Walter Ney Ribeiro / Doenças / Verrugas perigosas A papilomatose cutânea pode acometer animais jovens ou adultos e é bastante comum em confinamentos. Veja aqui como tratar e evitar a perda de animais de alto valor zootécnico A papilomatose cutânea bovina é uma enfermidade infecto-contagiosa, de origem viral, crônica, de natureza tumoral benigna e fibroepitelial, caracterizando-se por levar ao desenvolvimento de tumores localizados na pele e mucosa. É uma doença de caráter cosmopolita e também é vulgarmente conhecida como verruga ou figueira. l Outubro 2004 l Existem diferentes tipos de papilomas que apresentam características macro e microscópicas particulares, uma vez que são causados por tipos de papilomavírus bovino (PVB) distintos. A enfermidade pode acometer animais jovens ou adultos estando normalmente mais presentes em criações nas quais os animais encontram-se agrupados como em confinamentos ou em rebanhos de aptidão leiteira. Além da aparência desagradável do animal acometido pela papilomatose cutânea, o problema pode causar prejuízos incalculáveis aos diferentes criatórios, principalmente, no que diz respeito à diminuição da produtividade. Há ainda a desvalorização do couro do animal, desenvolvimento retardado, cegueira, depreciação do valor do bovino em função da dificuldade em comercializá-lo; problemas relacionados à fertilidade, principalmen- 8 l www.cultivar.inf.br l l .33 l v 8 te quando o papiloma localiza-se no órgão reprodutor do animal fazendo com que este evite a cópula. A doença, ainda, pode provocar o surgimento de mastite e dificuldades na ordenha, quando a verruga encontra-se no úbere ou teto da vaca. As verrugas sofrem constantes sangramentos além de servirem de porta de entrada para infecções secundárias e em casos extremos esta enfermidade pode levar até a morte do animal. As feridas e os sangramentos dos papilomas atraem moscas e, conseqüentemente, há o desenvolvimento de miíases que traz mais prejuízos ao criador. Diante de todos esses problemas, se o bovino não responder bem ao tratamento, o produtor vê-se obrigado a descartar animais de alto valor zootécnico prematuramente. A disseminação do agente pode ser facilitada pela presença de ectoparasitoses (Stomoxys calcitrans, Aedes aegypt e Boophilus microplus), que lesionam a pele abrindo uma porta de entrada para o vírus. Outras formas de lesões ou irritações na pele permitem a ocorrência da infecção, tais como o uso de brinco, arranhões feitos por arame farpado, material de tatuagem, descorna e agulhas. Se existirem verrugas no teto do animal a própria ordenhadeira mecânica ou as mãos do ordenhador atuam como veiculadores deste agente. A doença pode acometer até 30% do rebanho e em casos extremos há relatos da presença de verrugas em até 75% dos bovinos de uma criação. O papilomavírus ao penetrar na pele do animal infecta as células basais da epiderme, estimulando de forma expressiva a mitose das mesmas, resultando em acantose e hiperceratose. Ainda pode-se observar degeneração hidrópica com perda dos pontos intercelulares e vacuolização do citoplasma destas células. A derme acompanha o mesmo processo que ocorre no epitélio, tanto pelo estímulo viral quanto para nutrir e suportar mecanicamente a hiperplasia do tecido epitelial. Os tipos de papilomas mais comumente encontrados são os pedunculados (PVB-1) e os planos (PVB-2). O primeiro tem aspecto de couve-flor, sendo que sua base de inserção pode ser ampla ou apresentar-se estreita em alguns casos. A superfície é irregular, cornificada, dura e sem a presença de pêlos. A coloração é acinzentada a negra e seu tamanho pode variar de milímetros a 10 centímetros de diâmetro. As verrugas podem agrupar-se formando grandes massas de confluência tumoral. Os papilomas mais escuros e bastante queratinizados destacam-se da pele com maior facilidade bastando uma pequena torção na base de inserção para que possam ser retirados. Os papilomas planos, por sua vez são achatados, com base ampla formando lesões circulares que na maioria dos casos cobrem extensas áreas do corpo do animal, sendo que a sua coloração pode variar entre o branco e o negro. É possível verificar-se a presença de pêlos neste tipo Se o bovino não responder bem ao tratamento, o produtor vê-se obrigado a descatar animais de alto valor zootécnico prematuramente v l .34 l l www.cultivar.inf.br l A doença pode acometer até 30% do rebanho e, em casos extremos, até 75% de verruga e seu tamanho pode variar entre meio a seis centímetros de diâmetro, sendo que o mesmo não se destaca da pele com facilidade e para sua retirada é necessário à intervenção cirúrgica. Os demais tipos de papilomas (de mucosa, de úbere e o engastado) não são tão freqüentes. Os bovinos ainda podem ser acometidos por mais de um tipo de papiloma ao mesmo tempo. A quantidade de verrugas presentes nos animais costuma variar de uma a mais de 200. O diagnóstico é feito normalmente pela observação