Análise do Infarto do Miocárdio com Ênfase no

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Internacional Journal of Cardiovascular Sciences. 2015;28(6):504-510
ARTIGO DE REVISÃO
Análise do Infarto do Miocárdio com Ênfase no Supradesnivelamento do
Segmento ST e Escores
Myocardial Infarction Analysis Based on ST-Segment Elevation and Scores
Laíse Oliveira Resende1, João Batista Destro Filho2, Rodrigo Varejão Andreão3,
Elmiro Santos Resende4, Lucila Soares da Silva Rocha4, Geraldo Rubens Ramos de Freitas4
Universidade Federal de Uberlândia – Programa de Pós-gradução (Doutorado em Ciências) – Uberlândia, MG – Brasil
Universidade Federal de Uberlândia – Faculdade de Engenharia Elétrica – Uberlândia, MG – Brasil
3
Instituto Federal do Espírito Santo – Departamento de Engenharia Elétrica – Vitória, ES – Brasil
4
Universidade Federal de Uberlândia – Faculdade de Medicina – Uberlândia, MG – Brasil
1
2
Resumo
Esta revisão é dedicada às principais questões relativas às alterações do segmento ST durante o infarto agudo do
miocárdio (IAM), que podem ser estimadas a partir de eletrocardiograma (ECG). São discutidos o diagnóstico, o
prognóstico, o tratamento e as desvantagens associadas a esta metodologia. Por fim, as principais avaliações
quantitativas do IAM com base nas modificações do ECG são comparadas e discutidas no contexto dos sistemas
de telemedicina.
Palavras-chave: Eletrocardiografia; Infarto do miocárdio; Telemedicina
Abstract (Full texts in English - www.onlineijcs.org)
This review focuses on the major issues regarding ST segment abnormalities during acute myocardial infarction (AMI), which may
be estimated from electrocardiogram (ECG) tests. Diagnosis, prognosis, treatment and the drawbacks associated to this methodology
are discussed. Finally, the major AMI quantitative assessments based on ECG deviations are compared and discussed in the context
of telemedicine systems.
Keywords: Electrocardiography; Myocardial infarction; Telemedicine
Introdução
Em 2004, as doenças do aparelho cardiovascular foram
responsáveis por 10,49% das internações hospitalares e
por 285 543 óbitos no Brasil, representando o infarto
agudo do miocárdio (IAM) 65 482 destes, o que
corresponde a 22,93% das mortes ocasionadas por
doenças do aparelho cardiovascular e 6,39% do total1.
O paciente infartado pode apresentar sintomas
isquêmicos típicos (com dor precordial ou
retroesternal) ou atípicos2,3. A dor pode se irradiar
para os membros superiores, mandíbula, pescoço,
costas ou abdome 4,5 . Nos sintomas isquêmicos
atípicos, os principais achados são: dispneia (49,3%),
diaforese (26,2%), náusea ou vômitos (24,3%) e présíncope ou síncope (19,1%) 2,3. O diagnóstico dos
pacientes com sintomas atípicos pode ser difícil,
recebendo estes, em 23,8% dos casos, diagnósticos
incorretos 2. Além disso, devido ao atraso para
comparecer ao serviço de saúde, há maior mortalidade
nessas circunstâncias2.
Correspondência: Laíse Oliveira Resende
Av. João Naves de Ávila, 2121 – Santa Mônica – Uberlândia, MG – Brasil
E-mail: [email protected]
DOI: 10.5935/2359-4802.20150074
Artigo recebido em 08/08/2015, aceito em 15/01/2016, revisado em 25/01/2016.
Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(6):504-510
De acordo com diretrizes atuais, para o diagnóstico do
IAM é necessário que o paciente apresente, além da
elevação sérica de marcadores bioquímicos relacionados
à necrose do músculo cardíaco, pelo menos mais uma
das seguintes condições: sintomas de isquemia
(geralmente identificada pela dor precordial) ou
alterações do ECG4,5. Das condições mencionadas, a mais
importante e considerada necessária para o diagnóstico
de IAM é a elevação dos marcadores bioquímicos3,4.
Novas técnicas de aquisição eletrônica de sinais têm
permitido a digitalização dos eletrocardiogramas,
diretamente ou a partir de sinais analógicos impressos6,7.
Também é possível transmitir o sinal do ECG a locais
distantes para análise de especialistas, proporcionando
atendimento mais eficiente nos casos de dor torácica8.
