UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA GEISE CRISTINA DE JESUS ALIMENTOS PROBIÓTICOS Efeitos Benéficos Lorena 2014 GEISE CRISTINA DE JESUS ALIMENTOS PROBIÓTICOS Efeitos Benéficos Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo como requisito parcial para conclusão do curso de Engenharia Bioquímica. Orientador: Prof. Dr. Ismael Maciel de Mancilha Lorena 2014 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Chefia Técnica de Serviço de Biblioteca Escola de Engenharia de Lorena Jesus, Geise Cristina Alimentos probióticos: efeitos benéficos / Geise Cristina de Jesus.– Lorena: 2014. 61p. Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia Bioquímica. Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo. Orientador: Ismael Maciel de Mancilha 1. Probióticos. 2. Lactobacillus. 3.Intestino. 4. Alimentos funcionais. I. Mancilha, Ismael Maciel de, oriente. Aos meus pais, Maria e Vital, pelo amor, incentivo, apoio incondicional e por toda dedicação. Agradecimentos À Deus, por estar sempre me guiando, e pela graça recebida de encerrar mais uma etapa na minha vida, renovando os meus caminhos para um novo amanhecer. Aos meus pais, Maria e Vital, por todo seu amor, incentivos e apoio nesses anos de caminhada. Aos meus irmãos, Gisele e Fábio (in memorian), pelo amor sincero e amizade eterna. Aos meu sobrinhos, por me reavivarem com suas alegrias e fazendo com que eu deseje ser exemplo de dedicação. Ao meu namorado Silas, por ser tão prestativo, compreensivo e amoroso. Á toda minha família, que nos momentos de minha ausência dedicados aos estudos, sempre entenderam que o futuro é feito a partir da constante dedicação no presente. Às amigas de república: Amanda, Helena, Marina, Renata S. e Renata T.; Isabela e Paula; pela oportunidade de convívio com a diferença, e torcida a cada passo dado. Aos meus amigos de infância por todo apoio e cumplicidade, pois mesmo quando distantes estavam presentes. Ao Prof. Ismael Maciel de Mancilha pela orientação, paciência e confiança neste trabalho. À Mônica Akemi e aos colegas de trabalho da Yakult, pela compreensão, confiança e oportunidade de aprendizado contínuo. Á todos que fizeram parte da minha formação pessoal e profissional, seja levando um pouquinho de mim ou deixando um pouco de si, meu muito obrigada. “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Nelson Mandela Resumo JESUS, G. C. Alimentos probióticos: efeitos benéficos. 2014. 61f. Monografia – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014. A preocupação com a manutenção da saúde vem aumentando ao longo dos anos, sendo que um de seus pilares é a presença de uma microbiota do trato gastrointestinal (TGI) equilibrada. Um dos elementos importantes na alimentação que conferem benefícios perceptíveis à saúde são os alimentos funcionais com destaque para os probióticos. Segundo a Organização Mundial da Saúde produtos probióticos são aqueles constituídos de microrganismos vivos que quando ingeridos em quantidades adequadas conferem efeitos benéficos ao organismo do hospedeiro. Desta forma, o presente trabalho teve por objetivo reportar dados da literatura abrangendo aspectos relevantes sobre alimentos funcionais focando nas espécies de microrganismos probióticos e seus respectivos mecanismos de ação, além de seus efeitos benéficos no tocante a modulação da microbiota do TGI do hospedeiro. Palavras-chave: Probióticos, Lactobacillus, Intestinos e Alimentos funcionais Abstract JESUS, G. C. Foods Probiotics: beneficial effects, 2014. 61f. Monograph - Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014. Concern for health maintenance has been increasing over the years, and one of its pillars is the presence of a balanced microbiota of the gastrointestinal tract. One of the important elements in food that confer health benefits are noticeable functional foods, especially probiotics. According to the World Health Organization, probiotics products are those consisting of live microorganisms that when ingested in adequate amounts confer beneficial effects to the host organism. Thus, the present study aimed to report data covering relevant aspects of the literature on functional foods focusing on species of probiotic microorganisms and their mechanisms of action, in addition to its beneficial effects on the modulation of the host microbiota of the TGI. Keywords: Probiotics, Lactobacillus, Intestine and Functional Foods Lista de Figuras Figura 1 Proteção da microflora intestinal contra patógenos .................................... 17 Figura 2 Distribuição microbiana ao longo do TGI.................................................... 23 Figura 3 Distinção dos microrganismos da Microbiota Intestinal .............................. 24 Figura 4 Estrutura molecular da Inulina .................................................................... 27 Figura 5 Produtos da fermentação de prebióticos .................................................... 28 Figura 6 Reações dos probióticos e prebióticos e aos seus efeitos sobre a saúde .. 29 Figura 7 Parede celular de bactérias Gram positivas ............................................... 31 Figura 8 Bactérias do gênero Bifidobacterium .......................................................... 32 Figura 9 Bactérias do gênero Lactobacillus .............................................................. 32 Figura 10 Vias do metabolismo homofermentativo e heterofermentativo de carboidratos ...................................................................................................... 36 Figura 11 Quiralidade molecular do Ácido Lático ..................................................... 37 Figura 12 Efeitos benéficos resultantes de associação simbiótica ........................... 41 Figura 13 Microrganismos patogênicos .................................................................... 44 Figura 14 Microrganismos probióticos ...................................................................... 44 Figura 15 Níveis de Indican na urina ........................................................................ 45 Figura 16 Níveis de P-Cresol na urina ..................................................................... 45 Lista de Siglas ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária DNA Ácido Desoxirribonucleico FOS Frutoligossacarídeos IgA Imunoglobulina A IgM Imunoglobulina M mL Mililitros MOS Mananoligossacarídeos MS Ministério da Saúde nLDH Desidrogenase Lática rDNA Ácido Desoxirribonucleico Ribossômico TGI Trato gastrointestinal UFC Unidades Formadoras de Colônias USP Universidade de São Paulo Sumário 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12 2. METODOLOGIA ............................................................................................... 13 3. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 14 3.1. Microbiota Intestinal .................................................................................... 14 3.1.1. Desenvolvimento e Atuação da Microbiota Intestinal ........................... 15 3.1.2. Mecanismos de Ação da Microbiota Intestinal ...................................... 17 3.1.3. Diferenciação da Microbiota do TGI ....................................................... 21 3.1.4. A modulação da microbiota intestinal e alteração do metabolismo microbiano .......................................................................................................... 24 3.2. Prebióticos ................................................................................................... 26 3.3. Probióticos................................................................................................... 29 3.3.1. Definição................................................................................................... 30 3.3.2. Espécies de microrganismos com propriedades probióticas .............. 31 3.3.3. Metabolismo de Carboidratos por Bactérias Lácticas .......................... 34 3.3.4. Ácido Láctico ........................................................................................... 36 3.3.5. Mercado de Alimentos Probióticos ........................................................ 