-0- “[...] tendo achado um caminho que, na minha opinião, quem o seguir deverá infalivelmente encontrar a ciência [...] julgava que deveria comunicar fielmente ao público todo o pouco que eu descobrira e convidar os bons espíritos a que procurassem ir além, contribuindo cada qual segundo sua inclinação e seu poder para as experiências que seria necessário fazer” Descartes CEFET-BA Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO TRABALHO MONOGRÁFICO INGRID BARBOSA COSTA TRABALHADORES DE TELEMARKETING: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A QUALIDADE DE VIDA Salvador 2007 INGRID BARBOSA COSTA TRABALHADORES DE TELEMARKETING: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A QUALIDADE DE VIDA Monografia apresentada ao Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia no curso de Administração como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Administração Orientadora: Prof.ª Mestra Adelice Oliveira dos Santos Salvador 2007 Meus pais, Walter e Nilcea, Que sempre acreditaram e investiram em mim Ivana e Isis, Irmãs companheiras e ajudadoras Murilo, Grande incentivador e companheiro de todas as horas A vocês, dedico este trabalho A autora AGRADECIMENTOS A Profª Mestra Adelice Oliveira dos Santos, pela paciência e generosidade em compartilhar os seus conhecimentos comigo. Minha admiração pela competência, humildade e incansável busca pelo saber. Aos professores Alex e Valderez, pela disposição e boa vontade para receber este trabalho. A todos os colaboradores da empresa estudada, que tão generosamente contribuíram com o conteúdo da pesquisa. Aos colegas de trabalho pelas palavras encorajadoras e pelo companheirismo. Aos parentes e amigos que oraram, acreditaram e torceram por mim. A todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para realização deste trabalho. Muito, muito Obrigada! A autora “Os administradores parecem supor que máquinas e trabalhadores são semelhantes, pelo fato de ambos serem normalmente agentes passivos que devem ser estimulados por controle a fim de entrarem em ação. No caso das máquinas, liga-se a eletricidade. No caso de trabalhadores [...] ”. Alfie Kohn RESUMO A motivação para o estudo dessa temática prende-se à necessidade da autora em conhecer melhor o mundo do trabalhador de telemarketing. A economia de serviços é um dos setores que mais crescem, em todo o mundo. O telemarketing é um dos grandes vetores desse crescimento. Contudo, enquanto se assiste e “louva” a esse crescimento exponencial, se esquece do elemento que, nos bastidores, é o principal responsável por “fazer girar esse motor” - o operador de telemarketing. Então, buscou-se investigar: se, e em que medida, a organização e a gestão do trabalho, bem como o desempenho das atribuições correlatas nos call centers afetam a qualidade de vida dos trabalhadores nessa atividade. Como se processam as relações de trabalho no interior das empresas call centers? Como o operador de telemarketing vivencia essas relações? Se, dadas as peculiaridades e exigências do próprio trabalho, na sua lide diária, ele consegue ficar imune às pressões (internas e externas) não deixando que tais, comprometam sua qualidade de vida? A fim de obter respostas para esas inquietações, inicialmente fez-se uma incursão sobre a literatura pertinente. A pesquisa bibliográfica serviu para nortear a pesquisa empírica, do tipo estudo de caso, em uma das Unidades de uma empresa de telemarketing, em Salvador-BA. O universo pesquisado restringiu-se a uma central de atendimento, contemplando os operadores de telemarketing, a supervisão e a coordenação. Objetivou-se, desse modo, captar a percepção de todos os integrantes daquele ambiente de trabalho. Aos operadores foram aplicados os questionários: Job Diagnostic Survey (JDS) e Medical Outcomes Study 36-Item(SF-36), em escala Likert. Para a supervisão e coordenação, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, com as adaptações julgadas necessárias. Os achados da pesquisa empírica sugerem que os processos de organização e gestão do trabalho da empresa de telemarketing afetam negativamente a qualidade de vida dos operadores. Palavras-Chave: organização e gestão do trabalho, qualidade de vida, marketing, telemarketing. LISTA DE FIGURAS Fig. 1 – CARACTERISTICAS DOS SERVIÇOS....................................................................25 Fig. 2 – FORMAS MARKETING DIRETO............................................................................31 Fig. 3 – FUNÇÕES DE UM CALL CENTER...........................................................................39 Fig. 4 – CONTEXTO DO SERVIÇO DE UM TELEATENDIMENTO.................................47 Fig. 5 – UM LUGAR EXCELENTE PARA SE TRABALHAR.............................................49 Fig. 6 – RELACIONAMENTOS INTERCONECTADOS DE UM BOM AMBIENTE DE TRABALHO.............................................................................................................................50 . LISTA DE QUADROS Quadro 1 – RESUMO DOS ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO MARKETING............. 21 Quadro 2 – CARACTERÍSTICAS DO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES......................36 Quadro 3 – PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES DE UMA CALL CENTER..................................38 Quadro 4 – FUNÇÕES / TAREFAS / ATRIBUIÇÕES DE UM OPERADOR DE TELEMARKETING.................................................................................................................39 Quadro 5 – EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE QVT..............................................................69 Quadro 6 – CRITÉRIOS / INDICADORES DA QVT.............................................................73 Quadro 7 – CONCEITUAÇÃO DAS VARIÁVEIS.................................................................82 Quadro 8 – PERFIL DA AMOSTRA PESQUISADA.............................................................83 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – CRESCIMENTO DO MERCADO DE CALL CENTER .....................................37 Gráfico 2 – PERCEPÇÃO DAS DIMENSÕES DA CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHO.................................................................................................................................. .84 Gráfico 3 – PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO .........................86 Gráfico 4 – AS DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA X AUTONOMIA ...................88 Gráfico 5 – AS DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA X VARIEDADE DA TAREFA.............................................................................................................................................89 Gráfico 6 – AS DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA X FEEDBACK........................90 Gráfico 7 – AS DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA X SIGNIFICADO DA TAREFA.............................................................................................................................................91 Gráfico 8 – AS DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA X IDENTIDADE DA TAREFA.............................................................................................................................................92 SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................................................12 PRIMEIRA PARTE: O REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................15 1. ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING E MARKETING............................................16 1.1 O QUE É ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING?.........................................................16 1.2 O QUE É MARKETING?.................................................................................................17 1.3 MARKETING DE SERVIÇOS.........................................................................................23 1.3.1 BENEFÍCIOS DO MARKETING DE SERVIÇOS........................................................26 1.3.2 ESTRATÉGIAS PARA MANTER O SETOR DE SERVIÇOS NO MERCADO.........27 1.4 MARKETING INTERNO (ENDOMARKETING).............................................................28 1.5 MARKETING DIRETO E TELEMARKETING..............................................................29 2. O SETOR DE TELEMARKETING.................................................................................33 2.1 DE TELEVENDAS A CONTACT CENTER......................................................................33 2.2 ESTRUTURA DO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES...............................................35 2.3 O CENÁRIO ATUAL DOS CALL CENTERS NO BRASIL E NO MUNDO..................37 2.4 ATRIBUIÇÕES / FUNÇÕES DO CALL CENTER...........................................................38 3. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EM TELEMARKETING..............................................................................................................41 3.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES .....................................................................................41 3.2 O TRABALHADOR DE TELEMARKETING, A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO TRABALHO: IMPLICAÇÕES NA SAÚDE?........................................................................43 3.3 AS EXIGÊNCIAS DE TEMPO........................................................................................50 4. O MUNDO DO TRABALHO............................................................................................55 4.1 AS METAMORFOSES DA SOCIEDADE DO TRABALHO.........................................55 4.2 O SIGNIFICADO DO TRABALHO.................................................................................58 4.3 SAÚDE E TRABALHO....................................................................................................62 4.4 A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO.................................................................65 4.4.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS, ORIGENS, EVOLUÇÃO E CONCEITO.............65 4.4.2 IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO...............................71 SEGUNDA PARTE: A PESQUISA EMPÍRICA................................................................76 1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................................77 1.1 MÉTODO .........................................................................................................................77 1.2 PLANO DE PESQUISA....................................................................................................78 1.3 A ORGANIZAÇÃO OBJETO DE ESTUDO...................................................................78 1.4 AMOSTRA E UNIVERSO................................................................................................80 1.5 PERÍODO E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS...........................................80 1.6 ANÁLISE DOS DADOS...................................................................................................81 2. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...........................................................83 2.1 PERFIL DA AMOSTRA PESQUISADA ........................................................................83 2.2 AFINAL, COMO O OPERADOR PERCEBE AS ATIVIDADES DE TELEMARKETING?................................................................................................................... 84 2.3 A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO ................................................................86 2.4 CRUZAMENTO DAS DIMENSÕES AVALIADAS ......................................................88 2.4.1 DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA/ AUTONOMIA .....................................88 2.4.2 DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA/ VARIEDADE DA TAREFA ...............89 2.4.3 DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA/ FEEDBACK ..........................................90 2.4.4 DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA/ SIGNIFICADO DA TAREFA ..............91 2.4.5 DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA/ IDENTIDADE DA TAREFA ...............92 2.5 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS COM OS SUPERVISORES E COORDENADOR DA CENTRAL ESTUDADA...................................................................................... 94 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES ...............................................................................96 REFERÊNCIAS....................................................................................................................100 APÊNDICES ........................................................................................................................106 12 INTRODUÇÃO Em um mundo cada vez mais competitivo, a qualidade dos produtos/serviços surge como necessária para garantir a sobrevivência das empresas. Desta forma, o talento e a inteligência dos trabalhadores passaram a ser foco das atenções das empresas que desejam permanecer competitivas. No entanto, para que o talento e a inteligência das pessoas fiquem a serviço das empresas, é necessário que elas criem condições que valorizem a qualidade de vida dos trabalhadores, tal, repercutindo na produtividade do trabalho e na competitividade das Organizações. A partir desta realidade, muitos pesquisadores têm-se dedicado ao estudo dos temas sobre trabalho e saúde considerando esta relação como um fator a ser observado na organização e gestão do trabalho. Relação que promove a qualidade de vida do trabalho da condição de modismo para a condição preponderante para o sucesso das Organizações. Com esse pressuposto, analisou-se o contexto de uma Organização prestadora de serviços de telemarketing, com atuação em vários estados do País. O foco principal do estudo é a relação entre a organização e gestão do trabalho e a qualidade de vida do operador de telemarketing . Embora haja um número relevante de publicações sobre qualidade de vida, ainda existe dificuldade em encontrar trabalhos que contribuam para um maior entendimento da relação entre a qualidade de vida no trabalho e as empresas de telemarketing. Desta forma, este estudo buscou subsídios para responder à seguinte questão de pesquisa: os processos de organização e gestão do trabalho das empresas de telemarketing, bem como a execução das tarefas correlatas interferem na qualidade de vida do operador (de telemarketing)? Em termos de objetivos específicos, procurou respostas para os questionamentos: 13 a) será que a qualidade de vida do operador de telemarketing é afetada pelos processos da organização do trabalho e pelas políticas e práticas de gestão da empresa em estudo? b) que modelos e processos de organização e gestão das empresas de telemarketing poderiam interferir na qualidade de vida do operador de telemarketing? c) como os operadores avaliam e correlacionam sua qualidade de vida com as tarefas que executam? d) qual a percepção dos gestores, no que tange à promoção da qualidade de vida no trabalho, no contexto organizacional estudado? Para a investigação da influência dos métodos de organização e da gestão do trabalho na qualidade de vida do operador de telemarketing, foram levantadas as hipóteses iniciais de que (a) as empresas de telemarketing trabalham nos moldes tayloristas; (b) como conseqüência, os processos de organização e gestão do trabalho comprometem a qualidade de vida dos operadores de telemarketing. Para atender ao problema de pesquisa, o estudo foi dividido em duas partes: A primeira consta de referencial teórico, dividido em quatro itens: no primeiro, é feita a contextualização do assunto com uma breve abordagem sobre marketing, marketing de serviços, marketing interno, marketing direto e telemarketing. No segundo, constam algumas considerações/definições sobre o setor de telecomunicações, suas características e peculiaridades. No terceiro, aborda-se o mundo do trabalho, seu significado e repercussões na saúde do trabalhador. No último tópíco discutem-se a qualidade de vida no trabalho, conceitos e importância para uma maior satisfação no ambiente organizacional. 14 Na segunda parte, estão contidos os aspectos metodológicos da pesquisa, sua forma de condução, período, etapas, características e um breve histórico da empresa objeto do estudo. Em seguida, encontram-se a análise e discussão dos resultados e, finalmente, as conclusões e algumas considerações, fundamentadas nos achados empíricos. 15 PRIMEIRA PARTE O REFERENCIAL TEÓRICO 16 1 - ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING E MARKETING “Em casa, na escola, no trabalho e nos locais de lazer – você está exposto ao marketing em praticamente tudo o que faz. Contudo, há muito mais sobre o marketing do que os olhos dos consumidores podem ver. Por trás dele, há uma maciça rede de pessoas e atividades que disputam sua atenção e seu dinheiro”. Kotler 1.1 - O que é Administração de Marketing? Em Coopers e Argyris (2002) tem-se que Administração de marketing (Marketing manegement) é utilizada quando se quer referir às atividades administrativas que estão envolvidas na prática de marketing nas organizações. Essa seria, portanto, a conceituação convencional de administração de marketing, encontrada na maioria dos livros-textos: um processo pelo qual o administrador de marketing utiliza os recursos de marketing para desempenhar inúmeras atividades e responsabilidades lógicas e bem definidas. Kotler (2003), por exemplo, define Administração de marketing como “a análise, o planejamento, a implementação e o controle de programas desenvolvidos para criar, construir e manter trocas benéficas com compradoresalvo para que sejam alcançados os objetivos organizacionais”. Atentando-se para essa definição, e entendendo-se o mercado como um recurso (talvez um dos mais indispensáveis), vê-se que administrar market(ing), não foge muito da forma de administrar outros ativos organizacionais: analisar, planejar, implementar, controlar... O que muda é o recurso a ser administrado. Nesse caso, o market (mercado, praça). Tanto é que o próprio Kotler (idem) conclui afirmando que “administração de marketing é a administração da demanda”, já que “objetiva afetar o nível, o ritmo e a natureza da demanda a fim de contribuir para que a organização alcance seus objetivos”. 17 1.2 - O que é Marketing? Não se encontra nos dicionários uma tradução “ao pé-da-letra” para a palavra marketing. Entretanto se market significa mercado, praça, feira, e marketer, negociante, comerciante, então, poder-se-ia dizer que maketing, significaria negociando,comerciando – tempo de verbo que induz a um continuum de ações, que dá idéia de movimento. Ocorre é que, durante um bom número de anos, “mercadologia” ou “mercadização” foram utilizadas, indistintamente, quando se queria falar de/sobre marketing no Brasil. Era tão-somente uma questão semântica. Foi essa a tradução encontrada para marketing no Brasil - a então nova área administrativa. No decorrer do tempo, contudo, marketing se impôs como uma palavra mais incisiva e reconhecida internacionalmente, ocupando o lugar das nossas mercadologia e mercadização, mesmo que marketing e mercadologia possam ser consideradas sinôminas. (RICHERS, 2000, p.5). Se para a Associação Americana de Marketing (AMA) o marketing “caracterizava a área como abrangendo todas as atividades que envolvem o fluxo de bens e serviços entre o produtor e o consumidor, essa definição desagradava não só ao mundo acadêmico como também aos praticantes das atividades relacionadas ao marketing (idem). No cerne dessa longa discussão, o conceito ampliou-se e passou a abranger áreas macro como algumas funções de um Estado moderno ou de uma comunidade, como as atividades de organizações sem fins lucrativos e mesmo pessoas (igrejas, hospitais, partidos políticos, ONG, dentre outras). Até bem pouco tempo, marketing era conceituado e tratado apenas como promoção (focando muito mais a propaganda) e vendas. A ênfase era no produto. Partia-se das premissas que bastava dispor de um bom produto e vendê-lo por um preço razoável que logo existiria um 18 significativo grupo de consumidores disposto a adquiri-lo, de maneira a assegurar um adequado crescimento constante de vendas e receitas. O foco de atenção era, predominantemente, o produto e não a solução de problemas e questões específicos de seus consumidores. Pouco depois, a filosofia do marketing voltava-se para as vendas. Imaginava-se que, vendas eram resultados do esforço de propaganda e venda pessoal; que os consumidores não comprariam se não fosse desenvolvido um grande esforço de persuasão e de vendas. Nessa época, o vendedor, a propaganda e a distribuição foram o foco de todo o esforço mercadológico da organização. O marketing, como tecnologia de administração, buscava vendedores agressivos, criativos e, às vezes, sem escrúpulos, capazes de multiplicar os investimentos e traduzi-los em significativos volumes de vendas. Estava menos preocupado com conteúdos de propaganda enganosa ou com qualquer questão ética e mais com as estatísticas de vendas. Segundo essa orientação, acreditava-se que os produtos eram vendidos e não comprados. Assim, os consumidores não decidiriam pelo produto, a menos que a empresa fizesse um considerável esforço de persuasão para vendas. Santos (2004). Essa estratégia objetivava, tão-somente, atrair o cliente para consumir o que era produzido. Buscava-se “criar” uma necessidade que, muitas vezes, o consumidor não possuía. O fundamental era vender. Era a prática do caveat emptory (o comprador que se cuide). O marketing começou a tomar novas configurações a partir da década de 50 (Levitt,1990; Baker, 2005; Oliveira, 2006; Richers, 2006 et.al). Contudo, a publicação do artigo Miopia em Marketing (Levitt, 1990), no início da década de 60, veio revolucionar o conceito de marketing para o desenvolvimento dos negócios, tornando célebre seu autor1. Levitt, contudo, justi- 1 Theodore Levitt é professor da cadeira Edward W. Carter, de Administração de Empresas, da Harvard Business School. É quatro vezes ganhador do Prêmio Anual McKinsey pelo melhor artigo publicado na Harvard Business Review. Recebeu o Prêmio George Gallop por Excelência em Marketing (1976) e o Prêmio Paul D. Converse, da American Marketing Association (1978). In. LEVITT (1990) – capa. 19 ficou-se, afirmando que “Miopia em Marketing” era, simplesmente, um manifesto, não uma prescrição. ‘Miopia em Marketing’ não pretendia ser uma análise, nem mesmo uma prescrição: ele foi escrito como um manifesto. Ele não alegava assumir uma posição equilibrada. Nem foi uma idéia nova – Peter Drucker, J.B. McKitterick, Wroe Alderson, John Howard e Neil Borden tinham feito trabalhos mais originais e equilibrados sobre ‘o conceito de marketing’. Meu esquema, porém, prendeu o marketing melhor à órbita interna da política da empresa. Drucker – especialmente em The concept of the corporation e The pratice of Managemente – motivou-me originalmente, grande insigth. (LEVITT,1990, p 174.) Por que, então, esse artigo fora recebido pelo mundo empresarial com tanto entusiasmo? Pela primeira vez, fora dada uma atenção séria para responder à questão: em que negócio estamos? Até então, as organizações não enxergavam à distância (míopes, portanto). O futuro era aqui e agora: foco na produção e nas vendas (alavancadas pela propaganda e por vendedores agressivos). Levitt (1990) começou desfazendo esse equívoco: “A melhor maneira para uma empresa ter sorte é fazendo sua própria sorte. Isso exige o conhecimento do que torna um negócio bem-sucedido. Um dos maiores inimigos deste conhecimento é a produção em massa”. Ora, se há excedente de produção, o único meio de reduzi-lo é através do incremento das vendas. O resultado é que o marketing é negligenciado. Essa visão, assim como produziu muitos adeptos e partidários leais, também encontrou muitos adversários, conforme se pode abstrair de seus escritos. 