1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA KELLY EMI HIRAI CARACTERIZAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA DO ANTÍGENO LEWIS Y (LeY) NA INFECÇÃO POR MYCOBACTERIUM LEPRAE. BELÉM-PARÁ 2011 2 KELLY EMI HIRAI CARACTERIZAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA DO ANTÍGENO LEWIS Y (LeY) NA INFECÇÃO POR MYCOBACTERIUM LEPRAE. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina. Orientadora: Profª Drª Tereza Cristina de Oliveira Corvelo BELÉM-PARÁ 2011 3 KELLY EMI HIRAI CARACTERIZAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA DO ANTÍGENO LEWIS Y (LeY) NA INFECÇÃO POR MYCOBACTERIUM LEPRAE. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina, aprovado com o conceito 10 (EXCELENTE). Banca Examinadora: ___________________________ Profª Drª Ermelinda do Rosário Moutinho da Cruz ICS-UFPa ___________________________ Profª M.Sc. Rosane do Socorro Pompeu de Loiola LACEN-Pará Belém (Pa), 02 de dezembro de 2011. BELÉM-PARÁ 2011 i 4 “Dificuldades e obstáculos são fontes valiosas de saúde e força para qualquer sociedade.” Albert Einstein ii 5 A Deus e a minha família. 6 iii AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus pela realização deste trabalho. Ao meu Pai Alberto, a minha Mãe Creuza e a minha Irmã Lêda por todo o apoio e incentivo que me deram nos momentos bons e ruins. A minha Orientadora Professora Doutora Tereza Cristina de Oliveira Corvelo pela sua dedicação e imensa contribuição para o desenvolvimento deste trabalho. A Professora Doutora Ermelinda Moutinho pela dedicação no auxílio da leitura das lâminas de imunohistoquímica para a composição dos resultados deste trabalho. A Mestre Rosane Loiola por todo conhecimento e atenção disponibilizados durante o estágio no Laboratório de Imunogenética. A Eny de Azevedo Valente pelo auxílio na realização da técnica de Imunohistoquímica utilizada para a obtenção dos resultados deste trabalho. Aos meus Professores por todo conhecimento repassado no decorrer da graduação. Ao Laboratório de Imunogenética, ao qual devo a maior parte dos conhecimentos práticos aprendidos durante esses dois anos nos quais fiz parte da equipe técnica. Aos meus colegas de classe que me acompanharam nessa jornada (César Fôro, Rodrigo Furtado, Darlen Carvalho, Sirlene Araújo, Adriane Silva, Kauê Santana, Luana Barbosa, Raquel Bouth, Daniela Rodrigues); e As demais pessoas que contribuíram de forma direta e/ou indireta para a concretização deste trabalho. Muito Obrigada! 7 iv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS................................................................................ 13 1.2. AGENTE ETIOLÓGICO ....................................................................................... 14 1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS DE HANSENÍASE............................................. 15 1.4. TRANSMISSÃO ................................................................................................... 17 1.5. EPIDEMIOLOGIA ................................................................................................. 17 1.6. RESPOSTA IMUNE ............................................................................................. 19 1.7. DIAGNÓSTICO .................................................................................................... 21 1.8. TRATAMENTO ..................................................................................................... 23 1.9. O ANTÍGENO LEWIS Y ....................................................................................... 24 2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 27 3. OBJETIVOS ......................................................................................................... 29 3.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 29 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................ 29 4. MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................... 30 4.1. CASUÍSTICA: ....................................................................................................... 30 4.2. DELINEAMENTO DO ESTUDO: .......................................................................... 30 8 v 4.3. ASPECTOS ÉTICOS: ........................................................................................... 30 4.4. INDICADORES DE POBREZA:............................................................................ 30 4.5. TAXA DE DETECÇÃO DA HANSENÍASE: .......................................................... 31 4.6. EXAME HISTOPATOLÓGICO: ............................................................................ 31 4.7. IMUNOHISTOQUÍMICA: ...................................................................................... 31 4.7.1. Detecção imunohistoquímica dos marcadores de predisposição genética a infecção pelo M. leprae: Lewis Y ................................................................................ 31 4.7.2. Controles da reação imunohistoquímica: ........................................................ 32 4.8. ANÁLISE DA REAÇÃO DE IMUNOHISTOQUÍMICA: .......................................... 32 4.9. ANÁLISE ESTATÍSTICA: ..................................................................................... 33 5. RESULTADOS ..................................................................................................... 34 5.1. EPIDEMIOLOGIA ................................................................................................. 34 5.2. CARACTERIZAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA DO ANTÍGENO DE GRUPO SANGUÍNEOS LEWIS Y EM BIOPSIAS DE PELE. ....................................................... 40 6. DISCUSSÃO ........................................................................................................ 45 6.1. EPIDEMIOLOGIA ................................................................................................. 45 6.2. IMUNOHISTOQUÍMICA ....................................................................................... 46 7. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 50 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 51 9 vi LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Espectro imunopatológico da hanseníase. Os campos representam cada um dos tipos histopatológicos da hanseníase na classificação de Ridley e Jopling (1966). Na parte superior as biópsias foram coradas com hematoxilina-eosina. Na parte inferior foi realizada a coloração de FITE-FARACO (1938)..................................................................................... 16 FIGURA 2: Taxas de prevalência da lepra, os dados notificados à OMS em Janeiro de 2009.................................................................................................... 18 FIGURA 3: Na forma TT, no padrão de resposta tipo 1, a IL-2 é um fator de crescimento autócrino para células T helper, que faz ativação de macrófago mediada pelo IFN-γ (imunidade mediada por célula). No padrão de resposta tipo 2, na forma LL, IL-4 é um fator de crescimento para células T supressoras estimulando a diferenciação de células B para produção de anticorpos (imunidade humoral): Na presença de IL-4, uma subclasse de célula TCD4+ (Th3) são ativadas para produção de TGF- β, potente fator supressor de macrófago. Citocinas de macrófagos são cruciais em cada padrão: no tipo 1, IL-12 é um poderoso estímulo para células T helper; no tipo 2, IL-10 suprime o próprio macrófago. Citocinas produzidas em um tipo de resposta podem mutuamente se inibir de um modo multifacetado, simplificado aqui por duas grandes setas....................................................................................................... 21 FIGURA 4: Distribuição dos casos de hanseníase pelas mesorregiões do Estado do Pará..................................................................................................... 36 FIGURA 5: Distribuição das formas de hanseníase de acordo com a Região do Estado do Pará................................................................................................ 37 10 vii FIGURA 6: Taxa de detecção de hanseníase segundo o PIB Per Capto de 2007 no Estado do Pará....................................................................................... 38 FIGURA 7: Redimento per capto das regiões do Estado do Pará ...................... 38 FIGURA 8: Padrão de reação para o antígeno Lewis Y com positividade heterogênea na epiderme. Método de imunohistoquímica com fosfatase alcalina. Coloração de fundo: Hematoxilina. Aumento 400X............................... 40 FIGURA 9: Padrão de reação para o antígeno Lewis Y com positividade nas glândulas sudoríparas, em células do endotélio vascular e em células inflamatórias da lesão. Método de imunohistoquímica com fosfatase alcalina. Coloração de fundo: Hematoxilina. Aumento 400X............................................ 41 Figura 10: Expressão de Lewis Y nas diferentes formas clínicas de hanseníase........................................................................................................... 44 11 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Antígenos de grupo sanguíneo.............................................................. 24 Tabela 2: Frequência dos tipos histológicos de Hanseníase apresentados pelas biópsias analisadas, correlacionadas com gênero e procedência dos pacientes............................................................................................................... 35 Tabela 3: Avaliação epidemiológica da Hanseníase segundo a localidade do Estado do Pará no período de 2000 a 2008........................................................... 39 Tabela 4: Expressão do antígeno Lewis Y em biópsias de pele de indivíduos hansênico distribuído em relação às formas clínicas............................................. 