38 3.4. Simbióticos .................................................................................................. 40 3.5. Benefícios da ingestão de alimentos probióticos ..................................... 42 4. CONCLUSÃO ................................................................................................... 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 47 ANEXO. ................................................................................................................... 61 12 1. INTRODUÇÃO A procura incessante por uma alimentação mais saudável, equilibrada e que confira efeitos benéficos para a manutenção da saúde da população, vem aumentando com o passar dos anos. Os consumidores almejam produtos e alimentos que enriqueçam a dieta, mantendo assim, a boa saúde. Os alimentos funcionais, com destaque para aqueles que contêm microrganismos vivos que apresentam propriedades que conferem efeitos benéficos ao hospedeiro são definidos como alimentos probióticos. De acordo com dados reportados na literatura, para que estes efeitos possam ser observados estes devem ser consumidos em níveis adequados e em intervalos regulares. A influência da microbiota intestinal sobre o funcionamento do organismo é notável, visto que influencia nas reações bioquímicas do hospedeiro. Quando a microbiota intestinal se encontra equilibrada, esta apresenta a capacidade de impedir os efeitos desfavoráveis das espécies patogênicas presentes no TGI. Assim sendo, a proliferação de microrganismos patogênicos no TGI revela o desequilíbrio da microbiota, levando a ocorrência de enfermidades As espécies de microrganismos que apresentam propriedades probióticas mais utilizadas pertencem aos grupos das bactérias do ácido Láctico (BAL), com destaque para espécies de Lactobacillus e Bifidobacterium. Dentre os benefícios causados por estas espécies incluem o seu valor terapêutico dos alimentos devido ao aumento dos níveis de vitaminas do complexo B e aminoácidos, absorção de cálcio, ferro e magnésio, além da melhora significativa dos mecanismos naturais de defesa do organismo. Diante do exposto, o presente trabalho teve por objetivo reportar dados da literatura procurando ressaltar os benefícios da ingestão de alimentos probióticos, como suplementação da dieta, bem como os mecanismos de ação destas espécies com vistas tendo como a modular e manter equilibrada a microbiota do TGI tendo como consequência a manutenção da saúde. 13 2. METODOLOGIA A pesquisa que sustentou esta monografia consistiu de uma revisão bibliográfica sobre o tema proposto com ênfase em artigos científicos previamente publicados, livros e internet. Ruiz (1976) afirmou que a pesquisa bibliográfica tem função de justificar o objetivo da revisão literária, colaborando na mesma. O autor enuncia que ”a pesquisa bibliográfica consiste no exame desse manancial, para levantamento e analise do que já produziu sobre determinado assunto”. Já Marconi e Lakatos (2008) afirmaram que a exploração da bibliografia e de fontes complementares de certo assunto, se dá por busca de variadas bibliografias mais analisadas e especialmente destacadas pelo seu conteúdo, sendo no modo de literatura, arquivo acadêmico, publicação em revistas, consulta na Internet. Ao colocar o pesquisador em contato direto com essas fontes de estudo possibilita-se a análise e manipulação destas informações com outras bibliografias que já foram publicadas. Desta forma, o presente estudo foi elaborado através do levantamento de informações encontradas na literatura pertinente. Para tanto, foram realizadas pesquisas por meio de consultas de arquivos originais e de revisão em bases de dados acadêmicas virtuais. Além disso, foram realizadas consultas em revistas eletrônicas e na base de dados tradicional, utilizando as palavras-chave: Alimentos funcionais, Lactobacilos, Probióticos e Intestino. 14 3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1. Microbiota Intestinal Isolauri e Salminen (2006) definem a microbiota humana como um ecossistema complexo e de grande importância para o hospedeiro, pois permite a ocorrência de várias reações metabólicas além da defesa de infecções bacterianas. Estimulada por várias condições de saúde do hospedeiro, a composição deste ecossistema microbiano possui grande dinamismo. Laparra e Sanz (2010) afirmam que os integrantes da microbiota intestinal podem resultar em efeitos prejudiciais ou em benéficos. Marques et al. (2010) afirma que nos primeiros dias de vida, o neonato tem seu TGI colonizado por bactérias oriundas especialmente do leite materno. O recémnascido apresenta uma microbiota inicial com pouca variabilidade e baixa estabilidade. Durante os dois primeiros anos de vida, a microbiota do hospedeiro amplia para atingir à semelhança com o adulto. (LAPARRA, SANZ; 2010) Segundo O’hara e Shanahan (2007), no intestino de um indivíduo adulto habitam cerca de 15 espécies preponderantes de microrganismos e a alteração dos hábitos alimentares, do cotidiano e avanço da idade podem alterar a composição da microbiota. Quando agentes antimicrobianos são administrados, pode ocorrer o rompimento da microbiota habitual resultando na redução da colonização de resistência e na alteração da atividade metabólica dos microrganismos do cólon. Por isso, distúrbios do trato gastrointestinal e a eliminação total ou parcial de lactobacilos são consequências da terapia antimicrobiana. (HÄNNINEN & SEN, 2008). A ingestão de alimentos que incluem culturas de bactérias probióticas ou até mesmo os alimentos prebióticos, que estimulam o crescimento da microbiota benéfica do cólon, é muito importante, pois reduz consideravelmente a proliferação de bactérias maléficas e por consequência, revigora o mecanismo natural de defesa do hospedeiro (PUUPPONEN-PIMIÄ et al., 2002). 15 Hänninen e Sen (2008) valorizam o consumo dos alimentos pré e probióticos uma vez que diversos estudos comprovam os resultados positivos quando se relaciona a ação defensora dos lactobacilos contra os microrganismos patógenos no TGI. Além disso, alguns indícios apontam que a alteração da microbiota intestinal pode causar a geração de efeitos favoráveis e preventivos de enfermidades (REID, 2008). 3.1.1. Desenvolvimento e Atuação da Microbiota Intestinal A conservação e melhora no bem-estar, assim como o não comparecimento de doenças ocorrem devido à presença e atuação de uma microflora intestinal saudável. Os mecanismos de defesa contra os microrganismos patógenos são acentuados e favorecem “a imunidade intestinal pela aderência à mucosa e estimulam as respostas imunes locais”. Este fenômeno ocorre por causa da barreira formada pela microbiota benfeitora. (SANTOS, 2010) Quando seres humanos ainda habitam o útero materno, eles são livres me microrganismos, ou seja, seu TGI ainda é estéril. No momento do nascimento, as superfícies e mucosas são colonizadas rapidamente por populações microbianas naturais e características. (BORBA, 2003; STAINKI, 2012). No parto, o neonato entra em contato com os microrganismos no momento em que passa pelo trato vaginal da genitora que, por sua vez, teve um crescimento exponencial de lactobacilos no momento anterior à concepção. Assim sendo, o recém-nascido apresenta predominância destes microrganismos em seu cólon. (STAINKI, 2012). Já Adlerberth (1998) afirma que durante o parto normal transmitese a microbiota materna para o neonato, fato que não se concretiza em uma cesariana e, isto pode limitar a instauração de bactérias anaeróbias. Diferentes espécies de microrganismos entram em contato com o organismo do bebê devido à respiração e o início da alimentação. Este processo de povoamento microbiano dura de seis meses a um ano, à medida que ocorre a instalação de uma microflora análoga a de um indivíduo adulto. (BORBA, 2003; STAINKI, 2012). 