20 Jonh Kenneth Galbraith afirma que ocorre exatamente o oposto. A produção é tão prodigiosa que todo esforço se concentra em se livrar dela. Ele diz que isto é responsável pelos comerciais musicados, pela profanação das áreas rurais com cartazes de propagandas e outras práticas destrutivas e vulgares. Ele toca em algo real, mas perde um ponto estratégico. A produção em massa gera, de fato, uma grande pressão para ‘mover’ o produto. Mas, o que costuma ser enfatizado são as vendas e não o marketing. Este, sendo um processo mais sofisticado e completo, permanece ignorado. (LEVITT, 1990, p. 158) Como se vê, Levitt, ao contestar as afirmações de Galbraith2 , traz à luz um novo e revolucionário conceito de marketing: A diferença entre marketing e vendas é mais que semântica. Vendas se concentra nas necessidades do vendedor, marketing naquelas do comprador. Vendas se preocupa com a necessidade do vendedor, de converter seu produto em dinheiro, marketing com a idéia de satisfazer as necessidades do cliente por meio do produto e de todo o conjunto de coisas associadas à sua criação, entrega e consumo final (LEVITT, 1990, p. 158) No contexto atual, vivenciam-se mudanças: demográficas, sócio-econômicas, culturais, com uma maior expansão dos mercados, influenciada pela microeletrônica – as telecomunicações facilitaram as formas de consumo. O e-commerce “traz” a empresa e seus produtos para dentro da casa do consumidor. Desta forma, tornou-se, cada vez mais vantajoso e lucrativo orientar-se para o marketing, atrair e reter clientes. As preocupações com problemas no processo produtivo cederam espaço para o novo consumidor que estava surgindo. Por outro lado, com a evolução das economias de serviços, o equilíbrio de poder mudou, e os processos produtivos passaram a ser subservientes aos consumidores. Entretanto, tais fatores não só têm influenciado a “visão” do Marketing como também condicionado as relações das Organizações com o mercado. Desse modo, o Marketing continua sendo estudado e sistematizado sob diferentes perspectivas e abordagens, implicando percepções variadas do seu papel, da sua prática e da sua importância para as Empresas. A natureza da demanda, o tipo de produto, a presença e a atuação da concorrência também têm obrigado essas mesmas Organizações a adotar estraté2 GALBRAITH, John Keneeth. The afluent society. Boston, Hougtton Miffflin, 1958.p. 152-60 (nota in LEVITT.1990. p. 158) 21 gias de marketing que lhes permitam a obtenção de vantagens competitivas para sua sobrevivência no mudo dos negócios (PORTER, 2004). O Quadro 1 oferece uma visão compactada dos antecedentes históricos do Marketing, dos primórdios da sociedade aos tempos atuais ÉPOCA CARACTERÍSTICAS CONTRIBUIÇÃO Produção artesanal Negócios em pequena escala Contato face-a –face Primórdios da Áreas urbanas rarefeitas Negociação entre as partes Sociedade à Revolução Criação da moeda como mediadora das trocas Definição da função preço Desenvolvimento do mercantilismo Dinamização da distribuição Industrial Riqueza fundamentada na terra Prática do caveat emptory (o comprador que se cuide) Início da produção em massa Urbanização acelerada Da Revolução Distanciamento do fabricante Industrial aos Riqueza fundamentada no capitalismo Primórdios do Século Início das pesquisas de mercado XX Pouco desenvolvimento dos meios de comunicação A prática mercadológica começa a ter configuração própria, incorporando o vendedor, a pesquisa e os canais de distribuição. Ênfase do empresário na produtividade Início das ações de proteção ao consumidor Surgimento dos primeiros grandes estabelecimentos comerciais Início da legislação de proteção ao consumidor Apogeu da sociedade de consumo de massas Consolidação do capital como recurso estratégico para as empresas Do início do Século XX Grandes aglomerações urbanas à Grande Depressão Grande desenvolvimento dos meios de comunicação de massas Início da propaganda de massas Ênfase na distribuição e vendas Criação dos departamentos de pesquisas Início da venda a crédito Predominância da doutrina do “laissez-faire” Especialização das funções e sua consolidação como instrumentos de marketing continua Declínio da sociedade de consumo de massa Da Grande Recessão econômica Depressão ao PósGuerra Segunda Guerra Mundial Consolidação do varejo e da logística de distribuição Evolução das técnicas de conservação de alimentos Intensificação da propaganda ideológica Intensificação do trabalho da mulher fora do lar Popularização do auto-serviço Desenvolvimento da logística Desenvolvimento de técnicas de conservação de alimentos Período relativamente calmo nas relações empresa-consumidor Retomada do crescimento econômico; global ingresso na sociedade Esforço para aumento do consumo, principalmente pelas sociedades afluentes. Aumento da competitividade entre empresas e paises na busca de mercados para seus produtos Esforços por maiores índices de qualidade e produtividade Disseminação do Total Quality Control (Controle da Qualidade Total, Gestão pela Qualidade, Qualidade Total por toda a empresa) e “corrida” atrás de Certificações para melhor competir: IS0 9000, 9001; De 1950 aos dias atuais O consumidor como ponto de partida das atividades de marketing e consideração dos demais públicos como mercados específicos Produtos e serviços customizados Mudança na ética do marketing e adoção do conceito de Responsabilidade Social Aperfeiçoamento das leis de proteção ao consumidor Consumidores cada vez mais exigentes e conscientes de seus direitos Adoção da metáfora “o consumidor é o rei”, indicando o seu status nas empresas Busca da maior satisfação do consumidor O freguês passa a ser o cliente: apenas satisfazer já não basta, é preciso encantar o cliente - plus Ampliação da utilização das dimensões do marketing: empresarial, de relacionamento, de serviços, cultural, direto, ecológico, esportivo, institucional, político, social, interno (endomarketing), marketing share, de idéias, pessoal, e outros Revolução dos meios de comunicação (robótica, microeletrônica) comunicação em tempo real;E-commerce Qualificação dos RH como principal ativo estratégico das empresas8 Busca de maior participação e comprometimento da força de trabalho nas decisões.Tendência de mudanças nas relações de trabalho, em busca de um equilíbrio O marketing faz-se presente em quase todas as ações da vida das pessoas Quadro 1 : Resumo dos antecedentes históricos do Marketing Fonte: Adaptado de UFMG (apud Santos,2004) Consolidação do marketing como prática e como disciplina . 22 23 1.3 - Marketing de Serviços O setor de serviços foi considerado por muito tempo uma atividade auxiliar. Havia uma dificuldade em aplicar os conceitos clássicos do Marketing de bens de consumo para o setor terciário. Argumentava-se que a própria natureza do setor, dificultava a definição do serviço e a fixação dos preços. Levitt (1998), entretanto, defende que “não existem indústrias de prestação de serviços. Há apenas indústrias nas quais, o componente de prestação de serviços é mais ou menos importante do que em outras”. Sendo assim, de uma forma ou de outra, todos nós prestamos serviços. O fato é que, ao longo dos anos, o setor terciário vem crescendo e, em decorrência, adquirindo importância mundial. Desse modo, tornou-se necessário um novo olhar para o Marketing com abordagens específicas para o setor de serviços - o marketing de serviços. “O que se verifica no contexto mundial é ‘um setor de serviços’ grande, com rápido crescimento, na maioria das nações, proliferação de novos tipos de serviços e aparecimento de companhias de serviço maiores e mais sofisticados” (PORTER, 2000, p.292). Três fatores destacam a importância do setor de serviços no contexto mundial. O primeiro deles é o seu peso no sistema econômico mundial quando, com a mecanização dos processos industriais, as atividades-fim das empresas passaram a ser o foco das atenções, implicando maiores demandas para os serviços de apoio. O segundo, refere-se ao progresso tecnológico: com o advento da microeletrônica, as informações passaram a circular de forma rápida (em tempo real), tornando a competição mais acirrada, inclusive para o setor de serviços. A mundialização dos mercados, o acesso fácil às informações sobre produtos e todos os seus atributos, possibilitou ao cliente maior poder de barganha, de conhecimento de seus direitos, tornando-o mais exigente. O terceiro, que guarda uma relação direta com os anteriores, diz res- 24 peito à ampliação da concorrência, à segmentação bem precisa, além da tendência para uma defesa de âmbito internacional, já que, com a intangibilidade dos serviços torna-se difícil para as empresas protegê-los da concorrência e manter suas vantagens competitivas (idem). Já há algum tempo, Porter (1989) argumentava que “o setor de serviços vem apresentando rápido crescimento ao longo dos séculos com grande repercussão na economia mundial”. Os três motores básicos de aceleração do crescimento eram movidos (a) por uma necessidade, cada vez maior, das funções de serviços; (b) pela transferência das atividades de serviços dos próprios interessados para vendedores externos especializados em serviços e (c) pela privatização dos serviços públicos. Por outro lado, o crescimento do setor terciário está relacionado com o cenário competitivo atual, que não vê mais as tecnologias da gestão e da produção como diferenciais competitivos (MCGEE e PRUSAK, 1994) Estas, já foram absorvidas rapidamente pelos concorrentes, de modo que não constituem mais vantagem competitiva – ou competências essenciais, “core competences” competências distintivas, competências críticas, competências invisíveis3. Desta forma, os serviços emergiram como um diferencial competitivo, atualmente já questionado por estudiosos do assunto. “As mesmas competências essenciais que hoje asseguram a vantagem da empresa podem-se constituir em dificuldades no futuro – rigidez essencial”. Depreende-se, portanto que, além dos serviços, a organização deve “investir no desenvolvimento das novas competências enquanto as antigas ainda estão rendendo os frutos esperados” (FLEURY,2001, p.127). Contudo, em que pese tais questionamentos, hoje, o setor de serviços 3 “... são o conjunto de habilidades e tecnologias que habilitam uma companhia a proporcionar um benefício particular para os clientes mais do que uma habilidade ou tecnologia isoladamente” (HAMEL e PRAHALAD. 1994, in FLEURY. 2001. p. 126) ou, também: “um saber agir responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo” (FLEURY e FLEURY. 2000. p 21. in FLEURY. 2001. p. 128). As competências essenciais são difíceis ou impossíveis de serem copiadas ou imitadas pelo concorrente. São as competências assinadas (quando se referem a pessoas): ninguém as imita ou faz melhor do que elas. 25 é entendido como essencial para o sistema de produção, sendo também responsável por adicionar valor ao produto. Este setor possui tanta importância que não é mais possível pensar na produção de bens de consumo sem considerar a economia de serviços. Para cada produto (bem) que compramos uma parcela final desse bem refere-se ao custo de fazer funcionar o sistema de serviços e entrega (...) as funções dos serviços tornaram-se a maior parte das preocupações e dos investimentos (...) os intangíveis, as atividades de serviços que as empresas oferecem aos seus clientes, talvez sejam a fonte mais importante de valor agregado na economia dos serviços. (SANTOS,2004, p. 2) Os serviços possuem quatro principais características: intangibilidade, inseparabilidade, variabilidade e perecibilidade ( FIGURA 1) . Estas são características específicas que devem ser consideradas em todas as estratégias de marketing. INTANGIBILIDADE Os serviços não podem ser vistos tocados, sentidos, ouvi -dos ou cheirados, antes da compra VARIABILIDADE A qualidade dos serviços depende de quem os executa e de quando, onde e como são executados Figura 1: Características dos serviços Fonte: Adaptado de Kotler (2004 apud SANTOS,2004) INSEPARABILIDADE Os serviços não podem ser separados de seus provedores PERECIBILIDADE Os serviços não podem ser armazenados para venda ou uso posterior 26 1.3.1 - Benefícios do Marketing de Serviços Porter(1989), Santos (2004), Neto (2000), dentre outros, afirmam que o aumento da satisfação e fidelização dos clientes, vantagem competitiva, aumento da produtividade são algumas dos benefícios que a aplicação do marketing de serviços pode trazer para as organizações. De igual modo, de acordo com Neto (2000), os serviços possuem maior potencial competitivo que os produtos, na medida em que são mais difíceis de serem copiados. Diferentemente dos produtos, a qualidade do serviço não está associada apenas à tecnologia da produção e sim a outros aspectos relacionados com a gestão e a cultura das organizações. Sendo assim, ainda se considera uma vantagem competitiva durável. Os serviços de qualidade podem proporcionar uma vantagem competitiva durável, por derivarem de uma notável profundidade em habilidades humanas selecionadas, de difícil imitação pelos concorrentes e que levam a um maior valor demonstrável para os clientes (NETO, 2000, p.1). As empresas que possuem atitudes proativas, baseadas na crença de seus próprios valores, são vitoriosas. Estas atitudes direcionam as ações dos empregados e refletem no atendimento ao cliente. O valor da empresa está centrado no ativo intangível, não contabilizado, a saber: clientes internos (empregados) e clientes externos. A produtividade, a competitividade e a sobrevivência da Organização dependem, fundamentalmente, desses fatores (SANTOS, 2004). Convicções como essas, levaram Davenport e Prusak (1998) a afirmarem que “a busca por inovação, desempenho e produtividade fizeram à comunidade gerencial perceber que o que alimenta o funcionamento de uma empresa é o que seus funcionários sabem.”. 27 1.3.2 - Estratégias para manter o setor de serviços no mercado Neste cenário competitivo, a produtividade das empresas é constantemente ameaçada pelo aumento dos custos e queda da qualidade de produtos e serviços. Desta forma, para manter-se no mercado, as empresas, em especial as de serviços, devem direcionar seus esforços de marketing para três situações: (a) diferenciação competitiva: oferta, fornecimento e imagem diferenciados; (b) qualidade dos serviços: fornecimento de um serviço notável que atinja ou exceda ao esperado pelo cliente; (c) produtividade: conseqüência do investimento nas políticas e práticas internas da organização, no que tange aos recursos humanos (SANTOS, 2004). Entretanto, para tornar o serviço mais competitivo dois aspectos também devem ser considerados: (a) a correta interpretação do conceito de valor para o cliente e tornar esse conceito perceptível. Essa não é uma tarefa fácil porque “o valor percebido” depende da interação entre fornecedor e cliente: identificar, atender a esse valor e bem interagir com seu público-alvo é que propiciam o surgimento de diferencial competitivo. Os clientes percebem a qualidade do serviço, de acordo com a interação com aquele que o oferece. Como o funcionário constitui a “linha de frente” da organização, a qualidade do serviço em muito dependerá de seu comprometimento com a organização; (b) a forma como (re) desenham suas arquiteturas organizacionais bem como (re) definem os estilos gerenciais que mais se adequem às novas realidades do mercado. As Organizações precisam buscar o comprometimento de seus funcionários com a missão, com as estratégias, valores, crenças e comportamentos, a fim de que estes direcionem seus esforços para a obtenção dos objetivos pretendidos e que se constituam elemento diferenciador da concorrência. Segundo Disney.W (sd/sf.), “você pode criar, conceber e construir o mais belo lugar do mundo, mas serão os homens que permitirão que o sonho se torne realidade.” (grifo nosso). 28 1. 4 - Marketing Interno (endomarketing) Para conseguir que o mercado externo responda positivamente aos estímulos que lhe são dirigidos, a empresa terá que garantir que seu mercado interno seja capaz de cumprir as promessas feitas aos consumidores. O esforço interno para que isso aconteça depende de vários fatores, tais como: tarefas estimulantes e ambiente de trabalho motivador. Esse é o grande desafio do “endomarketing – identificar meios, formas que possam auxiliar à gerência na consecução de respostas favoráveis na busca do comprometimento com a organização e, em conseqüência, com a satisfação do cliente externo. Isto é: como fazer que seus liderados compreendam e pratiquem as novas estratégias, tarefas e maneiras de pensar – a visão da empresa. O Marketing Interno implica o treinamento, a motivação, a participação e o envolvimento dos empregados que contatam com os clientes. Todo o pessoal de apoio ao serviço deve trabalhar como um time, para proporcionar satisfação ao cliente. Implica, ainda, ensinar aos empregados como interagir com os consumidores para lhes proporcionar satisfação. Para que a empresa possa fornecer uma qualidade consistente de serviços, todos os empregados devem praticar uma filosofia e orientação para o cliente, devendo mesmo preceder o Marketing externo. Não faz sentido anunciar excelentes serviços, antes que os empregados estejam prontos para os proporcionar. A capacidade de os empregados funcionarem como "guardiães dos interesses da empresa", ou seja, responsáveis de maneira incondicional pela satisfação dos clientes, independentemente da área em que atuem, depende, em grande parte, do apoio e encorajamento que recebem de seus líderes diretos. (VILHENA,s/d, p.3) 29 Sendo assim, pode-se afirmar que o endomarketing deverá exercer, também, um papel estratégico, procurando mobilizar e envolver toda a Organização, contando com o aval da alta gerência. Isto porque para que seja efetivo, o marketing interno deverá ser parte da filosofia de gestão de pessoas. Vale salientar que a primeira "grande venda" é aquela que a empresa faz “dentro de casa”, para os colaboradores que, por sua vez, deverão sustentar as promessas feitas ao mercado. Conseqüentemente, os focos nos clientes interno e externo andam lado a lado.4 Algumas Organizações que presumiram que a tecnologia poderia substituir a qualificação e o julgamento de um trabalhador humano experiente (DAVENPORT e PRUSAK, 1998), começam a repensar seus conceitos. 