Hipotensão Arterial Durante a Ecocardiografia de Estresse com Dobutamina: Implicação Clínica e Diagnóstica Hypotension During Dobutamine Stress Echocardiography: Clinical and Diagnostic Implications ISSN 1984 - 3038 Artigo Original Vera Márcia L Gimenes1-2, Emilia Montalvão1, Jairo A Pinheiro Jr1, Luciana VF Sousa1, Rodrigo BM Barretto1-2, Mercedes M Andrade1-2, Mirella Paiva Dias1 Jorge E Assef2, Creso BC Oliveira1. RESUMO Introdução – A ecocardiografia de estresse com Dobutamina (ECO estresse) é um método acurado para detectar a presença de coronariopatia. Para alguns pacientes o teste é interrompido pela presença de hipotensão sistólica (HS) ou diastólica (HD) cuja etiologia e significado clínico são controversos e é pobre a literatura sobre a hipotensão diastólica. Objetivo - Avaliar a prevalência, magnitude e implicação clínica da hipotensão sistólica (HS) e diastólica(HD) durante a ecocardiografia de estresse com Dobutamina. Método – Em 3223 pacientes (p) submetidos ao ECO estresse observou-se a presença de HS e/ou HD durante o teste em 977p/3223p (30,3%). Resultados – Ocorreu HS em 312p/977p (31,9%), sendo lenta(queda gradual em dois ou mais estágios ≥10mmHg em 88p/312p (28,2%) e brusca(queda acentuada em um estágio ≥20mmHg) em 224p/312p (71,8%). A HD ocorreu em 665p/977p (68,1%), sendo lenta em 315p/665p (47,3%) e brusca em 350p/665p (52,8%).Não houve prevalência de idade, sexo, pressão arterial de repouso, coronariopatia, infarto prévio, isquemia definitiva ou isquemia transitória e uso de beta bloqueador quando comparados aos grupos de HS e HD associado ou não à hipotensão lenta e brusca. Foram significativos: a)HD brusca na hipertensão arterial sistêmica; b) HS e HD brusca na dose de 5mcg/Kg/min e HS e HD lenta com 10 e 20 mcg/Kh/min; c)HS lenta quando havia uso do beta bloqueador; d) HS e HD na resposta normal da contratilidade do ventrículo esquerdo(VE); e) HS e HD na HS; f) HS ou HD na HD. Nenhum paciente necessitou de terapia medicamentosa para recuperação da pressão arterial. Conclusão – Os pacientes que apresentaram hipotensão durante o teste de estresse com Dobutamina constituem um grupo heterogêneo. Diferente do que acorre durante o esforço ergométrico, no teste de estresse com Dobutamina, a hipotensão está relacionada ao reflexo vasopressor e não com a disfunção ventricular. Ocorre nas doses baixas da droga, nos ventrículos hipercinéticos e na hipertensão arterial, sendo de recuperação rápida e sem necessidade de terapêutica medicamentosa. Descritores: Ecocardiografia sob Estresse/efeitos adversos, Hipotensão SUMMARY Objectives: the purpose of this study was to evaluate the prevalence, magnitude and clinical implications of a systolic (SH) and diastolic (DH) hypotensive response during Dobutamine stress echocardiography. Background: dobutamine stress echocardiography is an accurate noninvasive method for detecting coronary artery disease. Some patients have the test interrupted because of SH or DH which etiology and clinical significance are controversial and the literature is poor about DH. Methods: 3223 patients underwent Dobutamine stress echocardiography and 977 patients (30.3%) experienced hypotension during the test. Results: systolic hypotension occurred in 312 patients. It was gradual in 88 patients (28.2%) and precipitous in 224 patients (71.8%). Diastolic hypotension occurred in 665 patients. It was gradual in 315 patients (47.3%) and precipitous in 351 patients (52.8%).There was no prevalence of age, sex, rest blood pressure, coronary artery disease, previous myocardial infarction, definitive ischemia or transitory ischemia, intake of beta blocker when SH and DH were compared.The difference was significant: a)DH in arterial systemic hypertension; b)gradual SH when there was intake of beta blocker; c) SH and DH in normal response of left ventricular contractility; d) precipitous SH and DH at 5mcg/Kg/min and gradual SH and DH at 10 and 20 mcg/Kg/min; e) reduction of 20mmHG in systolic or diastolic blood pressure; f) associated reduction of systolic and diastolic blood pressure in SH and isolated reduction in DH. Some data agreed others Instituição: Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio – Hcor Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – IDPC 1- Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio – Hcor 2- Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – IDPC Correspondência: Vera Márcia L. Gimenes Endereço – Rua Coronel Oscar Porto 569 apto 31 Paraíso – São Paulo – SP – CEP 04003-002 Email:[email protected] Recebido em: 13/04/2009 - Aceito em: 20/05/2009 13 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc 22 (3): 13 - 19, 2009. GIMENES VM, et al. Hipotensão Arterial durante a Ecocardiografia de Estresse com Dobutamina: Implicação Clínica e Diagnóstica do not with the literature. No patient needed drug therapy to recover the blood pressure. Conclusion: hypotension occurs commonly during Dobutamine stress echocardiography and these patients constitute a heterogeneous group. Unlike hypotension occurring with exercise testing, Dobutamine stress test hypotension is related to vasodepressor reflex and not to ventricular dysfunction. It occurs in low drug doses, hyperkinetic ventricles and arterial hypertension with fast recovery without necessity of medication. necessity of medication. Descriptors: Echocardiography, Stress/adverse effects; Hypotension Introdução A ecocardiografia de estresse com Dobutamina foi utilizada inicialmente como teste para diagnosticar doença arterial coronária apenas em pacientes incapazes de realizar o teste de esforço. Porém, as indicações para a realização deste teste se expandiram para estratificação de risco em pacientes em fase préoperatória de revascularização miocárdica, doença arterial coronária crônica, pré-operatório de cirurgia não cardíaca e viabilidade miocárdica, em decorrência de sua acurácia, fácil realização, segurança e valor prognostico. Assim, o teste tem sido utilizado em pacientes cada vez mais complexos, idosos e com maior risco de eventos cardíacos. A Dobutamina é uma catecolamina sintética com potente efeito agonista B1 (que media maior efeito inotrópico e menor efeito cronotrópico) e moderado efeito agonista α1e B2 adrenérgico (que media o efeito vasoconstritor e vasodilatador em vasos periféricos)1 Tem início de ação rápido e meia vida curta. Estas ações são dose dependentes sendo que o incremento da contratilidade se observa em doses baixas e o aumento da freqüência cardíaca é progressiva em doses altas. Portanto, sua infusão acarreta aumento da pressão arterial sistólica, freqüência cardíaca e contratilidade com conseqüente aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio. Infusão de Dobutamina leva a alteração hemodinâmica complexa, pois atua estimulando diretamente os adrenoreceptores do coração e do leito vascular pelo sistema simpático e vasovagal (resistência vascular periférica). Contudo, uma limitação dessa modalidade de estresse tem sido o desenvolvimento de hipotensão “paradoxal” durante a infusão de Dobutamina que tem sido relatada na literatura como sendo entre 14 e 38% dos pacientes e algumas vezes tornam necessária a interrupção do teste.2,3 O objetivo deste estudo foi o de caracterizar possíveis mecanismos de hipotensão durante o teste de estresse 14 com Dobutamina, avaliar a intensidade da hipotensão e sua relação com os achados clínicos. Método Pacientes - Na avaliação de 3223 p que foram encaminhados para ecocardiografia de estresse com Dobutamina no HCor e IDPC para avaliação da presença de isquemia miocárdica ou viabilidade, 977 p(30,3%), apresentaram hipotensão sistólica e/ou diastólica durante o teste, que constituíram os pacientes que foram avaliados neste estudo retrospectivo. Resposta hipotensora - A resposta hipotensora foi definida como queda ≥ 20mmHg na pressão sistólica ou diastólica em relação a pressão de repouso. A queda de pressão foi classificada como: gradual quando a mesma ocorreu em dois ou mais estágios de infusão da droga ≥ 10mmHg por estágio; brusca quando a queda em um estágio foi ≥ 20mmHg; profunda quando a queda foi ≥ 50mmHg em um ou mais estágios. Os pacientes que apresentaram hipotensão transitória com recuperação precoce durante o teste não foram incluídos na amostra .Neste estudo, 115 p foram submetidos a ecocardiografia de estresse com Dobutamina e angiografia coronária no mesmo dia e 239 p com até um mês intervalo entre estes exames, perfazendo um total de 354 pacientes ( 35,5 %). Análise ecocardiográfica - O ecocardiograma foi realizado em repouso e durante a infusão de Dobutamina na dose de 5,10,20,30 e 40 mcg/Kg/min dependendo