Conhecimentos para Agricultura do Futuro

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XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
COMPETITIVIDADE DA CARNE BOVINA BRASILEIRA NO MERCADO
INTERNACIONAL: UMA ANÁLISE DAS EXPORTAÇÕES SEGMENTADAS
SILVIA KANADANI CAMPOS (1) ; ALDARA DA SILVA CÉSAR (2) ; VIVIANI
SILVA LIRIO (3) ; JANDERSON DAMACENO DOS REIS (4) .
1.ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ, PIRACICABA,
SP, BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, SÃO CARLOS,
SP, BRASIL; 3.UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA, MG,
BRASIL; 4.UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, OURO PRETO, MG,
BRASIL.
[email protected]
POSTER
COMÉRCIO INTERNACIONAL
COMPETITIVIDADE DA CARNE BOVINA BRASILEIRA NO MERCADO
INTERNACIONAL: UMA ANÁLISE DAS EXPORTAÇÕES SEGMENTADAS
Grupo de Pesquisa: Comércio Internacional
Forma de apresentação: poster
Resumo: O Brasil tornou-se o terceiro maior exportador de carne bovina em 2001 e assumiu
a liderança no ranking mundial da produção em 2004. Entretanto, o aumento das exportações,
que gera renda ao País, não garante que este esteja sendo competitivo ou bem posicionado no
mercado mundial. Esse trabalho teve como objetivo analisar o cenário das exportações
brasileiras de carne bovina, suas principais segmentações e países de destino, com base,
principalmente, em indicadores de competitividade, no período compreendido entre 1994 e o
primeiro semestre de 2006. O Brasil mostra-se competitivo no mercado internacional,
sobretudo pelo preço do produto, uma vez que possui um dos custos de produção mais baixos
do mundo. Além disso, pode-se dizer que os embargos à carne nacional no mercado
internacional devido a ocorrência de focos de aftosa em 2005 e 2006, tiveram impacto
modesto na cadeia bovina, devido principalmente à falta de mercados que pudessem suprir, de
forma imediata, a demanda mundial. Ainda, alguns acontecimentos circunstanciais afetaram
os nossos maiores concorrentes e várias crises sanitárias ajudaram a configurar um ambiente
de oportunidades para a carne brasileira.
Palavras Chaves: Cadeia Produtiva, Carne Bovina, Mercado Internacional, Competitividade.
Abstract: Brazil became the third major global beef supplier in the world in 2001 and it
assumed the leader position in 2004. Therefore the increase of its exports means higher
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income to the country but does not guarantee that it has been competitive or well positioned in
the international market. This article studies the scenario of Brazilian beef, its most important
segments and the countries of destination based on theoretical indicators and data from the
period between the start of 1994 and the end of the first semester of 2006. The
competitiveness of the Brazilian beef production in the international market is because of the
over all price of its product. Brazil has one of the cheapest production costs in the world.
Analyzing the circumstances of the current embargos due to the cases of “Food and Mouth
Disease” registered in the interior of Brazil, it is observed that they have had it was modest
impact on the Brazilian beef chain. This is mainly because there were not enough suppliers
that could attend immediately to the new global demand. Further, some circumstances
happened that affected a number of the main international competitors including several
health crises, which opened opportunities for Brazilian beef.
Key words: Beef Production Chain , Beef Meat, International Market, Competitiveness.
1. Introdução
Desde o início da década de 1990, o agronegócio consolidou-se como um dos
principais impulsionadores da economia brasileira. Em 2005, esse setor contribuiu com
aproximadamente 40%, dos postos de trabalho gerados no País e, de acordo com estudos
realizados pelo CEPEA (2006a), com quase 30% do Produto Interno Bruto-PIB nacional.
Em 2005, a balança comercial desse setor fechou com um superávit de US$ 38,4
bilhões, o que corresponde a um crescimento de 12,6% em relação ao ano anterior e a uma
parcela de 37% da pauta de exportações brasileiras (MAPA, 2006).
Nesse contexto, ganha importância o setor da carne bovina. A atividade pecuária
nacional movimenta em torno de 55 bilhões de dólares por ano, sendo responsável por
praticamente 20 milhões de empregos (PEDROSO et al., 2004). O Brasil tornou-se o terceiro
maior exportador em 2001, atrás dos Estados Unidos e da Austrália, e assumiu a liderança no
ranking mundial em 2004.
O País possui o maior rebanho comercial bovino do mundo e registrou, em 2005, um
volume de exportações de 1.857 mil toneladas equivalente-carcaça (ANUALPEC, 2006). A
Austrália, Índia e Nova Zelândia vêm em seguida, com respectivas exportações de 1.413, 620
e 589 mil toneladas equivalente-carcaça, sendo Estados Unidos, Rússia e Japão os maiores
importadores mundiais (USDA, 2006).
