ANÁLISE DE ALIMENTAÇÃO DE ADOLESCENTES UTILIZANDO PIRÂMIDES ALIMENTARES ADAPTADAS Raquel Cristina Serafin Menegazzo 1 - PMA e PMC Ligia Marcelino Krelling 2 - PMC Grupo de Trabalho - Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A alimentação é fundamental para a promoção da saúde, portanto é muito importante promover ações na escola que permitam ampliar as alternativas de fomentar a melhoria dos hábitos alimentares, possibilitando a construção de práticas alimentares saudáveis por intermédio de ações sistematizadas. A alimentação é importante para o funcionamento do organismo mas também é um processo cultural, as intervenções educativas precisam partir do conhecimento do consumo e dos hábitos dos envolvidos. É necessário compreender os significados que as pessoas atribuem aos seus hábitos alimentares. Nessa perspectiva observou-se durante a entrega do lanche escolar, que alunos, de uma escola municipal do campo, possuem hábito de ingerir alimentos de origem vegetal, como verduras, frutas e legumes, muitas vezes pedindo repetição. Visando analisar se estes hábitos são rotineiros, foram utilizadas pirâmides alimentares adaptadas. As famílias do campo, obtém seu sustento com a produção de alimentos de origem vegetal e animal, fato que contribui para a sua inclusão na alimentação diária. Com os dados obtidos foram construídas tabelas e gráficos utilizadas em análises com os alunos, objetivando incentivar este consumo. Nos relatos os alunos comentaram que sentem prazer em ingerir alimentos de origem vegetal. Porém, também foi possível perceber o consumo elevado de alimentos ricos em açúcares e gorduras (guloseimas), o qual não recebe atenção deles, pois acreditam que seu consumo é irrelevante. Os hábitos alimentares são instituídos no âmbito familiar, mas a escola desempenha um papel importante na conscientização e no repasse de informações relacionadas com os alimentos e a prevenção de doenças. Palavras-chave: Hábitos alimentares. Pirâmides alimentares. Adolescentes. 1 Mestre em Ciência e Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Ponta Grossa. Professora de Ciências da Prefeitura Municipal de Araucária, e Professora de Matemática da Prefeitura Municipal de Curitiba. E-mail: [email protected]. 2 Mestranda em Formação Científica, Educacional e Tecnológica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Curitiba. Professora de Ciências da Prefeitura Municipal de Curitiba. E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 10909 Introdução Durante a entrega do lanche dos alunos de uma Escola Municipal do campo, localizada no município de Araucária - Paraná, observou-se que a preferência deles era pelos cardápios que incluíam as frutas, verduras e legumes. Aproveitando o conteúdo programático da disciplina de Ciências do oitavo ano, alimentação, propôs-se uma investigação, utilizando pirâmides alimentares para esta constatação. Nas atividades do conteúdo foram abordadas diversas pirâmides alimentares, relacionadas com a cultura, faixa etária e grupos alimentares. A pirâmide utilizada para a atividade dos alunos foi adaptada, possuindo cinco níveis, onde eles exemplificaram, com desenhos, alimentos que fazem parte de sua dieta alimentar. Hábitos alimentares X alimentação saudável Para que a alimentação seja considerada saudável deve conter alimentos variados de origem animal e vegetal, observando a faixa etária, a quantidade ingerida e o número de refeições diárias (BRASIL, 2008). Os alimentos podem variar de acordo com a região e a época do ano. Muitas pessoas não percebem sua alimentação e acreditam que realizam uma alimentação saudável. Este fato pode estar relacionado com um item específico como: evitar lipídios, transgênicos, ou preferir orgânicos, light e diet. Estes fatores dificultam para que haja mudança do consumo alimentar dos indivíduos, pois a maioria acredita que utiliza alimentação adequada (TORAL et al, 2006). Sendo importante o tratamento do tema no âmbito escolar, visando a colaboração na conscientização e na adequação da alimentação saudável, contribuindo com os profissionais da saúde. Outro problema com a alimentação de adolescentes diz respeito com os alimentos industrializados que são preferência frente aos in natura (GAMBARDELLA, FRUTUOSO e FRANCH, 1999). Brasil (2008, p.53) alerta sobre a importância de consumir "frutas, verduras e legumes que são ricas em vitaminas, minerais e fibras e devem estar presentes diariamente nas refeições, pois contribuem para a proteção à saúde e diminuição do risco de ocorrência de várias doenças". Desta forma a importância de conscientização por parte dos profissionais da educação e da saúde, porque os adolescentes estão em formação e em contato com estes profissionais, mas a mudança de hábitos é responsabilidade da família. 