1.5 - Marketing Direto e Telemarketing Segundo Baker (2005), o termo marketing direto, também chamado de marketing de relacionamento, foi usado pela primeira vez por Lerter Wundermam em 1961. Este termo se firmou porque era mais abrangente que o reembolso postal. Utilizavam-se o telefone como uma nova forma de fazer pedido e as assinaturas de revistas e publicações como métodos de marketing. Bob Stone (1995 apud RICHERS, 2000, p. 374), considerado guru do marketing direto, o define como: “um sistema interativo de marketing que utiliza uma ou mais mídias de propaganda a fim de produzir respostas e/ou transações mensuráveis, de/ para qualquer local”. Ele ainda afirma que há uma dependência deste tipo de Marketing das diversas formas de mídia como: mala direta, telefone, internet etc. 4 Um estudo mais exaustivo sobre endomarketing poderá ser encontrado, p.ex. em BAKER (2005); FERREL e HARTLINE (2005) KOTLER e ARMSTRONG (2004) 30 Kotler e Armstrong (2003) dizem que o marketing direto é diferente do marketing tradicional porque se preocupa com a reação do consumidor, dá a ele a oportunidade de escolher entre uma variedade de ofertas. O cliente pode analisar e comparar produtos competitivos, contestar e solicitar modificações. Afirmam os autores (idem) que o marketing direto “consiste em comunicações diretas dirigidas a consumidores individuais, cuidadosamente selecionados, destinadas não somente a obter uma resposta imediata, mas também a cultivar relacionamentos duradouros com eles”. Assim, o marketing direto é considerado o tratamento personalizado dos clientes. Através de um Sistema de Informações de Marketing (SIM), as empresas detêm o conhecimento das necessidades dos clientes e trabalham buscando satisfazê-las. Desta forma, o marketing direto assumiu duas funções: efetuar a venda e manter relacionamentos. O marketing direto proporciona benefícios tanto para o consumidor, quanto para a empresa. Para o primeiro, proporciona maior conveniência, na medida em que comprar torna-se mais fácil e privado. Eles passam a ter maior acesso aos produtos e maior variedade de itens, a ampliação dos canais de comunicação com o mercado, a compra é interativa. Porém, uma nova realidade se apresenta nessa relação. Maior controle do/pelo consumidor. Para a empresa, o benefício é a construção do relacionamento com o cliente, a redução dos custos, maiores velocidade, eficiência e flexibilidade, já que as empresas ajustam suas ofertas e demandas às necessidades dos clientes (KOTLER, 2004). As primeiras empresas que utilizaram o marketing direto trabalharam com venda de catálogos, mala direta e telemarketing. Devido à velocidade dos avanços tecnológicos, às novas mídias, o marketing direto passou por significativas transformações. Agora, é mais que um 31 canal com o cliente; nas suas novas formas (internet e comércio eletrônico), tornou-se um novo e completo método de fazer negócio (e-commece). Figura 2 Venda pessoal Marketing On-line TTeelleem maarrkkeettiinngg Clientes atuais e potenciais Marketing de terminais de multimídia Marketing de televendas Marketing de Mala direta Marketing de catálogo Figura 2: Formas de Marketing direto Fonte: Adaptado de KOTLER e ARMSTRONG, 2003, p.447 O telemarketing é uma das formas que mais se expande atualmente, nos diferentes segmentos de mercado, já respondendo por 38% do total gasto com todos os veículos de marketing direto (KOTLER e ARMSTRONG, 2003). Através dele pode-se utilizar: o marketing de dentro para fora, para vender diretamente a consumidores e a outras empresas; de fora para dentro, através de números de discagem gratuita (0800), para receber pedidos provenientes de outros tipos de mídia: comerciais de televisão, rádio, mala-direta, catálogos etc. 32 A Associação Brasileira de Telemarketing (2007) define esse veículo como “toda e qualquer atividade desenvolvida através de sistemas da telemática e múltiplas mídias, objetivando ações padronizadas e contínuas de marketing”. Apoiado por um planejamento estratégico de marketing, que inclui várias estratégias de promoção, sustentado por um grande banco de dados e/ou Sistema de Informações de Marketing, aliado a avaliações sistemáticas de performance, o telemarketing é visto como uma ferramenta eficiente que atende aos mais variados objetivos das empresas e dos consumidores. Isto porque, além de servir como veículo de promoção e propaganda, divulgando os produtos ou serviços mais rapidamente, através do telefone, tem a capacidade de atingir o segmento em que a empresa desejar atuar. 33 2 - O SETOR DE TELEMARKETING “O recente e impressionante aumento do uso da internet e das redes de computador é uma manifestação da importância crescente da tecnologia nas comunicações e na busca de conhecimento” Davenport e Prusak 2.1 - De Televendas a Contact Center O telefone começou a ser utilizado para fins comerciais por volta de 1800, em Berlim, após a criação do primeiro telefone por Graahm Bell, quando um pasteleiro começou a oferecer os seus pastéis por telefone. Como era uma venda por telefone, o serviço foi denominado de televendas. Na década de 50, nos EUA o serviço de televendas começou a ser utilizado através das publicações que continham números de telefones para que as pessoas obtivessem as respostas. No Brasil, também na década de 50, as páginas amarelas das listas de assinantes já anunciavam seus serviços por telefone, forma de propaganda que até hoje perdura (ABT, 2007).5 De acordo com Minguelli (2002), o serviço de televendas, aos poucos, foi incorporando ações de marketing, objetivando fortalecer a imagem das empresas e melhorar a comunicação com os clientes. Daí, então, passou-se a chamar telemarketing, unindo as atividades de vendas com o atendimento ao cliente. Segundo o autor (idem), na década de 80, houve uma grande utilização dos serviços de telemarketing pelas operadoras de telefonia a fim de aumentar o tráfego de ligações para consolidar o serviço no mercado. As privatizações, o desenvolvimento da informática, a publicação do código de defesa do 5 Associação Brasileira de Telemarketing 34 consumidor e as mudanças culturais ocorridas na década de 90, propiciaram o crescimento das telecomunicações e o surgimento do Call Center (Centro de Chamada) no final do século (ABT,2007) . De acordo com Mancine (2000 apud MINGUELLI, 2002), o Call Center surge em um momento em que as empresas precisam não apenas atender às necessidades dos clientes como também antecipar-se a elas, superando as suas expectativas. Porém, para que os call centers ganhassem o impulso pretendido, ainda faltava a mão-de-obra que punha os centros de atendimento em funcionamento. Atendida à demanda dessa mão-de-obra, novas formas de organização e gestão do trabalho foram desenvolvidas objetivando, principalmente, medir e avaliar o desempenho e a produtividade dos operadores. No ano 2000, com a chegada da Internet nos Call Centers, o foco em relacionamento com os clientes é acentuado. As empresas de Call Center assumem o papel de intermediárias entre as Organizações demandantes de seus públicos. Terceirizam-se as atribuições de atrair, cativar e fidelizar os clientes. Denominadas de Contact Centers (Centros de relacionamento) tais, representaram a oportunidade de novos negócios, novos mercados e um caminho para a diferenciação no mercado cada vez mais competitivo (MUNIZ, 2007). 35 2.2 - A Estrutura do Setor de Telecomunicações Segundo Laranjeiras (2002), no Brasil, o setor de telecomunicações estruturou-se através do sistema duopólio6, uma empresa-concessionária e uma empresa-espelho. As empresasconcessionárias, como por exemplo a a Telemar Norte Lesta S/A, tiveram origem com a privatização do sistema Telebrás. Ao adquirir a concessão para prestar os serviços de telefonia (antes pública), fixa e de longa distância, deveriam, portanto, cumprir as metas de universalização, continuidade e qualidade de serviços. Tais serviços seriam regulados por uma das agências governamentais de regulação, neste caso, a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), tendo, dentre outras atribuições o controle das tarifas e a fiscalização da prestação dos serviços aos diversos usuários da telefonia. Já as empresas- espelho, como por exemplos a Intelig, da Embratel e a Vésper S/A, da Telemar, são operadoras que adquiriram autorização para explorar os serviços de telefonia, através de sistemas licenciatórios, pósprivatização. Estas, não têm a obrigação de cumprir as metas que são cobradas às concessionárias, já encontram a estrutura da empresa de telefonia montada e, por isso, desfrutam de algumas vantagens: (a) não têm custos com reengenharia e mudanças da cultura da empresa; (b) controlam as suas tarifas; (c) fazem o gerenciamento de sua mão-de-obra, de acordo com as suas necessidades e (d) estão autorizadas a utilizar a tecnologia wireless local loop7. 6 “Mercado que abriga só duas empresas. O modelo tipo Hotelling (os consumidores têm uma variedade ‘ideal’ para todo produto que consomem) demonstrou que, nesse caso, quando as empresas não concorrem em preço, o ideal para elas é que se localizem uma do lado da outra, no meio do espaço das características do produto” (ARGYRS e COOPER. 2003,p,233) 7 Telefonia celular fixa que prescinde de rede de cabeamento até o local do usuário, resultando em baixo custo e menor tempo para implantação e instalação de telefones. 36 O setor de telecomunicações atualmente é o que apresenta maior dinamismo tecnológico. As utilizações potenciais da rede são numerosas e apresentam-se cada vez mais evoluídas, como : transmissão e recuperação de dados, transmissão de voz, som e imagem, tornando mais próximos os setores de eletroeletrônicos, informática e telecomunicações.Segundo Fiúza e Néri (1998). As principais características, com as respectivas definições são especificadas no Quadro 2. Características Estrutura vertical complexa da indústria; Firma multiproduto; Presença de produtos não estocáveis; Demanda estocástica Externalidades geradas pelos serviços: negativas ou positivas. Custos elevados Definições Diferentemente dos serviços de provisão de combustíveis ou energia, não há uma “fonte geradora” propriamente dita, já que de qualquer extremidade da rede pode se originar o tráfego de ligações para qualquer outra. O que confere às operadoras grande poder de mercado, porque todas as chamadas passam em algum momento por suas redes. Na rede podem ser conectados diversos aparelhos: telefones convencionais, telefones móveis celulares, pagers, secretária eletrônica, aparelhos de fax, computadores e etc.Desta forma, podem ser oferecidos os mais numerosos e variados serviços. Se por exemplo existe um congestionamento de ligações e não há sistema de roteamento alternativo , as chamadas não são completadas. Enquanto que nos setores de transporte, as cargas ou passageiros continuam a sua trajetória em casos de congestionamento, só que em uma velocidade menor. A demanda varia com a hora do dia,o dia da semana ou do ano, o que traz implicações para dimensionamento da rede, por um lado, traz economias de escala por outro torna recomendável a adoção de preços diferenciados sujeitos à restrição da capacidade de atendimento. As externalidades positivas referem-se ao acesso e ao uso, quando o consumidor beneficiado pelo uso do serviço recebe as ligações e não efetua o pagamento por elas (exceto em ligações a cobrar).As externalidades negativas referem-se a momentos de picos de chamadas, quando ocorre um congestionamento na rede e o consumidor tem a probabilidade de reduzida de conseguir completar as ligações Os custos de implantação, cabeamento e planejamento da arquitetura e rede são elevados. Quadro 2 : Características do setor de Telecomunicações Fonte: Adaptado de Fiúza e Néri (1998) “A telecomunicação está hoje para a sociedade assim como a indústria automobilística esteve para a sociedade industrial do século XX” (LARANJEIRA,2002,p.3). A “tele”, atualmente, é considerada uma força-motriz da economia, propiciando o desenvolvimento de diversos outros setores, como por exemplo: a transmissão eletrônica de dados, que permitiu a criação do comércio eletrônico e o sistema bancário que tem uma relação direta de dependência do setor de telecomunicações. 37 2.3 - O Cenário Atual dos Call Centers no Brasil e no mundo. O Setor de Telecomunicações mais especificamente, os Call Centers, vem-se destacando no mercado como bastante promissor, tanto em número de pessoas empregadas, de Posições de Atendimento (PA)8 como em faturamento, conforme demonstra a Gráfico 1. 281862 300000 246083 250000 194900 200000 135857 150000 99154 110945 100000 50000 2990 4097 4786 0 PAs Total Nº de Funcionários Total 2004 2005 Faturam ento Bruto (em m ilhões - R$ ) 2006 Gráfico 1 : Crescimento do mercado de Call Center Fonte: Elaborado pela autora (dados do site especializado www.callcenter.inf.br. Acesso 29.09.2007) Segundo a ABT, o setor brasileiro de Call Center é, atualmente, o maior gerador de empregos do País. Entre 1997 e 2001, o número de PA cresceu em 198,1%. A previsão, segundo dados da Frost & Sullivan9, é que até 2008 haja crescimento de 207 mil posições de trabalho. Quanto à localização, 80% dos Call Centers ficam nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, embora haja também presença significativa na Região Sul do País (5%). Atualmente, existem no Brasil cerca de 60 empresas voltadas para este setor. Entretanto, pou8 A posição de Atendimento (comumente chamada PA) engloba o conjunto formado por software, hardware e o mobiliário onde o Operador executa suas tarefas. 9 Empresa Internacional de consultoria em crescimento de mercados. (Informação extraída do site especializado www.abt.org.br. Acesso em 29.09.2007) 38 cas se destacam no ranking das maiores, Contax, Atento, Teleperformace, Cia Brasileira de Contact Center (CBCC), CSU Telesystem e Algar Call Center Service SA (ACS). Estas, representam 52% da receita total do segmento. (COSTA, 2004). Quanto ao tamanho, as pesquisas revelam que 25,4% dos Call Centers têm mais de 500 PA’s, sendo que 24,6% deles mantém entre 100 e 500 PA’s e 50%, mais de 10 PA’s. Esses resultados levam a supor que existe uma diversificação de empresas no ramo. Quanto à mão de obra, predomina a população do sexo feminino (76,8%), o 2º. grau é a escolaridade dominante nesse mercado (74% ) contra 22% com nível superior. (ABT, 2007). 2.4 - Atribuições/ Funções do Call Center Conforme já mencionado, os call centers (centros de atendimento) funcionam como um canal aberto para oferecer informações e serviços e receber críticas e sugestões dos clientes, servindo ainda como um veículo de propaganda, divulgando produtos e serviços de forma mais rápida e eficiente, através do aparelho telefônico (FERNANDES; DI PACE; PASSOS, 2000, p.7). O Quadro 3 e a Figura 3 resumem as principais atribuições de um Call Center CALL CENTER/ ATRIBUIÇÕES Vender produtos e serviços adicionais, aumentando a participação de sua empresa no cliente. Prestar suporte a produtos e serviços complexos, reduzindo o custo de atenção ao cliente Fornecer produtos complementares e permanentes, o que aumenta a fidelidade dos clientes ao produto básico. Melhorar a qualificação dos clientes potenciais, reduzindo o custo de venda. Reduzir a necessidade de utilizar descontos para vender a novos clientes, aumentando a lucratividade. Realizar pesquisas com os clientes, baixando os custos de obtenção de dados. Quadro 3: Principais atribuições de um Call Center Fonte:Adaptado de Peppers e Rogers (2001, apud MIGUELLE, 2002) 39 Prospecção de novos clientes. Fidelização de clientes. Atendimento ao cliente Suporte a vendas e administração. Figura 3: Funções do Call Center Fonte:Adaptado de Bretzke (2000 apud MIGUELLE, 2002) Dependendo dos serviços contratados com a Central prestadora de serviços, a rotina diária de um operador de telemarketing, geralmente, pode ser resumida no Quadro 4. FUNÇÃO SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE (SAC) TAREFAS /ATRIBUIÇÕES DO OPERADOR DE TELEMARKETING Prestar Orientações e informações diversas Dar suporte, assistência técnica ou help desk Agendar visitas Reter clientes: persuasão e convencimento do consumidor a continuar com um serviço para o qual não há mais intenção de continuar Televendas:venda ativa - oferecimento de produto/serviço a potenciais consumidores Venda receptiva: recepção e fechamento de pedidos de compra (iniciativa do próprio consumidor Atrair clientes/Promover produtos (lançamentos de produtos ou ofertar produtos chamados em “promoção” (com algum tipo de vantagem, em relação a situação normal de venda) Manter clientes/Realizar contatos pós-venda: pesquisa de satisfação do cliente , após o recebimento do produto ou da prestação do serviço Atender a clientes com necessidades específicas (instituições financeiras, de cartões de crédito, telemensagens e outras) Realizar cobranças diversas Atualizar cadastro de clientes e/ou de potenciais clientes Reativar clientes “inativos”: consumidores que não mais voltaram a uma determinada empresa Quadro 4: Função/tarefas/atribuições do operador de telemarketing Fonte: Adaptado de Martins (2000) 40 Para as empresas de telecomunicações, as inovações tecnológicas permitiram a diversificação e uma aparente melhoria na qualidade dos serviços. Técnicas modernas de marketing de segmentação estratégica, combinadas com a tecnologia propiciaram a segmentação das atividades de serviço, de acordo com o potencial de consumo de cada cliente, o que deveria contribuir para aumentar a qualidade do serviço. Fato é que as novas tecnologias abriram um leque de oportunidades para a exploração de mercados pelas empresas de telefonia (telecomunicação), estimulou a competitividade entre elas, estratégias foram criadas para reduzir custos, aumentar a qualidade e oferecer vantagens aos clientes (LARANJEIRA,2002) 41 3 - CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO TRABALHO EM TELEMARKETING “ O verdadeiro perigo não é que os computadores comecem a pensar como seres humanos, mas que os seres humanos comecem a pensar como computadores” Sydney J. Harris 3.1 - Algumas considerações Em que pesem os grandes avanços tecnológicos impactando a todos (ou quase todos) os setores da economia, Vasconcelos, Motta e Pinochet (1994) chamam a atenção para o paradoxo avanço tecnológico sem a contrapartida (ou mesmo retrocesso) nos processos de organização e gestão do trabalho. Uma vez que os avanços tecnológicos exigem das organizações trabalhadores mais comprometidos, participativos, com mais criatividade e autonomia sobre seu trabalho, era de se notar uma mudança dos velhos paradigmas, da “organização-comomáquina” para a “organização-como-pessoas (termo nosso). Esse novo “modus operandi” é tão mais fundamental quanto mais se trabalham com pessoas “da linha de frente” da/s organização/ões, como é o caso dos operadores de telemarketing. Um dos grandes problemas enfrentados pelo taylorismo/fordismo residiu exatamente no excesso de mecanismos de controle, de vigilância constante e na busca incessante por maiores níveis de produtividade. Com o fordismo, o homem tornou-se uma extensão da máquina. A introdução das correias transportadoras (princípio da linha de fluxo ou de montagem), que até hoje perduram nas indústrias de processo contínuo, não mais permitia ao trabalhador seguir seu próprio ritmo. “Ao invés de o trabalhador se (loco) mover em torno do que estava sendo feito, era a peça que se deveria mover.” O ritmo passa a ser dado pela esteira rolante (in SANTOS, 1996, p. 32). De igual modo, novos métodos de controle foram implantados – muitos dos quais disfarçados como benevo42 lência, como os ganhos de produtividade. “A lógica do modelo taylorista/fordista conduzia à limitação do papel dos operários à execução de um trabalho extremamente fragmentado, repetitivo e monótono, prévia e minuciosamente definidos pela gerência” (grifo nosso) (SANTOS, 1996, p. 34). “Esse novo modo de produção implicou uma forma muito autoritária de direção, para impor disciplina aos trabalhadores, e uma pesada estrutura de controle e supervisão dos operários” – que não aceitaram de bom grado os novos métodos de trabalho a que estavam sendo submetidos (idem, p.34) Um outro paradoxo também presente com os avanços tecnológicos, é entre a automação e aprendizagem na medida que, a introdução da tecnologia permitiu a informatização de alguns setores da organização, ela automatizou e mecanizou o trabalho humano. Como conseqüência, destes paradoxos, os problemas organizacionais passam a ser descritos como variação de duas dimensões opostas, que confundem e incomodam os atores organizacionais. Então, se “as inovações tecnológicas propiciaram o aumento da produtividade pela determinação dos ritmos e pelo acirramento do controle sobre a mão-de-obra” (FERNANDES,1997 ; SANTOS, 1996), os trabalhadores, através da fragmentação das tarefas, ficaram sem controle sobre a totalidade e a qualidade do produto que fabricavam. 43 3.2 - O trabalhador de telemarketing , a organização e gestão do trabalho: implicações na saúde ? O trabalhador de Telemarketing também chamado de operador ou teleatendente é definido como: O atendente de chamadas (também conhecido como “consultor de serviços” ou “agente” ou “operador”) é um indivíduo cujo trabalho requer que ele gaste uma proporção significante de seu tempo de trabalho atendendo a chamadas telefônicas e utilizando simultaneamente terminais de computadores. (HEALTH AND SAFETY EXECUTIVE,2001 apud SILVA,2004, p. 16 ) Esse profissional trabalha com o telemarketing receptivo – recebimento das ligações - e ativo - realização das ligações. O Código Brasileiro de Ocupações (CBO) define como sua ocupação fundamental na empresa para a qual trabalha (ou trabalhará) “Atendem usuários, oferecem serviços e produtos, prestam serviços técnicos especializados, realizam pesquisas, fazem serviços de cobrança e cadastramento de clientes, sempre via teleatendimento”.O CBO também prescreve para o ocupante do cargo : Jornada de seis horas nos mais variados horários, diurno, noturno, rodízio de turno e horários irregulares, não fixos, as atividades são desenvolvidas com supervisão permanente. È comum o trabalho sobre pressão quando as filas de espera de atendimento aumentam. (CBO.2007) Confrontando-se passado e presente, verifica-se que ao tempo em que se introduzem novas tecnologias aos processos de trabalho, a gestão e organização do trabalho nas telecomunicações continuam nos mesmos moldes tayloristas/fordistas. Baixa participação e autonomia dos trabalhadores, postos de trabalhos caracterizados pela segregação das pessoas, tarefas fragmentadas, repetitivas e monótonas.Além das exigências de novos ritmos de trabalho, cargas físicas e mentais acabam desencadeando o desgaste dos trabalhadores. 