Ambas as situações permitiram a instalação de centros
de telemedicina que viabilizam o intercâmbio de
informações e discussões entre profissionais da área,
maior acessibilidade dos registros arquivados e
possibilidade de análise digital de suas alterações. Essas
facilidades suscitaram a possibilidade de realização de
cálculos automatizados para melhor compreender o
processo fisiopatológico do IAM e sua evolução clínica,
auxiliando e avaliando as condutas terapêuticas9-11.
Este artigo tem como objetivo a revisão de estudos que
tratam das alterações eletrocardiográficas no IAM, com
enfoque especial nas alterações do segmento ST, nos
escores existentes e nas técnicas que ampliam o valor
clínico do ECG, tendo por base as novas incorporações
tecnológicas na área.
O ECG no IAM
O IAM pode ser classificado quanto à presença (IAMEST)
ou não (IAMSEST) do supradesnivelamento do segmento
ST no ECG. O IAMEST constitui evento de maior
gravidade dentre as síndromes isquêmicas, acometendo,
em geral, toda a espessura da parede cardíaca12.
Devido ao tempo necessário após a ocorrência da necrose
miocárdica para que a elevação dos marcadores
bioquímicos possa ser detectada no plasma3, pela presença
de sintomas atípicos2 ou mesmo ausência deles2,13, o ECG
constitui ainda a principal ferramenta para o diagnóstico
precoce do IAM e para a tomada de decisão quanto ao
tratamento a ser instituído3. Por sua fácil execução e baixo
custo, o ECG é o exame mais utilizado nas primeiras horas
após apresentação do paciente e no acompanhamento da
evolução clínica do IAM.
Quando um paciente apresenta IAMEST, há uma
evolução natural bem conhecida do traçado
Resende et al.
Análise do IAM com Ênfase no Segmento ST e Escores
eletrocardiográfico5. Decorridos alguns
minutos da oclusão arterial, surge
elevação do ponto J e desenvolvimento
de ondas T espiculadas e aumentadas;
logo a seguir, aparece elevação do
segmento ST nas derivações relacionadas
ao IAM e concomitante depressão deste
em derivações opostas às primeiras,
constituindo a imagem em espelho ou
efeito recíproco14. As ondas Q anormais
geralmente aparecem no primeiro dia
do IAM. Posteriormente, há regressão
do segmento ST ao seu estado inicial e
inversão da onda T, o que pode demorar
horas a dias após o evento.
O Segmento ST no IAMEST
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ABREVIATURAS E
ACRÔNIMOS
•ACC – American College
of Cardiology
•ECG – eletrocardiograma
•ESC – European Society
of Cardiology
•FEVE – fração de ejeção
do ventrículo esquerdo
•IAM – infarto agudo do
miocárdio
•IAMEST – infarto
agudo do miocárdio com
supradesnivelamento do
segmento ST
•IAMSEST – infarto
agudo do miocárdio sem
supradesnivelamento do
segmento ST
O segmento ST é medido a partir do
ponto J, onde termina a inscrição do
complexo QRS, apresentando
concavidade para cima em uma situação normal. Já sua
parte final não é bem definida, pois se confunde com a
extremidade do ramo ascendente da onda T14. Quando
ocorre o supradesnivelamento do ST no IAM podem ser
adotados vários critérios para sua análise. Podem-se
observar os pontos J, J+20 ms, J+40 ms, J+60 ms ou
J+80 ms.
O segmento ST é isoelétrico em condições normais e,
portanto, para que o supradesnivelamento seja medido,
faz-se necessário, em primeiro lugar, determinar uma
linha de base. Esta última é estabelecida traçando-se
uma reta entre dois pontos do ECG. A confecção da
linha de base varia de estudo para estudo, sendo
utilizados o segmento PR15,16, o segmento TP15,17-22 e o
segmento PQ23.
Uma vez estabelecida a linha de base, deve-se medir a
distância desta até o final do complexo QRS, determinadose assim a altura do ponto J. Sequencialmente, medem-se
os pontos localizados a 20 ms, 40 ms, 60 ms e 80 ms do
ponto J, conforme os interesses do estudo.
O supradesnivelamento do segmento ST pode ser
utilizado para avaliar a evolução clínica do paciente
infartado. As principais aplicações relatadas na literatura
são discutidas a seguir:
Avaliação do prognóstico do paciente – Pacientes com
maior elevação do segmento ST, nas primeiras 24 horas
após início dos sintomas, apresentam maior possibilidade
de apresentar fibrilação atrial, bloqueio atrioventricular
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Resende et al.
