TÉCNICAS DE INSTRUMENTAÇÃO 2º Teste – 15/Dez/2008 PARTE TEÓRICA Questão I (1,95) a) Explique o que é uma ponte de Wien e para que serve. b) Explique o que é uma ponte de Maxwell e para que serve. Questão II (1,95) a) Explique como funciona um amplificador inversor básico. Deduza a expressão do ganho em tensão deste amplificador, assumindo que tem um transístor npn funcionando no seu modo normal. 5 Vcc 4 Vout / V R1 1k Vout 1K Vin Q1 R2 3 2 1 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 V1/V Amplificador inversor básico 1.2 1.4 1.6 1.8 2 200mV/div A curva de transferência (Vout=f(Vin)) tem a forma descrita no gráfico acima. 1. Com 0<Vin<VBEmin o transístor está no modo de corte e não há corrente de base nem de colector. Assim Vout=Vcc. 2. Na zona activa do amplificador Vout varia entre Vcc e VCE(sat) do transístor, que está no seu modo normal. Assim é válida a relação IC=hFE×IB. Aplicando a lei de Kirschoff das tensões temos: Vout=Vcc-R1×IC; Vin-R2×IB-VBEmin=0; IB=(Vin-VBEmin)/R2 IC=hFE×IB. Logo Vout = - RC×hFE/RB × (Vin-VBEmin) e o ganho do amplificador é dVout/dVin= - RC×hFE/RB. 3. Na zona em que Vout = VCE(sat) o transístor está em saturação e o amplificador não está a funcionar como tal. b) Explique para que servem os seguintes circuitos electrónicos: Deslocador de nível; seguidor de emissor; push-pull; par de Darlington. Este circuito permite baixar o nível dc de um sinal sem alterar o seu estado de amplificação. Vcc Vout=Vin-VBEmin-IC(Q3)×R3 Q2 Vin Se a corrente IC(Q3) for constante (regulada por VBB), então o nível dc de Vout depende apenas de R3. R3 1k Vout 1k VBB O ganho do circuito é dVout/dVin= 1 (não amplifica). Q3 R4 Circuito deslocador de nível Tal como o nome indica Vout segue o potencial de emissor, que por sua vez segue Vin a menos de VBEmin, ou seja: Vcc Vout=Vin-VBEmin. Também aqui o ganho em tensão é unitário. Q4 Vin Vout Este circuito serve para aumentar a capacidade de corrente fornecida à carga a ligar a Vout, aumentando assim a potência disponível sem comprometer o valor do sinal em tensão. É usado nos estágios de saída dos amplificadores. R5 1k Circuito seguidor de emissor Vcc Q6 Vin D1 Vout D2 Q5 R6 1k -Vee Circuito Push-pull Este circuito tem as mesmas aplicações do anterior mas com a vantagem de toda a corrente de emissor ser canalizada para a carga que se ligar a Vout. A corrente de funcionamento próprio (chamada de corrente quiescente) é muito baixa, ao contrário do seguidor de emissor que tem sempre uma corrente não desprezável passando do emissor para a terra, via R5. Esta composição permite potenciar o ganho dos transístores criando um conjunto que tem um comportamento muito próximo de um transístor, mas com um ganho muito elevado. ColectorD BaseD Q8 Admitindo que o ganho de ambos os transístores é igual a hFE: A corrente de base do transístor Q7 é a corrente de emissor do transístor Q8, IB(Q7)=I E(Q8). Por outro lado, sabemos que a corrente de emissor de Q8 é: IE(Q8)=I C(Q8)+I B(Q8)= hFE×IB(Q8)+I B(Q8)= IB(Q8)×(hFE+1) e a corrente de colector de Q7 é: IC(Q7)=h FE×IB(Q7)=h FE× IB(Q8)×(hFE+1). Portanto, a corrente que entra no terminal de colectores do Par de Darlington é IC(Q7)+I C(Q8): I(ColectorD)= hFE× IB(Q8)×(hFE+1)+ hFE× IB(Q8) ou seja, I(ColectorD)=I(BaseD)×(hFE2+2hFE) que é uma expressão análoga à do transístor IC= IB×hFE Q7 EmissorD Par de Darlinton Questão III (1,95) a) Explique como funciona o circuito par diferencial. Vcc R1 10k R7 10k Vout1 Vout2 100k Vin1 Q1 Q9 R2 100k R8 Vin2 R9 10k -Vee Circuito Par Diferencial O circuito Par Diferencial permite obter em qualquer das saídas uma amplificação da diferença das entradas. Sendo uma saída simétrica em relação à outra, também a diferença das saídas é proporcional à diferença das entradas. Em termos muito simples, um incremento de tensão em Vin1 leva a um aumento proporcional de corrente de base de Q1 e portanto também da sua corrente de colector, uma vez que IC=hFE×IB. Como a corrente de emissor é a soma de I B com IC, também