CONTROLES DEMOCRÁTICOS, PARTICIPAÇÃO E CLIENTELISMO

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civil no conselho de Assistência Social
&21752/(6'(02&5È7,&263$57,&,3$d­2(&/,(17(/,602DVGL¿FXOGDGHVGD
representação da sociedade civil no conselho de Assistência Social
Ângela Vieira Neves
8QLYHUVLGDGHGH%UDVtOLD8Q%
&21752/(6'(02&5È7,&263$57,&,3$d­2(&/,(17(/,602DVGL¿FXOGDGHVGDUHSUHVHQWDomRGDVRFLHGDGH
civil no conselho de Assistência Social
5HVXPR (VWH DUWLJR EXVFD DQDOLVDU D TXHVWmR GDV GL¿FXOGDGHV GD UHSUHVHQWDomR GD VRFLHGDGH FLYLO QR &RQVHOKR
0XQLFLSDOGH$VVLVWrQFLDVRFLDO&0$6GH1LWHUyLDSDUWLUGHTXDWURHOHPHQWRVQDWXUH]DFRPSRVLomRTXDOL¿FDomRGD
UHSUHVHQWDomRHLQÀXrQFLDGRJRYHUQRQRVSURFHVVRVGHFLVyULRV$ERUGDDVWHQV}HVSROtWLFDVSUHVHQWHVQHVVHHVSDoR
público para, assim, analisar os projetos políticos em disputa, os processos de decisão, bem como as práticas políticas
existentes entre as entidades socioassistenciais presentes nos espaços dos conselhos pela via da representação da
VRFLHGDGHFLYLO3DUWHGRSUHVVXSRVWRGHTXHDVSUiWLFDVSROtWLFDV³DQWLGHPRFUiWLFDVSUHGDWyULDV´H[LVWHQWHVLQÀXHQFLDP
RVSURFHVVRVGHFLVyULRVQRVHVWXGRVVREUHGHPRFUDFLDSDUWLFLSDWLYDSDUWLFXODUPHQWHQRVHVSDoRVGRVFRQVHOKRVHTXH
são fundamentais para entender os obstáculos postos no fortalecimento das práticas participativas no contexto da cultura
política brasileira nos diferentes governos locais.
3DODYUDVFKDYHRepresentação, assistência social, controle democrático.
'(02&5$7,& &21752/ &/,(17(/,60$1' 3$57,&,3$7,21 WKH GLI¿FXOWLHV RI FLYLO VRFLHW\ UHSUHVHQWDWLRQ LQ WKH
council of social service
$EVWUDFW7KLVDUWLFOHVHHNVWRH[DPLQHWKHLVVXHRIWKHGLI¿FXOWLHVRIFLYLOVRFLHW\UHSUHVHQWDWLRQLQWKH0XQLFLSDO&RXQFLO
RI6RFLDO6HUYLFH&0$6LQ1LWHUyLIURPIRXUHOHPHQWVQDWXUHFRPSRVLWLRQTXDOL¿FDWLRQVRIUHSUHVHQWDWLRQDQGLQÀXHQFH
JRYHUQPHQW GHFLVLRQPDNLQJ SURFHVVHV ,W DSSURDFKHV WKH SROLWLFDO WHQVLRQV LQ WKLV SXEOLF VSDFH LQ RUGHU WR DQDO\]H
WKHSROLWLFDOSURMHFWVLQWKHGLVSXWHDVZHOODVWKHGHFLVLRQPDNLQJSROLFLHVDQGSUDFWLFHVEHWZHHQWKHSDUWQHUDJHQFLHV
present in the areas of health care councils by means of representation of civil society. It starts from the assumption
WKDWXQGHPRFUDWLFSUHGDWRU\SROLWLFDOSUDFWLFHVLQÀXHQFHWKHGHFLVLRQPDNLQJSURFHVVHVLQWKHVWXGLHVRQSDUWLFLSDWLYH
GHPRFUDF\SDUWLFXODUO\LQWKH&RXQFLOV¶DUHDVZKLFKDUHIXQGDPHQWDOWRXQGHUVWDQGWKHREVWDFOHVSXWLQWKHVWUHQJWKHQLQJ
RISDUWLFLSDWRU\SUDFWLFHVLQWKHFRQWH[WRI%UD]LOLDQSROLWLFFXOWXUHLQWKHYDULRXVORFDOJRYHUQPHQWV
.H\ZRUGVRepresentation, social aid, democratic control.
Recebido em: 27.07.2011 Aprovado em: 20.10.2011
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 213-222, jan./jun. 2012
213
214
Ângela Vieira Neves
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo analisar o
SRWHQFLDO GHPRFUDWL]DGRU GR &0$6 H YHUL¿FDU VH
esse espaço consegue proporcionar uma maior
SXEOLFL]DomR GD SROtWLFD GH $VVLVWrQFLD 6RFLDO
contribuindo com a construção de uma nova forma de
decidir as políticas públicas. Trata-se de um estudo
sobre o caso do Conselho Municipal de Assistência
6RFLDO&0$6GH1LWHUyLUHDOL]DGRSRUXPJUXSRGH
SHVTXLVD1TXHVHSURS}HDPRVWUDUDSDUWLFLSDomRGD
sociedade civil a partir de uma disputa entre culturas
politicas nos diferentes espaços públicos na busca
GD GHPRFUDWL]DomR GR (VWDGR D SDUWLU GD SDUWLOKD
do poder com a população nas decisões públicas.
3DUWHVHGRSUHVVXSRVWRGHTXHDVSUiWLFDVSROtWLFDV
“antidemocráticas” e “predatórias” existentes
LQÀXHQFLDP RV SURFHVVRV GHFLVyULRV QRV HVWXGRV
sobre democracia participativa, particularmente nos
HVSDoRV GRV FRQVHOKRV H TXH VmR IXQGDPHQWDLV
para entender os obstáculos e limites postos no
fortalecimento das práticas participativas nos
diferentes governos locais. Chamam-se práticas
antidemocráticas
e
predatórias,
elementos
presentes no cotidiano da política entre sociedade
FLYLO H R JRYHUQR TXH DSDUHFHP GH YiULDV IRUPDV
autoritarismo,
corporativismo,
clientelismo,
LQÀXrQFLDGRJRYHUQRXVRGRGLQKHLURS~EOLFRSDUD
¿QV SULYDGRV HP GHWULPHQWR GR LQWHUHVVH S~EOLFR
(VWH DUWLJR UHYHOD DV DPELJLGDGHV QRV DUUDQMRV
SDUWLFLSDWLYRV PRVWUDQGR DV WHQV}HV H FRQÀLWRV
gerados no uso do dinheiro público, ou seja, na
decisão do orçamento público via a existência
de conselhos gestores de política. Desejar-se
FKDPDU D DWHQomR SDUD HVVDV SUiWLFDV TXH VH
tornam visíveis em tempos de democracia, práticas
perversas à democracia participativa e colocadas
HP [HTXH FRP D LGpLD GR FRQWUROH GHPRFUiWLFR GD
sociedade civil sobre o governo, e seu poder de
¿VFDOL]DomR ,VVR UHSUHVHQWD XP DYDQoR SDUD D
GHPRFUDFLD H VHXV SURFHVVRV GHFLVyULRV TXH VH
ampliam com o aparecimento desses inúmeros
arranjos participativos na sociedade brasileira a
partir dos anos de 1990. Revelar essas contradições
e seus mecanismos de fortalecimento é objetivo
deste texto, na busca do fortalecimento do Estado
GHPRFUiWLFR GH GLUHLWRV H QD IUDJLOL]DomR GHVVDV
práticas “predatórias” presentes na cultura política
brasileira na construção de políticas públicas.
