A FOLHA !:;1ÉDICAlUNIFESP ~>~M~A~R~Ç~O~/A~B~I~U~L~19~9~8~-~V~0~I.~I~I~6~-~N~"~2 ~F~0~MEAN~~9~4~1~O ARTIGO ORIGINAL QUEM DEVE REALIZAR A ESPffiOMETRIA DURANTE A AVALIAÇÃO PUlMONAR PRÉ-OPERATÓRIA? Sorria Maria Faresin Doutora em Pneumologia e Chefe do Ambulatório de Risco Cirúrgico da Disciplina ele Pneumologia -UNlFESP Escola Paulista de Medicina JOão Adriano de Barros Professor Assistente de Pneumologia elo Departamento ele Clínica Médica ela Universidade Federal do Paran.i. Oswaldo ShigueomiBeppu Professor Adjunto ela Disciplina ele Pneumologia, Departamento de Medicina. UNIFESP Escola Paulista de Medicina Clóvis de Araújo Peres Professor Titular da Disciplina ele Estatística elo l.M.E. Universidade de São Paulo - USP Ãlvaro Nagib Atallah Livre-Docente em Clínica Médica e Chefe da Disciplina ele Clínica Médica, Departamento de Medicina, UNIFESP Escola Paulista de Medicina RESUMO Para analisar criticamente as indicações para a realização do estudo funcional pré-operatório através da espirometria correlacionando-as com a incidência de complicações pulmonares e mortalidade decorrente das mesmas, no pós-operatório de cirurgia geral eletiva, foi feito um estudo do tipo coorte prospectivo longitudinaL Durante 30 meses, foram analisados 1.162 pacientes submetidos a cirurgia geral eletiva, que no período pré-operatôrto foram agrupados em três grupos: Grupo A formado de 188 pacientes com clinica e função pulmonar normais; Grupo B formado de 276 pacientes com clinica e função pulmonar anormais; Grupo C formado de 698 pacientes clinicamente normais e nos quais a espirometria não foi realizada. Desses, 143 (12,3%) apresentaram 298 CPP, sendo que as infecções do trato respiratório foram as complicações mais freqüentes (81/298; 27,2%). Os pacientes do grupo C apresentaram incidências de 7,0% de complicações pulmonares e de 2,6% de óbito em decorrência destas complicações no pós-operatório. Estas taxas não diferiram daquelas observadas no grupo A cujos pacientes tiveram incidência de complicações pulmonares de 11,7% e de óbito de 2,7% (p > 0,05). No entanto, nos pacientes do grupo B a incidência de complicações pulmonares foi de 26,1% e de óbito de 6,2%, valores que diferiram estatisticamente dos dois grupos anteriores (p < 0,001 para complicações e p < 0,01 para óbito). A indicação do teste espirométrico deve basear-se na história e exame físico dos pacientes. A incidência de complicações pulmonares e óbito no pós-operatório de cirurgia geral e1etiva do grupo que apresenta clinica e função pulmonar normal é semelhante à do grupo que apresenta clinica normal e no qual não foi realizado o estudo da função. UNITERMOS:cuidados A pré-operatôríos: avaliação pulmonar pré-operatória é parte integrante do preparo de muitos pacientes para a cirurgia, com o objetivo de identificar aqueles com risco aumentado de desenvolver complicações pulmonares pósoperatórias CCPP) e a seguir óbito em decorrência das mesmas!". Este risco depende do estado clínico e funcional do paciente e ciequai a cirurgia a ser realizada. Ao se proceder a avaliação, questionam-se quais pacientes necessitam de quantificação da função pulmonar pela complicações espirometria pós-operatórias; teste de função e análise dos gases arteriais. Também, argumenta-se como se pode diminuir o risco da população de desenvolver complicações pulmonares com boa relação custo-benefício ou melhor, oferecer medidas profiláticas intensivas para os pacientes com risco aumentado de CPP durante o tratamento cirúrgico" No entanto, permanece controverso quais os pacientes que mais se beneficaríai 11 dos estudos funcionais pulmonares- 5. 