Segundo Pedroso (2004), o Brasil mostra-se competitivo neste setor, sobretudo pelo
preço do produto, uma vez que possui um dos custos de produção mais baixos do mundo e o
animal é essencialmente criado no pasto. Os custos de produção nacional chegam a ser,
respectivamente, 60% e 50% menores que os de Austrália e Estados Unidos (McKinsey,
citado por PINEDA, 2000).
O segmento pecuário vem apresentando mudanças expressivas nas últimas décadas,
absorvendo as novas tecnologias de produção e gestão, que proporcionaram o aumento da
produtividade e modernização de muitas empresas rurais. Esses avanços foram resultados, em
parte, das mudanças no comportamento do consumidor mundial, que vem se mostrando mais
cuidadoso na compra de produtos alimentícios de maneira geral (SILVA et al., 2005).
No entanto, a cadeia produtiva bovina nacional se mostra desarticulada, não recebendo
investimentos que pudessem realmente acabar com os impasses presentes, principalmente
entre pecuaristas e frigoríficos (JANK, 1996). Como resultado, há a presença de oportunismo
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contratual nas relações e limitações de marketing e de negociações internacionais (NEVES,
2000).
Assim, são vários os desafios do agronegócio da carne bovina no Brasil. Com as
recentes mudanças no mapa da febre aftosa e outras enfermidades e nos embargos sanitários
de diversos países, acredita-se que tenham ocorrido alterações importantes na dinâmica das
exportações brasileiras de carne bovina, tanto no que se refere aos países de destino, como no
tipo de carne (in natura e/ou industrializada) exportada.
Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo analisar o cenário das exportações
brasileiras de carne bovina, suas principais segmentações e países de destino, com base,
principalmente, em indicadores de competitividade, no período compreendido entre 1994 e o
primeiro semestre de 2006.
1.1-
A Participação Brasileira no Mercado Internacional da Carne Bovina
Em 2005, as exportações brasileiras totalizaram 3.032 bilhões de dólares, um
crescimento de 24% em relação a 2004 (Tabela 1).
Tabela 1 - Exportações brasileiras de carne bovina in natura e industrializada, em US$
(FOB), de 2000 a 2006
Ano
In natura
Var.%
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2004*
2005*
2006*
503.295.923
738.805.417
776.318.285
1.154.508.640
1.963.065.617
2.419.103.224
874.000.516
1.162.573.820
1.305.982.010
47%
5%
49%
70%
23%
33%
12%
Industrializados Var.%
251.884.118
252.097.770
298.538.233
355.224.022
484.202.134
613.730.343
196.765.411
225.191.575
349.983.236
0%
18%
19%
36%
27%
14%
55%
TOTAL
Var.%
755.180.041
990.903.187
1.074.856.518
1.509.732.662
2.447.267.751
3.032.833.567
1.070.765.927
1.387.765.395
1.655.965.246
31%
8%
40%
62%
24%
30%
19%
* Referente ao período de janeiro a junho. Os valores de 2004 e 2005 foram exibidos para fins
comparativos com 2006.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados do ABIEC e SECEX/MDIC (2006).
De janeiro a junho de 2006, a carne bovina in natura registrou crescimento de 12%
em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto a carne industrializada apresentou
aumento de 55% nas exportações. Percebe-se que em 2003 e 2004 houve aumento das
exportações de 40% e 62% respectivamente; e em 2005, mesmo com os embargos
sanitários totais ou parciais impostos por mais de 50 países, o Brasil manteve essa
liderança.
Especificamente nos Estados do Mato Grosso do Sul e Paraná, foi verificada
drástica redução nas exportações após a detecção dos focos da aftosa no final de 2005
(Figura 1). Também em resposta a esse processo, em 2006 pode ser observado taxa
negativa de crescimento do PIB agropecuário (CEPEA, 2006b). As exportações nacionais
chegaram a cair pela metade no início de 2006; as desconfianças sanitárias geradas por
esses casos podem ser sentidas até hoje e terão reflexos graves no futuro.
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Fonte: Elaborada pelas autoras com base nos dados do MDIC/ SECEX (2006)
Figura 1 - Evolução das exportações mensais de carne bovina resfriada e congelada (em
toneladas), no Mato Grosso do Sul e Paraná, em 2004 e 2005.
Segundo Ângelo e Gonçalves (2006), as quedas nas exportações verificadas em 2005
foram mais expressivas que as reduções sazonais de final de cada ano. Além disso, essa
redução começou em setembro, antes do período usual.
No entanto, de acordo com esses autores, a dimensão do ajuste nas exportações ainda
não se manifestou completamente e depende, naturalmente, do sucesso das ações da
diplomacia comercial. A ocorrência da gripe aviária em diversos países do mundo
possivelmente estimula a substituição por outros tipos de carne, o que pode afetar
positivamente as exportações brasileiras de carne bovina, ainda em 2006.