2 APROXIMAÇÕES
CONCEITUAIS
LITERATURA SOBRE A QUESTÃO
CONTROLE DEMOCRÁTICO
NA
DO
$SULPHLUDTXHVWmRTXHVHGHYHGLVWLQJXLUpD
ideia de participação da sociedade civil num campo
de disputa entre projetos societários: o projeto
neoliberal e o projeto democrático-popular. Essa
TXHVWmR QRV p FDUD Mi TXH D OXWD SRU GLUHLWRV QR
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 213-222, jan./jun. 2012
%UDVLO±FRPD&RQVWLWXLomR)HGHUDO±UHSUHVHQWDD
OXWDFRQWUDDRIHQVLYDQHROLEHUDO$VHJXQGDTXHVWmR
p HQIDWL]DU D LGHLD GH SDUWLFLSDomR GD VRFLHGDGH
civil, no sentido de fortalecer os “sujeitos políticos
coletivos” e as lutas sociais em torno de direitos,
para reforçar o projeto democrático popular. Essa
ideia – apesar de ter limites na ordem capitalista –
representa, na atualidade, uma luta para estimular
e fortalecer o controle social e democrático, através
dos arranjos participativos presentes na cultura
política brasileira.
A esse respeito, há uma ampla literatura sobre
RFRQFHLWRGHFRQWUROHVRFLDOTXHPDUFDDWUDMHWyULD
GD HVTXHUGD QR %UDVLO QD GHIHVD GD SDUWLFLSDomR
social dos sujeitos políticos coletivos nas decisões
da política. A partir do referencial teórico do marxista
LWDOLDQR*UDPVFLHPTXHQmRH[LVWHXPDRSRVLomR
entre sociedade política e sociedade civil, mas uma
UHODomR RUJkQLFD SRGHVH LQIHULU TXH R ³FRQWUROH
social” acontece na disputa entre essas classes pela
hegemonia na sociedade civil e no Estado.
A expressão “controle social” tem sido alvo
das discussões e práticas recentes de diversos
segmentos da sociedade como sinônimo de
SDUWLFLSDomRVRFLDOQDVSROtWLFDVS~EOLFDV1R%UDVLO
durante o período da ditadura, foi exercido através
do Estado autoritário sobre o conjunto da sociedade,
por meio de decretos secretos, Atos institucionais
H UHSUHVVmR 1R SHUtRGR GH GHPRFUDWL]DomR GR
SDtV HP XPD FRQMXQWXUD GH PRELOL]DomR SROtWLFD
principalmente na segunda metade da década de
1980, o debate sobre a participação social voltou
à tona, com uma dimensão de controle de setores
RUJDQL]DGRVGDVRFLHGDGHFLYLOVREUHR(VWDGR
Segundo Maria Valéria Costa Correia (2005) a
expressão “controle social” tem origem na sociologia,
HP 'XUNKHLP 'H IRUPD JHUDO p HPSUHJDGD SDUD
GHVLJQDURVPHFDQLVPRVTXHHVWDEHOHFHPDRUGHP
social, disciplinando a sociedade e submetendo
os indivíduos a determinados padrões sociais e
SULQFtSLRVPRUDLV1DWHRULDSROtWLFDRVLJQL¿FDGRGH
“controle social” é ambíguo, podendo ser concebido
em sentidos diferentes a partir de concepções
de Estado e de sociedade civil distintas. Tanto é
empregado para designar o controle do Estado
VREUHDVRFLHGDGHTXDQWRSDUDGHVLJQDURFRQWUROH
GD VRFLHGDGH RX GH VHWRUHV RUJDQL]DGRV QD
sociedade) sobre as ações do Estado.
1RV DQRV FRP D GHPRFUDWL]DomR GD
VRFLHGDGH D OLWHUDWXUD XWLOL]D HVVH FRQFHLWR QR
sentido de fortalecer a chamada sociedade civil.
7DOFRQFHLWRpXWLOL]DGRSDUDVHFRQWUDSRUDR(VWDGR
FHQWUDOL]DGRUjVSUiWLFDVDXWRULWiULDVFOLHQWHOLVWDVH
SRSXOLVWDV HQWUH RXWUDV GLFRWRPL]DQGR R FRQFHLWR
de sociedade civil e Estado. Neste sentido, desejase chamar atenção para o uso do conceito de
controle social e controle democrático. A idéia é
pensar: como a sociedade civil pode ter poder de
LQÀXHQFLDUDSROtWLFD"&RPRDVRFLHGDGHFLYLOSRGH
&21752/(6 '(02&5È7,&26 3$57,&,3$d­2 ( &/,(17(/,602 DV GL¿FXOGDGHV GD UHSUHVHQWDomR GD VRFLHGDGH
civil no conselho de Assistência Social
decidir sobre as políticas públicas, no sentido de
VRFLDOL]DomRGDSROtWLFD"(FRPRID]HUR(VWDGRVH
GHPRFUDWL]DU"
Nesse aspecto, devemos substituir a ideia
de “controle social”, por controle democrático,
ou seja, pela capacidade da sociedade civil2 em
dar a direção político-ideológica na construção
da hegemonia3; para ampliar as decisões sobre o
Estado. Concordamos com as argumentações de
3HUHLUDSTXHGH¿QHRFRQFHLWRGHFRQWUROH
democrático
Por melhor expressar o movimento
TXH HVWi QD EDVH GD IRUPDomR GHVVHV
órgãos colegiados: a regulação, pelos
cidadãos, do Estado e de instituições
da sociedade, com vista à ampliação da
democracia.
A historicidade, os sujeitos políticos e coletivos
devem ser resgatados a partir da ruptura com práticas
TXHSHUSHWXDPRDXWRULWDULVPRRFRQWUROHDVWURFDV
o clientelismo, o populismo e o favoritismo. Assim,
pQHFHVViULRTXDOL¿FDUDSDUWLFLSDomRGDVRFLHGDGH
civil, no sentido de fortalecer a sua representação, seu
SRGHU GH LQÀXHQFLDU D SROtWLFD GH GHFLGLU UHDOPHQWH
VREUHDVTXHVW}HVGR(VWDGRSDUDLQWHUYLUHDPSOLDU
processos decisórios. Esses arranjos participativos,
TXH HFORGLUDP QR ¿QDO GRV DQRV GH H KRMH
já consolidados institucionalmente, precisam ser
PHOKRU TXDOL¿FDGRV H DFHLWRV QD SDUWLOKD GR SRGHU
GHGHFLVmRMXQWRDR(VWDGR(VVHpRJUDQGHGHVD¿R
para fortalecer o Estado democrático de direito.
