.3 OS SINTOMAS DEPRESSIVOS NOS ADOLESECNTES ....................... 49 4.4 A RELAÇÃO ENTRE SINTOMAS DEPRESSIVOS E HABILIDADES SOCIAIS......................................................................................................... 53 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 59 REFERÊNCIAS ………………………………………………………………....... 62 APÊNDICES ................................................................................................... 71 APÊNDICE A- Questionário Sociodemográfico ............................................. 72 APÊNDICE B- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o 73 responsável ................................................................................................... APÊNDICE C-Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o 75 adolescente .................................................................................................... APÊNDICE D- Carta Convite ......................................................................... 77 ANEXO ........................................................................................................... 78 ANEXO A- Folha de Aprovação do Comitê de Ética ...................................... 79 10 INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde - OMS (2013) indica que cerca de 20% dos jovens apresentam algum tipo de transtorno mental, como transtornos de humor, abuso de substâncias, comportamento suicida e transtornos alimentares. Em uma revisão de literatura sobre epidemiologia dos transtornos depressivos em crianças, Bhals (2002) apontou a prevalência de 0,4 a 3,0% de depressão em crianças e de 3,3 a 12,4% em adolescentes. Esses índices demonstram que, tendo como referência a infância, houve um aumento significativo de depressão na adolescência (BHALS, 2002; OMS, 2000). Conforme Bhals (2002, p.360), ―[...] a depressão maior na infância e na adolescência apresenta natureza duradoura e pervasiva, afeta múltiplas funções e causa significativos danos psicossociais‖. Bhals e Bhals (2002) salientam a relevância de pesquisa na temática da depressão na adolescência, uma vez que se observam índices crescentes e elevados do transtorno nessa população específica, em muitos casos levando ao suicídio. Conforme Baptista e Assunção Jr. (1999), o problema da incidência da depressão entre os jovens brasileiros deveria ser melhor analisado pelas políticas públicas, visando obter informações mais criteriosas sobre a quantidade de crianças e adolescentes que convivem com sintomas de depressão e, por meio desses dados, desenvolver programas de tratamento, assim como medidas preventivas para casos dessa natureza, que parecem ser mais rotineiros do que se pensa. Conforme aponta Bhals (2004), o tratamento da depressão é mais eficaz no começo da patologia. Portanto, é relevante que os casos sejam precocemente identificados e tratados. Nesse sentido, é importante que profissionais e demais pessoas que convivam com adolescentes tenham informações a respeito da manifestação da depressão e dos fatores associados nessa população. Essa medida pode favorecer uma identificação precoce nessa fase do desenvolvimento e evidenciar a importância de pesquisas com foco nessa temática. Estudos sugerem que a depressão está associada ao déficit de habilidades sociais em adolescentes (CAMPOS, 2009; GRESHAM; COOK; 11 CREWS, 2004; HOROWITZ, 2007; ROCKHILL et al., 2009; YOUNG; MUFSON; GALLOP, 2010). Adolescentes deprimidos se beneficiam do treino de habilidades sociais. Eles podem ser instruídos a observar seus pares e a imitar situações nas quais eles se sentem desconfortáveis ou inseguros devido às normas sociais esperadas (FRIDIBERG; McCLURE, 2004). No Brasil, são escassas as pesquisas que discutem a relação entre sintomas depressivos e habilidades sociais, o que indica a importância de investigações científicas que abordem a questão (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Tal constatação justifica a realização do presente trabalho, cujo propósito é contribuir para esse debate de interesse para as áreas de saúde, educação e desenvolvimento humano. Assim, o estudo é relevante por contribuir para o preenchimento das lacunas de pesquisas no Brasil que discutam a relação entre habilidades sociais e depressão na adolescência, apesar de constituir um tema abordado em outros países, como se verifica na revisão compreensiva de literatura (CAMPOS, 2009, 2010; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009, 2010; GALLOP, 2010; GOLDSTEIN; MIKLOWITZ; MULLEN, 2006; GRESHAM; COOK; CREWS, 2004; GUNLICKS-STOESSEL et al., 2010; COOK; CREWS, 2004; HOROWITZ et al., 2007; SEGRIN, 2000; ROCKHILL el al., 2009; WITVLIET et al., 2010; YOUNG; MUFSON; GUNLICKS-STOESSEL, 2010). Estudos com esse foco possibilitam ampliar as discussões e melhores condições de prevenção, controle, diagnóstico, acompanhamento e medidas psicoeducativas direcionadas à adolescência. Destaca-se a importância de investigações que abordam fenômenos associados (como as habilidades sociais) como medidas preventivas e de superação de sintomas e indicadores de depressão. A temática em estudo foi discutida na introdução, nos quatro capítulos e nas considerações finais. Na introdução, foram realizadas considerações que justificam a escolha do tema: relação entre sintomas depressivos e habilidades sociais de adolescentes. No primeiro capítulo, foram discutidas as questões teóricas sobre a adolescência e sobre a depressão nessa fase de desenvolvimento. Além disso, foram apresentados os principais estudos 12 desenvolvidos no país e os instrumentos usados para rastrear sintomas indicativos de sintomas depressivos nessa população. No segundo capítulo, foram apresentados o objetivo geral e os objetivos específicos da pesquisa. E, no terceiro capítulo, foram descritos os recursos metodológicos, incluindo a caracterização dos participantes, dos instrumentos utilizados, os procedimentos para coleta e para análise dos dados. Os resultados e a discussão fazem parte do quarto capítulo, com análises estatísticas das habilidades sociais e sintomas depressivos apresentados pelos adolescentes e, por último, foram realizadas algumas considerações finais desse estudo. 13 1 REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 A ADOLESCÊNCIA O vocábulo ‖adolescência‖ é de origem latina adolesço - que significa ―crescer‖ (COLE; COLE, 2003). Trata-se de um período compreendido entre a infância e a fase adulta, marcado por um complexo processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial (BRASIL, 2005). A Organização Mundial da Saúde delimita a adolescência entre 10 e 19 anos de idade, referência também adotada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1996, 2005). O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (BRASIL, 1990) situa a adolescência entre 12 e 18 anos de idade. Caracterizar o período da adolescência unicamente como faixa etária representa uma forma muito simplificada de observá-la. Ela abrange a transformação do jovem até a idade adulta (CAVALCANTE; ALVES; BARROSO, 2008). Além do aspecto cronológico, também critérios biológicos, psicológicos e sociais devem ser considerados na abordagem conceitual da adolescência (BRASIL, 2005). Admite-se, em geral, que essa fase do desenvolvimento humano tem início a partir das mudanças físicas que ocorrem durante a puberdade. Apesar de a puberdade e a adolescência se relacionarem, elas correspondem a dois fenômenos específicos (PRATTA; SANTOS, 2007). Conforme Cole e Cole (2003), o desenvolvimento biológico conhecido como puberdade transforma o jovem de um estado de imaturidade física para um estado de capacidade e maturidade biológica. Ainda salientam que, nas sociedades, as transformações biológicas associadas à puberdade têm um expressivo significado sociocultural, assim como também psicológico. As consequências psicológicas e sociais desse período variam conforme as especificidades culturais e pessoais. De acordo com Schoen-Ferreira, Aznar-Farias e Silvares (2010), na puberdade acontecem transformações orgânicas que levam à maturação biológica adulta, com dimorfismo sexual e capacidade reprodutiva. Considerase a puberdade a partir de um parâmetro universal que ocorre de forma semelhante em todas as pessoas nessa faixa etária. Já a adolescência, como um fenômeno particular, é marcada pelas influências socioculturais que vão se 14 consolidando por meio de mudanças de caráter social, sexual e de gênero, ideológico e vocacional (BRASIL, 2005). Cada pessoa vivencia esse período de modo diferente, a depender de sua maturidade física, emocional e cognitiva, assim como de outras contingências (UNICEF, 2011). A Organização Mundial da Saúde considera a adolescência como um período de rápido desenvolvimento no qual os jovens adquirem novas habilidades e que representa uma fase fundamental para o desenvolvimento de práticas sociais e educativas saudáveis. A adolescência tende a ser um tempo de oportunidades, idealismo e esperança. Durante esse período, os adolescentes entram no mundo do trabalho ou avançam em sua educação (UNICEF, 2011). Essa fase é caracterizada pelo desenvolvimento do autoconceito, autoestima e de conceitos mais elaborados, pelo aumento das responsabilidades sociais, familiares, aprendizado de normas, conceitos sociais e morais (BAPTISTA; BAPTISTA; DIAS, 2001). Por ser um período de grandes mudanças, pode acontecer inquietação, dúvidas e transformações no comportamento (BAPTISTA, 1999). Papalia, Oldes e Feldman (2000) pontuam que, geralmente, os adolescentes passam pela adolescência sem problemas físicos ou emocionais, conquanto considerem a possibilidade de apresentarem problemas psicossociais, a exemplo da depressão. Sobre esse aspecto, Sukiennik et al. (2000), sugerem que a adolescência é o período de maior vulnerabilidade para o aparecimento de sintomas depressivos, tema que será desdobrado na seção seguinte. 1.1.1 A depressão na adolescência Na década de 70, eram poucos os estudos sobre sintomas depressivos em adolescentes, pois se acreditava que a depressão nessa faixa etária fosse rara ou inexistente, o que torna esse tema relativamente recente (BHALS, 2004). Caracterizada pelo sentimento de tristeza, o termo depressão é usado de maneira abrangente e, em ocasiões distintas, a depressão pode significar desânimo. Pode ser um sintoma ou um quadro psicopatológico (BHALS, 2000; LIMA, 2004). 15 O sentimento de tristeza, afeto depressivo e cognição depressiva podem fazer parte da experiência de muitas pessoas, sem constituir, necessariamente, um transtorno mental (ABRAMOVITCH; MOREIRA, 2008). Para Bhals (2000), a depressão, como transtorno do humor, não é sinônimo de tristeza ou infelicidade, mesmo que a infelicidade seja um componente comum do humor depressivo. Segundo Baptista (1999), não se observa um fator específico único e predeterminante para o desencadeamento, desenvolvimento e manutenção da depressão. Portanto, é relevante considerar uma visão multifatorial para a compreensão desse construto, incluindo-se fatores genéticos, psicológicos e sociais no seu desenvolvimento. A manifestação depressiva é multivariada. Está relacionada com as variáveis dos contextos de desenvolvimento do adolescente, a maneira como ele percebe o mundo, as crenças a respeito de si mesmo e com os fatores genéticos. Desse modo, a depressão agrega uma combinação de vários sintomas (LIMA, 2004) e manifesta-se de muitas formas (FRIESERBERG; MCCLURE, 2004). Pode ocorrer nesse transtorno o aparecimento de sintomas inespecíficos de grande espectro (FONSECA; FERREIRA; FONSECA, 2005), bem como manifestações heterogêneas (BHALS, 2002). No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-IV-TR (APA, 2000), a Associação Psiquiátrica Americana indica características similares para os Transtornos Afetivos Depressivos em adolescentes e adultos. Segundo o manual, as pessoas com Transtorno Depressivo podem experimentar, consistentemente, sintomas como: humor deprimido; perda de interesse ou prazer, em um período mínimo de duas semanas sem ter prazer em quase todas as tarefas desenvolvidas; diminuição do interesse ou prazer; perda ou ganho significativo de peso; distúrbios do sono; agitação ou retardo; fadiga ou perda de energia; sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada; capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se; indecisão; pensamentos de morte recorrentes; ideação suicida recorrente sem que haja um plano específico para cometer suicídio. O quadro de depressão tem como elemento principal o humor triste, podendo também ser caracterizado por múltiplos sintomas afetivos, instintivos, 16 neurovegetativos, ideativos e cognitivos relacionados à autovalorização, à volição e à psicomotricidade, além de sintomas psicóticos e fenômenos biológicos associados (CRIVELATTI; DURMAN; HOFSTATTER, 2006; MONTEIRO et al., 2007). Além do mais, nos adolescentes, os sintomas depressivos podem manifestar-se mediante a perda de interesse nas tarefas antes consideradas atrativas, uma espécie de mau-humor constante diante de atividades como esportes, jogos e brincadeiras (WALTHIER; DELL’AGILIO, 2007). Os principais sintomas depressivos nos adolescentes são: irritabilidade e instabilidade; humor deprimido; perda de energia; desmotivação e desinteresse; retardo psicomotor; sentimentos de desesperança e/ou culpa; alteração do sono; isolamento; dificuldade de concentração; prejuízo no desempenho escolar; baixa autoestima, ideação e comportamento suicida (BAHLS, 2002). Há possibilidades de a depressão na adolescência ocorrer de forma mascarada. Assim, ela pode ser subdiagnosticada com a presença de sintomas inespecíficos, como, por exemplo, preocupação com dores, disforia, agressividade, dores abdominais, cefaleia e baixa autoestima (FONSECA; FERREIRA; FONSECA, 2005). Há diferenças na manifestação da depressão entre os adolescentes do sexo feminino e do sexo masculino. De acordo com Bahls e Bahls (2002), as meninas relatam mais sintomas subjetivos como sentimentos de tristeza, vazio, tédio e ansiedade. Nesse sentido, elas têm mais preocupação com popularidade, menos satisfação com a aparência, mais conscienciosidade, menos autoestima. Enquanto os adolescentes relatam mais sentimentos de desprezo, desafio e desdém e demonstram problemas de conduta. Khalil et al. (2010), em uma pesquisa com 602 adolescentes do sexo feminino, estimaram a prevalência de depressão em 15,3%, conforme medida pelo Children’s Depression Inventory- CDI e 13,3%, com base em entrevista clínica estruturada. No estudo, foi observado que a fadiga e a falta de energia foram os sintomas mais comuns entre as adolescentes deprimidas. Os autores sugeriram que a cultura influencia a maneira como as adolescentes experimentam e expressam os sintomas depressivos. 