É indiscutível que o fato de o Brasil não ser considerado livre da febre aftosa dificulta
as exportações de carne bovina (e carne suína) in natura para importantes mercados
consumidores, como Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul, Canadá e China (LIMA et al.
2005).
Ao analisar o destino das exportações brasileiras, é necessário segmentar o mercado de
carne em: industrializada e in natura, que apresentam características peculiares.
Os principais mercados para a carne bovina industrializada são os Estados Unidos e o
Reino Unido, que, em 2005, contribuíram com cerca de 60% e 37% do montante de 350
milhões negociados, o que representa, respectivamente, 205 e 130 milhões de dólares (Tabela
2) (SECEX/MDIC, 2006).
Tabela 2 - Exportações brasileiras de carne bovina industrializada, de acordo com o destino,
em 2004, 2005 e janeiro a junho de 2006
Países
Estados Unidos
Reino Unido
Itália
Países Baixos
Venezuela
2004
Valor
Quantidade
(mil US$)
(t)
2005
Valor
Quantidade
(mil US$)
(t)
2006*
Valor
Quantidade
(mil US$)
(t)
197.184
126.723
21.849
14.824
20.850
205.683
130.399
22.515
31.320
46.956
143.578
68.263
20.905
20.465
10.048
55.477
59.563
6.217
6.320
28.663
51.613
52.510
8.631
8.201
57.620
34.523
24.845
5.065
7.134
11.991
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* Referente ao período de janeiro a junho.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados do SECEX/MDIC (2006).
Apesar de o Reino Unido ser o maior importador da carne brasileira (em volume), as
importações dos Estados Unidos atingiram valores maiores, tanto em 2004, como em 2005.
Além disso, como pode ser observado, nesse mesmo período, as aquisições dos Países Baixos
ultrapassaram as da Itália.
Já em relação às exportações de carne bovina in natura, as exportações variam para
carne resfriada e congelada. Os principais destinos são Países Baixos, Reino Unido e Itália,
para a carne resfriada sem osso, e Rússia, Egito e Itália, para carne congelada sem osso
(Tabela 3).
Tabela 3 - Exportações brasileiras de carne bovina in natura (resfriada e congelada sem
osso), de acordo com o destino, em 2004, 2005 e janeiro a junho de 2006
Países
Resfriada sem osso
Paises Baixos
Reino Unido
Itália
Alemanha
Líbano
Congelada sem
osso
Rússia
Egito
Itália
Reino Unido
Bulgária
2004
2005
2006*
Valor
Quantidade Valor
Quantidade Valor
(mil US$) (t)
(mil US$) (t)
(mil US$)
Quantidade
(t)
112.195
68.390
30.172
53.968
20.745
21.327
15.870
6.304
11.440
9.189
117.494
84.117
39.773
61.028
27.011
21.857
20.357
8.646
12.905
11.170
74.431
39.826
36.003
35.368
19.047
10.627
7.227
5.295
5.152
7.578
238.722
161.582
104.827
54.608
27.233
154.238
112.141
35.559
23.988
20.550
554.544
252.493
112.912
97.544
69.018
294.318
146.301
38.247
45.579
44.230
211.977
175.467
68.746
64.528
52.115
100.797
95.929
17.593
29.504
32.533
* Referente ao período de janeiro a junho.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados do SECEX/MDIC (2006).
A Rússia é a principal responsável pelo alavancamento do Brasil no ranking mundial
de exportações de carne bovina, gerando uma receita de 555 milhões de dólares em 2005. De
fato, desde 2002, a Rússia começou a importar volumes significativos do Brasil, e em 2005
foi destinado o montante de quase 300 mil toneladas.
O Egito, em segundo lugar no ranking, foi responsável por 252 milhões, seguido de
Holanda, Reino Unido e Itália com191, 181 e 152 milhões, respectivamente (ABIEC, 2006).
Apesar de aparecer em nono lugar em 2005, as exportações da Bulgária destacaram-se
em relação a 2004, pelo incremento de 115% em volume e 153% em receita total,
participação relevante, que se manteve no primeiro semestre de 2006, com o país já ocupando
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a posição de quinto colocado no ranking de destino das exportações brasileiras de carne
congelada.
A carne resfriada ainda representa modesta parcela do continente de exportação
brasileira, mas, tradicionalmente, atinge os mercados mais rentáveis, como Holanda, Reino
Unido, Itália e Alemanha. Os valores registrados no primeiro semestre de 2006 apresentaram
aumento de 50% sobre o valor negociado em 2005, o que demonstra ainda a valorização desse
segmento mesmo em tempos de surtos sanitários.
No que tange às importações, em 2005 o Brasil importou US$ 84,7 milhões em
produtos de carne bovina, ultrapassando 11,7% da marca de 2004 (SECEX, MDIC,
2006). Entretanto, houve queda de 4,38% na quantidade importada, totalizando 42 mil
toneladas em 2005. Essa retração deveu-se à boa oferta de carnes no mercado interno
(ÂNGELO; GONÇALVES, 2006).