44 Veras e Ferreira (2006) salientam, ainda, que aspectos como competitividade, conveniência, acessibilidade, tecnologia e comercialização são vistos como vantagens competitivas numa central de atendimento. Desse modo, o simbólico das relações de trabalho, os aspectos socioprofissionais são negligenciados ou postos em plano secundário. Necessidades de socialização, ausência da camaradagem, relações interpessoais, tão-somente instrumentais poderão influenciar a saúde física e a saúde psíquica do trabalhador de telemarketing. Segundo os autores (idem), as reclamações dos usuários quanto ao tempo de espera, perda de material e qualidade do serviço são alguns indicadores que podem estar relacionados com a ambiência organizacional vivenciada pelos teleatendentes. Diante desse quadro, como exigir (e controlar) dos operadores: correta expressão verbal, dicção e vocalização; correta ortografia; voz agradável; escuta ativa; capacidade de análise de problemas; capacidade de comunicação; trabalho em equipe; capacidade de aprendizado; tolerância ao stress; disciplina; sensibilidade interpessoal; boa argumentação e empatia? Apenas para citar, algumas das habilidades requeridas para o bom desempenho das funções do operador de atendimento ( MINGUELLI, 2002 ) Uma outra característica inerente ao cargo se refere ao próprio desempenho da tarefa. O trabalhador deverá “seguir roteiros e scripts planejados e controlados para captar, reter ou recuperar clientes”. Segundo, Vasconcelos , Motta e Pinochet (1994) “o uso dos scripts é uma forma de aumentar a capacidade de atendimento e, em consequência, reduzir o Tempo Médio de Atendimento (TMA) dos operadores. Quer-se, portanto, qualidade e produtividade, a “qualquer custo”, para serviços – onde qualidade e produtividade são variáveis de difícil mensuração. “Medir a eficiência de máquinas, linhas de produção e outros resultados, que podem ser 45 concretamente mensurados, é muito diferente de julgar, comparar, avaliar e medir as produções do trabalhador do conhecimento - com peculiaridades difíceis de serem realisticamente avaliadas”, é o que preceitua Drucker (1999). No call center, os supervisores, entretanto, não só podem como devem monitorar o atendimento prestado pelos operadores às ligações recebidas, a qualquer momento, sem que ele saiba. O objetivo é verificar se o atendimento está conforme os padrões estabelecidos pela empresa, como dicção, entonação e polidez do atendente. Focault (1987) refere-se a esse controle dos supervisores sobre os atendentes, como Efeito Panóptico. Descrito por Bentham10, o termo se refere a um modelo ideal de presídio, de 1787, na Rússia. O modelo previa uma construção circular com celas dispostas na periferia e um posto central de vigilância que ficava coberto por cortinas, permitindo que o vigilante olhasse as pessoas sem que as pessoas o vissem. O objetivo era que as pessoas inspecionadas se sentissem constantemente sob vigilância, mesmo que isto não estivesse ocorrendo, o que os obrigava a manter constante busca de perfeição e eliminação de falhas. Este modelo significava a inversão do princípio da masmorra de: trancar, privar de luz e esconder. O efeito do Panóptico assegurava o funcionamento do poder visível e inverificável (não se sabe quando está sendo vigiado, mas se sabe que, a qualquer momento, a vigilância poderá acontecer). Sendo assim, os indivíduos se sujeitavam ao poder da organização automaticamente, não sendo necessário recorrer à força ou a outras medidas para isso. O controle sai, portanto, do aspecto físico e tende ao incorpóreo, adquire caráter definitivo e continuamente recomeçado. 10 In Foucault (1987. p.165) 46 Por outro lado, Dejours (1987) afirma que essa espécie de Panóptico propicia a caracterização, a classificação e a organização analítica do indivíduo, podendo ser utilizado como uma máquina de fazer experiências, modificar o comportamento, treinar ou retreinar o indivíduo. O Panóptico é uma janela cruel e sábia [...] é uma máquina de dissociar o para ver-se visto (grifo nosso), sem nuca ver. Na torre central, vê-se tudo, sem nuca ser visto [...] é uma máquina maravilhosa que, a partir dos desejos mais diversos, fabrica efeitos homogênios de poder” (DEJOURS,1987, p. 147 e 167) Silva (2003 apud ASSUNÇÃO, SILVA, VILELA E GUTHIER, 2006) considera que essa forma de controle é baseada no princípio da desconfiança, no qual os modos de controle, a avaliação rigorosa e os incentivos por produção devem ser cada vez mais aplicados porque o trabalhador não é confiável. Os autores denunciam que “os registros de cansaço mental, tristeza e sentimentos de impotência, em face das exigências da organização do trabalho nos Call Centers, são enfáticos e sugerem que existe uma associação com os componentes da atividade.” comungando, portanto, do mesmo pensamento de Focault (1978). Uma política de coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, desarticula e o recompõe criando corpos dóceis, fortalecidos em termos de utilidade e capacidade de resolver problemas da tarefa e enfraquecidos em seu poder de decisão, subjugados a uma dominação (FOCAULT, 1987, p. 167). Por outro lado, Veras e Ferreira (2006) afirmam que o trabalho do atendente é bastante complexo, acarretando custos físicos, cognitivos e afetivos para ele. A interação com o cliente, implica custo cognitivo já que para lidar com públicos diversificados, o atendente deve estar apto para transmitir a mesma informação a pessoas com diferentes níveis de escolaridade e de necessidades – o que não é tão fácil. Quando não há scripts definidos, ele deve utilizar diversas linguagens para que se faça entendido. Um outro fator de complexidade ao serviço do 47 atendente é o equilíbrio emocional, que deve ser mantido, sempre, em todas as situações no contato com o cliente. A gentileza e a cordialidade jamais deverão ser negligenciadas nos diálogos com seus interlocutores. Os autores (opus cit) consideram o atendente uma espécie de “equilibrista afetivo”. Desse modo, sentimentos como: irritabilidade, mau-humor, dificuldade de relacionamento, estresse ocupacional e depressão são comuns neste tipo de serviço. Além do sofrimento psíquico, a organização do trabalho de telemarketing traz o isolamento e a competição entre os trabalhadores de uma mesma equipe. Para “sobreviver” nesse ambiente, o trabalhador vê-se compelido a buscar estratégias defensivas, de autoproteção e de mediação para conseguir cumprir as metas e alcançar o desempenho que dele se espera. Conforme Figura 4, este processo de mediação começa com as relações socioprofissionais, que influenciam diretamente o serviço prestado ao cliente. Relações Socioprofissionais do trabalho Organização do trabalho Condições do Trabalho Serviço de atendimento ao cidadão Físico -reformula ou antecipa demanda Custo Humano do Trabalho -pergunta para os chefes de turma Cognitivo Afetivo Atividades estratégicas de mediação -pergunta para o colega Não eficazes Mal-estar Figura 4: Contexto do serviço de um teleatendimento Fonte: Veras e Ferreira(2006,p.145) Eficazes Bem-estar Pagès (1987,p.28) acrescenta que “a mediação efetua-se através de processos de abstração, objetivação, desterritorialização e individuação nos quais, o indivíduo passa a se isolar e a se submeter”. É uma forma de evitar conflitos, sufocando as contradições “porque sua lógica é48 comum, trata-se de um sistema coerente, orientado para a subordinação, para o enquadramento do indivíduo no seio de uma ordem global econômica-política-ideológica-psicológica, definida centralizadamente”.( p. 29). As contradições podem ser transformadas e deslocadas, transitando das contradições dos trabalhadores com a organização e o sistema social até a política contraditória da organização, em que coerção e privilégios “integram” o indivíduo à organização, ao tempo em que impedem a formação de grupos opositores. Desta forma, as contradições dos trabalhadores são abafadas pela política da organização, embora permanecem latentes e inconscientes. Uma outra situação varia da política contraditória da organização até as contradições psicológicas individuais. Neste caso, os indivíduos vivem um conflito psicológico, (con)vivendo com dois sentimentos extremos e opostos: angústia e prazer, ameaça e proteção, felicidade e infelicidade. Sendo assim, a Organização tem o poder de transformar as contradições coletivas em individuais e as contradições globais, situadas nos níveis econômico, político e ideológico, em contradições psicológicas puramente. (PAGÈS, 1987. opus cit.). Dejours (1996), reforçando Pagès, afirma que a redução das contradições ao aspecto psicológico acabam promovendo sofrimento no indivíduo que, para conseguir manter seu equilíbrio psíquico trava uma luta diária consigo mesmo e através de mecanismos de defesa encontra meios de rejeitar a sua iniciativa e criatividade. O mecanismo se opera, como que instintivamente, através do aumento do ritmo de trabalho, de modo que a sua consciência psíquica fica preenchida com as ocupações das suas atividades, daí advindo a fadiga (psicológica). Segundo Dejours (idem), esta luta pela paralisação do pensamento é dolorosa, penosa e difícil de ser mantida. Por essa razão, o indivíduo precisa “segurar” esta postura mesmo fora da empresa para que não tenha que construir novamente esta repressão no dia seguinte. Tal comportamen49 to, aos poucos, vai gerando um embrutecimento do indivíduo, um sentimento de inércia, um estado de anestesia psíquica. Esse estado de depressão essencial com pensamento operatório (grifo nosso), segundo o autor (idem), acaba sendo externalizado através de doenças físicas – daí advindo as ausências e muitos dos afastamentos do trabalho, muitos dos quais considerados como doenças ocupacionais. Para Fernandes et.al (2000), todos esses fatores característicos do trabalho em telemarketing contribuem também para a alta rotatividade do setor. Os trabalhadores ficam em um estado de adoecimento e desmotivação, gerando a necessidade de que a mão-de-obra seja constantemente renovável – outra situação causadora de estresse, tensão e ansiedade nos trabalhadores. Em que pese as diversas denúncias de entidades sindicais (ASSUNÇÃO et. al 2006), em âmbito internacional, as inaceitáveis condições de trabalho, os baixos salários e as constantes discriminações sofridas pelos trabalhadores de telemarketing, os Call Centers chegaram a ser chamados de a “Senzala da era eletrônica”. Observe-se, contudo, que um excelente lugar para se trabalhar deverá estar impregnado dos ingredientes: confiança na gerência, orgulho pelo trabalho que executa e camaradagem entre os componentes do grupo, ou da equipe de trabalho.( FIGURA 5) C A Ç N A N O C A ÇA NÇ AN NFFFIIIA ON CO ORGULHO PELO QUE FAZ CAMARADAGM PARES G G E R E N T E GE ER RE EN NT TE E TRABALHO A AM MB BIIE EN NT TE ED DE ET TR RA AB BA AL LH HO O 50 Figura 5: Um lugar excelente para se trabalhar Fonte: Santos (2001, p.100) Isso significa dizer que um bom ambiente de trabalho deve contemplar três tipos de relacionamentos interconectados (FIGURA 6) Empregado confiança Empregado orgulho Empregado camaradagem gerência trabalho pares Figura 6: Relacionamentos interconectados de um bom ambiente de trabalho Fonte: Santos (2001. p. 10) 3.3 - As exigências de tempo Essa é uma das variáveis mais graves dos serviços de teleatendimento. Daí o motivo de uma reflexão em separado. Segundo Veras e Ferreira (2006) a pressão temporal é o aspecto mais crítico do trabalho de telemarketing. As jornadas, as pausas são definidas previamente sem a participação do atendente para isso. Exceto em situações emergenciais, como em problemas de saúde, o atendente só pode se ausentar do local de trabalho em horários pré-estabelecidos. A organização do trabalho é pautada essencialmente na punição e no controle. O atendente não tem autonomia e vivencia um monitoramento excessivo. A pressão temporal é evidenciada no próprio regulamento do Plano Geral de Metas e Qualidade, em seu artigo 16 da ANATEL 11 51 20 As chamadas destinadas aos serviços que utilizarem auto atendimento ou necessitarem da intervenção de telefonistas deverão ser atendidas , em cada período de maior movimento, em até 10segundos (...) em 95% dos casos. (...)Em nenhum caso o atendimento deverá se dar em mais de 35 segundos (...) os serviços mencionados no caput deste artigo deverão ter o seu funcionamento ininterrupto durante 24 horas por dia e 7 dias por semana (BRASIL, ANATEL, 1998 apud SILVA, 2004,p.15-16, grifo nosso) Esta obsessão pelo tempo também é evidenciado no Contrato Padrão para prestação do STFC: A Concessionária manterá durante todo o prazo da presente concessão, central de informação e de atendimento do usuário, funcionando 24 (vinte e quatro horas) por dia, capacitada para receber e processar solicitações ,queixas e reclamações encaminhadas pelos usuários pessoalmente ou por qualquer meio de comunicação à distância (idem, grifo nosso) Silva (2004) adverte que o não cumprimento destas exigências implica pagamento de multa segundo o mesmo contrato. O autor ainda acrescenta que para a ANATEL estas exigências são benéficas, garantem a proteção do atendimento prestado à população e são necessárias para o funcionamento das comunidades urbanas. No entanto, para os Call Centers estas exigências acabam impactando diretamente os operadores, uma vez que a maior parte dos custos da organização é com o pessoal. Havendo esta determinação no contrato, as manobras gerenciais das empresas concessionárias e prestadoras de serviços são reduzidas. A situação que torna desejável, do ponto de vista empresarial, é manter o menor número de trabalhadores em atividade, intensificando as suas tarefas, com o objetivo de reduzir as despesas e manter as margens de lucro. 11 Agência Nacional de telecomunicações, órgão estatal regulador das telecomunicações A Norma Regulamentadora 17, aprovada pela Portaria nº 9 , de 30 de março de 2007, é a única que faz menção a saúde dos operadores e estabelece alguns cuidados que o empregador deve ter , a fim de prevenir doenças físicas e psíquicas nos trabalhadores. A Norma reconhece algumas práticas que são prejudiciais à saúde do operador de atendimento, porém não as ex52 clui por completo, apenas as ameniza. A norma permite certas “lacunas” que são aproveitadas pelos Call Centers para dar continuidade à intensificação do trabalho e às exigências de tempo. No texto a seguir, pode-se observar que o controle do tempo e o uso do script não foram proibidos definitivamente. A norma sinaliza que o primeiro deve ser considerado para elaboração de programa preventivo e que o segundo não deve ser seguido de forma estrita, mas pode ser utilizado. Para fins de elaboração de programas preventivos devem ser considerados os seguintes aspectos da organização do trabalho [...] pressões aumentadas de tempo em horários de maior demanda [...] É vedado ao empregador exigir a observância estrita do script ou roteiro de atendimento (BRASIL, 2007. NR. 9, de 30 de mar. 2007) Além disto, a Norma (opus cit) determina o período e a duração das pausas do operador: As pausas deverão ser concedidas: fora do posto de trabalho; em dois períodos de 10 (dez) minutos contínuos; após os primeiros e antes de 60 (sessenta) minutos de trabalho em atividade de teleatendimento/telemarkring [...] o intervalo para repouso e alimentação para a atividade de teleatendimento/telemarketing deve ser de 20 (vinte) minutos ( grifo nosso) Para facilitar o controle e a organização do tempo, semelhante à organização militar, os Call Centers trabalham com: a decomposição do tempo, em segmentos sucessivos ou paralelos, em seqüências separadas ou ajustadas; ocorre também a organização do tempo de forma inteligente, analítica, ou seja: realização de uma seqüência das atividades; existe ainda a obrigação de finalizar esses segmentos temporais, fixar um tempo marcado por uma prova. Tal tempo também serve para estabelecer uma polifonia disciplinar dos exercícios, ou seja, as tarefas são executadas de acordo com o cargo de cada um, em um tempo específico. Esta organização das atividades evita o desperdício do tempo e promove a efetividade da sua utilização, defende Foucalt (1987). 53 Quanto mais se decompõe o tempo, quanto mais se multiplicam as suas subdivisões, quanto melhor o desarticulamos desdobrando seus elementos internos sob um olhar que os controla, mais então pode se acelerar uma operação ou pelo menos regulá-la segundo um rendimento ótimo de velocidade. (FOCAULT, 1987, p 131) Segundo Silva (2004), o conceito que predomina em um Call Center é que a qualidade do serviço é traduzida em tempo de espera do consumidor. Desta maneira, os mecanismos de gestão e de organização do trabalho atuam em função do controle do tempo. A avaliação do desempenho é baseada na qualidade do atendimento, tempo médio de atendimento (TMA), assiduidade e pontualidade, tempo logado12 e relacionamento interpessoal. O uso do script é outro procedimento com foco na redução do tempo. No entanto, uma contradição se apresenta já que o usuário, muitas vezes, questiona o operador sobre situações que não estão no script. Nestes casos, o operador é orientado a, sempre de forma cordial e amável, buscar alternativas para satisfazer ao usuário e, em paralelo, atender às normas da organização, no que tange à rapidez dos atendimentos. Porém, quando a demanda é conflitante e as situações expostas pelo usuário são problemáticas, o operador não consegue reduzir o seu tempo de atendimento. Em conseqüência, suas metas não são alcançadas. Essa pressão do tempo versus qualidade do atendimento gera nos operadores um sentimento de indignidade, de inutilidade e desqualificação, agravados pela depressão e pelos cansaços físico e mental. 12 Tempo em que o atendente encontra-se com seu computador efetivamente conectado ao sistema de atendimento , em condições de atender a chamadas. Para Fernandes et.al (2000), alguns aspectos são importantes para a existência do serviço de telemarketing e precisam existir, para que a qualidade e excelência dos serviços sejam mantidas. Mas, é necessário que sejam observados a importância da saúde física e psíquica no tra54 balho que traz benefícios tanto para o bem-estar do trabalhador quanto para a melhoria do desempenho e da produtividade da empresa. Para tanto, é necessária uma mudança da filosofia, no que diz respeito às políticas e práticas de gestão de pessoas. O trabalhador, em qualquer ramo de atividade, não deve ser visto como uma ferramenta de trabalho, conforme modelo taylorista precisa ser visto como um Ser participante ativo do processo produtivo. Há que fazer coro com Drucker (1999): “o funcionário do conhecimento pode perfeitamente precisar de uma máquina (um computador, um analisador de ultra-som ou um telescópio) mas, a máquina não vai lhe dizer o que fazer. Sem este conhecimento, que pertence ao funcionário, a máquina é improdutiva.” 