Man u el V az Gu ed es C o rre n te A lte rn ad a SIST EMA S POLIFÁ SICOS Núc l e o de E s tudos de M á qui na s E l é c tr i c a s F a cu ld a d e d e E n g e n h a r i a d a U n i v e r s i d a d e d o P o r t o 1993 Núcleo de Estudos de MÁQUINAS ELÉCTRICAS C o r r e n te A lte r n a d a SIST EM A S P O L IF Á SIC O S M a nue l V a z G ue de s (Prof. N úc l e o de Associado com Agregação) E s tu d o s de M á qui na s E l é c tr i c a s FACULDADE de ENGENHARIA da UNIVERSIDADE do PORTO Í nd i c e 1. G r a n de z as P e r i ó di c a s 2. G r a n de z as E l é c t r i c a s Al t e r n ad as S i n u s o i d ai s 2.1 Representação das Grandezas Alternadas Sinusoidais 2.1.1 Representação Matemática 2.1.2 Representação Fasorial 2.1.3 Representação Simbólica 2.1.4 O Método Simbólico 2.2 Grandezas Alternadas Sinusoidais com a Mesma Frequência 2.3 Grandezas Eléctricas Alternadas Sinusoidais 2.4 Exemplo de Aplicação 3. S i st ema s P ol i fá si c os 3.1 Grandezas Alternadas Sinusoidais Polifásicas 3.2 Sistema Trifásico Simétrico 3.3 Sistema Difásico 3.4 Sistema Hexafásico B i b l i o g r af i a A Representação das Grandezas Alternadas Sinusoidais (resumo ) B Símbolos para Grandezas e Unidades pp. 2÷35 ≈ Texto de apoio para as disciplinas de Máquinas Eléctricas ≈ Núcleo de Estudos de MÁQUINAS ELÉCTRICAS Co rre nt e A l t e rnada SIST EMA S POLIFÁ SICOS Ma nue l Va z G ue de s (Prof. Núc le o de Associado com Agregação) E s t udos de Má quina s E lé c t ric a s FACULDADE de ENGENHARIA da UNIVERSIDADE do PORTO Na distribuição de energia eléctrica utiliza-se preferencialmente a corrente alternada sinusoidal. A principal razão para essa preferência deve-se à possibilidade de facilmente se alterar o valor da tensão alternada, elevando-o ou baixando-o, através de transformadores. Existem outras vantagens na utilização da corrente alternada mas a possibilidade de ser transportada a longas distâncias, de uma forma eficiente e económica, faz com que os diversos sistemas produtores de energia eléctrica sejam dotados com máquinas eléctricas geradoras de corrente alternada (alternadores ). Nos casos em que é aconselhável utilizar geradores de corrente contínua (dínamos), podem usar-se aparelhos electrónicos de potência para conversão da corrente contínua em corrente alternada (inversores), antes de promover o transporte ou a utilização da energia eléctrica. g1 g 0 g2 g3 T 2T 3T t Mas, para algumas aplicações da corrente alternada existe a necessidade de utilizar ≈ Texto de apoio para as disciplinas de Máquinas Eléctricas ≈ C o r r e n te A lt e rn a d a — ~ 3 ~ S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S sistemas polifásicos de corrente alternada. Isso sucede quando se pretende fornecer a uma carga uma potência constante, ou quando se pretende obter um campo girante de forças magnetomotrizes, ou, ainda, quando se pretende obter uma forma de onda rectificada com uma pequena ondulação (“ ripple” ). Se todas estas vantagens justificam a utilização de sistemas polifásicos de corrente alternada, já a preferência dada ao sistema trifásico é justificada pela possibilidade de se efectuar o transporte de energia eléctrica com apenas 3/4 do peso de cobre que o transporte da mesma energia, à mesma distância, com a mesma tensão, e com o mesmas perdas requereria, se fosse efectuada em corrente alternada monofásica; além de ser vantajoso para a criação de uma campo de força magnetomotriz girante, necessário ao funcionamento do motor de indução. 1. Gr and e z as P e r i ó d i c as Nos sistemas eléctricos existem grandezas físicas que mantêm o mesmo valor apesar da variação do tempo — são as grandezas constantes; e existem grandezas com um valor que varia ao longo do tempo — são as grandezas variáveis. De entre as grandezas variáveis, existem algumas que retomam as mesmas características ao fim de um intervalo de tempo constante — são as grandezas periódicas. T 2T 3T 4T 5T t Fig. 1 - Grandeza periódica O intervalo de tempo T, ao fim do qual uma grandeza física retoma as mesmas características, chama-se período. Assim, g(t) = g(t + T) = …= g(t + nT). A unidade em que se exprime o período é o segundo, [s]. Ao número de vezes em que a grandeza eléctrica retoma as mesmas características durante um segundo chama-se frequência. Trata-se de um valor que traduz o número de períodos que ocorrem durante um segundo. Para determinar esse valor divide-se a unidade pela duração de um período, f =1/T . A unidade em que a frequência se exprime é o hertz, [Hz]. Uma das características de uma grandeza periódica é o seu valor médio, que se define, T no domínio do tempo, como: Ga = (1/T)·⌠ ⌡ g(t) dt . 0 É através do valor médio que se pode caracterizar uma grandeza periódica. Gr a ndeza per i ódi ca a l t er na da pur a — é uma grandeza periódica com valor médio nulo, Ga = 0. Gr a ndeza per i ódi ca pul sa t ór i a — é uma grandeza periódica com valor médio diferente de zero, Ga ≠ 0. Entre as grandezas periódicas pulsatórias salientam-se, também, as grandezas © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 4 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S periódicas onduladas. Gr a ndeza per i ódi ca ondul a da — é uma grandeza pulsatória que tem sempre o mesmo sinal. Entre as diversas grandezas físicas periódicas têm grande importância as grandezas eléctricas alternadas puras. Trata-se de grandezas que assumem o mesmo valor, mas com o sinal contrário, ao fim de cada semi-período (T/2 ), g(t) + g(t + T/2) = 0. g 0 t Fig. 2 - Grandeza periódica alternada pura Devido ao princípio de funcionamento dos geradores de corrente alternada as grandezas eléctricas são sinusoidais, isto é, essas grandezas têm uma variação no tempo dada pela expressão, g(t) = Gm ·sen(ωt + ϕ) 2. Gr and e z as E l é c t r i c as Al t e r nad as Si nuso i d ai s Devido às suas características, a forma de onda das grandezas eléctricas alternadas que melhor resultados apresentou, ao longo da história da energia eléctrica, foi a sinusoide. Essa forma de onda exprime-se, sobre uma forma analítica, como g = Gm·sen(ωt + ϕ) (1) Nesta expressão há a considerar os seguintes valores: g— valor instantâneo - valor assumido pela grandeza em cada momento. (Representa–se por uma letra minúscula). Gm — valor máximo ou amplitude - ou valor de pico – é o maior valor assumido pela função durante um semi-período. (Representa-se por uma letra maiúscula com o índice m ou por uma letra maiúscula acentuada com um til, Ñ). ωt + ϕ — ângulo de fase - costuma dizer-se simplesmente fase. É um ângulo e exprime-se em radianos, [rad] ω— pulsação - é uma velocidade angular, que se exprime em radianos por segundo, [rad/s]. Verifica-se que ω = 2π f . ϕ — esfasamento - é o valor do ângulo de fase na origem do tempo. Pode tomar um valor positivo (avanço de fase ) ou negativo (atraso de fase ). Também se exprime em radianos, [rad] Note-se que a função y = Ym ·cos(ωt + ϕ) tem, evidentemente, a forma sinusoidal, © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 5 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S porque: y = Ym ·cos(ωt + ϕ) = Ym ·sen(ωt + ϕ + π/2 ). Para as grandezas alternadas sinusoidais ainda há que salientar os seguintes aspectos, representados na figura 3. Alternância — conjunto de valores assumidos pela grandeza eléctrica num mesmo sentido. Ciclo — conjunto de uma alternância positiva e de uma alternância negativa. 0 T/2 T t 0 T/2 Alternância T t Ciclo Fig. 3 - Alternância e ciclo de uma grandeza sinusoidal No estudo das grandezas alternadas importantes. sinusoidais definem-se alguns valores T Valor Médio — Ga = (1/T)·⌠ ⌡0 g(t) dt — é um valor nulo para um número inteiro de períodos, porque as duas alternâncias da grandeza sinusoidal são iguais. T Valor Eficaz (ou valor médio quadrático ) — G = Gef = (1/T)·⌠ ⌡ g2 (t) dt — é um valor que, 0 no caso da corrente eléctrica, é igual à intensidade da corrente contínua que no mesmo intervalo de tempo, e na mesmas condições, liberta, por efeito Joule, a mesma quantidade de calor, numa mesma resistência eléctrica. Para uma corrente alternada sinusoidal determina-se G = Gef = (1/ 2 )·Gm. Assim, as grandezas alternadas sinusoidais podem ser escritas na forma da expressão (2) . g= 2 G·sen(ωt + ϕ) (2) T Valor Médio Absoluto (ou valor médio rectificado) — Gr = (1/T)·⌠ ⌡ |g(t)| dt — verifica-se 0 que para uma grandeza alternada sinusoidal é: Gr = (2/π)·Gm . Quando não se caracteriza o valor de uma grandeza alternada sinusoidal, deve-se considerar que é um valor eficaz. Este é o valor lido nos aparelhos de medida usuais, que são utilizados na prática corrente. Como valores característicos de uma grandeza alternada sinusoidal, ainda se determinam os seguintes factores: F a ct or d e F or ma (F F )— é a razão entre o valor eficaz (ou valor médio quadrático) e o valor médio absoluto da grandeza. © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — T FF = – 6 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S T 1 · g2(t) dt T 0 1· g(t) dt T 0 Para uma grandeza alternada sinusoidal tem o valor: FF = 1,11. F a ct or d e Pi co (ou factor de vértice) — é a razão entre o valor máximo da grandeza e o seu valor eficaz (ou valor médio quadrático). Factor de Pico = Gmax T 1 · g2(t) dt T 0 Para uma grandeza alternada sinusoidal tem o valor: factor de pico = 2 = 1,41. 