7-12 Tisi? definiu, em base dos dados da literatura, quais pacientes deveriam realizar Trabalho realizado na Disciplina de Pneurnologia, Escola Paulista de Medicina Hospital São Paulo, São Paulo, Brasil. Copyrigbt 1998 by CIDADE-Editora Científica LIda. F méd(BR), 1998; 116(2): 85-90 Unifesp, respiratória esta análise. Houston e col.' adaptaram os cntérios de Tisi: (Quadro 1). Atualmente, a maioria dos autores concorda que os pacientes com estes fatores de risco devem proceder à análise funcional pulmonar préoperatória- - 12-16 Este estudo tem como objetivo analisar criticamente as indicações para Siglas e abreviaturas utilizadas: CPP: Complicações pulmonares pós-operatórias VEF,: Volume expiratório forçado no primeiro segundo. CVF: Capacidade vital forçada. VEF,ICIIF: Relação entre o volume expiratório forçado no primeiro segundo e a capacidade vital forçada. IRpA: Insuficiência respiratória aguda. PFP: Provas de função pulmonar. 85 A FOLHA MIôDICA/UNlFESP MARÇO/ABRIL ~-998- VoI. 116 - NU 2 a realização do estudo funcional pulmonar pré-operatório através da espirometria, procurando correlacíonar o resultado do teste espirométrico com a ocorrência de complicações pulmonares e mortalidade de causa pulmonar no pós-operatório de cirurgiageral eletiva. QUADRO I Indicações para análise funcional pulmonar através da espirometria dVrante a avaliação pré-{)jleratóra. segundo Tísi e adaptada por Houston e col. . - Idade superior a 60 anos. - Obesidade mórbida. . História de tabagismo irnponarue. - Sintomas de doença respiratória. . Achados anormais no exame físico pulmonar. - Achados anormais no radiograma de tórax. - Indicação de cirurgia torácica, -Indicaçãodecirurgia abdominal alta.# Cirurgia abdominal imaginária t: com incisão operatória na parede acima de uma linha transversal que passa pela cicatriz umbilical. MATERIAL E MÉTODOS No periodo compreendido entre abril de 1m e outubro de 1992foram avaliada; 1.479 pacientes no Ambulatório de Risco Cirúrgicoda Disciplinade Pneumologia da EscolaPaulísa de Medicinada Universidade Federal de São Paulo (São Paulo, Brasil) oriundos do Hospital São Paulo onde encontravam-se internados para elucidação diagnóstica com posterior indicação de tratamento cirúrgico eletivo. Esta instituição caracteriza-se por ser um hospital geral de atendimento terciário ligado a uma escola médica. Foram incluídos neste estudo pacientes de ambos os sexos com idade igualou superior a 10 anos, submetidos à cirurgia geral eletiva com anestesia geral ou raquimedular, e com acompanhamento adequado no pósoperatório. Constítuíram critérios de exclusão as cirurgias de urgência, as eletivas que evoluíram para urgência, cirurgia cardíaca e cirurgia por via laparoscópica. Avaliação pré-operatõría Entrea; 1.479pacientes encaminhada; para a avaliação pré-operatória, 290 indivíduos 09,6%) não puderam ser incluídos, dos quais 256 não realizaram a cirurgia proposta por diversos motivos: mudança na mnduta terapêutica, recusa do 86 Quem deve realizar a espírornetria durante a avaliação pulmonar pré-operatória? Sonia Maria Faresin e cols. paciente ou familiar,alta hospitalar para retomo posterior que não se efetuou, óbito no pré-operatório e diagnóstico cirúrgico inicialnão confirmado. Em nenhum destes casa; houve corura-indicaçãoda cirurgiapor motivos clínicos. Dos 1.189 pacientes incluídos no estudo, somente os dados de 1.162 foram utilizados para as análises posteriores, pois 4 pacientes foram a óbito durante o procedimento cirúrgico e 23 pacientes não apresentavam todos os dados necessários. Todos pacientes foram avaliados no pré-operatório por questionário padronizado para história clínica e exame físico visando, principalmente, detectar-se a presença de sintomas respiratórios persistentes no momento da avaliação ou de doença pulmonar de evolução crônica. Para classificar os pacientes estudados as seguintes definições foram utilizadas: a) Cirurgia proposta: torácica (incisão operatória no tórax), abdominal alta e baixa (incisão na parede abdominal, acima e abaixo da cicatriz umbilical respectivamente) e periférica (incisão não realizada na parede toracoabdominal com exceção da cirurgia de mama). b) Sintomático respiratório: portador de qualquer sintoma respiratório (tosse, expectoração, broncoespasmo) isolados ou associados, crônicos no momento da consulta. c) Fumante: aquele que fumou no mínimo um ano/maço e está em uso de cigarros no momento ou parou de fumar há menos de oito semanas. d) Doença pulmonar crônica: incluíram-se sob esta denominação doenças pulmonares como asma, bronquite crônica, enfisema, bronquiectasia e doença intersticial de pulmão. Em geral os pacientes eram sintomáticos, com tratamento atual ou não e com o diagnóstico estabelecido anteriormente ou no momento da avaliação pré-operatória. Todos os pacientes realizaram radiograma de tórax. A espirometria foi realizada em 464 pacientes. Por questões de ética indicamos a realização da espirometria em todos pacientes que apresentavam algum dos critérios estabelecidos por Tisi" e adaptados por Houston e col.'. Desta forma o exame foi realizado em todos os candidatos a cirurgia torácica ou abdominal alta, com idade superior a 60 anos, com doença pulmonar presente no momento da avaliação evidenciadas pelo exame clínico ou radiograma de tórax, história de tabagismo prolongado ou presença de obesidade mórbida (peso acima de 150% do peso corporal ideal). Além disso, um grupo de pacientes totalmente assintomáticos do ponto de vista pulmonar, que nunca fumaram e apresentaram exames físico e radiológico normais também realizaram o exame. A análise espirométrica consistiu da determinação da capacidade vital forçada (CVF) e volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF). Os procedimentos relativos à obtenção destas medidas seguiram as recomendações da "American Thoracic Society" de 1979 e 1987. Considerou-se exame normal quando a relação VEF1 /CVF era igualou superior a 75% e o valor da CVF expresso em porcentagem em relação ao previsto era igualou superior a 80%17.19 Os 1.162 pacientes foram divididos em três grupos: grupo A formado por 188 pacientes sem nenhum sintoma respiratório segundo perguntas padronizadas para obtenção destas informações, com exame clínicoradiológico normal cujo resultado espirométrico também resultou normal; grupo B formado por 276 pacientes portadores de sintomas respiratórios ou de doença pulmonar crônica e cuja espirometria resultou anormal; grupo C formado por 698 pacientes com as mesmas características do grupo A, porém nos quais a espirometria não foi realizada. Avaliação pós-operatória Nesta etapa realizou-se acompanhamento diário de cada paciente desde o pós-operatório imediato até a alta hospitalar ou a ocorrência de óbito. As complicações pulmonares investigadas foram: a) Infecção respiratória aguda: 1pneumonia (aparecimento de infiltrado pulmonar no-radiograma de tórax associado a pelo menos dois dos se- Quem deve realizar a espirometria A FOLHA MÉDICA/UNIFESP MARÇO/ABRIL 1998 - Vol. 116 - NU 2 guintes sinais: secreção traqueobrônquica purulenta, elevação da temperatura corporal acima de 38,3°C e aumento do número de leucócitos circulantes acima de 25% do número basal) e 2- traqueobronquite (aumento da quantidade ou modificação da cor ou aspecto purulento da secreção traqueobrônquica com radiograma de tórax normal) zo b) Atelectasia com repercussão clínica: evidência de atelectasia pulmonar no radiograma de tórax associada a sintomas respiratórios agudos. c) Insuficiência respiratória aguda (IRpA): quadro clínico resultante da troca gasosa pu Imon a r agudamente deficiente, ocorrendo a necessidade de ventilação mecãnica para tratamento. d) Entubação orotraqueal prolongada: necessidade de entubação orotraqueal por mais de 48 horas em razão da manutenção da ventilação mecânica para tratamento de IRpA ou aspiração de secreção traqueobrônquica naqueles impossibilitados de eliminá-Ia. e) Ventilação mecânica prolongada: necessidade de ventilação mecânica por mais de 48 horas para o tratamento de IRpA. f) Broncoespasmo: presença de sibilãncia à ausculta pulmonar