Conecte Edição 06 Agosto/Setembro de 2009 Criado com o objetivo de ser um espaço para troca de experiências entre professores, o Encontro de Educadores chega à nona edição. Durante o recesso escolar de julho, 420 professores se reuniram em evento que discutiu aspectos contemporâneos da educação brasileira alberto augusto Astronauta | Marcos Pontes fala sobre educação Pgs. 06 e 07 02 Agosto/Setembro de 2009 Editorial Opinião a última edição do Encontro de Educadores, N O o tema da palestra de “A oportunidade de participar de oficinas gratuitas é muito bacana, além de ser inédita na região. A programação sempre é incrementada e a cada edição o Encontro supera as expectativas. Saimos daqui com muitas ideias que podemos adaptar para a sala de aula. Os relatos de experiências do N.E.I. também são muito bacanas e contribuem bastante.” Milena Franco, de Itu, é psicopedagoga e professora do 3º ano do Ensino Fundamental. Participa desde a primeira edição do Encontro. “É bem interessante essa oportunidade de ter novas aprendizagens. Aqui enriquecemos nosso conhecimento e tiramos várias ideias que depois podemos aplicar em sala de aula. Esse ano o tempo maior para cada oficina melhorou muito o aproveitamento.” Policial Rogério e Policial Lígia – PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência). Participam pela 5ª vez do Encontro de Educadores. “O Encontro fica a cada ano melhor e mais agradável. É um espaço em que podemos rever colegas e trocar experiências. Proporciona ao educador um momento para parar e refletir no que podemos fazer melhor em sala de aula. É enriquecedor, porque aborda a realidade do nosso dia-adia. E só a Fundação Romi disponibiliza isso gratuitamente à comunidade.” Alexsandro de Carvalho, professor de inglês de Ensino Médio e Ensino Fundamental I e II. Participante desde o 3º Encontro. EXPEDIENTE Conselho Editorial | Liu Fat Kam, Vainer Penatti, Antonio Carlos Angolini, Sueli Torres, Andréia Pinheiro e Elen Duarte Geraldo. Projeto gráfico e editorial | www.tantas.com.br Jornalista Responsável | Juliana Freitas (MTb. 31805). Textos | Alberto Augusto e Ana Paula Bürger. Impressão | www.graficamundo.com.br. Tiragem | 5.000 exemplares. FOTOS: SUELLEN C. DELEPRANI DA SILVA abertura foi a importância da avaliação das ações desenvolvidas no campo educacional. Todo projeto tem um objetivo, uma meta, e é preciso verificar se as ações desenvolvidas vão em direção ao objetivo, se estão, cada vez mais, se aproximando ou se distanciando dele, se existe algum procedimento a ser adotado para melhorar a sua eficácia. Nesse sentido, a elaboração de um sistema permanente e contínuo de indicadores para mensurar o impacto das atividades é fundamental, tanto em sua ação direta quanto, na medida do possível, em relação à comunidade mais ampla. Se não houver essa preocupação, trabalhase muito sem saber para que, investem-se milhões sem saber o retorno do investimento, as ações se perdem, as transformações não acontecem, fica o fazer por fazer, é a mesma coisa que não fazer nada. Por esse motivo é preciso que se busque um sistema claro, confiável e transparente de avaliação das atividades, de modo a permitir à comunidade conhecer e compreender os resultados dos projetos e os impactos alcançados. 9º Encontro de Educadores realizado pela Fundação Romi reuniu educadores e estudantes de Santa Bárbara d’Oeste e região, que aproveitaram para trocar experiências e discutir temas pertinentes à educação brasileira. Confira a opinião de alguns participantes sobre os Encontros: 03 Agosto/Setembro de 2009 Por uma avaliação mais justa Encontro de Educadores discutiu novas formas de avaliar a educação brasileira alberto augusto Sistemas de avaliação atuais Abertura do 9º Encontro de Educadores teve debate sobre sistemas de avaliação A palestra de abertura do 9º Encontro de Educadores, realizada no Anfiteatro da Prefeitura Municipal, promovida pela Fundação Romi no dia 14 de julho, colocou em debate um tema ainda pouco discutido entre gestores da educação, professores e estudiosos do assunto: os sistemas de avaliação e os indicadores de qualidade para o monitoramento das escolas. O tema foi abordado inicialmente pelo Professor Dr. José Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais, que defendeu um modelo conceitual para educação escolar. Soares