17 De acordo com Bohman et al. (2010), as adolescentes com sintomas depressivos recorrem a consultas ambulatoriais devido a problemas somáticos e os adolescentes demandam mais assistência ambulatorial devido ao abuso de drogas. Para Marcelli e Braconnier (2007), as adolescentes podem apresentar mal-estar devido às preocupações com a imagem do corpo, peso e dores difusas. Segundo esses pesquisadores, os adolescentes revelam sua depressão de uma forma comportamental, agressiva, descarregando sua tensão e sofrimento com a imagem negativa de si mesmos, muitas vezes dissimulada por uma aparente insolência ou reação violenta. Outros estudos demonstram que os sintomas depressivos podem variar com a idade. Adolescentes com a sintomatologia depressiva apresentam características diagnósticas parecidas, semelhantes ou próximas aos de adultos (BAHLS, 2002; FONSECA; FERREIRA; FONSECA, 2005; LIMA 2004). No adolescente, a irritação do humor pode acontecer ao invés da tristeza (BAHLS, 2002). A fase da adolescência apresenta dificuldade específica para o diagnóstico de depressão (KHALIL et al., 2010; SALOMA et al., 2009), uma vez que constitui um período de vida com muitas mudanças biopsicossociais e suas peculiaridades dificultam a identificação da depressão nos adolescentes. Nessa direção, Garber (2006) salienta que, por ser uma etapa marcada por mudança e transição, com a reorganização biopsíquica que afeta os aspectos físicos, sexuais, cognitivos, sociais e emocionais, a adolescência torna o quadro clínico da depressão complexo. Para o pesquisador, a depressão tem uma estrutura complexa e multifatorial causal. Dentre os fatores que podem contribuir para o aparecimento da depressão na adolescência, estão: conflito familiar; situação socioeconômica; conflitos relacionados à sexualidade; solidão; perdas; histórico de vida; falta de suporte familiar e social e reconhecimento da ausência desse suporte; número acumulado de mudanças no decorrer da vida; desemprego dos pais; mudanças na estrutura familiar; dificuldades psicossociais crônicas; uso de medicamentos; abuso de substâncias; e estresse (CRIVELATTI; DURMAN; HOFSTATTER, 2006). 18 Do ponto de vista de Pauneskua et al. (2008), o contexto familiar está implicado no risco e na proteção da depressão, sendo que as relações familiares, inclusive a proximidade com os membros da família, são importantes para prever o curso de episódios depressivos. Assim, as famílias não podem ser ignoradas no tratamento da depressão. Convém observar que outras variáveis podem constituir fatores de risco para a depressão. Nesse sentido, Boutelle et al. (2012) associou o excesso de peso com o desenvolvimento da depressão em 496 adolescentes do sexo feminino. Os resultados do estudo sugeriram que a obesidade está associada e constitui um fator de risco para sintomas depressivos. Por outro lado, fatores relacionados à insatisfação corporal, menor apoio social e outros, de natureza comportamental, podem colaborar para o desenvolvimento da depressão. Ainda no sentido de pesquisar variáveis associadas à depressão, o estudo de Luiz, Gorayeb e Liberatore Júnior (2010) avaliou a ocorrência desse transtorno com problemas comportamentais e competência social em 90 crianças e adolescentes. Os participantes do estudo tinham idades entre 7 e 13 anos, sendo 60 obesos e 30 não obesos (grupo controle). Os dados coletados mediante o Children’s Depression Inventory- (CDI) e o Inventário de Comportamentos da Infância e Adolescência (CBCL) indicaram que 43,3% das crianças obesas apresentaram índice elevado de sintomatologia depressiva. Como abordado, os estudos sobre depressão trazem indícios de que esse fenômeno na adolescência está associado a diversas variáveis, entre elas, obesidade, contexto familiar e competência social. Pesquisas desenvolvidas no Brasil que ampliam a discussão serão apresentadas na próxima seção, focalizando principalmente os instrumentos utilizados nas investigações. 1.1.1.1 Pesquisas brasileiras sobre depressão em adolescentes Pesquisadores brasileiros têm utilizado o Self Reporting Questionnaire (SRQ-20), a Escala de Hamilton, o Beck Depression Inventory (BDI) e o Children’s Depression Inventory (CDI) para rastrear os sintomas depressivos na adolescência. O CDI tem sido o instrumento mais usado para aferir sintomas depressivos em crianças e adolescentes (COUTINHO; CAROLINO; 19 MEDEIROS, 2008; CRUVINEL; BORUCHOVITCH; SANTOS, 2008; GOLFETO et al., 2002; JATOBÁ; BASTOS, 2007; ROCHA et al., 2006; SANTOS, 2009; WATHIER; DELL’AGLIO; BANDEIRA, 2008). Os estudos de validação do CDI no Brasil apontam que essa escala possui condições de realizar o reconhecimento e a triagem de sintomas depressivos (COUTINHO; CAROLINO; MEDEIROS, 2008; CRUVINEL; BORUCHOVITCH; SANTOS, 2008; GOLFETO et al., 2002; WATHIER; DELL’AGLIO; BANDEIRA, 2008). Foi realizada uma pesquisa para comparação de duas versões do CDI por Cruvinel, Boruchovitch e Santos (2008), sendo uma delas adaptada no Brasil por Gouveia et al. (1995) e a outra, original de Kovocs (1992). O resultado sugeriu que a versão original possui um índice mais alto de consistência interna, quando comparada à versão reduzida brasileira. Ainda nesse sentido, Fernandes e Castro (2011) usaram o CDI para avaliar a incidência de sintomas depressivos em 40 crianças de escola pública e 40 de escola privada com idades entre 7 e 11 anos em São Paulo. Os pesquisadores sugeriram que fatores educacionais relacionados diretamente a aspectos socioculturais interferiram nos resultados do estudo e na aplicação literal do CDI, apontando a necessidade de um aperfeiçoamento do instrumento em seus procedimentos de aplicação. Além disso, há pesquisas em andamento com o intuito de desenvolver e validar instrumentos brasileiros, a exemplo, os estudos de Pereira e Amaral (2007) da Escala de Avaliação da Depressão para Crianças e a pesquisa de Leite (2011) sobre a Escala de Depressão Infanto-Juvenil (EDEP-IJ) do grupo de avaliação psicológica da Universidade de São Francisco. Esses estudos, de caráter psicométrico, têm ampliado o debate sobre a avaliação da depressão na adolescência no contexto brasileiro. Observa-se que, nos últimos anos, há um número considerável de pesquisas que rastreia a depressão em adolescentes não diagnosticados. Jatobá e Bastos (2007) realizaram uma pesquisa de prevalência, de base populacional, utilizando uma amostragem aleatória e estratificada, incluindo 243 alunos do ensino fundamental e médio de 11 escolas, com idade entre 14 e 16 anos. Os resultados indicaram níveis de depressão e de ansiedade 20 aferidas pelas escalas de Hamilton, apontando a prevalência de sintomas depressivos expressivos de 59,9% e de ansiedade de 19,9%. Além do mais, a ideação suicida/tentativa de suicídio foi mencionada por 34,3% dos adolescentes, com uma associação significativa de ideação suicida com grau leve ou moderado de sintomas depressivos e moderado de ansiedade. Também Silva (2011) investigou as duas variáveis entre 25 jovens com idade de 16 a 20 anos, submetidos a medidas socioeducativas na cidade de Planaltina-DF, tendo utilizado o Inventario de Ansiedade de Beck - BAI e o Inventário de Depressão de Beck- BDI. Os resultados revelaram níveis elevados de ansiedade e depressão, quando comparados com a média dos adolescentes no Brasil. Os resultados do estudo de Silva (2011) apontam variação nos valores do BDI com valor mínimo de 5 pontos e máximo de 36, sendo contabilizados níveis ―mínimos‖ de depressão em quatro participantes, ―leves‖ em doze participantes e grave em um participante do estudo. Os valores do BAI variaram entre os participantes com valor mínimo de 4 pontos e máximo de 49, sendo contabilizados níveis ―mínimos‖ de ansiedade em dois participantes, ―leves‖ em nove participantes, ―moderado‖ em nove e grave em cinco participantes do estudo. Abaid (2008) realizou um estudo longitudinal envolvendo 127 participantes crianças e adolescentes entre 7 e 16 anos que viviam em abrigos de proteção na região metropolitana de Porto Alegre. Essa pesquisa investigou eventos de vida considerados estressantes, variáveis psicossociais e preditores de sintomas depressivos, tendo utilizado o Inventario de Eventos Estressores na Infância e Adolescência (IEEIA) e o CDI. Os resultados não evidenciaram diferenças significativas no escore do CDI na frequência e no impacto de eventos estressores. No referido estudo, mais de 31,5% dos participantes apresentaram escores de sintomas depressivos clinicamente significativos, sendo que nas meninas entre 7 e 12 anos escores clinicamente significativo ocorreram em mais de 45% delas. Os eventos caracterizados como preditores de depressão indicaram problemas com professores e entre pares, e a ocorrência de afastamento social, além de afastamento em relação a um dos pais. 21 Wathier e Dell’Aglio (2007), usando o Inventario de Eventos Estressores na Infância e Adolescência (IEEIA) e o CDI, verificaram a manifestação de sintomas depressivos e a frequência e o impacto de eventos estressores em crianças e adolescentes institucionalizados e não institucionalizados. Os participantes do estudo foram 257 crianças e adolescentes entre 7 a 16 anos, de ambos os sexos, 130 moradores de abrigos de proteção e 127 residentes com familiares na região metropolitana de Porto Alegre. Os resultados da pesquisa mostraram médias mais altas no grupo institucionalizado, com 17,21% do total da amostra para um provável diagnóstico de depressão. Foram encontradas diferenças entre os sexos e entre os contextos, no impacto atribuído aos eventos estressores. Outros estudos, como as investigações de Santos (2009) e de Teodoro, Cardoso e Freitas (2010) sugerem uma possível associação entre suporte familiar e sintomas depressivos na adolescência. Santos (2009) usou a Ficha de Dados Sociodemográficos, o Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II) e o Inventário de Percepção de Suporte familiar (IPSF) para investigar a prevalência de indicadores de depressão em 175 adolescentes com idade entre 15 e 19 anos em Belo Horizonte e a relação com o nível de apoio e suporte familiar percebido por eles. Os resultados do estudo apontaram 21,8% da amostra com escore indicativo de depressão, no BDI-II, sendo 18,9% de depressão moderada e 2,9% de depressão grave. Apesar da correlação entre os escores do IPSF e do BDI-II ter sido fraca, a maioria dos adolescentes que apresentou escore equivalente à depressão grave ou moderada tinha uma percepção de baixo suporte familiar. Nesse sentido, Teodoro, Cardoso e Freitas (2010) investigaram as propriedades psicométricas do Familiograma, associando os resultados de afetividade e conflito familiar com a intensidade da sintomatologia depressiva em 234 crianças e adolescentes, com idades entre 8 a 14 anos, com o uso do Familiograma e o Inventário de Depressão Infantil. Segundo o estudo, a depressão correlacionou-se negativamente com a afetividade e positivamente com o conflito, existindo associação entre relações familiares pouco afetivas e conflituosas com a intensidade dos sintomas depressivos. 22 O estudo transversal de Avanci, Assis e Oliveira (2008), com 1.923 alunos das 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e 1º e 2º anos do Ensino Médio de escolas públicas e privadas de um município do Rio de Janeiro, aferiu a sintomatologia depressiva por meio de itens da SRQ-20 e da escala de resiliência. Os dados demonstraram que 10% dos adolescentes apresentavam sintomatologia depressiva. No estudo, os fatores familiares que estiveram associados à depressão nos participantes foram: estrutura familiar menos preservada, formada por padrasto/madrasta ou sem figuras parentais; relacionamento regular/ruim entre familiares próximos; ausência ou pouca orientação familiar; pouco apoio emocional e baixa interação positiva. Além disso, a ocorrência de eventos estressantes no contexto familiar esteve relacionada à demonstração de sintomas depressivos. Dentre eles, problemas financeiros, de saúde, com o uso de álcool e drogas, relação conjugal dos pais, prisão/indiciamento de um familiar, severa violência física cometida pelo pai e pela mãe contra o adolescente, violência no contexto familiar. A pesquisa de cunho quantitativo e qualitativo, realizada por Ribeiro et al. (2007), com o objetivo de apreender as representações sociais da depressão elaboradas por crianças de uma escola da rede pública de ensino da cidade de João Pessoa - PB, sugeriu uma provável associação entre a relação familiar e depressão em adolescentes. Essa pesquisa, com amostra não probabilística, intencional e acidental, incluiu 370 crianças e adolescentes entre 7 e 12 anos. Para selecionar os participantes da segunda etapa desse estudo, utilizou-se o Children’s Depression Inventory- CDI. Os resultados indicaram que 22 participantes, ou seja, 5,95% da amostra apresentou sintomatologia depressiva. Nessa etapa, adotou-se o desenho-estória como instrumento e os achados demonstraram a pessoa depressiva como isolada, sem amigos e com medo de ser rejeitada. Essas representações sociais, ancoradas na esfera psicossocial, sugeriram que os participantes com indicativo de depressão podem ter comprometimento nos laços afetivos e sociais com seus pares e familiares. Por outro lado, a pesquisa de Monteiro, Coutinho e Araújo (2007), com abordagem de multimétodos e triangulação dos resultados, objetivou apreender 23 as representações sociais (RS) da depressão de adolescentes com e sem sintomatologia depressiva. Os participantes do estudo foram 210 adolescentes com idade entre 14 e 18 anos. As representações sociais da depressão apresentadas