Análise do IAM com Ênfase no Segmento ST e Escores
Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(6):504-510
Artigo de Revisão
de 1º e 2º graus, extrassístoles ventriculares, taquicardia
ventricular, fibrilação ventricular, choque cardiogênico
e óbito17. Essas complicações se correlacionam melhor
com a amplitude da elevação do segmento ST do que
com o número de derivações que apresentam essa
alteração.
Schröder et al.24 analisaram dois eletrocardiogramas por
paciente: o primeiro realizado em até 6 horas após início
dos sintomas de IAM e o segundo entre 2-4 horas após
o tratamento trombolítico. Observaram a regressão do
supradesnivelamento do ST ao seu estado original e
puderam perceber que esta, quando ocorre em até 3 horas
após o tratamento trombolítico, se mostra como melhor
variável isolada para prever a mortalidade precoce. Os
pacientes com menor regressão do segmento ST
apresentaram, ainda, maior incidência de taquiarritmias,
choque cardiogênico e insuficiência cardíaca.
Recuperação funcional do miocárdio – Lancellotti et al.25
encontraram forte correlação entre a existência de
supradesnivelamento do ST durante exames de estresse
induzidos por exercício e por dobutamina, em pacientes
com 6,0±2,0 dias contados desde a admissão em serviços
de saúde e melhor recuperação da função miocárdica um
mês após o referido teste. Perceberam, ainda, a
proporcionalidade entre a somatória da elevação do
segmento ST nas várias derivações em exame de estresse
induzido por dobutamina e a magnitude da recuperação
miocárdica, avaliada pelo ecocardiograma. A elevação
do segmento ST nesses casos representa, provavelmente,
área com atividade metabólica residual e com
possibilidade de recuperação.
Disfunção miocárdica – Elhendy et al. , ao comparar
MIBI SPECT e ecocardiograma com ECG, encontraram
em pacientes com IAM recente (<1 mês), correlação entre
o supradesnivelamento do ST durante o estresse induzido
por dobutamina e função reduzida do ventrículo
esquerdo.
23
Lancellotti et al.25 também encontraram correlação entre
o supradesnivelamento do ST e função regional
miocárdica reduzida. Porém, em tal estudo, a conclusão
foi obtida a partir dos resultados do ECG e do
ecocardiograma, ambos em repouso.
Oclusão coronariana – No estudo de Elhendy et al.23
foi possível, ainda, encontrar correlação entre elevação
do segmento ST em estresse induzido por dobutamina
nos pacientes com IAM e ocorrência de oclusão total
de uma ou mais artérias coronárias evidenciada pela
angiografia.
Diagnóstico de IAM – O diagnóstico de IAM, no ECG,
é possível apenas pela observação da elevação do
segmento ST em mais de 80% dos casos18,26. O Joint
Committee of the European Society of Cardiology (ESC)4 e o
American College of Cardiology (ACC)4, em documento de
consenso redefinindo infarto do miocárdio, reafirmam
ser o supradesnivelamento do ST consequência de uma
mudança isquêmica do miocárdio, e capaz de diagnosticar
o IAM3-5. Para ser considerado em tal diagnóstico, o
supradesnivelamento do ST deve ser presumivelmente
novo e aparecer em duas ou mais derivações contíguas,
apresentando amplitude ≥2 mm de V1 a V3 ou ≥1 mm nas
outras derivações sempre medido no ponto J3-5.
Tratamento do IAM – Na literatura médica, há registros
da regressão da elevação do segmento ST após tratamento
do IAM4,15,24,26. Muitos se referem a uma regressão do
supradesnivelamento do ST que ocorre de forma
acelerada após a reperfusão coronariana eficiente24,26. O
supradesnivelamento do ST persistente pode indicar
reoclusão coronariana intermitente 26. Tratamentos
diversos com hialuronidase, nitroglicerina, propranolol,
balão de contrapulsação aórtico e administração de
oxigênio já foram identificados como capazes de reduzir
a somatória da amplitude da elevação do segmento ST
nas várias derivações, bem como o número de derivações
apresentando essa alteração, indicando provavelmente
resultados benéficos desses tratamentos15.
Outros estudos encontraram correlação entre maior
amplitude da elevação do segmento ST e a eficácia
aumentada de tratamentos trombolíticos26.