da necessidade de cada paciente. Os diferentes níveis de estresse foram comparados lado a lado e a análise da contratilidade foi feita por examinador com experiência em ecocardiografia de estresse. Foi considerada isquemia quando da presença de alteração segmentar da contratilidade em área considerada normal em repouso, piora da contratilidade de outro segmento no ventrículo esquerdo com segmento já alterado em repouso ou hipocinesia moderada ou se- Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc 22 (3): 13 - 19, 2009. GIMENES VM, et al. Hipotensão Arterial durante a Ecocardiografia de Estresse com Dobutamina: Implicação Clínica e Diagnóstica Tabela I - Características clinicas e ecocardiográficas dos pacientes estudavera próxima a segmentos hipercinéticos. Análise estatística - As variáveis con- dos durante estresse com Dobutamina e que tiveram hipotensão. tínuas estão expressas em média ± desvio padrão e as nominais em seus valores absolutos e/ou percentagem. Os grupos foram comparados usando ferramentas estatísticas incluindo ANOVA e Qui-quadrado, quando apropriados. A análise estatística foi realizada com o programa JMP 7, SAS Institute, Cary, North Carolina, EUA. O valor de p de 0,05 foi considerado para o nível de significância. Resultados - A HS ocorreu em 312 p, sendo gradual em 88p (28,2%) e brusca em 224p (71,8%). A HD ocorreu em 665 pacientes sendo gradual em 315p (47,3%) e brusca em 350p( 52,8%). Não foi observada prevalência de idade,sexo,freqüência cardíaca de repouso, presença de coronariopatia, diabete melito, infarto do miocár- Sexo M=masculino, F=feminino; HAS=hipertensão arterial sistêmica; dio prévio, uso de beta bloqueador, queda ICO=insuficiência coronária; IAM=infarto agudo do miocárdio; VE=ventrículo esquerdo; PA= pressão arterial; FE= fração de ejeção. da fração de ejeção durante o teste quando Tabela II - Características dos pacientes quanto ao tipo de comparados os grupos de HS, HD ou tipo de hipohipotensão. tensão. A Tabela-I mostra as características clinicas e ecocardiográficas dos 977 p. Na análise da hipotensão observou-se que foi significativa a diferença entre os tipos de hipotensão como se observa na Tabela-II. Na HD foi mais freqüente o tipo lenta e isolada e na HS foi mais freqüente o tipo brusco e associado (HD+HS). A HS profunda foi mais freqüente que a HD profunda. Quanto a dose de dobutamina em que ocorreu a hipotensão, observou-se que nas doses baixas de 5 e 10 mcg/Kg/min ocorreram mais HS tanto lenta quanto brusca e a HD brusca. A HD lenta foi mais freqüente na dose de 20 mcg/Kg/min. Nas doses de 30 e 40 mcg/Kg/min foi baixa a incidos pacientes, a pressão arterial voltou aos níveis dência tanto de HS quanto de HD como mostra a normais basais entre 5 e 10 minutos após o termiTabela-III. Na hipotensão brusca sistólica e diastólica no da infusão da dobutamina. O comportamento da a maioria dos pacientes apresentaram queda de 20 ou contratilidade do ventrículo esquerdo como normal, 30mmHg, exceto um paciente que apresentou hipoqueda da fração de ejeção ou isquemia transitória em tensão sistólica profunda com queda de 80mmHg, relação ao tipo de hipotensão estão mostrados na TavideTabela-IV. O protocolo de infusão de dobutamibela-V. Não foi significativa a hipotensão brusca ou na foi bem tolerado pelos pacientes, mas o mesmo foi lenta na HS ou HD. O ventrículo normal ou com alinterrompido nos casos de hipotensão brusca ou proteração da contratilidade teve HS ou HD semelhante. funda. Não houve episódio de isquemia prolongada A queda da fração de ejeção também foi semelhante ou de insuficiência cardíaca congestiva. Na maioria nos grupos estudados. Nos pacientes com isquemia 15 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc 22 (3): 13 - 19, 2009. Tabela III - Correlação entre o tipo de hipotensão e a dose de Dobutamina em que ocorreu a hipotensão. HS=hipotensão sistólica; HD=hipotensão diastólica. Tabela IV - Correlação entre o valor total da queda brusca da pressão sistólica e diastólica durante o teste de estresse com Dobutamina. Tabela V - Correlação entre a hipotensão e a função contrátil do ventrículo esquerdo em repouso e durante o teste de estresse. HS=hipotensão sistólica; HD=hipotensão diastólica. Tabela VI - Correlação entre a hipotensão profunda e a função contrátil do ventrículo esquerdo durante o teste. 