3. Metodologia
3.1- Referencial Teórico
A década de 1980 marca a ocorrência de várias mudanças nas relações econômicas
internacionais, que perduram até os dias de hoje, dentre as quais se ressalta a crescente
competição dos novos países industrializados, os chamados países em desenvolvimento, nas
exportações de manufaturados, que vêm tomando mercado de uma importante parcela das
nações desenvolvidas. Ainda, consideráveis variações nas taxas de câmbio e mudanças
estruturais têm gerado pressões políticas que representam grande ameaça para o sistema
vigente, de comércio internacional aberto (Krugman; Obstfeld, 1999).
Para Silva e Batalha (1999), a partir dessa transição houve aumento da preocupação
dos poderes públicos e agentes privados de diversos países com a capacidade que os seus
sistemas produtivos têm de conseguirem sustentar ou ampliar suas posições no mercado
internacional, o que acentuou o interesse pela análise dos condicionantes da competitividade.
Nesse contexto, a atividade agrícola passou a não se limitar mais à propriedade rural,
adquirindo conotação sistêmica, o que tornou fundamental a discussão de concepções como
competitividade e eficiência da cadeia neste segmento, regra básica frente ao comércio
globalizado (CAMPOS, 2004).
No caso específico do mercado internacional, há clara associação entre desempenho
exportador de um país e sua competitividade frente a esse mercado. De acordo com Viana et
al. (2006), a expansão das exportações, além do reflexo na competitividade, interfere também
nas condições de produção, políticas cambiais, eficiência dos canais de especialização e
acordos internacionais (entre países e empresas), quotas de exportações, entre outros.
A possibilidade de a pecuária bovina brasileira inserir-se com sucesso nessa nova
dinâmica competitiva dependerá, em grande parte, da capacidade de organização dos agentes
socioeconômicos da sua cadeia produtiva (IEL, CNA e SEBRAE, 2000).
Dessa forma, o referencial teórico utilizado neste trabalho esteve voltado para o estudo
da competitividade das cadeias, no caso específico, competitividade do Brasil no mercado
internacional de carne bovina.
A noção de competitividade adotada neste trabalho foi a capacidade de um país
manter/aumentar sua participação ao longo do tempo dado no mercado internacional, dada a
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concorrência a que ele está exposto, o que será analisado através de indicadores tradicionais
de competitividade: participação das exportações brasileiras de carne no total das exportações
dos produtos agrícolas (I1), Coeficiente de Exportação (I2), Vantagem Comparativa Revelada
(I3) e Market Share (I4.1 e I4.2).
3.2. Referencial Analítico
Inicialmente, procedeu-se a um amplo levantamento bibliográfico, obtendo dados
fundamentais para avaliação da estrutura de mercado. Com o intuito de avaliar o
posicionamento do mercado bovino brasileiro no exterior, indicadores econômicos, como
participação das exportações brasileiras de carne no total das exportações dos produtos
agrícolas (I1), o Coeficiente de Exportação (I2), Vantagem Comparativa Revelada (I3) e
Market Share (I4.1 e I4.2), podem auxiliar no traçado de inferências sobre as variações do setor
no mercado externo da carne bovina industrializada e in natura congelada e resfriada e o
destino de cada segmentação no decorrer do período analisado: 2000 a junho de 2006.
A participação do produto no total das exportações mostra a representatividade das
exportações de determinado produto em relação às exportações de outros produtos agrícolas
do país, no caso, o Brasil e pode ser expressa como:
X
I 1 =  ki
 Xi

 ∗ 100

(1)
em que: X = valor da exportação; k = produto; e i =Brasil.
O principal significado desse índice é que, por meio dele, é possível avaliar a
importância de um produto para a economia brasileira, ou seja, neste caso, o desempenho do
setor de carne bovina nas exportações brasileiras, durante o período analisado. Quando esse
valor, comparado ao do ano anterior, é crescente, significa que o produto obtém bom
desempenho perante os outros produtos agrícolas comercializados.
Já o Coeficiente de Exportação (CE) mostra a relação de exportações/faturamento e
traduz a parcela do faturamento que é obtida através de suas exportações, ou seja:
I2 =
X
W
(2)
em que: X = exportações totais, de carne bovina, em dólares (US$);e W = faturamento total
da pecuária, em dólares (US$).
O valor desse índice indica a participação que as exportações do produto estudado apresentam em relação ao
faturamento da mesma atividade, em âmbito nacional.
