LISTA DE EXERCÍCIOS 06 Matemática Básica Humberto José Bortolossi http://www.professores.uff.br/hjbortol/ Função raiz quadrada, funções da forma y = f (x) = √ a2 − x2 , funções potência [01] Determine o domı́nio natural (efetivo/maximal) de cada uma das funções indicadas abaixo. p √ √ (c) f (x) = −x, (a) f (x) = 2 x − 3, (b) f (x) = |x| − 1, p p √ √ (d) f (x) = |x|, (e) f (x) = x/(x2 − 1), ( f ) f (x) = x/ x2 − 1. [02] Considere a sentença √ ⇒ a=b a = b2 . (a) A sentença é verdadeira ou falsa? Apresente uma demonstração caso ela seja verdadeira e um contraexemplo caso ela seja falsa. (b) Escreva a recı́proca da sentença. A recı́proca é verdadeira ou falsa? Apresente uma demonstração caso ela seja verdadeira e um contraexemplo caso ela seja falsa. [03] (Resolvendo equações com raı́zes quadradas) Ao se resolver uma equação envolvendo raı́zes quadradas, é comum “elevarmos cada lado da equação ao quadrado”. Por exemplo, para resolver a equação √ x + 3 = x + 1, é comum considerar a equação √ ( x + 3)2 = (x + 1)2 , isto é, x + 3 = (x + 1)2 . √ + 1 é solução de x + 3 = Contudo, pelo exercı́cio anterior, vale que toda solução de x + 3 = x √ (x + 1)2 , mas nem toda solução de x + 3 = (x + 1)2 é solução de x + 3 = x + 1. Neste exemplo,√x = −2 é solução da equação x + 3 = (x + 1)2 , mas x = −2 não é solução da equação x + 3 = x + 1. Assim, cuidado! Como o processo de “elevar cada lado de uma equação ao quadrado” gera uma implicação e não uma equivalência, nem toda solução da equação final é solução da equação inicial! É preciso tirar a “prova real” das soluções calculadas no final! Resolva as equações indicadas a seguir. √ √ √ (a) x − 1 = x − 3, (b) x2 − 3 = x − 3, [04] Considere a sentença a≤ √ ⇒ b (c) x + √ x − 2 = 4. a2 ≤ b. (a) A sentença é verdadeira ou falsa? Apresente uma demonstração caso ela seja verdadeira e um contraexemplo caso ela seja falsa. (b) Escreva a recı́proca da sentença. A recı́proca é verdadeira ou falsa? Apresente uma demonstração caso ela seja verdadeira e um contraexemplo caso ela seja falsa. √ [05] Resolva a desigualdade x ≤ 3 x − 2. 1 [06] Considere a função 2x √ f (x) = x2 x+1− √ 2 x+1 . x+1 (a) Determine o domı́nio natural (efetivo) de f . (b) Mostre que f (x) = x (3 x + 4) √ 2 (x + 1) x + 1 para todo x no domı́nio natural (efetivo) de f . (c) Determine (caso existam) os valores de x para os quais f (x) > 0. [07] Desenhe os gráficos das funções √ f (x) = 1 − x2 , √ g(x) = − 1 − x2 e h(x) = √ 7 − x2 . [08] Associe cada equação a seu gráfico. Explique sua escolha. Não use o computador ou uma calculadora gráfica. (a) y = x2 , (b) y = x5 , (c) y = x8 . [09] (Sugerido por Maurı́cio Quintanilha da Silva) Considere uma função f : R → R ı́mpar. (a) Mostre que se f é crescente no intervalo [0, +∞[, então f também é crescente no intervalo ] − ∞, 0]. (b) Usando a identidade xn2 − xn1 = (x2 − x1 )(x2n−1 + x2n−2 x1 + ∙ ∙ ∙ + x2 x1n−2 + x1n−1 ) mostre que f (x) = xn é crescente no intervalo [0, +∞), com n ∈ N ı́mpar. (c) Usando os itens (a) e (b), mostre que f (x) = xn é crescente em R, com n ∈ N ı́mpar. [10] Qual número é maior? 23000 ou 32000 ? Justifique sua resposta! 