associada a sintomas respiratórios agudos e necessidade de terapêutica medicamentosa. Nos pacientes que não apresentavam doença pulmonar pregressa compatível com a presença dos mesmos e naqueles com suspeita de embolia pulmonar ou edema pulmonar foram indicados exames do tipo mapeamento de perfusão, arteriografia pulmonar e até medidas de débito cardíaco e pressão capilar pulmonar com o objetivo de afastarse estes dois últimos diagnósticos. Os casos de broncoespasmo relacionados à intubação ou desintubação dos pacientes não foram computados. Nos pacientes que foram a óbito, determinaram-se as causas principais e secundárias para a evolução fatal. Para isto, consideraram-se os dados de necrópsia e quando esta não foi realizada, os dados clinicose laboratoriais.Ascausas de óbitos foram resumidas em dois grandes grupos: a) Sepse secundária a foco infeccioso pulmonar: quadro inflamatório com origem vinculada a processo infeccioso pulmonar, descartada a presença clínica de outro foco infeccioso, surgindo instabilidade hemodinârnica sem resposta a reposição de volumes, dependente de drogas vasoativas associado a falência funcional de pelo menos dois grandes sistemas orgânicos. b) Insuficiência respiratória aguda (IRpA). durante a avaliação TABElA 2 Características dos pacientes de acordo com a realização ou não da espirometria n~ população estudada, obedecendo os critérios de Tisi e adaptados por Houston e col.. Espirometria realizada Variável Sim Número de pacientes Idade média, anos Sexo. n (%) xlasculino Feminino Análise estatística Não 464 59 ± 14 272 (58,6) 192 (41,4) 698 56 ± 17 301 (43,1) 397 (56,9) TABElA 3 Estabeleceu-se para nível de significânciaestatísticao valor de 5%( p< 0,05) e utilizou-se o teste do qui-quadrado (C"d) para a análise elasvariáveis" . RESULTADOS Estudaram-se 1.162 pacientes, sendo 573 homens (49,3%) e 589 mulheres (50,7%). A média de idade foi de 58 ± 15 anos com variação de 11 a 95 anos. A distribuição dos pacientes de acordo com o tipo de cirurgia realizada é apresentada na Tabela 1. Distribuição dos pacientes que realizaram a espirometria de acordo com o resultado da relação perccntual VEF/CI T na população estudada. lU /CW (%) Número de pacientes(%) ~Iaior ou i~ual a 75 65 a 74.9 50 a64,9 < 50 246 131 59 28 Total 464 (100,0) Distribuição dos pacientes de acordo com o tipo de cirurgia realizada na população estudada. Tipo de cirurgia realizada Número de pacientes(%) Torácica Abdominal Alta Abdominal Baixa Periférica 70 ( 6,0) 527 ( 45.4) 110 ( 9,5) 455 ( 39,2) 1.162 (100,0) A Tabela 2 fomece as características dos 464 pacientes (39,9%) que realizaram a espirometria. Entre os pacientes submetidos ao teste, a média da relação percentual VEF/CVF foi de 73,7 ± 13,0% variando de 16,0 a 99,6%, sendo a distribuição dos pacientes de acordo com esta relação mostrada na Tabela 3. A média da CVF(porcentagem em relação ao previsto) foi de 92,2 ± 21,8%, variando de 16,0 a 195,0%. Na Tabela 4 é mostrada a distribuição dos pacientes de acordo com a CVF. Dos 1.162 pacientes avaliados, 143 (53,0) (28,2) (12,7) ( 6.0) TABElA 4 Distribuição dos pacientes que realizaram a espirometria de acordo com o ralo r percentual da CVF em relação ao previsto na população estudada. C\'F (% do previsto) TABElA I Total pulmonar pré-operatória? Sonia Maria Faresin e cols Número de pacientes(%) Maior ou igual a 80 70 a 79,9 60 a 69,9 50 a 59,9 < 50 336 (72,4) 65 ( 14.0) 37 ( 8,0) 19 ( 4, J) 7 ( 1,5) Total 464 (100.0) 02,3%) apresentaram complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgia geral. Desenvolveram 298 complicações pulmonares, o que corresponde à média de duas complicações para cada paciente. Na Tabela 5 encontra-se a relação destes eventos de acordo com o número de diagnósticos, sendo o evento mais comum G surgimento de infecção respiratória aguda que ocorreu em 81 pacientes (27,2%). Ao analisar a associação entre a ocorrência de complicações pulmonares e óbitos secundário às mesmas, com anormalidades nas variáveis espirométricas, levou-se em consideração o número de pacientes que tiveram com- 87 Quem deve realizar a espirometria I\. tULttl\. MElJtC/l./UNtFESI' MARÇO/A~RIL 1998 - VaI. plicações plicações. e não 116 - NU 2 o total de com- TABEI). 