2 .1 . R e p r e se nt aç ão d as Gr and e z as Al t e r nad as Si nuso i d ai s No estudo das grandezas alternadas sinusoidais torna-se importante representar essas grandezas. Existem vários métodos de representação das grandezas sinusoidais, e a sua utilização depende, fundamentalmente, do tipo de estudo que se está a efectuar, e dos meios de cálculo disponíveis. Por isso, o método fasorial de representação de grandezas sinusoidais teve já uma época de grande utilização e hoje apenas serve de auxiliar à aplicação de outros métodos, enquanto que o método simbólico é o que melhor se adapta à utilização dos modernos meios digitais de cálculo numérico. Vão ser estudados, seguidamente, os diferentes métodos de representação das grandezas sinusoidais, que se encontram apresentados, resumidamente, no apêndice A. 2.1.1 Repr esen t a çã o M a t em á t i ca Uma grandeza com variação sinusoidal no tempo pode ser representada pela respectiva função matemática — seno ou cosseno. É este o tipo de representação que habitualmente se utiliza para caracterizar o valor instantâneo de uma grandeza alternada sinusoidal: g = 2 ·G·cos(ωt + ϕ) , Acompanhando esta representação da grandeza pode estar um oscilograma da função. g 0 t 0 T/2 T 3T/2 Exemplo_2.1.1–1 — Num circuito eléctrico monofásico a tensão eléctrica de alimentação tem por expressão u = 2 ·220·cos(ωt) V, enquanto que a corrente eléctrica absorvida pelo circuito tem por expressão i = 2 ·50·cos(ωt + ϕ) A. Pode-se determinar a expressão da potência eléctrica instantânea p = u·i, recorrendo às regras da Álgebra e da Trigonometria {cosα·cosß = (1/2)·(cos (α–ß) + cos(α+ß))}. p = u·i = ( 2 ·220·cos(ωt))·( 2 ·50·cos(ωt + ϕ)) = 22 000·(cos(ωt)·cos(ωt + ϕ)) = = 22 000·((1/2)·(cos(ϕ) + cos(2ωt + ϕ)) = 11 000(cos(ϕ) + cos(2ωt + ϕ)) W A potência instantânea fornecida ao circuito é pulsatória, com uma frequência dupla da frequência da rede de alimentação 11 0 00·cos(2·(2πf)t + ϕ), em torno de um valor constante 11 000·cos( ϕ). © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 7 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S 2.2.2 Repr esen t a çã o F a so r i a l Nos estudos dos sistemas eléctricos de corrente alternada sinusoidal utiliza-se, frequentemente, como um auxiliar de cálculo ou para melhorar a compreensão dos fenómenos em estudo, um método gráfico de representação de uma grandeza sinusoidal. ro ta çã o g = G·sen(θ) Se num sistema de eixos ortogonais se considerar um segmento orientado de recta que tem uma extremidade no centro do referencial, tem um comprimento constante G, e forma um determinado ângulo θ com o eixo das abcissas, colocado em posição horizontal, e se considerar que esse segmento de recta roda com uma velocidade angular tal que θ = ωt + ϕ, então a projecção desse segmento sobre o eixo das ordenadas, quando multiplicada por instantâneo de uma grandeza sinusoidal: g = 2 ·G·sen(θ) = G θ = ωt + ϕ 2 , é igual ao valor 2 ·G·sen(ωt + ϕ). Outra qualquer grandeza alternada sinusoidal, com a mesma frequência f, e, portanto, com a mesma pulsação ω, poderia ser representada por outro segmento de recta, esfasado do primeiro de um ângulo igual à diferença dos ângulos de fase entre os dois segmentos de recta e rodando, também, com a velocidade angular ω. Desta forma, as duas grandezas, e a sua interrelação, poderia ser representada apenas pelos dois segmentos de recta, nas posições correspondentes a t = 0. E, sem a representação dos eixos de referência. Surge, assim, uma forma geométrica de representar grandezas alternadas sinusoidais com a mesma frequência: a representação fasorial. G2 ψ = ωt + φ G1 θ = ωt + ϕ A representação fasorial, a cada grandeza alternada sinusoidal, faz corresponder um fasor, representação geométrica polar caracterizada por um módulo igual ao valor eficaz da grandeza |G| = G, a uma dada escala, e uma direcção relativamente a um eixo, ou um argumento (arg), igual ao ângulo de fase /G = arg( G) = θ = ωt + ϕ, medido no sentido trigonométrico. Conforme o tipo de grandeza alternada sinusoidal, assim o valor instantâneo da grandeza obtém-se multiplicando por 2 a projecção do fasor sobre o eixo da origem dos ângulos, para uma variação em cosseno g = 2 ·G·cos( θ), ou sobre o outro eixo, se a variação for em seno g = 2 ·G·sen(θ), atendendo sempre à escala de desenho dos segmentos de recta. Estando as grandezas representadas graficamente por fasores, as diferentes operações aritméticas sobre as grandezas alternadas sinusoidais traduzem-se por operações geométricas sobre os fasores representativos das diferentes grandezas. Exemplo_2.1.2–1 — Uma máquina eléctrica monofásica está alimentada por uma tensão alternada sinusoidal de 220 V, e absorve uma corrente eléctrica de 30 A com um esfasamento em atraso relativamente à tensão de π/6 rad. A representação desta situação pode ser feita por fasores, desde que: a marcação dos ângulos obedeça ao critério trigonométrico quanto ao sentido; se considere que o fasor da tensão coincide com a representação do eixo da origem das fases; e se estabeleça uma escala adequada de representação: 110 V ÷ 5 cm; 30 A ÷ 3 cm. u(t) = © Manuel Vaz Guedes, 1993 2 ·220·cos(ωt) V i(t) = 2 ·30·sen(ωt–(π/6)) A N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 8 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S U π/6 I Esta representação fasorial, para além de uma possível determinação do valor instantâneo da tensão ou do valor instantâneo da corrente eléctrica, teria pouca utilidade!… É de notar que, no mesmo diagrama fasorial, só estão representadas grandezas alternadas sinusoidais com a mesma frequência, e que não é necessário dar aos fasores uma origem comum; basta que conservem os seus elementos característicos: o módulo e o argumento. Como a representação geométrica de um número complexo G = a + j b, também pode ser feita por um segmento de recta com uma determinada amplitude |G| = a2 + b2 , e com um determinado argumento arg( G) = / G = arctg(b/a ), no estudo das grandezas alternadas sinusoidais aparece, frequentemente, a associação da representação fasorial e da representação simbólica. 2.1.3 Repr esen t a çã o S i m bó l i ca Na representação simbólica as grandezas alternadas sinusoidais são representadas por números complexos. Um numero complexo G é formado por uma parte real a, e por uma parte imaginária b, que é afectada pelo operador j = G* = a – jb. –1 , assim: G = a + j b, e o seu conjugado é O operador j = –1 é caracterizado por promover uma rotação de π/2 rad no sentido directo, ou trigonométrico, ou em avanço, quando é aplicado a um fasor, j b ≡ b / 90°. Verifica-se que o operador j tem as seguintes propriedades: j2 = –1, j3 = –j, j4 = 1. Baseado no teorema de Euler, ejß = exp(jß) = cos ß + j sen ß, que é uma propriedade da função exponencial no domínio complexo, é possível representar uma grandeza alternada sinusoidal por um número complexo. G = G·ej θ = G·exp(jθ) = G·cos θ + j G· sen θ = a + j b Atendendo à correspondência expressa na equação anterior, verifica-se que: a = G ·cos θ e G = a + jb Im b G b = G ·sen θ θ = ωt + ϕ Atendendo à figura, também se verifica que: θ = arctg (b/a) e |G| = a Re ( a2 + b2 ) Assim, o valor instantâneo de uma grandeza alternada sinusoidal obtém-se, tomando o produto por 2 da parte real (Re) do fasor alternado, G·exp(j(ωt + ϕ)), quando a variação da grandeza é em cosseno. g(t) = 2 ·G·cos(ωt + ϕ) = = = © Manuel Vaz Guedes, 1993 2 ·Re(G·exp(j(ωt + ϕ)) = 2 ·Re(G·exp(j(ωt))·exp(j ϕ)) = 2 ·Re(G·exp(j ϕ)·exp(j(ωt))) = 2 ·Re[ G·exp(j(ωt))] N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S – 9 – Desta forma, a grandeza com variação sinusoidal no tempo g(t) é expressa pelo f aso r G, definido como G = G·exp(j ϕ), que é uma grandeza escalar constante (e é representado por uma letra maiúscula sublinhada). A representação geométrica do fasor exp(j(ω t)), é um fasor de amplitude unitária, |exp(j( ωt))| = 1 , que gira com uma velocidade angular igual à pulsação ω: é um f aso r gi r an t e. Quando é multiplicado por um fasor, G = G·exp(j ϕ), provoca-lhe um acréscimo uniforme, com o tempo, do ângulo de fase. O lugar geométrico dos pontos ocupados pelo extremo do fasor unitário girante exp(j(ωt)), ao longo do tempo t, está sobre uma circunferência. Im t) (jw p ex Re O fasor alternado G ·exp(j(ωt)) é um fasor girante, com o sentido de rotação definido pelo sinal do argumento da função exponencial. Um sinal positivo, (+ ωt), implica uma rotação com velocidade angular ω (rad/s), no sentido directo, ou trigonométrico. O ângulo de esfasamento ϕ, traduz o valor do argumento (arg) do fasor, G = |G| / ϕ , no instante inicial, t = 0. Como os fasores representativos de todas as grandezas sinusoidais com a mesma frequência, que entram na caracterização de um circuito eléctrico, estão multiplicados por exp(j(ωt)), pode-se simplificar a notação representando a grandeza alternada sinusoidal pelo fasor G = G·exp(j ϕ), que corresponde ao instante inicial t = 0; é o fasor inicial da grandeza. Exemplo_2.1.3–1 — Um circuito eléctrico linear é percorrido por uma corrente sinusoidal com a intensidade de 25 A (valor eficaz), esfasada de π/7 rad sobre uma tensão sinusoidal com um valor (eficaz) de 380 V; ambas as grandezas têm a frequência de 50 Hz. Os fasores representativos destas grandezas são: O fasor da tensão (≡ origem das fases) — U = 380·exp(0) = 380 + j 0 V. O fasor da corrente eléctrica — I = 25·exp(j (π/7)) = 22,524 + j 10,847 A O valor instantâneo destas grandezas é dado por: u(t) = 2 ·Re(U·exp(jωt)) = i(t) = 2 ·Re(I·exp(jωt)) = 2 ·Re((380·exp(j0))·exp(j314 t)) V 2 ·Re((25·exp(jπ/7))·exp(j314 t)) A 2.1.4 O M ét o do S i m bó l i co A representação por um número complexo de uma grandeza com variação sinusoidal no tempo pode ser estendida a grandezas que têm uma variação sinusoidal no espaço; como é o caso da distribuição da força magnetomotriz no espaço do entreferro de uma máquina eléctrica. Quando a posição de um ponto no espaço é dada pelo ângulo (eléctrico) α, é: f(α) = F·cos(α – αo ) = = Re[F·cos(α – αo ) + j sen(α – αo )] = Re[F·exp(j(α – αo ))] = = Re[F·exp(j(α)·exp(– j α o ))] = Re[ f ·r *(α)] © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 10 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S Assim, a grandeza f(α) é expressa pelo fasor espacial f , definido como f = F·exp(j α o ). É uma grandeza com medida F e ângulo de direcção, ou simplesmente direcção, α o . O fasor unitário r (α), multiplicado pelo fasor espacial f , promove uma rotação de