ISSN 1983-9456 NÚMERO 5 / SETEMBRO 2010 / PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DORMINHOCO OU GUERREIRO? PERFIS E ATITUDES DOS GESTORES MEDIANTE O USO DE SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE MARKETING DROWSY OR FIGHTER? MANAGERS’ PROFILES AND ATTITUDES TOWARDS THE USE OF MARKETING INTELLIGENCE SYSTEM CLÁUDIO LUIZ CHIUSOLI ................................................................................................... PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO EM CONTEXTOS B2B:UMATAXONOMIA APLICADAÀTECNOLOGIA PARA A PECUÁRIA PERCEPTION OF INNOVATION IN B2B CONTEXTS: A TAXONOMY APPLIED TO THE TECHNOLOGY FOR BEEF CATTLE PRODUCERS ENEIDA B.SOARES RIBEIRO / PAULO H. MÜLLER PRADO / JOSÉ CARLOS KORELO / DANIELLE MANTOVANI LUCENA DA SILVA ................................................................................................... PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS PARA SEGMENTAÇÃO DE BASE DE DADOS STATISTICAL PROCEDURES FOR DATABASE SEGMENTATION FRANCISCO LOUZADA-NETO / CARLOS A.RIBEIRO DINIZ / CLOVIS C. DA COSTA / PAULO H. F. DA SILVA / CAMILA R. DESTEFANI / ANA PAULA O.TEMPONI ................................................................................................... TRÊS DÉCADAS DO MODELO DE CHURCHILL:UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FATORIALE DO ALPHA DE CRONBACH NA VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS NO MARKETING THREE DECADES OFTHECHURCHILLMODEL:USE OFFACTOR ANALYSIS AND CRONBACH’SALPHA INTHE VALIDATION OFDATA COLLECTING TOOLS IN MARKETING WAGNER JUNIOR LADEIRA ................................................................................................... NÚMERO 5 / SETEMBRO 2010 / PUBLICAÇÃO SEMESTRAL ISSN 1983- 9456 CATALOGAÇÃO NA FONTE ELABORADA POR: ABEP e ABA Revista Brasileira de Pesquisas de Marketing, Opinião e Mídia ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa e ABA – Associação Brasileira de Anunciantes. Nº 5 (Setembro 2010) — São Paulo: PMKT, 2010 — Semestral ISSN 1983-9456 PMKT São Paulo nº 5 Set. 2010 PMKT SUMÁRIO SUMÁRIO n 08 / 17 — DORMINHOCO OU GUERREIRO? PERFIS E ATITUDES DOS GESTORES MEDIANTE O USO DE SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE MARKETING / CLÁUDIO LUIZ CHIUSOLI O autor faz um mapa do comportamento do gestor quanto à tarefa cotidiana de tomada de decisão diante de uma atitude que prioriza a busca e o monitoramento das ações dos seus principais concorrentes em relação à pesquisa e ao planejamento de marketing. — The author maps top managers’behavior towards the daily decision-making task before an attitude that prioritizes the search and tracking of actions by one’s main competitors in connection with research and marketing planning. ................................................................................................................. n 18 / 30 — PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO EM CONTEXTOS B2B: UMA TAXONOMIA APLICADA À TECNOLOGIA PARA A PECUÁRIA / ENEIDA BEZERRA SOARES RIBEIRO / PAULO HENRIQUE MÜLLER PRADO / JOSÉ CARLOS KORELO / DANIELLE MANTOVANI LUCENA DA SILVA Os autores propõem uma taxonomia de consumidores organizacionais — no caso, pecuaristas — com base nas características percebidas por eles em relação à inovação de identificação eletrônica de rebanho bovino, através de um tipo específico de identificador, o bolus. — The authors propose a classification of organizational consumers — in the case, beef cattle producers — based on the characteristics they perceive towards the innovation of electronic cattle identification, through a specific type of tagging, the bolus. ................................................................................................................. n 32 / 39 — PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS PARA SEGMENTAÇÃO DE BASE DE DADOS / FRANCISCO LOUZADA-NETO / CARLOS A. RIBEIRO DINIZ / CLOVIS CORREA DA COSTA / PAULO HENRIQUE F. DA SILVA / CAMILA R. DESTEFANI / ANA PAULA O. TEMPONI Os autores apresentam alguns procedimentos estatísticos comumente utilizados na realização do processo de segmentação de base e descrevem as diferentes formas de segmentação, dentre as quais, a demográfica, por benefícios, ocasião, nível de utilização, estilo de vida e valor do cliente. — The authors present some statistical procedures commonly used in performing the database segmentation process and describe the different segmentation methods, amongst which by demography, by benefits, by occasion, by usage level, by lifestyle and by customer value. ................................................................................................................. n 40/48 — TRÊS DÉCADAS DO MODELO DE CHURCHILL: UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FATORIAL E DO ALPHA DE CRONBACH NA VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS NO MARKETING / WAGNER JUNIOR LADEIRA O autor analisa dois métodos estatísticos aplicados no processo de purificação de instrumentos de coleta de dados quantitativos: o Alpha de Cronbach e a AF – Análise Fatorial. — The author analyzes two statistical methods applied in the purification process of tools used to collect quantitative data: Cronbach’s Alpha and FA – Factor Analysis. Empresas patrocinadoras da PMKT 5: 04 ABEP / ABA PMKT O DESAFIO APAIXONANTE DA OS MAIORES ANUNCIANTES PESQUISA DO BRASIL ESTÃO AQUI Atarefa desafiadora e instigante de apontar tendências, a partir de análises e interpretações dos mistérios inerentes ao cotidiano do consumidor, é a paixão diária do mundo das pesquisas, onde a diversidade é a palavra-chave.A cada dia o profissional do setor se encontra envolvido em um projeto inusitado, com necessidades diferenciadas e a exigência de lançar um olhar distinto sobre um antigo tema. A pesquisa fornece subsídios para os tomadores de decisão dentro das empresas, cujos profissionais definem o futuro de suas empresas e marcas numa atividade de alto conhecimento científico. Ao mesmo tempo em que essa diversidade faz vibrar os profissionais da área,também exige deles maior comprometimento com a busca de aprimoramento profissional.É fundamental acompanhar as novas tendências,dentro e fora do país,conhecer o movimento da sociedade, descobertas e tudo o que afete o ser humano no mundo contemporâneo. Dispor de um espaço para que os profissionais da área possam compartilhar entre si suas reflexões e trocar com o ambiente externo, principalmente o acadêmico, conhecimentos e experiências, é a razão de ser da revista PMKT. Atenta a tais exigências atuais, a ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa encara essa variedade de ações como propulsora de sua existência.Seus congressos, programas de treinamento, workshops e palestras contribuem para reflexão e crescimento profissional da indústria.Seu site é fonte constante de acesso de dados e consultas como o CRQ – Controle de Qualidade no Recrutamento, Pesquisa de Remuneração e Benefícios,Código de Auto-Regulamentação,entre outros. “Pesquisar é beber na fonte”. Uma definição aparentemente simples para uma realidade de trabalho tão complexa e gratificante. Por trás dos comerciais de televisão e de rádio, dos outdoors, dos banners na internet,dos anúncios em jornais ou revistas e das ações no PDV,existe uma instituição que representa as empresas anunciantes. É a ABA – Associação Brasileira de Anunciantes, entidade sem fins lucrativos,que reúne as maiores empresas anunciantes do Brasil,responsáveis por cerca de70% dos investimentos em propaganda no país. No campo político-institucional, a missão da entidade é a de “representar coletivamente e defenderos interesses das empresas anunciantes associadas”; no campo técnico-profissional, é a de “compartilhar, desenvolver e disseminar melhores práticas para potencializar melhores resultados para os anunciantes”. Através dos Comitês Técnicos e de Melhor Prática a ABA possibilita aos executivos das empresas associadas o intercâmbio de ideias, networking, o exercício das melhores práticas comerciais, o aperfeiçoamento e sua capacitação para enfrentar os desafios do mercado. Além disso, regularmente, organiza eventos (fóruns nacionais e internacionais, workshops e cursos técnicos),com o objetivo de contribuir para a formação e desenvolvimento de novos profissionais e para o aprimoramento de executivos mais experientes. A ABA é sócia fundadora e participa da gestão de dois importantes organismos de autorregulamentação: CENP – Conselho Executivo das Normas-Padrão da Atividade Publicitária e CONAR – Conselho Nacional de Auto -Regulamentação Publicitária. Internacionalmente, integra a WFA – Federação Mundial de Anunciantes, que congrega entidades semelhantes em 55 países ao redor do mundo. Para melhor conhecer as atividades da ABA visite o site www.aba.com.br. PAULO PINHEIRO DE ANDRADE JOÃO CIACO Presidente Presidente www.abep.org www.aba.com.br 05 PMKT EDITORIAL / EXPEDIENTE EDITORIAL Dentre os inúmeros artigos submetidos à PMKT os quatro selecionados para publicação neste número foram: “DORMINHOCO OU GUERREIRO? PERFIS E ATITUDES DOS GESTORES MEDIANTE O USO DE SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE MARKETING” de autoria de CLÁUDIO LUIZ CHIUSOLI faz um mapa do comportamento do gestor quanto à tarefa cotidiana de tomada de decisão diante de uma atitude que prioriza a busca e o monitoramento das ações dos seus principais concorrentes em relação à pesquisa e ao planejamento de marketing; “PERCEPÇÃO DA INO VAÇÃO EM CONTEXTOS B2B: UMA TAXONOMIAAPLICADA À TECNOLOGIA PARAAPECUÁRIA”de autoria de ENEIDA BEZERRA SOARES RIBEIRO / PAULO HENRIQUE MÜLLER PRADO / JOSÉ CARLOS KORELO / DANIELLE MANTOVANI LUCENA DA SILVA propõe uma taxonomia de consumidores organizacionais — no caso, pecuaristas — com base nas características percebidas por eles em relação à inovação de identificação eletrônica de rebanho bovino, através de um tipo específico de identificador, o bolus; “PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS PARA SEGMENTAÇÃO DE BASE DE DADOS” de autoria de FRANCISCO LOUZADA-NETO / CARLOS A. RIBEIRO DINIZ / CLO VIS CORREA DA COSTA / PAULO HENRIQUE F. DA SILVA / CAMILA R. DESTEFANI /ANA PAULA O.TEMPONI apresenta alguns procedimentos estatísticos comumente utilizados na realização do processo de segmentação de base e descreve as diferentes formas de segmentação, dentre as quais, a demográfica, por benefícios, ocasião, nível de utilização, estilo de vida e valor do cliente; e “TRÊS DÉCADAS DO MODELO DE CHURCHILL:UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FATORIAL E DO ALPHA DE CRONBACH NAVALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE COLETA DE DA- DOS NO MARKETING” de autoria de WAGNER JUNIOR LADEIRA analisa os métodos estatísticos aplicados no processo de purificação de instrumentos de coleta de dados quantitativos, mais precisamente: o Alpha de Cronbach e a AF – Análise Fatorial. Esperamos contar com outros temas igualmente interessantes para publicar nas próximas edições. Até a próxima edição e boa leitura. FAUZE NAJIB MATTAR GUILHERME CALDAS DE CASTRO Editor Presidente do Conselho Editorial www.abep.org www.aba.com.br ................................................................................................................. CONSELHO EDITORIAL: Fauze Najib Mattar — Editor e Membro do Conselho Editorial, pela ABEP / Guilherme Caldas de Castro — Presidente do Conselho Editorial, pela ABA / Fernando José Leite Ribeiro — Membro do Conselho Editorial, pela ABEP. — CONSELHO TÉCNICO: O Conselho Técnico da PMKT – Revista Brasileira de Pesquisas de Marketing, Opinião e Mídia é formado por professores e pesquisadores das mais importantes Escolas de Administração e Comunicação, e por profissionais de pesquisas no Brasil. Cada artigo submetido será avaliado por, ao menos, dois conselheiros selecionados conforme o tema, no sistema blind review. — ASSISTENTE EDITORIAL: Madalena de Macedo Vicente — TRADUTOR / REVISOR: Cello Sawczuk. — ANÚNCIOS: Para anunciar ligue — ABA (11) 3283.4588 ou ABEP (11) 3078.7744 — CORRESPONDÊNCIAS PARA: PMKT – Revista Brasileira de Pesquisas de Marketing, Opinião e Mídia,Secretaria Editorial / E-mail: [email protected] Site: www.revistapmkt.com.br / A PMKT – Revista Brasileira de Pesquisas de Marketing, Opinião e Mídia é editada semestralmente. — DIREITOS E PERMISSÃO DE UTILIZAÇÃO: As matérias assinadas são de total e exclusiva responsabilidade dos autores / Todos os direitos reservados a ABEP/ABA / É permitida a publicação de trechos e de artigos, com autorização prévia e identificação da fonte. — PROJETO GRÁFICO/DESIGN: BCD Design / DESIGN/CAPA: Eduardo Bacigalupo / DTP/PRODUÇÃO GRÁFICA: Marcello Job / IMPRESSÃO: Ibep Gráfica e Editora. 06 PMKT CLÁUDIO LUIZ CHIUSOLI DORMINHOCO OU GUERREIRO? PERFIS E ATITUDES DOS GESTORES MEDIANTE O USO DE SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE MARKETING — DROWSY OR FIGHTER? MANAGERS’ PROFILES AND ATTITUDES TOWARDS THE USE OF MARKETING INTELLIGENCE SYSTEM n RESUMO O presente artigo se propôs a mapear o comportamento do gestor, especialmente, quanto à tarefa cotidiana de tomada de decisão diante de uma atitude que prioriza a busca e o monitoramento das ações dos seus principais concorrentes, bem como o uso das atividades de marketing, no que diz respeito à pesquisa e ao planejamento de marketing. Para isso, levantaram-se, por meio de revisão da literatura, aspectos da inteligência de marketing, sobretudo em termos de conceitos, modelos e ciclos de um sistema de inteligência de marketing necessários à sua implementação. Para complementar o estudo, conduziu-se uma pesquisa exploratória junto a uma amostra de 110 organizações de médio e grande porte na cidade de Londrina.Ambos os enfoques permitiram estabelecer um parâmetro comparativo entre o conceito de inteligência de marketing e as dimensões propostas no modelo de Rouach e Santi (2001) quanto ao perfil e atitude dos gestores em relação à postura no mercado, principalmente, em termos de tomada de decisão.Alguns resultados permitiram distintas análises quanto ao comportamento do gestor diante das pressões competitivas de mercado e sua capacidade de reação. PALAVRAS-CHAVE: Inteligência de marketing, decisão de marketing, pesquisa de marketing. ABSTRACT This article intends to map managers’behavior,especially towards the daily task of taking decisions before an attitude that prioritizes the search and tracking actions by their main competitors, as well as the use of the marketing activities in research and marketing planning. For that purpose, a review was carried out including the literature, the aspects of marketing intelligence, especially in terms of concepts, models and cycles of a marketing intelligence system required to its implementation.To complement the study, an exploratory research was carried out with a sample of 110 medium — and large — sized companies in the city of Londrina. Both focuses allowed establishing a comparative parameter between the concept of marketing intelligence and the dimensions proposed in the model of Rouach and Santi (2001) as to managers’profile and attitude towards the posture in the market, and, above all, in terms of decision-making. Some of the results allowed for different analyses of a manager's behavior before the competitive market pressures and one’s reaction capacity. KEY WORDS: Marketing intelligence, marketing decision, marketing research. 08 CLÁUDIO LUIZ CHIUSOLI BACHAREL EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL); ESPECIALISTA EM MARKETING E PROPAGANDA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL PELA IN BRAPE / CESULON; ESPECIALISTA EM ESTATÍSTICA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL); APERFEIÇOAMENTO EM GESTÃO NA DREXEL UNIVERSITY, PENSILVÂNIA, EUA; MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PELA UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ (UNOPAR); DOUTOR EM ADMINISTRAÇÃO/ MARKETING PELA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FEAUSP); PROFESSOR DE GRADUAÇÃO E PÓSGRADUAÇÃO NA UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ (UNOPAR). E-MAIL: [email protected] DORMINHOCO OU GUERREIRO? PERFIS E ATITUDES DOS GESTORES MEDIANTE O USO DE SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE MARKETING 1. INTRODUÇÃO O mundo corporativo atual tem se pautado por um cenário extremamente competitivo e turbulento no qual a imensidade de informações disponíveis para apoio à tomada de decisão não significa uma condição facilitadora desse processo. Entretanto, os gestores sentem dificuldades em obtê-las e utilizá-las de forma que possibilite a manutenção de sua posição competitiva no mercado. Talvinen e Saarinen (1995) registram que grande parte das organizações necessita monitorar o ambiente de marketing diante de mudanças bastante profundas e rápidas.Ainda comentam que a exigência do mercado competidor faz com que o fluxo de informação torne-se dinâmico e, sobretudo, uma fonte segura para auxílio à tomada de decisão. Isso tem ocorrido com a tecnologia de informação disponível nas empresas e cada vez mais em uso. PMKT A Inteligência Competitiva de Marketing, como subsistema do SIM – Sistema de Informação de Marketing deve ser capaz de informar instantaneamente aos gerentes sobre as mudanças do ambiente externo. Para isso, é necessário o desenvolvimento desse sistema e um mapeamento do ambiente de negócio. Basicamente, o ponto central da inteligência competitiva é monitorar os competidores e pode ser vista com grande importância estratégia para a organização, segundo Powell e Bradford (2000), pois: n n n Obriga a empresa a descobrir suas essências competitivas em face dos concorrentes que estão no mesmo negócio. Procura conhecer de maneira recíproca a vulnerabilidade dos competidores que tentam imitar as competências essenciais da organização. O acesso a novos mercados pode ser positivo se houver a compreensão das ações dos competidores, de forma a não subestimá-los. Há um processo de efetiva valorização das informações de mercado e, de certa forma, os executivos utilizam as informações de modo inadequado e pouco hábil, pois somente algumas das empresas que implantaram um procedimento sistêmico para coletar os dados do ambiente de marketing conseguiram armazená-los e transformá-los em informações relevantes (CHIUSOLI, 2005). Diante desse contexto evidencia-se a importância de um Sistema de Informação Competitiva, como estrutura do Sistema de Informação de Marketing da empresa, cujo papel é avaliar as necessidades de informação do executivo, obter as informações necessárias e distribuí-las de maneira oportuna para melhorar a eficácia da tomada de decisão (CHIUSOLI, 2005). Mesmo após duas décadas, as poucas organizações que desenvolveram procedimentos estruturados, conseguem trabalhar com as informações coletadas melhorando a tomada de decisões gerenciais. Entre as formas básicas de busca de informações dentro de um sistema de informação de marketing, considerando não somente a pesquisa de marketing tem-se a inteligência de marketing, que trata de um mecanismo cuja proposta principal é monitorar as ações dos concorrentes. O objetivo desse estudo é investigar como os gestores das organizações se comportam em relação ao monitoramento dos concorrentes e como se dimensionam suas características em função do modelo adotado por Rouach e Santi (2001) considerando as atitudes do gestor em relação ao nível de ação e atuação frente às informações de marketing. 