INSTITUTO DE FÍSICA DA UFBA DEPARTAMENTO DE FÍSICA DO ESTADO SÓLIDO DISCIPLINA: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL IV (FIS 124) FLUXO E DIVERGENTE DE UM CAMPO VETORIAL Os conceitos de divergente e rotacional estão relacionados aos de fluxo e de circulação respectivamente. Nesta e na próxima secção, faremos uma definição precisa destes conceitos e os associaremos com alguns fenômenos físicos conhecidos. 1. FLUXO a. Fluxo através de uma superfície aberta plana r Suponha inicialmente uma superfície plana de área A dentro de um campo de velocidades v . Este campo pode ser, por exemplo, um rio, um fluxo de gás dentro de uma tubulação, etc. De qualquer r forma, haverá nesse campo um fluido onde a cada ponto associaremos um vetor velocidade v . Neste primeiro enfoque vamos supor que o campo é uniforme (ou seja, a velocidade é a mesma para todos os pontos desse espaço e a direção e sentido se mantem constante) e que a superfície esteja perpendicular ao campo. Definimos então [ Quantidade de fluido que atravessa a superfície A no tempo Δ t ] [ FLUXO ] = Φ = ⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯ [ unidade de tempo] (sup. aberta) Podemos expressar esta definição em termos de v e de A A com a seguinte consideração: num tempo Δt, cada partícula do fluido percorre uma distância V V Δt v Δt. Assim, se construirmos um paralelepípedo de base A e comprimento v Δt, notaremos que toda a partícula que estiver dentro desta "caixa" atravessa a superfície A no tempo Δt. As partículas que estiverem fora não A θ θ conseguirão, neste tempo, atravessar a superfície. Assim, a quantidade de fluido que atravessa a superfície A no tempo Δ t será simplesmente o volume dessa "caixa" e vale v Δt A. O fluxo será então Φ= v Δt A Δt =v A 1 Suponha agora que a superfície A esteja inclinada de um ângulo θ, como mostra a figura. Observe que a quantidade de fluido que atravessa A no tempo Δt é a mesma que atravessa A' (que é a projeção de A em um plano perpendicular às linhas de campo) . Assim Φ A = Φ A ' = v A' . Como A' = A cos θ , logo Φ A = v A cos θ r Podemos simplificar esta relação, usando o vetor área A , que é definido como: ⎧ módulo : área A r ⎪⎪ A = ⎨ direção : perpendicular `a superfície A ⎪ ⎪⎩ sentido : é tal que θ ≤ 90 o (1) r Desta forma, podemos escrever o fluxo de um campo vetorial uniforme v para uma superfície plana como sendo: r r Φ = v⋅A (2) b. Fluxo através de uma superfície fechada Σ r Seja Σ uma superfície fechada dentro de um campo vetorial v . Definimos: [ Quantidade de fluido que sai ] de Σ no tempo Δ t [ FLUXO ] = ⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯ (sup. fechada) [ unidade de tempo] [ Quantidade de fluido que entra ] em Σ no tempo Δ t ⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯ [ unidade de tempo] (3) Apliquemos esta definição para o caso de uma superficie fechada, constituida pela junção de r várias superfícies planas, dentro de um campo vetorial v uniforme (veja figura): V r Para calcularmos o fluxo, definiremos um vetor A j tal que: ⎧ ⎪ módulo : área A r ⎪ A j = ⎨ direção : perpendicular `a superfície A ⎪ ⎪⎩ sentido : aponta sempre para fora da superficie (4) De acordo com o exemplo da figura acima, notamos que o fluido sai através de A1 e A2 e entra por A3, A4 e A5. Usando a relação (2) e a definição de fluxo (3), teremos: 2 5 r r r r r r r r r r r r Φ Σ = v.A1 + v.A 2 + v.A 3 + v.A 4 + v.A 5 = v.A j ∑ (5) j=1 r r Observe que nas superfícies A3, A4 e A5 o vetor A j forma com v um ângulo θ , tal que 90o< θ r r o <270 , de sorte que v.A j = v Aj cos θj é negativo neste caso. Podemos generalizar estas considerações, supondo agora uma superfície fechada constituida por N superfícies planas. Mais ainda: podemos supor que o campo não seja mais uniforme, mas que r possa variar de região para região, com a condição de que assuma um valor constante v j na superfície Aj. O fluxo será portanto: ΦΣ (fechada) = N r r v j .A j j ∑ (6) 2. INTEGRAL DE SUPERFÍCIE Suponha agora que uma superfície fechada Σ, de formato qualquer, seja r inserida em um campo vetorial G não uniforme. Para definirmos o fluxo, ΔSj tomaremos o seguinte procedimento : a. Dividimos a superfície em pequenas superfícies de área ΔAj de forma que: Σ G - ΔAj seja aproximadamente plana - O campo Gj nessa superfície seja aproximamente constante r b. Definimos o vetor ΔA j de acordo com a definição (4) r r c. O fluxo no elemento de área ΔAj será ΔΦ j ≅ G j .ΔA j d. O fluxo total através de Σ será aproximadamente Φ ≅ N r ∑ r G j . ΔA j j e. Para encontrarmos o valor exato do fluxo, fazemos ΔA j → 0 . Definimos então integral de superfície ao limite : r r Φ = G.dA = ∫ f. lim ΔA j → 0 N r r ∑ G j .ΔA j j Naturalmente podemos definir a integral de superfície para uma superfície aberta também. O procedimento é o mesmo, com duas pequenas modificações. A primeira delas se refere à definição do vetor r elemento de área ΔA j . Neste caso, este vetor é definido de acordo com a definição (1) ao invés de (4). Em segundo lugar, há uma modificação na notação, de forma que: 3 ΦΣ (aberta) r r = G.dA = ∫ N r r ∑ G j . ΔA j lim ΔA j → 0 j r g. O fluxo de um campo vetorial G através de uma superfície fechada Σ tem o seguinte significado físico: [ Quantidade de (...) que entra ] [ Quantidade de (...) que sai de Σ no tempo Δ t ] em Σ no tempo Δ t [ FLUXO ] = ⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯ - ⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯ (sup. fechada) [ unidade de tempo] [ unidade de tempo] r onde (...) é uma palavra que depende de qual seja o campo G considerado. Assim, se r r G = v (campo de velocidades), (...) = fluido r r G = J (densidade de corrente), (...) = carga r r G = S (vetor de Poynting), (...) = energia eletromagnética r r r r No caso de G = E (campo elétrico) ou G = B (campo magnético), o fluxo será uma quantidade tal que: Φ α [ número de linhas de campo que saem de Σ] - [ número de linhas de campo que entram em Σ] 2. O DIVERGENTE Do estudo precedente é (divergência negativa) fácil do verificar campo que em relação se Φ ≠ 0, haverá divergência ou convergência à superfície fechada Σ. Mas agora, ao invés de concentrarmos no fluxo em uma região do espaço, desejamos fazer este estudo em relação a um ponto e em suas vizinhanças. A idéia central, portanto, é fazer a superfície tender a zero e calcular o fluxo nesse limite. Contudo, se diminuirmos a superfície, o fluxo também irá diminuir, até se anular no limite Aj → 0. Porém, se calcularmos a razão entre o fluxo através de ΔAj pelo volume ΔVj, observaremos que ela ΔVj → 0. É justamente esta propriedade que estamos buscando. tenderá a um valor limite quando r Definimos então, o divergente de uma função vetorial G à grandeza: r div G = lim ΔV j → 0 r r ∫ G.dA