pelos participantes evidenciaram o quanto esta pode intervir de forma significativa na vida diária, nas relações sociais e no bem-estar geral do adolescente. Os dados da pesquisa indicaram que as representações sociais dos estudantes sem sintomatologia basearam a depressão na morte e na dor, ao passo que os adolescentes com sintomatologia depressiva basearam-se na solidão e na droga. Monteiro, Coutinho e Araújo (2007) alegam que as manifestações camufladas do sofrimento são apresentadas em forma de inquietação, rebeldia, preocupações somáticas e hipocondríacas, fugas, baixa autoestima, sentimentos de inferioridade sobre si mesmos, condutas antissociais e impulsividade. Ademais, o estudo de Souza et al. (2008), verificou a prevalência da sintomatologia depressiva e identificou fatores associados em 1.145 adolescentes de 11 a 15 anos, da cidade de Pelotas. Encontrou-se uma prevalência de depressão de 2,1% associada à baixa condição socioeconômica, histórico de fracasso acadêmico, ausência de prática religiosa, abuso de álcool nos últimos 30 dias e indicativo de transtorno de conduta. De maneira aproximada, o estudo transversal de Zinn-Souza et al. (2008), com 724 estudantes, com idades entre 14 e 18 anos do Município de São Paulo, apresentou uma prevalência de sintomas depressivos de 7,5%, com um índice mais elevado no sexo feminino. A regressão logística demonstrou os seguintes fatores associados à depressão: baixo escore na autoavaliação de saúde, gênero feminino e consumo de bebidas alcoólicas. As variáveis sociodemográficas, estilo de vida e de saúde estavam associadas aos distúrbios depressivos. Santos (2007) realizou uma pesquisa com 132 alunos, entre 14 a 18 anos do Ensino Médio, de duas escolas, uma pública e outra particular, do interior do estado de São Paulo. O autor identificou e discutiu a relação entre o uso abusivo de álcool, a depressão e a consequência do uso no desenvolvimento cognitivo. Os instrumentos utilizados foram o AUDIT - (Alcohol 24 Use Disorder Identification Test), o Inventário para Depressão Beck (BDI-Beck Depression Inventory) e as provas para o desenvolvimento operatório (Permutação, Combinação e Torre de Hanói). Os resultados revelaram que o consumo de álcool em excesso é significativo e que a depressão é existente, 84,3% dos sujeitos apresentaram depressão mínima, enquanto 15,8% estavam com depressão. Não foi observada, para os participantes (segunda etapa da pesquisa), uma relação favorável entre o uso de álcool, depressão e desenvolvimento cognitivo. Os resultados mostraram que houve um decréscimo cognitivo na realização das provas e maior dificuldade do grupo como um todo na prova mais elaborada, sendo que esse aspecto pode ser explicado pelo fato de que esse efeito é tardio, com possibilidade de ser agravado gradativamente. Por outro lado, Cruvinel (2009) pesquisou outras variáveis relacionadas ao desenvolvimento cognitivo dos estudantes, com uma amostra inicial de 157 alunos de 3ª e 4ª séries do ensino fundamental com idade de 8 a 11 anos, de uma escola pública de Campinas. Investigaram-se variáveis cognitivas e psicossociais dos participantes com e sem sintomas de depressão. No estudo, usou-se o CDI e foram selecionadas 54 crianças, 27 com sintomas depressivos e 27 sem sintomatologia. Os participantes com e sem sintomas foram comparados em estratégias de aprendizagem, crenças de autoeficácia, autoconceito e autorregulação emocional. Os resultados indicaram que os participantes com sintomas depressivos apresentam autoconceito negativo e baixa autoeficácia. Por outro lado, outras variáveis relacionadas ao contexto escolar foram investigadas. Cunha (2009) analisou a relação entre a vitimização entre pares no contexto escolar e a presença de sinais de depressão em 849 adolescentes, com idade média de 14,3 anos. O estudo realizou-se em quatro cidades brasileiras: Curitiba (PR), Goiânia (GO), Governador Valadares (MG) e Teresina (PI). Os participantes responderam à Escala de Agressão e Vitimização entre Pares. No estudo, os participantes envolvidos como vítimas ou agressores apresentaram escores mais altos no CDI, com elevada incidência de sinais de depressão. O percentual de participantes com sinais depressivos entre os não envolvidos foi de 1,6%, aumentando para 6,6% entre o grupo de participantes 25 que se destacaram como vítimas e chegando a 11% entre os agressores e vítimas-agressoras. A partir dos resultados dos estudos apresentados, é possível sugerir que há adolescentes com índice grave de sintomas depressivos sem acompanhamento. Mesmo que as escalas de avaliação não substituam o exame clínico, somente os resultados de sua aplicação não são suficientes para fechar o diagnóstico da depressão; apenas são instrumentos que o sugerem (BHALS, 2004). Considera-se, portanto, que as variáveis contextuais de desenvolvimento dos adolescentes com índices elevados de sintomas depressivos são fatores que, possivelmente, estão associados ao desenvolvimento de sintomas depressivos. Assim, é relevante o acompanhamento visando à proteção, à promoção de saúde e ao desenvolvimento positivo dessa população. Considera-se que programas psicoeducativos com vista às interações sociais dos adolescentes poderão contribuir com a remissão de sintomas depressivos nessa população. Inclusive, sugere-se que o treino de habilidades sociais poderá possibilitar efeitos positivos nos adolescentes e familiares envolvidos no programa (SILVA; MURTA, 2009).Questões relacionadas ao campo das habilidades sociais, inclusive sobre a associação entre habilidades sociais e depressão serão discutidas na próxima seção. 1.2 AS HABILIDADES SOCIAIS A área de habilidades sociais integra temas variados dentro da Psicologia, dentre eles focalizam fenômenos como assertividade e competência social (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Algumas questões conceituais são discutidas por Caballo (2010), que aponta a existência de variadas terminologias para designar termos semelhantes, causando uma certa profusão conceitual que precisa ser considerada na investigação ou intervenção nesse campo de estudo. O autor considera os termos ―assertividade‖ e ―habilidades sociais‖ como equivalentes. A mesma equivalência se observa nos conceitos de treino assertivo, treinamento assertivo ou treinamento em habilidades sociais, sinalizando interpessoalidade está associada a designações bastante variadas. que a 26 Del Prette e Del Prette (2010) salientam que as habilidades sociais integram um campo teórico mais complexo, cobrindo uma gama de temas como assertividade, não-assertividade, desempenho social e competência social. Esclarecendo cada uma dessas categorias, os seguintes comportamentos podem ser considerados para caracterizá-las: Assertividade inclui: honestidade ao expressar apropriadamente sentimentos negativos; procurar atingir os objetivos preservando, ao máximo, a relação entre os interagentes; perseverar nos objetivos, avaliando o próprio comportamento; conseguir discordar do grupo; valorizar-se, sem ferir os demais; defender os próprios direitos, respeitando os alheios e; fazer as próprias escolhas (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010). Não assertividade: geralmente, a pessoa não expõe seus sentimentos ou pensamentos ao interlocutor, expressando, muitas vezes, comportamento que não condiz com a sua própria vontade, ou deixando de defender-se, por medo de gerar prejuízos em sua relação futura com o interlocutor (BOLSONISILVA; MARTURANO, 2002). Do ponto de vista dessas autoras, a não assertividade nega e inibe a expressão de sentimentos. Leva a pessoa a sentirse ferida, ansiosa, autodesvalorizada, raramente atingindo os objetivos desejados. A propósito, ela poderá recorrer à agressividade que, às vezes, possibilita alcançar os objetivos desejados. Mas, nesse processo, a pessoa magoa os demais, realiza escolhas por eles, além de não os valorizar como pessoas, possibilitando represálias futuras. Desempenho social: diz respeito ao comportamento, ou sequência de comportamentos que acontece em uma interação social que pode ser considerado competente ou não (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Os pesquisadores ainda esclarecem que a competência social pode ser entendida como a capacidade que a pessoa tem para desempenhar, de maneira satisfatória, as atividades propostas, garantindo consequências positivas. Envolve a avaliação e a autoavaliação. Competência social deve garantir, simultaneamente: a consecução de objetivos de uma situação interpessoal; a manutenção ou melhora de sua relação com o interlocutor, incluindo a busca do equilíbrio de poder e das trocas nas relações; a manutenção ou melhora da autoestima e a manutenção dos 27 direitos humanos socialmente reconhecidos (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2008, 2010). Está relacionada com as classes de comportamento que compõem as habilidades sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Neste trabalho serão focalizados comportamentos relacionados ao conceito e aos componentes das habilidades sociais, que serão apresentados, em maior detalhe na seção seguinte. 1.2.1 Habilidades sociais: conceitos e caracterizações Os vocábulos desempenho social, habilidades sociais e competência social são centrais no campo do treino das habilidades sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2008). De maneira geral, o comportamento e o desempenho social ou interpessoal são termos que equivalem às habilidades sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010). As habilidades sociais representam o universo mais abrangente das relações interpessoais, envolvendo um conjunto de comportamentos que estão presentes no repertório da pessoa e que facilitam seu relacionamento interpessoal. As habilidades sociais se estendem para além da assertividade, incluem as habilidades de comunicação, de resolução de problemas, de cooperação e aqueles próprios dos rituais sociais estabelecidos pelo contexto cultural (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1996, 2010). A propósito, Tavares (2005) acrescenta que as habilidades sociais são adquiridas ao longo da vida. Quando são pouco desenvolvidas, a pessoa tende a se comportar de forma passiva, aceitando o que lhe é imposto, não delimitando os limites e deixando que outros decidam por ela. Além do mais, a pesquisadora salienta que as habilidades sociais podem ser consideradas como a habilidade para lidar de maneira satisfatória com as mais diversas situações sociais, expressando o que se pensa e sente de forma coerente e respeitando os demais. Nesse sentido, Caballo (2010) ressalta que as habilidades sociais devem ser consideradas dentro de um contexto cultural específico, pois os padrões de comunicação sofrem variações entre as culturas e dentro de uma mesma cultura, estando na dependência de fatores como idade, sexo, posição cultural e educação. O pesquisador ainda aponta que o grau de eficácia apresentado 28 por uma pessoa dependerá do que ela quer conseguir na situação particular que emite o comportamento. Assim, o comportamento apropriado em uma situação poderá ser inoportuno em outra ocasião. Desse modo, não existe uma maneira correta de comportamento que seja universal (CABALLO, 2010). Ser habilidoso, portanto, tem relação com uma série de elementos, sendo importante considerar o contexto histórico, social e cultural em que se está inserido, considerando, ainda, os processos cognitivos de quem está sendo avaliado. Há um relativo consenso sobre os componentes das habilidades sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010). Do ponto de vista de Caballo (2010), esses componentes são organizados em comportamentais, fisiológicos e cognitivos. O componente cognitivo inclui as competências cognitivas, as estratégias de codificação e construtos pessoais, expectativas, valores subjetivos dos estímulos e sistemas e planos de autorregulação. Os elementos cognitivo-afetivos estão concretamente presentes no treino das habilidades sociais e no próprio conceito das habilidades sociais numa dimensão pessoal (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010). Além disso, esses autores pontuam que os componentes comportamentais e cognitivos coexistem, pois comportamentos emitidos requerem processos cognitivos. Os componentes comportamentais incluem aspectos que podem ser diretamente observáveis, subdividindo-se em verbais de conteúdos, verbais de formas e não verbais, sendo que, a conversação verbalizada, inclui signos que regulam o intercâmbio verbal e que tornam possível a compreensão do que se fala. Por outro lado, o comportamento social é afetado pelos sentimentos e cognições que a pessoa elabora sobre seu interlocutor; pela situação social; pelos próprios comportamentos e suas consequências nas diversas situações (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010). Desse modo, a percepção e a avaliação cognitiva da pessoa sobre as diversas situações, estímulos e acontecimentos estão determinados por um sistema persistente integrado por abstrações e concepções do mundo, incluindo os conceitos de si mesmo (CABALLO, 2010), de forma que ―[...] a aprendizagem social do comportamento é mediada por 29 processos cognitivos que, quando disfuncionais, influenciam negativamente no desempenho interpessoal” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2000, p. 225). Nesse sentido, Tavares (2005) salienta que pessoas com poucas habilidades sociais podem desenvolver problemas psicológicos, dentre eles, timidez excessiva, síndrome do pânico, dificuldades sexuais e depressão. Aquelas com depressão tendem a demonstrar déficits de habilidades sociais e relações interpessoais pobres (FERNANDES; FALCONE, 2009; SELIGMAN, 1977). Essa relação entre o déficit nas habilidades sociais e a depressão em adolescentes será discutida a seguir. 