2. REFERENCIAL TEÓRICO A inteligência competitiva começou a ser adotada pelas empresas no início dos anos 80, como uma resposta às novas exigências de um mercado globalizado e de acirrada concorrência. Considera-se a inteligência de marketing e a inteligência competitiva como sinônimos. No Brasil, a inteligência de marketing vem sendo tratada também como inteligência empresarial, inteligência competitiva e gestão estratégica do conhecimento; nos Estados Unidos como technology watch, competitive intelligence system, business intelligence, competitor intelligence; e na França, veille technologique, intelligence economique, intelligence concurrencielle (ABIPTI, 2004). Segundo Martinet e Marti apud ABIPTI (2004) a inteligência competitiva marca seu início na década de 1980, apresentando um grande crescimento na década de 1990 e alcançando sua maturidade e reconhecimento no início desse século. Xu e Kaye (1995) afirmam que as organizações precisam se adaptar a essa nova ordem de mudança ambiental para sobreviver e prosperar, o que demonstra que as decisões estratégicas, para que se tornem significativas, precisam ser realizadas em tempo hábil, ser bem estruturadas e possibilitem uma adequada reação à mudança. Esse sistema tornou-se um instrumento poderoso no Sistema de Informação de Marketing, para o qual somente a produção orientada para as necessidades do consumidor não é suficiente para garantir o sucesso da empresa. O subsistema de inteligência competitivo coleta informações a respeito do ambiente competitivo, processando-as e transformado-as em 09 PMKT CLÁUDIO LUIZ CHIUSOLI elementos de inteligência, divulgando-os posteriormente para dar suporte à tomada de decisão (GRISI; SAHELI, 2001). É importante diferenciar os conceitos de informação e inteligência: a primeira é oriunda de dados quantitativos ou qualitativos, enquanto a segunda é o conhecimento acumulado a partir do processamento e da análise das informações coletadas. A monitoração da concorrência e das novas tecnologias é de fundamental importância para que a empresa possa identificar as ameaças e antecipar as oportunidades que lhe permita conquistar uma posição competitiva favorável. As facilidades proporcionadas pelos avanços da tecnologia da informação, tanto em relação ao aumento da capacidade de armazenamento e processamento de grandes volumes de informações de forma cada vez mais rápida e a custos menores, como em relação ao vertiginoso desenvolvimento das comunicações — como é o caso da internet — representam uma força no desenvolvimento dos sistemas de inteligência competitiva (ABIPTI, 2004). Entende-se, portanto, que a inteligência competitiva atua como um radar para a empresa, proporcionando-lhe o conhecimento das oportunidades e ameaças identificadas no ambiente, que poderão instruir suas tomadas de decisões, visando à conquista de vantagem competitiva. A inteligência competitiva pode ser utilizada com as seguintes funções na organização: n n n Ferramenta para a gestão da inovação tecnológica. Instrumento para a tomada de decisão. Forma de agregar valor à função de informação. São apresentados a seguir, alguns conceitos de inteligência competitiva, segundo alguns autores. Kahaner (1996) define a inteligência competitiva como um programa sistemático e ético de se obter e analisar informações sobre as atividades dos concorrentes e as tendências gerais do negócio para avançar com as metas da empresa. Já Sammon (1984) contribui definindo que inteligência competitiva é o processo analítico que transforma dados desagregados sobre o competidor, em conhecimento relevante, preciso e estrategicamente utilizável acerca da posição, desempenho, capacitação e intenção do concorrente. Rouach e Santi (2001) definem que inteligência competitiva é a arte de coletar, processar e armazenar as informações 10 reunidas por pessoas de todos os níveis da empresa para que possam ajudar no futuro e proteger a empresa contra as ameaças competitivas, devendo ser legal, respeitar o código de ética e transferir conhecimento do ambiente para a estabilização da organização. Já Kotler e Armstrong (2003) definem inteligência competitiva como a coleta e a análise sistemáticas de um conjunto de informações disponíveis sobre a concorrência e o ambiente de marketing, cujo objetivo consiste em melhorar a tomada de decisões estratégicas, avaliar as ações dos concorrentes e prever as oportunidades e as ameaças. Esses autores, (KO TLER; ARMSTRONG, 2003), reiteram que a inteligência competitiva tem crescido bastante à medida que um número cada vez maior de empresas monitora ativamente os concorrentes, utilizando-se de técnicas como entrevista a funcionários de empresas concorrentes em um processo seletivo, benchmarking com os produtos dos concorrentes, pesquisas na internet e infiltração em feiras do setor. Outras definições de inteligência competitiva podem ser observadas, conforme a ABIPTI (2004) citando outros autores: “É uma atividade de gestão estratégica da informação que tem por objetivo permitir que os tomadores de decisão se antecipem sobre as tendências dos mercados e a evolução da concorrência, detectem e avaliem ameaças e oportunidades que se apresentem no seu ambiente para definirem as ações ofensivas e defensivas mais adaptadas às estratégias de desenvolvimento da empresa” (JAKOBIAK,1996). “Processo sistemático de coleta, tratamento, análise e disseminação da informação sobre as atividades dos concorrentes, tecnologias e tendências gerais dos negócios, visando subsidiar a tomada de decisão e atingir as metas estratégicas da empresa” (COELHO,1999). Os propósitos do SIS – Strategic Intelligence Systems ou SIC – Sistema de Inteligência Competitiva, de acordo com Montgomery e Weinberg (1990), são: a) Inteligência defensiva: evitar surpresas dos concorrentes. b) Inteligência passiva: provisão de comparação de dados (benchmarking) para uma avaliação objetiva. c) Inteligência ofensiva: identificação de oportunidades. Dentro desse foco, os autores propõem que a área de atuação da inteligência competitiva deve buscar informações considerando: 1. A concorrência. 2. O ambiente tecnológico. 3. O mercado consumidor. DORMINHOCO OU GUERREIRO? PERFIS E ATITUDES DOS GESTORES MEDIANTE O USO DE SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE MARKETING PMKT 4. O ambiente econômico. 5. O ambiente político/legal. 6. O ambiente social. dutos substitutos e novos entrantes.Assim, uma das primeiras tarefas no desenvolvimento de um SIC – Sistema de Inteligência Competitiva é a identificação dos concorrentes. A partir dessa abordagem, Drott (2001) comenta que, para uma melhor compreensão da inteligência competitiva e seu construto, existem sete elementos que comparam o conhecimento pessoal com o conjunto de informações que auxilia os executivos a construírem um sistema de inteligência de acordo com a consciência estratégica corporativa que está em evolução diante do mercado competitivo. Esses elementos são: Armazenar a inteligência não é algo simples, pois, para gerar arquivos manuais, biblioteca de dados e inserir informações em sistemas computadorizados, faz-se necessária uma velocidade suficiente para justificar a opção pela informatização. Assim precisa-se de uma base de hardware, pessoas para coletar e alimentar o sistema, um software para possibilitar o acesso aos dados e profissionais para analisar esses dados. 1. Informação individualizada com uma informação mais integrada. 2. Informação dispersa com uma melhor organização. 3. Informação que, de certa forma, era de baixo custo com alto custo. 4. Informação não estruturada com informação estruturada. 5. Informação aberta e informação fechada. 6. Informação temporária e informação permanente. 7. Conhecimento e informação. 2.1 O MODELO DE ROUACH E SANTI (2001) Miller apud ABIPTI (2004) formula um modelo de inteligência competitiva, que começa pela coleta dos dados (considerado como matéria-prima bruta dispersa), passa pela informação, pressupondo a existência de uma estrutura organizada, para que chegue à inteligência, uma vez que a análise fornece ao tomador de decisão, elementos para a ação estratégica junto ao mercado altamente competitivo, como nos dias de hoje. Diante do exposto no Gráfico1, Rouach e Santi (2001), identificam os cinco tipos de atitudes dos analistas relacionadas à inteligência competitiva, no qual o status vai dos especialistas (guerreiros) aos dorminhocos (amadores). OFENSIVOS 5 GUERREIRO 4 A unidade básica de um Sistema de Inteligência Competitiva é o ciclo de inteligência, o qual, segundo Miller apud ABIPTI (2004) corresponde às seguintes etapas: ATIVOS 3 a) Identificação dos tomadores de decisão e de suas necessidades. b) Coleta de informação apropriada. c) Análise da informação e geração de inteligência. d) Disseminação da inteligência para os tomadores de decisão. e) Avaliação dos produtos e processos da inteligência. INATIVOS 1 Segundo Porter (1997), o objetivo do Sistema de Inteligência Competitiva é conhecer o perfil de cada concorrente, não somente os concorrentes existentes, mas também os concorrentes potenciais, que podem ser: fornecedores, clientes, pro- NÍVEL DE AÇÃO Em uma contextualização mais atual, reforça-se que essas áreas deveriam estar inseridas em um Sistema de Informação de Marketing e identificadas com mais detalhes para cada foco de atuação. Por exemplo, para buscar informações da concorrência, devem ser considerados os principais concorrentes e suas estratégias utilizadas (STONE; GOOD, 1989). Rouach e Santi (2001) destacam que o gerenciamento do conhecimento e da informação tecnológica pode ser processado adicionando-se os valores de inteligência competitiva, por meio do elemento humano e discutem esses conceitos dentro de um modelo em relação aos cinco tipos de atitudes de inteligência. Como a decisão sempre está em torno de elemento humano, é importante tomá-la corretamente e em tempo hábil. ANALISTA INTELIGÊNCIA AGRESSIVO ANALISTA INTELIGÊNCIA ATIVO 2 ANALISTA INTELIGÊNCIA REATIVO DORMINHOCO NÍVEL DE ATUAÇÃO 1 AMADORES 2 3 4 5 PROFISSIONAIS ESPECIALISTAS Fonte: ROUACH, D.; SANTI, P. Practice competitive intelligence adds value: five intelligence attitudes. European Management Journal, Paris, v.19, n.5, p.552-559, out. 2001. GRÁFICO 1 Tipos de atitudes de inteligência. 11 PMKT CLÁUDIO LUIZ CHIUSOLI O Quadro 1 resume os respectivos métodos adotados pelos analistas de inteligência competitiva. QUADRO 1 Métodos adotados pelos analistas de inteligência competitiva. TIPOS DE ANALISTAS SITUAÇÃO DA MENTE MÉTODO Guerreiro Mentalidade guerreira. Sofisticadas ferramentas. Luta cruel contra a desin- Métodos variáveis (códiformação. gos de ética). Agressivo Patente contra falsificação. Recursos significativos ou ilimitados. Posição ofensiva. Líderes de times. Formato de serviço de agente secreto. Recursos significativos. Afiado processamento de dados. Valores postos sobre a inteligência humana. Profissionalismo e ética. Caçador por informação Liderança que vigia. estratégica. Ativo Reativo Observando a concorrência. Oportunistas. Limitação de recursos. Princípio de operação na rede de relacionamento. Ataque reativo. Muita limitação de orçamento. Dorminhoco Nenhuma ação em particular. Situação passiva. Fonte: ROUACH, D.; SANTI, P. Practice competitive intelligence adds value: five intelligence attitudes. European Management Journal, Paris, v.19, n.5, p.552-559, out. 2001. As principais características quanto aos cinco tipos de atitudes, segundo os autores são: n n n n n 12 Atitude guerreira —Trata-se de uma posição ofensiva, por meio de uma inteligência analítica muito pró-ativa no gerenciamento do processo da inteligência competitiva, com a contínua observância para novas oportunidades. Atitude agressiva — Trata-se também de uma posição pró-ativa, na qual a inteligência analítica é realizada frequentemente por ex-militares, especialistas em inteligência. Atitude ativa — A inteligência analítica está sempre procurando por informações estratégicas por meio de levantamento de informações, no entanto, o sistema de informação da organização não está bem estruturado. Atitude reativa — O gerente de inteligência responde somente quando os competidores estão evidentemente com alguma ação no mercado. Dorminhocos — A equipe de administração da organização não se interessa pela inteligência competitiva ou não tem conhecimento desse gerenciamento e não tem medo dos competidores. 3. MÉTODO DO ESTUDO Selltiz,Wrightsman e Cook (2004), expõem três tipos de estudos que servem para investigar o objetivo de uma pesquisa: n n n Pesquisa exploratória. Pesquisa descritiva. Pesquisa causal. O tipo de pesquisa utilizado neste trabalho foi um misto de pesquisa exploratória e pesquisa descritiva. A pesquisa foi exploratória pelo pouco conhecimento acumulado e sistematizado a respeito do assunto; foi descritiva porque procurou descrever comportamentos, atitudes e expectativas relacionados ao tema estudado junto ao segmento pesquisado. Como definido por Selltiz,Wrightsman e Cook (2004) a respeito da metodologia científica, os autores ressaltam que, em estudos exploratórios, a principal acentuação dá-se em descobertas de ideias e intuições cujo objetivo é familiarizar-se com o fenômeno ou conseguir nova compreensão deste para poder formular um problema mais preciso de pesquisa ou criar novas hipóteses. Em contrapartida, os estudos descritivos necessitam de um planejamento que reduza o viés e amplie a precisão da prova obtida, onde enquanto um dos objetivos trata de uma apresentação precisa das características de uma situação, um grupo ou um indivíduo específico, o outro objetivo verifica a frequência com que algo ocorre ou o que está ligado a alguma outra coisa. Compreende-se que a pesquisa exploratória é um tipo de pesquisa que tem como principal objetivo o fornecimento de critérios sobre a situação-problema enfrentada pelo pesquisador e sua compreensão (MALHOTRA, 2001). A pesquisa, quanto ao tempo em que foram coletados os dados, pode ser entendida por um corte-transversal, cuja coleta ocorreu em um só momento, pretendendo descrever e analisar o estado das variáveis em um dado momento como citam Freitas et al. (2000). O questionário conteve perguntas fechadas cuja escala utilizada foi a somatória de Likert do tipo concordo/discordo, de cinco pontos, que permitiram um maior aprofundamento nas análises estatísticas propostas, como o Qui-Quadrado, ANOVA e Análise de Correspondência (Quadro 2). O bloco das questões contemplou o perfil do respondente e a caracterização da organização em relação à efetiva utilização das informações de marketing que auxiliam a tomada DORMINHOCO OU GUERREIRO? PERFIS E ATITUDES DOS GESTORES MEDIANTE O USO DE SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE MARKETING de decisões. Esse levantamento utilizou a técnica de amostragem probabilística sistemática e a coleta de dados foi feita através de entrevistas pessoais realizadas pelo próprio autor. Foram aplicados cinco pré-testes para aprimoramento do instrumento de coleta de dados. Os horários foram previamente agendados para a realização da entrevista pessoal e possíveis elucidações do tema proposto. QUESTÕES VARIÁVEIS Perfil do respondente e caracterização da organização 5 Frases afirmativas 14 “inativa”; o segundo quartil, somando entre 48 e 53 pontos, classificou a organização em “reativa”; o terceiro quartil, de intervalo situado entre 54 e 56 pontos, considerou-se como organização “ativa” e, acima de 57 pontos, uma organização “pró-ativa”. QUADRO 3 Perfil das empresas (adaptado de ROUACH; SANTI, 2001). PERFIL QUADRO 2 Técnicas estatísticas utilizadas. PMKT PONTOS — QUARTIS Pró-ativo Acima de 57 pontos – 1 quartil Ativo 54 a 56 pontos – 2 quartis TÉCNICAS ESTATÍSTICAS Reativo 48 a 53 pontos – 3 quartis Qui-Quadrado Inativo 32 a 47 pontos – 4 quartis Fonte: Dados da Pesquisa Qui-Quadrado ANOVA Análise de Correspondência Dessa forma, foi possível verificar algumas associações significativas (Qui-Quadrado) entre as organizações ou diferenças significativas nas médias (ANOVA) entre algumas atitudes quanto ao uso da informação. Fonte: Dados da Pesquisa A base de dados foi ordenada por ramo de atividade para garantir a proporcionalidade da amostra junto a110 entrevistas a partir do universo de 188 empresas, de médio e grande porte, listadas segundo uma relação de endereços obtidos junto à Prefeitura de Londrina, PR e Associações. Para a aplicação dos testes estatísticos e como planejamento inicial da amostra ficou estabelecido que cerca de um terço fosse distribuído entre as atividades de comércio (34,5%), de serviços (30,9%) e de indústria (34,5%). Quanto ao tempo das empresas, desde a data da fundação, aproximadamente, 36% estão no mercado há mais de 30 anos. Esse percentual aumenta para 51% com as empresas que estão no mercado há 20 anos. Predominou o número de empresas de médio porte (quase 56%), com uma proporcionalidade da amostra situando-se bem próxima aos dados da listagem previamente obtida. O critério adotado para a caracterização do perfil das empresas foi por meio das respostas de classificação quanto ao grau de concordância das frases, que envolviam14 frases afirmativas. Os dados obtidos foram armazenados e processados eletronicamente no programa SPSS (versão 13.0).A análise dos dados consistiu-se em análises bivariadas que foram avaliadas com nível de significâncias estatísticas de 5% (p < 0,05) e para as prováveis inter-relações entre as mesmas foram usadas as técnicas de análise multivariada (Análise de Correspondência). As medidas de associação foram testadas por meio dos testes não paramétrico (Qui- Quadrado) e paramétrico (ANOVA). Para avaliar as opiniões e informações dos gestores foram utilizadas perguntas com escalas ordinais no processamento, porém para a análise foram trabalhadas como escalas intervalares. Aqui cabe uma ressalva: quanto ao rigor em relação à escala ser ordinal, o autor tomou a liberdade de fazer algumas concessões utilizando-se de médias em vez de medianas para captar as pequenas diferenças entre as respostas e aplicar a técnica proposta. 4. RESULTADO E DISCUSSÃO A escala utilizada foi a somatória de 5 pontos de Likert, do tipo concordo/discordo, que poderia somar um mínimo de 14 e um máximo de 70 pontos. Conforme mostra o Quadro 3, a amplitude obtida entre todas as empresas variou de 32 a 65 pontos.A partir desses números, utilizaram-se os quartis, em que o primeiro intervalo, de 32 a 47 pontos, foi considerado como uma organização Considerando a pesquisa realizada e conforme o objetivo desse artigo, o autor adaptou sua análise diante da classificação de Rouach e Santi (2001) citando que a atitude de um gestor pró-ativo é a daquele que se utiliza de ferramentas sofisticadas de gestão, possui grandes somas de recursos para investimento e tem uma mentalidade de busca incessante por informações, sobretudo dos competidores.Ainda segun13 PMKT CLÁUDIO LUIZ CHIUSOLI do Rouach e Santi (2001) sobre uma atitude ativa, trata-se de um gestor que prima e zela também pela informação que dispõe, embora com características mais limitadas e com menor estrutura de ação pela limitação de recursos. Por outro lado, os mesmos autores complementam que os reativos já vêm com uma mentalidade bem diferente em que a concorrência faz parte de um processo normal ficando à espera de uma oportunidade, como que observando seus players para que possam tomar alguma decisão. No caso do inativo, muitas vezes existe uma grande limitação de recursos. Ele enquadra-se como “dorminhoco”, pois não existe nenhuma ação particular em relação aos concorrentes, ficando diante de uma atitude bastante passiva. QUADRO 4 Comparativo dos perfis quanto às atitudes. PERFIL DO GESTOR ATITUDES EM RELAÇÃO ÀS VARIÁVEIS DE MARKETING Pró-ativo 72,4% monitoram as ações da concorrência. (acima de 57 pontos) 65,5% monitoram os preços dos concorrentes. 51,7% fazem plano de marketing**. 48,3% fazem pesquisa de marketing*. 58,6% possuem coleta de dados sistematizada. 55,2% têm uma pessoa responsável pela coleta de informações. 100% prestam atenção aos eventos da área*. Ativo 53,8% monitoram as ações da concorrência. (54 a 56 pontos) 65,5% monitoram os preços dos concorrentes. 50% fazem plano de marketing**. Com dados obtidos na pesquisa, apresenta-se no Quadro 4 um comparativo do perfil, características das organizações e atitudes dos gestores, por meio da adaptação do texto original de Rouach e Santi (2001). 26,9% fazem pesquisa de marketing*. 50% possuem coleta de dados sistematizada. 50% têm uma pessoa responsável pela coleta de informações. 88% prestam atenção aos eventos da área*. Nesse contexto, visualizam-se algumas características bastante peculiares para aqueles considerados pró-ativos, onde predominam empresas do comércio no grupo pesquisado. O pró-ativo é aquele gestor guerreiro que tem posição ofensiva em suas atitudes em relação ao mercado, pois na comparação entre as características e atitudes em relação às variáveis de marketing verificaram-se muitas divergências. Reativo 55,2% monitoram as ações da concorrência. (48 a 53 pontos) 69,2% monitoram os preços dos concorrentes. Em relação às atitudes quanto ao uso efetivo e gerenciamento das informações na presente metodologia comparativa de perfil dos gestores, houve diferenças significativas em relação às variáveis de marketing estudadas. Inativo 42,3% monitoram as ações da concorrência. (32 a 47 pontos) 42,3% monitoram os preços dos concorrentes. 34,5% fazem plano de marketing**. 13,8% fazem pesquisa de marketing*. 58,6% possuem coleta de dados sistematizada. 44,8% têm uma pessoa responsável pela coleta de informações. 96,6% prestam atenção aos eventos da área*. 34,6% fazem plano de marketing**. 15,4% fazem pesquisa de marketing*. 52,3% possuem coleta de dados sistematizada. Desse modo, percebeu-se que dos gestores enquadrados como pró-ativos, cerca de 51,7% faz uso do planejamento de marketing, enquanto nos inativos, o índice cai para 34,6%. Essa diferença se prova pela aplicação do teste estatístico paramétrico ANOVA (Análise de Variância) que aponta diferenças entre as médias obtidas por meio da escala de Likert utilizada. Quanto ao uso da pesquisa de marketing, por meio da técnica estatística não paramétrica, verificaram-se as associações entre as variáveis e o perfil desse gestor e ficou evidente que o pró-ativo (48,3%) tem o hábito de utilizar a pesquisa contra somente 15,4% do gestor caracterizado como inativo. Essas características continuam evidentes quando se observa o gestor pró-ativo tendo uma atitude totalmente efetiva sobre os eventos que acontecem na sua área de atuação (100% prestam atenção), o que não quer dizer que participe de todos os eventos, mas sabe o que está acontecendo e, em geral, acaba encontrando seus players de clientes e fornecedores. 14 38,5% têm uma pessoa responsável pela coleta de informações. 80,8% prestam atenção aos eventos da área*. * Teste Qui-Quadrado – (p < 0,05) ** Teste ANOVA – (p < 0,05) Fonte: Dados da Pesquisa. A Figura 1 mostra as associações verificadas entre as seguintes variáveis: 1. Pesquisa de marketing. 2. Monitoramento da concorrência. 3. Plano de marketing. 4. Atenção aos eventos. 5. Monitoramento dos preços dos concorrentes 6. Responsável pela coleta de informações. 