55 4 - O MUNDO DO TRABALHO “Assim, todos, juntos, continuavam a sua vida cotidiana, cada um a seu modo, com ou sem reflexão; tudo parecia seguir o seu rumo habitual, como em situações extremas, nas quais tudo está em jogo, e a vida continua como se nada acontecesse”. Goethe (in Antunes) 4.1 - As Metamorfoses da sociedade do trabalho O mundo do trabalho vem passando por diversas transformações. Por um lado, a desproletarização do trabalho industrial fabril, ou seja, uma redução da classe operária industrial tradicional. Por outro, o aumento do assalariamento no setor de serviços. Houve também um heterogeneização da força de trabalho, expressa através do trabalho feminino. Vivencia-se, ainda, a subproletarização intensificada, expressa através da expansão do trabalho precário, parcial, temporário e terceirizado. Há uma processualidade contraditória que, de um lado, reduz o operário industrial e fabril; de outro aumenta o subproletariado, o trabalho precário e o assalariamento no setor de serviços. Incorpora o trabalho feminino e exclui os mais jovens e os mais velhos. Há, portanto um processo de maior heterogeneização, fragmentação e complexificação da classe trabalhadora (ANTUNES, 1995, p.42). O desemprego vivenciado pelos operários industrializados está relacionado com os avanços tecnológicos, com a substituição do homem pela máquina, com a robótica, a automatização e a mecanização dos processos. Paralelamente, a subproletarização do trabalho se relaciona com a precariedade não apenas do emprego e da remuneração. Este cenário se confirma com a desrregulamentação das condições de trabalho com as leis vigentes, a regressão dos direitos sociais, a ausência de proteção sindical tende a individualização da relação salarial. Há um crescimento de uma sociedade dual em que existem paralelamente o desemprego do proletari56 ado e o aumento do emprego subproletário. Esse cenário propiciou o aumento da exploração do trabalho feminino, já que o trabalho subproletarizado incentiva a substituição do trabalho integral pelo parcial e trabalhos temporários. A classe-que-vive-trabalho estaria desaparecendo? A retração do operariado tradicional, fabril, da era do fordismo, e o advento das diversas formas de trabalho da fase do toyotismo e da acumulação flexível acarretam inevitavelmente a perda de referência e de relevância do ser social que trabalha (ANTUNES, 1995, p.1) Ao tempo em que prevalecem a inserção de novas tecnologias, exigem-se profissionais mais qualificados, polivalentes, capazes de desenvolver múltiplas funções. Essa “tendência em direção a uma maior qualificação ou intelectualização do trabalho não mais permite ao trabalhador manual dar conta do novo trabalho operário nas indústrias” (ANTUNES, 1995,p.51). O que se assiste é uma classe “de excluídos” do mercado de trabalho, provocada pela desqualificação de inúmeros setores operários, atingidos por essa gama de transformações, levando, de um lado, à desespecialização do operário fordista e, por outro, ao desemprego e ao subemprego. As mutações no universo da classe trabalhadora, entretanto, variam de ramo para ramo, de setor para setor. Desqualificou-se em uns, diminui-se em outros e, em setores inteiramente informatizados, praticamente desapareceu-se. Já noutros, como na siderurgia, na petroquímica, nos serviços de telecomunicações a força de trabalho requalificou-se, podendo-se observar a “formação de um segmento particular de ‘operários-técnicos’ de alta responsabilidade, detentores de perfis profissionais bem diversos do restante do operariado” (ANTUNES,1995, p. 52). A esse trabalhador qualificado exige-se a polivalência, a multifuncionalidade. O capital vai se apropriando do além do fazer do trabalhador. O trabalhador fica envolto em uma teia de ma57 nipulação, pensando constantemente na produção e na produtividade, na ilusão que não há diferença entre elaboração e execução. É importante ressaltar que a chamada “integração entre os agentes produtivos” não diminuiu a exploração da força de trabalho. Pelo contrário, intensificou o uso desta força e enfraqueceu a força política dos trabalhadores vez que o caráter inovador das mudanças afeta a cultura, as crenças, compromete as visões de futuro e a coesão social. Antunes (1995) acrescenta que houve um processo contraditório nas mudanças do mundo do trabalho: por um lado, visualiza-se um processo de qualificação do trabalho, através da sua intelectualização, por outro, vivencia-se um processo de desqualificação, através da precarização do trabalho, situação que configura uma classe trabalhadora cada vez mais complexa e heterogênia. De outro ângulo, Moscovici (1994) analisa que “com os avanços tecnológicos, a relação homem-homem, passou a receber menos atenção que a relação homem-máquina”. Esta, por sua vez, acaba abalando as interações humanas, na medida em que a máquina começa a ter prioridade sobre o homem. O homem passa a ser visto tão-somente como uma extensão da máquina, um objeto necessário para atingir objetivos e prover satisfações. “Em nossa vida cotidiana o que prevalece é a relação EU-ISTO, da pessoa com o objeto”, segundo Moscovici (1994) Direitos e conquistas históricas dos trabalhadores são substituídos e eliminados do mundo da produção. Diminui-se ou mescla-se o despotismo taylorista pela participação dentro da ordem e do universo da empresa, pelo envolvimento manipulatório próprio da sociabilidade moldada contemporaneamente pelo sistema produtor de mercadorias (MOSCOVICI, 1995,p.16). Conclui-se, desse modo, que as mudanças socioeconômicas em curso, com a globalização da economia, aliadas às mudanças estruturais e nas esferas técnico-científica, estão gerando 58 impactos no mundo do trabalho. A escassez, a precariedade e instabilidade no emprego, as rápidas mudanças nas especializações e conhecimentos exigidos e o campo limitado das aptidões, cada vez mais especializadas, são aspectos do novo mundo do trabalho. 4.2 - O Significado do Trabalho A correlação entre o trabalho e a saúde física e psíquica do indivíduo têm sido motivo de preocupações de estudiosos e pesquisadores da psicossociologia e das relações do trabalho. Codo e Sampaio (1995), Moscovici (1994), Dejours (1996; 1980), Silva (1994), Chanlat (1996), Focault(1987), Antunes (1995), Dejours e Abdoucheli (1990), Pagès (1987), Enriquez (2006) et.al. compartilham da crença que a vida laboral e a vida extra-laboral fundem-se numa só, ou seja, uma intervém na outra, quer positiva quer negativamente. Seja como meio de alcançar a felicidade, atender a uma necessidade, seja por quaisquer outras razões ou objetivos econômicos, sociais ou políticos. O trabalho está presente em todos os campos da vida, é onipresente pode se apresentar como fonte de realização, estimulante à criatividade, construtor da identidade ou determinante da transformação de suor, sangue em valor de troca [...] O trabalho nos remete para possibilidades diferentes de consumo, felicidade, adoecimento e morte (CODO e SAMPAIO ,1995, p.64). Silva (1994) concebe o trabalho como luta e guerra diária dos trabalhadores, podendo ser desdobradas em: luta pela sobrevivência, em termos econômicos, que inclui a da própria família, através da manutenção do emprego; luta pela sobrevivência física, na qual o indivíduo deve buscar formas para se defender dos perigos do ambiente de trabalho; luta para manter o autocontrole e a preservação da dignidade. O ambiente de trabalho pode também ser percebi- do como um inferno ou monstro misterioso que suga as energias dos indivíduos para mantêlos vivos. O trabalho ataca a dignidade, na sociedade capitalista quando os trabalhadores se sentem como escravos ou como animais. O indivíduo também pode sentir-se aprisionado 59 (FOCAULT,1987; CHANLAT,1996; PAGÈS,1987), por conta dos rígidos controles, normas, procedimentos e regras, detalhadamente prescritos e indiscutíveis e das limitações impostas pela hierarquia. Sendo assim, a sociedade capitalista acaba tornando os indivíduos prisioneiros do trabalho: põem à venda (no mercado de trabalho) uma mercadoria - suas forças de trabalho - por baixos salários para sobreviver, sob o fantasma do desemprego e, muitas vezes, desprovidos do sentimento de realização pessoal e profissional. Assim, o trabalho é tido como um mal necessário, como um verdadeiro purgatório por onde o indivíduo deve passar para alcançar o “paraíso do consumo” e do “bem-sucedido na vida”. Codo e Sampaio (1995) todavia, têm uma visão menos crítica do trabalho. Trabalhar atribui status, ajuda o indivíduo a construir uma identidade, constituindo-se numa rede de interdependência, um elo de sobrevivência física e espiritual do homem, já que todos os aspectos da sociedade são influenciados pelo econômico, pela organização produtiva. Para Antunes (1995) o trabalho mostra-se como necessário para a humanização do indivíduo porque ser social é condição para sua existência. Existem duas formas de transformação no trabalho: a transformação do homem que desenvolve suas potencialidades e subordina as forças da natureza ao seu poder e o processo de transformação das forças da natureza em objetos de trabalho. O autor também descreve sobre os efeitos da visão capitalista do trabalho: “Se, por um lado, o trabalho é o ponto de partida do processo de humanização do ser social, também é verdade que tal como se objetiva na sociedade capitalista, o trabalho é degradado e aviltado. Torna-se estranhado” (p.124). O processo de trabalho no capitalismo é desfigurado, é pervertido, é perverso. O que deveria ser a forma humana de realização do indivíduo tornase meramente um meio de subsistência do despossuído. Como conseqüência, o resultado do trabalho é alheio, estranho ao produtor. Existe uma desafetivação (grifo nosso) do trabalha60 dor ao fruto de seu trabalho. Situação que não se restringe apenas ao resultado do trabalho, mas se estende ao ato de produção. O trabalhador repudia o trabalho, não se satisfaz, se nega a ele. O trabalho não é voluntário, é obrigatório para que o indivíduo alcance a satisfação das suas necessidades fora dele. Já Dejours (1996) tem uma visão menos extremada sobre a percepção do trabalhador e seu trabalho: o trabalho é necessário para a melhoria do conforto material e aumento do consumo doméstico. O trabalho, afirma o autor, pode ser prejudicial devido a acentuada busca por melhores desempenhos, culminando em danos à saúde física e psíquica do indivíduo. “Beneficiário da produção, o homem é, amiúde, no mesmo movimento, vítima do trabalho” (p.150). O trabalho tanto pode ser fonte de felicidade como de infelicidade; tanto pode ser fonte de prazer e mediador como pode ser prejudicial à saúde. Como um dos estudiosos da psicossociologia nas relações de trabalho, Dejours (opus cit) faz uma interessante argumentação: a história de vida está intimamente ligada à história do trabalho. As experiências infantis, as relações familiares dos primeiros anos de vida, o trabalho desenvolvido na infância e na adolescência, as privações, os níveis de desestruturação ou de coesão na família de origem e a sua visão de mundo repercutem no nível de sofrimento vivenciado no trabalho. Os sujeitos, não deliberadamente, optam ou por um nível criativo ou por um nível patogênico. No criativo, na sua luta contra o sofrimento, o indivíduo encontra soluções criativas e favoráveis à produção, encara o trabalho como terreno propício para jogar com o sofrimento, como desafio que tem como conseqüência o reconhecimento e a motiva- ção. Já no patogênico, o resultado da luta contra o sofrimento é desfavorável à produção e prejudicial à saúde. Este é tipo de sofrimento no trabalho que traz repercussões para fora da 61 empresa e para as relações sociais do indivíduo. De igual modo, Pagès (1978) afirma que o indivíduo está ligado à organização não apenas por questões morais e materiais, vantagens econômicas e satisfações ideológicas, como também por laços psicológicos. O lado inconsciente de seus impulsos é moldado e adequado à organização, de tal forma que o indivíduo o reproduz não apenas racionalmente, mas também por motivos que ele próprio desconhece. A organização torna-se, simultaneamente, fonte de sua angústia e de seu prazer, influenciando intimamente o inconsciente do indivíduo. Desse modo, ocorre um processo de identificação, projeção e introjeção na relação indivíduo-organização. Pela projeção sobre o objeto de seus medos e seus impulsos, o indivíduo torna-se uma parte do objeto. Este, por sua vez, investido no inconsciente torna-se parte dele e é introjetado. Como resultado, o indivíduo se identifica com o objeto, tornando-se indissociáveis. A organização é vista como uma droga para o indivíduo, num processo de alienação. A organizaçãodroga é, ao mesmo tempo, amada e odiada, fonte de prazer e de angústia, já que o trabalhador torna-se depende dela para a satisfação material e para a integridade da própria identidade. Quanto ao prazer, é um misto de sadismo e masoquismo, de agressividade uma vez está introjetada a necessidade de superação, a ponto de gostar das dificuldades que advêm de si e para si mesmo . Ainda, de acordo com Dejours(1980), “o trabalho pode ser fatigante ou equilibrante, dependendo da carga psíquica a ele atribuída”. O trabalho torna-se perigoso para a atividade psíquica quando se opõe à livre atividade. Neste caso, a energia psíquica é acumulada, tornando-se fonte de tensão e desprazer. Quando o trabalho é livremente escolhido ou livremente organi- zado, serve como descarga para a energia psíquica (grifo nosso). O trabalho torna-se um meio de relaxamento, torna-se prazeroso. 62 4. 3 - Saúde e Trabalho Segundo Moscovici (1994) falta espaço nas organizações para o homem. As coisas se passam em torno das “máquinas, planos racionais, tempos medidos, controles rigorosos, resultados quantitativos, índices de custo e lucro, contabilidade de recursos materiais e humanos, técnicas de análise e valor” (p. 13). Neste espaço não há como o homem simplesmente ser. Ciúmes, inveja, hostilidade, ressentimentos, conflitos são os sentimentos incentivados e produzidos pela organização, já que existe uma estrutura que contribui para evitar um relacionamento harmônico e amistoso entre os trabalhadores, desde o arranjo físico até as ideologias. Por outro lado, Silva (1994) afirma que o esgotamento da saúde física e psíquica gera um esvaziamento e transforma o trabalhador em figura desiludida e doente. O sofrimento é tanto marcado no corpo como na mente. Estas relações de trabalho proporcionam mais que um adoecimento físico e mental do trabalhador, proporcionam também um empobrecimento das relações humanas, quando ocorre uma intensificação e extrema adesão ao trabalho. Ainda, segundo Silva (idem), para fugir destas situações, o indivíduo desenvolve mecanismos de defesa inconscientes e conscientes como: a repressão - o indivíduo busca excluir da consciência os pensamentos relacionados ao sofrimento; o isolamento - a separação entre a conduta e o sentimento. Esse mecanismo de defesa é estimulado principalmente por processos de gestão e organização do trabalho que exigem grande concentração de atenção e detalhismo, que transformam a identidade e a sociabilidade do indivíduo; ou a racionalização - a iniciativa e a cria- tividade são tolhidas pela gestão e organização do trabalho. O indivíduo reprime seus desejos e se aliena à organização. 63 Se a racionalização, por um lado, promove um desempenho padronizado e mais produtivo, por outro, afeta a vitalidade do psiquismo individual e a qualidade de vida dos trabalhadores, causando um distanciamento afetivo do trabalho. Estas defesas facilitam a auto-repressão do medo e, conseqüentemente, tornam-se a afirmação da dominação, na medida em que os trabalhadores ficam impedidos de se mobilizarem para lutar por transformações no ambiente do trabalho, já que não pensam sobre o motivo causador do seu sofrimento. Neste mundo conturbado pela tecnologia, as maiores riquezas das organizações são as pessoas. Desta forma, o maior investimento ao invés de ser na tecnologia deveria ser no sistema humano, na saúde e na educação. Saúde na organização significa prover condições de trabalho adequadas, que assegurem o bem-estar físico e psíquico. [...] Educação significa prover situações de aperfeiçoamento no trabalho, de atualização de potencialidades não utilizadas pelas tarefas rotineiras (MOSCOVICI, 1994, p. 14). A qualidade de vida nas organizações nos dias atuais deixa muito a desejar. O controle das pessoas é a principal filosofia administrativa em alta. Elas são vistas como “peças de uma engrenagem, partes trocáveis de uma máquina em funcionamento” (MOSCOVICI,1994,p.2). A tecnologia acaba influenciando a estrutura e a organização do trabalho. Desta forma, os modelos organizacionais possuem sistemas de informação e decisão com foco no apoio para as necessidades gerencias; a racionalização do trabalho, através da divisão da tarefa; os processos humanos são tratados pelo departamento pessoal, que possui função administrativa e tende a reduzir o homem às estatísticas; os sistemas de recompensa encorajam a individualidade e a competição. (idem). Este é o modelo burocrático que ainda vigora na maioria das organizações, que prioriza um ritmo rígido de trabalho, sem levar em consideração as neces64 sidades humanas. O culto ao trabalho é tão pernicioso, como qualquer doença. Contudo, os chamados laboromaníacos13 são vistos como tipos ideais para a organização, muito embora possam ter, como decorrência, a saúde física e a saúde mental abaladas, podendo, a qualquer momento, serem vitimas de distúrbios psicossomáticos. Ao negar a essência do trabalho como uma atividade especificamente humana, impedindo a expressão de criatividade e de sentimentos, tal passa a ser percebido de maneira alienada, mecanizada e como uma ameaça para a saúde do trabalhador (LAURELL E NORIEGA1989 apud FERNANDES, PACE, PASSOS ,2000). Para esses autores, portanto, a organização e as condições do trabalho (em suma, a ambiência organizacional) estão intimamente interrelacionadas com a saúde do trabalhador. Desse modo, deverão ser motivo de análise a fim de que sejam compreendidos os elementos biopsicossociais. Neste contexto, a Qualidade de Vida no Trabalho pode ser encarada como uma forma de resistência coletiva, já que objetiva à melhoria das condições de trabalho, para que os operários se identifiquem com ele e o vejam como prazeroso. Este sentimento, além de afetar positivamente o convívio familiar, modifica as relações sociais, para melhor (Silva,1994). 13 . Indivíduos que são escravizados pela compulsão de trabalhar como se fossem drogados, ou viciados em trabalho (workaholics). No caso do laboromaníaco, há um isolamento do indivíduo, que deixa de ter convívio social e familiar. 65 4.4 - A qualidade de vida no trabalho 4.4.1 - Antecedentes históricos, origens, evolução e conceitos A preocupação do homem em tornar a luta pela sobrevivência mais amena é bastante antiga “Com outros títulos e em outros contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem-estar ao trabalhador na execução de suas tarefas, a qualidade de vida sempre foi objeto de preocupação da raça humana” Rodrigues (1999 apud VASCONCELOS, 2001, p.1). A busca por métodos, ferramentas e artefatos que minimizassem o desgaste físico e mental e tornassem o trabalho mais prazeroso tem seus registros na historia e na paleontologia. (SANT’ANNA e MORAES, 1998). Vasconcelos (2001) conta-nos que os ensinamentos de Euclides (300.a.C) de Alexandria sobre a geometria e a Lei das Alavancas,14 de Arquimedes (287 a.C.), foram inspiradores para a melhoria das condições de trabalho. Já naquela época, trouxeram contribuições para aliviar os esforços dos trabalhadores. Mas, Sant’anna e Moraes (1998) afirmam que as condições de trabalho e os seus efeitos sobre a produção e a moral dos trabalhadores vieram a ser estudados de forma cientifica somente após a Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX. Os efeitos das condições de trabalho sobre a satisfação e produtividade dos trabalhadores 14 Lei que expressa a relação de equilíbrio existente entre uma barra rígida, a alavanca, quando esta é apoiada em um ponto 0 e quando um corpo de peso F2 é suspenso em uma de suas extremidades. Arquimedes descobriu que uma pessoa pode equilibrar este peso se exercer na outra extremidade da alavanca uma força.[...] (opus.cit) tiveram suas primeiras teorizações, sob uma óptica econômica, em obras dos pensadores da 66 escola liberal como Adam Smith, em riquezas das nações (1776). [...] “os salários são altos, sempre veremos os empregados trabalhando mais ativamente, com maior rapidez do que onde são mais baixos [..]”. Esse era o julgamento de SMITH (1983 apud SANT’ANNA e MORAES,1998, p 5). Ainda sob a visão econômica, a administração científica, cujo maior representante foi Frederick Taylor, começou a estudar de forma mais detalhada os efeitos do trabalho na produção, objetivando a obtenção de maior produtividade dos esforços dos trabalhadores. Segundo Macedo (1990 apud SANT’ANNA E MORAES, 1998), os estudos de Taylor sobre a racionalização da produção em massa e a conseqüente fragmentação do trabalho humano desencadearam a insatisfação generalizada dos trabalhadores no ambiente fabril. Esta época foi marcada por greves e conflitos entre empresas e operários. Esta visão fragmentada do homem deu origem a movimentos que enfatizaram as relações humanas, fonte de inspiração para o estudo de questões físicas e psicológicas do trabalhador (FRANÇA,2003). Como bem se expressou Bravermam (1997), “A subdivisão do indivíduo, quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas, é um crime contra a humanidade”. Os estudos sobre Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ganharam novo impulso a partir do século XX, através de “humanistas”, como: Mayo, Maslow, McGregor, Herzberg, Juran e Deming, Follet15 , dentre outros que, de uma forma ou de outra, contribuíram para o seu desenvolvimento e estruturação. Os trabalhos de Mayo, na fábrica de Hawthorne, da Western Eletric, sobre o comportamento 15 Só muito tempo depois a contribuição de Mary Parker Follet foi reconhecida. [...] “À frente de seu tempo, nos anos 20 e 30, Follet foi uma cientista política, pioneira no serviço social, conferencista e conselheira de líderes preocupados com relações gerência-trabalhadores, em ambos os lados do Atlântico [...]. Para Henry Mintzberg “tudo aquilo sobre o qual fazemos tanto alarde nos dias de hoje – atualmente as palavras são Empowerment e Gerenciamento da Qualidade, embora há não muito tempo fossem Gerenciamento Participativo e Qualidade de Vida no Trabalho – está completamente claro no trabalho de Follet” (in Mary Parket Follet – Profeta do Gerenciamento:uma celebração dos escritos dos anos 20. Rio de Janeiro. Qualitymark.1997. depoimento.capa) humano frente a modificações nas condições de trabalho, resultaram em pesquisas sobre a 67 motivação, o comportamento humano, as metas organizacionais, a QVT e a criação da escola das Relações Humanas. (FERREIRA, REIS E PEREIRA, 1999; HAMPTON, 1991; RODRIGUES,1999 apud VASCONCELOS, 2001). Mayo foi um dos primeiros cientistas comportamentais a reconhecer que os trabalhadores podem ser motivados por necessidades sociais e psicológicas, não subestimando as necessidades econômicas. A abordagem sócio-técnica da organização do trabalho, baseada na satisfação do trabalhador surgiu a partir de estudos desenvolvidos em Londres, no Tavistock Institute. A contribuição para a qualidade de vida deste estudo está na conclusão que “o desenho das tarefas deve considerar os requisitos sociais e psicológicos do trabalho, para que o mesmo possa ser motivador” (STEERS & PORTER, 1995 apud SANT’ANNA E MORAES, 1998,p.6). A hierarquia das necessidades, defendidas por Abraham H. Maslow trouxe a informação da disposição das necessidades humanas de forma lógica, distribuídas em grau de importância e influência sobre o comportamento humano. Já as teorias X e Y, de Douglas McGregor, revelavam que o compromisso com os objetivos depende da recompensa à sua consecução. Desta forma, o ser humano não só aprende a aceitar as responsabilidades como passa a procurá-las. Muitas abordagens de McGregor sustentam os programas de QVT (RODRIGUES,1999 apud VASCONCELOS, 2001) A teoria dos dois fatores16 de Frederick Herzberg , trouxe o conhecimento sobre a relação en- 16 Segundo Herzberg, os fatores higiênicos (necessidades fisiológicas, segurança, associação...), embora não motivem, são capazes de produzir insatisfação. Já os fatores motivacionais são os verdadeiros geradores de satisfação no trabalho (são intrínsecos ao indivíduo: novos desafios, autonomia,trabalho estimulante...). tre a insatisfação com o trabalho no ambiente de trabalho e a satisfação do trabalho com con68 teúdo.