1.2.2 Habilidades sociais e depressão em adolescentes Há evidências empíricas e clínicas de que a falta de repertório apropriado de habilidades sociais está relacionada à depressão. Além da etiologia multivariada da depressão, é reconhecido que os estados depressivos caracterizam-se, também, pela deteriorização das relações sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010). Assim, adolescentes com indicadores de depressão apresentam comprometimento no repertório de habilidades sociais. De acordo com Segrin (2000), pode-se identificar três pressupostos na relação entre repertório deficitário de habilidades sociais e depressão: (a) repertório deficitário de habilidades sociais como causa de depressão; (b) depressão como causa do deficitário repertório de habilidades sociais; e (c) poucas habilidades sociais como fator de vulnerabilidade para o desenvolvimento de depressão. O pesquisador ainda pontua que, na atualidade, há evidências para sustentar cada uma dessas concepções e que a relação entre elas pode ter uma variedade de formas. Campos (2010) caracterizou o repertório de habilidades sociais de 103 adolescentes com indicadores de depressão, sendo 75 meninas e 28 meninos com idades entre 12 a 14 anos. Nessa pesquisa, 52,4% dos participantes apresentaram repertório de habilidades sociais abaixo da média inferior e 10,7% demonstraram repertório médio inferior de habilidades sociais. As adolescentes apresentaram repertório mais deficitário de habilidades sociais em todas as categorias investigadas: empatia, autocontrole, civilidade, assertividade, desenvoltura social, abordagem afetiva, enquanto os 30 adolescentes apresentaram mais recursos comportamentais, como autocontrole, empatia, assertividade e abordagem afetiva. Witvliet et al. (2010) realizou uma pesquisa com 310 crianças com a duração de três anos, com acompanhamento dos 11 aos 14 anos de idade e examinou se o isolamento de colegas aumentava os sintomas depressivos. Esses achados sugerem que o isolamento social é um dos fatores de risco para o desenvolvimento da depressão na adolescência. Estudos que associam dificuldades interpessoais de adolescentes deprimidos a déficits de habilidades sociais foram realizados por Gresham, Cook e Crews (2004). Como descritos pelos autores, os adolescentes deprimidos, com frequência, expressaram sentimentos em momentos inapropriados e emitiram comportamentos indesejados. Consequentemente, distanciavam as pessoas de seu convívio, gerando rejeição social. Em uma perspectiva psicopatológica, adolescentes com diagnóstico de depressão bipolar ficaram atrás de seus pares no desempenho de habilidades sociais. Em se tratando de dificuldade na regulação emocional, estudos demonstraram sua interferência no desenvolvimento de comportamentos sociais apropriados (GOLDSTEIN; MIKLOWITZ; MULLEN, 2006). Nesse sentido, a pesquisa de Rockhill el al. (2009) examinou a relação entre competência social, apoio social e psicopatologia, incluindo a depressão e o transtorno de conduta, envolvendo uma amostra de 521 adolescentes, que foram agrupados nos grupos de risco: depressão, problemas de conduta e depressão com problemas de conduta. Os resultados sugeriram que os baixos níveis de competência social têm relações significativas no grupo de adolescentes com sintomas depressivos. No que diz respeito aos aspectos interventivos, os pesquisadores sugeriram que a intervenção com vistas à melhoria da competência social e do apoio social poderia melhorar os resultados funcionais, especialmente para jovens com sintomas depressivos ou depressão e comorbidade. Por sua vez, a presença de determinadas classes de habilidades sociais podem contribuir para maximizar a competência social e funcionar como fator de proteção (CAMPOS, 2009). 31 Decerto a pesquisa de Young, Mufson e Gallop (2010) avaliou a eficácia de um programa de prevenção indicada para adolescentes deprimidos, incluindo 57 adolescentes com sintomas elevados de depressão. Os participantes da investigação foram randomizados em dois grupos: um grupo submeteu-se a psicoterapia interpessoal com o treinamento de habilidades sociais e o outro foi atendido em escola de aconselhamento. A partir dos resultados, notou-se que os adolescentes do grupo de psicoterapia interpessoal relataram taxas significativamente maiores de mudança nos sintomas de depressão e funcionamento em geral de que os adolescentes em aconselhamentona avaliação pós-intervenção. Os primeiros mostraram significativamente menos sintomas de depressão e melhor funcionamento geral. Outro estudo, na temática anterior, foi realizado por Gunlicks-Stoessel et al. (2010), examinando aspectos do funcionamento de adolescentes deprimidos com o uso da psicoterapia interpessoal e o tratamento usual em clínicas baseadas na escola de saúde. Participaram do estudo 63 adolescentes com idade entre 12 a 18 anos, aleatoriamente designados para receber um dos tipos de acompanhamento. Os resultados indicaram que a aplicação da psicoterapia interpessoal beneficiou, particularmente, os adolescentes que relataram altos níveis de conflito com suas mães e disfunção social com amigos. A propósito, as intervenções que ensinam estratégias aos jovens para lidar com os eventos negativos da vida e estressores interpessoais podem ser especialmente úteis no tratamento e prevenção da depressão (HOROWITZ, 2007). A revisão de literatura realizada neste trabalho a concepção de que o treinamento de habilidades sociais contribui com a remissão de sintomas depressivos em adolescentes. Aliás, demonstrou evidências da relação entre déficit nas habilidades sociais e depressão nessa população específica. Por outro lado, possibilitou a construção da hipótese que orienta o presente estudo, que reafirma a relação entre depressão e habilidades sociais e cuja contribuição consiste em investigar a hipótese da existência de uma relação entre os dois fenômenos, aliás, essa pesquisa buscou resposta para essa 32 hipótese. Com base na hipótese, os objetivos descritos na seção seguinte orientaram a investigação. 33 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Descrever a relação entre sintomas depressivos e o repertório de habilidades sociais em adolescentes, relacionando os níveis de depressão à frequência e dificuldades de habilidades sociais. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Identificar os níveis de depressão apresentados pelos participantes. Caracterizar o repertório de habilidades sociais dos participantes. Contribuir com a construção de conhecimento sobre a depressão na adolescência na perspectiva das interações sociais. Nesse estudo de caráter exploratório-descritivo, realizou-se a análise da relação entre sintomas depressivos e habilidades sociais adotando os recursos metodológicos descritos a seguir. 34 3 RECURSOS METODOLÓGICOS 3.1 QUESTÕES ÉTICAS A pesquisa foi iniciada após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Brasília— CEP/UCB, número 393.089. Durante o estudo, foi assegurado o sigilo dos participantes, o direito de desistir da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo. O retorno do resultado aos participantes foi realizado mediante a entrega do relatório contendo informações referentes ao resultado da pesquisa. Os documentos desse estudo estão arquivados pela pesquisadora responsável por um período mínimo de cinco anos. Em relação aos instrumentos usados, é importante ressaltar que o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) e o Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes-Del Prette (IHSA-Del Prette), utilizados para aferir, respectivamente, os níveis de depressão e as habilidades sociais dos adolescentes, são de uso restrito dos psicólogos. Considerando esse aspecto ético e legal, nenhum dos elementos que possam comprometer a validade deles serão apresentados no presente trabalho. 3.2 PARTICIPANTES A coleta dos dados foi realizada com uma amostra de conveniência em uma escola pública localizada em Planaltina, no Distrito Federal. Foram utilizados os critérios especificados abaixo para inclusão dos estudantes na pesquisa. Aceitar participar da pesquisa. Entregar a autorização dos pais ou responsáveis mediante a devolução do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado. Frequentar regulamente as aulas. E responder a todos os instrumentos da pesquisa. 35 Os participantes foram 153 estudantes com idades entre 12 e 17 anos (͞x= 13,6; dp= 1,1), desses 66,7% do sexo feminino e 33,3% do sexo masculino (Tabela 1). Tabela 1 — Frequência de idades por sexo Idade 12 13 14 15 16 17 Total Masculino n (%) 7 (4,6%) 23 (15,0%) 9 (5,9%) 9 (5,9 %) 1 (0,7%) 2 (1,3 %) 51 (33,3%) Feminino n (%) 13 (8,5 %) 31(20,3 %) 34 (22,2%) 20 (13,1%) 3 (2,0%) 1 (0,7%) 102 (66,7%) Os dados da Tabela 1 demonstram que 126 (82,4%) participantes tinham idades entre 13 a 15 anos. Do total geral dos participantes 41 (26,8%) cursavam o 6˚ ano e 112 (73,2%), o 8˚ ano. Desses, 71 (46,4%) frequentavam a escola no turno matutino e 82 (53,6%) no turno vespertino. Os participantes possuíam renda familiar baixa visto que 57,5% informou uma renda familiar de até 2 salários mínimos (Tabela 2). Tabela 2 — Renda familiar dos participantes Salários mínimos / R$ Até 2 Entre 2 a 4 Entre 4 a 10 Total n (%) 88 (57,5%) 31 (20,3%) 34 (22,2%) 153 (100%) Os 153 participantes desse estudo moravam na zona urbana. Deles, 119 (77,8%) declararam ter moradia própria, 29 (19%) moravam em residências alugadas e 5 (3,3%) residiam em moradias em condições não especificadas. Do total geral, 142 (92,8%) dos respondentes conviviam com os pais e 11 (7,2%) com outras pessoas. Ainda sobre as questões familiares, 145 (94,8%) dos participantes relataram ter pais vivos enquanto 8 (5,2%) deles relataram ter pais falecidos. E 148 (96,7%) possuíam irmãos. No aspecto religioso, 66 (43,1%) dos respondentes afirmaram ser católicos, 45 (29,4%) declararam-se evangélicos, 4 (2,6%) assinalaram ter uma religião sem especificá-la e 38 (24,8%) apontaram não ter religião. 36 3.3 INSTRUMENTOS Os seguintes instrumentos foram utilizados no estudo: 3.3.1 Questionário Sociodemográfico O questionário sociodemográfico elaborado pela pesquisadora contém 7 questões e foi utilizado para caracterizar os participantes da pesquisa nos aspectos sociais e escolares. A aplicação possibilitou obter informações sobre idade, gênero, família e aspectos econômicos (APÊNDICE A). 3.3.2 Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) O BDI-II tem como objetivo detectar sintomas depressivos conforme os critérios sintomáticos de Episódio Depressivo Maior, listados na 4ª versão do DSM-IV. Esse instrumento pode ser usado em adolescentes a partir de 13 anos e em adultos. É um instrumento de autoaplicação, constituído por 21 grupos de afirmações sobre sintomas depressivos que poderiam ter ocorrido nos últimos 15 dias (GORENSTEIN et al., 2011). Cada item da escala é integrado por quatro afirmativas, com pontuação em escala Likert, variando de 0 a 3, possibilitando a soma de pontuações no intervalo entre 0 a 63. Descreve a sintomatologia depressiva, compreendendo cognições negativas e sintomas somato-vegetativos. Os itens 16 (alterações no padrão do sono) e 18 (alterações de apetite) demandam atenção especial, pois cada um contém sete opções com valores 0, 1a, 1b, 2a, 2b, 3a e 3b que são usados para diferenciar o aumento e a diminuição do comportamento ou da motivação. Em geral, a aplicação do BDI-II leva em torno de 10 a 15 minutos para ser respondido e sua pontuação final é classificada em níveis mínimo, leve, moderado e grave, indicando assim a intensidade da depressão (GORENSTEIN et al., 2011). O estudo de validação original do BDI-II demonstrou que a escala tem elevada consistência interna, com o coeficiente Alpha de Cronbach em torno de 0,90 para a amostra total, por gênero e para as diversas subamostras estudadas. A versão brasileira do BDI-II apresentou Alpha de Cronbach de 37 0,882 para o grupo de adolescentes com idade entre 10 a 19 anos (GORENSTEIN et al., 2011). 3.3.3 Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes - Del Prette (IHSA-Del Prette) Para avaliação das habilidades sociais, foi utilizada o IHSA- Del Prette que é um instrumento desenvolvido no Brasil, destinado a caracterizar o desempenho social de adolescentes brasileiros entre 12 e 17 anos nos vários contextos e tipos de interlocutores. Trata-se de um instrumento de autorrelato que permite avaliar o repertório de habilidades sociais em um conjunto de situações interpessoais cotidianas, considerando os indicadores de frequências e dificuldade com que os adolescentes reagem às diferentes demandas de interação social. O IHSA-Del Prette contemplam habilidades de é composto relacionamento com por 38 diferentes itens que interlocutores (parceiro/a afetivo-sexual, pais e irmãos, colegas, amigos, pessoas de autoridade, desconhecidos ou não especificados) que são requeridas em contexto público (escola, trabalho, lazer, consumo), privado (familiar e íntimo) ou não especificado. Para cada item, o adolescente deve se autoavaliar, julgando a dificuldade que ele apresenta na reação indicada no item e a frequência com que é apresentada (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Nesses indicadores de frequências e dificuldades, as respostas são mensuradas em uma escala tipo Likert de 5 pontos. Quanto à frequência, as categorias de respostas são: 0 a 2— para cada 10 situações desse tipo, comporto-me dessa forma no máximo 2 vezes; 2 a 4 — para cada 10 situações desse tipo, comporto-me dessa forma de 3 a 4 vezes; 5 a 6 — para cada 10 situações desse tipo, comporto-me dessa forma de 5 a 6 vezes; 7 a 8 — para cada 10 situações desse tipo, comporto-me dessa forma de 7 a 8 vezes; 9 a 10— para cada 10 situações desse tipo, comporto-me dessa forma de 9 a 10 vezes. Nas categorias de respostas para indicar a dificuldade é apresentada as seguintes opções: nenhuma, pouca, média, muita e total (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). 