7. Coleta sistematizada de dados. O entendimento da dimensão dá-se pela distância entre as DORMINHOCO OU GUERREIRO? PERFIS E ATITUDES DOS GESTORES MEDIANTE O USO DE SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE MARKETING variáveis marcadas no mapa (em vermelho) em relação aos perfis dos gestores (em marrom). Os gestores pró-ativos e ativos têm ao seu redor o maior número de variáveis. Quando comparados aos gestores com perfil inativo e reativo notamse as distâncias dessas variáveis estudadas que apontam associações dessas variáveis em relação aos quatro tipos de perfil de gestores. Isso permite comprovar que a postura dos gestores sugerida por Rouach e Santi (2001), como guerreiro e agressivo, se assemelha à adaptação elaborada pelo autor para as empresas pesquisadas que se enquadraram como próativas e ativas quanto ao uso das variáveis de marketing. 0,3 0,2 INATIVO ATIVO 0,1 PESSOA RESPONSÁVEL PELA COLETA DE DADOS 0,0 PRÓ-ATIVO ATENÇÃO A EVENTOS DA ÁREA - 0,1 MONITORA PREÇO DA CONCORRÊNCIA MONITORA CONCORRÊNCIA REATIVO - 0,3 - 0,4 - 0,5 PERFIL DOS GESTORES VARIÁVEIS - 0,6 - 0,4 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS Diante do levantamento bibliográfico e após a pesquisa de campo verificou-se que os gestores utilizam de forma modesta algumas práticas das atividades de marketing e entre elas estão a elaboração de planos e pesquisas de marketing. Vale lembrar que a classificação dessas empresas foi por meio de quartis, em que o maior score enquadraria os gestores como pro-ativos (1º quartil) e, o menor, como inativos (4º quartil). No entanto, isso é uma análise circunstancial e de proposição metodológica desse estudo, pois poderia haver um viés em função da falta de sinceridade do respondente. FAZEM PESQUISA DE MARKETING - 0,2 Os gestores com características pró-ativa e ativa estão mais associados ao uso dessas variáveis, conforme evidenciado pela análise de correspondência, apontando assim uma grande vantagem competitiva para aquela organização que tem um executivo com esse perfil. Considerando-se que o objetivo deste artigo foi investigar como os gestores das organizações se comportam em relação ao monitoramento da concorrência, apontou-se diante do estudo, a identificação do perfil e postura do gestor — próativo, ativo, reativo e inativo — mapeado conforme o modelo de Rouach e Santi (2001). PLANO DE MARKETING DIMENSÃO 2 0,4 PMKT DIMENSÃO 1 - 0,2 0,0 0,2 0,4 Fonte: Dados da Pesquisa. FIGURA 1 Mapa espacial das médias: variáveis utilizadas x perfil. Assim, confirma-se a lógica de que as atitudes desses gestores (pró-ativos e ativos) apontam para uma maior atenção do ambiente de marketing, que sofre profundas mudanças e que as decisões tomadas são apuradas em função das atividades de marketing. Presume-se então, que as chances de sucesso dos gestores inativos e reativos para cada decisão tomada sejam menores por serem menos atentos ao uso dessas ferramentas de marketing. Provavelmente os gestores com esse perfil (reativo e inativo) devem sofrer com a falta dessas informações, seja pela limitação de recursos financeiros ou pela demora em tomar decisão por conta da empresa ter uma postura conservadora e burocratizada quando se necessitam de informações para sustentar uma tomada de decisão. Mesmo diante dos resultados alcançados, observou-se que as organizações dão pouca atenção às técnicas que permitem monitorar as ações da concorrência com maior eficácia e que há um pouco mais de atenção ao acompanhamento do macro ambiente, em especial, aos eventos da área. Muitas ações de marketing ocorrem pela experiência diária do gestor, dessa maneira, um Sistema de Inteligência Competitiva de Marketing bem fundamentado desempenharia papel importante na concepção básica dos pressupostos necessários às organizações para estruturação dos dados para transformar em informações e, em seguida, uma tomada de decisão mais coerente. Vale considerar que este artigo procurou fazer uma revisão teórica que respaldasse a pesquisa de campo de cunho exploratório, possibilitando mostrar o perfil do gestor quanto às suas atitudes em relação à gestão de marketing na organização. No artigo foram aferidas algumas associações entre as variáveis pesquisadas, principalmente, aquelas que se referem à pesquisa e ao planejamento de marketing, o que confere a importância das atividades do marketing. 15 PMKT CLÁUDIO LUIZ CHIUSOLI Não houve a pretensão de esgotamento das discussões teóricas e práticas, onde há um enorme campo para proposição e discussão sobre o tema. Dessa forma, cabe a cada organização orientar-se para os modelos que mais se enquadrem à sua natureza de operação e a recomendação de estudos futuros e outras formas de discussão sobre o tema proposto. FREITAS, H.; MOSCALORA, J.; OLIVEIRA, M; SACCOL, A. Z. O método da pesquisa survey. Revista de Administração da USP, São Paulo v. 35, n.3, p. 105-112, jul./set. 2000. 6. LIMITAÇÕES DO ESTUDO KAHANER, L. Competitive intelligence: how to gather, analyse, and use information to move your business to the top. New York: Simon e Schuter, 1996. Uma limitação desse estudo é o problema de generalização, o que não deve ser feito, por ter sido realizado junto às empresas de médio e grande porte, pois as organizações de menor porte deixaram de ser estudadas. Da mesma forma, essa amostra representa uma população insignificante quando comparada ao universo de empresas em grandes pólos como São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais do Brasil. Como não há referência de estudos semelhantes quanto à categorização proposta consideradas como pro-ativas, ativas, reativas e inativas, não foi possível demonstrar se os índices obtidos são altos ou baixos (cada categoria) quanto às práticas de atividades de marketing. Cabe nesse sentido sugestões de estudos futuros para essa comparação e o uso da mesma metodologia proposta. Outra limitação refere-se ao tamanho da amostra pela dificuldade de acesso ao tipo de empresa em que seria aplicada a pesquisa, o que demandaria muito tempo e recursos financeiros. Nesse sentido, o poder de teste de algumas análises estatísticas sofreria prejuízo. Também vale ressaltar que a opinião de um executivo de Marketing em relação às variáveis estudadas pode ser completamente diferente da opinião de executivos de outras áreas, tais como de Recursos Humanos, Administração, Finanças etc. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIPTI – Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica. Inteligência competitiva. Disponível em: <http:// www.abipti.org.br/guia.htm>. Acesso em: 5 jun. 2004. CHIUSOLI, C. L. Um estudo exploratório sobre tipologias e sistema de informações de marketing. 2005. Tese (Doutorado em Administração) — Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo. DROTT, M. C. Personal knowledge, corporate information: the challenges for competitive intelligence. Business Horizons. v. 44, n. 2, p. 31-37, 2001. 16 GRISI, C. C. H.; SAHELI, S. Espionagem e ética no sistema de inteligência competitiva.V SEMEAD – Seminários em Administração. São Paulo: FEA/USP, 2001. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2003. LONDRINA. Prefeitura Municipal. Disponível em: <http:// www.londrina.pr.org.br>. Acesso em: 5 jun. 2004. MALHOTRA, Naresh. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. Porto Alegre: Bookman, 2001. MONTGOMERY, D. B.; WEINBERG, C. B. Toward strategic intelligence systems. New York: Prentice Hall, 1990. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência.7. ed. Rio de Janeiro: Campus,1997. _.Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992. POWELL, J. H.; BRADFORD, J. P. 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Marketing Information Systems support for the marketing management process: perceived improvements for marketing management. Marketing Intelligence & Planning, Bradford, v.13, n.1, p.18,1995. PMKT XU, X. Z.; KAYE R. G. Building market intelligence systemns for environment scanning. Logistics Information v. 8, n. 2, p. 22-29,1995. 17 PMKT ENEIDA BEZERRA SOARES RIBEIRO / PAULO HENRIQUE MÜLLER PRADO / JOSÉ CARLOS KORELO / DANIELLE MANTOVANI L. DA SILVA PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO EM CONTEXTOS B2B: UMATAXONOMIA APLICADA ÀTECNOLOGIA PARA A PECUÁRIA — PERCEPTION OF INNOVATION IN B2B CONTEXTS: A TAXONOMY APPLIED TO THE TECHNOLOGY FOR BEEF CATTLE PRODUCERS n RESUMO Apoiado na Teoria de Difusão de Inovações, este estudo propõe uma taxonomia de consumidores organizacionais — no caso, pecuaristas — com base nas características percebidas por eles em relação à inovação de identificação eletrônica de rebanho bovino, através de um tipo específico de identificador, o bolus.A primeira fase da pesquisa foi qualitativa, de caráter preparatório, na qual foram realizadas oito entrevistas em profundidade com pecuaristas. Na fase quantitativa, com amostragem não probabilística por conveniência, foram obtidos 205 questionários válidos. Com o objetivo de definir mais precisamente o perfil dos consumidores em relação à tecnologia de identificação eletrônica através do bolus, foi feita uma análise de agrupamentos, permitindo a identificação de três grupos. O primeiro grupo foi denominado de “Facilidade no manejo, controle e qualidade” e foi o que apresentou a percepção mais positiva em relação às características da inovação. O segundo de “Céticos,voltados à produção e receosos quanto a investir”, por ter obtido as menores médias para os indicadores em que houve uma diferenciação estatística significante. O terceiro de “Afeitos ao controle e voltados para a imagem”, por ter obtido médias altas nos indicadores relacionados às características. PALAVRAS-CHAVE: Inovação, características percebidas, pecuaristas. ENEIDA BEZERRA SOARES RIBEIRO GRADUADA EM MEDICINA VETERINÁRIA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR); ESPECIALIZAÇÃO E MBA EM MARKETING PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR); MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO E MARKETING PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR). E-MAIL: [email protected] n PAULO HENRIQUE MÜLLER PRADO GRADUADO EM ENGENHARIA ELÉTRICA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP); ESPECIALIZAÇÃO EM MARKETING EMPRESARIAL PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR); MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR); DOUTOR EM ADMINISTRAÇÃO E MARKETING PELA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAU LO DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. E-MAIL: [email protected] ABSTRACT Supported by the Theory of Diffusion of Innovations, this study proposes a profiling of beef cattle producers, based on the perceived characteristics in relation to the technology of electronic animal identification, through a specific type of tagging, the bolus.The first phase of the research was qualitative, with in-depth interviews with eight beef cattle producers.The quantitative phase was nonprobabilistic and 205 valid questionnaires were obtained. In order to define more precisely the profile of consumers in relation to the technology of electronic animal identification, a cluster analysis was performed, which allowed for the identification and study of three different groups.The first group was referred to as“Easy Management, control and quality” and denoted the best general perception towards the characteristics of the innovation. The second group was called "Skeptical, focused on the production and wary of investing,” for having obtained the lowest averages for the indicators to which there was a statistically significant difference. The third group was called “Keen on control and devoted to personal image” for having achieved high averages on the indicators related to those characteristics. KEY WORDS: Innovation, perceived characteristics, beef cattle producers. 18 n JOSÉ CARLOS KORELO GRADUADO EM ENGENHARIA DA COMPUTAÇÃO PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ (PUC-PR); MESTRE E DOUTORANDO EM ADMINISTRAÇÃO E MARKETING PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR). E-MAIL: [email protected] n DANIELLE MANTOVANI L. DA SILVA GRADUADA EM ADMINISTRAÇÃO PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL (UFMS); MESTRE E DOUTORANDA EM ADMINISTRAÇÃO E MARKETING PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR). E-MAIL: [email protected] PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO EM CONTEXTOS B2B: UMA TAXONOMIA APLICADA À TECNOLOGIA PARA A PECUÁRIA 1. INTRODUÇÃO A atual configuração mercadológica, caracterizada por mercados de grande dinamismo e competitividade, exige que empresas, dos mais diferentes setores, se posicionem de modo estratégico.Algumas empresas líderes no segmento agroindustrial têm buscado agregação de valor e diferenciação de seus produtos como principais estratégias para competir em mercados globais. Nesse intento, tais empresas têm procurado utilizar, intensivamente, tecnologias inovadoras que, segundo Batalha (1997), desempenham um papel cada vez mais importante como fator explicativo das estruturas industriais e do comportamento competitivo das empresas de produtos agroindustriais. Vários setores têm testemunhado a pressão pela utilização de tecnologia, como é o caso da bovinocultura de corte brasileira.As sérias transformações na estrutura produtiva, decorrentes dos aumentos das exportações, aliadas à pressão de blocos econômicos por produtos mais seguros, expôs um retrato precário do setor no Brasil. Sem um sistema de identificação animal confiável e eficiente e sem subsídios do governo para adoção das tecnologias relacionadas, o Brasil sofreu, recentemente, embargos das exportações de carne bovina para a União Européia, o que implicou em sérias perdas na balança comercial do país. Dentre as inovações disponíveis no mercado pecuário atual, a tecnologia de identificação eletrônica pode minimizar as dificuldades enfrentadas pelo pecuarista para fazer identificação e rastreamento dos rebanhos.Ao mesmo tempo, essa tecnologia contribui para a melhoria do manejo zootécnico e sanitário dos animais. Sob essa perspectiva, percebe-se que a Teoria da Difusão da Inovação (ROGERS, 2003) pode contribuir para a compreensão da maneira como um produto, serviço ou ideia se difunde pela população (SOLOMON, 2002; WATTS; DODDS, 2007; GOLDENBERG et al., 2009) e como essa inovação é aceita pelo consumidor, seja ele final ou organizacional (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). O objetivo do presente estudo é propor uma taxonomia de consumidores organizacionais — no caso, pecuaristas — com base nas características percebidas por eles em relação à inovação em tela. No contexto da pecuária brasileira, tal compreensão do processo de difusão de inovação permite a otimização de estratégias e comunicações entre empresa e mercado, provendo maior conhecimento acerca dos fatores que guiam a decisão entre adotar ou não uma inovação tecnológica por parte dos consumidores. PMKT Além disso, diante da, razoavelmente, robusta teoria já existente em relação à adoção e difusão voltada ao consumidor final (GATIGNON; ROBERTSON, 1985),verifica-se, na literatura, a necessidade de maior atenção à difusão de inovações no contexto organizacional. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 IDENTIFICAÇÃO ELETRÔNICA COMO INOVAÇÃO O surgimento da tecnologia de identificação eletrônica representou um avanço notável para o dia a dia dos pecuaristas. Essa tecnologia consiste em uma ferramenta de auxílio para o manejo zootécnico e sanitário do rebanho, além de prover condições para um rastreamento mais eficiente e confiável. Antes dessa tecnologia existir, era impossível fazer um tratamento individualizado dos animais e as decisões de manejo eram baseadas nas médias de desempenho, dessa forma, quanto maiores eram os rebanhos, menos precisos eram esses manejos. Em sintonia com a proposta de Robertson (1971), segundo a qual a determinante crítica de uma inovação é o efeito que a mesma exerce sobre os padrões estabelecidos de consumo, entende-se que a tecnologia de identificação eletrônica animal é uma inovação por requerer a mudança dos padrões de consumo de seus consumidores, no caso, pecuaristas, como consumidores organizacionais. De acordo com a classificação de Robertson (1971), essa tecnologia pode ser classificada como uma inovação descontínua ao criar um comportamento totalmente novo por parte do adotante, já que a mesma passou a exigir um manejo específico do rebanho como a colocação dos “brincos” e “sensores”, além da leitura a cada movimentação dos animais. A identificação eletrônica animal opera por um sistema de rádio frequência, conhecido por RFID – Radio Frequency Identification, termo genérico usado para descrever as tecnologias que usam rádio frequência para identificar, automaticamente, pessoas, animais ou objetos. Entre outras aplicações (GUTIERREZ; MONTEIRO FILHA; NEVES, 2005), a tecnologia RFID é utilizada como controle de acesso a ambientes, meios de transporte e bibliotecas; no varejo é utilizada através dos dispositivos presos aos produtos à venda para evitar furtos nas lojas e rastreamento dos mesmos dentro da rede de fornecimento; nos hospitais é utilizado para monitorar a localização de pacientes e médicos. No caso da identificação eletrônica animal, a tecnologia de 1910 PMKT ENEIDA BEZERRA SOARES RIBEIRO / PAULO HENRIQUE MÜLLER PRADO / JOSÉ CARLOS KORELO / DANIELLE MANTOVANI L. DA SILVA RFID permite recuperar, à distância, sem fio (wireless),informações armazenadas em um pequeno objeto identificador (chip, tag ou transponder) colocado no corpo do animal (GUTIERREZ; MONTEIRO FILHA; NEVES, 2005). Assim, os tags ou transponders permitem associar, a cada animal, todas as ações realizadas como: históricos de sanidade, movimentação e informações financeiras. Além dos transponders, o sistema é composto ainda por leitoras, antenas e softwares específicos. Existem vários tipos de transponders disponíveis no mercado, como brinco eletrônico auricular, implante subcutâneo e bolus intrarruminal (artefato de cerâmica que contém um chip em seu interior). Neste artigo será utilizada a análise do bolus intrarruminal. Cada um desses dispositivos apresenta vantagens e desvantagens. O brinco auricular eletrônico, assim como o não eletrônico, apresenta como principal desvantagem a possibilidade de ser perdido (GUTIERREZ; MONTEIRO FILHA; NEVES, 2005), mas há que se considerar também, que sua colocação, quando mal feita, pode ser a causa de infecções e processo traumático (PIRES, 2002). Gutierrez; Monteiro Filha e Neves (2005) explicam que o bolus intrarruminal, depois de ser inserido no animal, permanece no seu corpo por toda a vida, proporcionando leitura eficiente e fácil, apesar de seu preço ainda ser elevado. Quanto ao implante subcutâneo, a desvantagem está no fato de estar sujeito a “migrações”.Alguns dos benefícios em se utilizar a identificação eletrônica de animais são: acompanhamento do tamanho e características do rebanho; controle patrimonial (devido à elevada frequência de roubos na pecuária extensiva); controle da engorda e reprodução; administração de processos financeiros e contábeis associados, incluídos estoques e custos; controle de aspectos sanitários, como administração de vacinas, medicamentos e suplementos alimentares; entre outros. to a difusão refere-se ao número acumulado de usuários de uma inovação em um mercado (ROGERS, 2003). As percepções que os membros de uma organização têm sobre uma inovação afetam suas percepções de valor e sua propensão em adotar um novo produto (OSTLUND, 1974). Segundo Anderson e Narus (1999), o valor de implementar uma inovação deve oferecer algum incentivo econômico sobre as outras ofertas do mercado, para que as organizações possam considerar seriamente a adoção. A questão de focar nas características que os consumidores percebem da inovação, em vez das características da inovação em si, foi justificada por Downs e Mohr (1976). Segundo os autores, o foco apenas nas características da inovação,desconsiderando a percepção que os adotantes potenciais têm dela é um problema, pois o comportamento dos indivíduos é ditado pela maneira como percebem esses atributos. Moore e Benbasat (1991) propuseram uma escala para a mensuração das várias percepções de um indivíduo na adoção de uma inovação tecnológica no contexto organizacional.As dimensões dos atributos percebidos das inovações propostas por esses autores e utilizadas nesse estudo são: n n 2.2 TEORIA DA DIFUSÃO DA INOVAÇÃO E CARACTERÍSTICAS PERCEBIDAS Uma das mais importantes questões com as quais os profissionais de marketing se deparam ao lançar novos produtos — as inovações — é relativa a aceitação ou não desses produtos no mercado, já que uma alta porcentagem dos mesmos não consegue obter êxito após o lançamento. Nesse sentido, a teoria da difusão ajuda a entender esse processo, apontando os fatores que são decisivos para a adoção da inovação. A adoção refere-se à decisão de um indivíduo ou uma organização em fazer uso de uma inovação, enquan20 n Vantagem relativa — É um dos melhores preditores da adoção (ROBINSON, 1990) e refere-se a quanto o adotante potencial percebe em uma inovação como sendo superior a outros produtos alternativos, serviços ou conceitos (ROGERS, 2003). Especialmente para organizações, a vantagem