42 12 ix RESUMO Introdução: A hanseníase é uma infecção crônica causada pelo Mycobacterium leprae, que provoca lesões na pele e nos nervos periféricos. Este patógeno possui a capacidade de infectar grande número de indivíduos, mas poucos adoecem pela sua baixa patogenicidade, propriedade depende da sua relação com o hospedeiro e o grau de endemicidade do meio. Objetivo: Detectar por análise imunohistoquímica a expressão dos antígenos de grupos sanguíneos Ley, em biópsias de lesão de pele de indivíduos com infecção pelo M. leprae e associar os resultados com as diferentes formas clínicas da doença. Material e métodos: Foram analisadas 54 amostras de biópsias de pele com suspeita clínica de hanseníase, utilizando a coloração de HE no diagnóstico histopatológico e por imunohistoquímica a detecção da expressão do antígeno Ley. Resultados: Neste estudo, a forma mais prevalente foi a MHI (48%) e MHT (33%). A distribuição entre os gêneros (masculino e feminino) não foi significativa, embora, tenha sido observada uma maior proporção de homens afetados com a forma de hanseníase dimorfa tuberculóide. A expressão do antígeno Lewis Y foi detectada em 59% dos indivíduos, localizada de forma isolada e/ou combinada em diferentes áreas da epiderme, no endotélio vascular, histiócitos, linfócitos, células epitelióides e glândulas sudoríparas. A expressão deste antígeno não parece estar relacionada com as diferentes formas clínicas da doença, embora, tenha sido notada uma tendência significativa ao aumento do número de casos que expressavam o antígeno Lewis Y entre pacientes com a forma clínica dimorfa tuberculóide em relação aos tipos indeterminado e tuberculóide. As diferentes formas clínicas não estão relacionadas com as regiões geográficas do Estado do Pará. Por outro lado, a mesoregião nordeste apresentou maior concentração dos casos da doença (31%), incluindo as formas mais severas, MHDV e MHV. Foi evidenciada uma associação significativa entre o nível sócio econômico baixo e a taxa de detecção elevada da doença. Conclusão: Estes resultados indicam que o antígeno Ley deve ter participação ativa nos processos inflamatórios, funcionando como molécula de adesão induzindo ou mediando a adesão leucocitária ao endotélio vascular. A expressão do antígeno Ley concentrou-se preferencialmente nas células endoteliais, que parece corroborar os achados sobre os efeitos angiogênicos deste antígeno, que atua como agente quimiotático nos processos inflamatórios. Entretanto, mais estudos são necessários para esclarecer a contribuição deste antígeno nos mecanismos imunopatológicos das diversas formas clínicas da hanseníase. Palavras-chave: Hanseníase, Lewis y, Imunohistoquímica. 13 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS A hanseníase é uma infecção crônica causada pelo Mycobacterium leprae, patógeno intracelular obrigatório, que provoca lesões na pele e nos nervos periféricos. É uma doença que possui diagnóstico e tratamento bem estabelecido, entretanto, quando estes se iniciam tardiamente podem trazer graves consequências para os portadores e seus familiares, pelas lesões que deformam e incapacitam fisicamente o seu portador (MARTELLI et al., 2002; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002; ARAÚJO, 2003; WALKER & LOCKWOOD, 2006). Esta é uma doença bastante antiga, papiros da época de Ramsés II (4.300 a.C.) descrevem casos no Egito. Acredita-se que exércitos persas e romanos tenham espalhado a enfermidade pela Europa Oriental e a distribuição pela Europa feita por sarracenos e pelas cruzadas, já no ocidente, pelos espanhóis e portugueses (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1960), pois a cepa do Mycobacterium leprae responsável pela doença nas Américas é o uma variedade próxima a da Europa e do Norte da África, indicando que o colonialismo e a emigração do Velho Mundo contribuiram provavelmente para a introdução da hanseníase no Novo Mundo (MONOT et al., 2005). No Brasil, os primeiros casos foram relatados no Rio de Janeiro no ano de 1600, acredita-se que portugueses e escravos africanos doentes trouxeram a doença para o país; posteriormente ela se propagou para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Maranhão sendo considerada uma endemia no século XVII (OSUGUE et al., 2004). Entretanto, apenas em 1873 Gerhard Armauer Hansen, médico norueguês, descreveu pela primeira vez bastonetes encontrado em lesões lepromatosas, fato importante que contribuiu para as pesquisas na época, já que se acreditava que a 14 hanseníase era uma patologia hereditária (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1960; FOSS, 1999 e GOMES, 2000). 1.2. AGENTE ETIOLÓGICO Micobacterium leprae pertencente à classe Actinobacteria; subclasse Actinobacteridae; ordem Actinomicetalis; subordem Corynebacterineae; e família Mycobacteriaceae. É um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), pois se cora em vermelho pela fucsina e não se descora pelo álcool-ácido, possui aproximadamente 0,2 a 0,5 mícra de diâmetro e 1,5 a 8 micra de comprimento, podem ser encontrados em amostras de linfa ou biópsias, apresentando-se isolados ou formando conjuntos característicos chamados globias (REES, 1985). Possui membrana plasmática constituída por uma bicamada fosfolipídica com presença de glicolipídios peculiares como fosfatidilinositolmanosídios, a lipoarabinomanana e a lipomanana; e parede celular é rica em lipídios, principalmente os ácidos micólicos, o que lhes confere a propriedade álcool-ácido resistente, é na parede celular que se encontra o glicolipídio fenólico-I (PGL-I) envolvido na imunopatogenicidade da infecção por M. leprae, sendo responsável por induzir a produção de anticorpos IgM nos pacientes (HUNTER & BRENNAN, 1981). O genoma do M. leprae é composto por 3.268.203 pares de bases (pb), sendo que apenas 49,5% do genoma possui genes codificadores, o restante é formado por pseudogenes e sequências não codificantes (COLE et al, 2001). A grande quantidade de genes inativos pode relacionar-se a condição intracelular obrigatória do patógeno e com a sua incapacidade de crescer in vitro (BROSH, et al., 2000; BRITTON & LOCKWOOD, 2004). 15 1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS DE HANSENÍASE A classificação mais empregada na prática clínica para as formas intermediárias é a de Madrid (1953), ela baseia-se na clínica, bacteriologia, imunologia e histologia da hanseníase. Na clínica, o foco são os aspectos das lesões, onde se observam o número, o tamanho, características das margens e distribuição pelo corpo; na bacteriologia são analisadas a presença ou ausência de bacilos e suas características morfológicas (sua integridade e formação de globias). Na imunologia é observado a imunorreatividade a lepromina, também conhecida como reação de Mitsuda, sendo considerada positiva a presença de pápula com 5 mm de diâmetro, e na característica histológica são observados aspectos imunopatológicos das lesões (MADRID, 1953; LANGUILLON & CARAYON, 1986). Ridley e Jopling em 1966 propuseram uma classificação baseada nas diferenças presentes no grupo de pacientes com hanseníase, em conformidade aos achados imunológicos e histopatológicos, em hanseníase tuberculóide (TT), dimorfa ou indeterminada tuberculóide (DT), dimorfa dimorfa (DD), dimorfa lepromatosa (DL) e hanseníase lepromatosa ou virchowiana (LL). Pacientes com hanseníase tuberculóide (TT) apresentam uma efetiva resposta imune mediada por células e de hipersensibilidade tardia, possuem lesão com bordas bem delimitadas, hipopigmentação central e hipostesia. A análise histopatológica destes pacientes revela granulomas inflamatórios bem delimitados e com a presença de poucos bacilos na lesão (FIGURA 1). Já os pacientes enquadrados no outro pólo extremo, hanseníase lepromatosa (LL), apresentam um grande número de lesões nodulares mal delimitadas espalhadas por toda parte do corpo, na histopatologia são observados aglomerados de histiócitos, com apenas alguns linfócitos, e grande número de bacilos agregados formando as globias. No entanto, existem pacientes que se encontram nas formas dimorfas (DT, DD e DL), em que os achados histopatológicos não são bem definidos como nos pólos tuberculóide e lepromatoso, com amplo espectro de manifestações clínicas (SCOLLARD et al., 2006). 16 A forma clínica Dimorfa Tuberculóide caracteriza-se pela presença de lesões com raros bacilos e granulomas de células epitélioides focalizadas por zona periférica de linfócitos, com presença de células gigantes multinucleadas tipo Langhans e tipo corpo estranho. Enquanto que, a hanseniase Dimorfa Lepromatosa caracteriza-se por apresentar lesões infiltrativas de bordas difusas com grande número de bacilos, os granulomas são compostos por infiltrado linfocitário e macrófagos indiferenciados (FLEURY, 2000 citado por VENTURINI, 2008). FIGURA 1: Espectro imunopatológico da hanseníase. Os campos representam cada um dos tipos histopatológicos da hanseníase na classificação de Ridley e Jopling (1966). Na parte superior as biópsias foram coradas com hematoxilina-eosina. Na parte inferior foi realizada a coloração de FITE-FARACO (1938) (Retirado de SCOLLARD et al., 2006). 17 O Ministério da Saúde (2002) seguindo os critérios da Organização Mundial da Saúde classifica operacionalmente a hanseníase pelos sinais e sintomas apresentados pelo paciente em: paucibacilar, para aquele que apresenta até cinco lesões na pele; e multibacilar para o que possui mais de cinco lesões. Essa classificação é importante para que seja selecionado o sistema de tratamento poliquimioterápico adequado. 1.4. TRANSMISSÃO Admite-se que o homem seja reservatório natural do bacilo, apesar de existir relatos de animais selvagens como tatus e macacos naturalmente infectados (VISSCHEDIJK et al., 2000), sendo assim a transmissão da hanseníase dá-se através do convívio de pessoas susceptíveis com doentes portadores do M. leprae não tratados. A principal porta de entrada e eliminação do bacilo são as vias aéreas superiores, entretanto lesões na pele e mucosas também podem servir de entrada para o patógeno (TALHARI & NEVES, 1997; VAN BEERS et al., 1996). 1.5. EPIDEMIOLOGIA A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou em 2010 que o Brasil no ano de 2009 apresentou a maior taxa de prevalência de Hanseníase no mundo, com mais de dois casos a cada 10.000 habitantes (FIGURA 2). Segundo o Ministério da Saúde (2011), em 2009 foram detectados 37.610 novos casos de hanseníase no Brasil, o estado do Mato Grosso liderou apresentando um coeficiente de 89,48; o Pará ocupava a 5ª posição neste ranking com um coeficiente de 55,70. 