um ângulo α, a somar ao ângulo de direcção αo do fasor espacial. Im Im α f αo Re f( α ) 0 α r Re O estudo de sistemas electromecânicos, com fenómenos físicos dependentes do próprio movimento do sistema, pode ser feito através dos bicomplexos, que servem para representar grandezas com variação sinusoidal no tempo e no espaço; essas grandezas são representadas pelo bi f aso r , b = B·exp(j (ωt + ϕ))·exp(j (α – αo )), 1. Existe, também, uma outra representação complexa para as grandezas que são solução de problemas, em regime permanente e em regime transitório, dos circuitos eléctricos. Nesse tipo de representação, considera-se que as grandezas eléctricas associadas a um circuito, em qualquer regime, têm uma forma geral correspondente a uma variação sinusoidal amortecida, a(t) = 2 ·A·exp(– λt)·cos(ωt + ϕ) = = 2 ·Re(A·exp(– λt)·exp(j (ωt + ϕ))) = = 2 ·Re(A·exp(j ϕ)·exp(j ωt – λt))) = = 2 ·Re(A ·exp(δ t)) com 2 ·Re(A·exp(j (ωt + ϕ) – λt))) = δ= j ω – λ Desta forma, uma grandeza sinusoidal amortecida, que é a expressão geral do comportamento, em regime permanente e em regime transitório, duma grandeza física característica, é representada por um f aso r espi r al a = A ·exp(δt), com δ = j ω – λ, e A = A·exp(j ϕ). Para λ = 0 o fasor espiral a transforma-se num fasor temporal alternado, A ·exp(j ωt). Para t = 0 o fasor espiral a representa o fasor A = A·exp(j ϕ). Para ω = 0 o fasor espiral a representa uma grandeza contínua amortecida, Para λ = 0 e ω = 0 o fasor espiral a representa uma grandeza contínua 2 ·A·exp(–λt). 2 ·A. Por isso, o fasor espiral pode representar todo o tipo de variação da grandeza física característica a(t). 1 Manuel Corrêa de Barros; “Método Simbólico para Estudo das Máquinas de Corrente Alternada”, Porto, 1947 © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 11 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S A representação gráfica, no plano de Gauss, do lugar geométrico dos pontos ocupados pela extremidade do fasor a com a variação do tempo é uma espiral. Im t=0 Quando λ = 0 o lugar geométrico é uma circunferência correspondente ao fasor girante, A ·exp(j ωt). Re A necessidade de estudar o comportamento dos circuitos eléctricos por meios analíticos levou ao desenvolvimento do método simbólico. Através dos tempos tem vindo a aumentar a sua aplicação, e, actualmente, devido à facilidade da sua programação computacional, tem uma grande utilização na modelização e na análise do funcionamento das máquinas eléctricas. 2.2 Gr a n dez a s A l t er n a da s S i n uso i da i s co m a M esm a F r eq uên ci a Em regime permanente, e numa rede alimentada por uma tensão sinusoidal de frequência f, quase sempre, todas as tensões e todas as correntes têm a mesma frequência. Também a pulsação, ω = 2π f , é a mesma para todas essas grandezas; o que sucede sempre que se admite que o circuito eléctrico é linear. Como a soma de duas grandezas alternadas sinusoidais com a mesma frequência é uma grandeza alternada sinusoidal com a mesma frequência, podem efectuar-se operações algébricas com essas grandezas. O método de representação das grandezas será aquele que melhor se adapte ao estudo a efectuar. Num estudo envolvendo duas grandezas alternadas sinusoidais é muito importante o esfasamento entre elas. Considera-se que duas grandezas estão esfasadas quando os respectivos máximos, ou outro qualquer ponto característico, não ocorrem simultaneamente. i1 i i2 0 ϕ θ Fig. 4- Duas correntes alternadas sinusoidais esfasadas de ϕ: i1 = 2 I cos ωt e i 2 = 2 I cos ( ωt + ϕ) Existem situações típicas de esfasamento entre duas grandezas alternadas sinusoidais que recebem nomes próprios, e que também podem ser caracterizadas na representação simbólica das grandezas, através do respectivo argumento. Assim diz-se que duas grandezas estão em fase — o que corresponde a um ângulo de esfasamento de 0 rad; nesta situação, G1 = G1/ ϕ , e G2 = G2/ ϕ ; © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — em – 12 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S quadratura — o que corresponde a um ângulo de esfasamento de π/2 rad podendo ser em avanço, +π/2, ou em atraso, –π/2; nesta situação, G1 = G1/ ϕ , e G2 = G2/ ϕ ± π/2 = ±j (G2/ ϕ ), e em oposição — o que corresponde a um ângulo de esfasamento de π rad; nesta situação, G1 = G1/ ϕ , e G2 = G2/ ϕ ± π = j 2 (G2/ ϕ ) = – (G2/ ϕ ). g g1 g g1 g2 0 0 g2 θ θ em fase em quadratura Fig. 5 - Situações de esfasamento típicas Na situação de oposição de fase uma das grandezas alternadas sinusoidais toma um valor máximo positivo no instante em que a outra grandeza toma um valor mínimo negativo. A determinação da derivada, em ordem ao tempo, d /dt, de uma grandeza sinusoidal g(t) = 2 G·co s(ωt + α) pode ser feita com o auxílio da notação simbólica, dg(t )/dt = d[ 2 G·co s(ωt + α)]/dt = – ω = ω 2 G·sen (ωt + α) = 2 G·co s(ωt + α + π/2) A respectiva representação simbólica é dg(t )/dt = ω exp(j(π/2))· 2 G·ex p(j (ω t +α )) = j ω G·exp(j (ω t )) A derivação em cálculo simbólico traduzir-se-á na multiplicação do fasor representativo da grandeza por jω, ou seja, em multiplicar a grandeza por ω e esfasá-la de π/2 no sentido trigonométrico, avanço. (≡ quadratura avanço). A integração em cálculo simbólico traduzir-se-á na divisão do fasor representativo da grandeza por jω, ou seja em dividir a grandeza por ω e esfasá-la de π/2, no sentido anti-trigonométrico, atraso. (≡ quadratura atraso) Nos cálculos envolvendo grandezas sinusoidais com a mesma frequência, recorre-se frequentemente, ao acompanhamento desse cálculo com a construção de um diagrama fasorial, (na realidade faz-se apenas um esboço), representativo das relações entre as grandezas. Surge, assim, a possibilidade de estabelecer relações entre as diferentes grandezas, quer através da regra de adição de fasores (regra do paralelogramo), quer através da relação entre as projecções desses fasores nos respectivos eixos de referência. Exemplo_2.2–1 — Duas grandezas sinusoidais, com a mesma frequência, têm por expressão: g1(t) = 2 ·6·cos(ωt + π/4) e g2(t) = 2 ·4·cos(ωt – π/6) Pretende-se conhecer a expressão da grandeza sinusoidal resultante da adição das duas grandezas. Utilizando a representação simbólica: G1 = 6 / π/4 = 4,243 + j 4,243 © Manuel Vaz Guedes, 1993 G2 = 4 / – π/6 = 3,464 – j 2 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 13 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S G1 + G2 = (4,243 + j 4,243) + (3,464 – j 2) = 7,707 + j 2,243 = 8,027 / 0,283 assim, g(t) = g1(t) + g2(t) = 2 ·8,027·cos(ωt + 0,283) Utilizando a representação fasorial, (acompanhada da figura que é esboçada com uma escala aproxima da {±}) 0g1x = 6·cos(π/4) 0g1y = 6·sen(π/4) 0g2x = 4·cos(–π/6) 0g2y = 4·sen(–π/6) g1y 0gx = 0g1x + 0g2x π/4 6 as projecções segundo os eixos ortogonais são 0gy = 0g1y + 0g2y 0 0gx = (6·cos(π/4) + 4·cos(–π/6)) = (4,243 + 3,464) = = (7,707) origem dos g2x –π/6 g1x ângulos g2y 0gy = (6·sen(π/4) + 4·sen(–π/6)) = (4,243 – 2) = = (2,243) |g| = 7,7072 + 2,2432 = (8,027) / g = arctg(0gy/0gx) = arctg(2,243/7,707) = 0,283 rad Também, o fasor G = |g| / g , ou g(t) = 2 ·(8,027)· cos (wt + 0,283) Note-se que o problema, ainda poderia ser resolvido por construção gráfica; o que implicaria a definição de uma escala para as grandezas, e a aplicação da regra do paralelogramo aos fasores de g1 e g2. 2.3 Gr a n dez a s El éct r i ca s A l t er n a da s S i n uso i da i s Na maioria dos sistemas eléctricos de energia utiliza-se corrente eléctrica alternada sinusoidal. Nos circuitos eléctricos é possível isolar porções de circuito compreendidas entre dois terminais ou nós — são os dipolos. Assim, um dipolo é a representação de um qualquer aparelho eléctrico com dois terminais: resistência, bobina, condensador, gerador, motor, etc… Neste estudo apenas se consideram os dipolos que são atravessados por uma corrente eléctrica sinusoidal quando lhes é aplicada um tensão sinusoidal. Trata-se, pois, dos dipolos lineares. O estudo das grandezas originadas por dipolos não lineares pode ser feito através do texto “Grandezas Periódicas Não Sinusoidais”. Para um dipolo podem ser consideradas duas funções: gerador ou produtor, e receptor ou consumidor. A estas duas formas correspondem diferentes orientações das grandezas características: tensão e corrente eléctrica, conforme a figura 6. i i u Gerador ou Produtor u Receptor ou Consumidor Fig. 6 - Dipolo gerador e dipolo receptor No dipolo gerador é positiva a potência eléctrica instantânea, p = u i, fornecida ao consumidor. No dipolo receptor é positiva a potência eléctrica recebida pelo consumidor. Os dipolos eléctricos são formados por associação de dipolos elementares: uma resistência, ou uma bobina, ou um condensador. No caso de ser aplicada uma tensão © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 14 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S sinusoidal a um dipolo passivo interessa verificar o que sucede às outras grandezas eléctricas. r esi st ên ci a Z = R Uma resistência eléctrica é formado por um condutor eléctrico que oferece uma certa oposição à passagem da corrente eléctrica. Quando é aplicada uma tensão alternada sinusoidal aos terminais de uma resistência eléctrica verifica-se a relação entre os valores eficazes I = U/R (Lei de Ohm), sem que a corrente eléctrica fique esfasada em relação à tensão. A representação simbólica das grandezas eléctricas intervenientes num circuito puramente óhmico, é: U = R·I . O fasor da tensão U está em fase com o fasor da corrente eléctrica I . i n dut â n ci a Z = jωL Uma bobina eléctrica é formada por um condutor eléctrico enrolado em torno de uma superfície cilíndrica oca. Aplicando uma tensão alternada sinusoidal nos terminais da bobina, resulta que a corrente eléctrica ainda tem um comportamento sinusoidal no tempo, mas fica esfasada π/2 em atraso (quadratura atraso) e o seu valor eficaz é dado pela relação I = U/X. Em