argumentou que só existe qualidade da educação escolar onde os meios e os processos usados para a obtenção de seus diferentes resultados, entre os quais o aprendizado dos alunos, são monitorados continuamente. “Estamos passando por um momento de transição. Cada vez mais estamos aceitando a ideia de que a criança vá à escola para aprender e é legitimo que a sociedade diga ‘eu vou verificar se ela aprendeu’. À avaliação externa compete saber se a criança aprendeu ou não. Ela não tem a capacidade de dizer o porquê, isso é função da escola, do projeto dela. Hoje nós temos um sistema de acompanhamento, embora ainda existam reações”, explicou. Já o secretário de Educação de Santa Bárbara d’Oeste, Herb Carlini, defendeu a criação de um sistema municipal de avaliação anual de professores e alunos, além dos já existentes. Para ele, é fundamental que os resultados dessas avaliações sejam inseridos também no contexto pedagógico, gerencial e político e que permita apoiar as tomadas de decisões. “É preciso que tenhamos compreensão desse processo e que possamos entender a avaliação, não só como medição de resultados, mas como diagnóstico para replanejar as ações e cobrar resultados”. Num pronunciamento incisivo, a professora Eliane Cristóvão criticou os desencontros entre as redes estadual e federal com diferentes matrizes curriculares, o que pode influenciar no resultado final da avaliação. Um dos motivos apontados pela professora é a falta de diálogo entre os professores que conhecem a realidade das salas de aula e os dirigentes que conduzem políticas públicas voltadas à educação. “Nossa maior angústia não é apenas olhar os resultados, mas a de não ter voz para falar dos problemas enfrentados na sala de aula”, ressaltou. O tema avaliação no ensino é tanto antigo quanto polêmico. A afirmação é do professor José Marinho, que cita outros aspectos para serem analisados e que devem ser levados em consideração no contexto dos sistemas de avaliação como a rotatividade de alunos e professores, além das peculiaridades de cada cidade e região. Pelo visto, o debate sobre os sistemas de avaliação ainda nem começou. Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) | Criado em 2007 para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino, é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do Inep e em taxas de aprovação. Assim, para que o Ideb de uma escola ou rede cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita de ano e frequente a sala de aula. Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) | É um indicador de qualidade do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Na avaliação de qualidade das escolas consideramse dois critérios complementares: o desempenho dos alunos nos exames do Saresp e o fluxo escolar. O Idesp tem o papel de dialogar com a escola, fornecendo um diagnóstico de sua qualidade, apontando os pontos em que precisa melhorar e sinalizando sua evolução ano a ano. Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) | É aplicado pela Secretaria Estadual de Educação para avaliar o ensino básico da rede estadual. Em 2007 passou a utilizar metodologia dos exames nacionais do Saeb e Prova Brasil para comparar resultados. Prova Brasil e Saeb (Sistema Nacional de Avaliação Básica) | São avaliações para diagnóstico, em larga escala, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/Mec). O objetivo é de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos. 04 Agosto/Setembro de 2009 Educação em FOCO O 9º Encontro de Educadores contabilizou mais de 2000 participações nas diversas atividades alberto augusto Educadores de Santa Bárbara d’Oeste e região participaram do 9º Encontro de Educadores A nona edição do Encontro de Educadores, projeto criado pela Fundação Romi no Programa de Educação Integrada, reuniu mais de 420 educadores de Santa Bárbara d’Oeste e região, com mais de duas mil participações nas oficinas e palestras, superando as expectativas da organização. Voltado a professores de escolas públicas e estudantes de pedagogia, o Encontro deste ano trouxe como tema central “Educação de qualidade a todos os brasileiros: desafio ou utopia?”, levantando o debate sobre a situação da educação no país e a validade dos instrumentos de medição de qualidade utilizados pelo governo. A iniciativa agrada aos professores. “É um