38 Os resultados da escala, mediante os indicadores de frequência e de dificuldade de habilidades, indicam quanto os adolescentes estão acima ou abaixo da média do grupo normativo, caracterizam o desempenho social dos respondentes nas diferentes subescalas e subclasses e identificam as situações e os tipos de interlocutores que o respondente apresenta maiores recursos ou déficit em habilidades sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). O IHSA-Del Prette possibilita verificar especificidades das interações sociais dos adolescentes a partir das subescalas: Empatia, Autocontrole, Civilidade, Assertividade, Abordagem Afetiva e Desenvoltura Social. Conforme Del Prette e Del Prette (2009), as subescalas agregam demandas associadas a determinados conjuntos de comportamentos, contextos ou interlocutores que apontam a particularidade situacional das habilidades sociais do respondente. Para maiores esclarecimentos, será apresentada a definição de cada uma das subescalas, a saber: 1. Empatia inclui as habilidades para identificação de sentimentos e problemas dos outros, bem como demonstrar compreensão, apoio e negociar soluções em situações de conflitos. 2. Autocontrole agrega habilidades de reagir com tranquilidade em situações aversivas, expressando sentimentos de maneira competente, com a expressão de desagrado ou raiva. 3. Civilidade contempla as habilidades de traquejo social, ou seja, cordialidade que envolve cumprimentos, elogios, agradecimentos, fazer favores e perguntas às pessoas. 4. Assertividade reúne as habilidades para lidar com defesas e afirmações de direitos e autoestima, com risco potencial de reação indesejável por parte do interlocutor. 5. Abordagem Afetiva refere-se às habilidades para realizar contato e conversação para fins de amizades, relação de intimidade sexual e desenvolver atividades em grupos. 6. Desenvoltura Social contempla as habilidades de exposição social e conversação com pedido de informações que incluem pessoas de autoridades, os pares e outras. 39 O estudo de validação do IHSA-Del Prette apresentou elevada consistência interna, com o coeficiente de confiabilidade Alpha de Cronbach de 0,896 para frequência e 0,904 para dificuldade com uma estrutura de seis fatores. Os fatores são: Fator 1— Empatia (10 itens, na frequência Alpha= 0,820 e na dificuldade Alpha= 0,866); Fator 2 — Autocontrole (8 itens, na frequência Alpha= 0, 728 e na dificuldade Alpha= 0,753); Fator 3 — Civilidade (6 itens, na frequência Alpha = 0,751 e na dificuldade Alpha= 0,836); Fator 4— Assertividade (7 itens, na frequência Alpha= 0, 679 e na dificuldade Alpha= 0,720); Fator 5— Abordagem Afetiva (6 itens, na frequência Alpha= 0, 698 e na dificuldade Alpha= 0,676) e Fator 6— Desenvoltura Social (5 itens, Alpha= 0, 615 e na dificuldade Alpha= 0,511) (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Os índices de consistência interna foram aceitáveis para a escala total e para a maioria das subescalas com valores > 0,70. No entanto, os valores da consistência interna apresentado pelo fator desenvoltura social na frequência e na dificuldade de habilidades sociais foram os mais baixos. 3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DOS DADOS Foram realizados contatos com a direção da escola e apresentada a proposta da pesquisa, que foi acolhida pela escola, incluído professores e coordenadores. Depois do projeto de pesquisa ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Brasília (CEP/UCB), a pesquisadora retornou a escola e agendou com os professores a data e o horário de visitas às turmas. No primeiro contato com os adolescentes, foi feito o convite para participação na pesquisa. Os adolescentes que aderiram ao estudo levaram para os pais ou responsáveis a carta-convite (Apêndice D), o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do responsável— TCLE (Apêndice B) e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do adolescente—TCLE (Apêndice C). A pesquisadora frequentou a escola durante uma semana, realizando a aproximação com o campo de pesquisa. Nesse período, ocorreu a familiarização com os professores e estudantes, acesso aos espaços da 40 escola, incluindo a sala dos professores, a biblioteca e as salas de aulas constituintes do espaço da pesquisa. Esses contatos viabilizaram a aplicação dos instrumentos e a obtenção de informações sobre a dinâmica dos alunos. Contudo, durante a coleta das informações, surgiram dificuldades para recolher os TCLEs assinados pelos responsáveis. Os participantes relatavam que tinham esquecidos de pegar a assinatura do responsável. Na coleta dos dados, foram desenvolvidos os seguintes procedimentos: os estudantes participantes da turma, aproximadamente 15 alunos por sessão, foram convidados a ir à sala reservada para aplicação dos instrumentos. Nesse espaço, eles foram acomodados e, em seguida, realizou-se a aplicação dos instrumentos. A aplicação de cada instrumento foi coletiva e ocorreu sob a orientação da pesquisadora. Foram realizados os seguintes procedimentos para a coleta dos dados: distribuição e leitura das instruções dos instrumentos conforme os procedimentos padronizados, com prévios esclarecimentos das dúvidas colocadas pelos adolescentes, recolham e checagem do preenchimento dos instrumentos. Os instrumentos foram aplicados na seguinte ordem: primeiro o BDI-II, seguido do IHSA-Del Prette e, por último, a aplicação do questionário sociodemográfico (Apêndice A). 3.5 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS Os dados do BDI-II, do IHSA-Del Prette e do questionário sociodemográfico foram transpostos para um banco de dados do software estatístico SPSS 18.0 for Windows (Stastiscal Package for Social Sciences). Realizou-se a inspeção preliminar dos dados para verificar a existência de outliers, de dados perdidos (missings) e de normalidade. Para verificação da normalidade, empregou-se o teste Kolmogorov-Smirnov e o teste Shapiro-Wilk. Também, verificou-se se a consistência interna do BDI-II e do IHSA- Del Prette mantinha na amostra desta pesquisa, essa análise foi realizada por meio do teste estatístico Alpha de Cronbach. As informações do questionário sociodemográfico foram analisadas por meio de estatísticas descritivas que foram apresentadas na caracterização da amostra do estudo. 41 Os dados do IHSA-Del Prette foram analisados por meio dos resultados brutos (escores totais e de cada escala), convertidos em posição percentílica. Esses percentis foram relacionados aos dados da amostra normativa do mesmo sexo e da mesma idade conforme as orientações especificadas no manual do instrumento (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). As informações foram interpretadas considerando a posição percentílica do escore total do respondente, conforme a frequência em: repertório altamente elaborado de habilidades sociais (percentil entre 76-100); repertório elaborado de habilidades sociais (percentil entre 66-75); bom repertório de habilidades sociais (percentil entre 36-65); repertório médio inferior de habilidades sociais (percentil entre 26-35); e repertório abaixo da média inferior de habilidades sociais (percentil entre 01-25). Também foram analisados quanto à dificuldade na emissão das habilidades sociais, conforme as seguintes categorias: alto custo de resposta ou ansiedade na emissão das habilidades (percentil entre 66-100); médio custo de resposta ou ansiedade na emissão das habilidades (percentil entre 36-65); e baixo custo de resposta ou ansiedade na emissão das habilidades (percentil entre 01-35) (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Os níveis de depressão dos participantes foram aferidos por meio da soma dos pontos de cada item do BDI-II. Conforme as orientações especificadas no manual, os participantes foram caracterizados considerando os seguintes níveis de depressão: mínimo (pontuação total 0-13); leve (pontuação total 14-19); moderado (pontuação total 20-28); e grave (pontuação total 29-63) (GORENSTEIN et al., 2011). Foi usado o teste estatístico Coeficiente de Correlação de Pearson, na análise de correlação das variáveis sintomas depressivos e habilidades sociais de adolescentes e para verificar a direção do relacionamento, e o Teste t, para verificar as diferenças entre os escores de depressão, frequência e dificuldade de habilidades sociais dos adolescentes conforme o sexo. Para esses testes, adotou-se como parâmetro o nível de significância inferior a 0,05. Os resultados foram apresentados e discutidos no capítulo seguinte. 42 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 EXPLORAÇÃO INICIAL DOS DADOS Na análise preliminar dos dados, verificou-se no BDI-II uma ausência de resposta em cinco (5) itens, no IHSA-Del Prette encontrou oito (8) dados ausentes nos itens de frequência e dez (10) dados ausentes nos itens de dificuldade. Realizou-se a reposição desses dados pela média dos dados do item. Também, observaram-se seis (6) dados atípicos com valores de escores z maiores que 3 nas variáveis depressão, três (3) dados atípicos na frequência de habilidades sociais e quatro (4) dados atípicos nas respostas de dificuldades de habilidades sociais, indicando a presença de outliers. O maior valor de escore z encontrado foi na frequência de habilidades sociais, z= -6,06. Quanto a esses outliers, optou-se por mantê-los por considerar que eles representam parte da população com altos e baixos níveis nas variáveis. Considerando a presença dos outliers, realizou-se o teste de normalidade dos dados dos participantes divididos em dois grupos. Para o grupo que apresentou baixos níveis de sintomas depressivos, por ter um número de participantes considerado grande, utilizou-se o teste Kolmogorov-Smirnov. E para o grupo com níveis elevados de sintomas depressivos, por ter um número de participantes considerado pequeno, usou-se o teste Shapiro-Wilk. A análise dos resultados do teste Kolmogorov-Smirnov aceitou a hipótese de normalidade para os dados de depressão (s=0,071; df=144; p= 0,73), de frequência de habilidades sociais (s=0,071; df=144; p=0,70) e dificuldade de habilidades sociais (s=0,069; df=144; p=0,88). Por meio da análise dos resultados do teste Shapiro-Wilk, aceitou-se a normalidade dos dados de depressão (s=0,907; df=9; p=0,295), de frequência de habilidades sociais (s=0,835; df=9; p=0,510) e dificuldade de habilidades sociais (s=0,949; df=9; p=0,682). Realizou-se análise da consistência interna dos instrumentos utilizados por meio do teste estatístico Alpha de Cronbach. Para o BDI-II encontrou-se α=0,826, o IHSA-Del Prette, na frequência de habilidades sociais, encontrou α=0,810 e na dificuldade de habilidades sociais α=0,800. Nas subescalas de habilidades sociais, o fator desenvoltura social apresentou índice mais baixos 43 que os demais tanto na frequência quanto na dificuldade de emissão de habilidades sociais (Tabela 3). Tabela 3 – Consistência interna das subescalas do IHSA-Del Prette aferida por meio dos dados da pesquisa Subescalas Empatia Autocontrole Civilidade Assertividade Abordagem Afetiva Desenvoltura Social Frequência 0,668 0,772 0,759 0,664 0,608 0,568 Dificuldade 0,788 0,641 0,781 0,669 0,624 0,535 Os subfatores empatia, civilidade, assertividade, abordagem afetiva e desenvoltura social de frequência de habilidades sociais e os subfatores autocontrole, assertividade, abordagem afetiva e desenvoltura social de dificuldade de habilidades sociais não apresentaram índices aceitáveis de consistência interna que devem ser maiores que 0,70. 4.2 AS HABILIDADES SOCIAS NOS ADOLESCENTES No estudo das habilidades sociais de adolescentes, considera-se que o campo das habilidades sociais é abrangente. Enquanto um dos elementos do campo das habilidades sociais, a competência social, envolve a funcionalidade do comportamento, a coerência com os pensamentos e sentimentos das pessoas. A competência social é caracterizada como um atributo avaliativo do comportamento da pessoa numa situação de interação e está relacionada com as variáveis do contexto (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Apesar da importância que tem a competência social para as situações de interações sociais, seria insuficiente se apropriar somente desse atributo avaliativo para definir e caracterizar as habilidades sociais. O construto habilidades sociais se relaciona com a existência de diferentes classes de comportamentos existentes no repertório da pessoa para lidar com as demandas das situações interpessoais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2008). Destarte, as habilidades sociais incluem as relações interpessoais, assertividade, habilidades de comunicações, de resolução de problemas interpessoais, de cooperação e de desempenhos interpessoais nas demandadas 44 nas relações profissionais (BOLSI-SILVA; MARTURIANO, 2002; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2008), nas relações escolares, familiares e afetivas. Desse modo, incluem comportamentos que caracterizam os construtos empatia, autocontrole, civilidade, assertividade, abordagem afetiva e desenvoltura social. Del Prette e Del Prette (2009) categorizam a frequência de habilidades sociais dos adolescentes em repertórios que pode ser altamente elaborado, elaborado, bom, médio inferior ou abaixo da média inferior. Os referidos pesquisadores também apontam que respondentes com repertório altamente elaborado de habilidades sociais demonstram resultados acima da média para praticamente todos os itens e subescalas, aspecto que indica disposição de recursos interpessoais altamente satisfatórios. Do total geral de 153 adolescentes participantes dessa pesquisa, 19 (12,4%) apresentaram repertório altamente elaborado de habilidades sociais e 50 (32,7%) relataram ter repertório elaborado de habilidades sociais (Tabela 4). Adolescentes com repertório de habilidades sociais elaborado demonstram resultados acima da média na maioria dos itens e subescalas, indicando que dispõem de recursos indicadores de interações sociais satisfatórias (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Bom repertório de habilidades sociais significa que o respondente apresenta resultados dentro da média na maioria dos itens, ou seja, tem um equilíbrio entre recursos e déficit nos itens e nas subescalas (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Nesse estudo, 76 (49,7%) adolescentes relataram ter bom repertório de habilidades sociais, 8 (5,2%) apresentaram repertório abaixo da média inferior de habilidades sociais e não houve respondentes que apresentaram repertório médio inferior de habilidades sociais (Tabela 4). Conforme Del Prette e Del Prette (2009), os repertórios médio inferior e abaixo da média inferior de habilidades sociais indicam resultados abaixo da média para a maior parte dos itens. Também, devido às restrições na frequência de habilidades sociais é necessário o Treino de Habilidades Sociais, principalmente, de comportamentos das subescalas e itens considerados críticos para o ajustamento pessoal e profissional. 