2 [11] Considere a função y = f (x) = x2 e dois números reais a e b positivos. Mostre que a ordenada do ponto de interseção da reta que passa pelos pontos (−a, f (−a)) e (b, f (b)) com o eixo y é igual ao produto a b dos números a e b. y y = x2 a b b x Usando esta propriedade, é possı́vel criar uma “máquina” de multiplicar números. A figura abaixo ilustra tal “máquina” elaborada pelo Laboratório de Ensino de Matemática da UFPE (a foto foi tirada na V Bienal da Sociedade Brasileira de Matemática, na UFPB, em outubro de 2010). [12] Por que √ 4 1 = 1? √ 4 √ 16 é diferente de −2, apesar de (−2)4 ser igual a 16? E por que 5 −243 = −3? √ 4 [14] Um aluno deu o seguinte argumento para provar que a4 = a, para todo a ∈ R: [13] Por que √ 4 (1) (2) 1 1 (3) (4) a4 = (a4 ) 4 = a4∙ 4 = a1 = a. O argumento do aluno está correto? Em caso negativo, especifique quais igualdades estão erradas. √ [15] Mostre que se n ∈ N e n é par, então f (x) = n x = x1/n é uma função crescente em [0, +∞). 3 [16] Mostre que se n ∈ N e n é ı́mpar, então f (x) = √ n x = x1/n é uma função crescente em R. [17] Sejam x1 , . . . , xn números reais não negativos. As médias aritmética e geométrica destes n números são definidas, respectivamente, por v u n n X uY √ x1 + ∙ ∙ ∙ + xn 1 n n MA = x i e M G = x1 ∙ ∙ ∙ ∙ ∙ x n = t xi . = n n i=1 i=1 (a) Calcule as médias aritmética e geométrica dos números x1 = 1, x2 = 1/2 e x3 = 1/4. Qual média é maior? (b) Considere um bloco retangular B cujas arestas medem a, b e c. Qual é a medida da aresta do cubo cujo volume é igual ao volume do bloco retangular B? (c) Mostre que se x1 = ∙ ∙ ∙ = xn = α ≥ 0, então as médias aritmética e geométrica são ambas iguais a α: MA = MG = α. Observação: é possı́vel demonstrar (usando, por exemplo, indução) que a média geométrica de n números não negativos é sempre menor do que ou igual a média aritmética destes n números. Mais ainda: as duas médias são iguais se, e somente se, os n números são todos iguais. √ [18] A notação n xm , com n, m ∈ N, n ı́mpar e x ∈ R, pode ser lida da seguinte maneira: √ n xm denota o único número real que elevado a n é igual a xm . Como podem ser lidas as notações indicadas abaixo? √ (a) n xm , com n, m ∈ N, n par e x ≥ 0. √ (b) ( n x)m , com n, m ∈ N, n par e x ≥ 0. p√ (c) n m x, com n, m ∈ N, m e n ı́mpares e x ∈ R. √ (d) n∙m x, com n, m ∈ N, m e n ı́mpares e x ∈ R. √ √ √ 3 3 3 a + b ≤ b. Dica: use a identidade (x1 + x2 )3 = a + [19] Mostre que para todo a, b ≥ 0, vale que √ √ n 3 2 2 3 n x1 + 3 x1 x2 + 3 x1 x2 + x2 , com x1 = a e x2 = b. [20] Demonstre todas as propriedades das raı́zes n-ésimas apresentadas em sala de aula. [21] Seja f (x) = 1/xn , com n ∈ N. Mostre que f é uma função decrescente no intervalo ]0, +∞[. Mostre também que se n é par, então f é crescente no intervalo ] − ∞, 0[ e que se n é ı́mpar, então f é decrescente no intervalo ] − ∞, 0[. [22] Sabemos que se a e b são números naturais, então (xa )b = xa∙b = (xb )a para todo x ∈ R. Mostre que esta identidade é falsa se a e b são números racionais. [23] Na análise forense de incidentes envolvendo explosivos, muitas vezes é necessário estimar a quantidade de explosivo usada a partir dos danos observados à