10910 Desenvolvimento A atividade foi desenvolvida com 28 alunos de um oitavo ano, objetivando analisar o consumo de alimentos in natura em sua rotina. Sendo realizada em duas etapas. A primeira etapa os alunos organizados em equipes, que escolheram os grupos alimentares, para construir cartazes e apresentar para os colegas. Após, solicitou-se que cada aluno construísse uma pirâmide alimentar de acordo com os alimentos que costumam consumir. Cada equipe escolheu um grupo alimentar, e tiveram o prazo de uma semana para aprofundamento teórico e pesquisar imagens de alimentos para incluir no cartas. Foi determinada uma aula para a construção do cartaz, e posterior definidas três equipes para apresentar por aula. Figura 1 – Cartaz da equipe de vitamina C. Fonte: as autoras A equipe que apresentou sobre vitamina C (Figura 1) levou diversas frutas cítricas para degustação dos demais colegas. Fato que causou admiração pelos demais colegas, pois acharam a iniciativa criativa. Outra equipe apresentou sobre as fibras (Figura 2) destacando em sua apresentação a importância de ingeri-las. 10911 Figura 1 – Cartaz da equipe de fibras. Fonte: as autoras Esta equipe optou em desenhar as imagens que representam as fibras, mas apenas se detiveram nas frutas. Durante a explicação da equipe comentaram sobre os demais alimentos classificados como fibras, e a importante em incluí-los na alimentação. Após todas as apresentações das equipes, sobre os grupos alimentares foram realizadas atividades diversas em sala de aula sobre a importância da alimentação e as pirâmides alimentares. Pirâmides alimentares são representações gráficas que auxiliam a observação dos alimentos e da alimentação, buscando conscientização e mudanças de hábitos alimentares, proporcionando benefícios na saúde (PHILIPPI et al, 1999). Individualmente solicitou-se que os alunos organizassem uma pirâmide alimentar constando os principais alimentos de sua dieta alimentar. Para esta análise, adaptou-se a tabela alimentar em cinco níveis: na base da pirâmide, alimentos consumidos várias vezes ao dia; na segunda linha, consumidos uma vez ao dia; na terceira linha, uma vez por semana; na quarta linha, quinzenalmente; e no topo da pirâmide, alimentos que consome esporadicamente (Figura 3). Observou-se que as atividades serviram de complemento uma da outra, pois serviram de embasamento e aprofundamento teórico uma da outra. 10912 Figura 3 – pirâmide alimentar construída pelo aluno A24. Fonte: as autoras Os alunos foram enumerados de acordo com a entrega da atividade, aleatoriamente, de A1 à A28. De posse de todas as pirâmides alimentares, a professora construiu tabelas e gráficos para melhor visualização. Com os educandos foi analisada a dieta alimentar dos alunos da turma. Análises e Discussão dos resultados Foram construídas tabelas para todas as categorias solicitadas, e analisadas em conjunto com os alunos. Para melhor visualização neste trabalho, os dados serão analisado em forma de tabela (TABELA 1). Tabela 1 - Resultado das pirâmides alimentares UMA REFEIÇÃO POR DIA(segunda linha) UMA VEZ NA SEMANA (terceira linha) QUINZENALMENTE (quarta linha) Água 1 - - - - 1 04 Ovos 4 7 7 2 3 23 82 ESPORADICAMENTE (topo da pirâmide) TODAS AS REFEIÇÕES (base da pirâmide) ALIMENTO TOTAL % TOTAL ALUNOS 10913 Leite 12 7 2 1 2 23 82 Manteiga 0 0 2 0 0 2 08 Queijo 6 6 5 2 3 22 76 Frutas 13 15 7 2 3 28 100 Legumes 2 0 2 2 1 7 25 Verduras 10 1 3 3 5 22 76 Milho ou pipoca 4 4 11 11 1 28 100 Batata frita 2 5 11 2 1 21 75 Arroz 4 4 1 4 2 15 54 Feijão 14 6 0 3 1 24 86 Pães 15 5 1 0 0 21 75 Macarrão 9 8 3 1 2 23 82 Carne vermelha 11 7 2 2 1 23 82 Peixe 2 2 4 9 1 18 64 Frango 