10 APCD Jornal // Maio 2013 Pesquisa revela diferenças entre os diagnósticos da Síndrome de Eagle e da D-ATM Semelhança entre as doenças seria a principal causa para dificultar o diagnóstico correto // Texto Paula Ricupero // // Foto enviadas gentilmente por Evandro Abdo // Pesquisadores do curso de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgaram um estudo pelo qual afirmam que alguns dos sintomas associados à Síndrome de Eagle correspondem, na verdade, à Disfunção da Articulação Temporomandibular. Descoberta pode permitir um diagnóstico diferencial mais apurado para que o paciente receba o tratamento adequado. O trabalho foi feito a partir da análise do perfil de 93 pacientes que procuraram atendimento na Clínica de Dor Orofacial da instituição, queixando-se de intensas dores na mandíbula e na cabeça, além da sensação de zumbidos nos ouvidos. A chamada Síndrome de Eagle foi descrita em 1937 pelo médico otorrinolaringologista alemão W. Eagle. Ele associou o alongamento do processo estiloide ou ossificação do ligamento estilohióideo à ocorrência de uma série de sintomas, tais como: disfagia, odinofagia, dor facial, otalgia, cefaleia, zumbido e trismo. Contudo, esses sintomas estão também associados à Disfunção da Articulação Temporomandibular (D-ATM), que abrange vários problemas Radiografia panorâmica mostrando alongamento do processo estiloide A D-ATM abrange problemas que envolvem a musculatura da mastigação e a ATM clínicos que envolvem a musculatura da mastigação, a ATM e estruturas associadas. Estas desordens foram identificadas como a principal causa de dor não dental na região orofacial, e que são consideradas uma subclasse das desordens musculoesqueléticas. De acordo com o professor Evandro Abdo, um dos autores do estudo e também diretor da Faculdade de Odontologia da UFMG, a semelhança entre as duas síndromes dificulta o diagnóstico correto, o que fez com que, por mais de 70 anos, sintomas da D-ATM fossem atribuídos à Síndrome de Eagle. “Quando a Doença de Eagle foi descrita, o conhecimento sobre os trans- Crânio com ligamento ossificado tornos da Articulação Temporomandibular era muito escasso. Outras alterações ligadas às desordens musculoesqueléticas não eram também conhecidas. Assim, os questionamentos a respeito ficaram num plano secundário. Portanto, quase todo paciente que apresentava sintomas de dores na mandíbula era automaticamente diagnosticado como portador da Síndrome de Eagle”, explica. Para se chegar a um tratamento satisfatório, é essencial conhecer bem os sintomas de cada uma dessas doenças e saber diagnosticar corretamente cada uma delas. “A Síndrome de Eagle pode ser tratada com medicação ou cirurgicamente, com a remoção ou encurtamento do processo alongado, dependendo da intensidade da calcificação do complexo estilohióideo. Já a D-ATM pode ser tratada com medicação, fisioterapia ou correção de distúrbios da oclusão, dependendo da causa”, afirma Abdo. Além da dor, que já é uma consequên- cia grave, existe a possibilidade de limitação da abertura da boca e dificuldade de deglutição e fala. No caso da Doença de Eagle, ao atingir seu estágio mais avançado, pode resultar no travamento total da abertura da boca, pois quando ossifica totalmente, o ligamento estilohióideo fica rígido e pode impedir o movimento da mandíbula. “É importante ressaltar que nosso trabalho não nega a existência da Síndrome, mas chama a atenção para a similaridade da sintomatologia e para a necessidade de uma visão diferente na abordagem terapêutica”, ressalta o professor. O estudo foi publicado em fevereiro de 2013 no periódico The Journal of Prosthetic Dentistry, e é de autoria de Francisco Carlos Sancio-Gonçalves, Mauro Henrique Nogueira Guimarães de Abreu, José Mario Netto Soares, Sergio Antonucci Amaral, Fernando Marques Barbosa Porfirio, Marcelo Drummond Naves e Evandro Neves Abdo.