18 FIGURA 2: Taxas de prevalência da lepra, os dados notificados à OMS em Janeiro de 2009 (OMS, 2010). Em Prudentópolis, Estado do Paraná, 35% dos pacientes com hanseníase encontravam-se na faixa etária economicamente ativa, de 31 a 45 anos, sendo que 63% dos casos apresentavam-se na forma multibacilar, com predominância da forma virchowiana, indicando um processo de intensa transmissão da doença (SANCHES et al., 2007). Penna et al. (2008) realizaram uma pesquisa em que analisaram aspectos clínicos e epidemiológicos de pacientes com hanseníase atendidos pelo Hospital Universitário de Brasília entre os anos de 1985 a 2005, onde observaram que a forma lepromatosa era a mais prevalente entre os casos, representando 42.9% do total. Batista et al. (2011) em seu estudo analisando pacientes diagnosticados com hanseníase no município de Campos dos Goytacazes (Rio de Janeiro) observaram que houve predomínio de casos em regiões com precárias condições socioeconômicas, 19 sendo que 50,8% dos pacientes pertenciam ao gênero feminino e as formas de maior prevalência eram a tuberculóide (49,6%) e dimorfa (21,3%). Já no município de Buriticupu, Estado do Maranhão, dos pacientes acometidos pela hanseníase 48,4% eram do gênero masculino e 51,6 % do feminino; e 50% do total apresentavam a forma clínica tuberculóide (SILVA et al., 2010). No ano de 1998, Amador (2004) selecionou municípios considerados endêmicos para a hanseníase (≥ 20 casos/10.000 hab), entre eles estavam: Curionópolis (43,72/10.000 hab.), Eldorado do Carajás (15,74/10.000 hab.), Rondon do Pará (43,00/10.000 hab.), Xinguara (26,77/10.000 hab.) e Dom Eliseu (61,37/10.000 hab.). 1.6. RESPOSTA IMUNE A resposta imune contra qualquer invasor engloba uma resposta imune inata, que possui como característica o mecanismo de defesa não especifico, apresentando ação geral sobre os microrganismos, independente de sua natureza, e uma resposta imune adaptativa que apresenta mecanismos específicos de defesa baseados no reconhecimento de antígenos específicos presentes no patógeno (MENDONÇA et al., 2008). As células do hospedeiro reconhecem padrões moleculares das micobactérias, por meio de receptores de reconhecimento de padrões (PRR). Os receptores Toll-like (TLRs) são exemplos desses tipos de receptores, eles são indispensáveis para o reconhecimento do patógeno pelas células dendríticas e pelos macrófagos durante a resposta imune inata (BRIGHTBILL et al., 1999). As lipoproteínas do M. leprae são capazes de ativar receptores TLRs, em especial o TLR-2, e iniciar a resposta protetora com a secreção de interleucina (IL) 1212 20 e 23 e com a diferenciação de macrófagos e células dendríticas (VERRECK et al., 2004; KRUTZIK et al., 2005). As células dendríticas apresentam antígenos e por meio da secreção de IL 12 causam a ativação de células T virgens (DEMANGEL & BRITTON, 2000), isso pode gerar a diferenciação e expansão de células Th1 que produzem interferon γ (IFN-γ) que estimula elementos da resposta imune a eliminar o patógeno, controlando a evolução da doença (BRIGHTBILL et al., 1999). A resposta imune adaptativa é mediada por receptores que se localizam na membrana dos linfócitos T e B, que reconhecem antígenos específicos, esta resposta é subdividida em resposta do tipo 1 (Th1) ou celular e resposta do tipo 2 (Th2) ou humoral. Os linfócitos auxiliares (CD4+) possuem capacidade de induzir resposta imune celular ou humoral dependendo dos tipos de citocinas secretadas proporcionando assim o desenvolvimento de respostas Th1 ou Th2 (MORAES et al., 2006). Células T que produzem e secretam IL-2, interleucina que estimula o crescimento de células T antígeno específicas, e IFN-γ que ativa macrófagos predispõem resposta tipo TH1, levando ao desenvolvimento de uma patologia mais branda ou até mesmo a cura (CHER & MOSMANN, 1987). Já células T que secretam IL-4 e IL-10 que estimulam células B a se diferenciarem em plasmócitos e secretarem anticorpos e inibem a ativação de macrófagos resultando em um avanço na infecção (FIGURA 3) (STEVENS et al., 1988; SIELING & MODLIN, 1994). 21 FIGURA 3: Na forma TT, no padrão de resposta tipo 1, a IL-2 é um fator de crescimento autócrino para células T helper, que faz ativação de macrófago mediada pelo IFN-γ (imunidade mediada por célula). No padrão de resposta tipo 2, na forma LL, IL-4 é um fator de crescimento para células T supressoras estimulando a diferenciação de células B para produção de anticorpos (imunidade humoral): Na presença de IL-4, uma subclasse de célula TCD4+ (Th3) são ativadas para produção de TGF- β, potente fator supressor de macrófago. Citocinas de macrófagos são cruciais em cada padrão: no tipo 1, IL-12 é um poderoso estímulo para células T helper; no tipo 2, IL-10 suprime o próprio macrófago. Citocinas produzidas em um tipo de resposta podem mutuamente se inibir de um modo multifacetado, simplificado aqui por duas grandes setas. (GOULART, 2002. Adaptado de GOULART, 1995 e MODLIN & BLOOM 1993). 1.7. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da hanseníase é realizado através da observação de alterações na sensibilidade da pele no local da lesão, espessamento dos nervos 22 periféricos, e visualização dos Mycobacterium em esfregaços (baciloscopia) de muco nasal, linfáticos e lesões cutâneas utilizando-se a coloração de Ziehl-Neelsen para identificar os índices bacilares do paciente. A histopatologia é utilizada como auxílio diagnóstico para confirmar as suspeitas clínicas e estabelecer o diagnóstico na classificação de Ridley e Jopling (CARDONA-CASTRO et al., 1998; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002; PAVANI et al., 2008). A pesquisa de anticorpos contra o M. leprae tem sido alvo de vários estudos, entre os exames que se destacam estão Enzyme Linked Immunosorbent Assay (ELISA) e teste rápido de fluxo lateral para Mycobacterium leprae (ML-Flow), ambos os ensaios buscam detectar a presença de imunoglobulinas contra o glicolipídio fenólico I (PGL-I), partícula antigênica específica do bacilo. Os estudos relatam que a positividade dos testes estão relacionados a carga bacilar do paciente. Nos pacientes pertencentes ao pólo lepromatoso verificou-se uma grande produção de imunoglobulinas tipo IgM com soropositividade de 80 a 100%, enquanto que os pertencentes ao pólo tuberculóide apresentaram níveis baixos de anticorpos com cerca de 30 a 60% de soropositividade (CHANTEAU et al.,1989; HUSSAIN et al., 1990; PARKASH et al., 2008). Entretanto, a detecção de anticorpos IgM anti-PGL-I não pode ser utilizada como um teste de diagnóstico, é necessário que sejam realizados outros exames como a avaliação do quadro clínico do paciente, baciloscopia e a histopatologia para se confirmar a doença. A detecção de anticorpos é particularmente útil no diagnóstico de hanseníase multibacilar, mas o nível de anticorpos em pacientes paucibacilares pode ser muito baixo ou indetectável (BÜHRER-SÉKULA, 2008). Por não ser um microorganismo cultivável in vitro, a identificação definitiva do M. leprae é bastante problemática, ensaios moleculares como a reação em cadeia da polimerase (PCR) tem sido utilizados para a detecção da bactéria em diferentes amostras provenientes de pacientes com hanseníase, como esfregaços das lesões na pele (KANG et al., 2003; Torres et al., 2003), biópsias de pele (HARTSKEERL et al., 1989; WILLIAMS et al., 1990), lesões de nervo (CHEMOUILLI et al., 1996). Além da sua 23 aplicabilidade na confirmação diagnóstica da infecção, esse ensaio também tem sido utilizado para a detecção de mutações, fornecendo resultados rápidos de suscetibilidade as drogas antimicrobianas em amostras obtidas diretamente do paciente (SCOLLARD et al., 2006). A PCR mostrou 100% de especificidade e sensibilidade de 34-80% em pacientes paucibacilares e 90% em pacientes multibacilares, sendo assim a PCR pode fornecer um complemento excelente para o diagnóstico clínico e histopatológico da hanseníase, entretanto, este ensaio ainda não é utilizado na rotina de diagnóstico laboratorial devido seus elevados custos (SCOLLARD et al., 2006). 1.8. TRATAMENTO O Ministério da Saúde (2002) adota o tratamento poliquimioterápico padronizado pela Organização Mundial de Saúde para o tratamento de pacientes com hanseníase. Este tratamento tem por finalidade matar o bacilo, inviabilizando assim a evolução da doença e prevenindo novas contaminações O tratamento é constituído pela associação dos medicamentos rifampicina, dapsona e clofazimina, a administração em conjunta dessas drogas evita que o bacilo adquira resistência, fato que ocorre frequentemente com a utilização de apenas um medicamento, dificultando assim a cura da doença (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Para os pacientes classificados com paucibacilares é administrado sob supervisão uma dose mensal de 600 mg de rifampicina (duas cápsulas contendo 300 mg cada), e uma dose de 100 mg de dapsona, além disso deve ser utilizadas doses diárias de dapsona, o tratamento possui supervisionadas de rifampicina. Nos casos duração de seis doses mensais de pacientes multibacilares são administradas doses mensais supervisionadas de rifampicina (duas cápsulas de 300 mg), clofazimina (três cápsulas de 100 mg) e dapsona (uma cápsula de 100), e doses 24 diárias de 50 mg de clofazimina e 100 mg de dapsona com duração média de doze doses mensais supervisiondas de rifampicina (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). 