16 GIMENES VM, et al. Hipotensão Arterial durante a Ecocardiografia de Estresse com Dobutamina: Implicação Clínica e Diagnóstica transitória foi discretamente mais freqüente a hipotensão brusca que a lenta. A hipotensão profunda sistólica foi semelhante em todos os grupos estudados independente da função contrátil do ventrículo esquerdo. A hipotensão profunda diastólica foi mais freqüente no ventrículo esquerdo com função normal do que quando havia alteração segmentar da contratilidade fixa ou transitória como mostra a Tabela-VI. A localização da isquemia transitória não foi preditiva de hipotensão brusca ou lenta, tendo sido mais freqüente na parede posterior, mas com incidência semelhante nos grupos estudados. Nos pacientes submetidos a estudo hemodinâmico não houve correlação entre o grau de obstrução coronária e o tipo de hipotensão. Discussão – Este estudo avaliou as características clinicas e ecocardiográficas dos pacientes que tiveram hipotensão durante o teste e a correlação da hipotensão com a disfunção ventricular esquerda. Alguns dados concordam outros não com os achados da literatura. Neste estudo, a hipotensão arterial durante o teste de estresse com Dobutamina esteve presente em 977 p (30,3%) dos pacientes. Na análise de 20 trabalhos da literatura com relato de hipotensão durante teste de estresse com Dobutamina em 10631p, a incidência da mesma variou entre 2,2 a 20% em 9726 p (91%) e entre 23 a 38% em 905 p (9%)4-6 Há relato de hipotensão em até 60% dos pacientes7. Durante o teste ergométrico em pacientes coronariopatas, observa-se a presença de hipotensão geralmente menor que 10%3. Diferentemente da queda de pressão que ocorre durante o estresse físico, a hipotensão com Dobutamina não tem sido relacionada a doença arterial coronária severa3,8. Durante o teste de esforço, Weiner e Hammermister9,10 mostraram que a hipotensão tem valor preditivo de mortalidade assim como Sanmarco et al11 mostraram alta especificidade de 87,4% da presença de hipotensão para obstrução de 3 vasos ou de doença arterial coronária grave com discinesia ou hipocinesia importante com conseqüente queda da fração de ejeção por falha de bomba . Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc 22 (3): 13 - 19, 2009. Rosamond et al7 e Tanimoto et al12 mostraram que o mesmo não acorre no estresse com Dobutamina pois a hipotensão não é marco preditor acurado de coronariopatia severa, mas pode determinar a interrupção do teste13. Segundo observação de Wang et al14 somente nos pacientes com disfunção ventricular pós infarto a hipotensão que ocorre no estresse com Dobutamina, seria preditor independente de mortalidade por disfunção reguladora do beta-receptor e a extensão da disfunção ventricular durante isquemia miocárdica com queda do debito cardíaco e hipotensão. No presente trabalho, a incidência de hipotensão foi mais baixa nos ventrículos isquêmicos do que nos ventrículos normais. A hipotensão não foi preditiva de disfunção quando em repouso a contratilidade era normal e não foi associada com a piora da função global tendo sido observado até incremento da fração de ejeção durante a mesma. A queda da fração de ejeção foi maior nos pacientes com hipotensão lenta do que na hipotensão brusca, sugerindo ser a coronariopatia mais severa, o que concorda com a presença de alteração segmentar da contratilidade já em repouso. Porem, não concorda com a presença de isquemia transitória que foi semelhante nos grupos estudados. Para tentar entender a etiologia da hipotensão no teste de estresse com Dobutamina, devemos rever os mecanismos prováveis da hipotensão. Várias hipóteses têm sido feitas na avaliação dos mecanismos fisiopatológicos que justifiquem essa resposta. O mecanismo preciso ainda não foi totalmente elucidado. As hipóteses mais comuns são isquemia miocárdica12, reflexo vasovagal15, cardiomiopatia obstrutiva e desidratação. Marwick et al16 sugerem que a isquemia miocárdica observada durante a infusão de Dobutamina possa levar ao inicio gradual da hipotensão. A hipótese do reflexo vasovagal geralmente é acompanhada por bradicardia que não foi observada neste estudo. Valvopatia obstrutiva ou hipertrofia miocárdica assimétrica também não foram observadas neste grupo. Todos os pacientes estavam em jejum de pelo menos 4 horas, o que poderia promover