infraestrutura. Certamente esta não é uma tarefa simples. No entanto, a base de cálculos práticos é a lei de Hopkinson, que afirma que a distância de perturbação do centro de uma explosão é proporcional à raiz cúbica da energia dissipada na explosão. No caso de explosivos quı́micos, em vez da energia, podemos considerar a massa total dos explosivos. Além disso, como resultado de medidas empı́ricas (Kinney e Graham, Explosive Shocks in Air, Springer-Verlag, 1985), essa lei pode ser estendida para uma 4 fórmula simples, que dá o diâmetro D da cratera (em metros) que resulta de uma carga explosiva colocada ao nı́vel do solo em função da massa M dos explosivos (em quilogramas de TNT): D = 0.8 M 1/3 . Para explosões subterrâneas, uma análise mais complexa é necessária. (a) Calcular o diâmetro aproximado da cratera resultante de uma carga explosiva equivalente a 60 kg de TNT. (b) Determine a massa aproximada de TNT responsável por uma explosão que resulta em uma cratera de 4 m de diâmetro. (c) Qual deve ser o aumento percentual na massa de um explosivo a fim de dobrar o tamanho da cratera resultante? Observação: este exercı́cio foi extraı́do do livro Essential Mathematics and Statistics for Forensic Science de Craig Adam, publicado pela John Wiley & Sons em 2010. [24] Funções da forma f (x) = c ∙ xα são muito usadas em Biologia no estudo do tamanho e da forma dos seres vivos. De fato, os biólogos têm um nome especial para funções deste tipo: funções alométricas. Por exemplo, y = 12.03 x0.127 é uma função alométrica que modela o tempo y de incubação (medido em dias) de um ovo em função de sua massa x (medida em gramas). Sabendo que um ovo de um beija-flor tem em média massa igual a 0.2 g, use a fórmula acima (e uma calculadora) para estimar o tempo de incubação deste tipo de ovo. [25] Associe cada equação a seu gráfico. Explique sua escolha. Não use o computador ou uma calculadora gráfica. √ (c) y = x3 , (d) y = 3 x. (a) y = 3 x, (b) y = 3x , 5 Respostas dos Exercı́cios Atenção: as respostas apresentadas aqui não possuem justificativas. Você deve escrevê-las! [01] (a) D = [3/2, +∞[, (b) D =] − ∞, −1] ∪ [1, +∞[, (c) D =] − ∞, 0], (d) D = R, (e) D = ] − 1, 0]∪]1, +∞[, ( f ) D =]1, +∞[. √ [02] (a) A sentença é verdadeira, pois a = ( a)2 = b2 . √ (b) Recı́proca da sentença: a =√b2 ⇒ a = b. A recı́proca é falsa, pois possui um contraexemplo: = 1 e b2 = 1, de modo que a = b2 (a = 1 e b = −1 satisfazem a = 1 e b = −1. Note que a √ a hipótese da recı́proca) mas a = 1 6= −1 = b (a = 1 e b = −1 não satisfazem a tese da recı́proca). [03] (a) S = {5}, (b) S = ∅, (c) S = {3}. [04] (a) A um contraexemplo: a = −2 e b = 1. Note que a2 = 4 e √ sentença é falsa, pois possui √ b = 1, de modo que a ≤ b (a = −2 e b = 1 satisfazem a hipótese da sentença) mas a2 > b (a = −2 e b = 1 não satisfazem a tese da sentença). √ (b) Recı́proca da sentença: a2 ≤ b ⇒ a ≤ b. A recı́proca é verdadeira. De fato: sejam a e b Como a√2 ≥ 0, segue-se que b ≥ 0. Como a função raiz dois números reais tais que a2 ≤ b. √ √ 2 2 quadrada é √ crescente, segue-se que a ≤ b. Mas a = |a| e a ≤ |a| para todo a ∈ R. Assim, a ≤ b. [05] Se x é uma solução da desigualdade, então 3 x − 2 ≥ 0, isto é, x ≥ 2/3. Em particular, x ≥ 0. √ Como a função x 7→ x2 e x 7→ x são crescentes no intervalo [0, +∞), segue-se que √ √ 2/3 ≤ x ≤ 3 x − 2 ⇔ 2/3 ≤ x e x2 ≤ ( 3 x − 2)2 . Mas √ 2/3 ≤ x e x2 ≤ ( 3 x − 2)2 ⇔ 2/3 ≤ x e x2 ≤ 3 x − 2 ⇔ 2/3 ≤ x e x2 − 3 x + 2 ≤ 0 ⇔ x ∈ [1, 2]. √ Desta maneira, S = {x ∈ R | x ≤ 3 x − 2} = [1, 2]. [06] (a) D =] − 1, +∞[. (b) Observe que √ x2 4 x ( x + 1)2 − x2 √ 2x x + 1 − √ 2 x+1 2 x+1 = f (x) = x+1 x+1 x (3 x + 4) √ = . 