diferencial de usar uma inovação sobre as alternativas existentes é importante, já que é a produtividade do negócio que está em jogo. Isso implica em que uma proposta de inovação somente será seriamente considerada caso ofereça algum benefício econômico para a empresa (FRAMBACH; SCHILLEWAERT, 1999). O grau da vantagem relativa é normalmente expresso através de vantagem econômica ou prestígio social. Compatibilidade — Refere-se a quanto uma inovação se ajusta aos valores, experiências prévias e necessidades do adotante potencial (ROGERS, 2003). Uma inovação que tenha essa ressonância com o consumidor e onde o consumidor se sinta confortável ou familiarizado com ela, terá maior chance de ser adotada do que uma inovação que não tenha esses atributos (BLACK et al., 2001). Uma inovação pode ser compatível ou incompatível com: (1) valores e crenças socioculturais; (2) ideias previamente introduzidas; e (3) necessidades do cliente para a inovação. Imagem — Segundo Moore e Benbasat (1991), a dimensão imagem, pode ser definida como o grau em que o uso da inovação é percebido como capaz de melhorar a imagem PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO EM CONTEXTOS B2B: UMA TAXONOMIA APLICADA À TECNOLOGIA PARA A PECUÁRIA n n n n n ou status de alguém num sistema social.Alguns autores, além de Rogers (2003), incluem a imagem como sendo um aspecto da vantagem relativa, argumentando que não há dúvida de que uma das maiores motivações para que quase todas as pessoas adotem uma inovação, é o desejo de obter status social. Porém, como discutido por Tornatzky e Klein (1982) alguns pesquisadores acreditam que o efeito da imagem (aprovação social) é diferente o suficiente da vantagem relativa podendo ser considerada um fator à parte (HALLOWAY,1977). Demonstração de resultados — Esse construto foi proposto por Moore e Benbasat (1991) depois de verificarem algumas inconsistências no construto “observabilidade” de Rogers (2003). Os estudos de Moore e Benbasat (1991) apontaram que a observabilidade, como proposta por Rogers (2003), não apresentava boa validade de construto e consistência interna. Como resultado,decidiram dividir o construto e focar em cada uma de suas dimensões, independentemente. Uma dimensão concentrou-se na tangibilidade dos resultados da inovação, incluindo sua observabilidade e comunicabilidade, rotulada, então, como demonstração de resultados. Visibilidade — Embora Moore e Benbasat (1991), não tenham, explicitamente, mencionado uma definição para essa característica, a mesma foi explorada pelos autores como sendo o grau em que o adotante vê a tecnologia sendo utilizada pelas outras pessoas. Experimentabilidade — Refere-se ao grau em que uma inovação pode ser experimentada de modo limitado (ROGERS, 2003).A oportunidade de testar uma adoção é percebida como um mecanismo efetivo para reduzir o risco percebido e, por isso, é esperado que tenha um impacto positivo na decisão de adoção (BLACK et al., 2001). Custos — Tornatzky e Klein (1982) propuseram, entre outras, a dimensão custo como uma das características percebidas da inovação com maior relevância para os contextos organizacionais. A dimensão custo está diretamente relacionada à outra dimensão que é o risco percebido. Para Webster (1968), risco é a possibilidade de resultados negativos associados à adoção, fazendo com que a mesma seja arriscada, pois envolve a incerteza sobre os resultados da ação inovadora.Assim, os novos produtos envolvem incertezas ou riscos, decorrentes da percepção de novos atributos, como: complexidade tecnológica, preço e novidade tecnológica, que podem aumentar a resistência à adoção (ROGERS, 2003). Voluntariedade — Esse construto pode ser definido como o grau em que o uso de uma inovação é percebido como sendo voluntário ou de espontânea vontade (MOORE; BENBASAT, 1991). Em virtude das particularidades da cadeia da carne, que tem imposto regras e condicionantes para a exportação do produto para a Europa, a inclusão desse item no estudo pareceu importante. O trabalho de n PMKT Moore e Benbasat (1991), com relação à voluntariedade, se propôs a analisar o quanto um indivíduo é livre para adotar uma tecnologia dentro da organização, pois, às vezes, o uso de uma determinada inovação pode ser tanto imposto quanto desencorajado pelas políticas corporativas. Facilidade de uso — Esse construto foi, inicialmente, proposto por Davis (1986) e pode ser definido como o grau em que um indivíduo acredita que utilizar um determinado equipamento ou sistema seja livre de esforço físico ou mental. Esse construto guarda muitas similaridades com a “complexidade”, proposta por Rogers (2003). Pesquisas indicam que a complexidade de uma inovação é mais diretamente relacionada (negativamente) à sua taxa de adoção do que qualquer outra característica da inovação, exceto a vantagem relativa (SINGH,1966). A análise das características percebidas da inovação no contexto organizacional considerado no presente estudo traz a possibilidade de melhor compreensão dos motivos pelos quais os pecuaristas (unidade de análise) se posicionam em relação a essa inovação — nesse caso, o identificador do tipo bolus intrarruminal. 3. METODOLOGIA O presente estudo teve duas fases distintas. A primeira fase foi qualitativa, de caráter exploratório (MALHOTRA, 2006), na qual foram realizadas entrevistas em profundidade com oito pecuaristas, visando melhor entender o problema em questão e nortear a elaboração do questionário de pesquisa. Todas as entrevistas da fase qualitativa foram gravadas, transcritas e analisadas através da técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2009). A partir das informações obtidas na fase qualitativa, bem como com a ajuda de alguns dados secundários e da teoria utilizada, foi possível a elaboração de um instrumento estruturado para a coleta dos dados para a fase quantitativa. Esse questionário, além das questões teóricas de pesquisa, continha também uma seção explicativa sobre a tecnologia de identificação eletrônica, através de textos e fotos. Para a validação de conteúdo (MALHOTRA, 2006), o questionário foi submetido à apreciação dos professores, sendo um professor da área de Agronegócios,dois da área de Marketing e outro profissional da área de Agronomia, que apontaram críticas e sugestões para correção das inconsistências encontradas.Ainda antes da aplicação, o questionário foi submetido a um pré-teste feito com cinco respondentes, visando um refinamento mais apurado das variáveis analisadas. Iniciou-se a fase quantitativa, com pesquisa do tipo conclu21 PMKT ENEIDA BEZERRA SOARES RIBEIRO / PAULO HENRIQUE MÜLLER PRADO / JOSÉ CARLOS KORELO / DANIELLE MANTOVANI L. DA SILVA siva descritiva, coleta de dados através de questionários autopreenchidos e também disponibilizados na internet. Essa pesquisa tem perspectiva cross sectional (MALHOTRA 2006) e nível de análise individual (pecuaristas de gado de corte). dentro da amostra; e (3) análise discriminante, utilizada com o objetivo de distinguir, entre os indicadores utilizados, quais os que mais contribuiriam para esta segmentação dos clusters. 4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS O método utilizado nessa fase foi o levantamento (survey). O método de survey, tipicamente, examina uma amostra selecionada da população. Foi possível obter um mailing list de e-mails dos produtores associados da ABCNP – Associação Brasileira dos Criadores de Novilho Precoce, o que permitiu a disponibilização da pesquisa pela internet. Um e-mail marketing foi criado e enviado ao mailing. Além disso, um patrocínio foi obtido junto a uma empresa do setor, o que permitiu sortear uma novilha entre os participantes, criando um estímulo às respostas. Além da coleta via internet solicitou-se o apoio a uma certificadora, na cidade de Campo Grande (MS), para que a mesma autorizasse a permanência dos pesquisadores nas suas dependências, viabilizando a chance de abordar diretamente os pecuaristas e lhes entregar o questionário, já envelopado e selado. Ainda visando atingir um maior número de produtores, utilizou-se o recurso de frequentar alguns dos leilões realizados durante a ExpoGrande (importante feira agropecuária da cidade de Campo Grande), com o objetivo de abordar diretamente os pecuaristas, entregar os questionários e solicitar seu preenchimento. As diferentes abordagens para a coleta de dados devem-se, principalmente, à dificuldade em se encontrar os respondentes que faziam parte do perfil da amostra (pecuaristas). Portanto, a amostragem utilizada pode ser caracterizada como não probabilística por conveniência (MALHOTRA, 2006). Os fatores utilizados para a determinação do tamanho da amostra quantitativa levaram em conta o número de variáveis a serem analisadas e as técnicas estatísticas empregadas, incorrendo numa quantidade mínima de 200 questionários válidos (HAIR et al., 2005). No total, 205 instrumentos foram obtidos ao final da fase de coleta, o que foi considerado satisfatório para as análises estatísticas realizadas. Os dados da fase quantitativa foram tratados através dos métodos estatísticos com o auxílio do software estatístico SPSS 15.0.As técnicas estatísticas utilizadas para esse estudo foram: (1) análise fatorial exploratória, para reduzir os itens da escala da variável vantagem relativa.As demais dimensões não ensejaram a utilização da análise fatorial por terem um número reduzido de itens; (2) análise de agrupamentos (cluster), com o objetivo de caracterizar os grupos de consumidores 22 A análise da fase quantitativa submeteu os resultados a três etapas: (1) preparação da base de dados, onde foram realizadas as análises univariada e multivariada (conferência de médias, limites, desvios padrão, curtose e assimetria); (2) verificação do modelo de mensuração através de análise fatorial exploratória para a escala da vantagem relativa e para a consistência interna de cada dimensão, definida pelo Alpha de Cronbach; e (3) proposta da taxonomia de consumidores com base nas variáveis analisadas. 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA A grande maioria dos respondentes é do gênero masculino (77,6%). Cerca de 46,4% possuem curso superior completo e 24,4% especialização. Com relação à idade, 17,9% estão na faixa de 20 a 30 anos; 22% têm entre 31 e 40 anos; 30% entre 41 e 50 anos e, 30,1%, mais de 50 anos. Os participantes da pesquisa que estão na faixa de tamanho de propriedade entre 100 e 500 hectares correspondem a 28,5%; os que estão entre 500 e 1.000 hectares a 17,3%; entre1.000 e 3.000 hectares somam 26,8%; seguidos dos 22% que têm propriedades acima de 3.000 hectares. Em relação ao tamanho do rebanho dos respondentes, a maioria ficou na faixa de até 1.000 cabeças de gado (57,1%); seguidos pelos que possuem um rebanho entre1.000 e 3.000 cabeças (20,9%); os que possuem entre 3.000 e 5.000 cabeças de gado somam 10,7% da amostra e somente 11,3% dos respondentes afirmaram possuir um rebanho com mais de 5.000 cabeças. 4.2 VERIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS ANALISADAS As escalas utilizadas foram desenvolvidas para cada uma das dimensões das características percebidas da inovação utilizadas na pesquisa, a saber: vantagem relativa, compatibilidade, imagem, demonstração de resultados, visibilidade, experimentabilidade, custos, voluntariedade e facilidade de uso. As escalas variaram de discordo totalmente (1 e 2) até concordo totalmente (9 e10).Assim, partiu-se para a medição da confiabilidade da escala e análise da consistência interna do construto. Com a finalidade de agrupar e reduzir os itens da escala da PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO EM CONTEXTOS B2B: UMA TAXONOMIA APLICADA À TECNOLOGIA PARA A PECUÁRIA vantagem relativa foi feita uma análise fatorial, que confirmou a unidimensionalidade do construto, pois apenas um componente, representando 64,5% da variância total, foi extraído. As demais dimensões do estudo não foram submetidas à técnica, por já terem um número reduzido de itens em suas escalas. A Tabela1 apresenta os valores das médias e desvio padrão obtidos para cada um dos indicadores das variáveis mantidas para as análises subsequentes.Além disso, observa-se o valor de Alpha de Cronbach obtido para cada uma das dimensões. As dimensões que obtiveram índices de Alpha de Cronbach satisfatório, ou seja, acima de 0,6, conforme recomenda Hair et al. (2005), foram: vantagem relativa, compatibilidade, imagem,demonstração de resultados e custos, os quais puderam ser utilizados na pesquisa. As demais dimensões (visibilidade, experimentabilidade, voluntariedade e facilidade de uso) não foram utilizadas. PMKT 5. TAXONOMIA DE PECUARISTAS A PARTIR DAS CARACTERÍSTICAS PERCEBIDAS DA INOVAÇÃO Para a caracterização dos grupos de consumidores dentro da amostra, foi utilizada a técnica de análise de cluster, ou análise de agrupamentos, baseada nas características que os consumidores percebem da tecnologia de identificação eletrônica animal através do bolus. Todos os14 indicadores das 5 dimensões que compõem essas características e que obtiveram consistência interna adequada (vantagem relativa, compatibilidade, imagem, demonstração de resultados e custos) foram submetidos à técnica. A princípio, a análise indicou 4 grupos, porém em um deles havia apenas15 integrantes. Isso seria um impeditivo para a realização da análise discriminante que se seguiria a de cluster, pois, segundo Hair et al. (2005), cada grupo deve ter, no mínimo, 20 observações para poder ser submetido a esse tipo de análise.Além disso, os mesmos autores esclarecem que, se os grupos variam muito em tamanho, isso pode causar im- TABELA 1 Média, desvio padrão e confiabilidade das variáveis. DIMENSÃO AFIRMAÇÕES Vantagem relativa Eu posso realizar minhas tarefas mais rapidamente com essas tecnologias. Compatibilidade Imagem Demonstração de resultados Custos MÉDIA DP ALPHA DE CRONBACH 8,3 2,2 0,886 Elas (tecnologias) melhoram a qualidade do meu trabalho. 8,2 2,2 Utilizando essas tecnologias eu posso realizar meu trabalho mais facilmente. 8,3 2,1 Eu acho que vou poder aumentar minha lucratividade se passar a utilizá-las. 7,1 2,6 Consigo ter maior controle sobre meu trabalho utilizando essas tecnologias. 8,7 1,6 Essas tecnologias aumentam a minha produtividade. 7,2 2,5 Essas tecnologias são compatíveis com todos os aspectos do meu trabalho. 7,2 2,3 Eu acho que essas tecnologias se ajustam bem à maneira que eu gosto de trabalhar. 7,5 2,3 Utilizar essas tecnologias melhora minha imagem diante de outros produtores. 7,1 2,7 Meu prestígio junto a outros produtores aumentará se eu passar a utilizar essas tecnologias. 6,6 2,8 Eu não teria dificuldades em falar aos outros sobre as vantagens de utilizar essas tecnologias. 7,4 2,5 As vantagens de utilizar essas tecnologias são evidentes para mim. 7,8 2,1 Sei que farei um bom investimento para a minha propriedade se adotar essas tecnologias. 7,0 2,6 Mesmo que sejam caras, vale a pena investir nessas tecnologias. 5,7 2,9 0,702 0,889 0,656 0,787 Fonte: Dados da Pesquisa. 23 PMKT ENEIDA BEZERRA SOARES RIBEIRO / PAULO HENRIQUE MÜLLER PRADO / JOSÉ CARLOS KORELO / DANIELLE MANTOVANI L. DA SILVA pacto na estimação da função discriminante e na classificação das observações. Assim, a análise de diferentes configurações dos grupos evidenciou que o número ideal de agrupamentos a ser utilizado consistia em 3 clusters compostos por 85, 58 e 47 integrantes. Os resultados obtidos após a realização da análise da variância (ANOVA) apontaram que os 3 clusters são suficientemente distintos uns dos outros para todas as variáveis consideradas (p < 0,001). Para refinar a análise dos resultados obtidos, foi realizada a técnica de análise discriminante, que permite distinguir, entre os14 indicadores utilizados, quais os que mais contribuem para esta segmentação, atribuindo pesos diferenciados (ou coeficientes da função discriminante), para esses indicadores. Como se têm três grupos tem-se duas funções discriminantes. Essas funções e a configuração estrutural dos indicadores das características percebidas da inovação podem ser vistas na Tabela 2. De modo geral, os prognosticadores com coeficientes padronizados, relativamente altos, contribuem mais para o poder discriminatório da função, em comparação com os coeficientes mais baixos (MALHOTRA, 2006). A análise dos prognosticadores das funções vistas na Tabela 2 permite chamar a primeira função de “Praticidade e Lucratividade”, pois o indicador com maior poder discriminatório dessa função é “Utilizando essas tecnologias eu posso realizar meu trabalho mais facilmente”, seguido de “Eu acho que vou poder aumentar minha lucratividade se passar a utilizar essas tecnologias”, “Consigo ter maior controle sobre meu trabalho utilizando essas tecnologias”, “Essas tecnologias são compatíveis com todos os aspectos do meu trabalho”, “Mesmo que sejam caras, acho que vale a pena investir nessas tecnologias”, “Sei que farei um bom investimento para minha propriedade se adotar essas tecnologias”, e “Essas tecnologias melhoram a qualidade do meu trabalho”. A segunda função pode ser denominada “Mais produção, menos imagem”, pois o primeiro e o terceiro prognosticadores dessa função, relacionados à imagem e prestígio, têm valores negativos: “Utilizar essas tecnologias melhora minha imagem diante de outros produtores” e “Meu prestígio junto a outros produtores aumentará, se eu passar a utilizar essas tecnologias”. O segundo indicador é “Essas tecnologias aumentam minha produtividade”, o quarto,“Eu posso realizar minha tarefas mais rapidamente com essas tecnologias”, seguido de “As vantagens de utilizar essas tecnologias são evidentes para mim”, “Eu acho que essas tecnologias se ajustam bem à maneira que eu gosto de trabalhar” e “Eu não teria dificuldades de falar aos outros sobre as vantagens de utilizar essas tecnologias”. TABELA 2 Matriz estrutural dos indicadores das características percebidas da inovação. FUNÇÃO INDICADORES Utilizando essas tecnologias eu posso realizar meu trabalho mais facilmente. Eu acho que vou poder aumentar minha lucratividade se passar a utilizá-las. Consigo ter maior controle sobre meu trabalho utilizando essas tecnologias. Essas tecnologias são compatíveis com todos os aspectos do meu trabalho. Mesmo que sejam caras, acho que vale a pena investir nessas tecnologias. Sei que farei um bom investimento para a minha propriedade se adotar essas tecnologias. Elas (tecnologias) melhoram a qualidade do meu trabalho. Utilizar essas tecnologias melhora a minha imagem diante de outros produtores. Essas tecnologias aumentam a minha produtividade. Meu prestígio junto a outros produtores aumentará se eu passar a utilizar essas tecnologias. Eu posso realizar minhas tarefas mais rapidamente com essas tecnologias. As vantagens de utilizar essas tecnologias são evidentes para mim. Eu acho que essas tecnologias se ajustam bem à maneira que eu gosto de trabalhar. Eu não teria dificuldades em falar aos outros sobre as vantagens de utilizar essas tecnologias. Obs.: (*) Maiores correlações absolutas entre cada variável e a função discriminante. Fonte: Dados da Pesquisa. 24 PRATICIDADE, LUCRATIVIDADE E CONTROLE ,379 (*) ,357 (*) ,327 (*) ,323 (*) ,294 (*) ,255 (*) ,255 (*) ,468 ,332 ,452 ,166 ,355 ,374 ,289 MELHORA NA PRODUÇÃO, MENOS IMAGEM ,362 ,213 ,064 ,297 - ,123 ,101 ,200 - ,579 (*) ,515 (*) - ,478 (*) ,444 (*) ,436 (*) ,431 (*) ,332 (*) PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO EM CONTEXTOS B2B: UMA TAXONOMIA APLICADA À TECNOLOGIA PARA A PECUÁRIA Na sequência avalia-se o teste de λ de Wilks, cujos valores variam entre 0 e1. Grandes valores de λ (próximos de1) indicam que as médias dos grupos não parecem ser diferentes umas das outras. Pequenos valores de λ (próximos de zero) indicam que as médias dos grupos parecem ser diferentes PMKT (MALHOTRA, 2006). O resultado do teste para cada um dos indicadores é apresentado na Tabela 3. A análise dos valores apresentados na Tabela 3 aponta que o prognosticador com o menor λ de Wilks (0,441), é o “Uti- TABELA 3 Testes de λ de Wilks para cada prognosticador. λ DE WILKS F SIGMA Eu posso realizar minhas tarefas mais rapidamente com essas tecnologias. Elas (tecnologias) melhoram a qualidade do meu trabalho. Utilizando essas tecnologias eu posso realizar meu trabalho mais facilmente. Eu acho que vou poder aumentar minha lucratividade se passar a utilizá-las. Consigo ter maior controle sobre meu trabalho utilizando essas tecnologias. Essas tecnologias aumentam a minha produtividade. Essas tecnologias são compatíveis com todos os aspectos do meu trabalho. Eu acho que essas tecnologias se ajustam bem à maneira que eu gosto de trabalhar. Utilizar essas tecnologias melhora a minha imagem diante de outros produtores. ,822 ,739 ,556 ,594 ,641 ,597 ,634 ,556 ,441 16,618 27,225 61,417 52,650 43,157 51,937 44,432 61,506 97,592 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 Meu prestígio junto a outros produtores aumentará se eu passar a utilizar essas tecnologias. ,465 88,699 0,000 Eu não teria dificuldades de falar aos outros sobre as vantagens de utilizar essas tecnologias. ,678 36,642 0,000 As vantagens de utilizar essas tecnologias são evidentes para mim. ,578 56,179 0,000 Sei que farei um bom investimento para a minha propriedade se adotar essas tecnologias. ,744 26,435 0,000 Mesmo que sejam caras, acho que vale a pena investir nessas tecnologias. ,686 35,170 0,000 PROGNOSTICADORES Fonte: Dados da Pesquisa. TABELA 4 Diferenciação dos grupos de consumidores com base nas características percebidas da inovação. INDICADORES DAS CARACTERÍSTICAS PERCEBIDAS DA INOVAÇÃO GERAL GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 Eu posso realizar minhas tarefas mais rapidamente com essas tecnologias. Elas (tecnologias) melhoram a qualidade do meu trabalho. Utilizando essas tecnologias, eu posso realizar meu trabalho mais facilmente. Eu acho que vou poder aumentar minha lucratividade se passar a utilizá-las. Consigo ter maior controle sobre meu trabalho utilizando essas tecnologias. Essas tecnologias aumentam a minha produtividade. Essas tecnologias são compatíveis com todos os aspectos do meu trabalho. Eu acho que essas tecnologias se ajustam bem à maneira que eu gosto de trabalhar. Utilizar essas tecnologias melhora minha imagem diante de outros produtores. 