5 7 10 2 1 25 89 Carne de porco 0 1 1 0 0 2 08 Sorvete 1 1 11 4 1 18 64 Balas ou pirulito 4 4 2 0 1 11 39 Café 1 3 0 0 0 4 14 Refrigerante 8 6 9 1 1 25 89 Chocolates 4 9 7 1 2 23 82 Doces 0 2 2 0 0 4 14 Bolacha ou bolo 0 2 1 0 0 3 11 Salsicha 0 0 1 0 0 1 04 Suco 0 0 1 0 0 1 04 Pizza Fonte: as autoras 0 0 0 2 0 2 08 Foi possível analisar que as frutas são consumidas diariamente por todos os alunos (100%) e as verduras por onze alunos diariamente (39%). Quanto aos legumes dois alunos (7%) citaram, mas o feijão também faz parte das leguminosas, e foi citado por 20 alunos (71%). Os alunos comentaram que estes alimentos são produzidos em suas residências ou pela vizinhança, para consumo e fonte de renda. Aproveitou-se para abordar a importância dos alimentos orgânicos, e as diferenças entre os produzidos com técnicas convencionais. Antes de entregar a atividade os educandos haviam comentado que arroz e feijão são alimentos incluídos diariamente na dieta alimentar dos mesmos. O feijão e o arroz fazem parte das refeições dos brasileiros, e considerados alimentos completos em proteínas (BRASIL, 2008). Com a tabela é possível perceber que o feijão tem preferência ao arroz, na dieta destes alunos. 10914 O consumo diário de carboidratos aparece em grande proporção. Quanto ao consumo de carboidratos "alimentos como pães e massas, preferencialmente na forma integral; tubérculos como as batatas; raízes como a mandioca devem ser a mais importante fonte de energia e o principal componente da maioria das refeições" (BRASIL, 2008, p.47). A maioria dos alunos (20 - 71%) consomem pão diariamente, e 17 alunos (61%) consumem diariamente macarrão. Nesse item os alunos ficaram preocupados, pois perceberam que o excesso de carboidrato pode causar obesidade e outras doenças relacionadas. Outro fator observado diz respeito aos alimentos de origem animal, que também fazem parte da produção familiar. Dezenove alunos (70%) consumem leite diariamente, doze alunos (43%) queijos, e onze alunos (39%) consomem ovos. O consumo de carnes também é frequente entre estes alunos: carne vermelha (19 alunos - 68%), frango (12 alunos - 43%), peixe (02 alunos - 7%) e carne de porco, apenas um aluno (4%). Os alimentos de origem animal são constituídos por grande quantidade de proteínas: "leite e derivados, principais fontes de cálcio na alimentação, e carnes, aves, peixes e ovos fazem parte de uma alimentação nutritiva que contribui para a saúde e para o crescimento saudável" (BRASIL, 2008, p.67). Em contrapartida, os alimentos industrializados também fazem parte da rotina diária dos educandos. A porcentagem de guloseimas ingeridas diariamente é preocupante: refrigerante (14 alunos - 50%), chocolate (13 alunos - 46%), balas (8 alunos - 26%), bolachas e doces (2 alunos - 7%). Quanto ao consumo de doces e balas, diariamente, na escola, observa-se os educandos consumindo, balas em grande quantidade, mas nem todos incluíram na pirâmide. Questionados durante as análises em sala de aula, responderam que não consideraram este consumo importante. Brasil (2008) alerta quanto consumo de alimentos ricos em açúcares e gorduras, pois além de serem energéticos podem causar diversas doenças relacionadas com obesidade. Gambardella, Frutuoso e Franch (1999) corroboram com essa ideia e complementam que os adolescentes tendem a não prestar atenção em seus hábitos alimentares. No topo da pirâmide, os educandos incluíram os itens que consomem em pequena proporção, alguns destacaram o alimento que não gostam de consumir. Cinco alunos (18%) afirmam não gostar de verduras, três alunos (11%) não gostam de consumir uma fruta específica, queijos e ovos. Dos alimentos que devem ser evitados, dois alunos (7%) destacaram evitar chocolate, e um aluno (4%) evita refrigerante. No período em que estava sendo realizada esta atividade foram distribuídas na escola a Caderneta de Saúde do Adolescente (meninas e meninos) do Ministério da Saúde. Nela há 10915 espaços para diversas anotações, inclusive dados de altura e peso, para calcular o Índice de Massa Corporal - IMC. Aproveitando que o professor de Educação Física havia realizado medições deles, cada aluno completou em sua caderneta e analisou seu índice, para evitar