$OLWHUDWXUDWHPDSRQWDGRPXLWDVGL¿FXOGDGHV
nessa relação entre Estado e Sociedade civil,
principalmente na partilha do poder de decisão4, onde
se busca dar transparência aos gastos públicos. O
objetivo desses conselhos é construir uma cultura
S~EOLFD GH GLUHLWRV FRORFDQGR HP [HTXH D IRUPD
GH VH ID]HU SROtWLFD QR %UDVLO D SDUWLU GH UHODo}HV
PHUDPHQWH SULYDGDV H FRUSRUDWLYDV QDV TXDLV D
coisa pública é tratada como algo privado, e onde
se exclui a participação da sociedade nos processos
decisórios do Estado na construção de políticas
S~EOLFDV 1HVVH FHQiULR HP TXH D &RQVWLWXLomR p
promulgada, são feitas alterações importantes nos
marcos da construção de um Estado de direito e de
XPSURFHVVRGHPRFUiWLFRQRTXDOPXQLFtSLRVIRUDP
criados e novos instrumentos de gestão, como os
conselhos gestores, se multiplicam. Segundo dados
GR ,QVWLWXWR %UDVLOHLUR GH *HRJUD¿D H (VWDWtVWLFD ±
,%*(RSDtVFRQWDKRMHFRPPXQLFtSLRV
( QR TXH VH UHIHUH DRV &RQVHOKRV GH $VVLVWrQFLD
VRFLDO HP GH DFRUGR FRP 'DGRV GR ,%*( 3HU¿OGRV0XQLFtSLRV%UDVLOHLURV$VVLVWrQFLDVRFLDO
TXDVHWRGRVRVPXQLFtSLRVEUDVLOHLURV
possuíam Conselho Municipal de Assistência Social.
Em 2005, eram 98,8%. Em relação à composição
dos Conselhos, houve aumento dos não paritários.
Entretanto, 58,0% detinham maior representação
da sociedade civil em 2009. Sobre o caráter deles,
registra-se decréscimo na proporção de municípios
com conselhos deliberativos (de 94,8% em 2005
para 91,6% em 2009).
Essa ampliação institucional representa um
avanço para o fortalecimento da esfera pública e
do controle democrático. Por outro lado, torna-se
R PDLRU GHVD¿R SDUD R IRUWDOHFLPHQWR GDV SROtWLFDV
sociais públicas frente à cultura privatista do
(VWDGR %UDVLOHLUR H j H[FOXVmR GD VRFLHGDGH FLYLO
QRVSURFHVVRVGHGHFLVmRQR%UDVLOGHVGHRVDQRV
de1930 até 1988. A Constituição Federal representou
um divisor de águas na luta pelos direitos sociais,
SHODD¿UPDomRHFRQVROLGDomRGD6HJXULGDGHVRFLDO
em particular da Política de Assistência Social.
Porém, a implementação legal não garante
SRU VL Vy R VHX IRUWDOHFLPHQWR SRUTXH GHSHQGH GD
relação entre cultura e política existente nas práticas
do Estado e da própria sociedade civil na ruptura com
práticas antidemocráticas e predatórias, perversas
j GHPRFUDFLD DTXL GHVWDFDPVH R FOLHQWHOLVPR H
patrimonialismo do Estado brasileiro no uso do
GLQKHLUR S~EOLFR 8PD GDV SULQFLSDLV GL¿FXOGDGHV
no fortalecimento da democracia participativa é a
YRQWDGHGRJRYHUQRHQWHQGHUTXHHVVHpRPHOKRU
caminho para fortalecer a democracia e as decisões
públicas, no sentido da transparência, e partilha do
poder de decisão com a sociedade civil.
3 O DESAFIO DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA
NOS CONSELHOS GESTORES
$ TXHVWmR GD UHSUHVHQWDomR SROtWLFD H
a crise de representação foram fundamentais
para a ampliação dos estudos sobre democracia
SDUWLFLSDWLYD H VXDV FRQWUDGLo}HV QR %UDVLO $
literatura nacional e internacional destaca e analisa
TXDO WLSR GH UHSUHVHQWDomR VXUJH QHVVHV DUUDQMRV
participativos.
Em um recente estudo sobre a representação
SROtWLFD HP RUJDQL]Do}HV FLYLV *XU]D /DYDOOH
+RXWW]DJHU H &DVWHOOR WDPEpP D¿UPDP
XPD UHFRQ¿JXUDomR GD UHSUHVHQWDomR D SDUWLU
GH RUJDQL]Do}HV FLYLV DSRQWDQGR SDUD WDLV
RUJDQL]Do}HV FRPR QRYDV LQVWkQFLDV PHGLDGRUDV
HQWUH UHSUHVHQWDQWHV H UHSUHVHQWDGRV PDV TXH
não substituem o papel da representação política
WUDGLFLRQDO0DVRTXHVXVWHQWDDOHJLWLPLGDGHGHVWD
³RXWUD´UHSUHVHQWDomR"*XUJD/DYDOOH+RXWW]DJHUH
&DVWHOORSUHVVDOWDPTXH
Inexistem critérios de legitimidade
FULVWDOL]DGRVSDUDFLPHQWDUDUHOHYkQFLD
KLVWyULFD DGTXLULGDV SRU QRYDV SUiWLFDV
canais e atores envolvidos em tarefas
de representação política.
Tais canais, ao conjugarem mecanismos de
representação, participação e accountability, acabam
SURGX]LQGRXPDUHSUHVHQWDomRGLIHUHQFLDGDGDTXHOD
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 213-222, jan./jun. 2012
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216
Ângela Vieira Neves
legitimada pelos processos eleitorais, gerando uma
tensão no exercício das práticas políticas e do poder
local.
/FKPDQQ H $YULW]HU D¿UPDP
TXHDUHSUHVHQWDomRSROtWLFDDSDUWLUGHH[SHULrQFLDV
de instituições participativas representa uma
reelaboração da noção de representação, e não
uma distorção do sistema representativo. Ou seja, a
participação não substitui os processos tradicionais
GH UHSUHVHQWDomR SROtWLFD PDV UHFRQ¿JXUD H
TXDOL¿FD D UHSUHVHQWDomR FRP YLVWDV j DPSOLDomR
do conceito de democracia.
Neves (2008), na mesma direção dos autores
anteriores, chama a atenção para os efeitos políticos
TXH HVVHV DUUDQMRV SDUWLFLSDWLYRV WUD]HP SDUD R
FHQiULRGDGHPRFUDFLDQR%UDVLO$DXWRUDGHVWDFDD
ideia de “tensão” e “hibridismo” dos representantes
da sociedade civil ao acionarem ao mesmo tempo
PHFDQLVPRVTXHUHIRUoDPRSRWHQFLDOGHPRFUiWLFR
desses arranjos participativos, e mecanismos
DQWLGHPRFUiWLFRVGHSUiWLFDVSROtWLFDVTXHUHIRUoDP
RFOLHQWHOLVPRGHVSROLWL]DQGRDLGHLDGHSDUWLFLSDomR
H UHSUHVHQWDomR GHVVD VRFLHGDGH FLYLO TXH RFXSD
esses arranjos participativos. Essa relação entre
representação e participação aparece como um
GRV GHVD¿RV QD DPSOLDomR GH GLUHLWRV VRFLDLV
e fortalecimento desses públicos participativos.
1HVVH VHQWLGR D SHVTXLVD UHDOL]DGD QR &0$6 GH
1LWHUyL DSRQWD H UHYHOD DOJXPDV TXHVW}HV D VHUHP
DQDOLVDGDVHUHÀHWLGDVQFRQWH[WRGDFXOWXUDSROtWLFD
brasileira.
$ 3(648,6$ o &0$6 GH 1LWHUyL QDWXUH]D
FRPSRVLomRHVHXSURFHVVRGHTXDOL¿FDomR
da Política de Municipal de Assistência Social. (RIO
DE JANEIRO, 1996).