discreta desidratação, mas não seria suficiente para causar os níveis de hipotensão observados. Nos pacientes medicados com beta bloqueador GIMENES VM, et al. Hipotensão Arterial durante a Ecocardiografia de Estresse com Dobutamina: Implicação Clínica e Diagnóstica houve prevalência da HS lenta, o que contradiz a literatura que mostra redução da hipotensão nesses pacientes17. A hipótese de obstrução do terço médio do VE ou da VSVE permanece controversa. Rallidis et al18 sugerem que a obliteração da cavidade seja comum em pacientes com função contrátil normal do VE (sem coronariopatia severa) por hipercinesia das paredes que associada a discreta desidratação seriam as causas da hipotensão. Pellikka et al19 e Heinle et al 20 observaram obstrução dinâmica da e VSVE em 21% dos pacientes durante teste de estresse com Dobutamina que resultou na HS e quanto maior a hipertensão e a fração de ejeção maior era a obstrução da VSVE. Siddiqui et al21 observaram hipotensão nos pacientes com obstrução do terço médio ou da VSVE mas também nos pacientes sem obstrução, o que envolve outros mecanismos. Os casos de obstrução da VSVE foram mais freqüentes em mulheres segundo Khamal et al22.Portanto, é variável a relação causal da obstrução da VSVE e a presença de hipotensão21-24. Rosamond et al7 sugerem que a hipotensão seria conseqüência do efeito vasodilatador da Dobutamina. Como se sabe a Dobutamina tem efeito direto no tônus arterial e venoso e efeito bloqueador indireto do tônus vasoconstritor simpático secundário ao aumento do débito cardíaco.Heinle et al20 e Pierard et al25 mostraram queda da resistência vascular sistêmica em 30 a 40% durante infusão da Dobutamina. Blomstrand et al26 observaram queda de 44% na resistência vascular pulmonar total e queda de 26% na resistência vascular das pernas. Ergun et al27 observaram hipotensão e bradicardia paradoxal dados que sugerem reação vasovagal como explicação para a hipotensão.Também, mostraram que a queda da resistência vascular sistêmica por vasodilatação periférica conseqüente a redução do reflexo do tônus simpático em resposta ao aumento de debito cardíaco levaria a hipotensão.Liebermen et al8 mostrou que a hipotensão durante o teste de estresse com Dobutamina não foi significante na avaliação anatômica ou funcional da coronariopatia e que esta hipotensão não tinha relação com pior evolução. Wang et al14 estudando pacientes com disfunção ventricular , subgrupo com alto risco de óbito, podem ser identificados pela hipotensão durante o teste 17 Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc 22 (3): 13 - 19, 2009. por disfunção reguladora do beta-receptor e a extensão da disfunção ventricular durante isquemia miocárdica. Esta teoria da queda da regulação do receptor pode ser refletida nos achados de que a incidência de uso de beta bloqueador nos pacientes sem hipotensão é maior que nos pacientes com hipotensão. Quando a hipotensão é conseqüente a queda da regulação dos beta receptores ela é reversível pela administração dos beta bloqueadores como antagonistas B128,29 que restaurariam a resposta às catecolaminas.Guy et al30 mostraram que no teste de estresse com Dobutamina em que ocorra pequeno aumento do débito cardíaco com redução da complacência arterial, o aumento da PAS é mantido, como ocorre nos pacientes com função ventricular adequada. Portanto,a hipotensão neste grupo de pacientes fornece informação da reserva funcional do VE e identifica o pior grupo de pacientes com FE semelhantemente comprometida em repouso. A alta incidência de hipotensão poderia também estar relacionada ao fato de que a grande maioria dos pacientes terem maior número de receptores beta. Aqueles que possuem maior número de receptores alfa teriam hipertensão durante o teste e se beneficiariam menos do uso do beta bloqueador. Conclusão - Os pacientes que apresentaram hipotensão durante o teste de estresse com Dobutamina constituem um grupo heterogêneo. Diferente do que acorre durante o esforço ergométrico, no teste de estresse com Dobutamina, a hipotensão está relacionada ao reflexo vasopressor e não com a disfunção ventricular. Ocorre nas doses baixas da droga, nos ventrículos hipercinéticos e na hipertensão arterial com recuperação rápida sem necessidade de terapêutica medicamentosa. 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