constrangimentos. Para esta análise foram utilizados os dados de SILVA et al, (2012), para adolescentes brasileiros: 18 alunos (64%) estão com IMC ideal para sua faixa etária; um menino (4%) e duas meninas (7%) estão acima do peso ideal, e, abaixo do peso ideal, duas meninas (7%). Para uma aluna (4%) de inclusão, com 20 anos, por estar fora da faixa etária dos adolescentes, foram utilizados dados do Ministério da Saúde, e o seu resultado, estava abaixo do índice recomendado (ANJOS, VEIGA e CASTRO, 1998). E quatro alunos (14%) não participaram desta atividade. Desta forma foi possível comprovar que a maioria dos alunos, desta turma, estão com o seu IMC ideal, de acordo com sua faixa etária. Possivelmente, em razão de sua alimentação estar balanceada. Considerações Finais É importante ofertar aos adolescentes uma variedade de alimentos, para que eles desenvolvam o paladar e apreciem os alimentos, passando a consumi-los. O consumo de frutas, verduras e legumes dá-se quando cria-se o hábito quando criança ou mesmo adolescente. Os educandos do campo tem acesso aos vegetais, pois alguns são produzidos pela própria família, fator que também serve de incentivo para o consumo. Portanto, é de fundamental importância compreender o comportamento alimentar e relação do grupo com a alimentação, ter essa noção viabiliza a construção de intervenções alimentares mais eficazes, assim ao trabalharmos com a comunidade escolar consegue-se uma melhoria na qualidade de vida e saúde, com as práticas alimentares saudáveis. Destaca-se que estes educandos possuem hábito de consumir diariamente frutas, verduras e legumes, de acordo com a época do ano e a produção. Este fato também é observado na distribuição do lanche da escola, onde estes itens são incluídos no cardápio semanal pelo menos três vezes, e são bem aceitos pelos alunos. Além de que em conversas informais, eles comentam que consumem com prazer alimentos in natura, essas colocações sugerem que hábitos saudáveis propiciam a promoção da saúde. Pode-se então fazer intervenções que possibilitam à construção de autonomia dos educandos a partir da percepção sobre a necessidade de se apropriarem do cuidado com a própria alimentação para melhoria de suas condições de vida. Nesse contexto observa-se que 10916 o comportamento coletivo de consumirem frutas, verduras e outros alimentos saudáveis, também é um fator importante para a melhoria da qualidade da alimentação. Apesar dos alunos serem das séries finais, utilizar materiais manipuláveis e visuais facilita a análise deles. Sempre que necessário, olhavam os cartazes para complementar as atividades rotineiras em sala de aula. A equipe que levou os alimentos para a degustação, provou que a atividade prática fixa o conteúdo e torna a aula mais interessante, principalmente porque a iniciativa partiu dos alunos. Desta forma é função do professor propiciar momentos de autonomia para os educandos. Também é possível analisar quais as metodologias preferidas pelos educandos, podendo assim, o professor incluir em suas aulas futuras. REFERÊNCIAS ANJOS, L.A.; VEIGA, G.V.; CASTRO, I.R.R. Distribuição dos valores do índice de massa corporal da população brasileira até 25 anos. Revista Panamericana de Salud Publica [online]. vol 3, n 3, p. 164-173,1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. 2008. GAMBARDELLA, Ana Maria Dianezi. FRUTUOSO, Maria Fernanda Petroli. FRANCH, Claudia. Prática alimentar de adolescentes. Revista Nutrição. v. 12. n. 1. p. 5-19. 1999. PHILIPPI, Sonia Tucunduva. LATTERZA, Andrea Romero. CRUZ, Ana Teresa Rodrigues. RIBEIRO, Luciana Cisotto. Pirâmide alimentar adaptada: guia para escolha dos alimentos. Revista de nutrição. v. 12. n. 1. p. 65-80. 1999. SILVA, Diego Augusto Santos; PELEGRINI, Andreia; PETROSKI, Edio Luiz; GAYA, Adroaldo Cesar Araujo. Comparação do crescimento de crianças e adolescentes brasileiros com curvas de referência para crescimento físico: dados do Projeto Esporte Brasil. Archivos de Pediatría del Uruguay. p. 220-5. 2012; 83(3). TORAL, Natacha. SLATER, Betzabeth. CINTRA, Isa de Pádua. FISBERG, Mauro. Comportamento alimentar de adolescentes em relação ao consumo de frutas e verduras. Revista de Nutrição. Campinas, nº19, p.331-340, 2006.