5 Complicação pulmonar no pós-operatório Número de diagnóstioos Infecção pulmonar aguda + Broncoespasmo Insuficiência Respiratória Aguda Atelectasia com Repercussão Clínica Entubação Orotraqueal Prolongada Ventilação Mecânica Prolongada ++ 81 55 51 44 35 32 Total # 298 (\()(),O) (27,2) (18,5) (17,1) (14,8) (11,7) (10,7) + Pneumonia (56 casos) e traqueobronquite (25 casos). ++ Todos os pacientes sob ventilação mecânica prolongada apresentaram entubação orotraqueal prolongada. /< 143 pacientes apresentaram complicações pulmonares, portanto a maior parte dos pacientes tiveram duas ou mais complicações associadas. Na Tabela 6 observa-se que entre os pacientes do grupo A que realizaram a espirometria com resultado normal, 22 apresentaram complicações (11,7%). No grupo B que realizou o exame e obteve resultad., anormal, 72 pacientes tiveram complicações (26,1%). Finalmente, no grupo e para o qual não foi indicado o teste espirométrico houve 49 pacientes que apresentaram complicações pulmonares (7,0%). A incidência de complicações pulmonares foi maior entre os pacientes do grupo B (p < 0,001) em relação aos do grupo A e e, e não houve diferença estatisticamente signifícante entre aqueles do grupo A e. C. TABEI). 6 Distribuição dos pacientes de acordo com a realização da espirometria e do seu resultado, quanto à ocorrência de complicação pulmonar no pós-operatõrío de cirurgia geral na população estudada. N Complicação pulmonar Sim (%) Não (%) C 188 276 69B 22 (11,7) 72 (26,1) 49 (7,0) 166 (88,3) 204 (73,9) 649 (93,0) Total LI 62 143 (12,3) 1019 (87,7) A B A x B x C (2gl)= 66,71 " P < 0,001 B x (A + C)= 63,70 " P < 0,001 c'e.k A x C- 3,01 NS C'"k C'"k avaliação pulmonar pré-operatória? Sonia Maria Faresin e cols DistJiIJuiçã>das ~ pulroonares ocooidas no pés~drurgiapelmvana~emIa:la~:mOO axn OnJ diagrxNico. Grupo durante" Entre os pacientes do grupo A, houve 5 óbitos (2,7%) de causa pulmonar ao passo que 17 pacientes (6,2%) foram a óbito no grupo B e 18 pacientes (2,6%) no grupo C. As taxas de mortalidade do grupo A e e não diferiram entre si ao passo que a incidência de mortalidade no grupo B foi superior tanto em relação à do grupo A como do grupo e ( p < 0,01) (Tabela 7). TABElA 7 Distribuição dos pacientes de acordo com a realização da espirometria e do seu resultado, quanto à ocorrência de óbito secundário a complicação pulmonar no pós-operatório de cirurgia geral na população estudada. Grupo N Óbito de causa pulmonar Não Sim (%) A B C 188 276 69B 5 (2,7) 17 (6,2) 18 (2,6) Total 1.162 143 ( 12,3) C'OIc C'OIc C'OIc (%) 183 (97,3) 259 (93,8) 680 (97,4) 1019 (87,7) A x B x C (2gl)= 8,04 " P < 0,02 B x (A + C)= 8,04 " P < 0,01 A x C= 0,003 NS DISCUSSÃO o interesse em identificar pacientes de risco para complicações pulmonares vem de observações remotas de que esta é um das causas mais comuns de morbidade e mortalidade no pós-operatório. Alguns parâmetros oriundos das provas de função pulmonar (PFP) são considerados como prognosticadores da ocorrência de complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgias eletívas-> zz Baseado em estudos realizados na década de 19Y:J223 , conduiu-se que as PFP eram mais sensíveis que a história clínica e o exame fisico a fim de detectar pacientes com maior risco para o surgimento de complicações pulmonares. Apesar deste achado ter sido plenamente aceito durante décadas observa-se que esta afumativa não foi adequadamente testada 11 . Duas questões sempre são feitas ao se analisar este assunto: Quem deve realizar os testes de função pulmonar, considerando-se a relação custo-benefício? O