O terceiro indicador é definido como coeficiente que relaciona a participação do setor,
mediante uma análise do total de exportações do País, com a dos demais. O indicador de
Vantagem Comparativa Revelada (I3) para uma região j, em um produto ou grupo de produtos
i, pode ser definido da seguinte forma:
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

I3 = 



Xij 

Xiz 
Xj 

Xz 
(3)
em que: Xi = representam as exportações do produto i do agronegócio da região j; Xj =
representam as exportações totais do agronegócio da região j; Xiz = representam as
exportações do produto i em relação à região de referência z; e Xz = representam as
exportações totais do agronegócio na região de referência z.
A interpretação desse indicador é obtida através da razão entre as exportações do
produto em questão, nas exportações totais da região, considerado o seu peso nas exportações
totais da região de referência z. Portanto, as vantagens comparativas de um determinado
produto seriam “reveladas” pela sua participação na pauta do país.
O indicador I3 pode variar de 0 a infinito. Quando I3 > 1, conclui-se que o produto i do
agronegócio da região j apresenta vantagem comparativa em relação à região de referência z.
A participação deste produto nas exportações do agronegócio da região j é superior à
participação deste produto no total das exportações da região de referência z. Ocorrendo o
contrário, quando I3 < 1, significa que a região apresenta desvantagem comparativa na
produção e exportação do referido produto i. Sendo I3 = 1, a região j não terá vantagem nem
desvantagem na produção do produto i: a produção local supre as necessidades internas de
consumo, não havendo excedente para ser exportado.
Em outras palavras, se o valor do índice, ao longo dos anos, for positivo, o país
apresentará vantagem comparativa da exportação do produto analisado; caso contrário, índice
negativo demonstra desvantagem comparativa.
Por último, este indicador é bastante utilizado em análises de desempenho das
exportações e subdivide-se em: market share e market share doméstico. Para Richardson
(1972), o uso desse índice exige a delimitação de pontos discretos de tempo, devendo
considerar fatos econômicos marcantes que possam causar impactos sobre as exportações.
Segundo Ferraz et al. (1996), a utilização do market share como avaliação de
competitividade é a contribuição mais difundida da economia neoclássica. A participação do
setor de carne bovina brasileira no mercado global seria um indicador adequado de
competitividade internacional.
Matematicamente, o market share consiste na parcela de faturamento total do setor
pertencente ao país selecionado na pesquisa e pode ser obtido a partir de:
 Xki 
I 4. 1 = 
 ∗100
 Xkw 
(4 )
em que: Xki = valor da exportação; k = produto; i =Brasil; e w = mundo.
Já o market share doméstico consiste da parcela de faturamento obtida com a
produção de cada país.
I 4. 2 =
Wi
W
(5)
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sendo: Wi = valor da produção do país selecionado, por atividade, em dólares (US$); e W =
valor da produção mundial da atividade analisada, em dólares (US$).
No presente estudo, selecionou-se o período compreendido entre 2000 e junho de
2006, quando se podem constatar alterações substanciais das exportações brasileiras de carne
bovina. De acordo com o modelo utilizado, as variações na participação das exportações de
um país no comércio mundial são decompostas em três efeitos: crescimento do comércio
mundial, destino das exportações e competitividade.
As informações empregadas nesta análise foram obtidas do levantamento de dados da
Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC). Foram utilizadas as classificações NCM 0201.00.00 a 0202.30.00
para carne in natura (resfriada e congelada) e NCM 1602.50.00 para carne industrializada.
Juntos, esses representam os principais colaboradores para o setor agropecuário brasileiro.
Ainda, foram utilizados dados do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA), Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), United State Department of Agriculture (USDA)
e Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO).
4. Resultados e Discussão
4.1- Resultado da participação do produto no total das exportações
Os resultados do indicador da participação da carne bovina nas exportações do
agronegócio são apresentados na Tabela 4. Como pode ser visto, a participação da carne
bovina nas exportações brasileiras teve aumento considerável no período analisado. Se em
2000 a participação desse produto na pauta do agronegócio brasileiro era de aproximadamente
3,5%, em 2004 esse percentual passou a ser de 5,9%.
Tabela 4 - Participação da carne bovina no total das exportações, entre 2000 e 2006
Carne in natura
Carne in natura refrigerada
Carne in natuta congelada
Carne industrializada
Total de carne bovina
2000
2,31
0,78
1,53
1,16
3,47
2001
2,95
0,95
2,00
1,01
3,96
2002
2,98
1,03
1,95
1,15
4,12
2003
3,56
1,32
2,24
1,10
4,66
2004
4,73
1,43
3,30
1,17
5,90
2005
5,23
1,35
3,87
0,76
5,98
2006*
5,80
1,37
4,42
1,55
7,35
* Referente ao período de janeiro a junho.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados do SECEX/MDIC, IEA (2006).
Em 2005, ano de ocorrência dos focos de febre aftosa, o percentual de participação nas
exportações foi mantido, não apresentando taxa de crescimento significativa. No primeiro
semestre de 2006, o índice de participação foi de 7,35%. Contudo, deve-se considerar que,
geralmente, nos últimos meses do ano há uma queda normal das exportações, o que poderá
afetar o índice global do ano.