(FERREIRA; REIS E PEREIRA;RODRIGUES,1999apudVASCONCELOS, 2001). Sant’anna e Moraes (1998) opinam que dentre Maslow, Herzberg e McGregor, a maior colaboração para a QVT foi a de Herzberg, devido ao reconhecimento que a auto-realização e o sucesso do indivíduo podem ser adquiridos através do trabalho e não apenas de fatores externos, além da contribuição do estudo da satisfação do trabalhador através do conteúdo do cargo. A partir da década de 70, a vida pessoal dos trabalhadores começou a ser entendida como determinante para a implantação da qualidade nos processos organizacionais, hipótese defendida por Deming e Juran. Na década de 90, a condição humana e a perspectiva organizacional relacionados com competência, estratégia, cultura e talento foram objeto de estudo de pesquisadores norte-americanos como Schein, Handy, Mintzberg e Ulrich. Em 1975, Walton, já com o termo Qualidade de Vida, foi o pioneiro a fundamentar critérios de QVT (FRANÇA, 2003). Como se pode notar, houve evolução nos estudos das condições de trabalho, enfatizando a QVT. Antes, os estudos apontavam para uma visão mais economicista da relação do homem com o trabalho. Gradativamente, os estudos foram-se direcionando para uma visão mais humanística. As pesquisas e trabalhos continuam e, atualmente, QVT não significa apenas o bem-estar do indivíduo, passando a incorporar, sistemicamente, a ambiência organizacional: qualidade de vida das pessoas, dos processos, dos produtos e, por conseqüência, a satisfação dos clientes. No contexto do trabalho esta abordagem pode ser associada à ética da condição humana. Esta ética busca desde a identificação, eliminação, neutralização ou controle de riscos ocupacionais observáveis no ambiente de físico, padrões de relações de trabalho, carga física e mental requeridas para cada atividade, implicações políticas e ideológicas, dinâmica da liderança empre- 69 sarial e do poder formal até o significado do trabalho em si, relacionamento e satisfação no trabalho. (VASCONCELOS,2001,p. 25) O Quadro 5 resume as várias conceituações de QVT e a ênfase dada, ao longo da história . As visões e definições de QVT são multifacetadas, com implicações éticas, políticas e expectativas pessoais. Autor/Data Walton 1973 Lippit 1978 Ginzberg et.al 1979 Drucker 1981 Bergeron 1982 Werther & Davis 1983 Nadler e Lawer 1983 Néri,A.M 1992 Fernandes 1992 Berlanger 1992 Camacho 1995 Dantas 1996 Conceito Atendimento de necessidades e aspirações humanas calcado na idéia de humanização e responsabilidade social da empresa. Oportunidade para o indivíduo satisfazer a grande variedade de necessidades pessoais. Experiências de humanização do trabalho sob dois aspectos:reestruturação do emprego e grupos semi-autônomos Avaliação qualitativa da qualidade relativa das condições de vida, incluindo-se atenção aos agentes poluidores, barulho, estética etc. Aplicação correta de uma filosofia humanista pela introdução de metodos participativos. Esforços para melhorar a qualidade de vida, procurando tornar os cargos mais produtivos e satisfatórios. Maneira de pensar a respeito das pessoas, participação na resolução de problemas, enriquecimento do trabalho, melhoria do ambiente de trabalho. Atendimento das expectativas quanto a se pensar a respeito de pessoas, trabalho e organização, de forma simultânea e abrangente Conjunto de fatores que quando presentes numa situação de trabalho, tornam os cargos mais satisfatórios e produtivos, incluindo atendimento de necessidades e aspirações humanas. Melhorar as condições de trabalho, de modo a proporcionar aos indivíduos melhores condições de vida e cargos mais satisfatórios para a própria pessoa, com reflexos na produtividade. Classificação de programas : orientação familiar,saúde,ambiente,contato e convívio, evolução /desenvolvimento, cultura e desligamento. Gerência pela Qualidade Total (GQT); Utilização de 5S , diagrama de causa e efeito e procedimentos de qualidade total nos programas de saúde. Quadro 5: Evolução do conceito de QVT Fonte: Limongi (1996 apud SALES,2006) Ênfase Responsabilidade social, com foco no poder da empresa. Trabalho,crescimento de pessoas,tarefas completas, sistemas abertos. Posto individual do trabalho e processo decisório. Responsabilidade social da empresa nos movimentos sociais, culturais e políticos. Mudança e participação com foco sociotécnico. Valorização dos cargos, mediante análise de elementos organizacionais, ambientais e comportamentais. Visão humanista no ambiente de trabalho. Visão holística Humanização do Cargo Condições de vida e cargos mais satisfatórios. Foco motivacional:sobrevivência com dignidade, segurança e participação, auto-realização e perspectiva de futuro. Foco na promoção da saúde, controle de colesterol,capacidade física e aeróbica, controle de doenças coronárias. 70 Árduo e longínquo foram os caminhos percorridos pelos pesquisadores da qualidade de vida para que ela chegasse à estrutura de hoje e, ainda assim, correndo o risco de terminar como um modismo por inadequação ou incompreensão do que vem a ser a QVT pelas organizações. Qualidade de vida no trabalho (QVT) é o conjunto das ações de uma empresa que envolvem a implantação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho. A construção da qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a empresa e as pessoas como um todo, o que chamamos de enfoque biopsicossocial. O posicionamento biopsicossocial representa o fator diferencial para a realização de diagnóstico, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos voltados para a preservação e desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho na empresa [...] As definições de QVT vão desde cuidados médicos estabelecidos pela legislação de saúde e segurança até atividades voluntárias dos empregados e empregadores nas áreas de lazer, motivação entre inúmeras outras. [...] Na verdade, a base da discussão sobre o conceito de qualidade de vida encerra escolhas de bem-estar e percepção do que pode ser feito para atender às expectativas criadas, tanto por gestores como por usuários das ações de QVT nas empresas (FRANÇA, 2003,p.25). Sant´anna e Moraes (1998) afirmam que, em essência, a QVT pode ser entendida como a aplicação de uma filosofia humanista que tem por objetivo alterar aspectos no trabalho a fim de torná-lo mais satisfatório para o trabalhador e aumentar a produtividade da organização. Segundo Vasconcelos (2001), os desafios requeridos para a implantação e implementação de um projeto dessa envergadura ainda persistem nos dias atuais. Tornar a QVT uma ferramenta gerencial efetiva é instigante, tendo em vista que as rotinas diárias estão cada vez mais desgastantes. 71 4.4.2 - Importância da Qualidade de Vida no Trabalho O mundo vivencia períodos de mudanças sociais: aumento da expectativa de vida, aumento do tempo no trabalho, aumento da conscientização da saúde e dos direitos de trabalho, mudança de hábitos e comportamentos, responsabilidade social e o compromisso do desenvolvimento sustentável. O ser humano passou a ter expectativas de caráter biopsicossocial que modificaram as suas rotinas e as das organizações. A QVT é uma conseqüência deste processo de mudanças (FRANÇA, 2003). Para a autora (opus cit), entretanto, os maiores custos de uma empresa ainda são relativos à força de trabalho. Os indicadores de absenteísmo, rotatividade e afastamentos de INSS, aumento do consumo de drogas e alcoolismo são alguns dos reflexos do aumento destes custos. O ritmo de trabalho e a dedicação exigida da empresa aos trabalhadores obrigam-os a passar a maior parte de suas vidas no ambiente de trabalho, restringindo sua participação no núcleo familiar. Além disso, enfrentam constantes e crescentes desafios impostos pelas pressões da própria dinâmica do mercado e dos agentes perturbadores da saúde física e psíquica. Os efeitos deste quadro são pouco conhecidos ou questionáveis, a médio e longo prazos. Entretanto, no curto prazo, já se fala do estresse como o grande mal do século. Ritmos de produção mecânica ou eletronicamente controlados, repetição dos ciclos de trabalho, de forma constante, baixa utilização do conhecimento dos trabalhadores, responsabilidades e iniciativas, predeterminação detalhada de métodos e técnicas, equipamentos auxiliares e locais de trabalho não compatíveis com as necessidades de concentração e dificuldades em realizar as tarefas, longos períodos de atenção sustentada, pausas insuficientes para descanso interjornadas e horários irregulares. (FRANÇA, 2003, p.41) De acordo com Souto e Rego (2004) todavia, as organizações autentizoícas17 são uma (ou a) solução necessária às inquietações causadas pelos males das organizações atuais, caracteriza - 17 Neologismo resultante de duas palavras gregas authenteekos e zoteekos, a primeira significando que a organização é autêntica, merecedora de confiança e a segunda, que é vital para as pessoas. Autentizóica seria, portanto, a organização que possibilita ao indivíduo o equilíbrio entre a vida pessoal e organizacional 72 das por uma “insalubridade psicológica” (grifo nosso), decorrente da importância e da busca extremada por resultados. Aumenta-se a produtividade extraindo (sugando) o máximo da sua força de trabalho. Então, a dimensão humana é esquecida e os indivíduos são vistos como meros instrumentos a serviço da produção (BOWLES, 1997 apud SOUTO E REGO, 2004). A lógica competitiva dominante nas organizações, resulta em processos de gestão que enfatizam a ética competitiva e são contrários ao progresso humano. Conforme Kets de Vitres (2001 apud SOUTO E REGO, 2004) este tipo de visão traz conseqüências negativas, tanto para a organização como para o indivíduo. Em contrapartida, autores como SCOOT (1992 apud SOUTO E REGO, 2004) afirmam que “se pode obter mais produtividade de trabalhadores satisfeitos como se pode extrair mais leite de vacas contentes”. É nesse contexto que as organizações autentizóicas surgem como um “antídoto para o estresse vigente em muitas organizações modernas”, proporcionando às pessoas a oportunidade de atender os sete sentidos que compõem a existência humana e profissional - de propósito, de autodeterminação, de impacto, de competência, de pertencimento, de prazer e alegria, e de significado. Souto e Rego (2004) chamam-nas de empresas vivas, amigas da família, empresas humanizadas. Elas representam uma via de operacionalização da emergência de um novo paradigma, centrado na ética, na responsabilidade social, na cidadania corporativa e no desenvolvimento sustentável. Estas empresas promovem boas condições de trabalho, além de uma preocupação ambiental, social, e das condições físicas e psíquicas do indivíduo. Diante deste cenário de mudanças e inquietações, as organizações precisam rever seus processos de trabalho e seus modelos de gestão, através de modelos de QVT, a fim de se adequarem à nova sociedade que se apresenta diante delas - a Sociedade do Conhecimento. 73 As novas referências de gestão são o autocontrole, o comprometimento, os círculos e as células de produção, a qualidade dos processos e produtos, os ambientes virtuais, a gestão em redes de conhecimento, as inovações tecnológicas e o questionamento da credibilidade das instituições. (FRANÇA, 2003,p. 22) Os processos de gestão deverão estar mais focados em aspectos internos do ser humano, valorizando-se suas competências individuais, a delegação e o trabalho em equipe. A preocupação quanto ao desenvolvimento do ser humano, o conhecimento sobre as pessoas, suas aspirações e desejos, o significado do trabalho, bem como quanto ao mercado e às novas tecnologias devem ser uma constante. Por outro lado, Walton (1973 apud SANT’ANNA E MORAES,1998, p .11) propõem oito critérios básicos para o sucesso de um programa de QVT, conforme Quadro 4, ressaltando que “o ponto ótimo para a produtividade não se encontra no ponto máximo da qualidade de vida no trabalho, mas na sua essência”. Critérios 1.Compensação justa e adequada 2.Condições de trabalho 3.Uso de desenvolvimento de capacidades 4.Oportunidade de crescimento e segurança 5.Integração social na organização 6.Constitucionalisamo 7.O trabalho e o espaço total de vida 8.Relevância social do trabalho na vida Indicadores de QVT Equidade interna e externa; justiça na compensação; partilha de ganhos de produtividade. Jornada de trabalho razoável; ambiente físico seguro e saudável; ausência de insalubridade. Autonomia; autocontrole relativo; qualidades múltiplas; informações sobre o processo total de trabalho. Possibilidade de carreira; crescimento pessoal; perspectiva de avanço salarial; segurança de emprego. Ausência de preconceitos;igualdade; mobilidade; relacionamento; senso comunitário. Direitos de proteção ao trabalhador; privacidade pessoal; liberdade de expressão; tratamento imparcial; direitos trabalhistas. Papel balanceado no trabalho; estabilidade de horários; poucas mudanças geográficas; tempo para lazer da família. Imagem da empresa;responsabilidade social da empresa; responsabilidade pelos produtos; práticas de emprego. Quadro 6: Critérios /Indicadores da QVT Fonte: Walton;Fernandes(1996:48 apud VASCONCELOS, 2001) 74 A importância da QVT também é defendida por Camacho (1966 apud SALES, 2006), relacionando a motivação com a melhoria dos resultados da organização. Uma organização altamente produtiva, sem perda de energia, fazendo certo da primeira vez, satisfazendo seus clientes, através de indivíduos motivados terá, sem dúvida, um futuro de crescimento e estabilidade com reflexos na comunidade, melhoria dos serviços oferecidos, através de uma melhor circulação de recursos. (CAMACHO 1996, apud SALES, 2006, p.23). Huse & Cummings (1985 apud SANT´ANNA E MORAES, 1998) falam sobre a importância da QVT para o aumento da produtividade das organizações como algo simplista mas, não raro, equivocada. Para esses autores (opus cit) para incrementar a qualidade é preciso atuar sobre três variáveis (a) Comunicação: aumentar a comunicação e coordenação entre os departamentos e os empregados da organização; (b) Motivação dos empregados18: o aumento da motivação aumenta o desempenho dos empregados; (c) Capacitação dos trabalhadores: aumentando a capacidade dos empregados o desempenho também é aumentado. A QVT é uma das grandes promessas que as organizações venham conseguir atingir grandes níveis de produtividade, através de motivação e satisfação dos trabalhadores. A opinião de Alves (s/d), entretanto é que o homem tem sido esquecido em favor da ciência, da técnica, da sociedade e das organizações formais. 18 A autora partilha da corrente de estudiosos sobre a motivação humana. A motivação vem de dentro pra fora, é intrínseca do indivíduo. Pode-se desmotivar mas encontrar os motivos para a ação cabe ao próprio indivíduo. Ver. px. BERGAMINI, Cecília W. Motivação: mitos crenças e mal-entendidos. RAE. abr./jun.1990; SIEVERS, Burkard. Além do sucedâneo da motivação. RAE jan/mar.1990; ALVES, Bianca.A Motivação Humana e as Organizações: Uma Abordagem Fenomenológico-Existencial. São Paulo. Fundação Getúlio Vargas s/d. 75 [...] as teorias da motivação têm realizado grandes reducionismos, ao tentar explicar a motivação humana. Mesmo aquelas que procuram compreender o homem de uma forma mais integrada, considerando-o em sua totalidade, quando transportadas para o campo da administração, têm o significado de seus conceitos alterados. São utilizadas para legitimar práticas que visam a resultados imediatos para as organizações, muitas vezes em detrimento dos interesses dos indivíduos que parecem defender [...] A motivação do empregado só se tornou uma questão organizacional porque o próprio trabalho, pela excessiva fragmentação, perdeu o sentido. As teorias motivacionais têm procurado oferecer aos gerentes os corantes e aromatizantes artificiais para tornar tolerável uma atividade que já não faz sentido. [...] É preciso aceitar o caráter individual da motivação, e termos a consciência que jamais conseguiremos estar completamente satisfeitos, existirá sempre uma necessidade não atendida que dirigirá novas condutas motivacionais.(ALVES, s/d, p. 9) Para Nadler & Lawler(1983 apud SANT`ANNA E MORAES,2001), são seis os aspectos necessários para sucesso neste campo: a percepção das necessidades;o foco do problema que é detectado pela organização; a estrutura para a identificação e solução do problema;compensações projetadas, para os processos e resultados;sistemas múltiplos afetados;envolvimento amplo da organização. Como se pode deduzir, as vantagens da qualidade de vida no trabalho não se estendem apenas ao trabalhador, mas também a organização através da melhoria do seu processo produtivo. È algo que atinge a qualidade dos produtos e serviços da Organização, o desempenho do funcionário, satisfação dos clientes e como conseqüência promove a melhoria da imagem da empresa junto aos clientes internos e externos e a própria sociedade. Cabrera (s/d), resume o ideal (utópico) de empresas que as pessoas desejam para trabalhar. [...] “o ambiente de trabalho e o clima interno nunca foram tão importantes. [...] As pessoas gostam das empresas transparentes. Essas companhias não escondem informações, difundem sua missão e seus valores e fazem com que seus funcionários se sintam comprometidos com eles. [...] As pessoas querem ser desafiadas, pois é assim que se julgam importantes, se sentem seguras, mesmo que a empresa não ofereça segurança. [...] As empresas estão deixando de ser organizações de cargos para ser organizações de pessoas. [...] As companhias estão buscando o homem inteiro: aquele que leva para76o emprego mais do que sua capacidade física de trabalho. Esse homem vem com coração, com sentimentos”.(CABRERA,sd/sf). SEGUNDA PARTE A PESQUISA EMPÍRICA 77 1 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS “[...] é preciso reconhecer que o método proposto não dá conta de produzir, magicamente, uma explicação totalmente satisfatória desta realidade tão complexa. [...] pois o caminho que vai do ‘concreto aparente’ até o mergulho ao ‘concreto pensado’ é deveras árduo e espinhoso. Mas, parece que esse é o grande desafio que temos de enfrentar.” “Essa é uma realidade contra a qual nada posso fazer, exceto prevenir e acautelar os leitores sequiosos da verdade. Não há entrada já aberta para a ciência e só aqueles que não temem a fadiga de galgar suas escarpas abruptas é que têm a chance de chegar a seus cimos luminosos” Tunolo e Marx19 1.1 - Método O método de pesquisa que resultou neste trabalho foi o do estudo de caso, em que se objetivou explicitar o sentido de uma atividade social e coletiva, a partir de um quadro de referência compreensivo. Tal motivo se justifica na medida em que a ação humana é essencialmente a expressão de uma consciência, o produto de valores e a resultante de motivações. Buscando uma compreensão mais apurada do objeto desta pesquisa, o estudo foi dividido em dois momentos. O primeiro, compreende uma pesquisa bibliográfica em diversos autores acerca de assuntos relacionados aos temas centrais da pesquisa: Marketing, Telemarketing, Qualidade de Vida, Saúde e Trabalho e Call Center, utilizando-se livros, teses, dissertações, monografias, artigos acadêmicos, dentre outras fontes. No segundo, realizou-se uma pesquisa empírica, objetivando captar o sentido e as situações concretas, vivenciadas ou percebidas pelos sujeitos no ambiente de trabalho. 19 TUNOLO. Paulo Sérgio. Metamorfoses no mundo do trabalho- revisão de algumas linhas de análise. Educação &Sociedade. Ano 59.ago.97. MARX, Karl. O capital. São Paulo. Abril cultural 1983.v.I (in TUNOLO. Opus cit.) 78 1.2 - Plano de Pesquisa O plano de operacionalização da pesquisa foi estruturado em duas fases distintas e complementares. A primeira, constituiu-se da aplicação de questionários com operadores de telemarketing da empresa. Durante cinco dias, foram levantados dados que permitiram realizar um diagnóstico que nos permitisse compreender como os aspectos da gestão e organização do trabalho dos Call Centers interferem na qualidade de vida desses trabalhadores. Na segunda fase, foram realizadas entrevistas com alguns gestores da operação, objetivando captar as percepções de pessoas às quais a Empresa delegou autoridade e responsabilidade para conseguir o cumprimento das metas estabelecidas. Foram colhidas informações, opiniões e suas percepções sobre os processos e as filosofias que norteam o caminhar da Organização. Tais depoimentos muito contribuíram para melhorar a compreensão do objeto de estudo. 