8,59 8,57 8,6 7,33 8,75 7,49 7,27 7,78 7,20 9,46 (b,c) 9,52 (b,c) 9,73 (b,c) 8,98 (b,c) 9,70 (b,c) 9,01 (b,c) 8,79 (b,c) 9,32 (b,c) 8,78 (b,c) Meu prestígio junto a outros produtores aumentará, se eu passar a utilizar essas tecnologias. 6,78 Eu não teria dificuldades em falar aos outros sobre as vantagens de utilizar essas tecnologias. F SIGMA 7,76 21,105 8,07 33,378 7,87 62,349 6,66 (a,b) 67,802 8,60 (a,b) 63,02 6,53 58,379 (a,b) 6,51 56,858 6,91 (a,b) 82,877 7,78 (a,b) 98,492 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 8,34 (b,c) 4,00 (a,c) 7,27 (a,b) 88,893 0,000 7,55 9,08 (b,c) 6,00 6,67 50,329 0,000 As vantagens de utilizar essas tecnologias são evidentes para mim. 7,96 9,38 (b,c) 6,55 Sei que farei um bom investimento para a minha propriedade se adotar essas tecnologias. 7,27 8,52 5,69 Mesmo que sejam caras, acho que vale a pena investir nessas tecnologias. 5,89 7,43 (b,c) (b,c) 7,96 7,54 7,47 5,37 (a,c) 7,51 (a,c) 6,05 5,67 (a,c) 6,24 (a,c) 4,35 (a,c) 70,198 0,000 (a,b) 33,785 0,000 5,93 (a,b) 44,843 0,000 6,98 (a,c) 3,59 (a,c) 6,82 Obs.: Letras abc — diferenças significativas entre os grupos (Teste Tukey's B da ANOVA). Fonte: Dados da Pesquisa. 25 PMKT ENEIDA BEZERRA SOARES RIBEIRO / PAULO HENRIQUE MÜLLER PRADO / JOSÉ CARLOS KORELO / DANIELLE MANTOVANI L. DA SILVA lizar essas tecnologias melhora minha imagem diante de outros produtores”, seguido do indicador “Meu prestígio junto a outros produtores aumentará, se eu passar a utilizar essas tecnologias”, indicando que suas médias são as que mais diferenciam um grupo do outro. Os valores de λ de Wilks mais altos ficaram com os indicadores “Eu posso realizar minhas tarefas mais rapidamente com essas tecnologias” (0,822), seguido de “Essas tecnologias melhoram a qualidade do meu trabalho” (0,739), indicando que suas médias são as que menos diferenciam um grupo do outro. A Tabela 4 apresenta as médias dos grupos para os diferentes indicadores das características percebidas da inovação. A partir de todas as informações obtidas com as análises de cluster,discriminante, relações com as demais variáveis disponíveis na pesquisa (tamanho do rebanho e da propriedade, grau de instrução, faixa etária e sexo) e a análise de Tukey's B da ANOVA, foi possível identificar os perfis dos consumidores com base nas características percebidas da inovação. Grupo 1 — Facilidade no manejo, controle e qualidade Composto por 85 integrantes, correspondendo a 45,7% da amostra; 30,7% dos integrantes do grupo têm propriedades entre 1.000 e 3.000 hectares, sendo que neste grupo está a maior concentração de produtores com propriedades dessa faixa de tamanho. Nesse grupo, 29,3% dos integrantes têm um rebanho de até 500 cabeças, seguido de 25,3% que têm entre 1.000 e 3.000 cabeças de gado. O grupo concentra a maior parte dos produtores com ensino superior completo (52%) e também a maior concentração dos que possuem grau de especialização (28%). Quanto à faixa de idade, 33,3% dos integrantes têm entre 40 e 50 anos, seguido de 14,7% que pertencem à faixa compreendida entre 50 e 60 anos. Considerando-se uma faixa maior de idade, compreendida entre 40 anos até mais de 60 anos, esse grupo apresenta a porcentagem de 60% dos integrantes nessa faixa etária. É também nesse grupo que está a maior concentração de mulheres entre todos os grupos (12% do total de integrantes do grupo).Esse é o único grupo que obteve diferenciação estatística para todos os indicadores e também as maiores médias dos mesmos, em relação aos demais grupos, a partir da análise do teste Tukey's B. Em 8 dos 14 indicadores, esse grupo obteve média maior que 9, o que faz com que a maioria dos respondentes se encaixe na categoria concordo totalmente de classificação das respos28 tas. Os indicadores dessa categoria são, em ordem decrescente, os seguintes: “Utilizando essas tecnologias eu posso realizar meu trabalho mais facilmente” (F = 62,349; p < 0,001), “Consigo ter maior controle sobre meu trabalho utilizando essas tecnologias” (F = 63,02; p < 0,001), “Elas (tecnologias) melhoram a qualidade do meu trabalho” (F = 33,378; p < 0,001), “Eu posso realizar minhas tarefas mais rapidamente com essas tecnologias” (F = 21,105; p < 0,001); “As vantagens de utilizar essas tecnologias são evidentes para mim” (F = 70,198; p < 0,001),“Eu acho que essas tecnologias se ajustam bem à maneira que eu gosto de trabalhar” (F = 82,877; p < 0,001),“Eu não teria dificuldades em falar aos outros sobre as vantagens de utilizar essas tecnologias” (F = 50,329; p < 0,001),“Essas tecnologias aumentam a minha produtividade” (F = 58,379; p < 0,001). Os três indicadores com as menores médias dentro desse grupo (ainda que maiores do que as dos demais grupos) foram, em ordem da menor para a maior média: “Mesmo que sejam caras, acho que vale a pena investir nessas tecnologias” (F = 44,843, p < 0,001),“Meu prestígio junto aos outros produtores aumentará, se eu passar a utilizar essas tecnologias” (F = 88,893; p < 0,001),“Utilizar essas tecnologias melhora a minha imagem diante de outros produtores” (F = 98,492; p < 0,001). Percebe-se que, embora haja uma percepção geral muito boa em relação às características da inovação, com médias altas em todos os indicadores, a questão do investimento em relação ao retorno (menor média), sugere que os respondentes têm dúvidas quanto ao fato de valer ou não a pena investir nessas tecnologias. Quanto à questão da imagem e do prestígio, embora tenham tido as menores médias dentro desse grupo, ainda puderam ser encaixadas na categoria concordo parcialmente.Ou seja, os integrantes desse grupo concordam parcialmente que as tecnologias possam melhorar sua imagem e prestígio, embora não valorizem isso tanto quanto as outras questões relacionadas à facilidade, controle e melhora da qualidade do trabalho. Grupo 2 — Céticos, voltados à produção e receosos quanto a investir Composto por 58 integrantes, dos quais 22,9% têm propriedades com dimensões superiores a 3.000 hectares. Essa é a maior concentração de produtores dentro dessa faixa de tamanho de propriedade. Quanto ao tamanho do rebanho, 35,4% de seus integrantes têm seus rebanhos situados na faixa de até 500 cabeças, sendo essa a maior concentração de produtores dentro dessa faixa de tamanho de rebanho. PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO EM CONTEXTOS B2B: UMA TAXONOMIA APLICADA À TECNOLOGIA PARA A PECUÁRIA Com relação ao grau de instrução, 39,6% dos produtores que fazem parte desse grupo têm ensino superior completo e 10,4% mestrado ou doutorado, sendo a maior concentração dessa faixa de escolaridade. Nesse grupo, 10,4% de seus integrantes pertencem ao gênero feminino, 33,3% têm entre 40 e 50 anos e 31,3% entre 50 a 60 anos, caracterizando o grupo com maior faixa etária dos três. Considerando-se uma faixa maior de idade, compreendida entre 40 anos até mais de 60 anos, esse grupo é o que apresenta a maior porcentagem de integrantes (70,9%). É, portanto, o grupo com maior média de idade dos três. Houve diferenciação estatística significante, em relação aos demais grupos, para 8 dos 14 indicadores utilizados, que são: “Consigo ter maior controle sobre meu trabalho utilizando essas tecnologias”, “Eu acho que essas tecnologias se ajustam bem à maneira que eu gosto de trabalhar”, “Sei que farei um bom investimento para a minha propriedade se adotar essas tecnologias”, “Essas tecnologias são compatíveis com todos os aspectos do meu trabalho”, “Eu acho que vou poder aumentar minha lucratividade se passar a utilizá-las”, sendo essas médias as menores de todos os grupos. O item “Utilizar essas tecnologias melhora minha imagem diante de outros produtores” foi o que obteve a menor média entre todos os três grupos (F = 98,492; p < 0,001), seguido de “Meu prestígio junto a outros produtores aumentará se eu passar a utilizar essas tecnologias” (F=88,893; p < 0,001). Isso corrobora a informação extraída da segunda função discriminante (mais produção, menos imagem), na qual esse grupo obteve a maior média. Não houve diferenciação estatística entre os grupos 2 e 3 para 6 itens, a saber: “Eu posso realizar minhas tarefas mais rapidamente com essas tecnologias”, na categoria concordo parcialmente,“Elas (tecnologias) melhoram a qualidade do meu trabalho”, categoria concordo parcialmente, a menor média entre os três grupos; “Utilizando essas tecnologias eu posso realizar meu trabalho mais facilmente”, a menor média entre os grupos; “Essas tecnologias aumentam a minha produtividade”, a menor média entre os grupos, “Eu não teria dificuldades em falar aos outros sobre as vantagens de utilizar essas tecnologias”, a menor média entre os grupos, e “As vantagens de utilizar essas tecnologias são evidentes para mim”, a menor média entre os grupos. Assim, esses produtores são os que menos acreditam que essa tecnologia possa melhorar a qualidade do seu trabalho e que possam realizá-lo mais facilmente. Também são os que menos percebem que podem aumentar suas produtividades se passarem a utilizar essas tecnologias. Esse grupo apresen- PMKT tou carregamento negativo para a primeira função discriminante “praticidade e lucratividade”. Grupos 3 — Afeitos ao controle e voltados para a imagem Composto por 47 integrantes, 26,8% têm propriedades com dimensões entre 1.000 e 3.000 hectares, seguidos de 24,4% que têm entre 200 até 500 hectares. Quanto ao tamanho do rebanho, 26,8% dos integrantes desse grupo têm entre 500 e 1.000 cabeças, sendo essa a maior concentração de produtores nessa faixa de tamanho de rebanho. É nesse grupo que estão as maiores concentrações de produtores com rebanhos nas faixas de: 3.000 a 5.000 cabeças (12,2%),de 5.000 a 10.000 cabeças (12,2%) e acima de 10.000 cabeças (4,9%). São, portanto, os produtores com maior número de cabeças de gado entre todos os grupos. O grau de escolaridade desse grupo é representado por 48,8% dos integrantes que possuem ensino superior completo e 24,4% que possuem ensino médio completo, sendo a maior concentração de produtores nesse grau de escolaridade. Quanto à faixa de idade, 24,4% dos integrantes têm entre 50 e 60 anos. Considerando-se uma faixa maior de idade, compreendida entre 40 anos até mais de 60 anos, esse grupo é o que apresenta a menor taxa de integrantes (46,4%). É, portanto, o grupo mais jovem de todos os três. Esse é o grupo com maior porcentagem de integrantes do sexo masculino (97,6%), sendo que possui apenas 1 integrante do sexo feminino (2,4%). Esse grupo apresentou diferenciação estatística significante, em relação aos demais grupos, para 8 dos 14 indicadores utilizados, que são: “Consigo ter maior controle sobre meu trabalho utilizando essas tecnologias”, “Utilizar essas tecnologias melhora minha imagem diante de outros produtores”, “Meu prestígio junto a outros produtores aumentará se eu passar a utilizar essas tecnologias”, “Eu acho que essas tecnologias se ajustam bem à maneira que eu gosto de trabalhar”, “Sei que farei um bom investimento para a minha propriedade se adotar essas tecnologias”, “Eu acho que vou poder aumentar minha lucratividade se passar a utilizá-las”, “Essas tecnologias são compatíveis com todos os aspectos do meu trabalho”, “Mesmo que sejam caras, acho que vale a pena investir nessas tecnologias”. Todos esses indicadores apresentados tiveram média intermediária entre os grupos 1 e 2. 29 PMKT ENEIDA BEZERRA SOARES RIBEIRO / PAULO HENRIQUE MÜLLER PRADO / JOSÉ CARLOS KORELO / DANIELLE MANTOVANI L. DA SILVA Como mencionado e descrito no grupo anterior, não houve diferenciação estatística entre os grupos 2 e 3 para 6 itens; o grupo 3 ficou novamente com as médias intermediárias entre os dois grupos. As maiores médias desse grupo, apresentadas anteriormente, referem-se a um aumento do controle, melhora da imagem e prestígio, corroborando os resultados obtidos na análise discriminante, cujos centróides apontaram carregamento negativo nas duas funções discriminantes,“praticidade e lucratividade” e “mais produção, menos imagem”. De fato, o prognosticador relativo à lucratividade “Eu acho que vou poder aumentar minha lucratividade se passar a utilizá-las”, embora tenha obtido significância, teve média de 6,66, bem abaixo da média geral, que foi de 7,33, ficando em sexto lugar,dos 8 indicadores com significância. A função discriminante “mais produção, menos imagem”, obteve carregamento negativo, apontando uma discordância, o que ficou comprovado pelas altas médias obtidas com os indicadores relativos à imagem e ao prestígio. res e também as maiores médias, o que denota uma percepção positiva da inovação, há certa dúvida quanto à validade do investimento. Isso parece corroborar com as afirmativas de Tornatzky e Klein (1982), que consideravam custos como uma das características da inovação com maior relevância para o contexto organizacional, relacionada com o risco percebido. Em todos os grupos de consumidores analisados esse item foi o que recebeu as mais baixas pontuações, apontando para uma tendência de incerteza em relação às vantagens de utilizar a tecnologia. Em termos gerenciais, será preciso que a comunicação seja capaz de tangibilizar os benefícios em relação aos investimentos. As limitações desse estudo devem-se, principalmente, em relação à amostragem utilizada (do tipo não probabilística), o que reduz a possibilidade de generalização dos resultados. Algumas das dimensões das características percebidas da inovação que não obtiveram consistência interna adequada mereceriam um melhor aprofundamento e desenvolvimento de novas escalas, no caso de um eventual estudo futuro. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo procurou fazer uma identificação do perfil dos pecuaristas em relação à tecnologia de identificação eletrônica animal, fazendo uso das técnicas de agrupamentos, e das análises discriminante e da variância, permitindo a identificação de três grupos distintos de consumidores. A análise discriminante permitiu verificar que os indicadores relacionados a imagem e prestígio são os que mais diferenciam um grupo do outro.Assim, a imagem e o prestígio são os indicadores que, efetivamente, mais contribuem para a separação dos grupos, havendo os com maiores indicadores (grupo 3, os que mais valorizam esses indicadores) e os com os menores indicadores (grupo 2, os que menos valorizam esses indicadores). Percebe-se assim, uma diferenciação desse indicador em relação aos demais, o que parece estar em consonância com Tornatzky e Klein (1982) e Halloway (1977), que consideravam o efeito da imagem (aprovação social) suficientemente diferente da vantagem relativa podendo ser considerada um fator à parte. Rogers (2003), em desacordo com esse achado, considerava a imagem como um aspecto da vantagem relativa. No primeiro grupo, denominado “Facilidade no manejo, controle e qualidade”, o indicador com a menor média foi o relativo a custos “Mesmo que sejam caras, acho que vale a pena investir nessas tecnologias”, seguido dos indicadores relacionados à imagem e prestígio.Assim, mesmo para esse grupo, que obteve diferenciação estatística para todos os indicado30 Espera-se que esse estudo possa contribuir para um melhor entendimento do perfil dos consumidores industriais — no caso, pecuaristas — num momento em que inovações como a de identificação eletrônica animal podem contribuir,decisivamente, para recolocar e manter o Brasil como uma das grandes potências do mercado mundial de carnes. A identificação de possíveis diferenças no comportamento de adoção dos pecuaristas pode levantar questões a serem trabalhadas, tanto sob a ótica acadêmica — relacionada à difusão de inovações em contextos específicos — quanto gerencial — ligada, principalmente, ao impacto da rastreabilidade sobre a demanda futura do mercado de consumo. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, J. C.; NARUS. J.A. Business market management. New Jersey: Prentice-Hall,1999. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2009. BATALHA, M. O. Gestão agroindustrial. GEPAI – Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais, v.1. São Paulo: Atlas, 1997. BLACK, N.; LOCKETT, A.; WINKLHOFER, H.; ENNEW, C. The adoption of internet services: a qualitative study”. International Journal of Retail & Distribution Management, v. 29, n. 8, p. 390 -398, 2001. PERCEPÇÃO DA INOVAÇÃO EM CONTEXTOS B2B: UMA TAXONOMIA APLICADA À TECNOLOGIA PARA A PECUÁRIA DAVIS, F. 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I Conferência Virtual Global Sobre Produção Orgânica de Bovinos de Corte.Via internet. 2002. 31 PMKT FRANCISCO LOUZADA-NETO / CARLOS A. RIBEIRO DINIZ / CLOVIS CORREA DA COSTA / PAULO HENRIQUE F. DA SILVA / CAMILA R. DESTEFANI / ANA PAULA O. TEMPONI PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS PARA SEGMENTAÇÃO DE BASE DE DADOS — STATISTICAL PROCEDURES FOR DATABASE SEGMENTATION RESUMO Este artigo apresenta alguns procedimentos estatísticos comumente utilizados na realização do processo de segmentação de base. Também descreve as diferentes formas de segmentação, dentre as quais, a demográfica, por benefícios, ocasião, nível de utilização, estilo de vida e valor do cliente. Destaque é dado à segmentação com base no valor do cliente, pois este procedimento permite que se utilizem informações subjetivas, respaldadas pelo conhecimento dos analistas dos dados. Dados de uma instituição financeira ilustram a metodologia apresentada. PALAVRAS- CHAVE: Segmentação, valor do cliente, cluster, estatísticas descritivas. ABSTRACT This paper presents statistical procedures commonly used in performing the database segmentation process. It also describes different segmentation procedures, amongst which by demography, benefit, occasion, usage level, lifestyle and based on the customer value.The study focuses on the segmentation based on customer value, since this procedure allows for the use of subjective information,supported by the knowledge of the data analysts.Data from a financial institution illustrate the presented methodology. KEY WORDS: Segmentation, customer value, cluster, descriptive statistics. n FRANCISCO LOUZADA-NETO GRADUADO EM ESTATISTICA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR); MESTRE EM CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO E MATEMÁTICA COMPUTACIONAL PELA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; DOUTOR EM ESTATÍSTICA PELA UNIVERSIDADE DE OXFORD, INGLATERRA; PROFESSOR ASSOCIADO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR); COORDENADOR DO CENTRO DE ESTUDOS DO RISCO (CER); VICE-COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTATÍSTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR); EDITOR-CHEFE DA REVISTA BRASILEIRA DE ESTATÍSTICA (RBES); PESQUISADORBOLSISTA DO CNPQ. E-MAIL: [email protected]. n CARLOS A. RIBEIRO DINIZ GRADUADO EM MATEMÁTICA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA); MESTRE EM ESTATÍSTICA PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP); DOUTOR EM ESTATÍSTICA PELA UNIVERSITY OF SOUTH CAROLINA, EUA; PROFESSOR ASSOCIADO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR). E-MAIL: [email protected] n CLOVIS CORREA DA COSTA GRADUADO EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO(UFRJ); CONSULTOR DE ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS. E-MAIL: [email protected] n PAULO HENRIQUE F. DA SILVA GRADUADO E MESTRANDO EM ESTATÍSTICA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. E-MAIL: [email protected] n CAMILA R. DESTEFANI GRADUADA EM ESTATÍSTICA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS; FUNCIONÁRIA DO ITAÚ-UNIBANCO. E-MAIL: [email protected] Francisco Louzada-Neto agradece ao CNPq pelo financiamento concedido para pesquisa. Os autores agradecem aos revisores pelos comentários, críticas e sugestões. 