Em todos os anos analisados, a maior contribuição para as exportações de carne foi do
tipo in natura, que representa 5,8% e corresponde a 79% do total negociado. Da carne in
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natura, a maior parte das exportações é de carne congelada (76%), o que de fato se justifica
pelo maior prazo de validade deste tipo de carne.
Na realidade, observa-se que o percentual de participação da carne in natura aumentou
ao longo dos anos, tendo se mantido com menor variação nos períodos compreendidos entre
2001 e 2002 e 2005 e 2006, o que coincide com o período de ocorrência de febre aftosa,
principalmente na região sul do Brasil. Esse evento afeta com maior intensidade a exportação
da carne in natura, uma vez que os embargos geralmente não atingem a carne industrializada,
que apresenta tratamento térmico e inativação do vírus.
Os valores apresentados indicam que a carne tradicionalmente exportada pelo Brasil
mantém importância relativa na pauta das exportações e alta capacidade de competitividade
no mercado externo, mesmo depois dos casos registrados da aftosa. Contudo, ressalta-se que a
ocorrência da febre aftosa em 2005 reduziu a participação deste produto nas exportações
brasileiras.
Em 2006, espera-se recuperação das exportações, que têm sido afetadas também pela
ocorrência da gripe aviária em diversos países do mundo. É provável que a substituição por
outros tipos de carne venha a beneficiar as exportações brasileiras de carne bovina.
4.2- Resultado do Coeficiente de Exportação da Carne Bovina
Na Tabela 5 são apresentados os dados de coeficiente de exportação, que mostra a
relação entre exportações e faturamento de um determinado setor, ou seja, traduz a parcela do
faturamento que é obtido através de suas exportações.
Pode-se observar que houve incremento do coeficiente de exportação em todos os
tipos de produtos analisados, ou seja, que as exportações incrementaram suas parcelas no
faturamento total dos agentes do setor de carne bovina.
Tabela 5 - Coeficiente de exportação da carne bovina, por tipo, no período de 2000 a 2006
Carne in natura
Carne in natura refrigerada
Carne in natuta congelada
Carne industrializada
Total de carne bovina
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006*
0,052
0,088
0,099
0,127
0,185
0,201
0,116
0,017
0,028
0,034
0,047
0,056
0,052
0,027
0,034
0,059
0,065
0,080
0,129
0,149
0,089
0,026
0,030
0,038
0,039
0,046
0,029
0,031
0,077
0,118
0,137
0,166
0,230
0,231
0,147
* Referente ao período de janeiro a junho.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados do SECEX/MDIC, IEA (2006).
A carne bovina in natura congelada foi a que mais apresentou aumento neste índice ao
longo dos anos analisados, sendo que a participação das exportações no faturamento total
passou de 5,2% em 2000, para 20,1% em 2005.
A ocorrência de casos da Encefalopatia Espongiforme Bovina- EEB em países da
Europa, como o Reino Unido, muitos dos quais expressivos na produção mundial, fez
diminuir significativamente a participação da oferta de carne bovina desses países, o que
possivelmente resultou no aumento das oportunidades de negócio no mercado mundial para o
Brasil.
Contudo, é certo que a ocorrência de febre aftosa no Brasil é ainda um fator limitante
de crescimento da competitividade frente ao comércio internacional.
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4.3 - Resultado da Vantagem Comparativa Revelada
Na Tabela 6 são apresentados os coeficientes de vantagem comparativa revelada
expondo a competitividade comparativa do setor focado entre países, no caso deste estudo, os
principais países exportadores de carne bovina.
Tabela 6 – Vantagem comparativa revelada do Brasil em relação aos principais exportadores
de carne bovina, no período de 1996-2004
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Argentina
0,45
0,46
0,73
1,08
1,00
2,71
1,48
1,63
1,33
Austrália
0,28
0,22
0,25
0,41
0,35
0,34
0,36
0,36
0,44
Canadá
0,92
0,62
0,66
0,87
0,73
0,73
0,70
1,16
1,17
Nova Zelândia 0,28
0,28
0,32
0,49
0,48
0,53
0,51
0,54
0,64
EUA
0,76
0,60
0,70
1,02
0,80
1,01
1,03
1,06
6,03
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados da FAO – Food Agriculture Organization
(1996-2004).
De acordo com os resultados, o Brasil apresenta, no final do período analisado,
vantagem comparativa em relação à Argentina, Canadá e Estados Unidos no mercado
internacional de carne bovina. Em relação a Argentina e aos Estados Unidos, a transição deuse entre os anos de 1998 e 1999, embora no ano de 2000 tenha havido retração da vantagem
brasileira.