Localização do IAM – Blanke et al.18 identificaram o
supradesnivelamento do segmento ST como a alteração
mais encontrada em pacientes com oclusão em alguma
das artérias coronárias relacionadas ao IAM. Cada uma
das coronárias, quando obstruída, ocasiona
supradesnivelamento do ST com maior frequência em
determinadas derivações, a saber: artéria descendente
anterior (ADA) - V2, artéria coronária direita (ACD) – D3
e artéria circunflexa (ACX) - V6.
A somatória da elevação do segmento ST, nas várias
derivações, é referida em estudos como reflexo da
gravidade isquêmica no tecido cardíaco, enquanto o
número de derivações com supradesnivelamento do ST
se relaciona com a extensão da isquemia15,17.
Problemas no uso clínico do supradesnivelamento do
segmento ST – O aparecimento do supradesnivelamento
de ST e sua análise apresentam, no entanto, problemas,
assim como todos os demais recursos para o diagnóstico
Int J Cardiovasc Sci. 2015;28(6):504-510
de IAM. Existem situações que causam alterações no
traçado eletrocardiográfico e dificultam sua interpretação,
tais como bloqueios de ramo, presença de marca-passos15
e alterações da frequência cardíaca26. Fatores relacionados
às limitações técnicas da realização do ECG podem causar
variações nos sinais captados, dentre esses se destacam
as variações na resistência dos tecidos, a distância dos
eletrodos posicionados em relação à área epicárdica
isquêmica, as variações de posição anatômica do coração
no tórax e a projeção variável da área infartada em relação
à parede torácica15.
Alguns pacientes podem ainda apresentar demora no
aparecimento das transformações no ECG, mudanças
inespecíficas ou IAM com o ECG se mantendo normal
ou muito pouco alterado26.
Existem outras doenças que também podem ocasionar
supradesnivelamento do segmento ST: o bloqueio de
ramo direito ou esquerdo, a hipertrofia ventricular
esquerda, a miocardite aguda, a dissecção aórtica, o
tromboembolismo pulmonar agudo, várias anormalidades
do sistema nervoso central e autônomo, overdose de
antidepressivos tricíclicos, a distrofia muscular de
Duchene, a ataxia de Friedreich, a deficiência de tiamina,
a hipercalcemia, a hipercalemia, a intoxicação aguda por
cocaína, presença de tumor de mediastino comprimindo
a via de saída do ventrículo direito, a displasia ou
cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito, a
síndrome do QT longo, a síndrome da repolarização
precoce, a síndrome de Brugada27, a redução da pressão
arterial e a pericardite15.
Ainda assim, o supradesnivelamento do ST é uma
importante ferramenta para o diagnóstico e
acompanhamento de pacientes com IAM e, apesar dos
vários fatores que dificultam a sua utilização, seu estudo
continua a ser de grande importância clínica.
Devido à existência dos problemas mencionados e
daqueles relativos ao segmento ST, outras alterações no
ECG do paciente infartado são amplamente estudadas e
servem como apoio às limitações existentes na utilização
isolada daquela análise. Com base em comparações dos
traçados eletrocardiográficos, achados anatomopatológicos
e epidemiológicos foi possível a confecção de vários
escores e métodos que permitem melhor entender a
evolução do quadro isquêmico do miocárdio.
Refinando a informação extraída do ECG
O ECG é, portanto, de grande importância para se avaliar
e diagnosticar a etiologia da precordialgia aguda e,
devido a sua grande aplicabilidade na prática clínica, tem
Resende et al.
Análise do IAM com Ênfase no Segmento ST e Escores
sido objeto de muitos estudos que se dedicam a refinar
sua capacidade de estimar a área isquêmica, a gravidade
da isquemia, a área em risco, a quantidade de miocárdio
já necrosado, a presença e a qualidade da reperfusão
obtida28.
Para que essas estimativas sejam feitas é importante
observar a porção inicial do complexo QRS (onda Q e
onda R), o segmento ST e a onda T no traçado
eletrocardiográfico. Nesses estudos, cada uma dessas
variáveis é avaliada isoladamente ou acrescida de outros
aspectos clínicos, laboratoriais e exames de imagem, com
base em análises de covariância ou regressão logística28.
Alguns desses trabalhos estão detalhados a seguir.