16 Carvalho (2002) detalha que o colostro e o leite humano são os responsáveis pela carga microbiana secundária viável que os neonatos recebem e são originários dos mamilos, ductos lactíferos, pele e mãos. Além disso, o aumento de bactérias aeróbias ou aeróbias facultativas tais como Enterobactérias, Enterococos e Stafilococos ocorrem devido à alta taxa de oxigênio disponível no cólon do recémnascido. A utilização de oxigênio por estas espécies transforma o meio, que fica reduzido e apropriado para o desenvolvimento da população de bactérias anaeróbias obrigatórias e, consequente proliferação de bactérias exemplificadas por Bacteróides, Bifidobactérias e Clostridium. (ADLERBERTH, 1998) A digestão de alimentos e a fermentação de carboidratos mal digeridos são auxiliadas pela microbiota benéfica, pois assistem na conversão de fibras da dieta alimentar e produzem proteínas e ácidos graxos de cadeia curta, tais como butirato, propionato, acetato e lactato. Os colonócitos consomem preferencialmente butirato, resultado da fermentação das fibras. (COPPINI, 2001) As substâncias butirato, propionato, acetato e lactato apresentam papel essencial no funcionamento adequado do cólon, sendo que desempenham uma importante função de fonte de energia para a população de enterócitos e colonócitos. Além disso, incita o crescimento celular epitelial, “fluxo sanguíneo visceral e intensificam a absorção de sódio e água, ajudando a reduzir a carga osmótica de carboidrato acumulado”. (MATHAI, 2002). Beyer (2002) citado por Santos (2010) enumera algumas funções do metabolismo e também nutricionais, que incluem “hidrólise de ésteres de colesterol, de andrógenos, estrógenos e de sais biliares e a utilização dos carboidratos, proteínas e lipídeos”. Diversos outros nutrientes são formados por síntese bacteriana e disponibilizados para a assimilação, cooperam para o suplemento de vitaminas tais como “K, B12, tiamina e riboflavina”. (KLEIN et al., 2003) 17 3.1.2. Mecanismos de Ação da Microbiota Intestinal A razão da utilização de probióticos na dieta alimentar é a alteração da microbiota intestinal, fator essencial para a melhora da saúde do hospedeiro. É conservada a probiose do animal, ou seja, a capacidade de resistência dos microrganismos benéficos contra o desenvolvimento de espécies patogênicas. (GHADBAN, 2002). Responsáveis por efeitos favoráveis ao organismo, os probióticos podem ser utilizados de diversas formas. Bactérias como Bifidobactérias e Lactobacilos tem capacidade de elevar o valor nutricional e terapêutico dos alimentos devido ao crescimento dos níveis de “vitaminas de vitaminas do complexo B e aminoácidos, além da absorção acrescida de cálcio, ferro e magnésio.” (COUDRAY et al., 2005; SNELLING, 2005 apud ROCHA, 2011) A proteção da microflora intestinal contra populações patogênicas ocorre pelos microrganismos que constituem os probióticos suplementares da dieta, demonstrado pela figura 1. Assim sendo, os probióticos possuem mecanismos de ação baseados nas mesmas razões que a microbiota intestinal faz uso no crescimento de suas funções Os modos de ação principais são e “exclusão competitiva, estímulo ao sistema imune, efeito nutricional, produção de substâncias antibacterianas e enzimas”. (UTIYAMA, 2004; SHIM, 2005) Figura 1 Proteção da microflora intestinal contra patógenos Fonte: (Adaptado) http://www.maisqualidadedevida.com.br/disbiose-intestinal-3/ 18 a) Competição por Sítios de Ligação ou Exclusão Competitiva Ao adicionar culturas de microrganismos probióticos em nossa dieta alimentar ocorre o predomínio destes no organismo e consequente adesão na mucosa intestinal, o que impossibilita a adesão de patogênicos. Cepas probióticas possuem maiores habilidades de captura e metabolização de nutrientes do lúmen ao contrário dos microrganismos patogênicos que não estão aderidos ao epitélio intestinal. (ROTH, 2000) De acordo com Utiyama (2004), a ingestão de bactérias protetoras como Lactobacillus Enterococcus e Bifidobacterium bloqueia a possível colonização de patógenos, com manutenção do equilíbrio da microflora do cólon. Exclusão competitiva é a designação deste modo de ação e pode ser aplicado para bactérias láticas, visto que competem por nutrientes e pontos de ligação na mucosa intestinal, gerando compostos capazes de coibir o crescimento de microrganismos patogênicos. Lavermicocca et al. (2005) afirma que a presença de microrganismos probióticos no interior do cólon exclui os invasores patogênicos por meio da competição por sítios de ligação no epitélio intestinal. As bactérias patogênicas não conseguem efetuar a ligação com os receptores e assim, são expulsas da disputa. Macari e Furlan (2005) destacam que os probióticos possuem capacidade de construção de barreira física contra as bactérias patógenas, disputando os nutrientes e receptores celulares do meio. A competição entre bactérias do gênero Bifidobacterium com Escherichia coli enteropatogênicas é um exemplo comum de exclusão competitiva. Ao evitar o preenchimento dos sítios de aderência nas vilosidades intestinais por patógenos, os microrganismos benéficos protegem a mucosa e a superfície de absorção de toxinas produzidas por bactérias patogênicas. (NICOLI; VIEIRA, 2000). 19 b) Estímulo ao Sistema Imune O crescimento dos níveis de anticorpos, ativação de macrófagos, multiplicação de células T e formação de interferon são modos de ação de microrganismos probióticos por meio de estímulos ao sistema imune. Bactérias do gênero Lactobacillus e Bifidobacterium podem ser relacionas a este tipo de mecanismo. (ISOLAURI et al., 2001; MATSUMOTO et al., 2005) Responsável por variadas reações imunológicas devido a presença de anticorpos, o intestino do ser humano é o maior órgão linfóide do corpo. Diversas células imunocompetentes e a imunoglobulina A secretora têm papéis essenciais na manifestação do antígeno e construção da resposta imune a proteínas da dieta alimentar. Enfermos que possuem “aumento da secreção de interferon- com dermatite atópica e com alergia ao leite de vaca”, apresentam os efeitos imunológicos dos probióticos. Devido a isso, ocorre um desenvolvimento de resposta de tolerância positiva quando probióticos estão presentes no TGI. (POHJAVUORI et al., 2011) A capacidade de modulação de respostas imunes sistêmicas das bactérias probióticas cresce com o número e atividade de células fagocíticas do organismo hospedeiro. (FERREIRA; ASTOLFI-FERRERA, 2006) Por outro lado, a capacidade dos probióticos de manterem uma interação com as placas de Peyer e o epitélio intestinal está relacionada com o efeito no estímulo ao sistema imune, incitando o estímulo das “células B produtoras de Imunoglobulina A e a migração de células T do intestino.” (PERDIGÓN; HOLGADO, 2000) Cross (2002) afirma que a atividade fagocítica inespecífica dos macrófagos alveolares é beneficiada por microrganismos probióticos e implicam em uma ação do sistema por secreção dos mediadores, estimulando assim, o sistema imune. Já Menten (2001) mencionou que as bactérias do gênero Lactobacillus e as Bifidobacterium estão associadas à estimulação da resposta imune, através do crescimento produtivo de anticorpos e interferon, multiplicação das células T e estímulo dos macrófagos. 20 A modulação da resposta imune intestinal pode ser realizada pelos lactobacilos por meio das células epiteliais que secretam citocinas. (DELCENSERIE et al., 2008). Por isso, a ingestão de bactérias lácticas leva ao aumento da resistência a infecções por patogênicos devido ao acréscimo da ativação de linfócitos e produção de anticorpos. (CARLOS et al., 2003) c) Disputa por nutrientes A competição entre bactérias da microbiota intestinal por nutrientes específicos ocorre no cólon. De acordo com Silva e Alves Filho (2000) o que limita a manutenção das bactérias patogênicas é a escassez de nutrientes disponíveis, reduzindo significativamente a população microbiana. Assim sendo, o metabolismo da microbiota é alterado por consequência da elevação ou diminuição da atividade enzimática. (ROCHA, 2011) Roth (2000) enuncia que os microrganismos probióticos possuem influência na permeabilidade das células epiteliais intestinais, resultando assim, uma maior eficácia na digestão e assimilação de nutrientes. Como complemento, os probióticos realizam a proteção da mucosa intestinal e impossibilitam que microrganismos invasores façam uso de nutrientes tais como aminoácidos, minerais e carboidratos presentes para a fermentação, além da formação de toxinas. (Guillot, 2000) Junqueira et al. (2009) enunciaram que o consumo de pré e probióticos coopera na melhoria da digestão e absorção de compostos nutritivos, agindo favoravelmente no TGI. d) Produção de compostos antibacterianos Petri (2000) afirma que bactérias probióticas são capazes de produzir e liberar substâncias como bacteriocinas, ácidos orgânicos e peróxido de hidrogênio. Estes compostos apresentam ação bacteriana contra patógenos. 