2 (x + 1) x + 1 √ = 4 x (x + 1) − x2 √ 2 (x + 1) x + 1 (c) f (x) > 0 se, e somente se, x ∈]0, +∞[. [08] (a) h, (b) f , (c) g. [09] (a) Sejam x1 , x2 ∈]−∞, 0], com x1 < x2 . Mas se x1 < x2 , então −x1 > −x2 e, se x1 , x2 ∈]−∞, 0], então −x1 , −x2 ∈ [0, +∞[. Como, por hipótese, f é crescente no intervalo [0, +∞[, segue-se que f (−x1 ) > f (−x2 ). 6 Sabemos que, por hipótese, f é uma função ı́mpar. Logo, f (−x1 ) = −f (x1 ) e f (−x2 ) = −f (x2 ). Assim, f (−x1 ) > f (−x2 ) ⇒ −f (x1 ) > −f (x2 ) ⇒ f (x1 ) < f (x2 ). Mostramos então que, para todo x1 , x2 ∈] − ∞, 0], com x1 < x2 , tem-se f (x1 ) < f (x2 ). Logo, f é crescente no intervalo ] − ∞, 0]. (b) Sejam x1 , x2 ∈ [0, +∞), com x1 < x2 . Temos então que x1 ≥ 0, x2 > 0 e x2 − x1 > 0. Mas se x1 > 0 e x2 ≥ 0, então x2n−1 > 0, x2n−2 x1 ≥ 0, ∙∙∙ , x2 x1n−2 ≥ 0, x1n−1 ≥ 0. Em particular, x2n−1 + x2n−2 x1 + ∙ ∙ ∙ + x2 x1n−2 + x1n−1 > 0. Portanto, xn2 − xn1 = (x2 − x1 ) (x2n−1 + x2n−2 x1 + ∙ ∙ ∙ + x2 x1n−2 + x1n−1 ) > 0 | {z } | {z } >0 >0 Mas, se xn2 − xn1 > 0, então xn1 < xn2 . Isto mostra que f é crescente no intervalo [0, +∞[. (c) Pelos itens (a) e (b), sabemos que f é crescente em [0, +∞[ e em ] − ∞, 0]. Se n ∈ N é impar, então f (x) > 0 para todo x ∈]0, +∞[ e f (x) < 0 para todo x ∈] − ∞, 0[. Sejam agora x1 , x2 ∈ R com x1 < x2 . Temos três possibilidades: (1) x1 , x2 ∈ [0, +∞[, (2) x1 , x2 ∈] − ∞, 0] e (3) x1 ∈] − ∞, 0[ e x2 ∈]0, +∞[. Nos três casos xn1 < xn2 . Logo f é crescente em R. [10] 32000 é maior do que 23000 , pois 32000 = (32 )1000 = 91000 > 81000 = (23 )1000 = 23000 . √ [12] 4 1 = 1 porque 1 é um número não negativo e 14 = 1. √ [13] Apesar de −2 elevado a 4 ser igual a 16, −2 é um número negativo e, por definição, 4 16 é o único número real não negativo que elevado a 4 é igual a 16 (uma raiz n-ésima, com n par, é sempre √ √ 4 5 não negativa). Desta maneira, 16 é igual a 2 e não −2. Agora, −243 = −3 porque −3 é o (único) número real que elevado a 5 é igual a −243. 1 1 1 1 [14] Apenas a igualdade (2) está errada. Se a = −1, então (a4 ) 4 = ((−1)4 ) 4 = 1 4 = 1 e a4∙ 4 = a1 = 1 1 a = −1. Logo, para a = −1, (a4 ) 4 6= a4∙ 4 . [15] Sugestão: use o Exercı́cio [19] da Lista 9. [16] Sugestão: use o Exercı́cio [19] da Lista 9. 1 [22] De fato: sejam a = 2, b = 1/2 e x = −1. Temos que (xa )b = ((−1)2 ) 2 = 11/2 = 1 e xa∙b = 1 (−1)2∙ 2 = (−1)1 = −1, enquanto que (xb )a = ((−1)1/2 )2 não está definido, pois a função x 7→ x1/2 está definida para x ≥ 0 e −1 é menor do que 0. [23] (a) Aproximadamente 3.1 m. (b) 125 kg. (c) 800%. [24] Pelo modelo, o tempo de incubação de um ovo de um beija-flor é igual a 12.03 (0.2)0.127 ≈ 10 dias. [25] (a) G, (b) f , (c) F , (d) g. Texto composto em LATEX2e, HJB, 04/11/2016. 7