1.9. O ANTÍGENO LEWIS Y O antígeno de grupo sanguíneo Lewis Y (LeY) é um tetrassacarídeo difucosilado derivado da cadeia precursora de tipo 2, isômero posicional do antígeno de grupo sanguíneo Lewis b e um derivado fucosilado de Lewis X, sua diferença em relação ao antígeno Lewis X deve-se apenas a adição do resíduo terminal 1,2 fucose (YOUNG, et al. 1986) (Tabela 1). Tabela 1: Antígenos de grupo sanguíneo (Adaptado de YOUNG, et al. 1986). ANTÍGENO DETERMINANTE ANTIGÊNICO Cadeia do tipo 2 Lewis Y Lewis X Estudos mostraram que durante o período da embriogênese o antígeno Lewis y foi detectado no citotrofoblasto e em células endoteliais do vilo coriônico (MINAS et al., 2007), em tecidos do feto e em recém-nascidos (HELLER & THUNG, 1990; CANDELIER et al., 2000). Em adultos são expressos em precursores hematopoiéticos, células endoteliais vasculares, em superfícies epiteliais do trato 25 gastrointestinal como no esôfago, estômago, intestino grosso e delgado, algumas células exócrinas do pâncreas, e no epitélio ciliado da traquéia e dos brônquios (MOLLICONE et al., 1985; KITAMURA et al., 1994; KIM et al., 1986; CAO et al., 2001; HELLSTROM et al., 1990; ZHANG et al., 1997). Níveis elevados de Lewis y foram encontrados no acrossoma e estavam ausentes na membrana plasmática de espermatozóides saudáveis, já em espermatozóides defeituosos foi observado a expressão deste antígeno na membrana plasmática (PANG et al., 2007). A expressão elevada de Lewis y foi encontrada na maioria dos carcinomas, incluindo câncer de mama, ovário e de cólon, sendo que sua expressão está relacionada com o grau de severidade e progressão da doença (ARAI & NISHIDA, 2003; MADJD et al., 2005). Halloran et al. (2000) em sua pesquisa sugeriram que o antígeno Lewis Y possui importante contribuição no processo de angiogênese inflamatória, baseando-se na habilidade de um análogo de Lewis Y induzir a migração de células in vitro e promover o crescimento de vasos sanguíneos in vivo. A expressão e a regulação de Lewis Y na superfície de células endoteliais da microvasculatura dermal humana é determinado por citocinas, já que foi observada uma maior expressão deste antígeno em células estimuladas com exposição a Fator de Necrose Tumoral α (TNF-α) e por Interleucina 1β (IL-1β). Shi et al. (2008) observaram que a interação específica entre o domínio recombinante de trombomodulina (rTMD1) com o antígeno Lewis Y amplifica o mecanismo na modulação da resposta inflamatória mediada por LPS. Além disso, Nyström et al. (2007) observaram a expressão elevada (30-40%) de Lewis Y no citoplasma e na superfície de fibroblasto infectadas por Citomegalovirus, isso deve-se pelo fato deste vírus induzir a expressão de fucosiltrasnferase 1 (FUT 1), necessário para a expressão de LeY. A indução deste antígeno pode ser significativa para a disseminação do vírus e para o possível escape da resposta imune, já que provavelmente o antígeno LeY está envolvido na adesão de leucócitos polimorfonucleados, que possuem papel central na disseminação deste vírus. Assim 26 como, Wirth et al. (1996) relataram que 89% das H. pylori isoladas apresentavam determinantes Lewis expressos em seus lipopolissacarídeos, imitando glicoconjugados presentes na superfície de célululas humanas. Sugerindo que a grande expressão de LeX e LeY por cepas de H.pylori CagA1 positivas poderia contrabalançar sua maior atividade pró-inflamatória, facilitando assim a persistência da infecção. 27 2. JUSTIFICATIVA A infecção ativa pelo Mycobacterium leprae é caracterizada por uma grande diversidade no curso clínico da infecção, variando de uma doença paucibacilar na qual poucos bacilos estão presentes, a uma doença multibacilar, na qual uma grande carga bacilar está presente nas lesões. A hanseníase é uma doença típica de regiões pobres, nas quais o baixo nível sócio-econômico das famílias leva a um aglomerado humano, facilitando a propagação da bactéria. Somando-se a esta situação, temos ainda as baixas condições de higiene e desnutrição, que tornam o organismo mais suscetível às doenças (KERR-PONTES et al., 2006). No contexto biopsico-social, o comprometimento de nervos periféricos acarreta deformidades e incapacidades físicas que podem levar o indivíduo a problemas psicológicos, incluindo a redução de suas atividades laborais e de vida social, o que determinam que a doença ainda seja vista como estigma e preconceito. Desta forma, é importante que se determine o estágio e a forma da doença, a fim de que a pessoa possa ser tratada e deixe de ser um contactante, não havendo necessidade de isolamento social (KERR-PONTES et al., 2006; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). O M. leprae tem a capacidade de infectar grande número de indivíduos, mas poucos adoecem pela sua baixa patogenicidade, propriedade esta que não é função apenas de suas características intrínsecas, mas que depende, sobretudo, de sua relação com o hospedeiro e grau de endemicidade do meio. O domicílio é apontado como importantes espaços de transmissão de doença, embora ainda existam grandes lacunas de conhecimento quanto aos prováveis fatores de risco implicados, especialmente aqueles relacionados com o ambiente social (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Neste aspecto, torna-se fundamental avaliar as possíveis relações entre certos marcadores genéticos do hospedeiro, como os histoantígenos Lewis, estruturas 28 presente nas células epiteliais e secreções, envolvidos nos processos de comunicação e reconhecimento celular, provavelmente regulando também interações hospedeiropatógeno, posto que, durante os processos inflamatórios e de diferenciação, crescimento, reparo e sobrevivência celular, os antígenos fucosilados Lewis atuam na adesão celular e parecem exercer atividades angiogênicas e de migração celular, inerentes aos mecanismos de homeostasia e de defesa do hospedeiro. Neste sentido, vem sendo questionada a relação entre os diferentes níveis de suscetibilidade para certas infecções e a expressão destes histoantígenos de grupos sanguíneos no hospedeiro, que manifestam uma regulação diferencial em vários órgãos e tecidos do mesmo indivíduo, com possíveis implicações na interação dos agentes patogênicos. Portanto, a necessidade de investigar a distribuição deste antígeno Lewis Y em pacientes com M. leprae é primordial para aprofundar o limitado entendimento da patogênese da hanseníase. O valor de estudos genéticos de suscetibilidade ao M. leprae não só contribui para um melhor entendimento da biologia e patogênese da doença, mas também permite identificar populações de risco e promover estratégias de prevenção e controle epidemiológico no processo saúde-doença. 29 3. OBJETIVOS 3.1. OBJETIVO GERAL Analisar por imunohistoquímica, a expressão dos antígenos de grupos sanguíneos LeY em biópsias de lesão de pele de indivíduos com diagnóstico de infecção pelo M. leprae, provenientes do Estado do Pará, e associar a presença deste antígeno com os achados histopatológicos das diferentes formas clínicas da doença. 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Detectar por imunohistoquimica o antígeno de grupo sanguíneo Lewis Y em biópsias de lesão de pele dos casos com diagnóstico de hanseníase. Analisar a relação entre o espectro histopatológico das várias formas clínicas exibidas pelos indivíduos com hanseníase, com os achados imunohistoquímicos da expressão dos antígenos Lewis Y. Verificar a distribuição das formas de manifestações clínicas diferenciadas da doença, com as condições sócio-econômicas dos municípios investigados. 30 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1. CASUÍSTICA: Foram analisadas 54 amostras de biópsias de lesões de pele de pacientes com hanseníase, encaminhadas para o Serviço de Histopatologia do Laboratório Central do Estado do Pará (LACEN), no período de 2000 a 2008, para avaliação diagnóstica. 4.2. DELINEAMENTO DO ESTUDO: Trata-se de um estudo observacional descritivo, transversal e retrospectivo. 4.3. ASPECTOS ÉTICOS: O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências da Saúde da UFPA, protocolo nº 067/09, conforme rege a resolução 196/96, do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa. 4.4. INDICADORES DE POBREZA: As informações sobre os indicadores de desenvolvimento sócio-econômico das regiões do Estado do Pará avaliadas foram obtidas dos sites do IBGE e da UNESCO, que considerou o número de habitantes por município, o PIB per capta para o ano de 2007 e índice de desenvolvimento Humano estimado em 2000. 31 4.5. TAXA DE DETECÇÃO DA HANSENÍASE: Foi calculada de acordo com os critérios estabelecidos pelo Ministério da saúde que se baseia na razão entre o número de casos confirmados pelo número total de habitantes multiplicado por 10.000 hab, adotando assim a classificação das taxas de detecção de casos por 10 mil habitantes: baixa (menor que 0,2), média (0,2 a 0,9), alta (1,0 a 1,9), muito alta (2,0 a 3,9) e situação hiperendêmica (maior ou igual a 4,0). 4.6. EXAME HISTOPATOLÓGICO: Foram realizadas as colorações de rotina Hematoxilina-Eosina para diagnóstico histopatológico e classificação da Hanseníase de acordo com critérios de Ridley e Jopling (1966), além da coloração de FITE-FARACO (1938) para detecção do bacilo de Hansen nas biópsias de pele. 4.7. IMUNOHISTOQUÍMICA: 4.7.1. Detecção imunohistoquímica dos marcadores de predisposição genética a infecção pelo M. leprae: Lewis Y Os fragmentos de pele fixados em formalina foram processados, incluídos em blocos de parafina, cortados de forma serial com espessura de 4 a 5 µm e dispostos em lâminas silanizadas. Estes cortes foram submetidos à técnica de imunohistoquímica indireta (adaptada de Pedal, 1987; Pedal et. al., 1989) para detecção dos antígenos LeY. Inicialmente, as lâminas são aquecidas em estufa e desparafinizadas em xilol. Para detecção dos antígenos LeY as lâminas foram submetidas à hidratação em banhos de concentrações decrescentes de etanol e lavadas em tampões Tris/HCl 32 (pH 7.6), duas vezes, durante 5 minutos. Todos os cortes testados para o antígeno Lewis y foram incubados em tampão bloqueador (tampão Tris/HCl e albumina bovina em diluição de 1:20) e seguida pela incubação com anticorpos monoclonais primários LeY (1:50) diluído com solução bloqueadora. Após a incubação com este anticorpo foi realizada lavagem em tampão Tris/HCl e posteriormente foram incubadas com o anticorpo secundário anti-mouse (IgM) conjugado à fosfatase alcalina (diluição 1:50). A reação de revelação de cor foi realizada com o kit Histomark Red (KPL laboratories) durante 20-30 minutos, segundo a especificação do fabricante. Os cortes são lavados abundantemente em água destilada, coloridos com hematoxilina e desidratados em etanol e montadas com resina sintética e lamínula. 