“Desglobalização”: os riscos para a cadeia da carne - Cepea

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Coluna do Cepea
“Desglobalização”: os riscos
para a cadeia da carne bovina.
No curto prazo fim da Parceria Transpacífica deve beneficiar o Brasil;
mas risco no médio prazo é o levantamento de barreiras tarifárias
Sergio De Zen
Professor da Esalq/
USP e coordenador
de pecuária do
Cepea (Centro de
Estudos Avançados
em Economia
Aplicada)
Mariane Crespolini
Pesquisadora
de pecuária de
corte do Cepea
[email protected]
O
novo presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, tem gerado especulações em todas as
economias do mundo, especialmente pelo slogan “América para os americanos”. Sua nova política
externa busca taxar produtos importados, com o argumento de proteger a indústria e os empregos locais.
Neste sentido, no fim de janeiro, Trump decidiu abandonar a Parceria Transpacífica (TPP), um dos maiores
acordos comerciais da história.
Antes da saída norte-americana, a TPP envolvia 12
países, responsáveis por 40% da economia mundial.
Como os EUA são o segundo maior exportador de carne
bovina do mundo, a saída do acordo efetivamente poderia
favorecer o mercado brasileiro de carne, já que o volume
exportado pelos EUA para esses países poderia ser atendido em partes pelo Brasil.
Em 2016, os 11 países restantes da TPP (Japão, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Peru, Malásia, México,
Nova Zelândia, Cingapura e Vietnã) absorveram 8,9%
das exportações brasileiras de carne bovina in natura,
8,5% da de carne suína e 15,3%, da de frango, segundo
dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior). A saída americana abre espaço para a China, que junto com
Hong Kong absorve 32,2% da exportação de carne bovina, 34,7% da suína e 17% da carne de frango. O contexto de oportunidades para o Brasil é corroborado num
momento em que lideranças políticas brasileiras, como o
ministro Blairo Maggi, buscam estabelecer melhores reDESTINOS DA CARNE BOVINA BRASILEIRA
China
15%
Outros
23%
Hong Kong
17%
Irã
9%
Rússia
12%
Egito
15%
Países TTP
(sem EUA)
Fonte: Secex/Elaborado pelo Cepea
18 DBO
fevereiro 2017
9%
lações comerciais com o mercado asiático, que podem representar outras oportunidades para o Brasil.
Por outro lado, medidas protecionistas de médio e
longo prazos podem reduzir ou até mesmo eliminar vantagens técnicas da pecuária de corte brasileira “dentro da
porteira”, fator que faz o País ser tão competitivo internacionalmente. Ressalte-se que essas medidas não partem apenas dos EUA. Recentemente, a Inglaterra também decidiu romper com a União Europeia, maior acordo
comercial vigente até o momento. Ainda que a Suprema
Corte britânica tenha se posicionado contrariamente à saída, há um marco no processo de globalização. Nesse sentido, para 2017, uma das eleições mais relevantes para a
economia será a da França. Quem desponta nas pesquisas, com quase 30% das intenções de voto, é Marine Le
Pen. A candidata afirma que também tirará a França da
zona do euro. A China, por sua vez, é uma incógnita. Mesmo que o governo afirme que não adotará práticas protecionistas, decisões como a quantidade de carne que cada
chinês consume está nas mãos de um Estado forte e não
no livre mercado de demanda dos consumidores chineses.
Eficiência
Quanto mais globalizado e livre de barreiras tarifárias
mais o livre será o comércio mundial, com efeitos positivos sobre os ganhos de eficiência. O movimento econômico é que cada país se especialize em setores nos quais
seja mais produtivo. Dados levantados pelo Agri benchmark – no qual o Brasil é representado pelo Cepea – indicam que o custo de produção de um quilo de carne no
País é um dos menores do mundo, cenário que eleva a
competitividade do produto brasileiro no mercado global.
Entre tantas especulações sobre o futuro, decisões
como a de Trump e a trajetória cogitada para a desagregação da Europa podem trazer benefícios de curto prazo
para a exportação de carne bovina. Porém, no médio e
longo prazos, a “desglobalização” é perigosa para a cadeia, pois a possibilidade de barreiras tarifárias, resultado
do protecionismo econômico, pode reduzir ou até mesmo eliminar a competividade brasileira dentro da porteira.
Por ora, um caminho para o Brasil é buscar grandes acordos bilaterais, já que ao se limitar a exportar produtos básicos, sem se adaptar ao progresso tecnológico, o País está
isolado. Neste caso, a responsabilidade não é do agronegócio, que tem salvado a economia brasileira, mas da falta
de competitividade do setor industrial.
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