esta vai aumentar. O potencial dos emissores é função da corrente que atravessa R9, uma vez que -Vee é fixo. Assim, aumentar IE(Q1) implica aumentar a tensão dos emissores de ambos os transístores. Isto vai repercutir-se no transístor Q9, sem que Vin2 tivesse mudado, tem a sua corrente de base menor por causa do aumento da tensão do seu emissor. A esta diminuição da corrente de base de Q9 corresponde uma diminuição da sua corrente de colector. Desta forma a um aumento de tensão Vin1 provoca um aumento da corrente de colector de Q1 e uma diminuição da corrente de colector de Q9. Como cada Vout é função da respectiva corrente de colector (Vout = Vcc - RC× IC, em que RC será R1 ou R7, consoante o caso), temos que no exemplo que estamos a estudar, Vout1 iria diminuir e Vout2 aumentar. b) Quais os tipos transístores que pode utilizar no par diferencial, indicando as vantagens e desvantagens de cada hipótese. No exemplo acima utilizaram-se transístores bipolares, mas poder-se-iam utilizar também JFETs. Com transístores bipolares temos a garantia de linearidade de Vout em função de Vin (uma vez que IC=hFE×IB). A desvantagem é que, como este tipo de transístores funcionam com controlo por corrente (I B), os instrumentos que utilizem esta montagem apresentarão sempre algum efeito de carga (consumo de parte da corrente do circuito em medida por parte do próprio aparelho de medida). Por outro lado, os JFETs, que são controlados por tensão e portanto não consomem corrente, pelos menos em termos dc (poderão consumir alguma corrente em ac para carregar/descarregar as capacidades da junção de gate), têm a desvantagem de não serem lineares. A aproximação que se costuma fazer (linearização em torno do ponto de funcionamento) determina a transcondutância (g m) do JFET. Mas um afastamento desse ponto pode levar a valores de Vout longe do esperado. Questão IV (2,20) a) Quais os blocos (subcircuitos) que tipicamente constituem um Amplificador Operacional (AMPOP). 1- Par diferencial; 2- Circuito deslocador de nível; 3- Amplificador linear de alto ganho (tipicamente um AIB); 4- Estágio se saída (seguidor de emissor ou push-pull). O par diferencial faz a operação da diferença entre as entradas, tal como já foi explicado. Para que o sinal seja utilizável pelo amplificador linear tem de ser adaptado ao nível dc mais adequado (mais baixo), através do deslocador de nível. O amplificador linear expande o sinal em tensão e o estágio de saída permite utilizar esse sinal sem distorção, fornecendo a corrente (e portanto a potência) necessária a cargas de eventual baixo valor, fornecendo assim uma baixa impedância de saída do amplificador operacional. b) Qual o modelo (circuito equivalente de Thévenin) que habitualmente se associa ao AMPOP. Porque se diz que as entradas formam entre si um curtocircuito virtual e simultaneamente que as impedâncias de entrada são muito elevadas? - Vin1 Ri Vin2 Ro Vout Vo + O modelo que habitualmente se associa ao AMPOP contém uma resistência de entrada muito elevada (Ri) que simboliza a alta impedância de entrada deste circuito. Na malha de saída temos uma fonte de tensão cujo (Vo) valor é controlado pela diferença das entradas e amplificado pelo valor do ganho diferencial (Ad) do AMPOP, isto é: Vo = Ad×Vd, em que Vd = (Vin1-Vin2). Ro simboliza a (baixa) impedância de saída do circuito. A impedância de entrada é normalmente elevada porque se colocam no estágio entrada (no par diferencial) dispositivos que consomem muito pouca corrente a partir de Vin1 ou Vin2 (gates dos JFETs ou bases dos pares de Darlington). Por outro lado, uma vez que o ganho diferencial, Ad, é muito elevado (da ordem de 10 6 ou 10 7), para que o AMPOP esteja em função linear (variando entre os valores de alimentação superior e inferior, Vcc e -Vee) é necessário que Vin1 não se afaste de Vin2 mais que umas décimas de µV. Em termos de tensões de trabalho da ordem de volts ou mesmo de milivolts a diferença entre Vin1 e Vin2 será sempre muito perto de zero, por isso se diz que Vin1 e Vin2 estão em curtocircuito virtual. Questão V (1,95) a) Quais os circuitos que estudou que utilizam AMPOPs? Explique sucintamente o funcionamento de cada um deles. 