que X é a reactância da bobina que é igual ao produto da pulsação pelo valor da indutância da bobina: X = ωL. Com [L] em henry, [ω] em rad/s, e [X] em ohm A representação simbólica das grandezas eléctricas intervenientes num circuito puramente indutivo, é: U= j(X·I ) = j X·I . O fasor da tensão U está esfasado de π/2 rad em avanço (j ) sobre o fasor da corrente eléctrica I , conforme está representado na figura 7. No estudo das máquinas eléctricas é muito importante o conhecimento do comportamento das grandezas eléctricas numa bobina com núcleo de material ferromagnético, que é um dipolo não linear. co n den sa do r Z = – j /ω C Um condensador é um dipolo formado por duas placas condutoras a potenciais eléctricos diferentes, separadas por um meio dieléctrico. Neste caso, quando se aplica uma tensão alternada sinusoidal nos terminais do condensador, a corrente eléctrica no circuito vem esfasada de π/2 em avanço (quadratura avanço) e o seu valor eficaz é dado pela relação I = U/X, em que X é a reactância do condensador que é igual a X = 1/ωC. Com [C] em farad, [ω] em rad/s, e [X] em ohm. A representação simbólica das grandezas eléctricas intervenientes num circuito puramente capacitivo, é: U= (1/jX)·I = –j ((1/X)·I ). O fasor da tensão U está esfasado de π/2 rad em atraso (– j ) sobre o fasor da corrente eléctrica I , conforme está representado na figura 7. R C L U I I U I Resistência Indutância U Condensador Fig. 7 - Dipolos passivos em corrente alternada sinusoidal © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S – 15 – Nos circuitos eléctricos não existem normalmente dipolos isolados, mas os dipolos elementares podem estar associados, em série ou em paralelo, de forma a obter-se um novo dipolo, com características próprias. Para este tipo de dipolo convém conhecer também as respectivas grandezas eléctricas: tensão, corrente eléctrica e impedância, o que pode ser determinado através das leis dos circuitos eléctricos, e recorrendo a uma representação apropriada das grandezas sinusoidais. Note-se que os dipolos elementares dificilmente têm existência real. O que normalmente sucede é que uma resistência eléctrica tem sempre um coeficiente de auto-indução, embora muito pequeno, e uma bobina tem sempre resistência eléctrica, embora muito pequena. No caso de uma associação complexa de dipolos verificam-se as leis dos circuitos eléctricos: lei dos nós — a soma das correntes eléctricas que convergem num nó é igual à soma das correntes eléctricas que divergem do nó, ∑ i c = ∑ i d; lei das malhas — a soma algébrica das forças electromotrizes é igual à soma algébrica das quedas de tensão numa malha de um circuito eléctrico. No caso de todas as resistências de um dipolo de grande complexidade estarem reduzidas a uma resistência equivalente R, e de todas as reactâncias, indutivas ou capacitivas, estarem reduzidas a uma reactância equivalente X, que, normalmente, é indutiva, e estes dois elementos se encontrarem ligados em série, a relação entre a tensão e a corrente é dada pela Lei de Ohm em corrente alternada.: U = Z· I Atendendo a que as grandezas alternadas sinusoidais são representadas por fasores, é necessário observar que as relações entre grandezas são sempre relações entre fasores, e traduzi–lo nas respectivas operações, que terão de ser fasoriais, ou que terão de envolver grandezas simbólicas. UR = R·I UX = j X·I R2 + X2 = |Z | e e U = UR + UX = R·I + j X·I = Z ·I Z·I arctg(X/R) = arg(Z ) = / Z . arg(Z) em que Z é a impedância complexa do circuito. jX·I R·I Num dipolo receptor que se encontra alimentado por uma tensão instantânea u, e que é percorrido por uma corrente eléctrica instantânea i, o valor da potência instantânea consumida pelo dipolo é, p = u i. i u Fig. 8 - Dipolo receptor Se u = 2 ·U cos ωt, e i = 2 ·I cos(ωt–ϕ), verifica-se, como no exemplo 2.1.1–1 , que p = = ui = UI·cos ϕ + UI·cos(2ωt–ϕ). A potência instantânea é pulsatória e formada pela soma de um termo constante, P = UI cos ϕ , e de um termo alternado sinusoidal, UI cos(2ωt–ϕ), com uma © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 16 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S frequência dupla da frequência da tensão de alimentação. Ao valor P = U I cos ϕ chama-se po t ên c i a ac t i v a unidade em que se exprime é o watt, W. absorvida pelo circuito. A Ao valor S = U I chama-se po t ên c i a apar en t e do circuito. A unidade em que se exprime é o volt–ampere, VA. A potência aparente dá sempre uma indicação da capacidade de um sistema eléctrico produzir uma dada transformação de energia. À relação entre a potência activa e a potência aparente, λ = P/S, chama-se factor de potência. No caso da tensão e da corrente eléctrica serem grandezas alternadas sinusoidais o valor do factor de potência é dado pelo cosseno do ângulo de esfasamento entre aquelas grandezas, λ = P/S = cos ϕ = (UI cos ϕ)/UI. Exemplo_2.3–1 — Um circuito eléctrico é formado por uma associação em série de uma resistência, de uma indutância e de um condensador. A tensão de alimentação é de 100 V, 50 Hz, e o valor dos parâmetros do circuito é: resistência R = 12 Ω; indutância L = 15,9 mH; capacidade C = 318 µF. A pulsação das grandezas alternadas é ω = 2π f, ω = 314 rad/s A reactância indutiva é XL = ωL, XL = 314*15,9x10–3 = 5 Ω A reactância capacitiva é XC = –1/ωC, XC = –1/(314*318x10–6 ) = –10 Ω A reactância total da série dos dois elementos é X = XL + XC, X = 5 – 10 = –5 Ω, (o efeito do condensador ultrapassa o efeito da indutância ). A impedância total do circuito é Z = R2 + X2 , Z = 122+ 52 = 13 Ω A corrente eléctrica que percorre o circuito é I = U/Z, I = 100/13 = 7,692 A O factor de potência do circuito é λ = cos ϕ = R/Z, λ = cos ϕ = 12/13 = 0,92 (cap. ) A utilização da notação simbólica, e de meios de cálculo compatíveis, permite resolver o problema de uma forma mais expedita. A impedância complexa do circuito é Z = R + jX, Z = 12 – j5 Ω Considerando a tensão, como o origem das fases, é U = 100 + j0 = 100 / 0 V A corrente eléctrica é I = U/ Z, I = (100+j0)/(12 – j5) = 7,101 + j2,959 = 7,692 /0,395 A (a corrente eléctrica está avançada de +0,395 rad sobre a tensão) O factor de potência é λ = cos ϕ = cos(0,395) = 0,92 (capacitivo ) O factor de potência de um circuito ou de uma instalação eléctrica é um valor importante porque dá uma informação sobre o ângulo de esfasamento entre a tensão e a corrente eléctrica, nos terminais da instalação. Para medir o factor de potência, no caso de grandezas alternadas sinusoidais, pode-se recorrer à definição, ou utilizar fasímetros. Recorrendo à definição utiliza-se uma montagem de medida, como a da figura. 9 a), em que se lê o valor da potência activa absorvida no wattímetro de corrente alternada, o valor eficaz da tensão no voltímetro e o valor eficaz da intensidade da corrente eléctrica no amperímetro. Quando o valor eficaz das grandezas eléctricas for elevado, utilizam-se transformadores de medida: transformador de tensão TT, e transformador de intensidade TI. O esquema de medida é o apresentado na figura 9 b), sendo necessário considerar o valor da razão de transformação dos transformadores de medida na determinação do valor das grandezas. © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 17 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S TI W A TT W V A V a) b) Fig. 9 - Montagem de medida para determinação do factor de potência do dipolo Quando no circuito receptor está a passar uma corrente eléctrica esfasada, em atraso, de um ângulo ϕ, sobre a tensão aplicada ao circuito, essa corrente pode-se considerar resultante da composição fasorial de uma componente activa de corrente eléctrica Ia = I·cos ϕ e de uma componente reactiva Ir = I·sen ϕ. Ia o ≡ U ϕ I Ir A corrente eléctrica reactiva não produz trabalho útil, apenas serve para criar e manter o campo magnético, nos dipolos indutivos, que constituem o receptor. Atendendo a que são Ia2 + Ir2 . Assim, num circuito indutivo em que a componente reactiva tenha um valor significativo, o valor da corrente, realmente, absorvida pelo circuito (I ), é superior ao valor da corrente activa (I a ). Este grandezas fasoriais entre as três correntes eléctricas existe a relação I = aumento do consumo real de corrente eléctrica costuma ser onerado pelos serviços fornecedores de energia eléctrica, que, necessariamente, terão de a produzir… Define-se p o t ên c i a r eac t i v a — Q = U I sen ϕ — como o produto do valor eficaz da tensão pela corrente eléctrica reactiva. A unidade de potência reactiva é o volt–ampere reactivo, var. A potência reactiva tem o sinal de ϕ, isto é, do ângulo de esfasamento. Assim para um receptor, Ci r cui t o esfasamento ϕ Potência reactiva Q ÓHMICO =0 =0 INDUTIVO >0 >0 CAPACITIVO <0 <0 Verifica-se (aplicando o critério do con sumidor) que apenas os dipolos indutivos consomem potência reactiva, enquanto que os dipolos capacitivos a fornecem. Desta forma, pode-se efectuar uma compensação do factor de potência através de uma instalação de um produtor de energia reactiva, como um banco de condensadores, no circuito receptor. Assim, a rede eléctrica passará a fornecer menos energia reactiva … Exemplo_2.3–2 — Na exploração de uma rede eléctrica existe um valor do factor de potência λ$ a partir do qual é obrigatória a instalação de um sistema de compensação do factor de potência. Por isso, quando o factor de potência da instalação λι é inferior ao valor limite há que produzir a sua correcção. © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S – 18 – Analisando o diagrama fasorial verifica-se que é necessário fornecer uma corrente eléctrica reactiva IC, com um valor que resulta da composição fasorial das correntes eléctricas: I$ = I + IC. Assim, IC = I – I$ ; ou o Ia ϕ ≡ U recorrendo às projecções dos fasores, resulta que: IC = | I·senϕ – I$ ·sen (ϕ$ )|. ϕ$ I$ A corrente eléctrica IC poderia ser fornecida, por uma banco de