32 n ANA PAULA O. TEMPONI GRADUADA EM ESTATÍSTICA COM ÊNFASE EM ANÁLISE DE RISCOS E FINANÇAS PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS; ESTATÍSTICA NO DEPARTAMENTO DE INTELIGÊNCIA DE MERCADO NA ÁREA DE SEGMENTAÇÃO DE CLIENTES NA NET SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO. E-MAIL: [email protected] PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS PARA SEGMENTAÇÃO DE BASE DE DADOS 1. INTRODUÇÃO Até a metade do século XX, o mercado era tratado como um todo, sem diferenciações. Foi Smith (1956) quem introduziu o conceito de que o mercado é heterogêneo, mas que pode ser decomposto em partes homogêneas, para fins de atendimento às necessidades destas partes, conhecidas como segmentos de mercado. PMKT Na Seção 3.3 é abordada a identificação de perfis dos clientes dentro de cada segmento (cluster), considerando-se os procedimentos de estatística descritiva. Na Seção 4 apresenta-se um estudo de caso, referente aos dados de uma instituição financeira, para ilustrar a metodologia de segmentação de base. Na Seção 5, alguns comentários finais concluem o artigo. A segmentação de mercado fundamenta-se na ideia de que todo mercado consiste em grupos (segmentos) de clientes com necessidades e anseios um tanto diferentes. Os compradores de pasta de dente, por exemplo, podem ser divididos segundo seu desejo básico de proteção anticárie, hálito melhor ou dentes mais brancos. Daí o surgimento de diferentes marcas de pasta de dente que promovam um beneficio ou outro, na expectativa de se tornar a marca de creme dental preferida do segmento-alvo (KOTLER, 2000). Neste contexto, a diferenciação capacita a empresa a conhecer as necessidades de seus clientes e os seus perfis sóciodemográficos, comportamentais e atitudes, sendo capaz de fornecer informações do comportamento dos mesmos a respeito da aceitação de um produto; aquisição do mesmo; comportamento de compra; rentabilidade de um cliente; churning; precificação; entre outros (COSTA, 2004). Segmentar os clientes é então uma maneira de identificá-los e dividi-los em subgrupos distintos, caracterizados por necessidades, desejos e gostos particulares relativamente homogêneos, de modo a permitir uma abordagem mais direcionada e maior adequação de produtos, serviços e comunicação a esses grupos de consumidores. Na Seção 2 são apresentados e descritos alguns dos principais procedimentos de segmentação. Nas Seções 3, 3.1, 3.2 e 3.3 descreve-se com maiores detalhes o processo de segmentação com base no valor do cliente. Na Seção 3 são apresentados os pilares de percepção para segmentação da base. Na Seção 3.1, apresenta-se uma sugestão para a composição do valor para cada cliente, bem como a divisão do vetor de valores de clientes em segmentos, baseada nos principais quartis estatísticos, Q1 e Q3. Na Seção 3.2 é discutida a técnica de clusterização, bem como a visualização da composição dos clusters por meio de métodos estatísticos. 2. DIFERENTES FORMAS DE SEGMENTAÇÃO Existem várias maneiras de segmentar os clientes. Kotler (2000) define cinco diferentes formas de segmentação, as quais são descritas a seguir: a) Segmentação por benefícios — Consiste em agrupar os clientes que buscam benefícios similares em uma compra. Por exemplo, há clientes que procuram preço baixo, outros buscam alta qualidade nos produtos e outros, ainda, desejam excelência no atendimento. b) Segmentação demográfica — Significa agrupar os clientes que tenham denominadores sociais comuns. Por exemplo, cidadãos de terceira idade com alto poder aquisitivo, minorias jovens e de baixo poder aquisitivo, e assim por diante. c) Segmentação por ocasião — Agrupa os clientes de acordo com ocasiões de utilização de um produto. Por exemplo, passageiros de companhias aéreas em viagem de negócios, lazer ou emergência. d) Segmentação por nível de utilização de um produto — Consiste em agrupar os clientes de acordo com a intensidade (frequência) de uso do produto — grande, média, baixa ou inexistente. e) Segmentação por estilo de vida — Tem base na forma como os clientes conduzem suas vidas, incluindo atividades, interesses e opiniões. Por exemplo, pessoas emergentes que compram carros importados e roupas caras. Pode-se também realizar a segmentação por valor do cliente. Segundo Rust, Zeithaml e Leimon (2001), a análise do valor do cliente e dos fatores que o influenciam dá à empresa um guia para uma estratégia eficiente, pois permite que se identifiquem as iniciativas que terão maior impacto sobre a lucratividade em longo prazo da sua base de clientes. Dentre os vários procedimentos de segmentação, prefere-se a segmentação com base no valor do cliente, pois permite que se utilizem informações subjetivas, respaldadas pelo conhecimento dos analistas de dados.Após esta segmentação pode-se utilizar outros tipos de segmentação com o intuito de dividir cada segmento em pequenos subgrupos, tornandoos o mais homogêneo possível. 3310 PMKT FRANCISCO LOUZADA-NETO / CARLOS A. RIBEIRO DINIZ / CLOVIS CORREA DA COSTA / PAULO HENRIQUE F. DA SILVA / CAMILA R. DESTEFANI / ANA PAULA O. TEMPONI 3. SEGMENTAÇÃO COM BASE NO VALOR DO CLIENTE Para a realização da segmentação dos clientes, primeiramente necessita-se de uma base analítica capaz de prover os elementos quantitativos necessários à estratégia de relacionamento com os clientes tendo por objetivo, entender o comportamento passado dos clientes, avaliar a capacidade da empresa em vender seus produtos e serviços nos seus mercados-alvo e estimar comportamentos futuros de clientes em aspectos relevantes do relacionamento da empresa para com eles. Como exemplo, uma base para detectar a PD – Probability of Default é composta das seguintes variáveis: n n n n n n n n n n n n n n n n Credit Rating (0 = bom pagador, 1 = mau pagador). Saldo na conta corrente. Duração do crédito em meses. Pagamento de créditos anteriores. Finalidade de crédito. Montante do crédito em dólares. Valor da poupança em dólares. Empregado pelo empregador atual para a renda disponível. Estado civil. Sexo. Vivendo atualmente em casa própria. Idade. Mais de créditos em execução. Tipo de moradia. Número de créditos anteriores. Ocupação. PERCEPÇÃO INDUZIDA BASE: CADASTRO DO CLIENTE RENDA DOMICILIAR PADRÃO DE GASTOS RENDA DISPONÍVEL PARA CONSUMIR SERVIÇOS REGISTRO DE AÇÕES DE COMPRA — VISÃO DO CONSUMO DE SERVIÇOS DO GRUPO OUTROS BASE: TIPO DE CLIENTE DETERMINAÇÃO DO VALOR DO CLIENTE DESENVOLVIMENTO DE SCORE DE VALOR PERCEPÇÃO DEDUZIDA BASE: TEMPO DE BASE OU VALUE CONTRIBUTION SCORE COMPOSIÇÃO DO SCORE DE VALOR DO CLIENTE PERCEPÇÃO DO POTENCIAL DOS CLIENTES E PROSPECTORS FIGURA 1 Pilares de percepção para a segmentação da base. Com o auxílio desses três pilares pode-se identificar, com base em alguns critérios, os diferentes segmentos de clientes. O número de segmentos normalmente é definido de forma indutiva de modo que cada segmento seja formado por clientes com características semelhantes (homogêneas). Uma possibilidade é através da consideração de técnicas estatísticas multivariadas (JOHNSON; WICHERN, 2002). A Figura 2 apresenta um exemplo de segmentação da base em diferentes segmentos. Neste caso, oito segmentos foram gerados. Com a base analítica, limpa e documentada, inicia-se a segmentação da mesma de forma a gerarem-se potenciais clusters (de cliente ou prospect), que pode ser realizada através de três pilares de percepções: PERCEPÇÃO INDUZIDA Percepção induzida — Se baseia em informações subjetivas de conhecimento da empresa para a determinação do valor do cliente, do tipo de cliente e no desenvolvimento de score de valor. Percepção deduzida — Tem auxílio de métodos estatísticos e é baseada em como o valor do cliente é composto ou em outra variável de interesse, como por exemplo, o tempo de base do cliente. Percepção do potencial dos clientes ou prospect — Baseada em dados cadastrais dos clientes e outras informações de valor para a empresa. FIGURA 2 Exemplo de segmentação da base através dos pilares de percepção. A Figura 1 apresenta um diagrama representativo das três percepções da segmentação. Cada segmento pode ser classificado de acordo com o potencial dos clientes que estão alocados dentro dele. n n n 34 5 6 7 8 1 2 3 PERCEPÇÃO DEDUZIDA 4 POTENCIAL PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS PARA SEGMENTAÇÃO DE BASE DE DADOS Uma classificação comumente utilizada é nomear os segmentos em Ouro, Prata e Bronze, associando Ouro ao cluster com maior potencial, Bronze ao cluster com menor potencial e assim sucessivamente, de acordo com o número de clusters definidos. Também se pode ter, caso necessário, um cluster nomeado como Sem Grau (SG) que está associado aos clientes que produzem prejuízos (clientes fraudulentos, por exemplo). Outro exemplo de classificação seria utilizar as nomeações: Platina, Diamante, Ouro, Prata e Bronze, se o número de clusters for igual a cinco. 3.1 COMPOSIÇÃO DO VALOR DO CLIENTE Segundo Costa (2004), uma primeira análise é desenvolvida com base no valor de cada cliente e muitas vezes este modelo é por si só suficiente para atender aos objetivos estratégicos da empresa (o que pode ser uma boa razão para não se investir mais na infra-estrutura para relacionamento com clientes). Uma sugestão para composição do valor para cada cliente é que o mesmo seja baseado no lucro líquido que o cliente produz para a empresa.Assim, o valor do cliente é visto como uma composição de forças negativas e positivas.As forças positivas são geradas através de vendas de produtos e serviços e as forças negativas devido aos custos associados ao produto e serviço (fabricação, pedido, compra, financiamento etc.) (COSTA, 2004), conforme mostra a Figura 3. PMKT Do lado da receita, pode ser muito relevante levar em consideração outras fontes de ganho, como cartões de crédito, contas garantidas, tarifas bancárias etc. Do lado do custo, é preciso levar em conta que o custo de servir é função do canal utilizado para atingir o cliente. Na prática, um cliente pode ter valores diferentes, dependendo do canal utilizado no relacionamento para com ele. Por exemplo, se ele é atendido por um “gerente de conta”, o custo pode ser muito maior do que se ele se relaciona com o banco via internet. Primeiramente, é preciso saber se os clientes estão sendo atendidos por canais adequados, ou seja, se o custo de servir é inferior às receitas auferidas. Diz-se que o valor do cliente é correto quando resulta das receitas geradas por ele, menos o custo de servir no canal apropriado para servi-lo (ou seja, compatível com a receita gerada por ele). Tomados os cuidados descritos anteriormente, pode-se calcular, com precisão, o valor do cliente. Com a geração do valor, o próximo passo consiste na divisão desse vetor de valores em segmentos. Uma sugestão inicial é utilizar os principais quartis estatísticos: Q1 (25%) e Q3 (75%). Os quartis dividem o vetor ordenado de valores dos clientes em subconjuntos proporcionais.Assim, o quartil Q1 consiste no valor que separa 25% dos valores ordenados abaixo dele e 75% dos valores ordenados. Enquanto o quartil Q3 consiste no valor que separa 75% dos valores ordenados abaixo dele e 25% dos valores ordenados. Supõe-se que clientes com valores próximos possuam características próximas (similares). Essa sugestão inicial divide o vetor de valores de clientes em três segmentos: PRODUTO 2 n PRODUTO 1 VALOR DO CLIENTE n n Clientes com valores abaixo do valor determinado pelo 25º percentil formam o cluster Bronze (grupo com menor potencial). Clientes com valores entre o 25º e 75º percentil formam o grupo Prata. Clientes com valores acima do 75º percentil formam o grupo Ouro (clientes com maior potencial). - CUSTO 2 FIGURA 3 Interferência dos fatores na geração do valor do cliente. Não existe uma regra para determinar o número de partes em que o vetor de valores de clientes será segmentado. Esse critério é mais subjetivo do que objetivo.Algumas sugestões importantes são: observar a distribuição dos dados e dividir o vetor em segmentos com tamanhos similares. O valor do cliente é formado pelas receitas que ele gera para a empresa (no caso, a instituição financeira), menos o custo de servir o cliente (que pode ser definido como o custo de produzir o serviço ou produto e entregá-lo ao cliente). Como exemplo, considere-se uma base de cadastro de 500 clientes de uma empresa. Para a segmentação foram considerados os clientes ativos, ou seja, com consumo no último ano. Assim, o número de clientes se reduziu a 362. - CUSTO 1 3510 PMKT FRANCISCO LOUZADA-NETO / CARLOS A. RIBEIRO DINIZ / CLOVIS CORREA DA COSTA / PAULO HENRIQUE F. DA SILVA / CAMILA R. DESTEFANI / ANA PAULA O. TEMPONI O Quadro 1 apresenta a ideia da classificação dos clientes em segmentos, como sugerido anteriormente, e a divisão do vetor de valores de clientes com base nos quartis. O vetor de valores foi dividido em três segmentos classificados como Ouro (O), Prata (PR) e Bronze (BR), conforme mostra a tábua de valores a seguir: 25% 50% BRONZE Assim, o grupo com maior potencial deve receber atenção diferenciada, pois são grandes responsáveis por boa parte da rentabilidade da empresa. 75% PRATA OURO QUADRO 1 Segmentação da base — Tipo de cliente. VALOR DO CLIENTE TIPO DE CLIENTE > 34.000 Ouro (O) 10.000 a 34.000 Prata (PR) < 10.000 Bronze (BR) A Figura 4 relaciona a porcentagem de clientes por segmento e sua participação no valor total, em porcentagem. OURO 24% 81% PRATA 50% É comum que a maioria dos clientes da base de uma empresa contribua pouco para o valor total (rentabilidade da empresa). No exemplo dado, 50% dos clientes contribui com cerca de 17% do valor total e 26% com cerca de 2%. Enquanto isso, o cluster com maior potencial (Ouro), com 24% dos clientes contribui com 81% do valor total. O grupo com menor potencial deve ser estudado com cautela com o intuito de se descobrir formas de torná-lo mais lucrativo; apesar do seu baixo potencial, pode-se ter interesse em mantê-los sem a possível necessidade de voltar à etapa de busca (aquisição) por novos clientes, que poderia ter um custo mais elevado do que a manutenção dos mesmos. 3.2 CLUSTERIZAÇÃO Para a construção do segundo pilar da segmentação, após a obtenção dos segmentos de valores, como apresentado na Seção 3.1, considera-se outra variável de interesse, por exemplo, o tempo de base do cliente ou o grupo de produtos que o cliente adquiriu, para compor os diferentes clusters de clientes. No exemplo em questão, pode-se ainda dividir cada segmento (Ouro,Prata e Bronze) em quatro grupos de acordo com o tipo de produto adquirido por seus clientes (segmentação baseada em comportamento de compra), isto é, Grupo 1, Grupo 2, Grupo 3 e Grupo 4. Essa clusterização também poderia ser realizada por meio de métodos estatísticos multivariados (JOHNSON; WICHERN,2002), considerando como variáveis a composição do valor do cliente. BRONZE 26% 17% 2% CLIENTES VALOR FIGURA 4 Estratégia de relacionamento com o cliente. CLASSIFICAÇÃO DO CLIENTE TOTAL = $ 1.456.834,65 O 909.513 62,4% 118.790 8,2% 103.592 7,1% 49.167,7 3,4% 81,10% PR 191.674 13,2% 21.979,7 1,5% 6.579,63 0,5% 2.646,4 0,2% 15,40% BR 17.890 1,2% 2.208,55 0,2% 0 0% 4.949,6 0,3% GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 GRUPO 4 CLUSTERS FIGURA 5 Visão geral — Valor para cada segmento. 36 17,10% 1,70% PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS PARA SEGMENTAÇÃO DE BASE DE DADOS A Figura 5 apresenta a visão geral quanto ao valor para cada segmento, em valor absoluto e em porcentagem. No segmento Ouro,verifica-se uma maior aquisição de produtos, tanto em valor quanto em porcentagem, com relação aos outros segmentos. Enquanto o grupo Ouro corresponde a 81,10% do valor total esperado, a soma dos outros segmentos (Prata e Bronze), fornece apenas 17,10% (15,40% + 1,70%) do valor.Vale ressaltar que em todos os segmentos, a preferência pelos produtos do Grupo 1, em termos de valor, é unânime. CLASSIFICAÇÃO DO CLIENTE TOTAL = $ 1.452.807,42 (SEM CONSIDERAR TIPO 7) O 69 19,0% 9 2,5% 8 2,2% 4 1,1% 24,8% PR 139 38,4% 16 4,4% 5 1,4% 19 5,2% 49,4% BR 67 18,4% 8 2,2% 0 0% 19 5,2% GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 GRUPO 4 75,2% 25,8% FIGURA 6 Visão geral — Número de clientes AFigura 6 representa a visão geral quanto ao número de clientes por cluster, em valor absoluto e em porcentagem. Independente da classificação do cliente obtém-se uma concentração maior de indivíduos que preferem os produtos do Grupo 1. De modo geral, pode-se notar que os segmentos Ouro, Prata e Bronze com produtos do Grupo 1 merecem especial atenção, pois estes clusters possuem alta participação no valor total da empresa (mais da metade do valor total). 3.3 ANÁLISE PRELIMINAR DOS DADOS Após a finalização do processo descrito nas seções anteriores, deve-se traçar uma visão geral dos clientes dentro dos clusters, identificando: n n n n Além disso, é preciso caracterizar os segmentos, individualmente, identificando as características dos seus clientes quanto às variáveis cadastrais e transacionais, identificando assim o perfil do cliente. É possível também identificar as características marcantes de cada cluster e que foram responsáveis pela visível diferença entre o comportamento dos clientes deste segmento. Pode-se identificar a contribuição média das variáveis que compõem o vetor de valor por cluster e, em seguida, verificar os elementos que fazem parte desses subgrupos. Esta caracterização pode ser realizada considerando procedimentos de análise descritiva. 4. ESTUDO DE CASO CLUSTERS n PMKT O valor total por segmento. O número de clientes por segmento. O valor médio de todos os segmentos. A porcentagem dos valores por segmento em relação ao valor total geral. A porcentagem dos valores em relação ao número total de clientes. Para exemplificar a metodologia de segmentação de base, considerem-se os dados históricos de 1.000 clientes tomadores de crédito de uma determinada instituição financeira (banco). As variáveis (características) observadas foram as mesmas da base analítica descrita na Seção 3. O processo de segmentação, no caso, foi realizado com base no valor do cliente.Nesse exercício foi adotado como medida do valor dos clientes, o valor dos empréstimos tomados por cada um deles. Embora os empréstimos sejam uma fonte importante de receita para os bancos, esta premissa é uma simplificação da realidade. É preciso lembrar que o valor do cliente, como descrito na Seção 3.1, é formado pela composição das receitas que o mesmo gera à empresa, menos o custo de servi-lo, o que, geralmente, envolve todos os produtos aos quais o cliente é exposto. Sendo assim, a variável escolhida para representar o valor do cliente foi Montante do crédito em dólares, a qual foi dividida em três segmentos (Ouro, Prata e Bronze, associando Ouro ao cluster dos clientes tomadores dos maiores empréstimos e Bronze ao cluster dos tomadores dos menores empréstimos). A divisão do vetor de valores foi feita com base nos principais quartis estatísticos (Q1 e Q3), os quais podem ser vistos na Tabela 1. ATabela 2 apresenta a variável Tipo de cliente, criada a partir dos clusters de valor do cliente. 3710 PMKT FRANCISCO LOUZADA-NETO / CARLOS A. RIBEIRO DINIZ / CLOVIS CORREA DA COSTA / PAULO HENRIQUE F. DA SILVA / CAMILA R. DESTEFANI / ANA PAULA O. TEMPONI TABELA 1 Principais estatísticas descritivas da variável Montante do crédito em dólares. n n VARIÁVEL MONTANTE DO CRÉDITO EM DÓLARES n 1.000,00 Mínimo 350,00 Q1 1.911,00 Mediana 3.247,30 Média 4.579,75 CLASSIFICAÇÃO DURAÇÃO ≤ 18 DURAÇÃO > 18 TOTAL Q3 5.561,50 Ouro Máximo 25.793,60 42 (4,2%) 208 (20,8%) 250 (25,0%) Desvio-Padrão 3.951,85 Prata 285 (28,5%) 215 (21,5%) 500 (50,0%) Bronze 219 (21,9%) 31 (3,1%) 250 (25,0%) Total 546 (54,6%) 454% (45,4%) 1.000 (100,0%) TABELA 4 Número e porcentagem de clientes em cada segmento (cluster). TABELA 2 Segmentação da base. VALOR DO CLIENTE (X) TIPO DE CLIENTE x > 5.561,50 Ouro 1.911 < x ≤ 5.561,50 Prata x ≤ 1.911,00 Bronze ATabela 5 mostra o valor total, bem como a porcentagem do total observado, para cada segmento. No exemplo em questão dividiram-se ainda cada segmento (Ouro,Prata e Bronze) em dois grupos de acordo com o tempo de base dos seus clientes (maior que 18 meses e menor ou igual a 18 meses), o qual é representado pela variável Duração do crédito em meses. ATabela 3 apresenta a porcentagem de maus pagadores (inadimplentes) em cada segmento gerado. TABELA 3 Porcentagem de inademplentes dentro de cada segmento. CLASSIFICAÇÃO DURAÇÃO ≤ 18 DURAÇÃO > 18 Ouro 43% 42% Prata 18% 31% Bronze 28% 48% Observa-se que no grupo Ouro a chance de inadimplência é alta e praticamente a mesma para os diferentes tempos de duração dos empréstimos. Nos grupos Bronze e Prata verifica-se que a chance de inadimplência aumenta para empréstimos mais duradouros, sendo que a mesma é maior para os clientes do grupo Bronze. ATabela 4 apresenta o número e a porcentagem de clientes em cada um dos segmentos. Nota-se, através da Tabela 4,que a base de clientes está desbalanceada, já que algumas categorias concentram uma porcentagem visivelmente superior às demais. As categorias que apresentaram as maiores porcentagens foram: 38 Os clientes dos tipos Prata e Bronze e que tomaram empréstimos com tempos de duração iguais ou inferiores a18 meses. Os clientes dos tipos Prata e Ouro e que tomaram empréstimos com tempos de duração maiores do que 18 meses. Observa-se que os empréstimos tomados pelos clientes do tipo Ouro correspondem a, aproximadamente, 55% da quantia total emprestada pela instituição financeira e os empréstimos mais duradouros (com tempos de duração superiores a 18 meses) tomados por clientes desse grupo representam 47% do valor total. TABELA 5 Valor total de cada segmento. CLASSIFICAÇÃO DURAÇÃO ≤ 18 DURAÇÃO > 18 TOTAL Ouro 378.655,2 (8,3%) 2.154.587 (47,0%) 2.533.242,2 (55,3%) Prata 899.491,6 (19,6%) 800.828 (17,5%) 1.700.319,6 (37,1%) Bronze 296.086 (6,5%) 50.099 (1,1%) 346.185 (7,6%) Total 1.574.232,8 (34,4%) 3.005.514 (65,6%) 4.579.746,8 (100,0%) Atenção especial deve ser dada aos clientes do tipo Ouro, pois estes, embora representem 25% do total, são responsáveis por mais da metade (55,3%) da rentabilidade da instituição financeira (Tabela 5), ao mesmo tempo em que se caracterizam pela alta taxa de inadimplência. Note, na Tabela 3, que a maior taxa de inadimplência observada (48%) é para clientes do tipo Bronze e tomadores de empréstimos que duram mais de 18 meses.No entanto, tais clientes representam apenas 3,1% da base (Tabela 4) e respondem por somente 1,1% da rentabilidade total do banco (Tabela 5). PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS PARA SEGMENTAÇÃO DE BASE DE DADOS Por fim, identifica-se o perfil dos clientes que compõem cada um dos segmentos. Por exemplo, para o segmento formado por clientes do tipo Ouro e que tomaram empréstimos duradouros (com tempos de duração superiores a 18 meses), dos quais 42% são inadimplentes (Tabela 3), observou-se que os mesmos se caracterizam por serem do sexo masculino (75%), solteiros (64,9%), com idade média de 33 anos, moram em apartamento alugado (65,9%) há mais de 8 anos (42,8%), estão entre 1 e 5 anos no atual emprego (32,7%) e têm a aquisição de um carro novo como motivo para a tomada do empréstimo (26,4%). PMKT quistar e dominar mercados. São Paulo: Futura, 2000. RUST, R. T.; ZEITHAML, V. A.; LEIMON, K. N. O valor do cliente: o modelo que está reformulando a estratégia corporativa. Porto Alegre: Bookman, 2001. SMITH, W. R. Product differentiation and marketing representation as alternative marketing strategies.American Marketing Association. Journal of Marketing,v. 21, p. 3-8, jul.1956. 