CENTRO DE FARMACOVIGILÂNCIA DO CEARÁ (CEFACE) INFORME 105 Janeiro, 2012 EM FARMACOVIGILÂNCIA Risco de eventos hemorrágicos com uso concomitante de Varfarina e Paracetamol A varfarina é um fármaco com uma margem terapêutica estreita e que exibe uma enorme variabilidade em termos de dose-resposta de indivíduo para indivíduo. Além disso, é alvo de numerosas interações alimentares e medicamentosas, que podem ser responsáveis pelo aumento do seu efeito anticoagulante podendo levar o paciente a quadros hemorrágicos e/ou fatais ou pela inibição da sua ação, colocando o paciente em risco de sofrer um evento trombótico. A sua eficácia já foi comprovada na prevenção primária do enfarte agudo do miocárdio (EAM), do tromboembolismo venoso, da embolia sistêmica e em doentes com próteses valvulares cardíacas, entre outros. A terapia com a varfarina é monitorizada pela medição do INR (International Normalized Ratio) que é uma medida normalizada em nível internacional para minimizar as variações nos valores do tempo de protrombina (PT) entre laboratórios diferentes. Em pacientes que usam varfarina, o paracetamol é o analgésico de escolha, pois os antiinflamatórios não hormonais interagem com a varfarina e aumentam o risco de sangramento. Porém, já tem sido observado que, em alguns relatos de caso, o uso concomitante de varfarina e paracetamol pode levar à ocorrência de eventos hemorrágicos importantes, resultando em hospitalização do indivíduo. Relato de caso Mulher, 81 anos recebia varfarina 4,0 a 4,5mg/dia após colocação de uma válvula aórtica protética. Seu INR permaneceu estável, aproximadamente 3,0 nos últimos seis meses (para pacientes que recebem varfarina, que também devem receber o paracetamol as medidas de INR devem ser realizadas 1-2 vezes / semana e o INR não deve exceder 4,0). A paciente tomou paracetamol 1g a cada 6 horas durante três dias para febre. Seu INR subiu para 16,39. Apresentou sangramento gastrointestinal, que foi o seu primeiro sangramento observado após o início do tratamento com a varfarina. A paciente recebeu vitamina k e plasma fresco congelado, ocorrendo redução do INR abaixo de 2,0. A mesma negou uso de outros medicamentos. Um dos mecanismos propostos para a interação é a inibição da CYPC2 (enzima hepática) pelo paracetamol. A CYPC2 é uma das enzimas que metaboliza a Rvarfarina e a S-varfarina (5 vezes mais potente que o isómero R). Também tem sido proposto que o polimorfismo genético de CYP2C9 (principal enzima que metaboliza a S-varfarina), que está presente em até 25% dos caucasianos, pode desempenhar um papel na variabilidade da resposta anticoagulante a varfarina, causando, portanto um ritmo mais lento na depuração da varfarina. Embora haja uma falta de resultados específicos, como sangramentos ou eventos tromboembólicos em muitos estudos prospectivos, a relação TP/INR elevado e a hemorragia como evento adverso já está bem estabelecida e não pode ser ignorada. È necessária a conscientização e educação dos pacientes em tratamento com varfarina quanto ao uso de outros medicamentos, principalmente o paracetamol que tem ampla disponibilidade (medicamento de venda livre). Esse grupo de pacientes deve ser acompanhado cuidadosamente, principalmente no caso dos idosos que têm suas funções fisiológicas diminuídas, como é o caso das alterações ocorridas em alguns parâmetros farmacocinéticos (metabolização e excreção). A partir dessas considerações o CEFACE solicita que, qualquer reação adversa observada, seja notificada, se possível, através da Ficha Amarela de Notificação de Reações Adversas ou pelos telefones 3366-8276 ou 3366-8293. Se você ainda não tem ficha de notificação, solicite-nos. E-mail: [email protected] As notificações também poderão ser feitas através do formulário de notificação de reações adversas e/ou queixas técnicas, disponível no endereço eletrônico: >>http://www.anvisa.gov.br/form/fármaco/index_prof. htm Fonte Bibliográfica: 1- Nuno Lima. Varfarina: uma revisão baseada na evidência das interações alimentares e medicamentosas. Rev Port Clin Geral 2008;24:475-82; 2- Leiria, T. L.L; Lúcia Campos Pellanda, L. C; Magalhães, E; Lima, G.G. Controle do tempo de Protrombina em Sangue Capilar e Venoso em Pacientes com Anticoagulação oral: Correlação e Concordância. Arq Bras Cardiol 2007; 89(1) : 1-5; 3- Gregory J. Hughes, Pharm.D;. Priti N. Patel, Pharm.D;. Neera Saxena, Pharm.D. Effect of Acetaminophen on International Normalized Ratio in Patients Receiving Warfarin Therapy Posted: 08/31/2011; Pharmacotherapy. 2011;31(6):591-597. © 2011 Pharmacotherapy Publications Responsáveis: Camila de Oliveira Nunes (Acadêmica de Farmácia); Eudiana Vale Francelino (farmacêutica do CEFACE); Revisão: Mírian Parente Monteiro (Doutora em Farmacologia).