hipotensão arterial trans-anestésica – revisão de literatura

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HIPOTENSÃO ARTERIAL TRANS-ANESTÉSICA – REVISÃO DE
LITERATURA
MOREIRA, Allana Valau1; SILVA, Aline Alves da2.
Palavras – chave: Anestesia. Hipotensão. Pressão.
Introdução
A pressão arterial em conjunto com a temperatura, frequência cardíaca (pulso) e
frequência respiratória constituem os quatro sinais vitais primários, sendo um elemento
fundamental da hemodinâmica. É um dos mais importantes parâmetros de avaliação do sistema
cardiovascular (SOARES, 2010). Sua aferição no exame pré anestésico ainda é negligenciada na
rotina veterinária, o que acaba dificultando a análise correta das alterações que podem ocorrer no
transanestésico.
É essencial que o anestesista seja capaz de reconhecer as alterações acerca desse
parâmetro, bem como as formas de se mensurar a pressão e as variáveis que causam ou
contribuam para o desenvolvimento de hipotensão, assim podendo instituir uma terapia coerente
para o restabelecimento da pressão sanguínea, mantendo assim a perfusão dos órgãos e tecidos
corporais do paciente. O conhecimento da farmacologia de drogas vasoativas, bem como a
indicação dos principais repositores hidro-eletrolíticos se torna fundamental para obter sucesso no
tratamento de possíveis alterações (SOARES, 2011). Assim, com a presente revisão, objetiva-se
descrever as principais características da hipotensão e as terapias envolvidas para reverter esses
quadros.
Revisão de Literatura
A pressão é a consequência da relação entre o volume sanguíneo e a capacidade
volumétrica sanguínea. A pressão arterial é um determinante primário da perfusão cerebral e
coronariana. A pressão sistólica é estabelecida, em especial, pelo volume de injeção e
complacência arterial. Já a pressão diastólica é determinada pela resistência vascular sistêmica
e o débito cardíaco. A pressão arterial média varia conforme o formato da onda de pressão do
pulso, sendo a mais importante fisiologicamente, pois representa a pressão média de perfusão
da condução renal (TRANQUILLI et al., 2013).
Tradicionalmente classifica-se a técnica de mensuração em direta e indireta (NUNES,
2010). A medida direta da pressão arterial apresenta algumas vantagens em relação aos
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Médica Veterinária autônoma. [email protected]
Professora Dr, UNICRUZ, RS. [email protected].
métodos indiretos. Primeiramente os valores obtidos são consideravelmente mais fidedignos,
mesmo em pacientes portadores de hipotensão grave. Além disso, o método permite a colheita
continua de valores. Entretanto, o método exige certo grau de invasibilidade, uma vez que é
necessária a canulação arterial. Esta que pode ser feita por simples punção, ou, quando a
canulação percutânea não for possível, recorre-se a canulação cirúrgica, procedendo a menor
incisão possível sobre o vaso de interesse. Apesar das vantagens dos métodos diretos, tem
sido crescente a opção pelos métodos indiretos, principalmente os oscilométricos e a
ultrassonografia doppler. Uma das desvantagens desse método consiste na imprecisão dos
valores obtidos, principalmente em animais hipotensos (NUNES, 2010). Todas essas técnicas
indiretas empregam um manguito inflável que se aplica a uma extremidade, no qual a pressão
exercida no manguito é medida por um manômetro ou transdutor. Deve-se estar atento para a
largura do manguito ou braçadeira, que deve ser de aproximadamente 40% da circunferência
do membro ou da cauda. Em gatos, recomenda-se um manguito com largura de 30 a 40% da
circunferência do membro (SILVA, 2010). Um manguito muito grande pode fornecer,
erroneamente, baixos valores; um manguito pequeno pode revelar valores falsamente
elevados. Caso o tamanho ideal do manguito seja intermediário aos tamanhos disponíveis,
deve-se utilizar o manguito de menor tamanho, pois, teoricamente, o risco do erro ser menor
(SILVA, 2010).
Como anormalidades na pressão sanguínea arterial são comuns em pacientes
anestesiados, o conhecimento dos valores normais da pressão são de importante valia na hora
de se diagnosticar um quadro de hipotensão (MUIR et al., 2001). A pressão arterial média
está normalmente em torno de 85 a 120 mmHg em cães, sendo que uma pressão de 60 mmHg
é a mínima requerida para que haja perfusão de todos os leitos capilares. Entretanto, alguns
autores citam uma diferença de pressão entre as artérias, sendo que artérias periféricas
possuem pressão inferior aos grandes vasos arteriais (FREITAS et al., 2009).
A hipotensão durante a anestesia é definida como a redução da pressão arterial
sistólica abaixo de 20% da pressão arterial inicial. As causas mais comuns incluem
hipovolemia (causada por vasodilatação associada ao uso de fármacos, como hipnóticos,
halogenados, relaxantes musculares, α 2 adrenérgicos, bloqueios espinhais), sepse, reações de
hipersensibilidade, doença cardiovascular, tamponamento cardíaco, dilatação volvo gástrica e
pneumotórax (OLESKOVICZ, 2010).