evento muito bem organizado com profissionais com- petentes, cuja programação vem ao encontro das necessidades dos educadores, contemplando problemáticas atuais da educação”, elogia Jussara Rossi, professora de Alfabetização e Recuperação Paralela na E.E. Prof. Inocêncio Maia, em Santa Bárbara d’Oeste. Participante desde a segunda edição do Encontro, Jussara afirma que a experiência tem colaborado muito para sua formação e procura aplicar os conhecimentos adquiridos com os alunos em sala de aula. A professora de artes Rose Helena Cheida, participante também há várias edições, concorda com a colega. “Esse espaço que a Fundação Romi está abrindo é maravilhoso. Somos sedentos de espaços assim, onde é possível a troca de ideias e a interação. Isso enriquece muito o trabalho do educador”, pontua. Desenvolvido inicialmente para trocas de experiências pedagógicas entre professores do Núcleo de Educação Integrada e a Rede Pública de Ensino de Santa Bárbara d’Oeste, o Encontro de Educadores foi aos poucos se transformando em um amplo fórum de debates sobre os mais variados aspectos ligados à educação. Ex-aluna do N.E.I., a psicopedagoga Janaina Giacobbe participou pela primeira vez do evento. “Achei excelente. É uma experiência muito positiva, na qual é possível adquirir novos aprendizados para depois levar para sala de aula. A Fundação Romi está de parabéns”, finaliza. 05 Agosto/Setembro de 2009 Dificuldades de aprendizagem A área de educação nem sempre é cercada por sucessos e aprovações. Muitas vezes, no decorrer do ensino, os educadores se deparam com problemas que deixam os alunos paralisados diante do processo de aprendizagem. Desta forma, a oficina “Dificuldades de Aprendizagem: uma proposta de intervenção” teve mais de 100 inscritos. A coordenação foi da fonoaudióloga e Mestre em Educação Giovana Monteiro, que falou sobre a necessidade dos professores em identificar alunos com dificuldade no aprendizado. “É importante que os professores conheçam as definições sobre dificuldades e distúrbios de aprendizagem e dislexia para que entendam as diferenças entre cada um e assim possam compreender o que está acontecendo com o seu aluno”, alberto augusto A fonoaudióloga Giovana propôs novos modelos de ensino explicou a fonoaudióloga. Além da parte teórica, a oficina também teve atividades práticas envolvendo esquema corporal, percepção auditiva, visual e tátil, memória, atenção e concentração. “Todas essas atividades são relevantes para o processo de alfabetização das crianças com dificuldades de aprendizagem, distúrbios e dislexia”, concluiu. Trabalhando a inclusão em sala de aula SILVIA BOARETTO DA SILVA A professora Kelli falou sobre estratégias de inclusão A questão da inclusão em sala de aula vem sendo muito debatida por profissionais da educação, por ser extremamente ampla e envolver valores e preconceitos já enraizados em nossa cultura. Na oficina “Estratégias de inclusão em sala de aula”, com a professora Kelli Cristina Faber, foram debatidas as estratégias que os educadores podem usar para atender as crianças com necessidades educativas especiais dentro das salas de aula regulares. Os principais pontos abordados foram as características de cada dificuldade e como o professor pode agir diante delas, como adaptar currículos, materiais e conteúdos. Muito além de resolver a problemática da inclusão em sala de aula, a oficina também levou a discussão do porquê da exclusão, como ela acontece e quais as medidas que os educadores podem ter em sala de aula para acabar com essa situação. “Hoje temos a inclusão de crianças com dificuldades de aprendizagem muito presentes em escolas públicas e particulares e a maior dificuldade é o professor saber como lidar com estas crianças, não apenas integrá-las às escolas, mas incluí-las no conteúdo e no processo de aprendizagem”, afirma a educadora, que participa como palestrante pela terceira vez do Encontro de Educadores. 