Já em relação ao Canadá, essa transição se deu entre os anos de 2002 e 2003. De fato,
os casos de EEB no Canadá ocorreram em 2002, o que fez com que este país perdesse parcela
do seu mercado internacional, voltado principalmente para os Estados Unidos, que bloqueou
as importações daquele país.
A Argentina, por sua vez, apresentou por longo período problemas relacionados à
ocorrência de febre aftosa, o que fez com que este país perdesse competitividade no mercado
mundial. Entretanto, o governo argentino continua em busca de novos mercados, uma vez que
a febre aftosa tem sido controlada por meio de ampla campanha de vacinação. Já em 2004
superaram as estimativas, sobretudo pelas vendas para países como Estados Unidos, União
Européia, Rússia e Venezuela (SILVA et al., 2005).
No caso dos Estados Unidos, parte da explicação para a superioridade brasileira é feita
com base no destino das exportações daquele país, que tem direcionado grande parte da sua
produção ao mercado interno.
Contudo, a principal explicação para o baixo desempenho dos Estados Unidos se deve
às limitações impostas pelos principais países importadores. O embargo imposto por diversos
países aos EUA gerou oportunidades para a carne brasileira, que conseguiu competir no
mercado internacional com “qualidade”, quantidade e preço. Embora este país seja fornecedor
primário de carne bovina de alta qualidade para o mundo, até que as proibições impostas à
carne bovina norte-americana continuem (também devido à EEB), a Austrália também terá a
oportunidade de melhorar sua posição como fornecedora de carne para mercados importantes,
como Japão e Coréia.
De fato, a Austrália vem exportando principalmente para Japão, Coréia e os Estados
Unidos, e o preço de seus produtos atinge valores elevados no mercado internacional (SILVA
et al., 2005), o que explica a sua vantagem comparativa em relação ao Brasil na
comercialização da carne bovina.
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Assim como a Austrália, a Nova Zelândia mostra-se mais competitiva que o Brasil,
porém essa diferença vem diminuindo gradativamente no decorrer dos anos analisados.
Melhores condições de pastagens e redução no abate das fêmeas para restabelecimento do
rebanho garantem a vantagem comparativa revelada desses países em relação ao Brasil.
As exportações neozelandesas também têm superado as estimativas em conseqüência
das proibições impostas à carne bovina norte-americana. Em estudo realizado por Silva et al.
(2005), isso pode ser comprovado através dos significativos aumentos das exportações para
Japão (92%) e Coréia (99%) de janeiro a agosto de 2004, em comparação com o mesmo
período em 2003.
4.4 – Resultado do Market Share
Os resultados do market share doméstico apontam, como mostrado na Tabela 7, que o
Brasil vem ampliando, em proporções modestas, sua participação na produção mundial de
carne bovina, assim como a Argentina. Por sua vez, os Estados Unidos, que ainda têm a
primeira posição no ranking, apresentaram tendência de redução na participação, no período
analisado.
Tabela 7 – Evolução do market share doméstico dos principais países produtores de carne
..bovina e vitelo, no período de 2000 a 2006.
2001
2002
2003
2004
2005*
2006*
EUA
24,1%
24,3%
24,0%
21,9%
21,7%
22,2%
Brasil
13,9%
14,1%
14,7%
15,5%
16,4%
16,4%
União Européia
16,3%
15,9%
16,1%
15,6%
14,9%
14,6%
China
11,1%
11,4%
12,6%
13,2%
13,7%
14,1%
Argentina
5,3%
5,3%
5,6%
6,1%
6,1%
5,8%
*estimativa
Fonte: Elaborada pelas autoras a partir de dados obtidos pelo USDA (2006).
A União Européia também apresentou leve tendência de queda; em 2001 detinha
16,3% e para 2006, a previsão é de que este grupo detenha aproximadamente 14,6%.
Possivelmente, a ocorrência da encefalopatia espongiforme bovina explique parte da redução
de mercado. Já a China vem crescendo a taxas maiores sua participação no mercado
internacional de carne bovina.
Contudo, com base nos indicadores de market share, que avaliam a participação nas
exportações, os resultados encontrados mostram que o Brasil vem ampliando intensamente
sua participação no mercado internacional de carne bovina. A evolução desse panorama frente
aos principais exportadores de carne bovina pode ser acompanhada através da Tabela 8, onde
os valores apresentados referem-se às exportações de carne bovina e vitelo.
Tabela 8 - Evolução do market share dos principais países exportadores de carne bovina e
.vitelo no período de 2000 a 2006
2000
2001
2002
2003
2004
2005* 2006*
9,3%
13,2% 14,0% 18,5% 25,1% 25,6% 26,1%
Brasil
22,5% 24,7% 21,8% 19,9% 21,4% 20,1% 20,3%
Austrália
6,5%
6,6%
6,9%
7,7%
8,8%
9,8%
Índia (incluindo búfalos) 5,9%
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Nova Zelândia
Canadá
8,5%
8,8%
8,7%
10,1%
7,7%
9,7%
8,8%
6,1%
9,3%
8,6%
8,4%
7,9%
9,1%
8,0%
*estimativa
Fonte: Elaborada pelas autoras a partir de dados obtidos pelo USDA (2006).