condensadores, ou por uma máquina síncrona funcionado como compensador, ou por um sistema electrónico de potência para correcção do factor de potência, (static VAR system ). IC I As três formas de potência eléctrica — potência aparente S, potência activa P, e potência reactiva Q — estão ligadas pela relação: S2 = P2 + Q2. A representação simbólica da potência de um circuito que é alimentado por uma tensão representada pelo fasor U = U·exp(j φ), e é percorrido por uma corrente eléctrica representada por I = I·exp(j θ), é dada por: S = U ·I * = = U·I * = U·I·exp(j (φ-θ)) = U·I·exp(j ϕ) = U·I·cos(ϕ) + j U·I·sen(ϕ) = P + j Q 2.4 Ex em pl o de A pl i ca çã o O estudo das máquinas eléctricas de corrente alternada faz-se com utilização dos diversos métodos de representação das grandezas alternadas sinusoidais. Baseado num estudo clássico de uma máquina eléctrica 2 com auxílio do método simbólico, apresenta-se um exemplo de aplicação. Exemplo_2.4 — Um motor série monofásico de colector de lâminas, que é uma máquina assíncrona, tem o seu funcionamento regido por uma equação simbólica, U = (1 – s )·K e · Φ + jω ·N i · Φ + R · I + jX’ · I em que, R é a resistência equivalente do circuito do motor (indutor mais induzido mais compensação) , X’ é uma reactância que inclui a reactância de fugas do enrolamento indutor e do enrolamento induzido e do enrolamento de compensação, Φ o fluxo magnético por polo produzido pela corrente eléctrica I, Ke = (p/a)·Z·ns é uma constante característica da máquina na rede eléctrica de alimentação, Ni é o número total de espiras do enrolamento indutor, e s é o deslizamento, com s = (ns – n)/ns . Diagrama Fasorial — U j ωNi·Φ ϕ R·I E = (1–s)·Ke· Φ j X'I 0 αο Φ I O diagrama fasorial característico deste tipo de motor eléctrico pode ser construído, atendendo a que existe um esfasamento entre o fluxo magnético Φ e a corrente eléctrica que o cria I, dado pelo ângulo de perdas αo do material ferromagnético. 1) definem-se as escalas, e a origem das fases Φ 2) traça-se o fasor representativo do fluxo magnético Φ , e esfasada, em avanço, de um ângulo αo a direcção da corrente eléctrica I. 2 Carlos Castro Carvalho; “Motores Monofásicos Série de Colector”, Porto, 1960 © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 19 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S 3) determina-se, e traça-se o fasor R·I, a partir da sua extremidade o fasor X’·I que está esfasado e m avanço de π/2 rad ( j X’·I). 4) adiciona-se o fasor E = (1 – s)·Ke·Φ , que tem a mesma direcção de Φ . 5) pela extremidade do fasor E , traça-se o fasor jω·Ni·Φ , que se encontra esfasado em avanço de π/2 rad sobre o fasor Φ . 6) o fasor que une a origem 0 com a extremidade do fasor jω·Ni·Φ é o fasor representativo da tensão U, que está esfasado em avanço sobre o fasor da corrente eléctrica de um ângulo ϕ. Esquema Eléctrico Equivalente — Considerando que não existe saturação do circuito magnético da máquina, e que, portanto, o fluxo magnético é proporcional à corrente eléctrica que o cria, Φ = k·I, é possível escrever E = (1 – s)·Ke·Φ = (1 – s)·R´·I . Também jω·Ni·Φ = jXe·I. A equação da tensão para o motor monofásico série compensado com colector de lâminas, passa a ser U = (1 – s )·R ´· I + jX e · I + R · I + jX’ · I = (1 – s )·R ´· I + R · I + jX· I Nestas condições, o motor pode ser representado pela impedância complexa Z = ((1 –s )·R ´ + R ) + jX. A queda de tensão na resistência variável (1–s)·R´ representa a força electromotriz que se desenvolve no circuito eléctrico do induzido. I R U X (1–s)·R´ Grandezas Características — considerando o circuito eléctrico representativo do motor pode determinar-se o valor de algumas grandezas características: Intensidade de corrente eléctrica I = U / [R + (1–s)R´ ]2+ X2 Factor de potência λ = cos ϕ = [R+(1–s)R´] / [R + (1–s)R´ ]2+ X2 Potência activa absorvida P = [R+(1–s)R´]·I2 = ([R+(1–s)R´ ]·U2) / ([R + (1–s)R´ ]2+ X2) Potência transformada Pelectromecânica = (1–s)R´·I2 = ((1–s)R´·U2) / ([R + (1–s)R´ ]2+ X2) 3 Si st e m as P o l i fási c o s Nos sistemas eléctricos de energia utilizam-se sistemas polifásicos de grandezas alternadas sinusoidais, porque se verifica que tais sistemas possuem vantagens sobre o sistema monofásico. Uma das vantagens consiste na possibilidade de fornecimento de uma potência constante, enquanto que o sistema monofásico apenas permite o fornecimento de uma potência pulsatória, em torno de um valor médio. Outra vantagem é a possibilidade de se promover a rectificação da forma de onda, que no caso de um rectificador polifásico terá uma ondulação (“ ripple” ) menor, e portanto fornecerá uma onda rectificada com menor riqueza de harmónicos, do que no caso de um rectificador monofásico. Como se demonstrará adiante, com um sistema polifásico é possível construir uma onda girante de força magnetomotriz, o que é muito importante para assegurar o funcionamento de certo tipo de máquinas eléctricas. Apesar da possibilidade de utilização de vários sistemas polifásicos — difásicos, trifásicos, hexafásicos, ou dodecafásicos — é o sistema trifásico o que maior importância tem, devido a vantagens que levaram à sua vasta aplicação. © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te 3.1 A lt e rn a d a — S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S – 20 – Gr a n dez a s A l t er n a da s S i n uso i da i s P o l i f á si ca s Considera-se um sistema polifásico um conjunto de circuitos monofásicos, com a mesma frequência, ligados entre si ou não, que apresentam certas características comuns. Quando os diferentes sistemas monofásicos não estão ligados constituem um sistema separado. Mas, quando os diferentes sistemas estão ligados, constituem um sistema combinado. Neste caso, todas as fases poderão estar ligadas a um único condutor o neutro, que constitui o circuito de retorno de todos os circuitos das diferentes fases. Num sistema simétrico, o ponto neutro está ao potencial zero, e frequentemente está ligado à terra. i1 u1 2 i2 i3 u31 u23 u1 u2 u3 Fig.10 - Sistema polifásico (m = 3) combinado Assim, um sistema polifásico simétrico é um conjunto de m grandezas sinusoidais, com a mesma frequência, com o mesmo valor eficaz, em que duas grandezas consecutivas estão esfasadas, entre si, de um ângulo múltiplo de 2·π/m. g1 = 2 ·G·cos(ωt + ϕ) g2 = 2 ·G·cos(ωt + ϕ – 2·π/m) … gm = … … 2 ·G cos[ωt + ϕ – (m-1)·2·π/m] Verifica-se que a condição suficiente para que um sistema polifásico seja simétrico é que seja nula a corrente eléctrica no condutor neutro; io = –(i1 + i2 + … + im), porque pela lei de Kirchoff dos nós é i1 + i2 + … + im + io = 0. Como I 1 = Im exp(jϕ), I 2 = Im exp(j(ϕ – 2π/m)), … ,I m = Im exp(j(ϕ – (m–1)·2π/m))) resulta que I 1 + I 2 + …+ I m = Im [exp(j(ϕ)) + exp(j(ϕ – 2π/m)) + … + exp(j(ϕ – ((m–1)·2π/m)))]. Verifica-se que a soma dos m fasores unitários, esfasados, entre si, de 2·π/m, é nula; graficamente formam um polígono regular inscrito numa circunferência, formam um polígono fechado. Assim, io = 0. I3 … I2 Im I1 2·π/m Fig. 11 - Soma de m fasores esfasados entre si de 2·π/m © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 21 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S Um resultado prático desta demonstração é que no caso de um sistema polifásico simétrico o neutro, condutor que está ligado ao ponto de convergência dos ramos de uma estrela, pode ser suprimido. Na realidade, as instalações eléctricas raramente formam um sistema simétrico de grandezas !… Uma das vantagens dos sistemas polifásicos é a possibilidade de obter tensões eléctricas com diferentes valores. Existe tensão simples entre uma fase e o neutro, e tensão composta entre os condutores de duas fases diferentes. m=6 4 Tensão simples 3 5 un1 un 2 un3 un4 un5 u n6 Tensão composta diametral u 1 4 u2 5 u 3 6 u 4 1 u 5 2 u 6 3 n 2 6 1 Tensão composta poligonal u 1 2 u2 3 u 3 4 u 4 5 u 5 6 u 6 1 Fig. 12 - Tensões poligonais e diametrais (m = 2·n) As tensões compostas, no caso dos sistemas polifásicos com um número de fases par, podem ter valores diferentes conforme as fases que se consideram. Nessa situação distinguem-se a tensão diametral, que é a que tem maior valor eficaz, e a tensão poligonal, que é a que tem um menor valor eficaz. Num circuito eléctrico polifásico os diferentes dipolos de cada uma das fases podem estar ligados: em estrela, em poligonal e em zigue-zague. em estrela – os diferentes dipolos estão ligados a um ponto comum. O outro terminal está ligado ao condutor correspondente da rede eléctrica. em poligonal – é uma ligação em série dos diferentes dipolos de forma a efectuar um circuito eléctrico fechado. em zigue-zague – é uma ligação em estrela de enrolamentos polifásicos (activos) em que cada ra Num sistema polifásico a potência instantânea é igual à soma das potências instantâneas de cada uma das fases: p = ∑k uk·ik, com k = 1, … , m . Quando num sistema polifásico com m fases, as tensões e as correntes eléctricas constituem um sistema polifásico simétrico, a potência instantânea do sistema é constante, e é igual à potência média. Este tipo de sistema diz-se de cargas equilibradas. Num sistema polifásico também se define a potência activa do sistema como P = ∑k Pk. A potência reactiva do sistema é Q = ∑k Qk, assim como a potência aparente S = ∑k Sk. Para cada fase verifica-se que Sk2 = Pk2 + Qk2. No entanto só se verifica, para o sistema, que S2 = P2 + Q2, quando for constante o ângulo de esfasamento entre as diferentes © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 22 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S fases do sistema. 