2 &0$6 p UHVSRQViYHO SRU QRUPDWL]DU
DV Do}HV H UHJXODUL]DU D SUHVWDomR GH VHUYLoRV
JDUDQWLU D HIHWLYDomR GR VLVWHPD GHVFHQWUDOL]DGR H
participativo, convocar a Conferência de Assistência
Social, disciplinar os procedimentos de repasse de
recursos e os demais dispostos na Lei nº. 1549 de
25 de novembro de 1996, para efetivação na área de
Assistência Social Municipal e garantia do controle
social como espaço de participação da população. O
conselho é composto por 14 membros titulares, sendo
VHWH UHSUHVHQWDQWHV JRYHUQDPHQWDLV TXH VmR
nomeados e indicados pelas diferentes Secretarias,
e 07 (sete) representantes da sociedade civil, eleitos
em fórum próprio, amplamente divulgado. Na sua
composição, os representantes do governo são
das seguintes áreas: Educação, Saúde, Assistencia
6RFLDO)D]HQGD6HFUHWDULD0XQLFLSDOGH8UEDQLVPR
e Controle e Procuradoria Geral do Município. Assim,
a representação da sociedade civil é composta por:
01 (um) representante de entidades de Portadores
GH'H¿FLrQFLDVXPUHSUHVHQWDQWHGHHQWLGDGH
TXH DWXH QD iUHD GH SHVVRD LGRVD GRLV
UHSUHVHQWDQWHVGHHQWLGDGHTXHDWXHFRPFULDQoDVH
ou adolescentes, 01 (um) representante de entidade
TXHDWXHPQRFDPSRGHFDSDFLWDomRHRXGHIHVDGH
direito nas áreas afetadas à Assistência Social; 01
(um) representante de associações comunitárias;
01 (um) representante de trabalhadores do setor de
$VVLVWrQFLD 6RFLDO 1R TXH VH UHIHUH j VRFLHGDGH
civil, há um processo eleitoral5 dentro do conselho,
onde são indicados seus representantes.
5 A DIFICULDADE DA REPRESENTAÇÃO
Os Conselhos de Assistência Social se
FODVVL¿FDP QD FDWHJRULD GH FRQVHOKRV JHVWRUHV
e, como tal, possuem o papel de órgão mediador
na relação sociedade/Estado, e estão inscritos
QD &RQVWLWXLomR )HGHUDO GH QD TXDOLGDGH
de instrumento de expressão, representação e
participação da sociedade civil. São conselhos
deliberativos de composição paritária entre
representantes do governo e de entidades da
VRFLHGDGH FLYLO $ SHVTXLVD DQDOLVD D JHVWmR
2008\2010 do CMAS de Niterói, a partir de
TXDWUR HOHPHQWRV VXD FRPSRVLomR D QDWXUH]D D
UHSUHVHQWDomR GD VRFLHGDGH FLYLO H D LQÀXHQFLD GR
governo nos processos de decisão do conselho.
O Conselho Municipal de Assistência Social,
vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Social
foi implantado em Niterói por meio da lei municipal
nº 1549 de 25 de novembro de 1996. O regimento
LQWHUQR GR &0$61,7 GH¿QH R FRQVHOKR FRPR
“colegiado máximo” da Assistência Social no âmbito
do município. Exercerá Funções deliberativas,
normativas e informativas, atuando na formulação
de estratégias, com o objetivo de estabelecer,
DFRPSDQKDUFRQWURODU¿VFDOL]DUHDYDOLDUDH[HFXomR
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 213-222, jan./jun. 2012
2V GHVD¿RV GRV FRQVHOKRV JHVWRUHV SDUD D
efetivação do controle democrático são inúmeros.
8PD TXHVWmR EDVWDQWH DFHQWXDGD p D GL¿FXOGDGH
da representação governamental - há uma alta
rotatividade de representantes do governo. Onde
FDUDFWHUL]DFRPRXPGHYHUDPDLVXPDREULJDomRD
PDLVHPVXDVWDUHIDVSUR¿VVLRQDLVGHQWURGRVyUJmRV
TXH RV LQGLFDUDP JHUDOPHQWH VmR 6HFUHWiULRV GH
governo e funcionários públicos. Essa alternância
do poder fragmenta a agenda política das demandas
dos conselhos, não dando continuidade às decisões
tomadas nas diferentes gestões. Há uma frágil
FXOWXUDGH³SXEOLFL]DomR´GDVGHFLV}HVGRVFRQVHOKRV
H XPD IRUWH FXOWXUD GH SHUVRQDOL]DomR RQGH VH
distingue esse espaço como um espaço de técnicos,
HP GHWULPHQWR GD SROtWLFD 2XWUD TXHVWmR PXLWR
presente nos conselhos gestores, particularmente
nos Conselhos de Assistência social é a chamada
representação da sociedade civil. Há um fenômeno
TXHFKDPRDTXLGH³RQJXL]DomRGDVRFLHGDGHFLYLO´
D TXDO p IRUPDGD SRU HQWLGDGHV GD VRFLHGDGH FLYLO
TXH SUHVWDP VHUYLoRV j VRFLHGDGH QRV GLIHUHQWHV
PXQLFtSLRV XWLOL]DQGR HVVH HVSDoR S~EOLFR FRPR
&21752/(6 '(02&5È7,&26 3$57,&,3$d­2 ( &/,(17(/,602 DV GL¿FXOGDGHV GD UHSUHVHQWDomR GD VRFLHGDGH
civil no conselho de Assistência Social
uma forma de repasse da verba pública para
VXDV HQWLGDGHV TXH HP JHUDO VmR ¿ODQWUySLFDV
VHP XP PHFDQLVPR PDLV H¿FD] GH ¿VFDOL]DomR$
disputa nesses espaços, nesses conselhos é pela
representação de sua entidade, em detrimento da
representação dos usuários e da política pública a
TXHHVWmRYLQFXODGRV
3HUFHEHVH TXH PXLWRV FRQVHOKHLURV HVWmR
ali no conselho para garantir recursos para suas
HQWLGDGHV ¿ODQWUySLFDV H QmR SDUD FRQVWUXLU
FROHWLYDPHQWHRTXHVHULDGHLQWHUHVVHS~EOLFRHP
defesa da Política de Assistência Social. Nesse
DVSHFWR R FRQVHOKR ¿FD UHVWULWR DR SDSHO GH VHU
¿VFDOL]DGRUHQmRFRPRXPDLQVWkQFLDTXHIRUWDOHoD
a Política de Assistência Social no sentido do controle
social. Isso representa um retrocesso na política, na
FRQVROLGDomRGDGHPRFUDFLDSDUWLFLSDWLYD2GHVD¿R
GHVVDUHSUHVHQWDomRpID]HUFRPTXHHOHVSRVVDP
lutar por direitos universais e construir políticas
S~EOLFDV 3RUpP R TXH VH UHSURGX] QDV SUiWLFDV
GHVVHV UHSUHVHQWDQWHV p TXH HOHV XWLOL]DP YHUEDV
S~EOLFDV SDUD ¿QV FRUSRUDWLYRV SDUWLFXODULVWDV GH
VXDVHQWLGDGHVRTXHQmRDMXGDQDFRQVWUXomRGD
política de Assistência Social, pois prestam serviços
TXHVmRLQWHUURPSLGRVHQmRWrPFRQWLQXLGDGHSRUTXH
dependem das verbas e de seus projetos vinculados
DRV VHUYLoRV 2EVHUYDPRV TXH RV FRQVHOKRV
IRUDP FRQWDPLQDGRV SHOD OyJLFD QHROLEHUDO TXH RV
LQVWUXPHQWDOL]DFRPRXPDIHUUDPHQWDDPDLVQRXVR
GRGLQKHLURS~EOLFRTXHQHVVHFDVRH[LPHR(VWDGR
de criar políticas públicas. A entrevista abaixo
FRQ¿UPDHVWDTXHVWmR
2FRQVHOKRHOHQmR¿VFDOL]D1mRQmR
cria política. Não constrói política agente
só encaminha a política nas conferências
H PXLWDV YH]HV FKHJD QD >FRQIHUrQFLD@
QDFLRQDO e Vy XPD SURSRVWD YRFr ¿FD
desacreditado aí você vem pra cá pra
¿VFDOL]DU H TXDQGR ¿VFDOL]D HX VRX
muito rígido. (Informação verbal)6.