1) Amplificador Inversor R2 AMPOP1 Vin R1 Vout Tendo em conta os pressupostos referidos em IV b), temos que a corrente que atravessa R1 e aproximadamente igual à que percorre R2 e a diferença de potencial entre as entradas do AMPOP é aproximadamente zero, temos que: Vin-R1×I(R1)=0 ; I(R1)=Vin/R1 -R2×I(R2)-Vout=0; I(R2)=-Vout/R2 Como I(R1)=I(R2), Vout= - R2/R1×Vin Esta configuração permite obter a amplificação da entrada com ganhos entre 0 e Ad, mas invertendo o sinal. 2) Amplificador não Inversor R4 AMPOP2 R3 Vin Vout -R3×I(R3)-Vin=0; I(R3)=-Vin/R3 Vin-R4×I(R4)-Vout=0; I(R4)=(Vin-Vout)/R4 Vout= (R3+R4)/R3 × Vin Esta configuração permite amplificar a entrada com ganhos entre 1 e Ad. Neste caso a saída está em fase com a entrada. 3) Amplificador Diferencial R5 Va Vin1 Vin2 R6 R7 AMPOP3 Vout Vb R8 Vin1-R6×I(R6)-Va = 0; I(R6)=(Vin1-Va)/R6 Va-R5×I(R5)-Vout=0;I(R5)=(Va-Vout)/R5 Va=(Vin1×R5+Vout×R6)/(R5+R6) Vin2-R7×I(R7)-Vb=0; I(R7)=(Vin2-Vb)/R7 Vb-R8×I(R8)=0; I(R8)=Vb/R8 Vb=Vin2×R8/(R7+R8) Mas Va ≈ Vb. Então, se R6=R7=Rx e R5=R8=Ry tem-se: Vout = (Vin2-Vin1)×Ry/Rx Esta configuração permite amplificar apenas a diferença existente entre os sinais Vin1 e Vin2. 4) Amplificador Somador R9 Vin1 R10 Vin2 AMPOP4 R11 Vin3 Vout R12 I(R10)=Vin1/R10 I(R11)=Vin2/R11 I(R12)=Vin3/R12 I(R9)=-Vout/R9 I(R10)+ I(R11)+ I(R12)= I(R9) Vout = - R9×(Vin1/R10+Vin2/R11+Vin3/R12) Esta montagem permite obter a amplificação da soma ponderada das entradas. É uma montagem inversora. 5) Amplificador Integrador C1 AMPOP5 Vin R13 Vout A corrente de carga do condensador é i(C)= C dvc/dt, onde vc é a tensão aos terminais do condensador. No circuito, temos - vc -vout=0, de onde vc=-vout. Assim i(C)= - C dvout/dt. Por outro lado, i(R13)=vin/R13, e i(R13)=i(C). Então, τ vout= - 1/RC ∫ vin dt 0 Esta montagem permite obter a integração matemática do valor de vin, ponderada por 1/RC. Pode ser utilizada, por exemplo, para obter ondas triangulares a partir de ondas quadradas. TÉCNICAS DE INSTRUMENTAÇÃO 2º Teste – 15/Dez/2008 PARTE PRÁTICA Problema I (5) Considere o voltímetro electrónico analógico da figura abaixo. Vcc R1 2k N Vin1 R2 2k G_1 Q1 R3 P G Rm = 50 IFS = 1mA Q2 R4 Vin2 R5 1k Vee Pretende-se que este instrumento tenha uma escala máxima de 10V. Os transístores são iguais e têm um ganho de corrente em configuração de emissor comum de 150. a) Deduza a expressão que lhe permite determinar a corrente do galvanómetro em função da diferença das entradas. Vamos assumir que R1=R2=Rc e R3=R4=Rb. (1): Vcc-Rc×I1(Rc)-Vce1-Ve=0 (2): Vcc-Rc×I2(Rc)-Vce2-Ve=0 (1)-(2): Rc(I2-I1)+(Vce2-Vce1)=0 Mas Vce2-Vce1=Rm×Im. Rc(I2-I1)+ Rm×Im =0 I1+Im=Ic1 e I2=Ic2+Im Rc(Ic2+Im) -Rc (Ic1-Im)+ Rm×Im =0 Rc×Ic2+ Rc×Im -Rc×Ic1+ Rc×Im+ Rm×Im =0 Rc(Ic2-Ic1) + Im(2Rc+Rm)=0 Ic2=hFE×Ib2= hFE×(Vin2-Vbemin-Ve)/Rb Ic1=h FE×Ib1= hFE×(Vin1-Vbemin-Ve)/Rb Ic2-Ic1= hFE×(Ib2-Ib1)= hFE×(Vin2-Vin1)/Rb Im = (Rc×hFE×(Vin1-Vin2))/(Rb×(2Rc+Rm)) b) Determine o valor das resistências de base (R3 e R4), para que o aparelho tenha as características desejadas. Rb = (Rc×hFE×(Vin1-Vin2))/(Im×(2Rc+Rm)) Rb = 2000×150×(10)/(10 -3×(4000+50))=740,741 kΩ. Problema II (5) Considere uma ponte ac, cuja fonte tem uma frequência de 1kHz e em que: - Z1 é uma série de uma bobina com uma resistência, onde L = 10 mH e R = 120Ω, respectivamente. - Z2 é um paralelo de um condensador com uma resistência, onde C = 1 µF e R = 100Ω, respectivamente. - Z3 é uma série de um condensador com uma resistência, onde C = 130 nF e R = 4kΩ, respectivamente. Determine a impedância Zx e valor dos componentes que a constituem, assumindo que estão em série. Z1 = 120+ j 62,83 = 135,5 |27,6º Z2 = 71,7- j 45 = 84,7 |-32,1º Z3 = 4000- j 1224 = 4183 |-17º Zx = Z2×Z3/Z1 = 2615 |-76,8º = 597,3 - j 2546 Os componentes são: Uma resistência de 597,3 Ω. Um condensador de 62,5 nF.