06 Agosto/Setembro de 2009 DIVULGAÇÃO Estrela brasileira á 40 anos, o mundo todo assistiu ao norte-americano Neil Armstrong pisar na Lua, marcando uma era em que o homem superou limites inimagináveis e conquistou o cosmo. Há três anos, foi a vez do Brasil entrar para a história e ter um astronauta brasileiro no espaço. Em visita à Fundação Romi, onde realizou palestra para alunos da rede pública de ensino, Marcos Pontes concedeu entrevista para o Conecte. Conecte Quais são os pré- requisitos para ser astronauta? Marcos Pontes O candidato tem que ser formado na área de exatas ou biológicas, ter contato com o setor operacional, ou seja, ser copiloto ou fazer um curso de pilotagem, etc. Se ele tiver pósgraduação, mestrado ou doutorado, trabalhar na área espacial ou ter projetos nessa área, conta mais pontos. As características interpessoais do candidato são muito importantes, pois é preciso saber trabalhar com a ansiedade e com o estresse em situações de risco. Conecte Como é ser o primeiro astronauta brasileiro na NASA e como você conseguiu chegar lá? Pontes Eu comecei a minha carreira aos 14 anos como eletricista aprendiz. Meu pai era servente e minha mãe secretária escriturária da Rede Ferroviária Federal, então vivíamos numa situação econômica apertada. Mas, foi muito bom porque eu percebi que eu era capaz de fazer as coisas por mim mesmo, Todos os países que hoje em dia são considerados desenvolvidos basearam-se nesse tripé: educação, ciência e tecnologia. o que aumentou minha auto-estima. Eu entrei na Força Aérea, porque queria ser piloto. Fiz engenharia aeronáutica no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), fiz o mestrado em engenharia de sistemas e estava fazendo doutorado quando fui selecionado pela Agência Espacial Brasileira e fui para a NASA. De 2000 a 2005 fiz um curso avançado, preparando-me para o voo espa- cial. Fui o segundo a voar da minha turma. Se você quiser ter sucesso sustentável e satisfação, tem que se dedicar e isso leva tempo e esforço. Mas se você pensar nas coisas que faz como trabalho, isso se torna cansativo. Eu me divirto com as coisas que eu faço. Conecte Como foi sua aprovação para treinamento na NASA? Pontes Esse curso nos Estados Unidos da América reprova, você tem que ter mínimo de 85% de aproveitamento. Fui o primeiro da minha turma (32 pessoas, somente seis estrangeiros). Você tem que se dedicar dia e noite, o que é fácil quando você tem aquilo como perspectiva. Se você está olhando somente para a próxima linha, parece que as coisas não fazem sentido, mas quando você vê o futuro lá na frente, pensa: é isso que eu vou fazer. Conecte Quando olhou para a vastidão do espaço, o que lhe veio à mente? 07 Agosto/Setembro de 2009 Pontes Olhar para a Terra me fez pen- sar por uma perspectiva diferente, porque tudo que conhecemos, todo o nosso passado, todos os nossos sonhos realizados ou não, tudo está preso nessa superfície de planeta e, de repente, você está fora dessa superfície, do seu mundo, da sua vida. É estranho, como se você tivesse morrido e estivesse olhando lá de cima, e você começa a se questionar por que você existe, o que você significa, o que está fazendo aqui, qual a sua importância. Por isso, ter contato com jovens e com o futuro, através da educação, é uma das coisas que mais me satisfazem. Eu vejo isso como uma missão de vida. Conecte Em países da Europa e nos Estados Unidos o trabalho do astronauta tem mais reconhecimento do que no Brasil. Por que isso acontece? Pontes Eu acho que é uma questão de conhecimento, aos poucos as coisas estão acontecendo. O programa espacial brasileiro tem recursos, mas não tem desenvoltura para investimento nisso, e é um investimento pequeno perto de outros. O orçamento total para manter um programa espacial fica em torno de R$200 milhões. O programa espacial gera emprego e conhecimento através de ciência. Transformar isso em tecnologia que vai gerar produto, que vai gerar emprego, e assim por diante. E nessa cadeia está a educação para gerar profissionais e qualificar Este tipo de trabalho (da Fundação Romi) está formando o futuro do país e do mundo também. gente pra trabalhar, a ciência desenvolvendo conhecimento e a tecnologia desenvolvendo produtos que geram empregos. Então até isso tudo girar, demora um certo tempo. Todos os países que hoje em dia são considerados desenvolvidos se basearam nesse tripé: educação, ciência e tecnologia. Conecte Iniciativas como a da FR em promover debates e encontros com pessoas vencedoras motivam os estudantes e ajudam em suas escolhas? Pontes Eu acho sensacional esse tipo de trabalho, porque justamente é um trabalho aplicado para o futuro. Cada jovem desse que eu olho, vejo um gênio, cada um com sua