+iXPDSUiWLFDSROtWLFDHQUDL]DGDQDSROtWLFD
EUDVLOHLUD TXH WUDWD R GLQKHLUR S~EOLFR FRPR DOJR
privado, de poucos, dos eleitos e representantes
TXH GHFLGHP R TXH ID]HU FRP R GLQKHLUR S~EOLFR
sem consultar a sociedade. O conselho existe
MXVWDPHQWH SDUD TXHEUDU HVVD UHODomR KLVWyULFD
principalmente na área da Assistência Social,
PDUFDGDSHOD¿ODQWURSLDSULYDGD
Nesse sentido, um dos princípios para o
fortalecimento da democracia participativa é “o
controle democrático”, ou seja, é a ampliação
da participação da sociedade civil nas decisões
públicas. No entanto, após a década de 1990, com
a implementação de muitos conselhos gestores por
GHFLVmROHJDOQXPDIRUPDGHID]HUXPDPXGDQoDQR
PRGRGHVHID]HUSROtWLFDQR%UDVLORVDYDQoRVVmR
SHTXHQRVSt¿RV,VVRHVWiYLQFXODGRjIUDJLOLGDGHGD
UHSUHVHQWDomR H SRU FRQVHTXrQFLD j UHSURGXomR
Tabela 1 - Opinião dos conselheiros da sociedade civil e do
Governo sobre o processo de deliberação
Resposta
Representantes
da Sociedade
Civil
Representantes
do Governo
$SURYRQDFRQ¿DQoD
as contas públicas
06
04
1mRDSURYR
02
1mRKiVRFLDOL]DomRGD
LQIRUPDomRSHORJRYHUQR
06
)DOWDFDSDFLGDGHWpFQLFD
dos conselheiros
02
04
+iXPDIRUWHLQÀXHQFLDQRV
SURFHVVRVGHFLVyULRVGD
6HFUHWDULDGHDVVLVWrQFLDQR
conselho
06
)RQWH3HVTXLVD?&0$61LWHUyL
de práticas políticas antidemocráticas, predatórias,
no sentido do fortalecimento da esfera pública, do
interesse público.
$ 7DEHOD UHIRUoD HVVD TXHVWmR SRLV XP
GRV GHVD¿RV GRV FRQVHOKRV HVWi QD EXVFD GH VH
romper a relação entre público e privado no trato
da construção de políticas públicas pelo Estado. O
GHVD¿R HVWi QD GHIHVD GRV LQWHUHVVHV S~EOLFRV H
QD GHPRFUDWL]DomR GDV VXDV UHODo}HV QR VHQWLGR
de combater a corrupção mediante a ampliação
dos processos decisórios entre sociedade civil e o
Estado.
A Tabela 1 mostra as respostas dos
HQWUHYLVWDGRV HP TXH WDQWR RV FRQVHOKHLURV GD
VRFLHGDGHFLYLOTXDQWRGRJRYHUQRQRSURFHVVRGH
GHFLVmR UHYHODP TXH DV FRQWDV VmR DSURYDGDV QD
³FRQ¿DQoD´VHPWHUDFHVVRjLQIRUPDomRQRWHPSR
devido para a tomada de decisões. Isso aponta
RXWUDTXHVWmRFRQVWDWDGDQDSHVTXLVDVREUHDIRUWH
LQÀXrQFLD QRV SURFHVVRV GHFLVyULRV GD 6HFUHWDULD
sobre a sociedade civil, ou seja: no processo
de decisão, a informação sobre a pauta ainda é
FHQWUDOL]DGDQRJRYHUQRRTXHLPSHGHDVRFLHGDGH
FLYLOGHWHUPDLRUSRGHUGHLQÀXrQFLDQDVGHFLV}HV
GR FRQVHOKR$ TXHVWmR GD ³FDSDFLWDomR WpFQLFD´ p
XPDTXHVWmRSUHVHQWHQDOLWHUDWXUDVREUHFRQVHOKRV
MiTXHSDUDRJRYHUQRRHVSDoRGRFRQVHOKRGHYH
ser entendido como um espaço de técnicos, “um
debate de especialistas”; para a sociedade civil
HVVHFRQVHOKRpPDLVGRTXHXPGHEDWHWpFQLFRp
XP HVSDoR GH GHFLV}HV SROtWLFDV TXH IRUWDOHoDP D
Política Pública de Assistência Social.
6 A DIFÍCIL “AUTONOMIA” DA SOCIEDADE
&,9,/ LQÀXrQFLD GR JRYHUQR QRV SURFHVVRV
decisórios
8PDGDVTXHVW}HVTXHDSDUHFHPQDOLWHUDWXUD
e nas inúmeras experiências de democracia
SDUWLFLSDWLYDFRPRRFDVRDTXLHVWXGDGRpDIDOWDGH
autonomia política da sociedade civil no processo de
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 213-222, jan./jun. 2012
217
218
Ângela Vieira Neves
GHFLVmRGHGHOLEHUDomRGDSROtWLFDTXHYHPVHPSUH
YHP PDUFDGD SHOD FHQWUDOL]DomR GR JRYHUQR (VVD
TXHVWmR WDPEpP IRL YHUL¿FDGD QHVVH HVWXGR RQGH
R JRYHUQR DTXL UHSUHVHQWDGR SHOD 6HFUHWDULD
de Assistência Social e seus representantes
JRYHUQDPHQWDLVGH¿QHPGHVGHDSDXWDGDUHXQLmR
DR GLUHFLRQDPHQWR GDV GHFLV}HV QDV TXDLV RV
representantes da sociedade civil pouco interferem
ou têm pouco poder de decisão.
9HUL¿FDVHSRUWDQWRDUHODomRGHSRGHUHQWUH
a Secretaria Municipal de Assistência Social e o
FRQVHOKR3HUFHEHVHTXHVHHVWDEHOHFHDLQGDXPD
relação de dependência com a Secretaria Municipal
GH$VVLVWrQFLD6RFLDORXVHMDFRQVWDWDVHTXHH[LVWH
XPFHQiULRRQGHVHUHSURGX]RFOLHQWHOLVPRSROtWLFR7,
GL¿FXOWDQGRDDXWRQRPLDSROtWLFDGDVRFLHGDGHFLYLOH
o poder de decisão do conselho frente a construção
da Política de Assistência Social.
Um depoimento colhido nas entrevistas
FRQ¿UPDHVVDTXHVWmR
Não é uma relação de igualdade, ainda
não é uma relação de autonomia. Eu
GLJRDLQGDSRUTXr"3RUTXHHXDFUHGLWR
TXH DLQGD YDL VHU XP GLD$LQGD H[LVWH
certa relação de subalternidade em
UHODomRjDXWDUTXLD9RFrDLQGDQmRVH
Yr FRP DTXHOD DXWRQRPLD FRP DTXHOD
independência necessária. (Informação
verbal)8.