4.7.2. Controles da reação imunohistoquímica: Negativo: Os anticorpos primários e secundários foram substituídos por tampão Tris/HCl na reação. Positivo: Estruturas celulares internas conhecidas por expressarem os antígenos a serem investigados foram utilizadas como controle. 4.8. ANÁLISE DA REAÇÃO DE IMUNOHISTOQUÍMICA: O padrão de reação do antígeno Lewis Y na pele (epiderme, derme, incluindo endotélio vascular e glândulas) foi classificado segundo o tipo de coloração encontrada. Foram consideradas positivas as reações que coraram de forma homogênea toda a região analisada, enquanto foram agrupadas, em padrão de reação heterogênea, as que continham células com e sem coloração, além do padrão negativo, sem coloração. Esta expressão antigênica foi graduada de acordo com as proporções de células positivas versus a intensidade de reação, considerada fraca (1); moderada (2) e forte (3) adquirindo escore que variou de 0 a 300. A marcação com escore maior 33 ou igual a 270 foi considerada uniformemente positiva, as amostras que obtiveram escore maior que 30 e menor que 270 foram consideradas com redução de expressão e aquelas que ficaram com escore abaixo de 30 foram consideradas negativas. 4.9. ANÁLISE ESTATÍSTICA: Foram empregados testes estatísticos adequados como: teste G, regressão logística múltipla, teste binomial e teste de tendência, para avaliar as diferenças entre as proporções amostrais. O aplicativo de computador utilizado foi o Bio Estat versão 5.0 com significância estatística aceita ao nível de 95% (Ayres et al., 2007). 34 5. RESULTADOS 5.1. EPIDEMIOLOGIA Foram analisados 54 pacientes dos quais, 26 (48%) apresentaram hanseníase do tipo indeterminado (MHI), 18 (33%) tinham hanseníase tuberculóide (MHT), 6 (11%) com hanseníase dimorfa tuberculóide (MHDT), 2 (4%) com hanseníase dimorfa virchorviana (MHDV) e 2 (4%) apresentaram hanseníase virchoviana (MHV) (Tabela 2). A média de idade observada foi de 30 anos, variando de 06 meses a 74 anos. A distribuição entre os gêneros de uma maneira geral, não mostrou um predomínio entre o gênero masculino e o feminino, ou vice versa (Tabela 2). Embora, tenha sido observada uma maior proporção de homens afetados com a forma de hanseníase dimorfa tuberculóide (Teste Binomial, Z = 2,3094, p = 0,0209). 35 Tabela 2: Frequência dos tipos histológicos de Hanseníase apresentados pelas biópsias analisadas, correlacionadas com gênero e procedência dos pacientes. TIPOS HISTOLÓGICOS Frequências Gênero Procedência (Mesorregião) MHI MHT MHDT MHDV MHV TOTAL Absoluta 26 18 6 2 2 54 Relativa (%) 0,48 0,33 0,11 0,04 0,04 1 Masculino 10 10 5 1 0 26 Feminino 16 8 1 1 2 28 Belém 8 3 1 0 0 12 Marajó 5 4 1 0 0 10 Nordeste 7 5 1 2 2 17 Sudeste 0 3 0 0 0 3 Sudoeste 6 3 3 0 0 12 O estudo demonstrou que a hanseníase tem uma distribuição geográfica heterogênea no estado do Pará, existindo áreas com baixa prevalência, permeadas por aquelas de grandes concentrações de casos (Tabela 2). Os municípios da região Nordeste do estado do Pará detêm 31% dos casos detectados nesta amostra (FIGURA 4). 36 FIGURA 4: Distribuição dos casos de hanseníase pelas mesorregiões do Estado do Pará. De um modo geral, uma associação entre região geográfica e as formas de hanseníase não foi evidenciada (Teste G (Williams) = 13,2979; p = 0,6509) (FIGURA 5), contudo é importante salientar que como a mesoregião nordeste foi a que apresentou maior concentração dos casos da doença, as formas mais severas, de menor prevalência, foram detectadas nesta região, que detém todos os casos de MHDV e os de MHV (Tabela 2). 37 FIGURA 5: Distribuição das formas de hanseníase de acordo com a Região do Estado do Pará. Em relação às condições sócio econômicas das populações, este estudo evidenciou uma associação altamente significativa (Teste G (Williams) = 32,6869; p < 0,0001) entre a baixa renda salarial e a taxa de detecção elevada da doença (FIGURA 6), concentradas principalmente na região Nordeste, Sudoeste e Marajó (FIGURA 7). Uma agregação da doença foi mais evidentes nos municípios de Igarapé-Miri, Portel e Altamira (Tabela 3) que apresentam um dos mais baixos PIB per capita do Estado. O Índice de Desenvolvimento Humano estimado para o ano de 2000 para a maioria das cidades avaliadas neste estudo atingiu um médio desenvolvimento, perdendo somente para o Capital, que atingiu um índice alto (Tabela 3). 38 FIGURA 6: Taxa de detecção de hanseníase segundo o PIB Per Capto de 2007 no Estado do Pará. FIGURA 7: Redimento per capto das regiões do Estado do Pará. 39 Tabela 3: Avaliação epidemiológica da Hanseníase segundo a localidade do Estado do Pará no período de 2000 a 2008. Taxa de Mesorregião Microrregião Município Casos População Detecção/10000 hab Região Metropolitana Marajó IDH Renda 5 1437600 0.03 Baixa Alto >1 Barcarena 7 92567 0.76 Média Médio >1 Portel 10 48945 2.04 Muito Alta Médio <1 Abaetetuba 1 139819 0.07 Baixa Médio <1 Cametá 1 117099 0.09 Baixa Médio <1 Igarapé-Miri 12 57003 2.11 Muito Alta Médio <1 Ajurú 1 24967 0.40 Média Médio <1 Guamá Ourém 1 15841 0.63 Média Médio <1 Salgado Salinópolis 1 39184 0.26 Média Médio <1 Paragominas 1 97350 0.10 Baixa Médio >1 Rondon do Pará 1 47772 0.21 Média Médio <1 Portel Nordeste Limoeiro do Paragominas Sudoeste epidemiológica Belém Belém Cametá Sudeste Avaliação São Félix do São Félix do Xingu Xingu 1 57003 0.18 Baixa Médio <1 Itaituba Novo Progresso 1 21504 0.47 Média Médio >1 Altamira Altamira 11 98750 1.11 Alta Médio <1 40 5.2. CARACTERIZAÇÃO IMUNOHISTOQUÍMICA DO ANTÍGENO DE GRUPO SANGUÍNEOS LEWIS Y EM BIOPSIAS DE PELE. O antígeno Lewis Y (LeY) foi detectado em 59% (32/54) dos indivíduos com hanseníase. Este antígeno foi localizado de forma isolada e/ou combinada em diferentes áreas da epiderme (FIGURA 8), no endotélio vascular, histiócitos, linfócitos, células epitelióides, glândulas sudoríparas (FIGURA 9), enquanto sua expressão nos neutrófilos e nervo foi detectada em um frequência muito baixa. FIGURA 8: Padrão de reação para o antígeno Lewis Y com positividade heterogênea na epiderme (seta fina). Método de imunohistoquímica com fosfatase alcalina. Coloração de fundo: Hematoxilina. Aumento 400X. 41 FIGURA 9: Padrão de reação para o antígeno Lewis Y com positividade nas glândulas sudoríparas (seta fina), em células do endotélio vascular (seta grossa) e em células inflamatórias da lesão ( ). Método de imunohistoquímica com fosfatase alcalina. Coloração de fundo: Hematoxilina. Aumento 400X. 42 A tabela 4 lista a frequência de positividade de coloração para o antígeno Y Le de acordo com a ocorrência nas diferentes estruturas histológicas da pele nos diferentes espectros das formas clínicas analisadas. Tabela 4: Expressão do antígeno Lewis Y em biópsias de pele de indivíduos hansênicos distribuída em relação às formas clínicas. Reatividade do antígeno Lewis Y MHI MHT MHV MHDT MHDV N=26(%) N=18(%) N=2 (%) N=6 (%) N=2 (%) Estruturas histológicas Epiderme Superficial/Granulosa 8 (31) 8 (44) 1 (50) 1 (17) 1 (50) Malpighi/Basal 8 (31) 9 (50) 1 (50) 2 (33) 2 (100) Histiócitos 9 (35) 9 (50) 1 (50) 3 (50) 2 (100) Endotélio Vascular 15 (58) 10 (56) 1 (50) 5 (83) 1 (50) Linfócitos 8 (31) 8 (44) 0 (0) 3 (50) 2 (100) Células epitelióides 1 (4) 6 (33) 0 (0) 1 (17) 2 (100) Glândulas sudoríparas 7 (27) 6 (33) 2 (100) 3 (50) 0 (0) Neutrófilos 2 (8) 1 (6) 0 (0) 2 (33) 0 (0) Nervos 3 (12) 0 (0) 0 (0) 1 (17) 0 (0) No grupo controle, constituído de pele normal de indivíduos sadios, o anticorpo usado para Lewis Y não marcou nenhuma destas estruturas histológicas. Quanto ao padrão de reação, observou-se uma variação na intensidade da marcação, que foi classificado como homogêneo, caracterizado por apresentar uma forte reatividade (+++) e com distribuição histológica uniforme; heterogênea 43 quando o padrão de reação variava apresentado áreas com forte marcação e outras estruturas com reatividade fraca (++/+). O padrão homogêneo de reatividade frequentemente estava associado com a severidade das lesões inflamatórias, sendo que, a marcação mais intensa e homogênea para o antígeno LeY ocorreu com elevada frequência em células de áreas com maior grau de alteração histológica, enquanto nas áreas com aparência normal não foi encontrada qualquer reatividade. Em nível celular, a reação imunohistoquímica apresentou uma tendência para a marcação citoplasmática, contudo frequentemente também predominava a coexistência de coloração na membrana e citoplasma ou marcação apical da membrana citoplasmática em algumas áreas, visível particularmente, em estruturas glandulares. Neste estudo, a atividade antigênica Lewis Y detectada nos espécimes de biópsia (sem considerar a localização específica por estrutura histológica) não demonstrou dependência com as várias formas clínicas da doença (Teste G(williams) = 1,6247; p = 0,8043), entretanto, a partir desta relação, foi notada uma tendência significativa (Teste de tendência, A = 13,9597, X2 = 33,7005, p < 0,0001) ao aumento do número de casos que expressavam o antígeno Lewis Y entre os pacientes com a forma clínica dimorfa tuberculóide em relação aqueles que apresentavam as formas clínicas e imunológicas mais estáveis, os tipos indeterminado e tuberculóide (FIGURA 10). 44 FIGURA 10: Expressão de Lewis Y nas diferentes formas clínicas de hanseníase. As formas lepromatosas e dimorfa lepromatosa foram excluídas desta análise comparativa, devido à escassez do número de casos disponíveis, que impossibilitou os testes estatísticos. Assim, o número de casos com atividade antigênica Lewis Y, não permitiu um perfil diferenciado entre as formas mais graves, pólo lepromatoso, e as formas mais estáveis da doença. Além disso, não foi evidenciada uma associação estatisticamente significativa, através da análise de regressão logística múltipla, entre a presença deste antígeno no endotélio vascular (59,26%) com as variáveis de gênero, idade, procedência e condições sócio-econômicas. Merece ressaltar que o antígeno Lewis Y estava expresso na maior proporção dos casos nas células endoteliais, seguida pela marcação dos histiócitos e linfócitos. 