21 No grupo dos ácidos orgânicos, definidos como ácidos graxos voláteis de cadeia curta, pode- se ressaltar os ácidos propriônico, acético, butírico e lático como produtos oriundos de bactérias láticas. Os compostos como acetaldeído, peróxido de hidrogênio, diacetil, dióxido de carbono e aminas possuem ação bacteriostática e são os que beneficiam os probióticos na disputa pelos sítios de ligação na mucosa intestinal, atuando assim, como inibidores do crescimento de microrganismos invasores. (FLEMMING, 2005b; VÉLEZ et al., 2007) Compostos proteicos que possuem atuação de inibição ou destruição de uma cepa são denominados de bacteriocinas, pois apresentam ação antibiótica local. (UTYIAMA, 2004; SILVA, 2006) As bactérias do gênero Lactobacillus e Bificobacterium manifestam a capacidade de produção de bacteriocinas, exemplificadas por nicina,diplococcina, lactocidina e reuterina. (FERREIRA; ASTOLFI-FERREIRA, 2006). Fooks e Gibson (2002) reconhecem a reuterina como um composto que apresenta baixo peso molecular e é sintetizada pela cepa de L. reuteri. Além do impedimento físico e biológico, as bactérias probióticas podem originar um efeito químico, devido a produção de ácidos orgânicos e consequente redução de pH do cólon, o que interdita a atuação de patógenos. (PETRI, 2000; LAUGHTON et al., 2006) 3.1.3. Diferenciação da Microbiota do TGI De acordo com Teshima (2003), pode-se distinguir a microbiota do TGI, pois em cada região distinta tem-se a ocorrência de microrganismos específicos. Estes possuem capacidade de produção de uma diversidade de substâncias, causando efeitos distintos na fisiologia e influenciando na nutrição, eficiência de drogas, envelhecimento além da resistência contra enfermidades. Quando colonizado, o TGI engloba uma população de bactérias estáveis. A multiplicação de bactérias nativas do organismo não é aleatória e por isso, algumas 22 cepas de bactérias somente são encontradas em regiões características e concentrações específicas. (BORBA, 2003) A presença de variados grupos que se estabelecem, resultam na regulagem do meio conforme as condições apresentadas. Estas devem ser favoráveis quando relacionadas com as interações microbianas e compostos relativos ao metabolismo, “aos fatores fisiológicos do hospedeiro, como estado clínico; idade; o transito e o pH intestinal; suscetibilidade a infecções; estado imunológico e nutrientes provenientes da dieta alimentar.” (CASTILHO, 2006 apud SANTOS, 2010) Uma diversidade de microrganismos está presente na cavidade bucal, sendo que as principais populações são de bactérias anaeróbicas e estão concentradas de 106 - 109 UFC/mL. As espécies de microrganismos característicos da cavidade oral são Bifidobactéria, Propionibactéria, Bacterióides, Fusobactéria, Leptotrichia, Peptostreptococci, Estreptocci, Veillonella e Treponema. (SANTOS, 2010) A atuação bacteriana no estômago é muito baixa, pois o ácido clorídrico apresenta capacidade germicida. Quando ocorre um declínio da liberação de ácido gástrico, a resistência do estômago contra a ação bacteriana também cai, resultando em uma possível inflamação da mucosa gástrica e aumento das chances de superpovoamento do intestino delgado, que geralmente é estéril. (MCFARLAND, 2000). O intestino delgado é povoado por microbiota com dimensão em 103 - 104 UFC/mL do íleo proximal, onde as bactérias gram-positivas aeróbicas são a maioria e, no íleo distal a predominância é de bactérias gram-negativas, cuja concentração corresponde a 1011 - 1012 UFC/mL. Não ocorre um desenvolvimento bacteriano maior devido ao pequeno tamanho da passagem do intestino delgado. O Trato gastrointestinal humano engloba cerca de 1014 bactérias, sendo que mais de 500 cepas são distintas, o que é explicitado na figura 3. O tempo de deslocamento é mais demorado no cólon, estabelecendo assim, uma população microbiana diversificada e influente. Já o intestino grosso pode ser dividido em três níveis diferentes: população microbiana dominante, subdominante e residual. (MCFARLAND, 2000). 23 Composto por bactérias anaeróbias estritas tais como Bacteróides, Eubacterium, Fusobacterium, Peptostreptococcus e Bifidobacterium, a microbiota predominante possui uma população de (109 - 1011 UFC/mL de conteúdo). Já na microbiota subdominante há o predomínio de bactérias anaeróbias facultativas, englobando (107 - 108 UFC/mL de conteúdo), sendo a Escherichia coli e Enterococcus faecalis as mais comuns e, periodicamente, algumas cepas de Lactobacilos. (NICOLI et al., 2003). Por fim, a microbiota residual é constituída por (< 107 UFC/mL de conteúdo), e possui alta diversidade Enterobacteriaceae, de microrganismos Pseudomonas, Veillonella, e procarióticos tais também eucarióticos, exemplificados por leveduras e protozoários (NICOLI et al., 2003). Figura 2 Distribuição microbiana ao longo do TGI Fonte: Adaptado de AFMCP, 2007 os como 24 Figura 3 Distinção dos microrganismos da Microbiota Intestinal Fonte: Adaptado de http://www.customprobiotics.com/about_probiotics_continued.htm 3.1.4. A modulação da microbiota intestinal e alteração do metabolismo microbiano De acordo com Puupponen-Pimiä et al. (2002), a característica essencial para que desenvolvam probióticos de alta eficácia é a ampliação da resistência contra patógenos. A utilização de produtos probióticos elimina populações patogênicas e outros microrganismos com potencialidade maléfica, vigorando assim, os mecanismos de defesa naturais do organismo do hospedeiro. Os microrganismos probióticos modulam a microbiota intestinal por meio do mecanismo chamado de “exclusão competitiva”, impossibilitando a colonização da mucosa intestinal por microrganismos com potencial patogênico seja por disputa por sítio de adesão e por nutrientes, ou seja pela produção de compostos antimicrobianos. (KAUR et al., 2002; GUARNER; MALAGELADA, 2003). A recomposição da microbiota intestinal é realizada através da adesão e colonização do epitélio intestinal com o amparo dos probióticos. A proliferação de microrganismos evita a adesão dos mesmos na mucosa e assim, pode ocorrer produção de substâncias tóxicas ou até mesmo infestação das células por bactérias patogênicas. A competição pelos nutrientes acessíveis no meio acontece entre os 25 probióticos e as bactérias invasoras. As atividades da microbiota intestinal se iniciam com a quantia de nutrientes disponibilizados pelo organismo hospedeiro. Este mecanismo simbiótico evita que os nutrientes sejam produzidos excessivamente, favorecendo assim, o crescimento de microrganismos patogênicos que disputem pelo substrato. Deve-se ressaltar também que microrganismos benéficos ao organismo têm a capacidade de bloquear a proliferação de competidores por meio da produção de compostos antimicrobianos, tais como as bacteriocinas. (KOPPHOOLIHAN, 2001; CALDER; KEW, 2002) O desequilíbrio da microbiota intestinal pode causar enfermidades como diarréia combinada a infecções ou a utilização de antibióticos, “a alergia alimentar, o eczema atópico, doenças inflamatórias intestinais e artrite”. Por isso, o reparo nas propriedades da microbiota natural se dá pela ingestão de alimentos probióticos. (ISOLAURI et al., 2004 apud SAAD, 2006) Evidências mostram que a microbiota intestinal de indivíduos que sofrem da síndrome do intestino irritável é transformada, resultando em uma fermentação atípica no cólon. Os benefícios podem ser obtidos através da ingestão de probióticos, equilibrando a microbiota que sofreu distúrbios intestinais. (VERDU; COLLINS, 2004) Morotomi (1997) afirma que as bactérias da microbiota intestinal estão envolvidas na maioria das atividades metabólicas, pois sofreram alterações na dieta alimentar. Estudos evidenciam que as bactérias probióticas podem ajudar na degradação de compostos carcinogênicos, sintetizados por atividades do metabolismo. O