1.3 - A organização objeto de estudo A Empresa X possui 18 sedes espalhadas pelo Brasil, possui sete anos de existência, é uma empresa privada prestadora de serviços de telemarketing, nas duas modalidades (ativo e receptivo). A maioria de seus clientes é líder de mercado ou tem atuação destacada em seus segmentos. São: bancos, administradora de cartões, financeiras, seguradoras, empresas do setor de serviços e de telefonia. Trata-se de uma organização de grande porte com grande atuação no mercado, é a quinta maior empresa geradora de emprego do Brasil, sexta empresa que mais cresce e quinta maior empresa no setor de serviços diversos do País. 20 20 Informações retiradas do site da organização pesquisada. Acesso 04.11.2007 79 Segundo os dados do IDC (Internacional Data Corporation), a empresa responde por mais de 50% do crescimento em seu setor. Registrou em 2006 um faturamento de R$ 1,3 bilhão 21 A Sede estudada está instalada em Salvador–Bahia, com sete centrais de atendimento em operação. A central de atendimento estudada possui 322 operadores, prestando serviço de telemarketing “receptivo”, especializado em atendimento a clientes portadores de cartões de crédito. È atendida cerca de 1.300.000 mil ligações/mês. Assim, em média um operador responde a 180 ligações/dia. O operador possui em média um tempo de atendimento de 160 segundos (menos do que 3min/ligação). Esta central dispõe de 154 Postos de Atendimento (PA) Cerca de 50% do quadro de operadores trabalha pela manhã, 30% à tarde e 20% à noite. Nos finais de semana, os operadores trabalham com escala flexível, modificada a depender da previsão de demanda de ligações. Além disto, os horários durante a semana não são fixos - são alterados mensalmente, de acordo com a demanda de ligações. Há operadores que trabalham 150 horas/mês (6h.20min/dia, 5 dias/semana ) e recebem um salário mensal fixo de R$380,00 mais uma parcela variável, a título de produtividade, de R$153,00. Outros, trabalham 180 horas/mês (6h.20min./dia,6 dias/semana). Esses, recebem, mensalmente, R$412,00 mais uma parcela, por produtividade, de R$183,00. Para que o operador receba esta remuneração integralmente, é necessário que ele tenha qualidade no atendimento e taxa de 100% de presença /mês (absenteísmo zero). Os indicadores taxa de presença e de absenteísmo são mensurados e acompanhados, tanto pelos supervisores, como pelos próprios operadores, através de relatórios à gerência. Quanto à qualidade no atendimento, as liga- 21 Informação extraída de <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp>. Acesso 06.11.2007 80 ções são gravadas, também para verificação se o cliente foi atendido de acordo com as normas de qualidade da empresa. A central de atendimento possui uma taxa de rotatividade 3% /mês. Esse dado quer dizer que a cada dois anos e dez meses há a substituição de quase todo o efetivo (98%). Os afastamentos pelo INSS por doenças ocupacionais (osteomusculares, problemas na voz, doenças do ouvido, lesões por esforço repetitivo - LER) giram em torno de 1% ao mês. (3 operadores / mês ). 1.4 - Amostra e universo Definiu-se uma amostra intencional, aleatória de 100 operadores, representando 31% do universo que compõe a central de atendimento - 322 operadores. A intencionalidade refere-se à definição da pesquisadora em trabalhar com um só grupo que integra uma central de atendimento. Estatisticamente, esta já pode ser considerada uma amostra representativa, haja vista, que 1/3 do universo permite uma leitura satisfatória do objeto de estudo. 1.5 - Período e Instrumentos de Coleta de Dados O período de 22 de outubro a 01 de novembro /07 foi dedicado à pesquisa de campo. Os instrumentos utilizados foram: Fontes secundárias de dados (qualitativos e quantitativos) da própria empresa para levantamento e análise da estrutura organizacional; Questionário autoaplicável; entrevistas semi-estruturadas dirigidas, realizadas com gestores da operação e observações diretas realizadas no local de trabalho. 81 O questionário (APÊNDICE 1 ) contém 15 questões fechadas, com escala Likert, retiradas dos questionários JDS( Job Diagnostic Survey) e Medical Outcomes Study 36-item (SF-36), adaptadas de Fernandes (1997) e Claudino (2005). O questionário referente às entrevistas semi-estruturadas, (APÊNDICE 2) foi aplicado a cinco supervisores e um coordenador da central de atendimento estudada. Já as observações-diretas foram realizadas durante todo o período de coleta e tiveram como foco a organização do trabalho dos operadores e os processos de gestão dos supervisores. Os instrumentos de pesquisa foram submetidos a um pré-teste objetivando testar a relevância e a compreensão das questões e, se necessário, proceder ajustes. 1.6 - Análise dos dados Os achados foram classificados em: a)Dados secundários: comunicações internas, normas e procedimentos internos e relatórios diversos, Normas regulamentadoras do setor e outros; b) Dados primários: obtidos através da aplicação de questionários, entrevistas semiestruturadas, entrevistas informais e observação direta. Para o processamento e tratamento dos dados quantitativos, adequado às análises que se pretendia fazer, foi desenvolvido um sistema em Excel, adequando-o às diversas etapas do questionário, aplicado aos operadores. 82 Para facilitar e melhor evidenciar os resultados, a incidência percentual das respostas referentes à caracterização do trabalho foi agrupada em : (a) pontos 1+2+3+4 = Inadequado ou insatisfatório; (b) ponto 4 = Indiferente ou incerto; (c) pontos 5+6+7 = Adequado ou satisfatório De igual forma para facilitar a análise dos dados referentes à qualidade de vida no trabalho, agrupou-se a incidência percentual das respostas em : (a) até 49 = insatisfatório; (b) entre 50 e 74 = regular; (c) entre 75 e 100 = satisfatório No Quadro 7 constam as dimensões da pesquisa e as respectivas conceituações . Dimensões Identidade da tarefa Significado da Tarefa Autonomia Feedback Variedade técnica Capacidade funcional Aspectos sociais Estado geral da saúde Limitação por aspectos físicos Limitação por aspectos emocionais Saúde mental Vitalidade Dor Conceituação Analisa a possibilidade de realização completa do trabalho (ciclo completo) Analisa a importância da tarefa não só no nível da organização como a nível pessoal. Analisa o nível de responsabilidade que o operador tem sobre suas atividades e a sua participação nas decisões técnicas e administrativas da empresa. Analisa as informações recebidas no desenvolvimento da tarefa e a performance do operador. Analisa a diversidade das tarefas desenvolvidas. Avalia o nível de desempenho físico do indivíduo. O seu estado de saúde física. Verifica em que nível a integração social do indivíduo é prejudicada pela saúde física e emocional. Mede o estado atual da saúde do trabalhador, avalia como os trabalhadores percebem a sua saúde. Verifica o quanto a saúde física tem interferido no desempenho do trabalho. Verifica o quanto a saúde emocional tem interferido no desempenho do trabalho. Analisa o bem estar psicológico do indivíduo Analisa o nível de energia do indivíduo, sua disposição para o trabalho. Verifica a intensidade da dor e o quanto esta interfere no desempenho do trabalho. Quadro 7: Conceituação das variáveis Fonte : Elaborado pela autora (com base em fontes secundárias de dados. nov.07) 83 2 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS “Próprio do homem é a procura da verdade.O mérito da virtude está na ação. [...] sustenta-nos ardente desejo de saber e de conhecer: encanta-nos ser eminente da ciência: ignorar, errar, enganar-se, iludir-se...” Cícero 2.1 Perfil da amostra pesquisada A grande maioria dos operadores é constituída de pessoas do gênero feminino (70%) e de solteiras (69%). A faixa etária predominante situa-se entre 21 e 25 anos (52%) A metade dos pesquisados (50% de 100 operadores) possui o 2º. grau, enquanto que 34% possui curso superior incompleto e os restantes (9%) já têm graduação superior, conforme demonstra o Quadro 8 SEXO ESTADO CIVIL FAIXA ETÁRIA ESCOLARIDADE Disc. Quant % Disc Quant % Disc Quant % Disc Quant % Masc 28 20 2º.grau 50 50 20 a 25a 52 52 Solteiro 69 69 Fem 70 70 Sup. Inc. 34 34 26 a 30a 31 31 Casado 27 27 NR 2 2 Superior 9 9 > 30 a 17 17 NR 4 4 Total 100 100 Total 100 100 Total 100 100 Total 100 100 Quadro 8: Perfil da amostra pesquisada Fonte:Levantamento de campo. out.2007 A análise do perfil da amostra pesquisa induz-nos a supor que o recrutamento e a seleção primam por pessoas jovens, do sexo feminino, com boa escolaridade e, preferencialmente solteiras. Dadas as características do setor, das atividades e das tarefas desenvolvidas em um call center, de certa forma, é compreensível que a busca da força de trabalho mais adequada para realizá-las não deverá ser negligenciada. 84 2.2 – Afinal, como o Operador percebe as atividades de telemarketing? Para responder a essa indagação, foram pesquisadas cinco dimensões: identidade da tarefa (ou seja: Possibilidade de realização completa da tarefa), significado da tarefa, autonomia, feedback e variedade da tarefa. A freqüência das respostas dos operadores foi agrupada em três níveis: Inadequado ou insatisfatório: 1+2+3; Indiferente ou incerto: 4 e Adequado ou satisfatório: 5+6+7. A análise dos achados indicaram que a atividade de telemarketing caracteriza-se por baixa identidade da tarefa (42% das respostas insatisfatórias); baixo significado da tarefa (53% das respostas insatisfatórias ), baixo índice de autonomia para a realização de suas tarefas (59% das respostas insatisfatórias ). A retroalimentação para melhorias do desempenho também ultrapassa a 60% de respostas negativas: baixo feedback (62% das respostas insatisfatórias ). Tarefas repetitivas (baixa variedade da tarefa) revelou-se a variável mais critica, dentre as Frequência % das respostas variáveis pesquisadas, com 70% das respostas insatisfatórias. (GRÁFICO 2). 70 50 62 59 53 42 31 27 27 57 36 31 25 29 20 14 10 10 Ide nti dade da Si gni fi cado da tare fa Tare fa Autonomi a Fe e dback Vari e dade té cni ca Mé di a C aracte ri z ação do trabal ho (1+2+3) 4 (5+6+7) Gráfico 2: Percepção das Dimensões da Caracterização do Trabalho Fonte: Levantamento de Campo. out.2007 As percepções dos respondentes remete-nos aos modelos de gestão taylorista/fordista, que julgavam o ser humano apenas dotado de energia física e muscular e movido unicamente por 85 motivações de ordem econômica. O trabalhador era visto como um indíviduo destituído de sua capacidade de pensar, a autonomia era ditada pela máquina e os operários mais uma peça da engrenagem. Tempos padrões, ritmo ditado pela máquina (no call center, pela demanda de ligações e pelas cotas de produtividade), situação bem caracterizada por Chaplin, em Tempos Modernos. De acordo com a literatura, essa maneira de trabalhar provoca desgastes físico e mental do operador, repercutindo na sua motivação e na qualidade do atendimento prestado ao cliente. De fato, Veras e Ferreira (2006) destacam que a monotonia e a repetitividade da tarefa prejudicam a interação entre o operador e o cliente. Nestas circunstâncias, o operador tende a escutar passivamente a demanda, seguir os procedimentos padronizados, sem entusiasmo e sem uma verdadeira compreensão da demanda e das necessidades reais do cliente – age como um autômato: robotizado. Estimular a diversificação das tarefas, conceder autonomia para certas decisões, afetar seu trabalho, incentivar a iniciativa e a criatividade do trabalhador, são alguns dos aspectos essenciais para a garantia da sobrevivência das organizações nos dias atuais. 86 2.3 – A Qualidade de Vida no Trabalho Nesse item, foram pesquisadas oito dimensões: capacidade funcional, aspectos sociais, estado geral da saúde, limitação para aspectos físicos, aspectos emocionais, saúde mental, vitalidade e dor. A freqüência das respostas dos operadores foi agrupada em três níveis: Insatisfatório: de 1 a 49; Regular: entre 50 e 74 e Satisfatório: de 75 a 100. Observa-se que, em média, 58% das respostas estão concentradas no nível insatisfatório, sugerindo que a qualidade de vida dos operadores está comprometida para todas as dimensões avaliadas. Analisando a freqüência das repostas, nota-se, também, que 90% dos operadores pesquisados responderam que as dimensões de qualidade de vida são consideradas insatisfatórias: capacidade funcional (52 % das respostas insatisfatórias); dor (67% das respostas insatisfatórias); vitalidade (56 % das respostas insatisfatórias); saúde mental (64% das respostas insatisfatórias); aspectos sociais (63 % das respostas insatisfatórias); aspectos emocionais (51 % das respostas insatisfatórias) e estado geral da saúde (62 % das respostas insatisfatórias). A única dimensão que possui o maior percentual das respostas em um nível regular é limitações físicas (51% das respostas). (GRÁFICO 3) 67 80 52 49 48 62 51 38 33 40 0 0 0 0 44 0 0 D im e n s õ e s d e q u a lid a d e d e v id a ( 1a 4 9 ) (5 0 a 7 4 ) Gráfico 3: Percepção da Qualidade de Vida no Trabalho Fonte: Levantamento de Campo out.2007 64 63 56 ( 7 5 a 10 0 ) 37 0 51 49 58 36 0 0 42 0 87 Sobre esta incidência das respostas no nível regular para as limitações dos aspectos físicos, Codo e Sampaio (1995) afirmam que acontecimentos do mundo atual como: a terceirização, o surgimento e crescimento da automação, a intensificação do ritmo de trabalho, a transferência dos conflitos da produção para o consumo, o aumento da expectativa de vida e a redução das doenças no corpo, tendem a deslocar as fragilidades do campo físico para o psíquico. Silva (1994) complementa que o esgotamento da saúde psíquica acaba desencadeando um esgotamento na saúde física, gerando um esvaziamento que transforma o trabalhador em figura desiludida e doente. Desta forma, o sofrimento passa a ser evidenciado tanto no corpo como na mente do trabalhador. Vale resaltar que as dimensões da qualidade de vida não devem ser analisadas isoladamente, haja vista que ela implica a necessidade do atendimento satisfatório de todas as demais dimensões da vida. Isto significa dizer que são variáveis intervenientes: enquanto uma dimensão apresentar nível insatisfatório, a qualidade de vida não pode ser considerada satisfatória. Por outro lado, um dos componentes básicos da qualidade de vida é a saúde22, entendida em seu sentido mais amplo. Não como um ‘bem de troca’ mas como um ‘bem comum’. Um bem e um direito social, em que cada um e todos possam ter assegurados o exercício e a prática desse direito, a partir da aplicação e da utilização de toda a riqueza disponível, conhecimento e tecnologia desenvolvidos pela sociedade nesse campo, adequados às suas necessidades 23. 22 A medida que um indivíduo ou grupo é capaz, por um lado, de realizar aspirações e satisfazer necessidades e, por outro, de lidar com o meio ambiente. A saúde é, portanto, vista como um recurso para a vida diária, não o objetivo dela; abranger os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas, é um conceito positivo.( Escritório Regional Europeu). Já, segundo a OMS, a saúde é concebida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%. Acesso em 28.12.07.) 23 In Distritos Sanitários Concepção e organização: Os conceitos de saúde e do processo de saúde-doença. (http://bases.bireme.br/bvs/sp/P/pdf/saudcid/vol1_04.pdf. Acesso em 28.12.07.) 88 Das dimensões avalidas as mais criticas são Dor e Saúde mental . Essas, concentram 67% e 64% das respostas insatisfatórias, respectivamente. Esses achados podem sugerir que indícios de sofrimentos físico e psíquico começam a aflorar no ambiente de trabalho da central estudada. 2.4 Cruzamento das dimensões avaliadas 2.4.1 - Dimensões qualidade de vida / autonomia Analisando a distribuição percentual da freqüência das respostas sobre as dimensões da qualidade de vida na escala da autonomia, foi observado que há um decréscimo das respostas insatisfatórias e crescimento das respostas consideradas regulares, na medida em que ocorre o aumento da autonomia. (GRÁFICO 4) % Dimensões da qualidade de vida 25 20 18 20 15 14 12 10 14 10 5 5 3 2 2 0 1 2 3 4 5 Autonomi a Di me nsõe s de qual idade de vi da Insati sfatóri as Di me nsõe s de qual idade de vi da Re gul are s Gráfico 4: Dimensões da Qualidade de Vida X Autonomia Fonte: Levantamento de Campo out.2007 A literatura defende que o trabalho é visto como prisão, quando ocorre o controle através de procedimentos rígidos, detalhadamente prescritos com limitações impostas pela hierarquia. O sufocamento da autonomia provocaria o sufocamento das expressões de inteligência dos tra- 89 balhadores que, por sua vez, resultaria em produtos e serviços de menor qualidade e originalidade. Quando a autonomia é concedia ao funcionário, ele passa a assumir a responsabilidade sobre o seu cargo, passa a tomar as decisões relativas à sua atividade, o que propicia uma maior satisfação com o seu cargo, com o seu trabalho. A autonomia ajuda a reestruturar as relações no ambiente de trabalho e promover o desenvolvimento das relações sociais entre os trabalhadores. Por outro lado, a literatura preceitua que “as Pessoas querem fazer um trabalho autêntico e significativo, que proporcione a motivação que as leva a dar o melhor de si mesmas, e serem recompensadas de acordo com o seu perfil motivacional”. 2.4. 2 - Dimensões qualidade de vida / variedade da tarefa Os resultados sugerem que quando ocorre o aumento da variedade das tarefas, há uma queda na freqüência das respostas insatisfatórias para as dimensões da qualidade de vida e um crescimento da freqüência das respostas para o nível regular destas dimensões. (GRÁFICO 5). % Dimensões da qualidade de vida 25 20 20 16 15 15 15 11 10 10 7 6 5 0 0 0 1 2 3 4 Vari e dade da tare fa Di me n sõe s de qual i dade de vi da i nsati sfatóri as Di me n sõe s de qual i dade de vi da re gu l are s Gráfico 5: Dimensões da Qualidade de Vida x Variedade da tarefa Fonte: Levantamento de Campo out.2007 5 90 A variedade da tarefa é uma condição essencial para a qualidade de vida. Sem ela o indivíduo percebe-se mecanizado, visto como uma peça de engrenagem no processo produtivo. A robotização do indivíduo, através de um trabalho enfadonho e repetitivo promove a despersonalização do homem, tolhe a iniciativa, a criatividade, implicando fadiga psicológica e tensão para os trabalhadores. 2.4.3 - Dimensões qualidade de vida / feedback A análise da distribuição da freqüência das respostas insatisfatórias e regulares na escala do Feedback insinua que as dimensões da qualidade de vida insatisfatórias diminuem e saem da condição de insatisfatórias para regulares, no momento em que houve a melhoria do feedback. Dimensões da qualidade de vida (GRÁFICO 6). % 25 20 19 15 15 12 13 14 14 10 6 6 5 1 0 0 1 2 3 4 5 Fe e dback Di me n sõe s de qu al i dade de vi da i n sati sfatóri as Di me n sõe s de qu al i dade de vi da re gu l are s Gráfico 6: Dimensões da Qualidade de Vida X Feedback Fonte: Levantamento de Campo out.2007 Quando o operador está ciente do seu desempenho, tem o conhecimento sobre o resultado do seu trabalho (acertos e erros), ele passa a compreender melhor o sentido do trabalho, desenvolvendo um sentimento de responsabilidade sobre aquilo que faz. O não reconhecimento do trabalho do indivíduo e das suas habilidades resulta em perda da auto-estima, insegurança e aumento da ansiedade. 91 2.4.4 - Dimensões da qualidade de vida / significado da tarefa. O Gráfico 7 demonstra a ocorrência da diminuição das respostas insatisfatórias e o crescimento da freqüência das respostas de regulares sobre as dimensões da qualidade de vida, quando o significado da tarefa se encontra em níveis mais altos . 20 de vida Dimensões da qualidade % 25 19 14 15 13 12 11 11 10 10 10 5 0 0 0 1 2 3 4 5 S i gn i fi cado da tare fa Di me n sõe s de qual i dade de vi da i n sati sfatóri as Di me n sõe s de qual i dade de vi da re gul are s Gráfico 7: Dimensões da Qualidade de Vida X Significado da Tarefa Fonte: Levantamento de Campo out.2007 Essa dimensão refere-se à importância da contribuição do operador para os resultados organizacionais (importância que a organização atribui à tarefa). É diferente para o pedreiro se perceber construindo uma catedral e se perceber colando tijolos. Desse modo, é fundamental que os trabalhadores entendam o significado da tarefa para a organização. Principalmente, para os empregados que executam rotinas e procedimentos “prontos”, a falta de significado da tarefa afeta sua motivação. Por que sou pago para fazer isso? Qual o valor do que eu faço? É opinião de alguns estudiosos das relações de trabalho que “é do contato forçado com uma tarefa desinteressante que nasce uma imagem de indignidade”. 92 2.4.5 - Dimensões qualidade de vida / identidade da tarefa. A freqüência das respostas sobre as dimensões da qualidade de vida apresentou queda para os índices insatisfatórios quando ocorreu a melhoria da dimensão Identidade da tarefa. Observou-se que a freqüência das respostas regulares começou a surgir quando houve a melhoria Dimensões da qualidade de vida desta dimensão.