45 6. DISCUSSÃO 6.1. EPIDEMIOLOGIA A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa com espectro de formas clínicas e que apesar de efetivos regimes de tratamento e programas de controle, continua a ser a principal causa de neuropatias periféricas, levando a incapacidade física e social quanto mais tardia for seu diagnóstico e tratamento. O Pará é um dos estados do Brasil com maior prevalência, assim medidas urgentes precisam ser tomadas para minimizar a expansão da doença. A principal fonte de infecção é o homem tendo como provável porta de entrada as vias aéreas superiores. Em áreas endêmicas, o ciclo de transmissão da doença pode ser favorecido por locais de péssimas condições de saneamento básico e de higiene, uma vez que, o M. leprae pode ser viável por meses no ambiente (MATSUOKA et al, 1999; DESIKAN & SREEVATSA, 1995), assim o bacilo teria maior probabilidade de estabelecer uma infecção no hospedeiro suscetível, o que manteria ou mesmo aumentaria a incidência da doença na região. Provavelmente, a agregação da doença em alguns municípios como Igarapé-Miri, Portel e Altamira (Tabela 3) associa-se com as precárias condições de vida das populações e a acessibilidade aos serviços, cuja dificuldade atinge os mais carentes. Esta averiguação é semelhante ao descrito para outras localidades do Brasil (AQUINO et al, 2003; SAHO, 1998). O ambiente não apenas possibilita como determina a ocorrência de endemias e sua distribuição. Logo, o acesso do paciente e sua integração com os serviços primários de saúde são imprescindíveis e precisam ser aprimorados, permitindo um melhor monitoramento e controle da infecção. O estudo mostrou que a incidência da hanseníase apresentou taxas similares entre homens e mulheres, com maior prevalência entre aqueles com idade 46 acima de 15 anos, o que está de acordo com outros dados descritos na literatura (BARBIERI & MARQUES, 2009; IMBIRIBA et al., 2009). 6.2. IMUNOHISTOQUÍMICA Gliconjugados (glicoproteínas/glicolipideos) são conhecidos por constituir a base química de vários sistemas de grupo sanguíneo no homem e desempenham importantes funções nos mecanismos imunes e na interação célula-célula, assim como ligantes microbianos, embora ainda não esteja clara a sua relação direta com nenhuma destas funções (HOLGERSSON et al., 1992; FEIZI, 2000 e LEE et al., 2002). O antígeno de grupo sanguíneo Lewis Y é um tetrassacarídeo difucosilado (Fucα1→2Galβ1→3[Fucα1→4] GlcNAcβ1→R), encontrados em glicolipídeos com cadeias oligossacarídicas do tipo 2, portanto um isômero posicional do antígeno Leb e um derivado fucosilado do antígeno Lex, que exercem funções nos processos de adesão e motilidade celular, atuando no tráfico de leucócitos e resposta inflamatória (HAKOMORI, 1991; KUIJPERS,1993; HENRY et al., 1995). Assim, o antígeno Lewis Y é identificado como um antígeno carboidrático oncofetal relacionado a ontogênese (MIYAKE et al., 1988), apoptose celular (HIRAISHI, et al., 1993; YAMADA et al.,1996) e câncer humano (MIYAKE et al., 1992; YIN et al., 1996; TANAKA et al., 1998). Este determinante LeY é expresso principalmente nas membranas de células endoteliais e em algumas células epiteliais, mas pode está também presente em células circulantes do sistema hematopoiético (KITAMUTA et al., 1994; MADAMANCHI et al., 2001) e ainda em certas circunstâncias patológicas este antígeno também aparece em células da linhagem linfóide, por exemplo nos linfócitos infectados com o vírus HIV (ADACHI et al., 1988). 47 No presente estudo, este antígeno LeY mostrou reatividade em áreas histológicas com lesões inflamatórias da pele de indivíduos com infecções hansênicas, contudo encontrava-se negativamente regulado nas biopsias de pele de indivíduos normais do grupo controle. De forma similar, nos também observamos expressão seletiva deste antígeno LeY restrita a estas áreas lesionadas e, contrariamente, sem expressão nas outras áreas não inflamadas de espécimes de pele do mesmo indivíduo com doença hansênica. Estes resultados sugerem que o antígeno LeY deve ter participação ativa nos processos inflamatórios, funcionando como molécula de adesão e/ou na forma solúvel, é capaz de induzir a expressão dessas moléculas, pois estudos prévios (MALY et al., 1996; HALLORAN et al., 2000; ZHU et al., 2003) mencionam a importância na inflamação desta propriedade antigênica LeY em induzir adesão leucocitária ao endotélio vascular. O Lewis Y é um antígeno citocina induzível, mediada em condições inflamatórias por inteleucina 1β e TNF-α, que pode regular sua expressão nas células endoteliais. Sob estas circunstâncias este antígenos se ligaria a um receptor desconhecido, talvez um receptor tipo lectina C, a exemplo da trombomodulina (CD141), identificado como receptor para Lewis Y (SHI et al., 2008), presentes nas células endoteliais microvasculares dermais, que por ativação da via da sinalização JAK-2/STATE3 intensificaria a transcrição de genes da molécula ICAM -1, que diretamente promoveria o recrutamento de células inflamatórias com o ligante CD11a/CD18 (LFA-1) na superfície destas células (PORTER & HOGG 1997; ZHU et al., 2003). Por outro lado, reforçando as observações acima, nossos resultados demonstraram que a expressão do antígeno LeY localizou-se preferencialmente nas células endoteliais, e ainda particularmente em histiócitos e linfócitos das biópsias pele de pacientes hansênicos. Estas observações não surpreenderam, visto que estes tipos de células apresentam uma intensa atividade durante a resposta imune inata. Deste modo, estes dados acima mencionados corroboram os achados da literatura sobre os efeitos angiogênicos do antígeno LeY, visto que em estudo prévio de Halloran et al. (2000) com experimentos in vitro mostraram que o antígeno LeY solúvel seria quimiotático para as células endoteliais microvasculares da derme 48 humana e induz neo-vascularização do tecido inflamado, cuja a resposta in vivo foi similar aquela de outros potentes fatores angiogênicos, como o do fator de crescimento endotelial vascular e o de crescimento fibroblástico básico. Portanto, segundo estes autores a família de moléculas tipo antígeno Lewis incluindo LeY e H e seus ligantes, a exemplo de E-selectina no caso de Sialil-Lewis X, regulariam a angiogênese via mimetismo estrutural. O presente estudo tentou avaliar a inter-relação de suscetibilidade genética inerente a resposta imunológica do hospedeiro, usando, como marcador a expressão imunohistoquímica do antígeno Lewis Y, com as diferenças histopatológicas das lesões cutâneas, caracterizadas nas várias formas clínicas da doença. Contudo, neste estudo esta relação não pode ser elucidada, em decorrência das limitações metodológicas quanto à representatividade amostral entre as formas clínicas da doença. O patógeno M. leprae infecta pelo menos dois tipos de células, macrófagos e células de Schwann, ambas contribuído para a patogênese desta doença. Recentemente, Teles et al. (2010) concluíram que os mecanismos de interação patógeno-hospedeiro em lesões de nervo periférico na hanseníase dependem da expressão do receptor tipo lectina C, conhecido como CD 209 ou DCSIGN (molécula de adesão intercelular 3 especifica de células dendrítica). Este representaria o mecanismo comum pelos quais macrófagos e células de Schwann ligam e fagocitam o M. leprae, resultando em destruição do invasor e também em inflamação de nervos periféricos, que é a causa principal de morbidade do paciente hansênico. O reconhecimento do M. leprae pelo CD209 é mediado pela interação com resíduos específicos de manose (MAN-LAM) presente na parede celular desta bactéria (GEIJTENBEEK et al., 2003; GRINGHUIS et al., 2007). Assim, a regulação da expressão de CD 209 em células de Schwann, células endoteliais e macrófagos teciduais podem afetar a indução da resposta imune. Este receptor CD 209 ou DCSIGN demonstra uma elevada afinidade por antígenos de grupo sanguíneo Lewis que contém resíduos de fucose (LeX, LeY, Lea e Leb). Portanto, DC-SIGN através do 49 antígeno LeY expresso em ICAM-2 leva a adesão e o rolamento de células dendríticas no endotélio vascular (GUO et al., 2004; APPELMELK et al., 2003; SVAJGER et al., 2010). Como acima mencionado, este receptor CD209 além de ligar-se a antígenos estranhos também interagem com grande número de ligantes endógenos, particularmente ICAM-2 nas células endoteliais e ICAM-3 em linfócitos T contribuindo para a migração transendotelial de células dendríticas (GEIJTENBEEK et al., 2000a; GEIJTENBEEK et al., 2000b; SVAJGER et al., 2010). De acordo com van Kooyk et al. (2003), revisado em Svajger et al. (2010), a ligação de DC-SIGN por diferentes patógenos, a exemplo do M. leprae, pode levar a infecções crônicas, manipulando o balanço de trocas da resposta imune Th1 versus Th2, que é crucial para a virulência e persistência destes patógenos no hospedeiro. 50 7. CONCLUSÃO Neste estudo, notou-se uma maior prevalência das formas clínicas MHI (48%) e MHT (33%). Foi observada uma porcentagem maior de casos registrados na região Nordeste do Pará (31%). Evidenciou-se associação entre a baixa renda salarial e a taxa de detecção elevada da doença (p<0,0001). O antígeno Lewis Y estava expresso principalmente nas células endoteliais, seguido pela marcação dos histiócitos e linfócitos. Entretanto, a atividade antigênica Lewis Y não demonstrou dependência com as várias formas clínicas da doença (p= 0,8043). Foi notada uma tendência significativa (p<0,0001) ao aumento do número de casos que expressavam o antígeno Lewis Y entre os pacientes com a forma clínica dimorfa tuberculóide. 