metabolismo microbiano é transformado pelos probióticos através do acréscimo ou diminuição da atividade enzimática. As bactérias láticas da microbiota intestinal têm como função principal de produzir a enzima β-D-galactosidase, catalisando a reação de quebra da lactose no intestino; fator essencial para indivíduos com intolerância à lactose. Alguns indivíduos não possuem a capacidade de metabolizar a lactose, e resultando assim, em desconforto abdominal em grau variável (LOURENS-HATTINGH, VILJOEN, 2002). Kopp-Hoolihan (2001) evidencia que a ingestão de porções adequadas de certas espécies de bactérias láticas alivia os sintomas de alergia à lactose. Com isso, pode- 26 se incluir estes produtos lácteos e os nutrientes que os compõem, de volta na dieta dos intolerantes à lactose. Descreveu-se outros efeitos tais como “a redução ou supressão da atividade de enzimas fecais, como a β-glicuronidase, a nitrorredutase e a azorredutase.” (SAAD, 2006) 3.2. Prebióticos Gibson e Roberfroid (1995) descreveram prebióticos como “ingredientes nutricionais não digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro e estimulam seletivamente o crescimento e atividade de uma ou mais bactérias benéficas do cólon, melhorando a saúde do seu hospedeiro”. Por não serem assimilados pelo sistema digestivo, os prebióticos chegam prontos para serem aproveitados pela população benéfica de microrganismos da microbiota intestinal. (KAMIMURA, 2006). De acordo com Gibson (1998), dentro da classificação de prebióticos estão fibras, álcoois derivados de açúcares, oligossacarídeos e alguns açúcares absorvíveis ou não. Segundo Santos (2007), certos polissacarídeos, peptídeos, proteínas, alguns lipídeos e diversas fibras estão inclusas no conceito de prebióticos caso não sofram hidrólise ao longo do trato gastrointestinal e por fim, sejam utilizadas como substrato para os microrganismos; causando efeitos positivos, locais e sistêmicos. Gibson e Fuller (2000) afirmam que os oligossacarídeos tais como galactoligossacarídeo, oligofrutose, polidextrose e inulina podem ser classificadas como fibras prebióticas ou carboidratos complexos. As fibras alimentares inulina e oligofrutose podem ser encontradas nos vegetais e; a polidextrose, polímero de glicose com diversas ramificações, tem a eficiência e o benefício fisiológico da fibra. Os fundamentais efeitos das fibras alimentares são diminuição da absorção da glicose e acréscimo da velocidade do trânsito intestinal. 27 Flemming (2005a) salienta que os exemplares de prebióticos tais como frutoligossacarídeos (FOS) e mananoligossacarídeos (MOS), são os mais comumente usados. FOS são polímeros de açúcar ricos em frutose. Com semelhanças na estrutura e distintas no tamanho, destaca-se a inulina, que é uma macromolécula encontrada nos vegetais. O crescimento de populações microbianas benéficas no intestino ocorre devido à fermentação destes componentes, especialmente por bactérias do gênero Bifidobacterium e Lactobacillus. Estas bactérias produzem ácido lático, resultando na acidificação do meio e por consequência, a redução da população patogênica. (FLEMMING, 2005a). Pertencentes aos frutanos, classe dos carboidratos, a inulina e o FOS são avaliados como alimentos funcionais, pois influenciam os processos fisiológicos e bioquímicos no organismo implicando na melhoria da saúde do hospedeiro. (KAUR; GUPTA, 2002). Figura 4 Estrutura molecular da Inulina Fonte: http://www.iqb.es/cbasicas/farma/farma06/plantas/pa03sm.htm#fotos Contendo manose na sua composição, têm-se os MOS. Isolados através do processamento da parede celular da levedura Saccharomyces, não é fermentado pela microbiota intestinal. Sua atuação é influenciada pela presença da manose, que oferta sítios de ligação para bactérias patogênicas. Assim sendo, a colonização no trato intestinal é dificultada, pois estes microrganismos ligam-se ao sítio ativo dos MOS e são transportados pelos movimentos peristálticos. (FLEMMING, 2005a). 28 O metabolismo da microflora intestinal sobre o prebiótico resulta em produtos da fermentação tais como gás carbônico, hidrogênio e outros compostos diversos, que estão ressaltados na figura 5. Alguns compostos resultantes são absorvidos pela mucosa intestinal e pode ser reutilizado depois. Já outras substâncias são excretadas, como os gases hidrogênio e metano. (RENTERÍA, 2011). Figura 5 Produtos da fermentação de prebióticos Fonte: Adaptado de RENTERÍA, 2011 Névoa et al. (2013) diferenciou os prebióticos naturais dos obtidos através de processamento. Derivados de plantas, os prebióticos naturais são oligossacarídeos encontrados em “trigo, centeio, cevada, frutas e vegetais, principalmente na cebola, chicória, alho, alcachofras, batata yacon, aspargos, beterraba, banana e tomate”. Já os prebióticos sintéticos são resultados da polimerização direta de certos dissacarídeos, não só através da lise da parede celular de leveduras, como também da fermentação de polissacarídeos. (NÉVOA et al., 2013) 29 A principal função dos prebióticos é o estímulo do crescimento de grupos de bactérias benéficas do trato intestinal além da ativação de seu metabolismo. (Schrezenmeir; DeVrese, 2001; MANDERSON et al., 2005; BOUHNIK et al., 2006). Para complementar a sua ação de seletividade de bactérias benéficas, o prebiótico inibe o crescimento de bactérias patogênicas e por isso, confirmam-se os benefícios adicionais para a saúde. A atuação destes componentes é comumente no intestino grosso apesar de que também podem agir sobre a microbiota do intestino delgado. (Gibson, Roberfroid, 1995; Roberfroid, 2001; Gilliland, 2001; MattilaSandholm et al., 2002 apud SAAD, 2006) Figura 6 Reações dos probióticos e prebióticos e aos seus efeitos sobre a saúde Fonte: (FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2011) 3.3. Probióticos No começo do século XX, o bacteriologista Eli Metchnikoff (Instituto Pasteur, França) foi o pioneiro em conceituar probióticos e explicar cientificamente, os efeitos favoráveis das bactérias lácticas. (SHAH, 2007). 30 A associação entre saúde e longevidade da população da Bulgária é resultado da ingestão de produtos com propriedades probióticas. Assim, construiu a “Teoria da Longevidade” que traz como linha base a ação de inibição do crescimento das bactérias patogênicas e produtoras de toxinas no intestino, devido à presença de microrganismos probióticos e assim, melhorando a qualidade de vida e elevando o tempo de vida da população. (LOURENS-HATTINGH; VILJEON, 2001). 3.3.1. Definição Segundo Santos (2010) citando Lilly & Stillwel (1965), antigamente era empregado “o termo probiótico para denominar substâncias secretadas por um protozoário que estimula o crescimento de outros” e, em contrapartida, Parker (1974) utilizou o termo para denominar suplementos destinados à alimentação dos animais, que incluem microrganismos e substâncias que influenciam a microbiota intestinal. Fuller (1989) descreveu os probióticos como suplementos alimentares à base de microrganismos vivos, que interferiam beneficamente na saúde do hospedeiro, promovendo o balanço de sua microbiota intestinal enquanto Havenaar & Huis In’t Veld (1992) consideraram que a produção de efeitos benéficos no hospedeiro é resultado de culturas únicas ou mistas de microrganismos que, ingeridos por animais ou humanos, podem incrementar as propriedades da microbiota nativa. De acordo com a Resolução RDC Nº 2 da ANVISA-MS, de 7 de Janeiro de 2002, probióticos são “microrganismos vivos capazes de melhorar o equilíbrio microbiano intestinal produzindo efeitos benéficos à saúde do indivíduo” (ANVISA, 2002). Existem muitas definições para os probióticos e seguramente, serão todas parecidas. Por isso, Collins & Gibson (1999) formularam uma proposta adicional que o probiótico eficaz deve: ser livre de patogenicidade e toxicidade; conter quantidade adequada de células viáveis; resistir ao metabolismo intestinal; continuar viável durante sua estocagem; estar isolado ou ser detectado no hospedeiro e empregar efeito benéfico ao hospedeiro. 