( GRÁFICO 8). % 25 20 16 15 15 14 14 11 10 10 10 9 5 0 0 1 0 0 1 2 3 4 5 6 Ide ntidade da tare fa Dime nsõe s de quali dade de vida insati sfatórias Dime nsõe s de quali dade de vida re gulare s Gráfico 8: Dimensões da Qualidade de Vida X Identidade da Tarefa Fonte: Levantamento de Campo out.2007 Promover a identidade da tarefa significa demonstrar ao executante o que é o processo por inteiro e que ele é parte importante desse processo. Como seu trabalho (por mais insignificante que lhe possa parecer) é fundamental para o todo. A tarefa só é desvinculada de significado por falta de informação da gerência, do desconhecimento do trabalhador de sua parte no elo da corrente. Analisando-se o conjunto dos resultados, observa-se que quando ocorre um aumento das dimensões de caracterização do trabalho (autonomia, feedback, variedade da tarefa, significado da tarefa e identidade da tarefa ), há uma queda da freqüência das respostas insatisfatórias para as dimensões de qualidade de vida (capacidade funcional, limitação para aspectos físicos, emocionais, sociais, dor, saúde mental, estado geral da saúde e vitalidade), bem como um 93 aumento da freqüência das respostas para a qualidade de vida considerada regular. Sendo assim, os achados levam-nos a acreditar que há relação direta entre os processos de organização e gestão do trabalho com a qualidade de vida dos operadores. Desta forma, infere-se que se os operadores estiverem cientes de quando a tarefa começa e quando termina, se conhecerem o significado da tarefa para a organização, se lhes for dada autonomia sobre o seu trabalho e se receberem informações sobre seu desempenho, a qualidade de vida no trabalho tende a atingir índices satisfatórios. É nessa direção que as empresas de telemarketing devem atuar para melhorar a organização dos processos de trabalho e a gestão de sua força de trabalho. A organização e gestão do trabalho é um caminho crítico nas relações de trabalho que, se ignorado, pode desencadear conflitos e sofrimentos entre/nas pessoas, conforme afirma Dejours (2007). Os aspectos relacionados a este “ponto sensível” devem, portanto, ser considerados por todas as empresas que prezam a qualidade de seus serviços e a satisfação de seus trabalhadores. 94 2.5 - Resultados das entrevistas com os supervisores e coordenador da Central estudada A análise das entrevistas deu-nos a entender que os entrevistados compreendem que qualidade de vida no trabalho significa trabalhar feliz, psicológica e fisicamente. No entanto, eles reconhecem que a visão da empresa é limitada, restringindo-se à melhoria do clima organizacional. Nota-se, contudo, que essa chamada melhoria não tem uma fundamentação, vez que só agora a Organização está fazendo sua primeira pesquisa de clima organizacional. Os programas de qualidade de vida da Central estudada resumem-se a “campanhas motivacionais” e ginástica laboral. São ações pontuais que não fazem parte de um programa efetivamente estruturado de Qualidade de Vida no Trabalho. As campanhas motivacionais são, de forma geral, momentâneas e “higienizam” o ambiente, porque não se pode afirmar que satisfação e motivação sejam sinônimas. A ginástica laboral também não é uma atividade sistemática porque nem sempre o volume de ligações permite. As ações de qualidade de vida no trabalho são voltadas para melhoria do clima da empresa, visam à integração dos operadores. Ações como: dia das crianças em que é feita a coleta de brinquedos e posterior entrega a orfanatos; no natal ocorre a coleta de agasalhos e posterior entrega nos orfanatos; dia “D” das frutas ou qualquer outro alimento específico que tornam o dia diferente e o clima mais leve, mais agradável. (COORDENADOR, 28/10/2007) Os entrevistados acrescentam que não sentem que há uma preocupação da empresa com o trabalhador e que estas “ações” de QVT são feitas como uma imposição legal. Não possuem atuação específica. Não existem resultados mensuráveis das ações de QVT. Imaginam que “seus benefícios se restringem apenas à melhoria do clima”. Para os entrevistados, a qualidade de vida da Central estudada deixa muito a desejar. Afirmam que “a organização e gestão do trabalho atuam contra a Qualidade de Vida no Trabalho”. 95 Call Center é uma atividade desgastante, a gente costuma dizer que operador tem prazo de validade; a atividade do trabalhador é prejudicial psicologica e fisicamente, por este motivo a empresa deveria ter um foco melhor para a QVT (SUPERVISORA, 29/10/2007). Para esses mesmos entrevistados, contudo, as pressões e os controles na organização e gestão do trabalho são inevitáveis para o tipo de negócio que é o telemarketing: As pressões para bater as metas, para controlar o tempo de atendimento, os indicadores de desempenho poderiam ser amenizados, a qualidade de vida dos operadores acaba de certa forma sendo prejudicada para que as metas da empresa sejam alcançadas (COORDENADOR, 28/10/2007) Durante as entrevistas, percebeu-se um certo grau de conformação ao “status quo” dominante. Uma certa visão de inexorabilidade dos processos de organização e gestão da força de trabalho. A mesma crença dos modelos tayloristas/fordistas de que os empregados só trabalham, só conseguem dar resultados sob controle e pressão. É uma empresa grande, com muitos funcionários fica difícil ter uma atenção maior voltada para isso. Além do mais, o controle e a pressão faz parte do tipo de negócio, são metas que são cobrados em qualquer tipo de trabalho, faz parte do ser humano (SUPERVISORA, 27/10/2007). Observou-se que não existe na Central de atendimento estudada um programa de qualidade de vida no trabalho definido. Desta forma as “ações de QVT” da Central se destinam à promoção da “integração social” dos operadores. Não há uma efetiva preocupação com a manutenção ou promoção da qualidade de vida de seus trabalhadores. Esta visão da Central de atendimento é refletida nos dados encontrados sobre a qualidade de vida dos operadores, quando se identificaram indicadores negativos, por parte dos pesquisados. Vale ressaltar que, de acordo com a literatura, baixos índices de QVT, implicam queda de produtividade, assim como a qualidade dos produtos e serviços, afetando negativamente e a competitividade da empresa. 96 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES Todo o meu intuito era conquistar a certeza e rejeitar a terra movediça e a areia para encontrar a rocha e a argila. O que me deu bom resultado, pois que, procurando descobrir a falsidade e a incerteza das proposições que examinavanão por meio de fracas conjecturas, mas com raciocínios claros e seguros – não encontrava nenhumas tão duvidosas das quais não tirasse sempre alguma conclusão bastante certa, quando mais não fosse a de não conter nada de certo Descartes Este estudo buscou subsídios para responder ao seguinte questionamento: a organização e gestão do trabalho afetam a qualidade de vida dos operadores de telemarketing? A partir disto, o trabalho procurou identificar a percepção que os operadores têm do seu trabalho, sua qualidade de vida e a percepção que a empresa tem sobre a qualidade de vida no trabalho. Em termos de objetivos específicos, buscou respostas para as seguintes indagações: a) será que a qualidade de vida do operador de telemarketing é afetada pelos processos da organização do trabalho e pelas políticas e práticas de gestão da empresa em estudo? b) os processos de organização e gestão do trabalho das empresas de telemarketing, bem como a execução das tarefas correlatas interferem na qualidade de vida do operador (de telemarketing)? c) como os operadores avaliam e correlacionam sua qualidade de vida com as tarefas que executam? d) qual a percepção dos gestores, no que tange à promoção da qualidade de vida no trabalho, no contexto organizacional estudado? Para a investigação da influência dos métodos de organização e da gestão do trabalho na qualidade de vida do operador de teleatendimento, foram levantadas as hipóteses iniciais de que (a) as empresas de telemarketing ainda trabalham nos moldes taylorista/fordista; (b) como 97 conseqüência, os processos de organização e gestão do trabalho comprometem a qualidade de vida dos operadores dos call centers Os resultados da pesquisa quantitativa demonstraram que: a) todas as dimensões de caracterização do trabalho apresentaram resultados insatisfatórios. O trabalho do operador de telemarketing foi caracterizado como repetitivo, com baixo poder de decisão. Os respondentes não percebem seu trabalho como importante; obtém pouco retorno sobre seu desempenho, não realizam as tarefas por completo, apesar do elevado desgaste mental que a tarefa acarreta; b) a qualidade de vida dos operadores é afetada pelas condições de trabalho, ai incluindo-se os processos de organização e gestão. Quando houve pequena melhoria destas condições, identificou-se, em paralelo, uma melhoria das dimensões de qualidade de vida. Acredita-se, desta forma, que se houver uma maior variedade de tarefa, maiores significados do trabalho e possibilidade de realização completa das tarefas, bem como, maior feedback e mais autonomia, a qualidade de vida tenderá a melhorar; c) a Empresa estudada possui uma visão limitada do que seja qualidade de vida no trabalho. Segundo seus representantes, QVT resume-se a ações pontuais de melhoria do clima organizacional – ainda desconhecido da administração. A preocupação da empresa tem sido apenas com a integração social dos operadores. Desta forma, as ações de QVT se restringem às campanhas motivacionais e ginástica laboral, conforme depoimentos dos supervisores entrevistados; d) tais gestores reconhecem que a organização e gestão do trabalho acaba prejudicando a qualidade de vida dos operadores, mas acrescentam que “a intensificação, o controle e as pressões do trabalho fazem parte do tipo de negócio da Empresa” - o Telemarketing; 98 e) todos os indicadores de qualidade de vida no trabalho apresentaram percentuais de respostas insatisfatórios. Esse resultado induz-nos a inferir que a qualidade de vida dos operadores pesquisados está sendo afetada pela pelos processos de organização e gestão do trabalho. É importante considerar que, efetivamente, existem aspectos da organização e gestão do trabalho em telemarketing que são inerentes à atividade. Contudo, deve-se buscar meios para evitar a precarização do trabalho e das relações de trabalho neste Setor, a fim de que, mais dia menos dia, essa profissão venha ser “estigmatizada”, e mesmo evitada pelo mercado de trabalho. O que, aliás, de certa forma, já se insinua trilhando esse caminho. Expressões como “senzala da era eletrônica”, “operador tem prazo de validade”, “o controle e a pressão fazem parte do tipo de negócio”, assim como índice de rotatividade de três porcento/mês, equivalendo a um tempo médio de permanência na empresa, em torno de dois anos e dez meses, são ingredientes de um cenário que se apresenta sombrio, para um dos serviços que mais cresce em todo o mundo. A preocupação deve ser redobrada, especialmente quando o principal “recurso” para fazer esse serviço funcionar chama-se PESSOAS. Em que pese um mercado de trabalho não tanto promissor, os achados demonstram que as pessoas com o perfil demandado por esse setor não estão dispostas a “vender sua vida” por tão pouco: é fato, o giro de 98% de toda a força de trabalho, a cada pouco menos de três anos. Atrair e reter pessoal com o perfil adequado para interagir com outras pessoas: clientes externos, cada vez mais exigentes e conscientes de seus direitos é o grande desafio. É difícil mas, não é impossível: uma das alternativas é a não intensificação do ritmo de trabalho, através do aumento do efetivo; uma política de valorização dessa força de trabalho, salários atrativos, jornadas de trabalho reduzidas, respeito às pausas para descanso, condições ergonômicas das PA (posições de atendimento ), planos de saúde e benefícios, sistemas estruturados de reconhecimento e recompensa, são algumas ações que, sem maior aprofundamento da questão, se apresentam (todas dimensões 99 da QVT), além de outros fatores higiênicos, como é o caso de uma política séria de higiene e segurança no trabalho. É necessário que o operador deixe de ser tratado como uma extensão do tele (fone; marketing) e seja percebido como Ser Humano, com necessidades, desejos, aspirações - uno e indissociável do seu Eu. É preciso reconhecer que a busca pela Qualidade de Vida no Trabalho, longe de ser um modismo tornou-se uma necessidade de sobrevivência no turbocapitalismo24 em que estamos inseridos. É necessário continuarmos pesquisando as relações de trabalho na contemporaneidade e, mais especificamente, nesse ramo de atividade – que a cada dia mais cresce - e nessa linha de pesquisa, a fim de que se tenham parâmetros de comparação de resultados e se possam acompanhar a tendência ou evolução de projetos relacionados à QVT. É fundamental ressaltar que, se tratando de um estudo de caso, seus resultados não deverão ser estendidos a todas as empresas de telemarketing, para que se evitem interpretações equivocadas. As pesquisas em ciências sociais não são estanques, vez que seu principal objeto de estudo é o homem – também em constante evolução. Portanto, os achados não deverão ser determinísticos e sim relativizados. No entanto, as informações levantadas e analisadas constituem-se um ponto de partida para reflexão sobre temática tão relevante e instigante, não só para os trabalhadores com tele(fone, marketing), como também para as empresas e para a Sociedade como um todo. Finalmente, espera-se que este trabalho possa “ser útil a alguns, sem ser nocivo a ninguém” 24 turbocapitalismo “o atual grau de livre comécio e competição em que nos encontramos nesta fase do capitalismo” Luttwak, E.N (VEJA. N.24.14.jun.1995. p7/10.). 100 REFERÊNCIAS ACEVEDO, Cláudia Rosa e NOHARA. Jouliana Jordan. Monografia no curso de administração. São Paulo. Atlas. 2007 ALVES, Bianca. A Motivação Humana e as Organizações: Uma Abordagem Fenomenológico-Existencial. São Paulo. Fgv. s/a ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 3ªed, São Paulo. 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Acesso 27.09.2007 APÊNDICES APÊNDICE 1 – QUESTIONÁRIO Prezados senhores, Este questionário tem o objetivo levantar informações para o desenvolvimento de um trabalho monográfico de conclusão de curso. Não é necessário identificar-se. Interessa-nos, tão somente, as informações prestadas. Por favor, responda todas as questões com sinceridade. Obrigada! Dados Pessoais Sexo: Sexo: Masculino Casado Feminino Solteiro Escolaridade Faixa Etária 2º Grau Completo Até 20 anos Nível Superior em Curso De 21 a 25 anos Nível Superior Completo De 26 a 30 anos Pós Graduação Acima de 30 anos 1.Qual a adequação da frase ao seu cargo? Para responder a pergunta utilize a escala abaixo,para cada situação. (circule um número em cada linha) 1 Muito Inadequada 2 Na generalidade Inadequada 3 Ligeiramente inadequada 4 Incerta 5 Ligeiramente adequada 6 Na generalidade adequada 1. O Cargo requer que eu use um conjunto de técnicas complexas de elevado nível. 2. O Cargo é bastante simples, repetitivo. 3. O cargo possibilita-me a oportunidade de finalizar completamente as tarefas do meu trabalho , sem exigir ações posteriores. 4. O cargo está organizado de forma que eu não tenho possibilidades de realizar uma unidade de trabalho do princípio até ao fim. 5. A forma como o trabalho é bem realizado no cargo pode afetar muitas pessoas . 6. O cargo não é muito importante ou significativo no esquema ou estrutura geral das coisas. 7. O cargo proporciona-me uma considerável oportunidade de independência e liberdade na forma como realizo o trabalho? 8. O cargo nega-me qualquer possibilidade de utilizar a minha iniciativa pessoal para realizar o trabalho. Qual a adequação da frase anterior ao seu cargo? 9. A própria realização do trabalho requerido pelo cargo fornece-me muitas indicações sobre o meu desempenho. 10. O cargo fornece muito poucas indicações sobre se estou ou não a ter um bom rendimento. 7 Muito adequada 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 2.Que variedades existem no seu cargo, ou seja, até que ponto o cargo requer que faça muitas coisas diferentes no trabalho? ( Escolha uma alternativa) 1 Muito pouco o cargo solicita-me a mesma rotina sempre 2 Variedade Moderada 3 Bastante, o cargo solicita-me muitas técnicas diferentes. 3.Em geral, qual o significado e importância do seu cargo ? Isto é, os resultados do seu trabalho afetam de forma significativa as vidas ou o bem estar de outras pessoas ? ( Escolha uma alternativa) 1 Não com muito significado os resultados do meu trabalho não tem efeitos importantes em outras pessoas 2 Significado moderado 3 Altamente significativo, os resultados do meu trabalho podem afetar outras pessoas de modo muito importante. 4. Que autonomia existe no seu cargo? Isto é, até que ponto o seu cargo permite que decida por si próprio como vai realizar o trabalho? ( Escolha uma alternativa) 1 Muito pouca; o cargo não permite que eu decida como e quando o trabalho é realizado. 2 Autonomia moderada; muitas coisas estão padronizadas,mas posso tomar algumas decisões sobre o trabalho. 3 Bastante; o cargo responsabiliza-me praticamente por todas as decisões sobre como e quando o trabalho é realizado. 5.Até que ponto a realização do trabalho por si só lhe fornece informação sobre o resultado do seu trabalho? ( Escolha uma alternativa) 1 Muito pouco; o cargo está definido de modo que trabalho sem saber se estou a ter um bom desempenho. 2 Moderadamente; por vezes a realização do trabalho fornece-me algum feedback; outras vezes não. 3 Bastante; o cargo está definido de modo que me permite obter feedbacks constantemente, durante a realização do meu trabalho. 6. Em Geral, você diria que a sua saúde é: Excelente Muito Boa Boa Ruim Muito Ruim 7. Os seguintes itens são sobre as atividades que você poderia fazer atualmente durante um dia comum. De acordo com a sua saúde, você teria dificuldade para fazer esta atividade? Neste caso quanto? ( circule um número em cada linha) Atividades a) Atividades vigorosas, que exigem muito esforço como: correr, levantar objetos pesados , participar de esportes intensos. b) Atividades moderadas, como mover uma mesa, passar aspirador de pó, jogar bola , varrer a casa . c) Levantar ou carregar mantimentos d) Subir vários lances de escada e) Subir um lance de escada f) Curvar-se, ajoelhar-se ou desdobrar-se g) Andar mais de 1 Km h) Andar vários quarteirões i) Andar um quarteirão j)Tomar banho ou vestir-se Sim, Muita dificuldade Sim , um pouco de dificuldade Sem dificuldade Sim, Muita dificuldade 1 2 3 1 1 2 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 1 1 1 1 1 1 1 1 8. Durante as últimas quatro semanas, você teve alguns dos seguintes problemas no seu trabalho ou com alguma atividade regular, como conseqüência de sua saúde física ? (circule um número em cada linha) Descrição Sim Não 1 2 1 1 1 2 2 2 a) Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao trabalho ou a outras atividades? b) Realizou menos tarefas do que gostaria? c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou a outras atividades? d) Teve dificuldades de executar seu trabalho ou outras atividades 9. Durante as ultimas quatro semanas, você teve alguns dos seguintes problemas com seu trabalho ou outra atividade regular diária como consequência de algum problema emocional. (circule um número em cada linha) Descrição Sim Não 1 2 1 2 1 2 a) Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao trabalho ou a outras atividades? b) Realizou menos tarefas do que gostaria? c) Não realizou ou fez qualquer das atividades com tanto cuidado do que geralmente faz? 10.- Durante as últimas quatro semanas, de que maneira sua saúde física ou problemas emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em relação à família, amigos ou em grupo? De forma nenhuma Ligeiramente Moderadamente Bastante Extremamente 11.Quanta dor no corpo você teve nas últimas quatro semanas? Nenhuma Muito Leve Leve Moderada Intensa Muito Intensa 12. Durante as últimas quatro semanas, quanto a dor interferiu com seu trabalho normal (incluindo o trabalho dentro de casa)? De maneira alguma Um pouco Moderadamente Bastante Extremamente 13. Para cada questão abaixo, por favor, dê uma resposta que mais se aproxime da maneira como você se sente, em relação às últimas 4 semanas. ( circule um número em cada linha) Descrição Sempre A maior parte do tempo Boa parte do tempo Às vezes Poucas vezes Nunca a) Por quanto tempo você se sente cheio de vigor , força e animado? 1 2 3 4 5 6 b) Por quanto tempo se sente nervoso? 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 g) Por quanto tempo se sente esgotado? 1 2 3 4 5 6 h) Por quanto tempo se sente uma pessoa feliz? 1 2 3 4 5 6 i) Por quanto tempo se sente cansado? 1 2 3 4 5 6 c) Por quanto tempo se sente deprimido que nada pode animá-lo? d) Por quanto tempo se sente calmo ou tranqüilo? e) Por quanto tempo se sente com muita energia? f) Por quanto tempo se sente desanimado ou muito abatido? 14. Durante as últimas 4 semanas, por quanto tempo a sua saúde física ou problemas emocionais interferiram em suas atividades sociais (como visitar amigos, parentes, etc)? Sempre A maior parte do tempo Boa parte do tempo Poucas vezes Nunca 15. - O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?( circule um número em cada linha) Definitivamente verdadeiro A maioria das vezes verdadeiro Não sei A maioria das vezes falso Definitivamente falso 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 c) Acho que minha saúde vai piorar. 1 2 3 4 5 d) Minha saúde é excelente 1 2 3 4 5 Descrição a) Costumo adoecer mais facilmente que outras pessoas b) Sou tão saudável quanto qualquer pessoa que conheça. Espaço reservado para outros comentários APÊNDICE 2 –ROTEIRO DA ENTREVISTA Perguntas 1. Para você o que significa qualidade de vida no trabalho? 2. Quais são as ações / programas de Qualidade de vida no trabalho promovida pela empresa? 3. Os programas de QVT têm atuação específica? Quais? (Saúde, nutrição, lazer, responsabilidade social?). 4.Como os programas de QVT são vistos pela empresa? (Obrigação legal, investimento, despesa, Filantropia...). 5.Cite alguns benefícios que o programa de QVT trouxe para a operação ? 6. Existem resultados mensuráveis das ações de QVT? 7.Existe ou existiu alguma pressão externa para implantação do QVT ?(clientes, legislação, sindicato..) 8. Você sente necessidade de participar das ações de QVT?Por quê? 9.Na sua opinião qual o setor da empresa que mais precisa das ações de QVT ? Por quê? 10. A organização do trabalho e os processos de gestão da empresa atuam de encontro ou a favor da QVT? Por quê?