Escore de Selvester – Em 1972, Selvester et al.16 criaram
um sistema de escore baseado na análise do complexo
QRS usando o ECG padrão de 12 derivações. Este é
composto por 57 critérios/32 pontos, no qual cada ponto
representa necrose de 3% do ventrículo esquerdo,
permitindo estimar o tamanho final do IAM. É importante
lembrar que esse primeiro estudo foi baseado em
simulação computadorizada da atividade cardíaca
humana e que após sua aplicação chegou-se a uma versão
melhorada, composta por 54 critérios/32 pontos16. Uma
versão simplificada desse escore foi desenvolvida por
Wagner et al.29,32, em 1982, resultando em ferramenta
amplamente validada e de grande especificidade,
constituída por 37 critérios/29 pontos. Na fase crônica
do IAM, esse escore se correlaciona com a fração de ejeção
do ventrículo esquerdo (FEVE) e com o tamanho do
infarto de pacientes sem terapia de reperfusão28.
Escore de Aldrich – O escore de Aldrich foi desenvolvido
em 198819 com o intuito de estimar a área miocárdica em
risco de necrose, utilizando para tal os eletrocardiogramas
realizados em até 8 horas após o início do IAM. Para o
seu cálculo são utilizadas as variáveis relacionadas ao
supradesnivelamento do segmento ST, como o número
de derivações apresentando essa alteração e a somatória
da amplitude das elevações (considerando-se, para tal
medida, o ponto J) em algumas derivações específicas.
Esse escore possui duas equações utilizadas conforme a
localização da área isquêmica (anterior ou inferior), sendo
importante a magnitude da elevação do segmento ST nas
derivações D2, D3 e aVF para IAM inferior e o número
de derivações com elevação do ST no IAM anterior19-21.
Alguns estudos, ao realizarem ensaios com as fórmulas
originais de Aldrich et al.20,21, propuseram modificações
para as mesmas incluindo outros parâmetros. É
importante lembrar que esse índice apresenta baixa
correlação em pacientes que receberam tratamento
trombolítico28.
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508
Resende et al.
Análise do IAM com Ênfase no Segmento ST e Escores
Escore de Anderson-Wilkins (AW acuteness score) – É
um algoritmo, gerado em computador, que mede o
intervalo de tempo decorrido entre a oclusão coronariana
e o atendimento ao paciente28. É importante destacar que
o tempo de isquemia pode indicar, além da gravidade
do infarto, a quantidade de miocárdio passível de
recuperação por terapia de reperfusão. Porém, o simples
relato do início dos sintomas pelo paciente pode, em
muitos casos, ser impreciso, já que existem IAM atípicos
e indolores2,13,33 e a tolerância à dor varia de pessoa para
pessoa33. Esse sistema classifica a morfologia do complexo
QRS nas fases 1A, 1B, 2A, 2B, significando: 1A – onda T
alta e onda Q normal; 1B – onda T positiva e onda Q
normal; 2A – onda T alta e onda Q anormal; 2B – onda T
positiva e onda Q anormal9,22,28,33,34. Nesse escore, os pontos
foram distribuídos para as fases identificadas em cada
uma das 11 derivações, sendo desconsiderada aVR, da
seguinte maneira: 1A=4 pontos, 1B=3 pontos, 2A=2 pontos
e 2B=1 ponto. As fases do IAM mais avançadas que 2B
não receberam pontuação33,34. Os pontos das fases em
cada derivação foram somados, obtendo-se o Anderson
Phasing Score. Posteriormente, Wilkins et al.34 dividiram
essa somatória pelo número de derivações com fases 1A,
1B, 2A ou 2B para avaliar e extensão anatômica envolvida
no IAM, produzindo assim o Anderson-Wilkins ECG
acuteness score. O referido índice tem sua aplicação restrita
às derivações com onda T positiva e elevação do
segmento ST 28,33. Esse escore foi testado tanto em
aplicações manuais como automatizadas que podem vir
acopladas a sistemas de ECG digital. Atualmente, uma
modificação no critério para onda Q anormal foi sugerida
para que fossem obtidos resultados semelhantes tanto
para IAM anterior como inferior, já que esse problema
foi encontrado na aplicação da fórmula original22.