45 Tabela 4- Frequência de habilidades sociais por idade Idade Repertório de habilidades sociais Altamente elaborado n (%) 12 13 14 15 16 17 Total 1 (0,7%) 6 (3,9%) 7 (4,6%) 4 (2,6%) 1 (0,7%) 19 (12,4%) Elaborado n (%) Bom n (%) Médio inferior n (%) 6 (3,9%) 25 (16,3%) 9 (5,9%) 7 (4,6%) 2 (1,3%) 1 (0,7%) 50 (32,7%) 11 (7,2%) 20 (13,1%) 27 (17,6%) 15 (9,8%) 1 (0,7%) 2 (1,3%) 76 (49,7%) - Abaixo da média inferior n (%) 2 (1,3%) 3 (2,0%) 3 (2,0%) 8 (5,2%) Além disso, Caballo (2010) considera o Treinamento de Habilidades Sociais como uma das técnicas eficazes de intervenção para problemas psicológicos, pois possibilita melhoria na relação interpessoal e na qualidade de vida. Com isso, sugere-se como medida interventiva o Treino de Habilidades Sociais para os 8 (5,2%) adolescentes desse estudo que apresentaram repertório abaixo da média inferior de habilidades sociais. Na frequência de habilidades sociais, conforme o sexo dos respondentes, tem-se 1 (0,7%) dos adolescentes do sexo masculino e 7 (4,6%) do sexo feminino com repertório abaixo da média inferior de habilidades sociais (Tabela 5). Os dados demonstram 14 (9,2%) adolescentes do sexo masculino e 5 (3,3%) adolescentes do sexo feminino com repertório altamente elaborado de habilidades sociais, com mais meninos nessa categoria, mesmo a pesquisa incluindo no seu total geral 102 meninas e 51 meninos (Tabela 5). Tabela 5 – Frequência de habilidades sociais por sexo Repertório de habilidades sociais Masculino n (%) Feminino n (%) Altamente elaborado 14 (9,2%) 5 (3,3%) Elaborado 27 (17,6%) 23 (15%) Bom 9 (5,9%) 67 (43,8%) Médio inferior Abaixo da média inferior Total 1 (0,7%) 51(33,3%) 7 (4,6%) 102 (66,7%) O mesmo é observado no repertório elaborado de habilidades sociais, com 27 (17,6%) adolescentes do sexo masculino e 23 (15%) do sexo feminino 46 situados nessa caracterização. Por outro lado, observa-se 9 (5,9%) adolescentes do sexo masculino e 67 (43,8%) do sexo feminino com bom repertório de habilidades sociais (Tabela 5). Para verificação de diferenças das médias entre os escores de frequência e de dificuldade de habilidades sociais conforme o sexo utilizou-se o Teste t e não foram encontradas diferenças significativas. Del Prette e Del Prette (2009) ressaltam que a exploração da correlação entre as idades dos 1172 participantes que fizeram parte do grupo normativo do IHSA-Del Prette apontou poucos resultados significativos. Porém, quando a análise foi realizada separadamente para cada um dos subgrupos do sexo masculino e do sexo feminino, eles encontraram diferenças significativas entre os grupos das faixas etárias de 12 a 14 anos e de15 a 17 anos. Há possibilidade de que as mudanças desenvolvimentais não fossem detectáveis ano a ano, mas em faixas etárias. Contudo, na presente pesquisa não foi realizada essa análise devido a pouca quantidade dos participantes. Mas realizou-se a análise descritiva dos dados de dificuldade de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais considerando as idades dos participantes (Tabela 6). Tabela 6- Dificuldade de habilidades sociais por idade Idade 12 13 14 15 16 17 Total Repertório de habilidades sociais Alto custo n (%) 2 (1,3%) 3 (2,0%) 3 (2,0%) 8 (5,2%) Médio custo n (%) 9 (5,9%) 29 (19,0%) 23 (15,0%) 14 (9,2%) 1 (0,7%) 2 (1,3%) 78 (51,0%) Baixo custo n (%) 9 (5,9%) 22 (14,4%) 20 (13,1%) 12 (7,8%) 3 (2,0%) 1 (0,7%) 67 (43,8%) De acordo com Del Prette e Del Prette (2009), a dificuldade de habilidades sociais pode ser considerada de alto custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades, médio custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades e baixo custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades. Os dados de dificuldade de habilidades sociais demonstraram 8 (5,2%) adolescentes com alto custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades 47 sociais; desses 2 (1,3%) com 12 anos de idade, 3 (2,0%) com 13 anos e mais 3 (2,0%) com 15 anos. Dos 43 (28,1%) adolescentes com 14 anos de idade, 23 (15,0%) desses apresentaram médio custo e 20 (13,1%) baixo custo de resposta ou ansiedade na emissão das habilidades. O mesmo pode ser observado nos adolescentes de 16 e de 17 anos, eles não relataram alto custo de resposta ou ansiedade na emissão das habilidades sociais. Além disso, realizou-se a análise de custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais conforme os sexos dos participantes (Tabela 7). Tabela 7 – Dificuldade de habilidades sociais por sexo Repertório de habilidades sociais Alto custo Médio custo Baixo custo Total Masculino n (%) 1 (0,7%) 27 (17,6%) 23 (15%) 51 (33,3%) Feminino n (%) 7 (4,6%) 51 (33,3%) 44 (28,8%) 102 (66,7%) Dos adolescentes da pesquisa, 7 (4,6%) do sexo feminino e 1 (0,7%) do sexo masculino foram situados na categoria alto custo de resposta ou ansiedade na emissão das habilidades sociais. Verificou-se que, dos respondentes desse estudo, 27 (17,6%) do sexo masculino e 51 (33,3%) do sexo feminino apresentaram médio custo ou ansiedade na emissão de resposta de habilidades sociais. E também 67 relataram baixo custo ou ansiedade na emissão de resposta, 23 (15%) meninos e 44 (28,8%) meninos demostraram características dessa categoria. Também foi realizada análises dos dados dos respondentes conforme as subescalas de frequência e dificuldade habilidades sociais, quanto a isso empregou-se o Teste t para comparação das médias de diferenças conforme o sexo. Os resultados demonstraram que o sexo masculino (͞x=16,9; dp=3,8) apresentou maior frequência nas habilidades sociais de abordagem afetiva que o sexo feminino (͞x=15,2 dp=3,5). As diferenças das médias foram estatisticamente significativas (t (151) = - 2,74; p<0,01). Por outro lado, o sexo masculino (͞x=14,3; dp=3,2) apresentou menor frequência nas habilidades sociais de autocontrole que o sexo feminino (͞x=16,1 dp=4,5), as diferenças das médias foram estatisticamente significativas, (t (151) 48 = - 2,50; p<0,001). Na subescala de habilidades sociais de autocontrole inclui as habilidades de reagir com calma a situações aversivas incluindo críticas de pais, professores e amigos, derrotas em jogos, etc., não significa deixar de demonstrar o desagrado ou a raiva, mas fazê-lo de maneira socialmente competente, no que se refere ao controle dos próprios sentimentos negativos (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Também, os adolescentes (͞x=18,6; dp=4,7) apresentaram níveis mais elevados de dificuldade de resposta ou ansiedade de habilidades sociais de autocontrole que as adolescentes (͞x=15,6 dp= 3,8) (t (151) = - 4,22; p<0,001). As diferenças encontradas entre a frequência de interações dos sexos sugerem que os adolescentes possuem mais habilidades sociais para manter contato e conversação, nas interações sociais de amizades e nas relações de intimidade sexual e demonstração de satisfação ou insatisfação a diferentes formas de carinhos. Quanto às interações sociais relacionadas à intimidade sexual Caballo (2010) considera a não expressão de sentimentos afetuosos como amor e carinho enquanto elemento que poderá debilitar a relação, a outra pessoa poderá sentir se esquecida ou não apreciada. De acordo com Tavares (2005), as habilidades sociais são aprendidas durante a vida. Esse aspecto faz alusão a importância da cultura e do contexto social como variáveis influenciadoras da expressão de habilidades sociais. Nesse sentido, é possível sugerir, a partir da análise dos dados de correlação das subclasses de interações sociais dos sexos feminino e masculino, que a menor frequência e a maior dificuldade de autocontrole dos adolescentes do sexo masculino, assim como a maior frequência nas habilidades sociais de abordagem afetiva, podem estar relacionadas com as ideias existentes na cultura do comportamento ditos como masculino ou feminino. Conforme os dados do presente estudo, os adolescentes do sexo masculino relataram maior frequência de abordagem afetiva nas suas interações sociais que o sexo feminino, porém eles apresentaram menor frequência e maior dificuldade na subescala de habilidades sociais de autocontrole que as meninas. Além disso, nas análises de correlação das subescalas encontrou-se uma correlação negativa entre sintomas depressivos e as subescalas civilidade, assertividade e abordagem afetiva de frequência de 49 habilidades sociais. E uma correlação positiva entre os dados de sintomas depressivos e os de dificuldade de habilidades sociais das subescalas de empatia, civilidade, assertividade abordagem afetiva e desenvoltura social. Mesmo entendendo que as causas das dificuldades nas interações sociais são multidimensionais, sugere-se que um elaborado ou bom repertório de habilidades sociais do adolescente poderá ser um fator de proteção e o déficit um fator de risco para a sua saúde mental (CAMPOS, 2009). Por isso, sugeri um olhar atento das pessoas que convivem ou trabalham com os adolescentes que apresentaram frequência de habilidades sociais abaixo da média inferior. Como lembra Caballo (2010), as pessoas buscam algumas situações de interações sociais e evitam outras, são afetadas pelas situações e afetam o que está ocorrendo, contribuem continuamente para as mudanças situacionais e ambientais. 4.3 OS SINTOMAS DEPRESSIVOS NOS ADOLESCENTES Conforme as orientações de Gorenstein et al. (2011), os índices de depressão podem ser considerados como: mínimo com o ponto de corte 13; leve com o ponto de corte 19; moderado com o ponto de corte 28; e grave que poderá chegar até 63 pontos, corresponde a pontuação máxima que a pessoa poderá atingir, ao responder o BDI-II. Dos 153 participantes dessa pesquisa 117 (75,5%), apresentaram nível mínimo de sintomas depressivos; 27 (17,4%) relataram índice leve de sintomatologia depressiva; 4 (2,6%) descreveram sintomas depressivos moderados; e 5 (3,2%) indicaram gravidade na sintomatologia depressiva (Tabela 8). Tabela 8 – Níveis de sintomas depressivos por idade Idade Minímo Níveis de sintomas depressivos Leve Moderado Grave 12 13 14 15 16 12 (7,8%) 36 (23,5%) 38 (24,8%) 25 (16,4%) 3 (2,0%) 5 (3,3%) 15 (9,8%) 5 (3,3%) 1 (0,7%) 1 (0,7%) 2 (1,3) 1 (0,7%) 1 (0,7%) - 1 (0,7%) 2 (1,3%) 2 (1,3%) - 17 3 (2,0%) - - - 117 (76,5%) 27 (17,6%) 4 (2,6%) 5 (3,3%) Total 50 Os adolescentes com 14, 16 e 17 anos não apresentaram níveis moderado e nem grave de sintomas depressivos. Dos 43 (%) adolescentes com 14 anos, 38 (24,8%) apresentaram nível mínimo e 5 (3,3%) relataram nível leve de sintomas depressivos (Tabela 8). Dos 20 (13,1%) adolescentes com 12 anos, desses 12 (7,8%) apresentaram nível mínimo; 5 (3,3%) nível leve; 2 (1,3) % nível moderado e 1 (0,7%) nível grave de sintomas depressivos. Os 54 (35,3%) respondentes com 13 anos, desses 36 (23,5%) relataram nível mínimo; 15 (9,8%) nível leve; 1 (0,7%) nível moderado; e 2 (1,3%) grave de sintomas depressivos (Tabela 8). Também, dos 29 (19,1%) adolescentes com 15 anos, 25 (16,4%) apresentaram nível mínimo; 1 (0,7%) demonstrou nível leve; 1 (0,7%) relatou nível moderado; e 2 (1,3%), índice grave de sintomas depressivos. Ainda não há segurança quanto às idades médias de começo da depressão na adolescência, porém, alguns autores apontam uma, provável, faixa etária de idade inicial abrangente que varia entre 13 e 19 anos de idade (BHALS, 2004). Observou-se que o nível grave de sintomas depressivos só foi relatado pelo sexo feminino 5 (3,3%), já o nível moderado de sintomas depressivos apareceram na mesma quantidade 2 (1,3%) em ambos os sexos (Tabela 9). Esses resultados estão de acordo com os achados de Rocha et al. (2006) que encontrou indicativo de transtornos depressivos, predominantemente em estudantes do sexo feminino. Tabela 9 – Níveis de sintomas depressivos por sexo Níveis de sintomas depressivos Masculino n ͦ (%) Feminino n ͦ (%) Mínimo Leve Moderado Grave Total 43 (28,1%) 6 (3,9%) 2 (1,3%) - 74 (48,4%) 21 (13,7%) 2 (1,3%) 5 (3,3%) 51 (33,3%) 102 (66,7%) Sobre a depressão na adolescência, Bhals (2002) lembra que adolescentes nessa condição precisam de cuidados e acompanhamento especializado. Contudo, os níveis moderado e grave de sintomas depressivos rastreados nos (5,9%) adolescentes dessa pesquisa não revelam que eles tenham a depressão. 