Portanto, há uma “resistência” nas práticas
políticas de seus atores, particularmente do governo,
TXHVHPSUHHVWLYHUDPDFRVWXPDGRVDGHFLGLUVREUH
DV TXHVW}HV S~EOLFDV ³D SRUWDV IHFKDGDV´ GXUDQWH
décadas, em diferentes municípios. Por esse motivo,
WHPRVYLVWRUHSHWLGDPHQWHDVLQ~PHUDVGL¿FXOGDGHV
e entraves nesses conselhos para efetivarem o
controle social e democrático, a accountability,
D WUDQVSDUrQFLD R UHWRUQR D VRFLDOL]DomR GDV
LQIRUPDo}HV TXHVW}HV HOHPHQWDUHV SDUD D
efetivação de políticas públicas voltadas para o
interesse público.
Embora esses novos espaços públicos
participativos representem uma inovação democrática
nos diferentes municípios, muitos desses espaços
VmR FDUDFWHUL]DGRV FRPR XP yUJmR D PDLV GDV
Secretarias, campo ocupado por “especialistas”.
Esses representantes tornam-se especialistas
“técnicos” e negam esses espaços como espaços
da política, da persuasão, da pluralidade de tensões
de projetos políticos em disputa. Ao restringi-lo a um
HVSDoRGHWpFQLFRVGHVFDUDFWHUL]DPHGHVSROLWL]DP
o espaço do conselho como um espaço da política
na busca de hegemonia. A esse respeito, Nogueira
(2001) chama a atenção para um processo onde
Ki XPD LGHQWL¿FDomR GD SROtWLFD GRV WpFQLFRV HP
detrimento da política dos cidadãos. A política dos
técnicos é uma política sem política, campo de
HVSHFLDOLVWDV (VVD TXHVWmR GHVSROLWL]D R HVSDoR
S~EOLFRHGHVTXDOL¿FDRSURFHVVRGHOLEHUDWLYR
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 213-222, jan./jun. 2012
7 A FISCALIZAÇÃO E A PRESTAÇÃO DE
6(59,
5 d26disputa de hegemonia na sociedade
civil entre as entidades da assistência social
8PDGDVTXHVW}HVYHUL¿FDGDVQDSHVTXLVDpD
ocupação dos representantes da sociedade civil por
entidades sócioassistenciais mais tradicionais na
iUHDGD$VVLVWrQFLDTXHGLVSXWDPKHJHPRQLFDPHQWH
seu espaço no âmbito do conselho. É imptortante
OHPEUDUTXHD31$6IRLLQVWLWXtGDHPHGLVS}H
TXH DV Do}HV QD iUHD VHMDP RUJDQL]DGDV QXP
VLVWHPD GHVFHQWUDOL]DGR H SDUWLFLSDWLYR FRQVWLWXtGR
SHODV HQWLGDGHV H RUJDQL]Do}HV GH $VVLVWrQFLD
Social, articulando meios, esforços e recursos, e por
um conjunto de instâncias deliberativas, compostas
SHORVGLYHUVRVVHWRUHVHQYROYLGRVQDiUHD%5$6,/
2004).
Assim o SUAS, prevê a participação, de forma
integrada, das entidades socioassistenciais. Porém,
UHVVDOWDPRV DTXL TXH HVVD SDUWLFLSDomR SRGH
HQIUDTXHFHU R 68$6 H D 3ROtWLFD GH $VVLVWrQFLD
6RFLDO SHOD IUDJLOLGDGH H QmR TXDOL¿FDomR GRV
“representantes” dessas entidades no tocante à
defesa da Política de Assistência Social na sua
XQLYHUVDOL]DomR H VHX IRUWDOHFLPHQWR HQTXDQWR
política pública. A esse respeito, pode-se destacar
a aprovação da Lei 12.101\20099 TXH PXGD
radicalmente o papel do CNAS e das entidades
vinculadas aos conselhos gestores de Assistência
social.
1HVVH HVWXGR FRQVWDWDVH TXH DV HQWLGDGHV
não representam os interesses coletivos dos
usuários da Política de Assistência Social. Esses
representantes não possuem um olhar mais fecundo
sobre a sua própria representação na Política de
Assistência Social. Essa representação é limitada,
MiTXHRVLQWHUHVVHVVmRFRUSRUDWLYRVHSUHGDWyULRV
uma perversão à democracia e ao interesse público
na construção da Política de Assistência Social para
o município. Conforme assinalou Tatagiba (2002, p.
58),
2V LQWHUHVVHV TXH OHYDP DV HQWLGDGHV
a disputar assento nos conselhos
são os mais variados, assim como a
SUySULDQRomRGRTXHVHMDSDUWLFLSDUQD
formulação de políticas públicas. Para
muitos representantes da sociedade
civil, estar nos conselhos é uma forma
de conseguir mais recursos para suas
entidades e não uma forma de construir
FROHWLYDPHQWH R TXH VHULD GH LQWHUHVVH
S~EOLFRHPFDGDiUHDHVSHFt¿FD
Em recente livro publicado sobre a Assistência
6RFLDO H ¿ODQWURSLD RV DXWRUHV GHIHQGHP TXH
é importante destacar o papel das entidades
VRFLRDVVLVWHQFLDLVTXHVHPSUHHVWLYHUDPSUHVHQWHV
na execução de serviços na área da Assistência
VRFLDO QR %UDVLO PDUFDGRV SHOD ¿ODQWURSLD SULYDGD
H FRQIHVVLRQDO $ HVVH UHVSHLWR 5DTXHO 5DLFKHOLV
&21752/(6 '(02&5È7,&26 3$57,&,3$d­2 ( &/,(17(/,602 DV GL¿FXOGDGHV GD UHSUHVHQWDomR GD VRFLHGDGH
civil no conselho de Assistência Social
(2010, p. 18) analisa essas contradições e disputas
HQWUHDVHQWLGDGHVQRkPELWRGR&1$6HD¿UPDTXH
2V HPEDWHV TXH FHUFDUDP D UHFHQWH
aprovação dessa lei são uma expressão
LQHTXtYRFD GDV UHVLVWrQFLDV SDUD ID]HU
transitar a Política de Assistência Social
para o âmbito da proteção social como
obrigação pública e responsabilidade
GR (VWDGR DLQGD TXH SDUD VXD
implementação participem as entidades
GH QDWXUH]D SULYDGD VHMD GH SUHVWDomR
direta de serviços , sócioassistencial, de
assessoramento ou defesa de direitos.
Entre as responsabilidades do CMAS, duas
PHUHFHP GHVWDTXHV UHJXODUL]DU D SUHVWDomR GH
serviços; e disciplinar os procedimentos de repasse
de recursos. Chama-se atenção para esses aspectos
em virtude do município possuir uma peculiar
característica em relação à prestação dos serviços
de Assistência Social. Grande parte de sua rede
de Assistência Social é constituída por instituições
SULYDGDV HP VXD PDLRULD ¿QDQFLDGDV SHOR (VWDGR
2¿QDQFLDPHQWRS~EOLFRGHVHUYLoRVSULYDGRVpXP
grande impasse da Política de Assistência Social
VmR LQ~PHUDV DV LQVWLWXLo}HV SDUWLFXODUHV TXH
recebem subvenção pública, e com isso, o serviço
S~EOLFRVHWRUQDPDLVGH¿FLWiULR2&0$6UHSURGX]
uma prática muito corporativa em atribuições como:
R ¿QDQFLDPHQWR H ¿VFDOL]DomR GDV LQVWLWXLo}HV
privadas, em detrimento do caráter público na
JHVWmR ¿VFDOL]DomR H IRUPXODomR GH SROtWLFDV
S~EOLFDV2WUHFKRDEDL[RUHD¿UPDHVVDGL¿FXOGDGH
por parte dos representantes da sociedade civil:
[...] responsável por examinar, selecionar
HGH¿QLURVUHSDVVHVSDUDDVHQWLGDGHV
conveniadas com recursos públicos, o
CMAS/NIT – órgão deliberativo vinculado
à Secretaria de Desenvolvimento Social
– aprovou balanços referentes às ONGs
enviados pela Secretaria Municipal de
$VVLVWrQFLD 6RFLDO VHP VHTXHU DQDOLVi
los. (TEMER; MASCARENHAS, 2009).