5. COMENTÁRIOS FINAIS Através da segmentação com base no valor do cliente podem-se direcionar, de forma adequada, as estratégias de relacionamento com o cliente, identificando o(s) grupo(s) de clientes fiéis; o(s) mais rentável(eis); o(s) que necessita(m) de estratégias de retenção, e assim por diante. Segundo Costa (2004), com esta abordagem pode-se visualizar com antecedência e maior precisão, oportunidades de ganho adicional e riscos de perda de negócios em relação a cada cliente, além de permitir, com razoável previsão, seus comportamentos futuros. A segmentação com base no valor do cliente cria uma base sólida para o relacionamento com cada cliente gerando padrões de comportamento que podem ser entendidos e gerenciados, uma vez que os processos de modelagem podem ser construídos para cada cluster de clientes. A dinâmica da receita de empréstimos, que é um elemento importante do valor do cliente, foi exemplificada de forma adequada no estudo de caso. Outros componentes devem compor o valor do cliente, entretanto, podem merecer análise similar, para que se tenha completo entendimento da formação geral deste valor. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, C. C. O verdadeiro valor do cliente. São Paulo: Negócio, 2004. JOHNSON, R.A.; Wichern, D.W. Applied multivariate statistical analysis. 5. ed. USA: Prentice -Hall Inc., 2002. KOTLER, P. Marketing para o século XXI: como criar, con- PMKT FARIA, C.A. Segmentação de mercado,2007. Merkatus. Disponível em: <http://www.merkatus.com.br/10_boletim/209. htm>. Acesso em: 26 abr. 2009. 3910 PMKT WAGNER JUNIOR LADEIRA TRÊS DÉCADAS DO MODELO DE CHURCHILL: UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FATORIAL E DO ALPHA DE CRONBACH NA VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS NO MARKETING PHREE DECADES OF THE CHURCHILL MODEL: USE OF FACTOR ANALYSIS AND CRONBACH’S ALPHA IN THE VALIDATION OF DATA COLLECTING TOOLS IN MARKETING n RESUMO Há mais de três décadas atrás Gilbert Churchill desenvolveu um paradigma operacional para a construção de instrumentos quantitativos de coletas, que é considerado um dos principais marcos da pesquisa em marketing. Utilizando-se do trabalho de Gilbert Churchill, o presente artigo pretende analisar os métodos estatísticos aplicados no processo de purificação de instrumentos de coleta de dados quantitativos, mais precisamente: o Alpha de Cronbach e a AF – Análise Fatorial. Pretende-se apresentar algumas questões fundamentais sobre estas duas técnicas de medidas clássicas de um modo não-técnico para o público acadêmico/profissional de marketing.Almeja-se assim, entender os dois principais métodos de purificação de medida mencionados por Churchill (1979) e hoje amplamente utilizados no marketing, demonstrando problemas e cuidados especiais no uso dessas ferramentas pelos especialistas em marketing. PALAVRAS- CHAVE: Instrumento de coleta de dados, Alpha de Cronbach, AF – Análise Fatorial. ABSTRACT Over three decades ago, Gilbert Churchill developed an operational paradigm for the construction of quantitative data collection tools, considered one of the major milestones in marketing research. Using the work of Gilbert Churchill, this paper analyzes the statistical methods used in the purification process of quantitative data collection instruments, more specifically,Cronbach’s Alpha and FA – Factor Analysis. The paper presents some fundamental questions about those two classical techniques in a non-technical manner to academic/professional marketing audiences. It thus aims to understand the two main methods of purification as mentioned by Churchill (1979) and widely used today in marketing, demonstrating problems and special cares to be taken in the use of those tools by marketing experts. KEY WORDS: Data collection tool, Cronbach’s Alpha,Factor Analysis (FA). 40 WAGNER JUNIOR LADEIRA GRADUADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA; MESTRE E DOUTORANDO EM ADMINISTRAÇÃO PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL; PROFESSOR NA UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS (UNISINOS), NAS PÓS-GRADUAÇÕES DO CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE (UNILASSALE) E NA FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO SENAC-RS; COORDENA OS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM VENDAS E COMUNICAÇÃO DA FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO SENAC-RS. E-MAIL: [email protected] TRÊS DÉCADAS DO MODELO DE CHURCHILL: UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FATORIAL E DO ALPHA DE CRONBACH NA VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS NO MARKETING 1. INTRODUÇÃO O relacionamento entre Ciência e Técnicas Estatísticas já possui séculos de existência, no entanto, apesar dessa convivência o assunto ainda é enigmático para não-cientistas e cientistas iniciantes (BABBIE,1999).A perspectiva tradicional de Ciência, apresentada, principalmente, em cursos de introdução às disciplinas científicas, frequentemente apresenta uma imagem de Ciência que a faz parecer direta, precisa e, muitas vezes, rotineira. Entretanto, as teorias — por natureza — são abstratas e gerais; mesmo as hipóteses levantadas, embora mais específicas, também são um tanto abstratas. Este fenômeno não é propriedade exclusiva das Ciências de base; ele se repete em áreas mais aplicadas como a de Pesquisa de Marketing. A Ciência de base ou aplicada parte do pressuposto que, a partir de procedimentos racionais e objetivos, suas conclusões terão, supostamente, mais qualidade do que as impressões subjetivas e os preconceitos de um leigo qualquer. Dizse, ainda, que a Ciência lida com fatos e números e os números, por sua vez, não mentem. Essa visão está intrinsecamente relacionada às Ciências Naturais, que buscam encontrar leis universais para explicar os diferentes fenômenos que as cercam. Um dos mais vivos debates acadêmicos nas últimas décadas diz respeito ao status científico da utilização da validação de instrumentos para a coleta de dados em pesquisas de marketing (CHURCHILL,1979; KLINE,2000; LEE; HOOLEY, 2005).A questão central tem sido verificar se o comportamento humano pode ser submetido ao estudo científico. Essa desconfiança, levantada por muitos acadêmicos, tem influenciado até hoje a forma como o marketing têm evoluído (BAUMGARTNER; STEENKAMP, 2001; GREENYER, 2006). Neste contexto, muitas pesquisas de marketing ainda utilizam os protocolos e rituais das Ciências Naturais, como o fascínio por equipamentos de laboratório e o uso da Estatística e da Matemática. Em muitos trabalhos da área de Marketing, a produção de técnicas de pesquisa está estreitamente associada ao seu rigor. Na literatura da pesquisa quantitativa, mais especificamente, o rigor é caracterizado pela validade e confiabilidade do estudo, que tem por objetivo reduzir o erro dos valores observados frente aos valores ditos “verdadeiros”. Essa preocupação já havia sido levantada por alguns pesquisadores, com o intuito de verificar se os trabalhos desenvolvidos e publicados na área, até então, estavam validando seus instrumentos quantitativos de forma adequada. Geralmente quando as pessoas preenchem um questionário, PMKT suas respostas são baseadas no significado substantivo dos itens a que eles respondem. No entanto, tem sido estudado há muitas décadas, que as respostas das pessoas também são influenciadas pelo conteúdo de fatores irrelevantes, que não estão ligadas diretamente com o que se quer avaliar nos itens (CRONBACH, 1947; BAUMGARTNER; STEENKAMP, 2001). Esses conteúdos que atrapalham a forma de responder são conhecidos como respostas com vieses de erro. Dentro do arcabouço dos métodos científicos, para diminuir a probabilidade de ocorrer vieses de erro sugere-se o uso da validação do instrumento (BAUMGARTNER; STEENKAMP, 2001; DIAMANTOPOULOS; WINKLHOFER, 2001). Um passo importante na área de Marketing com base na questão da validação de instrumento quantitativo foi dado há mais de trinta anos, por Gilbert Churchill (LEE; HOOLEY, 2005). Este autor desenvolveu um framework (arcabouço) contendo etapas para o desenvolvimento de melhores procedimentos de coleta de dados na área quantitativa. Seu artigo foi responsável por disseminar o paradigma “clássico” no processo de purificação de instrumentos de coleta de dados quantitativos em pesquisas de marketing. 2. OBJETIVOS Trazendo como foco o trabalho seminal de Churchill (1979), o presente artigo pretende analisar os métodos estatísticos aplicados no processo de purificação de instrumentos de coleta de dados quantitativos, mais precisamente: o Alpha de Cronbach e a AF – Análise Fatorial. Pretende-se também apresentar algumas questões fundamentais sobre essas duas técnicas de medidas clássicas de um modo não-técnico para o público acadêmico/profissional de Marketing.Almeja-se assim, entender os dois principais métodos de purificação de medida, mencionados por Churchill (1979) e hoje amplamente utilizados no Marketing, demonstrando problemas e cuidados especiais no uso dessas ferramentas pelos especialistas em Marketing. Neste artigo, a purificação é entendida como um processo sistemático utilizado pelo entrevistador com o objetivo de identificar se os entrevistados em um questionário interpretam as perguntas de acordo com o que elas se propõem medir (HAIR et al., 2002). O processo de purificação elimina os respondentes que não conseguiram interpretar de maneira adequada as perguntas de um questionário (LEE; HOOLEY, 2005). 3. CHURCHILL (1979): O “DIVISOR DE ÁGUAS” No fim dos anos setenta,Gilbert Churchill escreveu o artigo denominado“Paradigm for developing better measures of mar41 PMKT WAGNER JUNIOR LADEIRA keting constructs”, que versava sobre o desenvolvimento de um conjunto de métodos para validar instrumentos de coleta de dados.A intenção do artigo era trazer elementos críticos na evolução do conhecimento de medidas e, consequentemente, da sua aplicação prática. Churchill (1979) relata que Jacob Jacoby mencionou em um artigo publicado em 1978, denominado“Consumer research: a state of the art review”que boa parte da culpa da má qualidade da literatura de Marketing da época se dava ao fato de não existirem medidas para avaliar as variáveis. Para Jacoby, mais simples do que as medidas era a facilidade com que elas eram propostas, sem uma forma sofisticada e crítica. Na sequência, Churchill (1979) recomenda coletar os dados e avaliar a confiabilidade, através do Coeficiente Alpha e da Análise Fatorial.Após esta etapa, para avaliar a validade é indicado o Coeficiente Alpha e a Confiabilidade Split-half juntamente com a Matriz de múltiplos métodos e um Critério de validação. Por fim, aconselha-se desenvolver normas, tendo como ferramentas, médias e outras medidas estatísticas. SUGESTÃO DE PROCEDIMENTO PARA DESENVOLVER MELHORES MEDIDAS 1. ESPECIFICAR A CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO 2. GERAR AMOSTRA DE ITENS Churchill (1979) menciona que seu artigo pretendia preencher a lacuna existente na área que se resumia na necessidade obvia de melhores mensurações. No artigo, Churchill (1979) traz aplicações estatísticas existentes em outras áreas do conhecimento, propondo uma abordagem mais sistemática e rigorosa para construir instrumentos de coleta de dados. Ele procurou refletir sobre o uso complexo de ferramentas estatísticas no desenvolvimento de multi-escalas para medir itens latentes nas pesquisas de marketing (LEE; HOOLEY, 2005). Com este artigo, Churchill (1979), lançou as bases e procedimentos para a próxima geração de especialistas em Marketing (GERBING; ANDERSON, 1988; KLINE, 2000; LEE; HOOLEY, 2005), tornando-se um “divisor de águas” em pesquisas de marketing (LEE; HOOLEY, 2005).Após a publicação de seu artigo em 1979, o quadro analisado por Jacob Jacoby, que mencionava não existir rigor para avaliar as métricas utilizadas, rapidamente foi modificado, pelo menos nos principais Journals do mundo. Entre 1980 e 1989 foram publicados por volta de 750 casos de multi-escalas nos seis principais Journals de marketing. Segundo Lee e Hooley (2005) esses Journals são: Journal of Marketing Research, Marketing Science, Journal of Marketing, Journal of Consumer Research, Journal of the Academy Marketing Science e European Journal of Marketing. Para esse mesmo autor muito deste fenômeno pode ser atribuído ao artigo de Churchill (1979). O artigo de Churchill (1979) procurou desenvolver um framework na área de Marketing, adotando vários procedimentos estatísticos para dar maior padronização e rigidez na mensuração de construtos, conforme mostra a Figura 1. Seu framework foi dividido em oito etapas, intercaladas com recomendações de coeficientes e técnicas estatísticas. Na primeira etapa, o autor sugere a construção do instrumento de coleta de dados com base em pesquisas literárias. Depois ele recomenda que seja gerada uma amostra dos itens analisados, coletados alguns dados e purificadas as medidas.Essas etapas podem ser feitas com o auxilio de pesquisas literárias, survey, experimentos, simulações, incidentes críticos e focus groups. 42 3. COLETAR DADOS COEFICIENTES E TÉCNICAS RECOMENDADAS PESQUISA LITERÁRIA PESQUISA LITERÁRIA, SURVEY, EXPERIMENTOS, SIMULAÇÕES, INCIDENTES CRÍTICOS E FOCUS GROUP 4. PURIFICAR MEDIDAS COEFICIENTE ALPHA ANÁLISE FATORIAL 5. COLETAR DADOS COEFICIENTE ALPHA CONFIABILIDADE SPLIT-HALF 6. AVALIAR CONFIABILIDADE 7. AVALIAR VALIDADE 8. DESENVOLVER NORMAS MATRIZ DE MÚLTIPLOS MÉTODOS CRITÉRIO DE VALIDAÇÃO MÉDIAS E OUTRAS MEDIDAS ESTATÍSTICAS Fonte: CHURCHILL JR., Gilbert A. Paradigm for developing better measures of marketing constructs. Journal of Marketing Research.v. 16, fev., p. 64-73, 1979. FIGURA 1 Framework para desenvolver melhores medidas. O framework desenvolvido por Churchill (1979) pretendia aprimorar os métodos de validade de um instrumento.A validade de um instrumento é uma questão sine qua non nos diversos campos da Ciência (PETER,1979) e, com o estudo de Churchill (1979), o Marketing pôde evoluir nesta área. Esforços despendidos pelos autores Gerbing e Anderson (1988), Bagozzi eYi (1988) e Diamantopoulos e Winklhofer (2001), logo após o trabalho de Churchill (1979), demonstraram a necessidade de rigor, porém gerou uma série de equívocos em torno da aplicação de métodos, segundo Lee e Hooley (2005). De modo geral, a validade refere-se ao grau pelo qual o instrumento consegue medir verdadeiramente as construções que estão destinados a medir. Isso se refere à validade do conteúdo que é a avaliação do grau de correspondência entre os itens selecionados para construir uma escala múltipla e sua definição conceitual (HAIR et al., 2002). Para este problema, Churchill (1979) aconselhou o uso de algumas medidas estatísticas. Baseadas em seu estudo, duas técnicas estatísticas têm sido tradicionalmente recomendadas para a purificação da escala, o Coeficiente Alpha e a Análise Fatorial. No entanto, o uso em grande escala dessas duas revisões da literatura TRÊS DÉCADAS DO MODELO DE CHURCHILL: UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FATORIAL E DO ALPHA DE CRONBACH NA VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS NO MARKETING de medidas, dentro e fora do campo do Marketing, gerou uma série de equívocos (KLINE, 2000; LEE; HOOLEY, 2005). Antes de refletir sobre esses equívocos se faz necessário introduzir conceitos dessas duas abordagens. 4. ANÁLISE FATORIAL E ALPHA DE CRONBACH Os fundamentos teóricos do Marketing se relacionam com diversas disciplinas do campo de conhecimento (EIRIZ; WILSON, 2006).A área de Pesquisa de Marketing, mais especificamente, tem uma grande contribuição dos teóricos da estatística (FORNELL; LARCKER, 1981). Profissionais e acadêmicos têm reconhecido a importância deste fenômeno para o campo teórico dos métodos aplicados no Marketing (HUBBARD; NORMAN, 2007; GREEN, 2005; JOHNSON, 2005; LEVY, 2002; ZALTMAN,1997). Nos últimos trinta anos, o nível de sofisticação de desenvolvimento das medidas em Marketing tem sido reforçado pela introdução de métodos como o Coeficiente Alpha de Cronbach de consistência interna e a AF – Análise Fatorial (principalmente, a AFE – Análise Fatorial Exploratória) na purificação de medida. 4.1 ALPHA DE CRONBACH COMO INDICADOR DE CONSISTÊNCIA INTERNA A ênfase no desenvolvimento de medidas para instrumentos de coleta de dados deve estar centrada em propriedades de validade e confiabilidade desejáveis (CHURCHILL,1979). Os métodos de pesquisa, em geral, são aprimorados através de novos procedimentos científicos de validade e confiabilidade. Nas pesquisas sociais, Cronbach (1947,1951), foi um dos pioneiros a estudar este fenômeno, pois percebeu os efeitos da multidimensionalidade, quando em seus artigos afirmou que o Alpha é um índice de consistência interna. Este indicador de consistência interna de uma escala multi-item, que recebeu o nome de seu autor, é frequentemente utilizado como indicador de confiabilidade e medida, resumo das intercorrelações de um conjunto de itens (LEE; HOOLEY, 2005). No modelo de Churchill (1979) duas análises de confiabilidade são utilizadas: (a) Alpha de Cronbach que é um modelo de consistência interna baseada na correlação média entre os itens; e (b) Split-half que é um modelo que separa a escala em duas partes e examina a correlação entre elas. Dessas duas medidas, a mais utilizada nos modelos de validação em instrumento no Marketing é o Alpha de Cronbach (CORTINA, 1993).A ideia básica do Alpha de Cronbach é que os itens ou indicadores individuais da escala devem medir o mesmo construto e, assim, ser altamente inter-relacionado (HAIR et al., 2002). PMKT Escalas que têm intercorrelações altas entre os itens são conhecidas como internamente consistentes.A consistência interna da escala é geralmente medida pelo Coeficiente Alpha. Coeficiente Alpha é a proporção da variância total de uma escala que é atribuída a uma fonte comum (KLINE, 2000). Com base no valor dessas consistências surge um primeiro equivoco desse método de pesquisa: o valor a ser utilizado pelo Alpha nas pesquisas de marketing deve ser maior que 0,70. Quando Churchill (1979) e outros autores (NUNNALLY, 1978; GERBING; ANDERSON,1988; BAGOZZI; YI,1988; DIAMANTOPOULOS; WINKLHOFER, 2001) sugeriram a utilização do Alpha de Cronbach, estes mencionaram níveis aceitáveis. Mais praticamente, o Alpha de Cronbach pode ser entendido como uma medida de confiança que varia de 0 a 1, sendo os valores de 0,60 a 0,70 considerados o limite inferior de aceitabilidade (NUNNALLY,1978). Porém, Nunnaly (1978) e Stokes (2005) mencionam que este nível deve depender diretamente da pesquisa: ser maior que 0,90 para pesquisas aplicadas (utilizadas para alguma necessidade ou aplicação por parte de um indivíduo, grupo ou sociedade); 0,80 para pesquisas básicas (atividade teórica ou experimental com o fim de adquirir novos conhecimentos sobre os fundamentos subjacentes aos fenômenos e fatos observáveis, sendo aquela que procura ampliar a compreensão dos fenômenos de um campo de Ciência); 0,70 para pesquisas preliminares (aquelas que auxiliam nos estudos iniciais tanto da pesquisa aplicada, quanto da pura). No entanto, pode-se aceitar 0,70 como um nível mínimo ideal e também 0,60 para estudos exploratórios (HAIR et al., 2002). Com base nestas referências observa-se que não existe um consenso quanto ao valor a ser adotado do Alpha de Cronbach na academia. No entanto, há certa padronização dos valores deste Alpha, por parte de muitos profissionais, o que impede um relacionamento mais coerente com a teoria exposta pelo estudo. Em muitos trabalhos, o valor aceitável do Alpha é justificado por um desses autores clássicos, como Nunally (1978) e Hair et al. (2002), sem conter uma justificativa do objeto estudado dentro da própria pesquisa. Dependendo do fenômeno que se estuda, níveis abaixo de 0,70 do Alpha