51 Conforme lembra Gorenstein et al. (2011), os resultados do BDI-II não demonstram somente sintomas cognitivos e afetivos, também refletem sintomas somáticos e vegetativos da depressão, assim alguns pacientes poderão não indicar ideias suicidas, todavia, deixaram de alimentar-se ou de dormir. Cada pessoa poderá apresentar indicativos de sintomas depressivos de forma diferente, portanto, deverá ser avaliada considerando as suas particularidades. Outro aspecto relevante é que as escalas de autoaplicação estão sujeitas a resposta tendenciosa. Algumas pessoas poderão marcar mais sintomas do que realmente apresentam, assim, produzir pontuações altas de forma falseada, como também outras podem negar sintomas e obterem pontuações baixas (GORENSTEIN et al., 2011). Essas considerações evidenciam a necessidade de cautela na interpretação dos dados aferidos, pois o BDI-II apenas rastreia os sintomas depressivos, os seus resultados por si não representam um espelho do diagnóstico, esse demanda um processo de avaliação ampliado e cuidadoso, principalmente no período da adolescência. Foi realizada análise de comparação de médias, por meio do Teste t, encontraram-se diferenças entre os níveis de depressão apresentados pelo sexo feminino e masculino. O sexo feminino (͞x=12,7; dp= 6,1) demonstrou índices de depressão mais elevados que o sexo masculino (͞͞x=10,7; dp= 3,4), (t (151) = 2,18; p< 0,05). Esses resultados estão próximos dos achados de Gorenstein et al., (2011), no estudo de validação do BDI-II, eles encontraram nas adolescentes (͞x=13,2; dp= 9,6) níveis de depressão mais altos que nos adolescentes (͞x=9,4 dp= 8,2), (t (1100) = 58,0; p< 0,001). Conforme esses pesquisadores as diferenças de gênero observadas em todas as amostras dos escores do BDI-II corroboram a literatura que discute a temática. Esses dados se aproximaram dos resultados do estudo de Zinn-Souza et al. (2008), que encontrou uma prevalência de depressão de 7,5%, com níveis mais alto nas adolescentes. E também do estudo de Bhals (2002) que apontou a prevalência entre 3,3 a 12,4% de adolescentes com depressão. Além do mais, os resultados da presente pesquisa estão em consonância com 52 os achados de Santos (2009) com 2,9% dos 175 adolescentes com índice grave de depressão e o de Silva (2011) que relatou níveis elevados de depressão ao comparar com a média dos adolescentes brasileiros. Contudo, os dados do presente estudo estão distantes dos achados de prevalência de Jatobá e Bastos (2007), em 243 alunos verificou níveis expressivos de depressão em 59,9% deles, desses 34,3% apresentaram ideação suicida/tentativa de suicídio. Também da pesquisa de Abaid (2008) que apontou escores altos de depressão em 31,5% das 127 crianças e adolescentes em abrigos de proteção que participaram do estudo. E dos achados de Khalil et al. (2010), numa pesquisa com 602 adolescentes egípcia do sexo feminino, estimou-se a prevalência de depressão em 15,3% e ideação suicida de 13,3% nas participantes. No entanto, é importante ressaltar que apesar de o sexo feminino ter apresentado índices mais elevados de sintomas depressivos, por questões metodológicas, não é possível sugerir que houve prevalência de sintomas depressivos ―graves‖ nas adolescentes. Esse estudo foi de caráter descritivo exploratório e o número de participantes do sexo masculino foi menor que do sexo feminino. Também, cabe destacar que os participantes do presente estudo foram adolescentes e estudantes de uma população não clínica. Essa característica já diferencia-se da pesquisa de Abaid (2008) com adolescentes abrigadas, do estudo de Silva (2011) com adolescentes em medidas socioeducativas e a de Khalil et al. (2010) com jovens egípcias. Dos 153 adolescentes participantes da presente pesquisa, 4 relataram nível moderado de sintomas depressivos (2 do sexo feminino e 2 do sexo masculino) e 5 adolescentes do sexo feminino apresentaram nível grave de depressão. As análises de diferenças das médias de sintomas depressivos apresentadas por esses sexos demonstraram diferenças significativas, as meninas apresentaram níveis de sintomas depressivos mais elevados que os meninos. Com isso, é possível sugerir que os sintomas depressivos estão mais presentes no sexo feminino. De acordo a OMS (2000), o sexo feminino tem um índice mais elevado de depressão que o sexo masculino, porém elas dialogam mais sobre seus 53 problemas e procuram ajuda, o que pode contribuir para a prevenção de atos fatais. Garber (2006) afirma que as adolescentes têm mais risco do que os adolescentes para desenvolver depressão, mas os dois sexos podem responder de maneira similar a uma intervenção. Segundo o autor, intervenções com vista à aprendizagem de resolução de conflitos, enfrentamento e comunicação interpessoal podem possibilitar benefícios para as pessoas nessa condição. 4.4 A RELAÇÃO ENTRE SINTOMAS DEPRESSIVOS E HABILIDADES SOCIAIS Foi realizada a análise de correlação de Pearson com os dados dos escores brutos de sintomas depressivos, frequência e dificuldade de habilidades sociais e das subescalas de habilidades sociais dos participantes. Encontrouse uma correlação inversa entre sintomas depressivos e frequência de habilidades sociais (r= -0,67; p<0,01) e uma correlação positiva entre sintomas depressivos e dificuldade de habilidades sociais (r= 0,68; p<0,01). Segundo Dancey e Reidy (2006), correlações que se aproximam de 0,70 são consideradas fortes. A correlação negativa sugere que adolescentes com índices elevados de sintomas depressivos, tendem a suprimir comportamentos de frequência de habilidades sociais. Na correlação positiva encontrada nas variáveis sintomatologias depressiva e dificuldade na emissão de resposta ou ansiedade de resposta de habilidades sociais, os respondentes com níveis elevados de sintomas depressivos, possivelmente, demonstram problemas em contextos e situações que demandas interações sociais. Explorando os dados de frequência e de dificuldade de habilidades sociais das subescalas, encontraram-se mais algumas correlações. Verificou-se uma correlação negativa entre sintomas depressivos e as subescalas de civilidade (r= - 0,63; p<0,01); assertividade (r= - 0,62; p<0,01); e abordagem afetiva (r= - 0,59; p<0,01) de frequência de habilidades sociais. Também, encontrou-se uma correlação positiva entre os dados de sintomas depressivos e os de dificuldade de habilidades sociais das subescalas de empatia (r= 0,65; p<0,01); 54 civilidade (r= 0,67; p<0,01); assertividade (r= 0,63; p<0,01); abordagem afetiva (r= 0,64; p<0,01); e desenvoltura social (r= 0,59; p<0,01). As correlações negativas entre sintomas depressivos e subclasses de habilidades sociais possibilitam sugerir que, adolescentes com níveis elevados de sintomas depressivos podem apresentar baixa frequência de comportamentos de civilidade, assertividade e abordagem afetiva. Além disso, as correlações positivas entre sintomatologia depressiva e dificuldade na emissão de resposta de habilidades sociais permitem aludir que, adolescentes com níveis elevados de sintomas depressivos apresentam dificuldade de interação em diferentes situações, com diferentes interlocutores, a exemplo, de professores, colegas, amigos, pais, diretores, etc. e em diferentes contextos. Porém, tais resultados devem ser considerados com cautela, uma vez que as subescalas apresentaram baixo nível de consistência interna. As subclasses de habilidades sociais empatia, civilidade, assertividade abordagem afetiva e desenvoltura social envolvem diversos comportamentos de demanda do interlocutor ou contexto e do próprio adolescente na situação de interação social. Entre os comportamentos estão: o despedir-se de pessoas; agradecer elogios ou favores; elogiar; cumprimentar e realizar favores; defender seus direitos sem desrespeitar o interlocutor; negociar soluções em situações conflituosas; demonstrar desagrado; resistir à pressão do grupo; conversar com pessoas de autoridades; estabelecer contatos e conversações de amizade e de trabalho; expressar satisfação ou insatisfação a diferentes maneiras de carinho e relações de intimidade sexual; identificar sentimentos e problemas do outro; guardar segredos e preocupar se com o bem estar do outro (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Além disso, Del Prette e Del Prette (2010) salientaram que o funcionamento cognitivo das pessoas com depressão tem um papel importante em suas dificuldades interpessoais. E que o excesso de autocriticismo, a negação da autoeficácia, a baixa autoestima e as crenças distorcidas, geralmente estão relacionadas às dificuldades da pessoa com depressão para manter conversações interessantes, agir nas defesas dos próprios direitos e demonstrar empatia. 55 A análise dos dados sobre a correlação entre sintomas depressivos e as subclasses de frequência e de dificuldade de habilidades relatados pelos adolescentes corrobora a Caballo (2010) que considera os programas de Treino de Habilidades Sociais como uma estratégia eficaz para o tratamento da depressão. Assim, ele considera a premissa de que o comportamento depressivo está relacionado com o funcionamento interpessoal inadequado. Conforme o pesquisador, esses programas centraram nos repertórios comportamentais de asserção negativa (defesa dos seus direitos e ação com base nos seus próprios interesses), asserção positiva (expressão de sentimentos positivos acerca de outras pessoas e apresentação de desculpas apropriadas) e nas habilidades de conversação (fazer perguntas, fazer autorrevelações apropriadas e encerrar conversas) que parecem ser especificamente relevantes para a pessoa com depressão. Além das habilidades concretas, como apontam Friedberg e McClure (2004), adolescentes deprimidos podem necessitar de ser educados em comportamentos não verbais e podem se beneficiar com a leitura da linguagem corporal, com o contato visual, as observações de sinais sociais de outras pessoas. Para fins de melhor compreensão da relação entre depressão e habilidades sociais, procedeu-se à análise dos resultados na distribuição entre as categorias de níveis de sintomas depressivos e de habilidades sociais, conforme as categorias propostas pelos autores dos instrumentos BDI-II e IHSA- Del Prette (2009). Os participantes com índices de sintomas depressivos mínimos e leves foram categorizados sem sintomas depressivos e os que apresentaram níveis moderados e graves de depressão foram considerados com sintomas depressivos. Esses resultados foram cruzados com a frequência de habilidades sociais dos participantes, categorizados em repertório elaborado, bom e inferior a médio (Tabela 10). Conforme esses dados, os 144 adolescentes sem sintomas depressivos, em relação à frequência de habilidades sociais, desses 69 (47,9%) relataram elaborado repertório e 75 (52,1%) bom repertório de habilidades sociais. Dos 9 (100%) adolescentes com sintomas depressivos, 7 (77,8%) relataram repertório 56 de frequência de habilidades sociais inferior a médio e 2 (22,2%) apresentaram bom repertório de frequência de habilidades sociais (Tabela 10). Tabela 10 – Relação entre sintomas depressivos e frequência de habilidades sociais Repertório de habilidades sociais Sem sintomas depressivos n ͦ (%) Com sintomas depressivos n ͦ (%) Elaborado Bom Inferior à média Total 69 (47,9%) 75 (52,1%) 144 (100%) 2 (22,2%) 7 (77,8%) 9 (100%) A esses resultados de déficit nas interações sociais dos participantes dessa pesquisa com sintomas depressivos corroboram com Rockhill et al. (2009), ao sugerirem que adolescentes com sintomatologia depressiva demonstram baixa frequência de habilidades sociais, assim como Gresham, Cook e Crews (2004), ao apontarem que adolescentes com níveis elevados de depressão têm restritas interações sociais. E Witvliet et al. (2010) que consideraram o afastamento do adolescente dos pares, um fator crítico para o aumento da sintomatologia depressiva. Os dados dos participantes com sintomas depressivos e sem sintomas depressivos foram cruzados com os resultados de dificuldade de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais. Verificou-se que do total de 144 adolescentes sem sintomas depressivos, 77 (55,0%) deles têm médio custo de resposta ou ansiedade na emissão de comportamentos de habilidades sociais. E com baixo custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais, encontrou-se 67(45,0%) adolescentes (Tabela 11). Tabela 11 - Relação entre sintomas depressivos e dificuldades de habilidades sociais Dificuldade de habilidades sociais Alto custo Sem sintomas depressivos n ͦ (%) - Médio custo Baixo custo Total 77 (55,0%) 67 (45,0%) 144 (100%) Com sintomas depressivos n ͦ (%) 8 (88,9%) 1 (11,1%) 9 (100%) Dos nove respondentes com sintomas depressivos, 8 (88,9%) deles relataram alto custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais e, apenas, 1 (11,1%) demonstrou médio custo de resposta ou ansiedade na 57 emissão de comportamentos de habilidades sociais. Os dados apontaram que 144 adolescentes relataram médio custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais, aspecto que possibilita sugerir medidas psicoeducativas, com vista nas suas interações sociais enquanto elementos protetores da saúde mental e favorecedores do seu bem-estar. Na adolescência, um número considerável de transformações, num período curto de tempo, possibilita certa inquietação relacionada ao desenvolvimento de problemas ligados à saúde mental (BAPTISTA; BAPTISTA; DIAS, 2001).Segrin (2000) considerou três hipóteses na relação entre habilidades sociais e depressão: o déficit de habilidades sociais como causa de depressão; a depressão como causa do déficit de habilidades sociais; e restritas habilidades sociais como fator vulnerável à depressão. Considerando a suposição de Segrin (2000) da depressão como causa do deficitário repertório de habilidades sociais, é possível sugerir que os 2 (22,2%) adolescentes dessa pesquisa com sintomas depressivos e com bom repertório de frequência de habilidades sociais, futuramente, poderão apresentar frequência inferior de habilidades sociais. A partir do pressuposto de Segrin (2000), do deficitário repertório de habilidades sociais como possível fator de vulnerabilidade para o desenvolvimento da depressão, é possível sugerir que os 75 (52,1%) adolescentes deste estudo sem depressão e com repertório moderado de frequência de habilidades sociais, encontram-se numa zona fragilizada, favorável ao desenvolvimento de sintomas depressivos a nível moderado ou grave. Na análise da correlação de Pearson, os valores elevados na frequência de habilidades sociais implicaram valores baixos de sintomatologia depressiva e vice-versa. Os níveis altos de sintomas depressivos sugeriram dificuldade de emissão de resposta ou ansiedade de habilidades sociais. Os achados da presente pesquisa sugerem que há uma relação entre sintomas depressivos e repertório de habilidades sociais em adolescentes, corroborando com os achados dos estudos anteriores (CAMPOS, 2009; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010; FERNANDES; FALCONE, 2009; GOLDSTEIN; MIKLOWITZ; MULLEN, 2006; GRESHAM; COOK; CREWS, 2004; HOROWITZ, 2007; 58 ROCKHILL et al. 2009; SELIGMAN, 1977; TAVARES, 2005; YOUNG; MUFSON; GALLOP, 2010). Independentemente do sexo, adolescentes com níveis elevados de sintomas depressivos poderão ter sua qualidade de vida e bem-estar comprometidos. Supõe-se que sintomas depressivos relacionados a déficits nas habilidades sociais podem prejudicar os adolescentes em áreas importantes do seu desenvolvimento, entre elas, nas relações com os pares, com os familiares, com os colegas do contexto profissional e do contexto escolar. Na análise de Silva e Murta (2009), déficits em habilidades sociais na adolescência podem afetar fases posteriores do ciclo vital. Considera-se que programas com foco nas interações sociais favorecem mudanças no quadro clínico de depressão (CAMPOS, 2009; GUNLICKS-STOESSEL et al. 2010; HOROWITZ, 2007; YOUNG; MUFSON; GALLOP, 2010). Com isso sugerem-se investimentos voltados para o Treino de Habilidades Sociais dos nove adolescentes desse estudo que relataram níveis críticos de sintomas depressivos e descreveram fragilizadas interações sociais, tal intervenção poderá contribuir com a regulação emocional deles. Além disso, é relevante pensar e propor medidas interventivas de caráter interdisciplinar, articulando as áreas de políticas públicas de saúde do adolescente, políticas educativas e projetos sociais. Destaca-se, a importância de um olhar integral para os adolescentes que demandam melhoras nas interações sociais, principalmente, as relacionadas a sintomas e indicadores de sintomas depressivos. 