O CMAS de Niterói foi denunciado pelo jornal
2 */2%2 HP SRU DXVrQFLD GH ULJRU QR
controle do repasse de verbas públicas para ONGs
TXHDWXDPQRPXQLFtSLR
Outras denúncias presentes nos Conselhos
de Assistência Social corroboram esta análise, como
o caso destacado na operação Fariseu pela Polícia
)HGHUDOQR%UDVLOGHQXQFLDQGRHGHVPRQWDXPIRUWH
HVTXHPDGHFRQFHVVmRGHFHUWL¿FDGRVGH¿ODQWURSLD
emitidos pelo (CNAS) em 2008.
Assim, para romper com a ideia do uso do
GLQKHLUR S~EOLFR SDUD ¿QV SULYDGRV p QHFHVViULR R
fortalecimento do “controle social e democrático”.
6yDWUDYpVGHVVDGLUHWUL]RVHVSDoRVGRVFRQVHOKRV
poderão ganhar legitimidade dentro do próprio
Estado na luta contra a corrupção, interesses
privados e busca de partilhar o poder ao incluir a
sociedade civil nas decisões das políticas públicas.
Ao reforçar o controle democrático, estaremos
legitimando uma nova forma de representação da
VRFLHGDGH FLYLO TXH VH GLVWLQJXH GD GHPRFUDFLD
representativa. Nesse caminho, fortalecendo o caso
DTXL LQYHVWLJDGR HVWDUHPRV IRUWDOHFHQGR WDPEpP
as políticas de assistência social.
6DEHPRV TXH GHVORFDU R VHUYLoR ± DQWHV
prestado pelas ONGs – para a administração pública
não é tão simples, pois representa uma mudança
de gestão e de práticas políticas. É imprescindível,
SRUWDQWR TXH D 3ROtWLFD GH $VVLVWrQFLD 6RFLDO10
HQTXDQWR SULPD]LD GR (VWDGR LQFOXVLYH SDUD VHU
apropriada como direito do cidadão e dever do Estado,
possa se desvincular dos traços do assistencialismo
HGRIDYRUDRVTXDLVDLQGDpWmRDVVRFLDGD$OGDt]D
Sposati (2010, p. 29) chama atenção para essa
TXHVWmR RQGH D DVVLVWrQFLD VRFLDO VRIUH XP PL[
nessa tensa relação entre público e privado nessa
área. Para a autora, na Assistência Social,
O paradigma é da apartação para um
novo lugar fundado na negatividade: o
serviço para existir é não lucrativo e o
usuário, para acessá-lo deve mostrar
TXH QmR WHP UHQGD RX QmR D WHP
VX¿FLHQWHPHQWH WUDQVIRUPDQGRVH HP
FDUHQWH RX KLSRVVX¿FLHQWH H R VHUYLoR
direcionado para necessitados e não
para cidadãos. (SPOSATI, 2010, p. 29).
(VVDGL¿FXOGDGHHVWiYLQFXODGDDFRQVWUXomR
de uma cultura pública no enfrentamento do
autoritarismo social e da cultura política privatista
exercida pelos gestores ao longo de décadas
nos diferentes governos locais. Práticas políticas
TXH QHJOLJHQFLDP R LQHGLWLVPR GHVVHV HVSDoRV
como espaços da grande política, da construção
de políticas públicas de interesse coletivo, de
GHPRFUDWL]DomRGDVGHFLV}HVGHSDUWLOKDGHSRGHU
de decisão. Nesse aspecto,
$ VROLGDULHGDGH H EHQHPHUrQFLD TXH
sempre existiu nessa área ligada a
¿ODQWURSLD D XP SDUDGLJPD GR GHYHU
moral e religioso coloca a assistência no
campo privado e não público do Estado
TXHpHQWHQGLGDFRPRXPD³LQWURPLVVmR´
no campo das tradicionais entidades
sociais. (SPOSATI, 2010, p. 29).
(P VXPD R TXH VH FRORFD SDUD R GHEDWH
p D LPSRUWkQFLD GH TXDOL¿FDU D UHSUHVHQWDomR
exercida nesses canais - no caso deste trabalho, a
representação exercida por atores da sociedade civil
QR&RQVHOKRGH$VVLVWrQFLD6RFLDOHHPGHVWDTXH
o papel das entidades socioassistenciais.
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 213-222, jan./jun. 2012
219
220
Ângela Vieira Neves
8 CONCLUSÃO
2 HVWXGR GR &0$6 PRVWURX DV GL¿FXOGDGHV
GD UHSUHVHQWDomR QD VRFLHGDGH FLYLO XPD YH] TXH
se torna evidente a política desses representantes,
marcada ainda por práticas corporativas e
dependentes do executivo local. Constatou-se
TXH RV FRQVHOKRV VXUJHP FRPR XPD LQRYDomR
democrática na gestão pública. Esse estudo de
FDVR PRVWURX TXH R &0$6 p PRQRSROL]DGR SRU
práticas corporativas de seus líderes nas chamadas
21*VTXHEXVFDPEHQHItFLRVSDUDVXDVHQWLGDGHV
¿ODQWUySLFDV TXH SRU VXD YH] UHWLUDP GR JRYHUQR
D UHVSRQVDELOLGDGH GH JHUDU SROtWLFDV (QTXDQWR R
&0$6UHIRUoDUSURMHWRVSDUDEHQH¿FLDUDVHQWLGDGHV
tradicionais nessa área, não haverá o avanço político
TXH EHQH¿FLH RV XVXiULRV GD $VVLVWrQFLD 6RFLDO
na construção de direitos. Esses representantes
da sociedade civil não representam os usuários
da política de assistência, mas sim as entidades
¿ODQWUySLFDV$GL¿FXOGDGHGHDPSOLDURVSURFHVVRV
decisórios, incluindo a sociedade civil, exige um
esforço em buscar mecanismos de partilha do
SRGHU TXH VHMDP IXQGDPHQWDLV QD GHPRFUDWL]DomR
da política, na efetivação de direitos e tomada
GH GHFLV}HV H SDUD LVVR p QHFHVViULR TXDOL¿FDU
essa participação através da representação. O
surgimento dos conselhos gestores no contexto da
sociedade brasileira nos anos de 1990 tinha como
PHWDFRPEDWHUDFRUUXSomRHYLWDQGRTXHRGLQKHLUR
S~EOLFR IRVVH XVDGR SDUD RXWURV ¿QV ± TXH QmR D
construção de políticas públicas. Esses mecanismos
foram criados para combater essa cultura privatista
do Estado no trato da coisa pública. Porém, ainda
IDOWDPXLWRSDUDR%UDVLOVHWRUQDUXPSDtVTXHURPSD
FRPD³GHPRFUDFLDEXUJXHVDHOLEHUDO´LGHQWL¿FDGD
como a democracia representativa. A ampliação dos
processos decisórios na construção de Políticas
Públicas só acontecerá no rompimento com as
práticas políticas predatórias e antidemocráticas,
exercidas pelos diferentes atores na relação entre
governo local e sociedade civil nos diferentes
PXQLFtSLRVEUDVLOHLURVTXHDPHDoDPDGHPRFUDFLD
participativa. Este artigo buscou chamar a atenção
SDUD TXH WLSR GH VRFLHGDGH FLYLO VH LQVHUH QR
HVSDoR GRV &RQVHOKRV GH $VVLVWrQFLD VRFLDO TXH
WLSR GH UHSUHVHQWDomR TXH SURMHWRV SROtWLFRV VHXV
representantes defendem nesse espaço público.