51 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADACHI, M., HAYAMI, M., KASHIWAGI, N., MIZUTA, T., OHTA, Y., GILL, M. J., MATHESON, D. S., TAMAOKI, T., SHIOZAWA, C., HAKOMORI, S. I. Expression of LeY antigen in human immunodeficiency virus-infected human T cell lines and in peripheral lymphocytes of patients wirh acquired immune deficiency syndrome (AIDS) and AIDS-related complex (ARC) J. Exp. Med.167,323-331, 1988. AMADOR, Maria do Perpétuo Socorro Corrêa. Soroprevalência para hanseníase em áreas endêmicas do Estado do Pará. Dissertação de Mestrado. Belém- Pará. Universidade Federal do Pará, 2004.126p. APPELMELK BJ, VAN DIE I, VAN VLIET SJ, VANDENBROUCKE-GRAULS CM, GEIJTENBEEK TB, VAN KOOYK Y. Cutting edge: carbohydrate profiling identifies new pathogens that interact with dendritic cell-specific ICAM-3grabbing nonintegrin on dendritic cells. J Immunol.170(4):1635-9, 2003. AQUINO, Dorlene Maria Cardoso de; CALDAS, Arlene de Jesus Mendes; SILVA, Antônio Augusto Moura da and COSTA, Jackson Maurício Lopes. Perfil dos pacientes com hanseníase em área hiperendêmica da Amazônia do Maranhão, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., vol.36, n.1, 2003. ARAI Y & NISHIDA M. Differential diagnosis between normal endometrium and endometrial hyperplasia with immunostaining cytology using anti-LeY monoclonal antibody. Int J Gynecol Cancer 13: 42-46, 2003. ARAUJO, Marcelo Grossi. Hanseníase no Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 36, n. 3, June 2003. AYRES, M. AYRES, M. J. AYRES, D. L. & SANTOS, A. S. Bioestat 5.0 – Aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Sociedade Civil Mamirauá MCT-CNPq, 2007. BARBIERI, C. L. A., MARQUES, H. H. S. Hanseníase em crianças e adolescentes: revisão bibliográfica e situação atual no Brasil. PEDIATRIA (SÃO PAULO); 31(4):281-90, 2009. BATISTA, E. S. Perfil sócio-demográfico e clínico-epidemiológico dos pacientes diagnosticados com hanseníase em Campos dos Goytacazes, RJ. Rev Bras Clin Med. São Paulo, mar-abr; 9 (2): 101-6, 2011. BRIGHTBILL HD, LIBRATY DH, KRUTZIK SR, YANG RB, BELISLE JT, BLEHARSKI JR, et al. Host defense mechanisms triggered by microbial lipoproteins through toll-like receptors. Science. 285:732-6, 1999. BRITTON JW & LOCKWOOD DNJ. Leprosy. The Lancet. 363:1209-19, 2004. 52 BROSH R, GORDON SV, PYM A, EIGLMEIER K, GARNIER Y, COLE ST. Comparative genomics of the micobactéria. Int. J. Med. Microbiol. 290:143-52, 2000. BÜHRER-SÉKULA, Samira. Sorologia PGL-I na hanseníase. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 41(Suplemento II): 3-5, 2008. CANDELIER JJ, MOLLICONE R, MENNESSON B, COULLIN P, ORIOL R. Expression of fucosyltransferases in skin, conjunctiva, and cornea during human development. Histochem Cell Biol 114: 113–124, 2000. CAO Y, MERLING A, KARSTEN U, SCHWARTZ-ALBIEZ R. The fucosylated histoblood group antigens H type 2 (blood group O, CD173) and Lewis Y (CD174) are expressed on CD34+ hematopoietic progenitors but absent on mature lymphocytes. Glycobiology 11: 677–683, 2001. CARDONA-CASTRO, Nora; ORTEGA-RODRÍGUEZ, Gustavo; AGUDELO-FLÓREZ, Piedad. Evaluation of Three Mycobacterium leprae Monoclonal Antibodies in Mucus and Lymph Samples from Ziehl- Neelsen Stain Negative Leprosy Patients and their Household Contacts in an Indian Community. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 93(4): 487-490, Jul./Aug. 1998. CHANTEAU S, PLICHART R, BOUTIN JP, ROUX J, CARTEL JL. Finger-prick blood collection and computer-assisted enzyme-linked immunosorbent assay for large-scale serological studies on leprosy.Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 83: 414-416, 1989. CHEMOUILLI, P.; WOODS, S.; SAID, G. AND COLE, S. T. Detection of Mycobacterium leprae in nerve lesions by the polymerase chain reaction. Int. J. Lepr. Other Mycobact. Dis. 64:1–5, 1996. CHER DJ & MOSMANN TR. Two types of murine helper T cell clone. II. Delayedtype hypersensitivity is mediated by Th1 clones. Journal of Immunology 138:3688-3694, 1987. COLE ST, EIGLMEIER K, PARKHILL J, JAMES KD, THOMSON NR, WHEELER P R, HONORÉ N,GARNIER T, CHURCHER C, HARRIS D, MUNGALL K, BASHAM D, BROWN D, CHILLINGWORTH T, CONNOR R, DAVIES RM, DEVLIN K, DUTHOY S, FELTWELL T, FRASER A, HAMLIN N, HOLROYD S, HORRNSBY T, JAGELS K, LACROIX C, MACLEAN J, MOULE S, MURPHY L, OLIVER K, QUAIL MA, RAJANDREAM MA, RUTHERFORD KM, RUTTER S, SEEGER K, SIMON S, SIMMONDS M, SKELTON J, SQUARES R, SQUARES S, STEVENS K, TAYLOR K, WHITEHEAD S, WOODWARD JR & BARREL BG. Massive gene decay in the leprosy bacillus. Nature. 409:1007-11, 2001. DEMANGEL C, BRITTON WJ. Interaction of dendritic cells with mycobacteria: where the action starts. Immunol Cell Biol. 78:318–24, 2000. 53 DESIKAN, K. V.; SREEVATSA. Extended studies on the viability of Mycobacterium leprae outside the human body. Lepr. Rev., v. 66, p.287, 1995. FEIZI T. Progress in deciphering the information content of the 'glycome'--a crescendo in the closing years of the millennium. Glycoconj J. 17(7-9):553-65, 2000. FLEURY, RN. Patologia e Manifestações Viscerais. In: Opromolla DVA, editor. Noções de Hansenologia. Bauru: Centro de Estudos Dr Reynaldo Quagliato. Instituto Lauro de Souza Lima. 2 ed. p.63-71, 2000. FOSS, N. T. Hanseníase: aspectos clínicos, imunológicos e terapêuticos. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 74, n. 2, p. 113-19, 1999. GEIJTENBEEK TB, TORENSMA R, VAN VLIET SJ, VAN DUIJNHOVEN GC, ADEMA GJ, VAN KOOYK Y, FIGDOR CG. Identification of DC-SIGN, a novel dendritic cell-specific ICAM-3 receptor that supports primary immune responses. Cell.100(5):575-85., 2000a. GEIJTENBEEK TB, KWON DS, TORENSMA R, VAN VLIET SJ, VAN DUIJNHOVEN GC, MIDDEL J, CORNELISSEN IL, NOTTET HS, KEWALRAMANI VN, LITTMAN DR, FIGDOR CG, VAN KOOYK Y. DC-SIGN, a dendritic cell-specific HIV-1-binding protein that enhances trans-infection of T cells. Cell.100(5):58797, 2000b. GEIJTENBEEK, T. B., S. J. VAN VLIET, E. A. KOPPEL, M. SANCHEZHERNANDEZ, C. M. VANDENBROUCKE-GRAULS, B. APPELMELK, AND Y. VAN KOOYK. Mycobacteria target DC-SIGN to suppress dendritic cell function. J. Exp. Med. 197:7–17, 2003. GOMES, A. C. B. O processo de Armauer Hansen. Jornal do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul, p.13, fev. 2000. GOULART IMB. Detecção de TGF-b1 em lesões cutâneas de diferentes formas clínicas de hanseníase. Tese de Mestrado. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, 1995. GOULART, I.M.B.; PENNA, G.O.; CUNHA, G. Imunopatologia da Hanseníase: a complexidade dos mecanismos da resposta imune do hospedeiro ao Mycobacterium leprae. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 35(4): 365-375, jul-ago, 2002. GRINGHUIS, S. I., J. DEN DUNNEN, M. LITJENS, H. B. VAN HET, K. Y. VAN, AND T. B. GEIJTENBEEK. C-type lectin DC-SIGN modulates Toll-like receptor signaling via Raf-1 kinase-dependent acetylation of transcription factor NF-kB. Immunity. 26:605–616, 2007. 54 GUO Y, FEINBERG H, CONROY E, MITCHELL DA, ALVAREZ R, BLIXT O, TAYLOR ME, WEIS WI, DRICKAMER K. Structural basis for distinct ligandbinding and targeting properties of the receptors DC-SIGN and DC-SIGNR. Nat Struct Mol Biol. 11(7):591-8. Epub 2004. HAKOMORI S. Possible functions of tumor-associated carbohydrate antigens. Curr Opin Immunol. 3(5):646-53. Review, 1991. HALLORAN MM, CARLEY WW, POLVERINI PJ, HASKELL CJ, PHAN S, ANDERSON BJ, WOODS JM, CAMPBELL PL, VOLIN MV, BÄCKER AE, KOCH AE. Ley/H: an endothelial-selective, cytokine-inducible, angiogenic mediator. J Immunol. 164(9):4868-77, 2000. HARTSKEERL, R. A.; DE WIT, M. Y. and KLATSER, P. R. Polymerase chain reaction for the detection of Mycobacterium leprae. J. Gen. Microbiol. 135:2357–2364, 1989. HELLER DS & THUNG SN. Expression of Lewis(x) and Lewis(y) blood group related antigens in fetal livers. Pediatr Pathol 10: 681–687, 1990. HELLSTROM, I., GARRIGUES, H. J., GARRIGUES, U., AND HELLSTROM, K. E. HIGHLY tumorreactive, internalizing, mouse monoclonal antibodies to Leyrelated cell surface antigens. Cancer Res., 50: 2183–2190, 1990. HENRY S, ORIOL R, SAMUELSSON B. Lewis histo-blood group system and associated secretory phenotypes. Vox Sang. 69(3):166-82. Review, 1995. HIRAISHI, K., SUZUKI, K., HAKOMORI, S., ADACHI, M. LeY antigen expression is correlated with apoptosis (programmed cell death) Glycobiology 3,381-390, 1993. HOLGERSSON J, BREIMER ME, SAMUELSSON BE. Basic biochemistry of cell surface carbohydrates and aspects of the tissue distribution of histo-blood group ABH and related glycosphingolipids. APMIS Suppl. 27:18-27. Review, 1992. HUNTER SW & BRENNAN PJ. A novel phenolic glycolipid from Mycobacterium leprae possibly involved in immunogenicity and pathogenicity. J. Bacteriol. 147: 728-35, 1981. HUSSAIN R, JAMIL S, KIFAYET A, FIRDAUSI F, DOCKRELL HM, LUCAS S, HASAN R. Quantitation of IgM antibodies to the M. leprae synthetic disaccharide can predict early bacterial multiplication in leprosy. International Journal of Leprosy and Other Mycrobacteriology Diseases 58: 491-502, 1990. IMBIRIBA, Elsia Belo et al . Hanseníase em populações indígenas do Amazonas, Brasil: um estudo epidemiológico nos municípios de Autazes, Eirunepé e São 55 Gabriel da Cachoeira (2000 a 2005). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 5, May 2009. KANG, T. J.; KIM, S. K.; LEE, S. B.; CHAE, G. T. AND KIM, J. P.Comparison of two different PCR amplification products (the 18-kDa protein gene vs. RLEP repetitive sequence) in the diagnosis of Mycobacterium leprae. Clin. Exp. Dermatol. 28:420–424, 2003. KERR-PONTES LRS, BARRETO ML, EVANGELISTA CMN, RODRIGUES LC, HEUKELBACH J, FELDMEIER H. Socioeconomic, environmental, and behavioural risk factors for leprosy in North-east Brazil: results of a case-control study. International Journal of Epidemiology 35:994-1000, 2006. KIM YS, YUAN M, ITZKOWITZ SH, SUN QB, KAIZU T, et al. Expression of LeY and extended LeY blood group-related antigens in human malignant, premalignant, and nonmalignant colonic tissues. Cancer Res 46: 5985–5992, 1986. KITAMURA K, STOCKERT E, GARIN-CHESA P,WELT S, LLOYD KO, et al. Specificity analysis of blood group Lewis-y (Le(y)) antibodies generated against synthetic and natural Le(y) determinants. Proc Natl Acad Sci USA 91: 12957– 12961, 1994. KRUTZIK SR, TAN B, LI H, OCHOA MT, LIU PT, SHARFSTEIN SE, et al. TLR activation triggers the rapid differentiation of monocytes into macrophages and dendritic cells. Nat Med. 11:653-60, 2005. KUIJPERS, T. W. Terminal glycosyltransferase activity: a selective role in cell adhesion. Blood 81:873, 1993. LANGUILLON, J & CARAYON, A. Lésions cutanées. In: Précis de léprologie, 2o ed, MASSON, Paris, p. 62-101,1986. LEE SJ, EVERS S, ROEDER D, PARLOW AF, RISTELI J, RISTELI L, LEE YC, FEIZI T, LANGEN H, NUSSENZWEIG MC. Mannose receptor-mediated regulation of serum glycoprotein homeostasis. Science 295(5561):1898-901, 2002. MADJD Z, PARSONS T, WATSON NF, SPENDLOVE I, ELLIS I and DURRANT LG. High expression of Lewis y/b antigens is associated with decreased survival in lymph node negative breast carcinomas. Breast Cancer Res 7: R780-R787, 2005. MADRID. Classification. Technical Resolutions, VIth International Congress Leprol. Madrid, 1953. Int J Lepr; 21: 504-16, 1953. MADAMANCHI NR, LI S, PATTERSON C, RUNGE MS. Thrombin regulates vascular smooth muscle cell growth and heat shock proteins via the JAK-STAT pathway. J Biol Chem. 276(22):18915-24, 2001. 