resultado do teste espirométrico é importante para prever o risco cirúrgico pulmonar de determinado paciente" 8 Tisiê ern 1979, baseado em noções fisiopatológicas da Cf'P, definiu com propriedade os candidatos para avaliação pré-operatória da função pulmonar pela espirometria. Posteriormente, em 1987, estes critérios foram adaptados por Houston e col,? porém sem modificáIas na sua essência. Zibrak e col." apresentaram extensa revisão das indicações da PFP no préoperatório. Estes autores relacionaram suas indicações com o tipo e sítio da cirurgia. No entanto, os critérios se aproximam daqueles publicados por Tisi", Apesar das indicações serem perfeitamente aceitas e utilizadas diariamente, nào se encontra estudo que demonstre a eficácia de sua aplicabilidade clínica. Neste trabalho observamos que a incidência de Cf'P entre os pacientes clinicamente normais que não realizaram a espirometria (grupo C) foi de 7,0%, não diferindo estatisticamente daqueles clinicamente normais cujo teste espirométrico também foi normal (grupo A), os quais apresentaram incidência de complicações de 11,7% (p > 0,05). Entre os pacientes portadores de doença pulmonar ou sintomas respiratórios que realizaram o exame e cujo resultado foi anormal (grupo B) a taxa de complicações foi de 26,1%, significantemente diferente da dos pacientes do grupo A e C. Em relaçãoà inc:i&nciade óorooecausa pulmonar no pós-operatório, não houve diferença significante entre os pacientes clinicamente normais que não reaJizaram a espiranetria (grupo e) e aqueles que fizeram o exame com resultado normal (grupo A), respectivamente 2,6% e 2,7% (p > 0,05), O grupo de pacientes nos quais a espirometria foi indicada e o resultado foi anormal apresentou taxa de óbito pulmonar de 6,2%,superior à mortalidade dos outras dois grupos ( P < 0,01) Apoiado nestes resultados observa-se que a espírometria anormal se correlaciona com taxas maiores de morbidade e moro talidade no pós-operatório de cirurgia geral. Entretanto, este grupo representa os pacientes que são pneumopatas ou apresentam sintomas respiratórios, condições que por si só indicariam a realização de estudo mais ponnenorizado da função Çlulmonar. Muitos pacientes, que realizaram a espirometria porque Quem deve realizar a espirometria A FOLHA M~DlCA/UNIFESP MARÇO/ABRIL 1998 - VaI. 116 - NU2 durante a avaliação pulmonar Sonia Maria apresentavam idade superior a 60 anos, com cirurgia proposta envolvendo abdome superior, ou porque eram fumantes sem sintomas respiratórios estavam incluídos no grupo A. Neste grupo havia apenas uma paciente com obesidade mórbida e cuja espirometria também resultou normal, Portanto valores espirométricos anormais são capazes de marcar uma população com maior risco de desenvolver complicações e óbito de causa pulmonar. Entretanto, podemos inferir que os pacientes sem queixas respiratórias ou pneumopatia apresentam espirometria normal de modo que as indicações baseadas na idade, no tipo de cirurgia (por exemplo, abdominal), na presença de tabagismo conforme Houston e col? são de baixa especificidade. Assim, podemos afirmar que a realização da espirometria é importante nos sintomáticos respiratórios ou pneumopatas e que a ocorrência de prova anormal representa em um fator de risco para a ocorrência de complicações pulmonares no pós-ope- ratório de cirurgia geral. No entanto, pelo modo como o nosso trabalho foi realizado, não podemos concluir quantos dos sintomáticos respiratórios têm prova de função pulmonar alterada ou normal. Poder-se-ia discutir a existência de um quarto grupo formado por pacientes portadores de sintomas respiratórios persistentes e espirometria normal, porém no presente trabalho em todos os sintomáticos respiratórios foi este exame anormal. Entretanto, existe também a possibilidade que este fato tenha ocorrido porque como os valores considerados normais encontram-se acima de alguns outros padrões