CENTRO DE FARMACOVIGILÂNCIA DO CEARÁ (CEFACE) INFORME Nº 120 SETEMBRO - 2014 EM FARMACOVIGILÂNCIA Varfarina e o aumento da rigidez aórtica em pacientes em hemodiálise Uso da varfarina A varfarina é um derivado cumarínico e anticoagulante que atua como antagonista da vitamina K, inibindo a síntese dos fatores de coagulação, sendo utilizado na profilaxia e tratamento, agudo ou crônico, de diversas doenças tromboembólicas e suas complicações. Foi disponibilizado para comercialização na segunda metade do século XX, reduzindo consideravelmente a mortalidade associada à fibrilação atrial, ao tromboembolismo arterial e venoso e às cardiomiopatias com fatores de risco para doenças tromboembólicas. Entretanto, esse medicamento possui um baixo índice terapêutico, ou seja, a dose terapêutica é próxima da dose tóxica, aumentando o risco de uma superdosagem. Os efeitos de uma superdosagem são: sangramento de gengivas, equimose, hematúria (sangue na urina), menorragia, hemartrose, hemorragia intracraniana, hemorragia retroperitoneal e hemorragia gastrointestinal. A monitorização laboratorial é realizada pelo Índice Internacional Normalizado (INR ou IIN). O INR é derivado do Tempo de Protrombina e é usado para padronizar mundialmente o resultado obtido durante o teste do tempo de protrombrina. O uso de anticoagulantes orais é avaliado somente pelo INR. A realização periódica do INR durante o tratamento com varfarina é fundamental para possibilitar ajustes de dose e prevenir eventos adversos. O INR desejado é definido para cada indicação específica, sendo a faixa terapêutica mais comum entre 2,0 e 3,0. Todas estas peculiaridades fazem da varfarina um medicamento com alta frequência de erros de medicação. Sobre a avaliação do risco A pesquisa foi realizada em um hospital de Quebec, em que 18 pacientes em hemodiálise faziam uso de varfarina (casos) e 54 pacientes em hemodiálise não faziam uso desse medicamento (controles). A varfarina foi utilizada porque problemas cardiovasculares são a principal causa de morte em pacientes com doença renal crônica. O risco de morte devido a problemas cardiovasculares em pacientes que fazem hemodiálise é de 10 a 20 vezes maior do que no resto da população. Os níveis de proteínas induzidas pela deficiência de vitamina K ou antagonistas (PIAVK- II) foram maiores nos pacientes que faziam uso de varfarina, um resultado já esperado. A proteína PIAVKII é considerada um dos métodos mais sensíveis para detectar a deficiência de vitamina K no organismo.Com base nos seus níveis a deficiência da vitamina K é observada em mais de 90% dos paciente com doença renal crônica. Em uma análise multivariada, o tratamento com varfarina foi um determinante significante da progressão da rigidez aórtica, após ajustes da proteína básica principal (MBP), tempo entre duas avaliações, idade, diabetes, doença cardiovascular arterosclerótica e diálise. No grupo de pacientes que faziam uso de varfarina, não foi encontrado nenhuma grande relação entre a duração da terapia com varfarina e a progressão da rigidez aórtica. Este estudo mostra, pela primeira vez, que o uso de varfarina nos pacientes em hemodiálise está associado a uma progressão acelerada da rigidez aórtica. Além disso, pacientes que receberam varfarina tiveram duas vezes o risco de mortalidade por todas as causas após o ajuste para fatores de risco de morte nesta população. A análise mostra que os pacientes com uma deficiência mais grave de vitamina K (maiores níveis de PIVKA II ) tinham um grau intermediário de progressão de rigidez aórtica e de mortalidade, em comparação com controles com menores níveis de PIVKA II e pacientes tratados com varfarina. No entanto, a associação entre o tratamento com varfarina e a rigidez arterial e suas consequências hemodinâmicas em seres humanos ainda não estão claras. As hipóteses geradas a partir desses resultados devem ser confirmadas em coortes maiores e o benefício cardiovascular da varfarina neste grupo de pacientes precisa urgentemente ser analisada em estudos randomizados. Outros estudos também são necessários para examinar os benefícios potenciais do tratamento com relação a deficiência de vitamina K nesta população. A partir dessas considerações o CEFACE solicita que, qualquer reação adversa observada, seja notificada, se possível, através da Ficha Amarela de Notificação de Reações Adversas ou pelos telefones 3366-8276 ou 3366-8293. Se você ainda não tem ficha de notificação, solicite-nos. E-mail: [email protected] As notificações também poderão ser feitas através do formulário de notificação de reações adversas e/ou queixas técnicas, disponível no endereço eletrônico: >>http://www.anvisa.gov.br/form/fármaco/index_prof.htm Referências: 1-http://www-micromedexsolutions com.ez11.periodicos .capes.gov.br /micromedex2 /librarian/N D_T/evidencexpert/ ND_PR/ evidencexpert/ CS/ 9F7D80/ND_AppProduct/evidencexpert/DUPLICATIONSHIELDSYNC/72AA91/ND_PG/evidencexpert/ND_B/evidencexpert/ND_P/evidencexpert/PFActionId/evidencexpert.DoIntegrat edSearch?SearchTerm=Warfarin; 2-http://ndt.oxfordjournals.org/content/early/2014/06/18/ndt.gfu224.full; 3-http:// www. Boletim ism p brasil. org/boletins/pdfs/boletim_ISMP_19.pdf. Responsável:Talita Oliveira dos Santos (acadêmica de Farmácia).Revisão:Mirian Parente Monteiro (Doutora em Farmacologia); Eudiana Vale Francelino (farmacêutica do CEFACE)