31 Antigamente, era recomendado pela ANVISA (2001) que a concentração mínima necessária era de 106 UFC/g até o prazo de validade, para que um fosse considerado um alimento funcional probiótico. Chan e Zhang (2005) aconselham que os produtos probióticos incluam no mínimo 107 UFC/g (mL). Atualmente, a recomendação é baseada na dose diária de microrganismos viáveis que devem estar incorporados na alimentação para que resultem em efeitos favoráveis, determinado no mínimo de 108 a 109 UFC/dia. Valores inferiores a estes são aceitos somente se o fabricante atestar sua eficiência. (ANVISA, 2008). 3.3.2. Espécies de microrganismos com propriedades probióticas Segundo Mortazavian (2007), geralmente os microrganismos probióticos são bactérias gram-positivas e incluídas basicamente em dois gêneros: Lactobacillus e Bifidobacterium. Figura 7 Parede celular de bactérias Gram positivas Fonte: (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) 32 Figura 8 Bactérias do gênero Bifidobacterium Fonte: http://www.mondotechblog.com Figura 9 Bactérias do gênero Lactobacillus Fonte: http://www.microbiologybytes.com As cepas de bactérias produtoras de ácido lático são as mais empregadas como probióticos. As do gênero Lactobacillus são bactérias anaeróbias facultativas e prevalecem no intestino delgado. Já as do gênero Bifidobacterium são aeróbias facultativas ou anaeróbicas, predominantes no cólon. (LEE, 1999). Tabela 1 Estirpes microbianas com propriedades probióticas Fonte: http://www.milkpoint.com.br Pertencentes ao gênero Bifidobacterium, podemos ressaltar as bactérias B. bifidum, B. breve, B. infantis, B. lactis, B. animalis, B. longum e B. thermophilum. As destaques inclusas no gênero Lactobacillus são as bactérias láticas Lb. acidophilus, Lb. helveticus, Lb. casei - subsp. paracasei e subsp. tolerans, Lb. 33 paracasei, Lb. fermentum, Lb. reuteri, Lb. johnsonii, Lb. plantarum, Lb. rhamnosus e Lb. salivarius (COLLINS; THORNTON; SULLIVAN, 1998 apud SANTOS, 2010) Amplamente distribuídas na natureza, as espécies de Lactobacillus são estimadas pela importância na indústria alimentícia, e também como agentes probióticos, pois atuam de forma favorável em seus hospedeiros. (MAGALHÃES et al., 2008). Foram descritas até hoje, aproximadamente 56 cepas de lactobacilos. Difundidas em diversos nichos ecológicos, constituem uma fração significativa da microbiota de humanos e animais, sendo encontradas no TGI e geniturinário. Fatores ambientais tais como pH, disponibilidade de oxigênio, quantidade de substrato especifico, presença de secreções e interações bacterianas afetam diretamente a sua disseminação. (SOZZI; SMILEY, 1980; GOMES, 1999). Segundo Gonçalves (2009) a espécie é mencionada desde 1921 por causa da sua influência na regulação de distúrbios do sistema digestório por intermédio da ingestão de leites fermentados contendo grande população destas bactérias. Tem capacidade de redução dos “níveis de colesterol no intestino por sua co-precipitação com sais biliares e controle preventivo de infecções intestinais”. Pode ser melhorada a durabilidade de L. acidofilus pela seletividade de estirpes resistentes ao pH do estômago e a bile, uso de reservatórios impermeáveis ao oxigênio e incorporação de peptídeos e aminoácidos. A espécie possui baixa tolerância à salinidade e seu crescimento é beneficiado em meios sólidos. Dispõe de alta capacidade de adesão ao epitélio intestinal, e por isso, apresenta melhoria na digestão de produtos lácteos. (GONÇALVES, 2009) Integrantes do gênero Streptococos, as bactérias S. thermophilus são anaeróbicas facultativas e podem alterar beneficamente à saúde, sendo amplamente usadas na fabricação de iogurtes bem como o L.bulgaricus. De acordo com Henker et al. (2007), estudos foram iniciados por uma equipe de pesquisadores para encontrar a viabilidade de utilização de uma cepa de E. coli com propriedades probióticas, mesmo com a reputação de ser causadora de diversas infecções no organismo. 34 Segundo Quamar et al. (2001), o fungo Saccharomyces boulardii também é constantemente empregado como probiótico. Salminen et al. (1998) afirma que esta levedura não patogênica pode ser encontrada em uma fruta chinesa. Geralmente reconhecidos como seguros, os integrantes dos gêneros Lactobacillus e Lactococcus são conhecidos como “generallyrecognised-as-safe (GRAS)”, enquanto que os gêneros Streptococcus e Enterococcus podem conter alguns patógenos oportunistas. (SALMINEN et al., 1998). Vastamente estudadas, as bactérias láticas estão entre os microrganismos mais caracterizados quando consideramos aspectos genéticos, fisiológicos além de possíveis utilidades. Ao desvendar seus genomas, teremos uma melhor compreensão da fisiologia das bactérias do ácido láctico, especialmente por intermédio da “aplicação de ferramentas como genômica, proteômica, análise global de transcrição e genômica comparativa” (RENAULT, 2002 apud FLORESTA, 2008). Makarova et al. (2006) afirmou que diversas bactérias lácticas tiveram seus genomas sequenciados tais como “Lactococcus lactis, Lactobacillus johnsonii, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus sakei, Lactobacillus bulgaricus, Lactobacillus salivarius e Streptococcus thermophilus”. Dentro de um dos maiores e diversificados gêneros bacterianos, o Lactobacilos apresenta uma alta variedade no conteúdo Guanina e Citosina entre as espécies. Compreendem 135 espécies e 27 subespécies (BERNARDEAU et al., 2007). 3.3.3. Metabolismo de Carboidratos por Bactérias Lácticas Segundo Klein et al. (1998), pode-se decompor os Lactobacillus em três categorias, de acordo com o modo de degradação do carboidrato. Semelhantes pelo fato de degradarem apenas hexoses, no entanto, diferentes pelo modo como o esqueleto carbono de tais compostos são metabolizados. (KANDLER, 1983) 35 Kandler (1983) afirma que no primeiro grupo, as bactérias láticas convertem açúcares hexoses por meio de glicólise produzindo principalmente ácido láctico pela via Embdem-Meyerhof e são denominadas de homofermentativas obrigatórias. Nesse grupo, um mol de hexose é transformada em dois moles de ácido lático e dois moles de ATP, exemplificado na figura 6. Este metabolismo é caracterizado pela quebra de frutose 1,6-bifosfato em duas trioses fosfato (3C), as quais são posteriormente convertidas em lactato. Já no grupo formado pelos lactobacilos heterofermentativos obrigatórios, as bactérias utilizam a via 6-fosfogluconato/fosfocetolase para a fermentação das hexoses. Em condições anaeróbias, as hexoses são convertidas em quantidades equimolares de gás carbônico, etanol e ATP; além de ácido láctico. Estes microrganismos efetuam a oxidação de glicose-6-fosfato a gluconato-6-fosfato, o sofrendo descarboxilação e posterior quebra da pentose resultante (xilulose-5fosfato) em duas moléculas de três (gliceraldeído-3-fosfato) e dois (acetilfosfato) átomos de carbono. O lactato origina-se do gliceraldeído-3-fosfato enquanto que o acetil-fosfato pode seguir dois caminhos distintos. Pode-se produzir um mol de ATP adicional quando o acetil-fosfato é transformado em acetato ao invés de etanol. Por fim, o último grupo abrange os heterofermentativos facultativos que fermentam hexoses via glicólise de maneira análoga ao grupo homofermentativo, e em pentoses via 6-fosfogluconato/fosfocetolase quando condicionadas a limitação de glicose. (Kandler, 1983; KLEIN et al.,1998) Gavini (1998) afirma que a classificação baseia-se nas características do fenótipo e, em diversos casos, ela é autenticada por análises do genótipo como comparação DNA ou rDNA. 36 Figura 10 Vias do metabolismo homofermentativo e heterofermentativo de carboidratos Fonte: COSTA, 2006 3.3.4. Ácido Láctico Espécies distintas de bactérias lácticas produzem variadas quantias de ácidos Dlático e L-lático, enquanto ocorre o processo de fermentação. Bactérias da espécie “S. thermophilus produzem L (+) lactato; L. bulgaricus e L. lactis produzem ácido lático D (-); e L.helveticus, uma mistura de ambas as formas dos isômeros do ácido lático”. (EARLY, 1998; apud COSTA, 2006) Garvie (1980) e Scheifer (1986) mencionam que existem espécies de bactérias láticas que produzem frações iguais de ácido D e L-lático enquanto em outras se nota a preponderante produção de um ou outro isômero, este que pode estar em menores níveis. A divergência ocorre por causa da atividade da enzima desidrogenase lática (nLDH), que atua conjuntamente com o NAD+. Com quantias equimolares de enzimas D-nLDH e L-nLDH, se apresentam frações também equimolares dos ácidos D e L-lático. 