3.2 S i st em a T r i f á si co S i m ét r i co Nas redes eléctricas de energia utiliza-se um sistema trifásico porque apresenta algumas vantagens sobre a utilização de um sistema monofásico. Para o mesmo volume e preço da máquina, um alternador trifásico tem uma potência superior a um alternador monofásico. A secção total dos condutores utilizados no transporte de uma dada quantidade de energia é menor do que no caso de um sistema monofásico que, no mesmo tempo, tivesse de transmitir a mesma energia. No sistema trifásico dispõe-se de dois valores de tensão. O sistema trifásico permite utilizar o motor de indução trifásico, que é um motor robusto, de construção simples e muito fiável. Os sistemas trifásicos são sistemas formados por três grandezas alternadas sinusoidais, de igual amplitude e esfasadas de 2π/3 radianos. (f = 50 Hz; T = 20 ms; intervalo entre os zeros de duas fases consecutivas ∆t = 20/3 ≅ 6,7 ms ). g g1 g2 g3 0 t Fig. 13 - Sistema trifásico de grandezas A forma de onda das grandezas de um sistema trifásico simétrico encontra-se na fig. 13, enquanto que a sua representação fasorial se encontra na figura 14. G3 g 1 = √2 G cos ω t 2·π/3 G1 2·π/3 2·π/3 g 2 = √2 G cos( ω t – 2·π/3) g 3 = √2 G cos( ω t – 4·π/3) G2 Fig. 14 - Sistema trifásico de grandezas (directo) — representação fasorial As três grandezas trifásicas, g1 g2 g3 , podem suceder-se segundo duas sequências distintas, formando um sistema de grandezas directo, ou um sistema de grandezas inverso, (tomando como positivo o sentido trigonométrico, ou contrário ao movimento dos ponteiros de um relógio). © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 23 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S Sistema directo Sistema inverso g1 = 2 G cos(ωt + ϕ) g1 = 2 G cos(ωt + ϕ) g2 = 2 G cos(ωt + ϕ – 2·π/3) g2 = 2 G cos(ωt + ϕ + 2·π/3) g3 = g3 = 2 G cos(ωt + ϕ – 4·π/3) 2 G cos(ωt + ϕ + 4·π/3) No caso de um sistema trifásico de tensões existe um ponto, acessível ou não, em que a tensão é nula — trata-se do ponto neutro. Num sistema trifásico de tensões pode-se ter disponível o valor da tensão entre fase e neutro, que na figura 15 está representada pelo fasor U1, ou pelo fasor U2, ou pelo fasor U3: trata-se da t en são si m pl es. Num sistema trifásico de tensões tem-se acessível a tensão entre duas fases, por exemplo U12 = U1 - U2 , que é a t en são c o m po st a. Verifica-se, através da construção geométrica, que e que Uc = 3 Us, U 12 + U 23 + U 31 = 0. Note-se que na, figura 15, como |U1 | = |– U2 | a parte do desenho a ponteado é um losango, em que |U12| é uma diagonal e M o seu ponto médio. Assim, como |U12| = 2·nM = = 2·(|U1 |·sen 60°) = 3 ·|U1 |, ou Uc = 3 ·Us. 3 U3 M n - U2 U3 1 U2 3 1 U1 U1 2 U1 2 2 Fig. 15 - Tensões simples e tensões compostas Na rede eléctrica nacional de distribuição, em baixa tensão, o valor eficaz da tensão simples é 220 V, e o valor eficaz da tensão composta é 380 V. Os circuitos receptores trifásicos são formados por três elementos que podem ser ligados de três formas. ❇ Estrela com o neutro acessível Os elementos estão derivados entre fase e neutro. Portanto, é-lhes aplicada a tensão simples. A lei dos nós aplicada à estrela permite escrever io = i1 + i2 + i3, ou em notação simbólica I o = I 1 + I 2 + I 3. A cada elemento da carga está aplicada a tensão simples, assim = U2/Z2, I3 = U3/Z3. © Manuel Vaz Guedes, 1993 I1 = U1/Z1, I2 = N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 24 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S 2 i1 yo i2 N i3 1 io 3 Fig. 16 - Ligação de receptores em estrela com o neutro acessível Se os três elementos da carga forem iguais, as correntes eléctricas são grandezas iguais, esfasadas de 2π/3 radianos e a sua soma fasorial é nula; não circula corrente eléctrica no condutor neutro. ❋ Estrela sem o neutro acessível 2 y i1 i2 i3 1 3 Fig. 17 - Ligação de receptores em estrela sem neutro acessível No caso da ligação dos receptores em estrela sem neutro acessível, aplicando a lei dos nós, verifica-se a relação entre as diferentes correntes eléctricas i1 + i2 + i3 = 0, ou utilizando a representação simbólica, I 1 + I 2 + I 3 = 0. ▲ Triângulo Nesta situação a cada elemento da carga está aplicada a tensão composta Uc = 3 ·Us, e a corrente eléctrica em cada linha é a diferença das correntes eléctricas em cada ramo que converge nessa linha, I 1 = I 12 – I 31, I 2 = I 32 – I 12, I 3 = I 31 – I 23. 1 D i3 i2 i 2 3 Fig. 18 - Ligação dos elementos do receptor em triângulo © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 25 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S No caso do triângulo ser equilibrado, isto é quando as impedâncias dos elementos são iguais, demonstra-se, por uma construção geométrica análoga à utilizada para a relação entre tensão composta e simples, que a corrente eléctrica na linha é igual a eléctrica em cada ramo do triângulo (corrente na malha); ▲ Ilinh a = 3 ·(IA – IB ) = 3 vezes a corrente 3 ·Imalha Exemplo_3.2–1 — No estudo de um transformador trifásico supõe-se que ele constitui um sistema de cargas equilibradas, em que todos os enrolamentos de um dos lados (primário ou secundário) são iguais. Por isso, só é necessário estudar uma fase do transformador e converter os resultados do estudo desse transformador monofásico para as grandezas trifásicas, atendendo às ligações das fases. Um transformador trifásico Dyo, triângulo–estrela com neutro acessível, tem os valores de tensão nominal U1n = 30 kV, U2n = 400 V e os valores de intensidade da corrente eléctrica I1n = 20 A, I2n = 1 500 A, pode ser P S estudado através da análise do funcionamento de um transformador monofásico: T e n s ão p r im ár ia, U m 1 , — a cada fase do triângulo do primário está aplicada a tensão composta que é o valor da tensão nominal do enrolamento, Um1 = 30 KV. In t e n s idade da c o r r e n t e p r im ár ia, I m 1 — a corrente eléctrica que percorre o enrolamento primário é a corrente na malha do triângulo, enquanto que o valor nominal fornecido é a intensidade de corrente eléctrica na linha, Im1 = Ilinha / 3 , Im1 = 20/ 3 = 11,54 A. T e n s ão s e c u n dár ia, U m 2 — a cada um dos ramos da estrela está aplicada a tensão simples , mas a informação é sobre a tensão nominal, que é um valor composto, Um2 = 400/ 3 = 230,9 V In t e n s idade da c o r r e n t e s e c u n dár ia, I m 2 — a corrente que percorre uma fase do enrolamento secundário é a corrente que circula nas linhas a jusante, Im2 = 1 500 A. Os receptores em corrente alternada trifásica podem ser ligados em estrela ou em triângulo. Existe um teorema, o teorema de Kenelly, ou da transfiguração, que permite passar de uma configuração para outra que lhe é equivalente. Uma malha triangular de impedâncias ZAB, ZBC, ZCA, pode ser substituída por três impedâncias, ZA, ZB, ZC, dispostas em estrela tendo por valor: ZA = ZAB·ZCA ZAB + ZBC + ZCA ZB = ZBC·ZAB ZAB + ZBC + ZCA B ZC = ZCA·ZBC ZAB + ZBC + ZCA B Z AB ZB ZBC A A ZC Z CA C ZA C Fig. 19 - Aplicação do teorema de Kenelly © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 26 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S Note-se que: Z em A = (produto dos Z que convergem em A)/(soma dos Z da malha) As fórmulas para a passagem inversa, estrela–triângulo, são: ZAB = ZAZB + ZBZC + ZCZA ZC ZBC = ZAZB + ZBZC + ZCZA ZA ZCA = ZAZB + ZBZC + ZCZA ZB Note-se que: Z em AB = (somatório de todos os produtos de dois Z da estrela)/(Z do triângulo em C) Exemplo_3.2–2 — No estudo do motor de indução trifásico costuma considerar-se que as três fases do enrolamento estatórico são iguais; portanto, têm a mesma impedância: ZUV = ZVW = ZWU = ZD Quando o enrolamento trifásico estatórico está ligado em triângulo e se conhece a respectiva impedância ZD , pode interessar o estudo da estrela equivalente, ZY = (ZD )2/ 3·ZD = ZD / 3 Quando a informação é relativa a uma estrela ZY e se pretende estudar o triângulo equivalente é: ZD = 3·(ZY)2/ ZY = 3·ZY Num sistema trifásico a potência activa absorvida por um agrupamento de cargas em estrela ou em triângulo é a soma da potência activa absorvida por cada elemento: P = P1 + P2 + + P3 . A potência reactiva absorvida pelo agrupamento é a soma da potência reactiva absorvida por cada elemento: Q = Q1 + Q2 + Q3. A potência aparente absorvida pelo conjunto é dada por S = P2 + Q2 , porque é constante (2·π/3) o esfasamento entre as gradezas de duas fases consecutivas. O factor de potência do conjunto é dado pela razão entre o valor da potência activa e o valor da potência aparente do conjunto, factor de potência λ = P/S. Conforme o tipo de montagem equilibrada utilizada podem obter-se diferentes relações. ❋ Ligação em estrela equilibrada Potência activa — os três receptores estão submetidos à tensão simples U, e são atravessados pelas correntes eléctricas na linha, que têm o mesmo valor eficaz, I. P1 = P2 = P3 = U I cos ϕ como Us = U = Uc/ 3 , resulta que P = P = P1 + P2 + P3 = 3 U I cos ϕ 3 · Uc I cos ϕ. Potência reactiva — Também é Q1 = Q2 = Q3 = U I sen ϕ © Manuel Vaz Guedes, 1993 e Q= 3 Uc I sen ϕ N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 27 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S ▲ Ligação em triângulo equilibrado Potência activa — os três receptores estão submetidos à tensão composta Uc, e são atravessados pelas correntes eléctricas na malha, que têm um mesmo valor eficaz, Ima. P1 = P2 = P3 = Uc Ima cos ϕ P = P1 + P2 + P3 = 3 Uc Ima cos ϕ como Imalha = Ilinha / 3 = I/ 3 resulta que P = 3 · Uc I cos ϕ. Potência reactiva — Também é Q1 = Q2 = Q3 = Uc·Ima·sen ϕ e Q= 3 · Uc·I·sen ϕ Desde que os sistema seja trifásico e esteja equilibrado, as expressões para a potência em corrente alternada, considerando a tensão composta Uc e a corrente eléctrica na linha I, são: P= 3 ·Uc·I cos ϕ; Q= 3 ·Uc·I sen ϕ; S = 3 ·Uc·I; e λ = P/S = cos ϕ Exemplo_3.2–3 — Os valores nominais das grandezas de uma máquina eléctrica são sempre valores máximos. Um motor de indução trifásico tem os seguintes valores nominais de catálogo: Pmec = 4 kW, Uc = 380 V, n = 1 420 rot/min, η = 79 %, λ = cos ϕ = 0,89 Com estes valores é possível determinar: a potência eléctrica absorvida — Pel = Ptotal = Pútil /η = Pmec/η, Pel = 4x103 /0,79 = 5,06 kW como a potência eléctrica absorvida é uma potência activa P = 3 ·Uc ·In ·cosϕ, pode-se determinar a intensidade da corrente eléctrica nominal — In = Pel/( 3 ·Uc ·cos ϕ), In = 5,06x103 /585,8 = 8,6 A Para medir a potência activa utilizam-se wattímetros numa montagem de medida que depende das características do sistema. Se o sistema está equilibrado basta medir a potência consumida por uma fase e multiplicá-la por três. É por isso necessário só um wattímetro numa montagem de medida análoga à da figura 9. Se o sistema trifásico está desequilibrado, é necessário medir a potência consumida por cada circuito e adicionar as três potências. A montagem de medida será constituída por três wattímetros, um por cada fase. Quer o circuito esteja equilibrado, ou não, mas desde que não possua o condutor neutro, a potência total pode ser medida com o auxílio de dois wattímetros, segundo uma montagem de medida como a da figura 20, tendo o devido cuidado na interpretação do sentido do desvio dos ponteiros dos aparelhos. 