59 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa se propôs a descrever a relação entre sintomas depressivos e o repertório de habilidades sociais em adolescentes, relacionando a sintomatologia depressiva à frequência e dificuldades de habilidades sociais; identificar os níveis de sintomas depressivos apresentados pelos participantes; caracterizar o repertório de habilidades sociais dos adolescentes; e contribuir com a construção de conhecimento sobre a depressão na adolescência na perspectiva das interações sociais. Entre os achados, encontrados em conformidade com esses objetivos, aponta-se a existência de uma correlação inversa entre sintomas depressivos e frequência de habilidades sociais e uma correlação positiva entre sintomatologia depressiva e dificuldade de habilidades sociais. Assim, é possível sugerir que há relação entre sintomas depressivos e repertório de habilidades sociais de adolescentes. Além disso, foi aferida a presença elevada de sintomatologia depressiva em nove participantes do estudo, desses sete foram do sexo feminino. Quatro adolescentes relataram nível moderado de sintomas depressivos e cinco descreveram nível grave. Quanto às habilidades sociais, dezenove adolescentes relataram indicadores de repertório altamente elaborado de habilidades sociais; cinquenta apresentaram repertório elaborado de habilidades sociais; setenta e seis descreveram bom repertório de habilidades sociais; e oito indicaram repertório abaixo da média inferior de habilidades sociais. E não houve respondentes que com repertório médio inferior de habilidades sociais. Na dificuldade de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais, encontraram-se oito adolescentes com alto custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais; setenta e oito com médio custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais; e sessenta e sete demonstraram baixo custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais. Não houve diferenças significativas entre as médias nos escores de frequência e de dificuldade de habilidades sociais entre os sexos. 60 Os resultados da pesquisa apresentam algumas contribuições, entre elas, possibilita sugerir o Treino de Habilidades Sociais educativas como um elemento favorecer do desenvolvimento socioemocional dos adolescentes com níveis elevados de sintomas depressivos e com fragilizadas interações sociais. Essa medida interventiva poderá amenizar conflitos, indisciplina e violência nesse contexto, uma vez que o repertório de habilidades sociais adequado favorece a competência social, respostas adaptativas em situações adversas e contribui com a elevada autoestima, o autoconceito positivo e a aprendizagem. Além disso, com base nos achados da pesquisa, é relevante, portanto, que essa problemática seja analisada na escola pelos professores, coordenadores e familiares. A construção de projeto com foco nas habilidades sociais poderá ser um dos objetivos das atividades educativas, visando atender as demandas afetivas dos adolescentes. Por outro lado, os resultados dessa pesquisa poderão subsidiar ações interventivas em redes, considerando o nível micro e intersetorial, envolvendo escola, instituição de assistência social, religiosa e rede de saúde da área adscrita do adolescente. E, também, a nível macro com políticas públicas direcionadas aos adolescentes para potencializar as habilidades sociais enquanto fatores de promoção e proteção da saúde dessa população. Contudo, a pesquisa apresenta algumas limitações, entre elas: a escolha dos participantes foi por conveniência; a quantidade dos respondentes não foi abrangente e representativa dos adolescentes da escola, por isso, não é viável generalizar os resultados para esse universo. Ademais, não foi realizado o diagnóstico clínico dos participantes que apresentaram sintomatologia depressiva, portanto, é necessário ter cuidado no uso dos resultados encontrados. No Brasil, ainda há poucos estudos que focalizam essa temática, portanto, essa pesquisa contribui com o debate inicial. Contudo, não supre a lacuna de conhecimento a respeito da relação entre sintomatologia depressiva e habilidades sociais de adolescentes do contexto brasileiro. Por conseguinte, em pesquisas futuras sugere-se a replicação desse estudo, incluindo um número de participantes representativo dessa faixa etária e de diferentes localidades do país. Também, é interessante o uso de 61 procedimentos metodológicos diversificados, incluindo delineamentos longitudinais, multimodais e programas avaliativos e interventivos de Treino de Habilidades sociais para adolescentes com índices elevados de sintomas depressivos. 62 REFERÊNCIAS ABAID, J. L. W.. Vivências adversas e depressão: um estudo sobre crianças e adolescentes institucionalizados. Porto Alegre. 2008. 89 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/13406/000641407.pdf?seque nce=1>. Acesso em: 14 mar. 2012. ABRAMOVITCH, S.; MOREIRA, M. L.. Transtornos psiquiátricos. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. 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Acesso em: 12 jun. 2011. 71 APÊNDICES 72 APÊNDICE A- Questionário sociodemográfico Nome: ____________________________ Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) Data de Nascimento: ___/ _____/ ______ Idade ______________________ Endereço:___________________________________ Telefone: ___________ Sou estudante do Mestrado em Psicologia da Universidade Católica de Brasília e estamos desenvolvendo essa pesquisa com adolescentes. Estamos aplicando esse questionário para obter informações sobre você. Desde já, agradecemos pela sua colaboração! 1- Onde você mora? Zona rural ( ) Zona urbana ( ) 2- Com quem você mora? Pais ( ) Outras ( ) _______________________ 3- Você têm irmãos? Sim ( ) Não ( ) Quantos? ______________________ 4- Seus pais são vivos? Sim ( ) Não ( ) 5- Qual o tipo de sua residência? ( ) Própria ( ) Alugada ( ) Instituição ( ) Outras _____________________ 6- Qual o valor de sua renda familiar? ( ) Até 2 salários mínimos ( ) 2 a 4 salários mínimos ( ) 4 a 10 salários mínimos ( ) 10 a 20 salários mínimos ( ) Acima de 20 salários mínimos 7- Você pratica alguma religião? Sim ( ) Não ( ) Qual? ___________________________ 73 APÊNDICE B- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o responsável Como responsável pelo aluno (a) ______________________________ _______________________________________ solicito sua autorização para ele (a) participar da pesquisa: “A Relação entre Sintomas Depressivos e Habilidades Sociais em Adolescentes do Ensino Fundamental”, sob responsabilidade da mestranda Maria Luzia da Silva Santana e sob orientação das Profª. Drª. Erenice Natália Soares de Carvalho e Drª. Cláudia Cristina Fukuda. O objetivo dessa pesquisa é descrever a relação entre sintomas depressivos e o repertório de habilidades sociais em adolescentes, relacionando os níveis de depressão à frequência e dificuldades de habilidades sociais. Essa pesquisa justifica-se, pelo fato da ocorrência de depressão em adolescentes e a necessidade de ampliar o conhecimento sobre esse tema. O aluno (a) participante dessa pesquisa receberá todos os esclarecimentos necessários antes e no decorrer da pesquisa e lhe asseguramos que o seu nome não aparecerá sendo mantido o mais rigoroso sigilo através da omissão total de quaisquer informações que permitam identificá-lo (a). Ele (a) pode se recusar a responder qualquer instrumento ou questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de participar da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo para ele (a). A participação dele (a) será para responder por escrito e em sala de aula 3 instrumentos: a) um questionário sociodemográfico, b) o Inventário de Depressão Beck– BDI-II e c) o Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes- IHSA. O tempo estimado para a aplicação destes instrumentos será de 1 hora e ocorrerá sob a orientação da pesquisadora, numa sala de aula reservada para esse fim. Os resultados da pesquisa serão divulgados na Universidade Católica de Brasília podendo ser publicados posteriormente. Os dados e materiais utilizados na pesquisa ficarão sobre a guarda da pesquisadora. Essa pesquisa possui os seguintes benefícios: contribuição pessoal para o desenvolvimento de um estudo científico que possibilita pensar sobre prevenção, controle, diagnóstico, acompanhamento e medidas psicoeducativas direcionadas a 74 adolescentes. Aponta-se como risco de pesquisa o cansaço durante a aplicação dos instrumentos e se necessário o aluno (a) participante será encaminhado para o Serviço de Orientação Individual (SOI) e para o serviço de saúde da localidade. Se o (a) Senhor (a) tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor, telefone (61) 86059277 para: Mestranda Maria Luzia da Silva Santana. Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UCB,número do parecer: 393.089. As dúvidas com relação à assinatura deste Termo de Consentimento ou os direitos do sujeito da pesquisa podem ser obtidos também pelo telefone: (61) 3356-9784. Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a outra com o voluntário da pesquisa. ______________________________________________________ Assinatura do responsável pelo adolescente ____________________________________________ Maria Luzia da Silva Santana (Pesquisadora responsável pela pesquisa) Planaltina- DF, 2013. 75 APÊNDICE C- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o adolescente Você está sendo convidado (a) para participar da pesquisa: ―A Relação entre Sintomas Depressivos e Habilidades Sociais em Adolescentes do Ensino Fundamental”, sob responsabilidade da mestranda Maria Luzia da Silva Santana e sob orientação das Profª. Drª. Erenice Natália Soares de Carvalho e Drª. Cláudia Cristina Fukuda. O objetivo dessa pesquisa édescrever a relação entre sintomas depressivos e o repertório de habilidades sociais em adolescentes, relacionando os níveis de depressão à frequência e dificuldades de habilidades sociais. Essa pesquisa justifica-se, pelo fato da ocorrência de depressão em adolescentes e a necessidade de ampliar o conhecimento sobre esse tema. O (a) participante dessa pesquisa receberá todos os esclarecimentos necessários antes e no decorrer da pesquisa e lhe asseguramos que o seu nome não aparecerá sendo mantido o mais rigoroso sigilo através da omissão total de quaisquer informações que permitam identificá-lo (a). Você pode se recusar a responder qualquer instrumento ou questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de participar da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo. A sua participação será para responder por escrito e em sala de aula 3 instrumentos: a) um questionário sociodemográfico, b) o Inventário de Depressão Beck– BDI-II e c) o Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes- IHSA. O tempo estimado para a aplicação destes instrumentos será de 1 hora e ocorrerá sob a orientação da pesquisadora, numa sala de aula reservada para esse fim. Os resultados da pesquisa serão divulgados na Universidade Católica de Brasília podendo ser publicados posteriormente. Os dados e materiais utilizados na pesquisa ficarão sobre a guarda da pesquisadora. Essa pesquisa possui os seguintes benefícios: contribuição pessoal para o desenvolvimento de um estudo científico que possibilita pensar sobre prevenção, controle, diagnóstico, acompanhamento e medidas psicoeducativas direcionadas a adolescentes. Aponta-se como risco de pesquisa o cansaço durante a aplicação dos instrumentos e se necessário você será acompanhado para o 76 Serviço de Orientação Individual (SOI) e encaminhado ao serviço de saúde da localidade. Se você tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor, telefone (61) 86059277 para: Mestranda Maria Luzia da Silva Santana. Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UCB, número do parecer:393.089. As dúvidas com relação à assinatura deste Termo de Consentimento ou os direitos do sujeito da pesquisa podem ser obtidos também pelo telefone: (61) 3356-9784. Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a outra com o voluntário da pesquisa. ______________________________________________________ Assinatura do adolescente ____________________________________________ Maria Luzia da Silva Santana (Pesquisadora responsável pela pesquisa) Planaltina-DF, 2013. 77 APÊNDICE D - Carta Convite Estamos lhe convidando para participar da pesquisa: “Relação entre sintomas depressivos e habilidades sociais em adolescentes do Ensino Fundamental”, mediante a sua autorização para que o aluno (a) _____________________________________ seja incluído nesse estudo. A pesquisa está sendo desenvolvida sob responsabilidade da mestranda Maria Luzia da Silva Santana e sob orientação das Profª. Drª. Erenice Natália Soares de Carvalho e Drª. Cláudia Cristina Fukuda. A participação do aluno (a) nesse estudo contribuirá com o desenvolvimento de conhecimento científico que possibilita pensar sobre prevenção, controle, diagnóstico, acompanhamento e medidas psicoeducativas direcionadas a adolescentes. O aceite em participar do estudo será realizado mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido sendo que uma cópia dele ficará com o (a) senhor (a) e a outra será encaminhada de volta para a pesquisadora responsável. Agradecemos a sua colaboração ____________________________________________ Maria Luzia da Silva Santana (Pesquisadora responsável pela pesquisa) Planaltina-DF, 2013. 78 ANEXO 79 ANEXO A - Folha de Aprovação do Comitê de Ética 80