Os sinais clínicos da hipotensão transoperatória variam conforme a sua etiologia, em
geral as mucosas se tornam hipocoradas (principalmente em pacientes hipovolêmicos), tempo
de preenchimento capilar prolongado e ocorre aumento compensatório da frequência cardíaca
(NATALINI, 2007).
Tratamentos hipotensores comumente usados incluem aumento de volume com bolus
de fluidoterapia, substituição, redução ou interrupção da administração de fármacos
hipotensores, administração de efedrina, e infusões de dopamina ou dobutamina (SINCLAIR
et al., 2012).
A fluidoterapia pode ser utilizada para preservar a pressão arterial dentro dos limites
considerados aceitáveis. Tanto os cristalóides como os colóides podem ser utilizados com esta
finalidade. Os colóides são substâncias biológicas como o sangue total, albumina, plasma ou
dextran, tendo indicação em choque hipovolêmico moderado e severo, por causarem expansão
e manutenção de volume intravascular (LORENA et al., 2008).
Os agentes inotrópicos vasoativos, que tem ação sobre receptores α, ß e
dopaminérgicos como a efedrina e epinefrina podem ser utilizados, porém deve-se ter cautela
em seu emprego, pois esses fármacos podem desencadear arritmias e taquicardias (FANTONI
et al., 2002). A efedrina é um simpatomimético indireto menos potente que a dopamina,
desencadeia menos efeitos indesejáveis (PADDLEFORD, 2001). A efedrina (0,1 e 0,25
mg/kg, IV), pode aumentar a pressão sanguínea durante cinco minutos, com a dose mais baixa
e até 15 minutos para a dose mais elevada em cães beagles anestesiados com isofluorano
comprovado por SINCLAIR et al (2012). A dopamina estimula receptores α e ß –
adrenérgicos, causando a liberação de norepinefrina as terminações nervosas do coração, e em
doses de infusão elevadas promove o aumento na frequência cardíaca, inotropismo positivo e
aumento na pressão sanguínea, já a dobutamina aumenta a contratilidade do miocárdio através
da ativação direta de receptores ß – adrenérgicos (SOARES, 2011). Torna-se imprescindível
que o anestesista conheça a farmacologia dos medicamentos que podem ser empregados para
reverter um quadro de hipotensão (FANTONI et al., 2002).
Conclusão
Quadros de hipotensão se tornam cada vez mais comuns durante o procedimento
anestésico, mesmo em animais saudáveis, pois vários fármacos apresentam características
hipotensoras, isso mostra a importância de um exame pré anestésico eficiente que possibilite a
classificação adequada do paciente e a escolha do protocolo aliados a monitoração correta.
Essas observações e escolhas tornam-se indispensáveis para o anestesista estabelecer a causa
e gravidade da hipotensão, aumentando a chance de reversão do quadro, que se não for feito a
tempo pode levar o animal ao óbito.
Referências
FANTONI, D. T.; et al. Anestesia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2002.
FREITAS, P.M.C; et al. Correlação da pressão arterial média obtida pela cateterização das
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v.15, n.2, jul/dez. 2009.
LORENA, S.E.R.S; et al. Efeito do carbazocromo (adrenoplasma) no tratamento de
hipotensão arterial produzida pelo halotano em cães. Colloquium Agrarie, v.4, n.2, p. 36 –
41, dez. 2008.
MUIR, W. W.; et al. Manual de Anestesia Veterinária. 3 ed. Espanha: Acríbia, p. 09-568,
2001.
NATALINI, C. C. Teoria e técnicas em anestesiologia veterinária. Porto Alegre: Artmed,
p. 11-250, 2007.
NUNES, N. Monitoração da anestesia. In: FANTONI, D.T; CORTOPASSI, S.R.G. Anestesia
em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2010.
OLESKOVICZ, N. Complicações na anestesia. In: FANTONI, D.T; CORTOPASSI, S.R.G.
Anestesia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2010.
PADDLEFORD, R. R. Manual de anestesia em pequenos animais. São Paulo: Roca, 2001.
SILVA, C.R.A. Métodos de aferição de pressão arterial em cães anestesiados com
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SINCLAIR, M.D; et al. The impact of acepromazine on the efficacy of crystalloid, dextran or
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SOARES, F.A.C. Hipertensão arterial sistêmica em cães e gatos: Atualização
terapêutica. Trabalho de conclusão de curso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, 2010.
SOARES, S.S. Tratamento da Hipotensão transoperatória em cães. Trabalho de conclusão
de curso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011.
TRANQUILLI, W.J; et al. Lumb & Jones Anestesiologia e Analgesia Veterinária - 4º
edição. Ed Roca. São Paulo, 2013.
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