1 W1 C A 2 W2 R G A 3 Também neste tipo de montagem pode existir a necessidade de utilizar transformadores de Fig. 20 - Montagem com dois wattímetros medida: transformador de tensão TT, e transformador de intensidade TI. Numa máquina eléctrica, através da Técnica dos Enrolamentos para máquinas de © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 28 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S corrente alternada, é possível distribuir um conjunto de condutores pelas ranhuras de um estator, ou de um rotor, de tal forma que a distribuição do enrolamento no espaço, caracterizado pelo ângulo eléctrico α, seja, praticamente, igual à de um bobina com N espiras efectivas com uma distribuição sinusoidal: N(α) = N·cos α. (Note-se que αelect. = p ·θgeomet. , em que p é o número de pares de pólos da máquina). Essa bobina quando é percorrida por uma corrente eléctrica sinusoidal monofásica, i = 2 ·I cos ωt, só pode criar um campo de força magnetomotriz: F = Ni = 2 ·NI cos α cos ωt. Este campo é alternado sinusoidal, e pode-se considerar com a soma de dois campos girantes, com igual amplitude, mas que giram em sentido contrário (Teorema de Leblanc): F (α,t) = Ni = 2 ·NI cos α cos ωt = (1/ 2 )NI[cos (ωt + α) + cos (ωt – α)] 8 9 Com este campo alternado, ou com os dois campos girantes, de igual amplitude mas girando em sentidos contrários, não se consegue produzir um efeito útil numa máquina eléctrica. Uma das formas mais simples para obter um único campo de força magnetomotriz girante num só sentido é com a utilização de um sistema trifásico simétrico de correntes eléctricas. Esta técnica está aplicada no motor de indução trifásico, que é um motor com uma vasta utilização. b' c a c' a' b Fig. 21 - Criação de um campo de forças magnetomotrizes girante Para criar o campo de forças magnetomotrizes girantes a partir de um sistema trifásico de correntes eléctricas, utilizam-se três bobinas distribuídas com o mesmo número de espiras efectivas N, mas esfasadas no espaço do entreferro de 2π/3 radianos eléctricos, a b c Cada uma dará origem a uma força magnetomotriz alternada, e as três adicionar-se-ão no entreferro da máquina, formando um campo girante (Teorema de Ferraris ). N·ia = 2·N·I·cos ωt ·cos α N·ib = 2·N·I·cos (ωt – 2π/3) ·cos (α – 2π/3) F(α,t) = Ni = Nia + Nib + Nic = N·ic = 2·N·I·cos (ωt – 4π/3) ·cos (α – 4π/3) 3·N·I 2 ·cos(ωt – α) O campo girante obtido é uma onda de força magnetomotriz caracterizada por ser função do espaço e do tempo; num dado ponto dos espaço, α fixo, a variação do campo com o tempo é sinusoidal; num dado instante, t fixo, o campo varia sinusoidalmente ao longo da periferia do entreferro. Note-se que o campo de força magnetomotriz girante tem uma velocidade angular ωs com um valor que coincide com o valor da pulsação da corrente alternada sinusoidal que o cria, porque ω = 2·π·f. © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 29 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S Uma das vantagens do sistema trifásico é que promove uma economia no metal dos condutores utilizados, face ao sistema monofásico, quando se pretende transportar a mesma quantidade de energia, com a mesma tensão, com as mesmas perdas, e a uma mesma distância. Demonstra-se que é maior a secção da linha monofásica necessária para o transporte da quantidade de energia: Smono = (4/3) Strif . Quando o sistema de grandezas é trifásico mas assimétrico, o seu estudo pode ser feito através do Método das Componentes Simétricas. Com o auxílio deste método, faz-se a decomposição de um sistema de grandezas trifásicas assimétricas numa soma de sistemas trifásicos simétricos: um directo, um inverso e um homopolar. Devido à sua importância na Teoria das Máquinas Eléctricas, este método será tratado numa publicação específica. 3.3 S i st em a di f á si co Um sistema difásico de grandezas sinusoidais é um sistema formado por duas grandezas com variação sinusoidal no tempo, com igual valor eficaz e esfasadas entre si de π/2 rad. (f = 50 Hz; T= 20 ms; intervalo entre os zeros das duas fases ∆t = 20/2 = 10 ms ) g1 = 2 ·G cos(ωt + ϕ) g2 = 2 ·G cos(ωt + ϕ – π/2) Verifica-se assim que um sistema difásico é constituído por duas fases sucessivas de um sistema tetrafásico (m = 4 ): trata-se de um sistema hemi-tetrafásico. Note-se que um sistema polifásico com m = 2 teria as grandezas em oposição de fase, estariam esfasadas de π rad, e, portanto, com esse sistema de grandezas alternadas não seria possível obter um campo girante, nem se conseguiria fornecer uma potência instantânea constante. Exemplo_3.3–1 — A determinação do valor da potência instantânea num sistema difásico “puro” (m = 2 ⇒ 2π/m = π), com u1 = 2 Ucos(ωt) e i1 = 2 Icos(ωt – ϕ); u2 = 2 Ucos(ωt – π) e i2 = 2 Icos(ωt – ϕ – π), p = u1·i1 + u2·i2 = 2·U·I·cos(ωt)·cos(ωt – ϕ) + 2·U·I·cos(ωt – π)·cos(ωt – ϕ – π) = = 2·U·I cosϕ – 2·U·I·cos(2ωt – ϕ – π) A potência instantânea não é constante, mas depende do tempo t. A determinação do valor da potência instantânea num sistema hemi–tetrafásico (m = 4 ⇒ 2π/m = π/2), com u1 = 2 Ucos(ωt) e i1 = 2 Icos(ωt – ϕ); u2 = 2 Ucos(ωt – π/2) e i2 = 2 Icos(ωt – ϕ – π/2), p = u1·i1 + u2·i2 = 2·U·I·cos(ωt)·cos(ωt – ϕ) + 2·U·I·cos(ωt – π/2)·cos(ωt – ϕ – π/2) = = 2·U·I cosϕ + U·I·(2cos(2ωt – ϕ – π)·cos(π/2)) = 2·U·I cosϕ A potência instantânea não depende do tempo t; é constante e igual à potência média. u2(t) I1 U1 I2 0 u1(t) Uc 0 T/2 U2 T Fig. 22 - Sistema difásico de tensões © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 30 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S Atendendo à relação entre os lados de um triângulo rectângulo, verifica-se que a relação entre a tensão simples e a tensão composta é dada por U c = 2 ·Us; porque a tensão composta é Uc = U1 – U2 Num sistema difásico com cargas equilibradas, no condutor neutro, condutor que está ligado ao ponto de convergência dos ramos de uma estrela, circula uma corrente eléctrica dada por I o = –(I 1 + I 2 ), ou |I o | = 2 ·I. Considerando que o sistema de cargas está equilibrado, a potência média de um sistema difásico é: P = P1 + P2 = 2 Us I cos ϕ ou Portanto, u1(t) = 2 ·U·cos(ωt) P= 2 Uc I cos ϕ i1(t) = 2 ·I·cos(ωt – ϕ) Uc = 2 · Us u2(t) = 2 ·U·cos(ωt – π/2) i2(t) = 2 ·I·cos(ωt – ϕ – π/2) P = 2·U·I·cos(ϕ) = 2 ·Uc·I·cos(ϕ) Um sistema difásico (hemi-tetrafásico) de tensões pode ser obtido mediante uma ligação Scott de transformadores monofásicos. Na ligação Scott, os dois transformadores monofásicos estão dimensionados com a mesma indução magnética, de que resulta a mesma tensão por espira. O transformador base tem o ponto médio do enrolamento primário acessível e o transformador altura tem um dos terminais do primário ligado ao ponto médio do transformador base, o outro terminal está ligado à rede trifásica. T S R M base altura U1 U2 Ligação Scott de Transformadores Monofásicos Com um sistema difásico de tensões também é possível obter, numa máquina eléctrica, um campo girante de forças magnetomotrizes. Para isso constrói-se um sistema de bobinas, com Nk espiras efectivas cada uma, esfasadas no espaço do entreferro de π/2 radianos eléctricos. Cada uma das bobinas é percorrida pela corrente eléctrica de uma fase de um sistema difásico. Cada bobina dá origem a uma força magnetomotriz, Fp= 2 ·NpI cos ωt cos α Fa = 2 ·Na I cos (ωt + π/2) cos (α – π/2) adicionando os efeitos das duas forças magnetomotrizes, F = Fp + Fa = = 2 ·NpI cos ωt cos α + 2 ·Na I cos (ωt + π/2) cos (α – π/2) 2 ·(Np– Na ) I cos ωt cos α + 2 ·Na I cos (ωt + α) Trata-se de um campo de força magnetomotriz formado pela sobreposição de um campo alternado sinusoidal com um campo girante — é um campo elíptico. Com hoje já não existem, salvo em obsoletas instalações eléctricas, sistemas de distribuição de energia eléctrica difásicos simétricos, o campo elíptico só é utilizado em máquinas eléctricas próprias para sistemas de controlo. No entanto, existe um caso em que o campo é utilizado mediante a criação de um sistema difásico, (aproximadamente difásico !…), © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 31 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S na própria máquina: é no m o t o r de i n duç ão m o n o f ási c o . No motor de indução monofásico, mediante a utilização de um condensador, usado permanentemente ou só no momento do arranque, cria-se um sistema difásico (assimétrico) de correntes eléctricas. Como existem duas bobinas no estator da máquina, uma auxiliar e a outra principal, esfasadas de π/2 radianos eléctricos, cria-se um campo elíptico. F = 2 ·(NpIp – Na Ia ) cos ωt cos α + 2 ·Na Ia cos (ωt + α) = {( 2 /2)·(NpIp – Na Ia )·[cos (ωt + α) + cos (ωt – α)]} + = [(1/ 2 )·(NpIp + Na Ia )] cos (ωt + α) campo girante directo 8 2 ·Na Ia cos (ωt + α) + [(1/ 2 )·(NpIp – Na Ia )] cos (ωt – α) 9 campo girante inverso Desta forma consegue-se criar um campo girante directo, com uma amplitude maior do que a do campo girante inverso, o que garante que, no momento de arranque, a máquina possua um campo girante dominante, que o circuito rotórico tenderá a acompanhar. O que não sucede com uma máquina alimentada exclusivamente em tensão alternada sinusoidal monofásica, porque nela existem dois campos girantes de igual amplitude, mas girando em sentidos contrários (Teorema de Leblanc). Neste caso o circuito rotórico não os acompanha porque se anulam os seus efeitos. C p a´ p a p´ a M 1 ~ Fig. 23- Motor de Indução Monofásico Os sistemas difásicos de grandezas alternadas apenas são utilizados para alimentar duas redes monofásicas; caso da sua utilização em Tracção Eléctrica. Isto, porque é possível efectuar a transformação trifásico-difásico com uma simples montagem de transformadores monofásicos: a ligação Scott. Esta montagem de transformadores apresenta virtualidades nas situações de regime de cargas difásicas equilibradas que aconselham a sua aplicação em certas redes de distribuição de energia. 3.4 S i st em a h ex a f á si co O sistema hexafásico é um sistema formado por seis grandezas sinusoidais com o mesmo valor eficaz e esfasadas entre si de π/6 rad. (f = 50 Hz; T = 20 ms; intervalo entre os zeros de duas fases consecutivas ∆t = 20/6 ≅ 3,3 ms ). As respectivas grandezas obedecem à formula geral: gk = 2 ·G cos[ωt + ϕ – (k-1)·2·π/6] 3 5 n com k = 1, 2, …, 6 Este sistema admite uma ligação das cargas em estrela ou em hexágono. Com uma ligação em estrela, a qual pode ter o neutro acessível, podem-se aplicar diversos tipo de tensão: © Manuel Vaz Guedes, 1993 4 6 2 1 Fig. 24 - Sistema hexafásico N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 32 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S tensão simples (entre fase e neutro ) — u1, u2, u3, u4, u5, u6 tensão composta diametral — u14, u25, u36, u41, u52, u63 tensão composta — u13, u24, u35, u46, u51, u62 tensão composta poligonal — u12, u23, u34, u45, u56, u61 Quando existe simetria de cargas a expressão para a potência é: P = 6 Us I cos ϕ. Os sistemas alternados hexafásicos que podem ser obtidos directamente a partir de máquinas síncronas hexafásicas, ou através de uma transformação do número de fases com um transformador trifásico-hexafásico, têm utilização na alimentação de rectificadores. Nos últimos anos têm sido apresentados alguns trabalhos de investigação envolvendo a utilização de máquinas síncronas e de motores de indução hexafásicos. N C e5 B c3 f6 A a1 d4 b2 Bi bl i o g r afi a André Angot; “Compléments de Mathématiques”, Masson et Cie., 1972 Carlos Araújo Sá; “Aspectos Gerais de Máquinas Eléctricas”, FEUP ,1991 Carlos Castro Carvalho; “Motores Monofásicos Série de Colector”, Porto, 1960 Carlos Castro Carvalho; “Apontamentos para a Disciplina de Máquinas Eléctricas II”, AEFEUP, 1983 Carlos Castro Carvalho; “Transformadores”, AEFEUP, 1983 CEI–05; “Vocabulaire Electrotechnique Internationale – Définitions Fondamentales”, Comissão Electrotécnica Internacional, 1954 CEI–50.31–A; “Vocabulaire Electrotechnique Internationale – Circuits et Composantes Polyphséss”, Comissão Electrotécnica Internacional, 1982 CEI–Handbook; “Letter Symbols and Conventions”, Comissão Electrotécnica Internacional, 1983 E. A. Guillemin; “The Matematics of Circuit Analysis”, M IT Press, 1949 Manuel Corrêa de Barros; “Método Simbólico para Estudo das Máquinas de Corrente Alternada”, Porto, 1947 Manuel Corrêa de Barros; “Apontamentos para a Disciplina de Electrotecnia Teórica”, AEFEUP, 1971 Manuel Vaz Guedes; “Grandezas Periódicas Não Sinusoidais”, AEFEUP, 1992 MIT E.E. Staff; “Electrical Circuits”, MIT Press, 1940 © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 33 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S Apêndice A – Representação das Grandezas Alternadas Sinusoidais As grandezas alternadas sinusoidais podem ser representadas de diversas formas, conforme a conveniência do estudo que está a ser feito e dos meios de cálculo disponíveis. Representação matemática Neste tipo de representação utiliza-se uma função matemática para expressar o comportamento da grandeza eléctrica. É o tipo de representação utilizado para caracterizar o valor instantâneo de uma grandeza → g = 2 ·G cos(ωt + ϕ). Representação fasorial No estudo dos sistemas eléctricos de corrente alternada utiliza-se frequentemente a representação fasorial das grandezas eléctricas. Trata-se de uma representação geométrica, na forma polar, que a cada grandeza faz corresponder um fasor caracterizado por um módulo, igual ao valor eficaz da grandeza, | G | = G, a uma dada escala, e uma direcção relativamente a um eixo origem, igual ao ângulo de fase, / G = θ = ωt + ϕ. G |G| θ =ω t + h Fig. A.1 - Representação fasorial Note-se que o valor instantâneo da grandeza alternada sinusoidal g = obtém-se multiplicando por 2 ·G·cos(θ) 2 a projecção do fasor sobre o eixo da origem dos ângulos. Neste tipo de representação as diferentes operações aritméticas sobre as grandezas alternadas sinusoidais traduzem-se por operações geométricas sobre os fasores representativos das diferentes grandezas. No trabalho com grandezas alternadas sinusoidais ocorre frequentemente a associação das duas representações, fasorial e simbólica, sobre o nome de fasor. Representação simbólica É um tipo de representação das grandezas alternadas sinusoidais em que se utilizam números complexos. Uma grandeza é representada por um número complexo G formado por uma parte real, a, e por uma parte imaginária, b, afectada pelo operador j = G = a + j b. –1 ; assim Im G b G = a + jb θ =ω t + h a Re Fig. A.2 - Representação simbólica © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 34 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S O operador j = –1 é caracterizado por promover uma rotação de π/2 rad no sentido directo, ou trigonométrico, quando é aplicado a um fasor. Verifica-se que j2 = –1, j3 = –j, j4 = 1. Baseado no teorema de Euler, e j ß = exp(j ß) = cos ß + j sen ß, que é uma propriedade da função exponencial no domínio complexo, é possível representar uma grandeza alternada sinusoidal com números complexos. G = G e j θ = G exp(jθ) = G (cos θ + j sen θ) = G ·cos θ + j G ·sen θ = a + j b (a.1) Atendendo à correspondência expressa em (a.1), verifica-se que: a = G ·cos θ e b = G ·sen θ Atendendo à figura A.2, também se verifica que: θ = arctg (b/a) e ( a2 + b2 ) G= Para evitar a escrita frequente da função exponencial pode utilizar-se para a representação simbólica das grandezas alternadas sinusoidais uma notação devida a Arthur E. Kenelly (1894) : G = G / θ . O valor instantâneo produto por de uma grandeza alternada sinusoidal obtém-se, tomando o 2 da parte real do fasor alternado G·exp(j (ωt + ϕ)), quando a variação da grandeza é em cosseno g(t) = 2 ·Re(G·exp(j (ωt + ϕ)) = representada pelo f aso r G = G·exp(j ϕ) = G / ϕ . 2 ·G·cos(ωt + ϕ). A grandeza sinusoidal é Na aplicação da notação simbólica aos circuitos eléctricos resulta, para a lei de Ohm em corrente alternada, a expressão U = Z I . Se U = U / 0 e I = I / − φ , o cociente U/I é igual a (U/I)/ φ = Z / φ . Atendendo à figura A.2 pode-se escrever U/I = R + j X = Z . A determinação da derivada, em ordem ao tempo, de uma grandeza sinusoidal pode ser feita com o auxílio da notação simbólica, dg(t )/dt = d[ 2 G co s(ωt + α)]/dt = – ω = ω 2 G·sen (ωt + α) = 2 G·co s(ωt + α + π/2) em notação simbólica é dg(t )/dt = ω〈exp(j(π/2))· 2 G·ex p(j (ω t +α )) = j ω·G·exp(j (ω t )) A derivação em cálculo simbólico traduzir-se-á na multiplicação do fasor representativo da grandeza por jω, ou seja, em multiplicar a grandeza por ω e esfasá-la de π/2 no sentido trigonométrico, avanço. A integração em cálculo simbólico traduzir-se-á na divisão do fasor representativo da grandeza por jω, ou seja em dividir a grandeza por ω e esfasá-la de π/2, no sentido anti-trigonométrico, atraso. As grandezas alternadas sinusoidais, em estudo, podem ser uma função do tempo através do ângulo de fase (ωt + ϕ); b(t) = 2 ·B cos(ωt + ϕ). Nesse caso diz-se que as grandezas são representadas pelo fasor temporal, ou simplesmente pelo fasor B = Bm exp(j ϕ). Mas as grandezas alternadas sinusoidais, também, podem ser apenas função de uma ângulo espacial (α – α o ); f(α) = Fm cos(α – α o ). Então, diz-se que as grandezas são representadas pelo fasor espacial, f = Fm exp(jα o ). A representação simbólica destas grandezas será: b = B exp(jωt), e f = f exp(– j α). © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E C o r r e n te A lt e rn a d a — – 35 – S I S T E M A S P O LI F Á S I C O S Apêndice B – Símbolos para Grandezas e Unidades G RA ND EZA U N I DA D E comprimento l metro m massa m quilograma kg tempo t segundo s ângulo (plano) α, β, γ radiano rad ângulo de rotação θ radiano rad velocidade angular radiano por segundo rad/s força ω, Ω F newton N binário T newton metro N·m energia E, W joule J potência P watt W campo eléctrico E volt por metro V/m potencial (eléctrico) V volt V tensão u, U volt V força electromotriz e, E volt V capacidade C farad F intensidade da corrente eléctrica i, I ampere A campo magnético ampere por metro A/m força magnetomotriz H F, Fm ampere A indução magnética B tesla T fluxo magnético weber Wb potencial vector magnético ψ, φ; Ψ, Φ A weber por metro Wb/m coef. auto-indução L henry H coef. indução mútua M henry H resistência ohm Ω relutância R R, Rm 1 por henry H–1 potência aparente S volt–ampere VA potência activa P watt W potência reactiva Q volt–ampere reactivo v ar factor de potência - - frequência λ f hertz Hz pulsação ω radianos por segundo rad/s diferença de fase radiano rad deslizamento ϕ, φ s - - número de espiras N - - número de fases m - - número de pares de pólos p - - número de rotações por unidade de tempo n rotações por segundo rot/s temperatura absoluta T kelvin K temperatura Celsius t grau Celsius ºC – M VG.93 – © Manuel Vaz Guedes, 1993 N EM E