de referência da literatura, e também porque alguns sintomáticos respiratórios tenham sido considerados como portadores de espirometria normal" . Contudo, sabe-se hoje que somente o teste espirométrico não é essencial para prever a ocorrência destas complicações. Isto pode ser observado durante a análise de trabalhos que utilizando modelos de regressão pré-operatória? Faresin e cais logística conseguem, agrupando fatores de risco clínicos e cirúrgicos, quantificar o risco de ocorrência de complicações pulmonares no pósoperatório de cirurgias abdominais6.25.26. No trabalho de Pereira e col", com 408 pacientes submetidos a cirurgia abdominal alta e1etiva, o encontro de uma relação VEF/CVF abaixo de 70% foi o único parâmetro espirométrico que se associou com a presença de complicação pulmonar pós-operatória. Porém, quando outros fatores de risco foram levados em consideração, como a presença de pneumopatia prévia ou de sintomas respiratórios, um tempo cirúrgico superior a 210 minutos e a coexistência de outras doenças clínicas, a relação VEF/CVF abaixo de 70% não se comportou mais como um marcador de complicação pulmonar. No entanto, quando observamos o grupo B podemos verificar que se os pacientes apresentarem sintomas respiratórios a espirometria é útil para prever a ocorrência de complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgia geral. SUMMARY Who should be submitted to spírometry in the preoperative pulmonary evaluation ? A longitudinal prospective cohort study for the critica! analysís of indications for preoperative functional pulmonary evaluation by means of spirornetry as correlated to incidence of postoperative pulrnonary morbidity and mortality after elective general surgecywas carried out, During 30 months 1162 patients, divided into three groups in the preoperative period and submitted to elective general surgecy were analyzed: Group A consisting of 188 patients with normal clinical status and pulmonary function; Group B consisting of276 patients with abnorrnal clinical status and pulrnoriary function and Group C with 698 clinically normal patients who were not submitted to spírornetry. Ofthese patients 142 (12.3%) presented 298 postopecative pulmonarycomplications, respíratory tract infections being the most frequent (81/298; 27.2%). Group C patients presented a 7.0% incidence of pulrnonary complications and consequent 2.6% death cate in the posto peca tive period. These cates are not different frorn those observed in Group A whose patients presented a 11.7% incidence of pulmonary complications and death cate of2.7% (p > 0.05). However Group B patients presented a 26.1% incidence of pulmonary complications and a 6_2% death cate, statistically different from thevalues ofthe other two groups (p< 0.001 for complications and p < 0.01 for death cate). Thus the spirometric test should be based on history and physica1 examinations of the patients. Incidence of pulmonary complications and mortality in the postoperative period of elective general surgery in the group presentíng normal clinica1 and pulmonary function is similar to that of clinically normal group in which no functional study was perforrned, KEYWORDS:preoperatíve cace; postoperatíve Referências 1. 2. 3. Arnesbury SR, Hurnphrey H]. Preoperative evaluation of pulmonary function. Hosp PraCI 1992; 30: 40-57. Jackson MCY. Preoperative pulmonary evaluation. Arch l n t e rn Med 1988; 148:2120-7 Kingston HGG, Hirshman CA. Preopera- 4. 5. 6. complications; respiratory function tive management of the patient with asthma. Anaesth Analg 1984; 63: 84455 Mohr DN, Jett JJ. Preoperative evaluation of pulrnonary risk factors. J Gen Inte rn Med 1988;3:277-87. Tisi GM. Preo perauve evaluation of pulmonary function. Am Rev Respir Dis 1979;119: 293-310. Willians-RlIsso P, Charlson ME, Ma- tests 7. 8. ckenzie R. Gold Ji>, Shires T. 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