visual associada ao aspecto epidemiológico e manejo ao qual o animal é submetido, no entanto o médico veterinário deve realizar diagnóstico diferencial com granulomas infecciosos (tuberculose, actinomicose, dermatose nodular), lesões crostosas da febre aftosa e dermatofilose. De uma maneira geral o prognóstico para papilomatose cutânea bovina é bom, exceto quando há evolução para carcinoma, perturbações na mastigação o que leva à perda de peso e atraso no desenvolvimento do animal, problemas relacionados à ordenha e as infecções secundárias também podem comprometer l Outubro 2004 l Fotos Divulgação a produtividade e manutenção do animal. Nas propriedades em que esta enfermidade acomete poucos bovinos do rebanho e que o número de verrugas por animal é reduzido, pode-se realizar o tratamento cirúrgico, uma vez que se deve fazer a extirpação de todos os papilomas do corpo do animal para que este não continue agindo como disseminador do vírus. Outro tipo de tratamento indicado nestes casos é o químico-corrosivo (à base de soda, nitrato de prata, formalina, etc.). O produto deve ser aplicado somente nas verrugas diariamente até o desaparecimento das mesmas, portanto este procedimento exige tempo para sua realização, sendo este tipo de tratamento também recomendado para papilomas localizados no teto ou úbere, mesmo se o tratamento sistêmico estiver sendo realizado. No entanto, na maioria dos casos uma grande quantidade do rebanho apresenta a enfermidade ou muitas vezes o animal possui uma grande quantidade de verrugas, o que torna impossível o tratamento cirúrgico ou químico-corrosivo. Nestes casos recomenda-se tratamentos sistêmicos, como: -Autohemoterapia – aplicação de 10 a l Outubro 2004 l 40 ml de sangue venoso com ou sem anticoagulante, o mesmo imediatamente aplicado por via subcutânea ou via intramuscular. Tem apresentado melhores resultados em animais jovens e acometidos por papilomas do tipo pedunculado. -Clorobutanol – o produto deve ser usado na dosagem de 50 a 100 mg/Kg/PV e administrado por via subcutânea ou de acordo com a recomendação do fabricante. Este medicamento apresenta bons resultados para os dois tipos de papilomas. -Diaceturato de Diaminazina – tratase de um babesicida também utilizado com sucesso no tratamento da papilomatose cutânea bovina, deve ser administrado na dose de 3,5mg/Kg/PV, age bem nos dois tipos de papilomas. -Vacina autógena – para se fazer este tratamento recomenda-se recolher as verrugas, de preferência dos animais do próprio rebanho a ser tratado, uma vez que existem diferentes tipos de vírus. É importante entrar em contato com o laboratório que fará a vacina para se saber a quantidade de papiloma que deve ser colhido e como o mesmo deve ser acondicionado, de uma forma geral aconselha-se o congelamento das verrugas quando estas não forem levadas rapidamente para o laboratório. Este tipo de tratamento tem apresentado melhores resultados em produto, enquanto o restante dos animais não apresenta nenhum sinal de melhora. Faz-se necessário ressaltar que existem animais que se curam sem que seja realizado nenhum tipo de tratamento. Em função desta característica é recomendado o acompanhamento do médico veterinário para melhor avaliação do tratamento a ser utilizado e dos seus resultados. Ainda é interessante salientar que animais jovens respondem melhor aos tratamentos que aqueles com mais de dois anos de idade. Os bovinos acometidos com papiloma do tipo pedunculado também apresentam maior facilidade de cura do que aqueles com papiloma do tipo plano. Outro fator observado é que quanto menor a quantidade de verrugas, melhor a resposta do animal aos diferentes tratamentos. As principais medidas profiláticas recomendadas são: não adquirir animais com a enfermidade e se já existirem animais doentes na propriedade, estes devem ser isolados do resto do rebanho para evitar disseminação do vírus, e recomenda-se tratamento imediato. Aconselha-se também fazer combate a carrapatos e moscas hematófagas. As fêmeas em fase de lactação que possuírem papilomas nos tetos ou úbere, devem ser ordenhadas por último e o ordenhador deve utilizar antissépticos nas Nas propriedades, em que esta enfermidade acomete poucos bovinos do rebanho e que o número de verrugas por animal é reduzido, podese realizar o O papilomavírus ao penetrar na pele do tratamento animal infecta as células basais da epiderme cirúrgico animais jovens e acometidos com papilomas do tipo pedunculado. Pode-se realizar um tratamento por vez ou ainda fazer a associação de vários tratamentos ao mesmo tempo. No entanto, a eficiência dos tratamentos varia de animal para animal, muitas vezes uma parte do rebanho responde bem a um determinado mãos como solução de iodo. Aconselha-se também que os aparelhos de uso comum sejam desinfectados pelo menos uma vez por semana com formol a 2%. Ana Paula Iglesias Santin e Luiz Augusto Batista Brito, UFG l www.cultivar.inf.br l l .35 l v