j ΔV j a. Teorema de Gauss r Seja uma superfície fechada Σ dentro de um campo vetorial G . Ao dividirmos a superfície em duas superfícies fechadas Σ1 e Σ2, veremos que a soma dos fluxos através dA2 G Σ dA1 Σ1 destas duas superfícies r r reproduzirá o fluxo original, uma vez que os vetores dA1 e dA 2 , que descrevem a interface entre Σ1 e Σ2, têm mesmo módulo e direção, mas sentidos opostos. Assim, devemos ter Φ = Φ1 + Φ 2 4 Se dividirmos a superfície Σ em N superfícies fechadas, a soma dos fluxos através de todas essas superfícies reproduzirá o fluxo original, isto é: r r N r r G.dA = G.dA j ∑∫ ∫ j Observe que podemos reescrever esta expressão na forma: r r r r N ⎡ G.dA j ⎤ ⎢ ⎥.ΔV j G.dA = ⎢ ΔV j ⎥ j ⎣ ⎦ ∑ ∫ ∫ r Ao passarmos ao limite de ΔVj → 0, a quantidade entre os parênteses é o próprio divergente de G e a somatória, por definição, é a integral de volume. Assim ∫ r r r G.dA = (div G) dV ∫ b. O divergente em coordenadas cartesianas z Seja um vetor r G , expresso em termos das coordenadas cartesianas : r r r r G = Gx(x,y,z) i + Gy(x,y,z) j + Gz(x,y,z) k Seja também um volume ΔV constituído por uma caixa retangular de lados Δx, Δy e Δz. Vamos calcular o y x fluxo através desta caixa: ΔΦ = ∫ r r G.dA , dividi-lo pelo volume ΔV e fazer o limite ΔV → 0. Note que ΔΦ pode ser calculado somando-se os fluxos através de cada face da caixa. No entanto, como estamos supondo que a caixa tem z ΔA5 (x,y,z) ΔA4 face, o campo é aproximadamente constante e igual ao valor calculado em seu centro. Assim, o valor do fluxo Δz ΔA 1 Δx ΔA2 dimensões pequenas é razoável supor que, em cada Δy r Δ A3 r na figura que os vetores ΔA em cada face são: ΔA6 y x r para cada face i , será : ΔΦ i = G i ⋅ ΔA i . Podemos ver r r Δ A 1 = − Δx Δz j r r Δ A 3 = Δ x Δz j r r Δ A 5 = Δ x Δy k r r ΔA 2 = Δy Δz i r r ΔA 4 = − Δy Δz i r r ΔA 6 = − Δx Δy k 5 r r O fluxo na face 1 deverá ser então ΔΦ 1 = G(1) ⋅ ΔA1 = −G y (1)ΔxΔz . Note que Gy(1) é a componente y do campo no centro da face 1. Qual é a relação entre Gy(1) e a componente y do campo no centro da caixa Gy(x,y,z) ? Escrevendo Gy(1) como: G y (1) = G y ( x, y − Δy , z) 2 obtemos do cálculo diferencial: G y ( x, y, z) − G y ( x, y − onde ε1 = ε1 ( Δx, Δy, Δz) ∂G y Δy Δy , z) = + ε1Δy 2 ∂y 2 lim ε1 = 0 e Δx →0 Δy→0 Δz→0 Logo: ΔΦ 1 = −(G y − ∂G y Δy − ε1Δy)ΔxΔy ∂y 2 Escrevendo G x = G x ( x, y, z) onde G y = G y ( x, y, z) e G z = G z ( x, y, z) , chegamos ao fluxo das demais faces da caixa: ΔΦ 2 = G x (2)ΔyΔz = (G x + ∂G x Δx + ε 2 Δx )ΔyΔz ∂x 2 ΔΦ 3 = G y (3)ΔxΔz = (G y + ∂G y Δy + ε1Δy)ΔxΔz ∂y 2 ΔΦ 4 = −G x (4)ΔyΔz = −(G x − ΔΦ 5 = G z (5)ΔxΔy = (G z + ∂G x Δx + ε 2 Δx )ΔyΔz ∂x 2 ∂G z Δz + ε 3 Δz)ΔxΔy ∂z 2 ΔΦ 6 = −G z (6)ΔxΔy = −(G z − ∂G z Δz + ε 3 Δ z) Δ x Δ y ∂z 2 O fluxo através da caixa será portanto: 6 ΔΦ = ⎡ ∂G ∑ ΔΦ i = ⎢⎣ ∂xx + ∂G y i =1 Como ΔV = Δx Δy Δz e r div G = r ∂y + ⎤ ∂G z + 2 (ε1 + ε 2 + ε 3 )⎥ Δx Δy Δz ∂z ⎦ ΔΦ , então: ΔV → 0 ΔV div G = lim ∂G x ∂G y ∂G z + + ∂x ∂y ∂z Se introduzimos o operador vetorial diferencial nabla r ∂ r ∂ r ∂ r ∇= i+ j+ k ∂x ∂y ∂z teremos: 6 r r r ∂G ∂Gy ∂Gz x + + div G = ∇.G = ∂x ∂y ∂z BIBLIOGRAFIA 1. Purcell E.M., Curso de Física de Berkeley - vol.2, Ed. Edgard Blucher, 1973, São Paulo. 2. Feynmam R., Lectures on Physics - vol. 2, Fondo Educativo Interamericano, 1972, Bogotá 3. Hsu, H.P., Análise vetorial, Livros Técnicos e Científicos, 1972, Rio de Janeiro. 7