de Cronbach podem ser aceitáveis, dependendo da justificativa do pesquisador (LEE; HOOLEY, 2005; KLINE, 2000). Segundo Lee e Holley (2005), em pesquisa de marketing criou-se o dogma do valor Alpha acima de 0,70. Isso é um sério problema, pois é preciso ter um critério do pesquisador, que não seja baseado apenas em obras da área de Pesquisa. A solução é que os pesquisadores entendam exatamente o que estão fazendo na teoria e na prática. Devem interpretar escores de Alpha em função dos fatores. O coeficiente 0,70 4310 PMKT WAGNER JUNIOR LADEIRA pode não ser uma boa medida dependendo das variáveis (LEE; HOOLEY, 2005; PETERSON,1994). Na busca por coeficientes altos, emerge o segundo equívoco do uso do Alpha de Cronbach nas pesquisas de marketing: quanto maior o número de itens do questionário, maior será o Coeficiente de Alpha. Para evitar esse equívoco o pesquisador deverá tentar reduzir o tamanho do questionário (LEE; HOOLEY, 2005; PETERSON,1994; CORTINA,1993). As escalas com alta consistência interna podem ser compostas de itens que são, essencialmente, repetições ou paráfrases umas das outras.Isso dará um excelente Alpha, no entanto, pode levar a uma situação em que uma escala tem redundância, tendo alta confiabilidade e baixa validade. Portanto, os pesquisadores devem ser cautelosos ao usar a coerência interna como confiabilidade em suas atividades de desenvolvimento de escala.Aderência dogmática a alta consistência interna pode levar a altos níveis de redundância nos itens (LEE; HOOLEY, 2005; GERBING; ANDERSON,1988; CORTINA,1993). Conclui-se então, que o Coeficiente Alpha é amplamente utilizado como índice de confiabilidade, mas proporciona uma estimativa inadequada quando utilizado com compósitos multidimensionais.A natureza problemática deve-se ao uso inadequado, principalmente, como uma função da quantidade dos fatores mensuráveis e distintos em uma composição (RO GERS; SCHMITT; MULLINS, 2002). Os investigadores devem corrigir esse erro utilizando-se de estimativas para construir relações e preocupando-se em conceituar os erros de medição existentes. Um último equívoco do uso do Alpha de Cronbach pode ser associado às diferenças entre o termo confiabilidade e validade (CORTINA,1993; KLINE, 2000): uma medida pode ser confiável sem ser válida. A confiabilidade de um instrumento de coleta de dados é influenciada diretamente pela amostragem, pelas características do que se quer medir e das medidas utilizadas. Resultados de muitos trabalhos na área de Marketing indicam que as características das medidas têm uma grande influência nas estimativas de confiabilidade obtidas e que as outras duas características têm pouco impacto (CHURCHILL; PETER,1984). Embora a confiabilidade tenha recebido alguns usos, o Coeficiente Alpha ainda é o principal alicerce da avaliação das escalas de marketing. Enquanto ele é intocável na área de Marketing, em outras áreas, muitos os questionam (KLINE, 2000; CORTINA,1993). Confiabilidade é o grau em que uma variável ou conjunto de variáveis é consistente com o que se quer medir (HAIR et al., 2002). Se múltiplas medidas são realizadas, as medidas confiáveis serão muito consistentes em seus valores. É diferente 44 de validade, pois não se relaciona com o que deveria ser medido, mas sim com o modo como é medido (CORTINA,1993). A análise de confiabilidade dos dados permite avaliar as escalas de mensuração, assim calcula um número de mensurações geralmente usadas de confiabilidade de escalas e também fornece informações sobre as relações entre os itens individuais em uma determinada escala (NUNALLY,1978; CORTINA,1993). No entanto, o Coeficiente Alpha não é uma medida real de confiabilidade. O que se observa é que esse coeficiente pode ser utilizado para estimar a confiabilidade de uma escala multi-item reflexiva (combinação de diversas variáveis que mede o mesmo conceito) fornecendo uma indicação da consistência interna (HAIR et al., 2002). Enquanto a maioria dos pesquisadores não tem dúvida de que a consistência interna é de grande utilidade na estimativa da confiabilidade de uma medida, há um número de dissidentes que não compartilham dessa opinião (LEE; HOOLEY, 2005; GERBING; ANDERSON,1988). Para estes autores o Alpha de Cronbach é necessário, mas não suficiente, para que a validade interna de uma medida seja confiável.A confiabilidade pode ser definida como o grau em que as medidas estão isentas de erros e, portanto, geram resultados consistentes (PETER,1979; CORTINA,1993). Desse modo, observa-se que há uma diferença entre confiabilidade e validade e, em muitos casos, os profissionais de Marketing não trabalham estes conceitos separadamente no uso do Alpha de Cronbach. 4.2 ANÁLISE FATORIAL PARA PURIFICAÇÃO DE MEDIDA A Análise Fatorial está presente entre as mais frequentes técnicas utilizadas na análise de dados de marketing. Desde os anos oitenta esta técnica tem sido aplicada em pesquisa de comportamento do consumidor, brand e publicidade (KAMAKURA; WEDEL, 2000; STEENKAMP; BAUMGARTHER, 1995). AAF – Análise Fatorial é um nome genérico dado a uma classe de métodos estatísticos multivariados cujo propósito principal é definir a estrutura subjacente em uma matriz de dados (HAIR et al., 2002; MILER, 2009).A AF parte do pressuposto de que a correlação entre as variáveis surge porque essas variáveis compartilham ou estão relacionadas por um mesmo fator (CRAWFORD; LOMAS,1980).A AF permite a detecção da existência de certos padrões subjacentes nos dados, de maneira que possam ser reagrupados em um conjunto menor de dimensões ou fatores (HAIR et al., 2002). A AF pressupõe que altas correlações, entre variáveis, gerem agrupamentos que configurem os fatores (CRAWFORD; LO MAS,1980). TRÊS DÉCADAS DO MODELO DE CHURCHILL: UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FATORIAL E DO ALPHA DE CRONBACH NA VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS NO MARKETING Artigos recentes dos principais Journals em Marketing demonstram que o uso da AFC – Análise Fatorial Confirmatória é cada vez maior, enquanto a utilização da AFE – Análise Fatorial Exploratória está em declínio.Esse fenômeno pode ser justificado pelo uso abusivo da AFC como método de investigação dentro da modelagem de equações estruturais (HURLEY et al.,1997; MILER, 2009). No entanto, em muitos estudos de Marketing a AFC está sendo utilizada como exploratória, resultando modelos que derivam da teoria (GERBING; HAMILTON,1996), o que também justifica a diferença no uso entre essas duas técnicas. O uso em grande escala da AF para validar instrumentos de coleta de dados, fez também com que surgissem outros equívocos na sua utilização prática (CRAWFORD; LOMAS,1980; KLINE, 2000; LEE; HOOLEY, 2005). O primeiro equívoco é a diferença entre AF – Análise Fatorial e ACP – Análise de Componentes Principais. Esses dois conceitos são muitos semelhantes e, em muitos casos, são utilizados como sinônimos para os profissionais de marketing, porém não podem ser considerados idênticos. Ambas são técnicas de redução de dados. Os resultados reais podem ser relativamente semelhantes dentro de um determinado conjunto de dados, especialmente com grande número de casos e, além disso, em alguns pacotes estatísticos as duas técnicas estão dentro de um mesmo subitem, o que gera certa confusão aos pesquisadores (KLINE, 2000; LEE; HOOLEY, 2005). O objetivo da ACP – Análise de Componentes Principais é utilizar a variação observada no conjunto de dados para criar novas variáveis que são compostas de itens originais. Esta é muito utilizada quando a finalidade principal é prever, por exemplo, quando se têm muitas variáveis independentes e quer-se encontrar uma variável dependente. Neste caso busca-se a obtenção de um pequeno número de componentes principais de um conjunto de variáveis, que retenham o máximo possível da informação contida nas variáveis originais. Já o objetivo da AF – Análise Fatorial é identificar um fator subjacente ou latente, que é responsável pelas correlações observadas entre os itens originais.A AF explica a correlação ou covariância, entre um conjunto de variáveis, em termos de um número limitado de variáveis não-observáveis. Esses tipos de variáveis (que podem ser chamados de fatores) são calculados através da combinação linear das variáveis originais. O problema é que muitos profissionais de marketing utilizam os resultados das duas técnicas dentro de um mesmo propósito, tendo como fim apenas a redução dos dados e este não é único objetivo dos resultados de ambas as técnicas. A escolha de um modelo ou de outro deve ser tomada com PMKT base em dois pontos, segundo Hair et al. (2002): (a) os objetivos do que se pretende fazer; e (b) do montante de conhecimento prévio sobre a variância nas variáveis.É preciso atentar para a diferença entre esses dois procedimentos que ficam maiores quando se têm pequenas amostras (CRAWFORD; LOMAS,1980). Sugere-se que a escolha conceitual entre a ACP – Análise de Componentes Principais e a AF – Análise Fatorial deva ser explicitamente abordada (LEE; HOOLEY, 2005). O segundo equívoco na utilização da AF refere-se ao uso da comunalidade: itens que contém comunalidade abaixo de 0,50 automaticamente devem ser excluídos (HAIR et al., 2002; KLINE, 2000; LEE; HOOLEY, 2005). A comunalidade é a quantia total de variância que uma variável original compartilha com todas as outras variáveis incluídas na análise.A comunalidade inferior a 0,50 significa que menos da metade da variação no item foi tida em conta na identificação do construto latente. É prática comum na purificação de escala através da AF, automaticamente, rejeitar os itens a partir da análise que exibem comunalidade baixa. Faz-se necessário entender que os itens com comunalidade baixa não devem ser automaticamente excluídos da análise. O pesquisador deve analisar a relação com o objeto de estudo e não apenas resumir a um nível ideal para todas as pesquisas (LEE; HOOLEY, 2005; CRAWFORD; LOMAS,1980), do contrário ele estará criando o dogma da comunalidade 0,50. Semelhante à comunalidade, a AF traz o terceiro equívoco apoiado no valor do critério de Kaiser (também chamado de autovalor 1): para se extrair o número de fatores da AF utiliza-se o critério de Kaiser, onde quaisquer elementos com um autovalor inferior a 1 são desconsiderados.A utilização do critério de Kaiser é mais confiável quando o número de variáveis está entre 20 e 50. Com menos de 20 variáveis, há uma tendência para este método extrair um número conservador de fatores (LEE; HOOLEY, 2005). Sugere-se que o número de fatores selecionados não deve ser determinado apenas pelo critério de Kaiser. Em relação ao tamanho da amostra o quarto equívoco é feito nas pesquisas de marketing: para auxiliar a seleção de itens, cargas fatoriais de 0,30 são geralmente assumidas como suficiente nas pesquisas de marketing, sem consideração do tamanho da amostra.As orientações de Hair et al. (2002) sugerem que, com amostras de 350 ou mais, o carregamento fator, tradicionalmente, utilizado de 0,30 ou superior é significativo. No entanto, com amostras de 200 um fator de carga de 0,40 ou superior é necessário para o mesmo nível de importância, enquanto amostras de 100 exigem cargas de 0,55 ou maior para este nível de significância. 4510 PMKT WAGNER JUNIOR LADEIRA Por fim, faz-se necessário um comentário sobre o quinto possível equívoco que diz respeito à rotação: a rotação por si só gera o resultado fatorial. A rotação do fator é o processo de manipulação ou ajuste dos eixos fatoriais para conseguir uma solução fatorial mais simples e pragmaticamente mais significativa (HAIR et al.,2002).A rotação de fator é uma tentativa matemática de simplificar a interpretação das cargas fatoriais das variáveis individuais. Esta é utilizada para induzir resultados e estruturas mais simples. Isso ocorre quando os carregamentos originais não podem ser facilmente interpretáveis. Os casos mais utilizados de rotação são: ortogonal e oblíqua. No ortogonal os eixos de rotação são mantidos em 90 graus. Quando não há restrição de ser ortogonal dá-se o nome de oblíqua (HAIR et al.,2002). Cada tipo de rotação gera resultados diferentes.A rotação pode ajudar o pesquisador a identificar a estrutura fatorial teoricamente mais plausível (LEE; HOOLEY, 2005; CRAWFORD; LOMAS,1980). No entanto, é preciso verificar o ajuste no mundo real. Rotações de fatores (por exemplo: Varimax, Promax, oblíqua etc.) devem ser selecionadas e justificadas conceitualmente e não apenas através da citação de precedentes. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E ADVERTÊNCIAS O estudo de Churchill (1979) oferece um paradigma operacional para a construção de instrumentos de coletas.A ideia básica é que os achados empíricos confirmatórios serão reforçados quando a validação dos instrumentos precede tanto a validade conclusiva interna quanto a estatística. Peter (1979) menciona que os pesquisadores de marketing raramente avaliam a confiabilidade (muito menos a validade) de seus instrumentos de coleta de dados. Com a publicação do trabalho de Churchill (1979) essa realidade começou a ser modificada no meio acadêmico. É importante observar que o processo de validação de instrumento desenvolvido por Churchill (1979) trouxe grandes avanços metodológicos para a área de Marketing. Seu artigo foi responsável por aperfeiçoar a avaliação processual da construção dos meios de coleta de dados, dando maior rigidez e robustez aos processos. O seu estudo operacionalizou a construção de instrumentos de coleta de dados através de padrões e trouxe novas linhas de raciocínio para a coleta de dados, permitindo a expansão dos estudos das métricas para avaliar os instrumentos.Vários autores analisaram e remodelaram as técnicas existentes, adaptando os padrões para as diversas áreas do Marketing. Greenyer (2006) relata que nos últimos quinze anos, a área de Marketing presenciou grandes progressos nas técnicas de validação de instrumentos. Este mesmo autor questiona: Será que isto vai continuar? Em seu artigo não se tem a resposta concreta a esta questão. Porém, fica claro que este é um tema da atualidade e que várias áreas (CRM,B2B,Vendas, Com46 portamento do consumidor e Planejamento de marketing) utilizam as técnicas de mensuração (GREENYER, 2006). Concomitantemente com sua crescente popularidade, este paradigma operacional criou alguns equívocos na utilização de seus métodos, principalmente ao se tratar do Alpha de Cronbach e da AF – Análise Fatorial (LEE; HOOLEY, 2005; KLINE, 2000). Lee e Holley (2005) mencionam que esses equívocos têm evoluído como resultado da crescente capacidade de utilizar métodos complexos, sem a exigência de uma compreensão fundamental da sua matemática e — mais importante — das bases conceituais.Agindo dessa maneira, corre-se o risco de aumentar a crença em torno das técnicas de medição (LEE; HOOLEY, 2005; KLINE, 2000). Este artigo não deve ser visto contra o modelo clássico operacional da teoria da medida, mas como uma defesa da própria teoria. Como Lee e Hooley (2005) relatam não é a teoria que está em falta, mas a conexão entre a teoria e as técnicas. Isso faz empregar métodos inadequados. O método serve para entender algo e não se pode defini-lo através de precedências, mas sim de acordo com a sua utilidade (razão pela qual o uso de precedência evoluiu). Os investigadores precisam gastar mais tempo interpretando os resultados de medição. É necessário compreender a relação entre a teoria e a técnica de medição real (KLINE,2000). Conclui-se que os estudiosos de Marketing em geral focam nos relatórios e figuras, sem entender o que esses números implicam.A conexão entre teoria e técnica não é claramente entendida e isso prejudica a validade das medidas (LEE; HOOLEY, 2005). Este artigo deve ser visto como uma crítica ao dogma existente nos acadêmicos de Marketing e não um reforço aos dogmas; tendo a mesma intenção de vários trabalhos como de Churchill (1979), Gerbing e Anderson (1988), Bagozzi e Yi (1988), Diamantopoulos e Winklhofer (2001), Kline (2000), Lee e Hooley (2005), que pregam a análise crítica do dogma e não a sua aceitação incondicional. Estes autores trazem bons conselhos para as futuras gerações de pesquisadores e profissionais de Marketing, pois segundo Kline (2000), seguir o uso sem entender sua lógica é aceitar o dogma; isso é a antítese de uma abordagem científica; isso em outras épocas conduziu a Ciência à idade das trevas. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGOZZI, Richard. P.; YI,Youjae. On the evaluation of structural equation models. Journal of the Academy of Marketing Science, v. 16, n. 1, p. 33- 46,1988. TRÊS DÉCADAS DO MODELO DE CHURCHILL: UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FATORIAL E DO ALPHA DE CRONBACH NA VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS NO MARKETING BABBIE, E. Métodos de pesquisas de survey. Belo Horizonte: UFMG,1999. BAUMGARTNER, Hans; STEENKAMP, Jan-Benedict E. M. Response styles in marketing research: a cross-national investigation. Journal of Marketing Research,v. 38, maio, p.143156, 2001. CHURCHILL JR., Gilbert A.; PETER, J. Paul. 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Resultados de pesquisas impactantes para a atividade de pesquisas,para a comunidade de pesquisas e/ou para a sociedade. Relatos de cases de produtos/serviços (novos ou existentes) em que os resultados de pesquisas realizadas foram impactantes para o planejamento ou replanejamento de marketing do produto/serviço. AVALIAÇÃO Os artigos submetidos à publicação serão avaliados sempre por, no mínimo, dois conselheiros técnicos, através do sistema blind review.Essa avaliação será efetuada em relação a: n n n n n n n Ineditismo — não podem ter sido publicados em outra revista, mas podem ter sido apresentados em congressos. Atualidade do tema — adequação à linha editorial da PMKT,originalidade,impacto,interesse e aplicabilidade à teoria e/ou prática de pesquisas. Clareza dos objetivos — não deixam dúvidas quanto ao elemento nuclear do artigo. Adequação metodológica — metodologia adequada ao problema de pesquisa e sua correta aplicação. Clareza no desenvolvimento — integração adequada entre objetivos, metodologias, resultados e conclusões. Análises e resultados — forma de apresentação e discussão dos resultados. Conclusões — embasamento e correção face ao(s) objetivo(s) e aos resultados obtidos. n n Atendimentos às normas editoriais de publicações científicas da ABNT (NBR-6023, revisada). Redação — adequação, correção, clareza e objetividade. APROVAÇÃO DOS ARTIGOS Os artigos poderão ter um dos seguintes resultados: Artigo aprovado sem restrições,sendo encaminhado para publicação. Artigo aprovado com restrições e deve ser melhorado para nova reavaliação. Artigo não aprovado. n n n REQUISITOS REDACIONAIS E DE FORMATAÇÃO Só serão aceitos artigos redigidos em Português.Autores em outras línguas devem providenciar tradução para o Português. Os artigos devem atender aos seguintes requisitos redacionais e de formatação: PRIMEIRA PÁGINA (não contada para o artigo) n n n n n n Título do artigo, com todas as palavras principais em maiúsculas (palavras de ligação em minúsculas). Nome(s) do(s) autor(es). Mini CV (máximo de 10 linhas). Cargo/função e instituição onde trabalha. E-mail e telefones de contato. Endereço completo (para envio de exemplares da Revista, no caso do artigo ser aprovado e publicado). SEGUNDA PÁGINA (não contada para o artigo) n Título do artigo em Português e Inglês, com todas as pala4910 PMKT n n NORMAS EDITORIAIS vras principais em maiúsculas (palavras de ligação em minúsculas). Resumo do artigo com 10 (mínimo) a 15 (máximo) linhas, em um único parágrafo, em Português e Inglês. Palavras-chave 3 (mínimo) a 5 (máximo), em Português e Inglês. n n n Apresentação ou introdução. Desenvolvimento. Conclusões e recomendações. As referências bibliográficas e outros elementos redacionais e de formatação devem seguir as normas da ABNT (NBR6023, revisada). TERCEIRA PÁGINA RESPONSABILIDADES n O corpo do texto do artigo deverá ser iniciado na 3ªpágina e não deve ter seu(s) autor(es) identificado(s) de forma explícita ou oculta em seu corpo, sob pena de ser recusado. FORMATAÇÃO n n n n n n n n n n n n Editor de texto Word do Office 97 ou posterior. Layout do texto no estilo de boletim informativo (2 colunas). Fonte para texto: Times New Roman, tamanho 12. Fonte para quadros,figuras, tabelas e notas de rodapé:Times New Roman,tamanho10. Tamanho do papel A4 (21 x 29,7 cm). Numeração de páginas no canto inferior direito. Margens superior e inferior de 3 cm. Margens direita e esquerda de 2 cm. Cabeçalho de 1,25 cm. Espaçamento entre linhas simples (para fórmulas de1,5 cm). Espaçamento normal entre caracteres. Alinhamento justificado. ELEMENTOS TEXTUAIS E NÚMERO DE PÁGINAS O tamanho do artigo, incluindo referências bibliográficas, deverá ter o máximo de 15 páginas e deverá estar assim organizado: 50 Os artigos serão de total e exclusiva responsabilidade de seu(s) autor(es). O(s) autor(es) deve(m) também estar ciente(s) de que ao submeter(em) o artigo à Revista para publicação estará(ão) automaticamente cedendo,sem ônus,seus direitos autorais para a Revista. FORMA DE ENCAMINHAMENTO DE ARTIGOS Os artigos devem ser enviados digitalizados por e-mail aos cuidados de Madalena de Macedo Vicente, pelo e-mail [email protected]. Acesse: www.revistapmkt.com.br