habilidade e cabe a ele acreditar e desenvolver esse talento. Então quando há uma fundação que oferece estrutura para que esses jovens sejam descobertos, há uma maior possibilidade de ele mesmo se descobrir, aumen- tando a sua auto-estima, a sua capacidade de autoconhecimento e de liderança. Este tipo de trabalho está formando o futuro do país e do mundo também. Conecte A FR desenvolveu atividades para celebrar o Ano Internacional da Astronomia e despertar a curiosidade dos alunos sobre o tema. O senhor acredita que este tipo de iniciativa deveria ser inserida no calendário das escolas no Estado? Pontes Eu vejo o professor como um orientador, que pensa o que é necessário fazer pra chegar em termos de conhecimento nas matérias específicas. Mas eu vejo muito mais um professor como mediador, que tem o desafio de deixar com que o jovem descubra as necessidades e coloque seus desafios. O que mais incentiva a pessoa não é alguém chegar e dizer “Olha você precisa aprender equação do 2º grau”. Mas sim, o motivo disso. Conecte Qual sua mensagem para os estudantes? Pontes É possível. Guarde sempre essas duas palavras. Toda vez que você tiver alguma dúvida do que você é capaz de fazer na sua vida positivamente, depende de você. Depende de você encarar a necessidade de estudar, de se esforçar, trabalhar e olhar os desafios com coragem. VICENTE ARMENGOL 08 Agosto/Setembro de 2009 divulgação Por dentro dos muros da escola Cine Debate especial exibiu “Entre os muros da escola”, filme vencedor do Festival de Cannes 2008 Q ual o papel do educador e qual a importância da escola na sociedade contemporânea? O difícil papel de educar é o tema central do filme “Entre os muros da escola” (França, 2008), exibido na Estação Cultural no dia 16 de julho em um Cine Debate Especial. Pela primeira vez, o evento integrou a programação da nona edição do Encontro de Educadores, e trouxe a professora Dra. Luciene Tognetta para um debate sobre o tema central do filme. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado, o longametragem do cineasta francês Laurent Cantet é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau e aborda o diaa-dia de um grupo de professores e as situações e conflitos vividos em uma escola do subúrbio de Paris. O filme é envolvente não só por seu realismo gritante (todos no elenco são professores, alunos e pais também na vida real, embora não estejam interpretando a si mesmos), mas também pela forma como as subtramas se deli- neiam. Na história, o professor de francês François Marin tem de lidar não só com a falta de interesse dos alunos em sua disciplina, mas também com as diferenças sociais e culturais dentro das quatro paredes da sala de aula. A ficção com ares de documentário levantou a discussão da situação de trabalho dos educadores, que se identificaram com os relatos do filme. “O que mais chama a atenção é o retrato da escola como um lugar cheio de boas intenções, onde todos – professores e alunos – tentam acertar e muitas vezes erram nessa tentativa de acerto”, analisou Luciene. Professora do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Unicamp e pesquisadora da Unesp, Luciene atribui muitas das dificuldades apresentadas pelos educadores como a falta de conhecimento e formação profissional. “Os professores têm curso para dar aula de história, dar aula de matemática ou língua portuguesa, mas não existe uma formação que seja suficiente para entender o psicológico das crianças para saber intervir”, afirma a pesquisadora. Luciene também salientou o importante papel do educador na formação de indivíduos. “A maioria das famílias de hoje não tem estrutura para educar sozinhas os seus filhos. Daí o papel importante do educador e a grande tarefa da escola”, pontua. Outra importante questão abordada pelo filme é como estimular nos alunos o interesse em aprender. Luciene explica que a escola tem que aceitar que não está fora da sociedade, mas é um espelho do que acontece em casa. “Para educar é preciso olhar para o aluno como sujeito que pensa, e que erra buscando o acerto, como qualquer um de nós. É preciso que as crianças sintam interesse em aprender. A relação professor-aluno deve ser construída na base do respeito e da confiança. Assim, o professor se torna uma pessoa significativa e só uma pessoa significativa pode educar”, conclui.