Recuperação da perfusão após IAM e as alterações no
ECG – Kalinauskiene et al.35 classificaram as mudanças
no ECG de pacientes com IAM no decorrer do tempo nos
estágios I, II, III, IV, significando: I – elevação do ST com
onda T positiva e sem ondas Q; II – elevação do ST com
onda Q anormal; III – elevação do ST com onda T
negativa; IV – ST isoelétrico com onda T negativa. Esse
estudo concluiu que pacientes que se apresentavam com
dois ou mais estágios nas primeiras 48 horas, após a
desobstrução da artéria responsável pelo infarto (seja por
tratamento trombolítico, angioplastia percutânea ou
espontaneamente), alcançavam menor escore de Selvester
e apresentavam menos déficits de perfusão em três meses
do que aqueles sem tal apresentação. Nesse estudo, além
da versão simplificada do escore de Selvester, foi também
utilizada a cintilografia, a qual permitiu classificar esses
pacientes em quatro grupos de acordo com suas
condições de perfusão: 0 – normal; 1 – levemente
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Artigo de Revisão
reduzida; 2 – moderadamente reduzida e 3 –
marcadamente reduzida28,35.
Frequência cardíaca após IAM como indicador de
prognóstico – Mauss et al.36 afirmaram que a frequência
cardíaca após IAM, quando o ritmo é sinusal, é preditor
independente de sobrevivência ao IAM, mesmo em
indivíduos sob uso de betabloqueador, sendo bom
indicador de prognóstico quando acrescido de idade e
FEVE. Nesse estudo não foram incluídos dados clínicos
como pressão arterial, classificação de Killip, diabetes e
histórico de IAM prévio28. A frequência cardíaca, no caso,
era medida por registro contínuo de 24 horas pelo Holter
e pelo ECG convencional de 12 derivações, apresentando,
ambos os métodos, resultados semelhantes36.
É importante citar que a frequência cardíaca de repouso
reflete o tônus autonômico e, se >100 batimentos por
minuto, indica predominância simpática com maior
possibilidade de arritmias (fibrilação e taquicardia
ventricular) e morte súbita após o IAM. Por outro lado,
pacientes com frequência cardíaca pós-infarto
≤70 batimentos por minuto teriam melhor prognóstico.
Quando associadamente a FEVE se apresenta entre
35-40%, torna-se forte preditor de mortalidade36.
Conclusão
O supradesnivelamento do segmento ST é um parâmetro
de grande relevância no IAM, pois sua fácil visualização,
aliada aos seus vários significados clínicos, tornam
viáveis sua aplicação em ferramentas eletrônicas para
análise automática de eletrocardiogramas.
Os escores são interessantes, não apenas para aplicação
automatizada, a qual seria muito rápida, prática e exata,
mas também para aplicação manual, principalmente em
lugares onde outras tecnologias para acompanhamento
de pacientes com IAM não estejam disponíveis. Podem
também ser associados a equipamentos digitais utilizados
em sistemas de telemedicina.
Deve-se destacar que, contrariamente ao exame sérico de
marcadores bioquímicos de necrose miocárdica, que pode
ser considerado, às vezes, oneroso e gerador de atrasos
na prática clínica, a determinação do supradesnivelamento
do segmento ST e dos escores pode ocorrer de forma
automática através de métodos informatizados.
Consequentemente podem ser considerados ferramentas
de baixo custo e que operam em tempo real, condição esta
absolutamente necessária para o sucesso do tratamento
de um paciente com IAM grave.
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Resende et al.
Análise do IAM com Ênfase no Segmento ST e Escores
Dentre os escores detalhados neste trabalho, o mais bem
estabelecido e utilizado em comparações é o escore de
Selvester. Todos esses escores, apesar de amplamente
aplicados em estudos e pesquisas, não têm utilização
rotineira na prática médica, encontrando-se, a maioria,
em processos de consolidação e validação. De todos
os citados, um dos mais interessantes é o escore de
Aldrich porque é de fácil aplicação e se utiliza do
supradesnivelamento do ST, característico da fase aguda
do infarto, na qual a estimativa da área em risco tem
maior valor na escolha do tratamento e análise do
prognóstico do paciente.
interpretação dos traçados bem como o conhecimento da
sensibilidade e especificidade dos critérios de diagnóstico
colocados à disposição dos serviços médicos 37-45. É
também desejável o desenvolvimento de novas técnicas
que permitam extrair e categorizar o máximo de
informações possível desse método consagrado e valioso.
A utilização continuada do ECG na prática médica em
âmbito mundial e o crescente emprego de métodos
automatizados para auxiliar na sua interpretação, tornam
necessária uma revisão de conceitos no que tange à
Vinculação Acadêmica
O presente estudo está vinculado ao Programa de Pósgraduação em Engenharia Elétrica (ênfase em Engenharia
Biomédica) da Universidade Federal de Uberlândia.
Potencial Conflito de Interesses
Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes.
Fontes de Financiamento
O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.
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