Sem a ruptura com práticas antigas nessa área,
clientelismo, assistencialismo, corporativismo e
corrupção -, no trato do dinheiro público, pouco
DYDQoDUHPRV QD GHPRFUDWL]DomR H IRUWDOHFLPHQWR
da Política de Assistência Social pela lógica dos
FRQVHOKRV2GHVD¿RHVWiSRVWR
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civil no conselho de Assistência Social
atuando apenas no âmbito econômico e político da
sociedade, mas também sobre o modo de pensar,
sobre as orientações ideológicas e inclusive sobre o
modo de conhecer. A hegemonia é a capacidade de
XQL¿FDUDWUDYpVGDLGHRORJLDHGHFRQVHUYDUXQLGRXP
bloco social, não se restringindo ao aspecto político,
mas compreendendo um fato cultural, moral, de
FRQFHSomR GR PXQGR *UDPVFL DLQGD UHVVDOWD TXH
toda relação de hegemonia é “necessariamente uma
UHODomR SHGDJyJLFD TXH VH YHUL¿FD QmR DSHQDV QR
LQWHULRU GH XPD QDomR HQWUH DV GLYHUVDV IRUoDV TXH
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%DLUURVFRP 'LVSRQtYHO HPKWWSRJORERJORER
com/rio/bairros/posts/2009/04/11/conselho-deassistencia-social-aprova-contas-de-ongs-naFRQ¿DQFDDVS!$FHVVRHPDEU
4
A esse respeito ver Tatagiba (2002), Dagnino (2002),
$YULW]HUH1DYDUUR
5
O processo de eleição dos membros da sociedade
civil para gestão 2008/2010 foi iniciado no dia
H RFRUUHX GH IRUPD WUDQTXLOD HQWUH DV
HQWLGDGHV FDGDVWUDGDV QR &0$6 $V HQWLGDGHV TXH
se candidataram foram as seguintes: Federação das
Associações de Moradores de Niterói (FAMNIT),
Associação de moradores de jurujuba, Associação
das Damas de Caridade São Vicente de Paula,
&HQWUR-XYHQLOGH2ULHQWDomRH3HVTXLVD$VVRFLDomR
3HVWDOR]]L $VVRFLDomR )OXPLQHQVH GH 5HDELOLWDomR
Instituto de Desenvolvimento para educação e cultura,
&DPSXV$YDQoDGRGD8))/HJLmRGD%RD9RQWDGH
&HQWUR GH FLGDGDQLD GR %UDVLO 1~FOHR 3LWDV 21*
Aldeia Guideão. As entidades sublinhadas foram as
eleitas.
6
Entrevista com Representante da sociedade civil.
7
O clientelismo político é entendido como uma relação
DVVLPpWULFD H KLHUDUTXL]DGD HQWUH GLIHUHQWHV JUXSRV
VRFLDLVQDTXDOVHIXQGDPHQWDDLGHRORJLDGRIDYRU
e XPD UHODomR HQWUH DTXHOHV TXH SRVVXHP DOJXPD
UHSUHVHQWDomRSROLWLFDHTXHVHWUDGX]QXPDEDUJDQKD
HQDVWURFDVFRQVWDQWHVFRPRVTXHQmRGHWpPSRGHU
político nem econômico.
8
Entrevista com conselheiro governamental.
9
A Lei 12.101 de 2009 instituída pelo CNAS retira a
tradicional marca do CNAS de forma cartorial na
DXWRUL]DomR GRV FHUWL¿FDGRV GH ¿ODQWURSLD GHVGH D
sua criação em 1995. Isso muda a prática política
do CNAS e demais conselhos de Assistência social
HVSDOKDGRV QR SDtV (VVD FHUWL¿FDomR p DJRUD
UHDOL]DGD SHOR PLQLVWpULR GD (GXFDomR $VVLVWrQFLD
e Saúde conforme a área de atuação das entidades
sociais.
NOTAS
2
3
(VVHWH[WRpUHVXOWDGRSDUFLDOGD3HVTXLVDDSURYDGD
SHOR&134HPUHDOL]DGDQRVDQRVGH?
SHOR *UXSR GH 3HVTXLVD 'HPRFUDFLD 6RFLHGDGH
FLYLOHVHUYLoR6RFLDOGD81%VREUHRVFRQVHOKRVGH
Assistência social onde inclui-se um estudo sobre o
CMAS de Niterói\Rio de Janeiro.
Para Gramsci, sociedade civil é “o conjunto de
RUJDQLVPRVGHVLJQDGRVYXOJDUPHQWHFRPRµSULYDGRV¶
[...]” (GRAMSCI, 2001, p. 20), formada pelas
RUJDQL]Do}HV UHVSRQViYHLV WDQWR SHOD HODERUDomR
TXDQWR SHOD GLIXVmR GDV LGHRORJLDV FRPSUHHQGHQGR
assim o sistema escolar, as igrejas, os sindicatos,
RV SDUWLGRV SROtWLFRV DV RUJDQL]Do}HV SUR¿VVLRQDLV
D RUJDQL]DomR PDWHULDO GD FXOWXUD TXH VH Gi SHORV
jornais, revistas, editoras, meios de comunicação de
massa), etc. Em suma, os ditos “aparelhos privados de
hegemonia” – organismos sociais coletivos voluntários
e relativamente autônomos em face da sociedade
política. (GRAMSCI, 2004). Assim, a sociedade civil
é considerada uma das esferas principais do Estado
visto em seu sentido ampliado; a outra é a sociedade
política, ou seja, o conjunto de mecanismos através
GRVTXDLVDFODVVHGRPLQDQWHGHWpPRPRQRSyOLROHJDO
GDUHSUHVVmRHGDYLROrQFLDHTXHVHLGHQWL¿FDFRPRV
aparelhos de coerção sob controle das burocracias
executivas e policial-militar).
O conceito de hegemonia no pensamento gramsciano
p FRQFHELGR HQTXDQWR ³GLUHomR´ RX VHMD FRPR
FRQTXLVWDDWUDYpVGDSHUVXDVmRHGRFRQVHQVRQmR
$HVVHUHVSHLWRXPJUDQGHGHVD¿RSDUDD$VVLVWrQFLD
VRFLDOpFRQVROLGDUR68$6HRPRGHORGHVFHQWUDOL]DGR
H SDUWLFLSDWLYR HP WRGRV RV PXQLFtSLRV %UDVLOHLURV
fortalecendo os CRAS e CREAS.
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 213-222, jan./jun. 2012
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Ângela Vieira Neves
Ângela Vieira Neves
Assistente Social
Doutora em Ciências Sociais pela Universidade de
Campinas - UNICAMP
Professora adjunta do Departamento de Serviço Social da
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E-mail: [email protected]
Universidade de Brasília – UnB
Campus Universitário Darcy Ribeiro,
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CEP 70910-900
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 213-222, jan./jun. 2012
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