37 Figura 11 Quiralidade molecular do Ácido Lático Fonte: http://www.reocities.com/Vienna/choir/9201/isomeria_optica.htm Determinadas espécies de bactérias tem a capacidade de produzir a enzima racemase, que é responsável pela conversão de L-lático em D-lático. A produção desta enzima é provocada pelo ácido L-lático, absorvidos do meio de cultivo. (GARVIE, 1980). Kandler (1983) afirma que as bactérias láticas podem gerar tanto o isômero L(+) quanto o D(-) lactato, ou até mesmo uma mistura deles. Em contrapartida, animais e plantas superiores produzem somente o L(+)- lactato. Devido a este fato, a Organização Mundial da Saúde considera o D(-) lactato como uma substância não fisiológica na alimentação humana e por isso, sugere que o consumo diário deste isômero seja no máximo de 100mg/Kg de peso corporal para que a produção do isômero L (+) seja favorecida. (KANDLER, 1983). Como já explicitado, microrganismos para a fermentação lática podem gerar o isômero L(+) quanto o D(-) ou até mesmo uma mistura racêmica dos isômeros em frações alteráveis. Este fator decorre devido a presença de enzimas desidrogenases láticas que são estereoespecíficas, e agem produzindo os isômeros D e L, isoladamente. (MANOME et al.., 1998). A quantificação do isômero L(+), com o auxílio de “kits enzimáticos” é realizada para verificar o grau de contaminação bacteriana. (ALVES, 1994) 38 3.3.5. Mercado de Alimentos Probióticos Atualmente, a inserção de substâncias com efeitos benéficos à saúde é uma tendência alta e notória. Neste quesito os probióticos podem ser incluídos, pois já estão sendo utilizados em bebidas lácteas e/ou fermentadas, formulações de alimentos infantis, “produtos fermentados à base de soja, sucos de frutas, sorvetes e barras de cereais” (BEJDER, 2004 apud MACEDO, 2005). Segundo Stanton et al. (2001), a definição de alimentos funcionais é aquele que promove a nutrição essencial além de apresentar melhora na saúde e redução dos riscos de doenças quando ingeridos em proporções adequadas. De acordo com Ishibashi (2002) o termo teve surgimento no Japão no final da década de 80. Em consequência do número de ocorrência de doenças crônicodegenerativas em pessoas da terceira idade da sociedade japonesa, o governo japonês recorreu às indústrias alimentícias para que elaborassem uma linha de produtos alimentícios, que por sua vez, foram regulamentados em julho de 1991. Denominados de Foods for Specified Health Use – FOSHU, os alimentos funcionais foram estabelecidos como “produtos alimentícios ou componentes do alimento e suas participações cientificamente reconhecidas na manutenção da saúde, redução dos riscos de doenças crônicas e modificação das funções fisiológicas”. O mercado mundial de produtos com funcionalidade probiótica movimentou U$ 6,6 bilhões no ano de 1994 e teve o Japão com o líder de mercado, com valor superior a U$ 3,3 bilhões. Já no ano 2000, a comercialização de alimentos funcionais excedeu a marca de U$ 17 bilhões devido à significativa participação dos Estados Unidos da América, localidade que a “legislação para esse tipo de produto tornou-se mais favorável do que na Europa e Japão”. Nos últimos anos houve um crescimento significativo no mercado de alimentos probióticos no Reino Unido, país onde aproximadamente 85% das bebidas lácteas fermentadas possuem característica probiótica e funcional (BEJDER, 2004). 39 Ferreira (2003) afirma que a movimentação do mercado mundial de produtos probióticos extrapola o valor de U$ 20 bilhões. A indústria de alimentos probióticos no Japão oferece diversos produtos lácteos com tipos distintos de microrganismos viáveis. A disposição do mercado global apresenta-se mais de uma centena de diversos produtos que contém bactérias bífidas e lactobacilos em sua composição, comprovando a direção do emprego conjunto de culturas mistas ou com mais de uma espécie de bactéria láctica na elaboração do mesmo produto. De acordo com Tharmaraj e Shah (2001), as cepas de Lactobacillus acidophilus e Bifidobacterium ssp estão presentes na maioria de produtos probióticos fabricados no Brasil e Estados Unidos. Além disso, pode-se citar que há o aumento de produtos com outras estirpes de Lactobacillus, tais como L. casei, L. rhamnosus e também cepas do gênero Propionibacterium. Santos et al. (2003) afirmam que entre todos os produtos funcionais comercializados no mundo, 65% é representada pelos alimentos funcionais carreadores de bactérias probióticas. Stanton et al. (2001) analisou o público consumidor de alimentos funcionais e o maior parcela é constituída por indivíduos do sexo feminino, com grau de escolaridade elevado, idade entre 35 e 55 anos e com forte preocupação com a saúde e bem-estar. A conscientização da população em geral cresceu, com base nas informações e estudos sobre os alimentos probióticos e os resultados benéficos que os mesmos ocasionam na saúde. Kandler et al. (1986) afirmou que as bactérias lácticas inclusas no gênero Lactobacillus representam uma grande parcela da indústria alimentícia, apresentando alta importância. Isto se deve à utilização das mesmas tanto como culturas starter em processos fermentativos, quanto na produção de leites fermentados ou iogurtes na qualidade de probiótico. 40 3.4. Simbióticos Collins e Gibson (1999) empregaram o termo simbiótico para designar a combinação entre prebióticos e probióticos, utilizados conjuntamente como alternativa na manutenção da microbiota intestinal. O uso desta simbiose tem como objetivo a melhoria na sobrevivência de microrganismos probióticos devido à presença de substratos singulares, influenciando positivamente o hospedeiro. Roberfroid (2001) insinuou que a ingestão de produtos simbióticos tem como objetivo melhorar a subsistência das bactérias durante a passagem pela parte superior do TGI, produzindo assim, efeitos favoráveis ao intestino grosso. Contudo, a relação entre o probiótico e o prebiótico in vivo pode ser influenciada favoravelmente caso haja adequação do probiótico ao substrato prebiótico, previamente ao consumo. Hipoteticamente, se forem ingeridos no mesmo momento, haverá uma “vantagem competitiva para o probiótico”. Schrezenmeir e Vrese (2001) afirmaram que “O sinergismo pode ser obtido in vivo pela ingestão dos probióticos e também pelo estímulo das bifidobactérias endógenas”. Portanto, não só um produto com oligofrutose combinado com bifidobactérias, mas também outro que contenha oligofrutose e lactobacilos estão inclusos no conceito de alimentos simbióticos. Arranjos simbióticos podem ser exemplificados por combinações entre bifidobactérias com FOS ou GOS, e também por lactobacilos com lactitol. (COLLINS; GIBSON, 1999). 41 Figura 12 Efeitos benéficos resultantes de associação simbiótica Fonte: SAAD, 2006 Bielecka et al. (2002) relata estudos in vitro e in vivo com diversas cepas de Bifidobacterium e FOS, em associações simbióticas que comprovam a alta eficiência da oligofrutose na qualidade de bifidogênico usada como prebiótico, e que em combinações de bifidobactérias com a oligofrutose em produtos simbióticos mantêm a alta efetividade. 