Em 2001, o Brasil apresentou um percentual de market share de 13,2%, e a previsão
para 2006 é de que a alíquota exceda os 26%, o que representa a maior taxa de crescimento
entre os principais países exportadores. Mesmo com esse cenário nacional favorável, acreditase que essa participação poderia ser mais efetiva, caso o Brasil não tivesse sua imagem
comprometida com a ocorrência de focos de febre aftosa.
Destaca-se ainda a participação da Índia, que praticamente dobrou sua participação no
mercado internacional, ainda que isso se deva à sua produção de búfalos. Em contrapartida,
Austrália e Canadá vêm gradativamente perdendo mercado ao longo dos últimos anos. A
Nova Zelândia, por sua vez, vem aumentando sua produção em ritmo lento.
Segundo Pires (2004), a queda do consumo de carne bovina na Europa chegou a
atingir a ordem de 25%. No entanto, em âmbito mundial essa redução foi mais discreta; e de
acordo com Pineda (2004), a ligeira redução do consumo mundial de carne bovina em 2003
deveu-se à alta de preços internacionais, à diminuição da oferta dos países produtores e nas
restrições impostas pelo aparecimento da EEB. Por outro lado, o aumento do consumo da
China garantiu o aumento da produção de carne bovina mundial.
No que se refere ao Brasil, as exportações apresentaram aumentos significativos a
partir do ano de 2002, e em 2003 o país tornou-se o maior exportador mundial de carne
bovina, atendendo a mais de 104 países (ALMEIDA, 2004); essa liderança se manteve em
2005, mesmo com os embargos sanitários.
5. Conclusões
O Brasil tem se mostrado competitivo no mercado internacional de carne bovina,
apesar dos diversos embargos comerciais impostos por diversos países, em decorrência
principalmente de problemas sanitários. De fato, nota-se que os problemas sanitários têm sido
determinantes no comércio internacional, de forma que a competitividade de um país está
diretamente relacionada a seu controle sanitário.
Esse processo reflete, em grande medida, as recentes alterações do comportamento do
consumidor, que se mostra mais criterioso e cada vez mais preocupado em adquirir um
alimento saudável, que não imponha riscos à saúde humana. Por outro lado, serve de pretexto
em países que procuram proteger seus mercados, impondo barreiras sanitárias e comerciais.
No que tange a ocorrência de focos de aftosa, pode-se dizer os embargos tiveram
impacto modesto na cadeia bovina nacional, o que deveu-se principalmente à falta de
mercados que pudessem suprir, de forma imediata, a demanda mundial. Ainda, a ocorrência
de influenza aviária e EEB em diversos países do mundo contribuiu para que o país
mantivesse seu mercado em âmbito mundial.
Nesse cenário internacional de retração de consumo, alguns acontecimentos
circunstanciais afetaram os nossos maiores concorrentes e várias crises sanitárias ajudaram a
configurar um ambiente de oportunidades para a carne brasileira.
Perante o mercado concorrencial e potencial do setor pecuário brasileiro, faz-se
necessário fomentar investimentos em sanidade, rastreabilidade e apoiar as negociações
governamentais a fim de derrubar barreiras que ainda emperram a cadeia bovina para a
conquista de novos mercados.
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Vale lembrar que a União Européia retirou em março de 2006 o embargo às
exportações de animais vivos e de carne bovina do Reino Unido, imposto há mais de dez
anos, após os casos de encefalopatia espongiforme bovina no país. Assim, espera-se que o
Brasil enfrente uma disputa mais acirrada nos próximos anos.
Algumas tendências, além do crescente papel da informação, já podem ser percebidas.
A organização da produção vem sofrendo profundas e rápidas transformações, e a
concorrência ganhou dimensão global, tudo isso em meio a uma evolução tecnológica sem
precedentes.
Uma vez identificadas as formas específicas com que tais tendências aparecem para a
cadeia produtiva da carne bovina brasileira, será possível conceber um conjunto de ações que
viabilizem o aproveitamento de oportunidades de crescimento ímpares para o Brasil nesta
década.
Dessa forma, a competitividade do agronegócio da carne bovina dependerá fortemente
da aplicação da ciência e da tecnologia, assim como da qualidade da informação, da
capacidade de transformar os conhecimentos gerados em estratégias de gestão e, sobretudo,
da capacidade de coordenação dos processos desde a produção até o consumo interno e acesso
aos mercados globais, passando pela industrialização, logística de distribuição, varejo e
exportação (PINEDA, 2000).
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