56 MALY, P., A. THALL, B. PETRYNIAK, et al. The a(1,3)fucosyltransferase Fuc-TVII controls leukocyte trafficking through an essential role in L-, E-, and Pselectin ligand biosynthesis. Cell 86:643, 1996. MARTELLI, Celina Maria Turchi et al . Endemias e epidemias brasileiras, desafios e perspectivas de investigação científica: hanseníase. Rev. bras. epidemiol. São Paulo, v. 5, n. 3, Dec. 2002. MATSUOKA, M.; IZUMI, S.; BUDIAWAN, T.; NAKATA, N.; SAEKI, K. Mycobacterium leprae DNA in daily using water as a possible source of leprosy infection. Indian. J. Lepr. v. 71, n. 1, p. 61-67, 1999. MENDONÇA, Vanessa Amaral; COSTA, Rosane Dias; MELO, Gustavo Eustáquio Brito Alvim de; ANTUNES, Carlos Maurício; TEIXEIRA, Antonio Lúcio. Imunologia da hanseníase. An. bras. dermatol; 83(4):343-350, jul.-ago, 2008. MINAS, Vassilis; MYLONAS, Ioannis; ·SCHIESSL, Barbara; · MAYR, Doris; · SCHULZE, Sandra; FRIESE, Klaus; ·JESCHKE, Udo; · MAKRIGIANNAKIS, Antonis. Expression of the blood-group-related antigens Sialyl Lewis a, Sialyl Lewis x and Lewis y in term placentas of normal, preeclampsia, IUGR- and HELLP-complicated pregnancies. Histochem Cell Biol 128:55–63, 2007. Ministério da Saúde. Manual de Leprologia. Rio de Janeiro, 1ª edição, 1960. Ministério da Saúde. Guia para controle da Hanseníase. Brasília, 3ª edição, 2002. Ministério da Saúde. Política Nacional de Controle da Hanseníase. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1466, acessado em 18 de Janeiro de 2011. MIYAKE, M., ZENITA, K., TANAKA, O., OKADA, Y., KANNAGI, R. Stage-specific expression of SSEA-1 related antigens in the developing lung of human embryos and its relation to the distribution of these antigens in lung cancers. Cancer Res 48,7150-7158, 1988. MIYAKE, M., T. TAKI, S. HITOMI, AND S. HAKOMORI. 1992. Correlation of expression of H/Le(y)/Le(b) antigens with survival in patients with carcinoma of the lung. N. Engl. J. Med. 327:14, 1992. MODLIN RL, BLOOM BR. Immunoregulation: Learning from leprosy. Hospital Practice 28:71-84, 1993. MOLLICONE R, BARA J, LE PENDU J, ORIOL R. Immunohistologic pattern of type 1 (Lea, Leb) and type 2 (X, Y, H) blood group-related antigens in the human pyloric and duodenal mucosae. Lab Invest 53: 219–227, 1985. MONOT M, HONORÉ N, GARNIER T, ARAOZ R, COPPÉE JY, LACROIX C, SOW S, SPENCER JS, TRUMAN RW, WILLIAMS DL, GELBER R, VIRMOND M, 57 FLAGEUL B, CHO SN, JI B, PANIZ-MONDOLFI A, CONVIT J, YOUNG S, FINE PE, RASOLOFO V, BRENNAN PJ, COLE ST. On the origin of leprosy. Science. May 13; 308(5724): 1040-2, 2005. MORAES MO, CARDOSO CC, VANDERBORGHT PR, PACHECO AG. Genetics of host response in leprosy. Lepr Rev. 77:189-202, 2006. NYSTRÖM, K et al.Virus-induced transcriptional activation of host FUT genes associated with neo-expression of Ley in cytomegalovirus-infected and sialylLex in varicella-zoster virus-infected diploid human cells. Glycobiology vol. 17 no. 4 pp. 355–366, 2007 Organização Mundial da Saúde. Working to overcome the global impact of neglected tropical diseases. First WHO report on neglected tropical diseases. Genebra Suíça, 2010. OSUGUE E OSUGUE in TAVARES, W. ; MARINHO, C., A., L. Rotinas de diagnóstico e tratamento das doenças infecciosas e parasitárias. São Paulo: ATHENEU, 2004. PANG PC, TISSOT B, DROBNIS EZ, SUTOVSKY P, MORRIS HR, et al. Expression of bisecting type and Lewisx/Lewisy terminated N-glycans on human sperm. J Biol Chem 282: 36593–36602, 2007. PARKASH O, KUMAR A, PANDEY R, NIGAM A, GIRDHAR BK. Performance of a lateral flow test for the detection of leprosy patients in India. Journal of Medical Microbiology 57: 130-132, 2008. PAVANI, Rafael A. B.; TONOLLI, Emanuele R.; AVILA, Solange C. G. P. D. Classificação histopatológica e correlação clínica de 50 casos de hanseníase diagnosticados em um hospital-escola, São José do Rio Preto, SP. Medicina, Ribeirão Preto, 41 (2): 188-95, 2008. PENNA, Gerson Oliveira et al. Clinical and epidemiological study of leprosy cases in the University Hospital of Brasília: 20 years - 1985 to 2005. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 41(6):575-580, nov-dez, 2008. PORTER JC, HOGG N. Integrin cross talk: activation of lymphocyte functionassociated antigen-1 on human T cells alters alpha4beta1- and alpha5beta1mediated function. J Cell Biol. 138(6):1437-47, 1997. REES, RFW. The microbiology of leprosy. In: Hastings RC (ed) Leprosy, 1ª edição, Churchill Livingstone Inc, Nova York, p. 31-52, 1985. RIDLEY D.S.; JOPLING, W.H. Classification of leprosy according to immunity: a fivegroup system. Int J Lepr Other Mycobact Dis. 34: 255-273, 1966. 58 SAHO M. Características epidemiológicas da hanseníase no Município de Salvador. Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, 11: 9-18, 1998. SANCHES, Lucas Augusto Thomé et al., Detecção de casos novos de hanseníase no município de Prudentópolis, PR: uma análise de 1998 a 2005. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 40(5):541-545, set-out, 2007. SCOLLARD, D. M.; ADAMS, L. B.; GILLIS, T. P.; KRAHENBUHL, J. L.; TRUMAN, R. W. AND WILLIAMS, D. L. The Continuing Challenges of Leprosy. Clinical Microbiology Reviews, p. 338–381, Apr. 2006. SHI, Chung-Sheng; et al. Lectin-like domain of thrombomodulin binds to its specific ligand LewisY antigen and neutralizes lipopolysaccharide-induced inflammatory response.BLOOD, 1. VOLUME 112, NUMBER 9, 2008. SIELING PA & MODLIN RL. Cytokine patterns at the site of mycobacterial infection. Immunobiology 191:378-387, 1994. SILVA, A. R. et al. Hanseníase no Município de Buriticupu, Estado do Maranhão: busca ativa de casos na população adulta. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 43 (6): 691-694, nov-dez, 2010. STEVENS TL, BOSSIE A, SANDERS VM, FERNANDEZ-BOTRAN R, COFFMAN RL, MOSMANN TR, VITETTA ES. Regulation of antibody isotype secretion by subsets of antigen-specific helper T cells. Nature 334:255-258, 1988. ŠVAJGER et al. C-type lectin DC-SIGN: An adhesion, signalling and antigen-uptake molecule that guides dendritic cells in immunity. Cellular Signalling 22 1397– 1405, 2010. TALHARI, S; NEVES RG. Dermatologia tropical – Hanseníase. Gráfica Tropical, Manaus,1997. TANAKA, F., MIYAHARA, R., OHTAKE, Y., YANAGIHARA, K., FUKUSE, T., HITOMI, S., WADA, H. Lewis Y antigen expression and postoperative survival in non-small cell cancer Ann. Thorac. Surg.66,1745-1750, 1998. TELES, Rosane M. B.; et al. Interleukin-4 Regulates the Expression of CD209 and Subsequent Uptake of Mycobacterium leprae by Schwann Cells in Human Leprosy. Infection and Immunity, p. 4634–4643, Nov. 2010. TORRES, P.; CAMARENA, J. J.; GOMEZ, J. R.; NOGUEIRA, J. M.; GIMENO, V.; NAVARRO, J. C. AND OLMOS, A. Comparison of PCR mediated amplification of DNA and the classical methods for detection of Mycobacterium leprae in different types of clinical samples in leprosy patients and contacts. Lepr. Rev. 74:18–30, 2003. 59 VAN BEERS SM, DE WIT MYL, KLASTER PR. MiniReview: The epidemiology of Mycobacterium leprae : Recent insight. FEMS Microbiology Letters 136:221230, 1996. VAN KOOYK Y, GEIJTENBEEK TB. DC-SIGN: escape mechanism for pathogens. Nat Rev Immunol. 3(9):697-709, 2003. VENTURINI, J. Hanseníase Dimorfa: perfil de citocinas em sobrenadante de cultura de células mononucleares e in situ. Dissertação de mestrado. Botucatu-São Paulo. Universidade Estadual Paulista, 2008. 182 p. VERRECK FA, DE BOER T, LANGENBERG DM, HOEVE MA, KRAMER M, VAISBERG E, et al. Human IL-23-producing type 1 macrophages promote but IL-10 producing type 2 macrophages subvert immunity to (myco)bacteria. Proc Natl Acad Sci USA. 101:4560-5, 2004. VISSCHEDIJK J, VAN DE BROEK J, EGGENS H, LEVER P, VAN BEERS S, KLASTER P. Mycobacterium leprae – millennium resistant! Leprosy control on the threshold of a new era. Tropical Medicine and International Health 5:388399, 2000. WALKER, S. L. & LOCKWOOD, D. N. J. The clinical and immunological features of leprosy. British Medical Bulletin; 1–19, 2006. WILLIAMS, D. L.; GILLIS, T. P.; BOOTH, R. J.; LOOKER, D. AND WATSON, J. D. The use of a specific DNA probe and polymerase chain reaction for the detection of Mycobacterium leprae. J. Infect. Dis. 162:193–200, 1990. WIRTH, H-P et al. Expression of the Human Cell Surface Glycoconjugates Lewis X and Lewis Y by Helicobacter pylori Isolates Is Related to cagA Status. Infection and Immunity, Vol. 64, N°. 11, p. 4598–4605. Nov. 1996. YAMADA, T., OHWADA, S., SAITOH, F., ADACHI, M., MORISHITA, Y., HOZUMI, M. Induction of LeY antigen by 5-Aza-2'-deoxycytidine in association with differentiation and apoptosis in human pancreatic cancer cells. Anticancer Res 16,735-740, 1996. YIN, B. W., FINSTAD, C. L., KITAMURA, K., FERDERICI, M. G., WELSHINGER, M., KUDRYASHOV, V., HOSKINS, W. J., WELT, S., LLOYD, K. O. Serological and immunochemical analysis of Lewis Y (LeY) blood group antigen expression in epithelial ovarian cancer. Int. J. Cancer.65,406-412, 1996. YOUNG S. Kim, MEI Yuan, STEVEN H. Itzkowitz, QIBING Sun, TOKIO Kaizu, ALKA Palekar, BENJAMIN F. Trump, and SEN-ITIROH Hakomori. Expression of LeY and Extended LeY Blood Group-related Antigens in Human Malignant, Premalignant, and Nonmalignant Colonie Tissues. Cancer Research 46, 59855992, November 1986. 60 ZHANG, S., ZHANG, H. S., CORDON-CARDO, C., REUTER, V. E., SINGHAL, A. K., LLOYD K. O., AND LIVINGSTON P. O. Selection of tumor antigens as targets for immune attack using immunohistochemistry: II. Blood group related antigens. Int. J. Cancer, 73: 50–56, 1997. ZHU K, AMIN MA, KIM MJ, KATSCHKE KJ JR, PARK CC, KOCH AE. A novel function for a glucose analog of blood group H antigen as a mediator of leukocyte-endothelial adhesion via intracellular adhesion molecule 1. J Biol Chem. 278(24):21869-77, 2003.