42 3.5. Benefícios da ingestão de alimentos probióticos Na formulação de produtos probióticos são utilizadas diversas bactérias ácido lácticas, sendo dos gêneros Lactobacillus, Bifidobacterium, Lactococcus, além de espécies de Bacillus, Enterococcus e Streptococcus. Também são utilizadas leveduras como Saccharomyces boulardii e Saccharomyces cerevisiae. (SAAD, 2006; AMORES et al., 2004) Diversos benefícios relativos à saúde são proporcionados ao indivíduo hospedeiro por estes microrganismos, destacando a manutenção do equilíbrio da microflora intestinal que por sua vez, é resultado da exclusão competitiva entre linhagens probióticas e enteropatogênicas. A redução de ocorrências de agentes patogênicos no TGI se deve à produção de substâncias antimicrobianas tais como bacteriocinas e peróxido de hidrogênio. A queda do pH intestinal acontece por causa da produção de ácidos lático e orgânico de cadeia curta pelas bactérias lácticas, acarretando na redução da população patogênica. (FONSECA, 2010; ANURADHA; RAJESHWARI, 2005) Dos benefícios relacionados aos produtos probióticos podemos ressaltar a melhoria na digestibilidade e na absorção de nutrientes, como a lactose. Os agentes probióticos cooperam na digestão da lactose intestinal resultando em ácido láctico e acréscimo da disponibilidade da lactase endógena, através da produção da β-Dgalactosidase. (MARTEAU et al 2001; DE VRESE et al, 2001) De acordo com Kopp-Hoolihan (2001), uma mobilidade intestinal regulada também é um efeito benéfico causado pelos probióticos. A regulação do trânsito intestinal é baseada no auxílio da digestão por meio da liberação de variadas enzimas no lúmen intestinal, executando efeitos de união e aumenta a biodisponibilidade de proteínas e gorduras. Com o crescimento de aminoácidos livres, ameniza-se a incapacidade de absorção de nutrientes. Segundo Rafter (2007), os microrganismos benéficos produzem vitaminas do complexo B, D e K, além de enzimas e ácidos orgânicos de cadeia curta tais como ácido lático, propiônico e butírico. Quando esses ácidos são absorvidos, colaboram com a energia do indivíduo e mantém o pH no nível adequado para que as enzimas 43 bacterianas ajam sobre os antígenos e o metabolismo de compostos carcinogênicos, no lúmen e intestino, respectivamente. Bactérias láticas podem proteger neoplasias através de diversos mecanismos, porém o principal neste caso é a imunomodulação. (KARKOW et al., 2007) Drakes et al. (2004) apud Coutinho (2012) observou que certas espécies de bactérias probióticas podem causar interferência nas “reações de hipersensibilidade retardada, produção de anticorpos, ativação dos macrófagos e alteração na produção de algumas citocinas como interferon gama, interleucina 12 e interleucina 10”. Além disso, acarretam em uma grande melhora da resposta do sistema imunológico a microrganismos com potencial patogênico e os processos de inflamação que provocam. De acordo com Isolauri (2001) foram realizados testes com os probióticos com a finalidade de ampliar as distintas barreiras do TGI, provocando a defesa o indivíduo hospedeiro contra os microrganismos maléficos e assim, causando sua exterminação. O epitélio intestinal pode ser afetado pelos probióticos com a modulação de imunidade secretória, sintetizando assim, as principais imunoglobulinas tais como IgA e IgM; além de modificar a formação de muco localizado. (BORCHERS, 2009; WEHKAMP et al, 2004). Galdeano et al (2009) observou um crescimento de células intestinais, in vivo, que podem ser associadas à “barreira imunológica inespecífica”, da mesma maneira que as células imunológicas possuem relação com o intestino. O aumento populacional de células distintas do sistema imune tais como linfócitos T e linfócitos B, secretores de IgA, e pela expressão de marcadores celulares associados tanto com a resposta natural quanto a adaptativa. De forma complementar, Ogawa et al (2006) demonstraram que a ingestão de L. casei impulsiona a síntese de interleucina-12 nas células mononucleares do sangue periférico, que está relacionada com a “atividade de células T e Natural Killer (NK)”. Microrganismos probióticos tem capacidade de estimular a atividade fagocítica dos leucócitos, causando a proliferação de linfócitos T e a “atividade dos 44 macrófagos, aumentando a atividade das células NK, e ativando as células T-helper CD4+. A produção de anticorpos e de secreção biológicas de intermediários químicos, exemplificados por citocinas, interferon, fatores de necrose tumoral, interleucina 1 e 2, e pelos quais estimulam o sistema imunológico. (ANDRADE, 2014) Pesquisas realizadas pela Yakult, indústria de alimentos, comprovam os benefícios da ingestão do leite fermentado, cuja formulação contém o microrganismo probiótico L. casei Shirota. Foram realizados estudos randomizados e estes confirmaram os efeitos do leite fermentado, e não somente a nível intestinal. (YAKULT, 2014) De acordo com Tanaka (1996), a ingestão de leite fermentado contendo L. casei Shirota inibe o crescimento de bactérias nocivas, exemplificadas na figura 13 pelos coliformes, em detrimento do crescimento favorável de microrganismos benéficos tais como as bifidobactérias, figura 14. Isto ocorre devido a produção de ácido láctico no organismo pelas bactérias lácticas, causando leve acidificação do ambiente intestinal. Anteriormente a ingestão, a contagem de células foi no valor de 5 milhões porém após a ingestão do probiótico, a contagem foi mais que dobrada.(TANAKA,1996) Figura 13 Microrganismos patogênicos Fonte: www.yakult.com.br Figura 14 Microrganismos probióticos Fonte: www.yakult.com.br 45 Na figura 13, evidencia-se que ao iniciar o consumo de probióticos, o nível de microrganismos patogênicos passa de 50 para 10 milhões de células. Ao deixar de ingerir, a população patógena vai aumentando gradativamente. (TANAKA, 1996) Em outro estudo realizado, os probióticos ingeridos resultam em redução da concentração de compostos tóxicos no organismo do hospedeiro, representado pela queda dos níveis de Indican e P-cresol. Estes são metabólitos indicadores da presença de Indol, que é a toxina produzida pelas bactérias nocivas através da degradação de proteínas, podendo originar substâncias cancerígenas no organismo do indivíduo. Realizado em humanos, esta pesquisa comprova que voluntários que incorporaram probióticos a dieta, apresentaram níveis de Indican 30% menor quando comparado com voluntários que não consumiram o probiótico, destacado na figura 15; e os índices de P-cresol chegaram a cair 1/3 dos valores normais, evidenciado na figura 16. (TOKYAMA, 1981) Figura 15 Níveis de Indican na urina Figura 16 Níveis de P-Cresol na urina Fonte: www.yakult.com.br Fonte: www.yakult.com.br 46 4. CONCLUSÃO A microbiota intestinal é composta por microrganismos que contribuem para várias funções essenciais, que influenciam na qualidade de vida do hospedeiro.. Uma microbiota intestinal estável é primordial para o funcionamento do sistema imunológico e outras funções do metabolismo. Diversos fatores podem interferir negativamente na composição da microbiota, tais como alimentação incorreta e estresse. Os alimentos funcionais, com destaque para os produtos probióticos, quando consumidos em quantidades adequadas e com frequência conferem benefícios ao hospedeiro, tendo em vista os diferentes mecanismos de ação das espécies que fazem parte da sua constituição. Em busca de constante melhora na qualidade de vida, o interesse da população se intensifica e, consequentemente, de pesquisadores e indústrias. Em constante desenvolvimento, estudos científicos tem investigado os efeitos benéficos dos probióticos à saúde do hospedeiro. A inclusão de alimentos prebióticos, probióticos ou simbióticos na dieta alimentar pode favorecer a proliferação da microbiota benéfica e consequente inibir o crescimento de espécies patogênicas resultando em um equilíbrio adequado da microbiota do trato gastrointestinal. Este equilíbrio resulta em um bom funcionamento do sistema imunológico com consequente melhora nas funções metabólicas e prevenção de doenças. Esta pesquisa bibliográfica permitiu uma melhor compreensão sobre a interação entre microbiota do trato gastrointestinal, microrganismos probióticos e compostos prebióticos e o organismo do hospedeiro. Permitiu também evidenciar os benefícios da suplementação da dieta com produtos probióticos, com ênfase nos diferentes mecanismos de ação contribuindo, para que ocorra a modulação e equilíbrio da microbiota intestinal com consequente melhoria da qualidade da vida do hospedeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADLERBERTH, I. Estabelecimento da microflora intestinal normal do recém nascido. In: Probióticos, outros fatores nutricionais e a microflora intestinal. Vevey. Suíça: Nestlé Nutrition Services; 1998. p.7-10. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC n.12, de 02 de janeiro de 2001. A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprova o regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. 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