UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Medicina UFF Trabalho de Reumatologia 8º período – 2º semestre de 2009 Grupo: Fernanda Falcão – mat: Priscila Klaes - mat:10616067-0 Rafael Perez – mat: Rafael Rosa – mat: 10616091-5 Tabatta Graciolli – mat: Tatiana Cruz – mat: Vanessa Barone – mat: INTRODUÇÃO As doenças reumatóides têm como protótipo a artrite reumatóide, e é sobre esta doença que vamos nos aprofundar a seguir. A artrite reumatóide (AR) é uma doença auto-imune, multissitêmica, crônica de etiologia desconhecida. Embora haja uma variedade de manifestações sistêmicas, o traço característico da AR estabelecida é a sinovite inflamatória persistente, geralmente acometendo as articulações preriféricas, simetricamente. O potencial da inflamação sinovial de causar lesão de cartilagem e erosões ósseas, bem como altercates subsequentes da integridade articular, é a marca da doença. Apesar do seu potencial destrutivo, a evolução da AR pode ser bastante variável. Alguns pacientes podem experimentar apenas uma doença oligoarticular branda, de curta duração, com lesão articular mínima, mas a maioria apresenta uma poliartrite progressiva implacável com deficiência functional acentuada. EPIDEMIOLOGIA A prevalence da AR é cerca de 0,8% da população; as mulheres são comitias em uma frequência aproximadamente 3 vezes maior do que os homens. A prevalencia aumenta com a idade, e as diferenças entre os sexos diminuem entre os idosos. A AR ocarre em todo mundo e afeta todas as raça. Entretanto a incidência e gravidade parecem ser menor na área rural da África Subsaariana e nos afro-descendentes caribenhos. O início é mais frequente durante as quartas e quinta décadas de vida, com 80% dos pacientes desenvolvendo a doença entre os 35 e 50 anos de idade. A incidência de AR é mais que seis vezes maior entre mulheres de 60 a 64 anos de idade , em comparação com as de 19 a 29 anos. Dados recentes indicam que a incidência da doença parecer estar diminuindo. Além disso, a gravidade da AR parece estar declined, embora seja incerto se tal fato reflete intervenções terapêuticas mais agressivas. FISIOPATOGENIA A fisiopatogênia da artrite reumatóide baseia-se numa reação auto-imune com ativação de células T helper CD4+ e outros linfócitos (dentre eles o linfócito B), e a liberação local de mediadores inflamatórios e citocinas que destroem a articulação. A reação auto-imune provavelmente é desencadeada pela exposição de um hospedeiro geneticamente suscetível a um antígeno artritogênico ainda desconhecido. As células T CD4+ estimulam a produção de mediadores químicos que desencadeiam uma reação sinovial, levando a um dano articular progressivo. Dentre os mediadores da lesão articular acredita-se que as citocinas desempenhem papel fundamental. Elas provavelmente são produzidas por macrófagos e células do revestimento sinovial que são ativadas pelas células T na articulação, e desencadeiam uma série de eventos inflamatórios que culminam com a destruição da cartilagem e do osso. A contribuição dos linfócitos B ainda não é muito bem conhecida, mas parece estar relacionada com a formação de fatores reumatóides (auto-anticorpos) e a deposição de complexos imunes que desempenhem algum papel na destruição articular. A sinóvia hiperplásica, rica em células inflamatórias adere-se e cresce sobre a superfície articular, formando um pannus, e estimula a reabsorção da cartilagem adjacente. O pannus invade a superfície articular destruindo-a. O desenvolvimento da artrite reumatóide tem um componente genético significante. Hoje em dia já é conhecido um dos genes que está relacionado a esta suscetibilidade genética, o locus HLA Classe II. Aspectos morfológicos Na fase inicial, encontram-se sinovite difusa com edema e tumefação, intenso infiltrado de linfócitos e plasmócitos, geralmente com formação de folículos linfóides contendo centros germinativos, e hiperplasia dos sinoviócitos,às vezes lembrando epitélio estratificado. Podem coexistir macrófagos e algumas células gigantes multinucleadas. Estas alterações conferem à sinóvia aspecto viloso, com projeções para a cavidade articular. Ocorre aumento da vascularização, agregação de fibrina, acúmulo de neutrófilos, atividade osteoclástica no osso subjacente (erosões, cistos subcondrais e osteoporose) e formação do pannus. O pannus é uma massa de células sinoviais e estroma sinovial que consiste em células inflamatórias, tecido de granulação e fibroblastos que crescem sobre a cartilagem articular, causando sua erosão. Depois da destruição da cartilagem, o pannus une ossos opostos, formando uma anquilose fibrosa, que eventualmente ossifica, levando a uma anquilose óssea. Nódulos reumatóides São as lesões cutâneas mais comuns da artrite reumatóide. São firmes, indolores, arredondados ou ovais; na pele, surgem no tecido subcutâneo. Microscopicamente, eles possuem uma zona central de necrose fibrinóide circundada por um bordo proeminente de histiócitos epitelióides e inúmeros linfócitos e plasmócitos. FORMAS CLÍNICAS A artrite reumatóide pode se apresentar de 3 formas: monoarticular, pauciarticular, poli-articular. Monoarticular Quando apenas uma articulação é acometida. Predomina o acometimento da articulação do tornozelo (tíbio-társica). Normalmente este tipo de apresentação tem um bom prognóstico. Pauciarticular (ou oligo-articular) Quando acomete de 2 a 3 articulações. Poliarticular Quando mais de 3 articulações são acometidas. É a forma mais comum de apresentação. As articulações mais acometidas são: metacarpofalangeanas, interfalangeanas proximais e distais, articulação do punho, joelho, tíbio-társicas, articulção do quadril e dos pés. DIAGNÓSTICO Não há um achado específico para artrite reumatóide. O diagnóstico é feito por meio da associação de sinais e sintomas clínicos, achados radiológicos e laboratoriais. Anamnese e Exame Físico Durante a anamnese e exame físico devem ser investigados sintomas de atividade da doença, avaliação do estado funcional atual evidências objetivas de inflamação articular, problemas mecânicos articulares, presença de comprometimento extra-articular e de lesão radiográfica. Devem ser levados em conta as manifestações clínicas já citadas acima. Radiologia No início as alterações radiológicas são mínimas ou inexistentes. Pode ser notado um discreto aumento de partes moles adjacentes à articulação e osteopenia periarticular. Com a progressão da doença pode ser visualizada a destruição cartilaginosa, como estreitamento do espaço articular e erosão. Laboratório O diagnóstico é principalmente clínico-radiológico, mas os exames laboratoriais podem ajudar tanto no diagnóstico como nas avaliações posteriores para o acompanhamento da progressão da doença e prognóstico. Exames mais comumente solicitados: Hemograma completo; Pode mostrar anemia de doença crônica, moderada a intensa, normocítica/normocrômica no início, passando à microcítica/hipocrômica com a persistência da inflamação. Também pode ser encontrada trombocitose Velocidade de hemossedimentação; Encontra-se aumentada pela inflamação, maior ou igual a 30 mm por hora Proteína C reativa Tanto a VHS aumentada como a proteína C reativa são comuns em condições inflamatórias, têm importância no monitoramento da atividade da doença e no diagnóstico diferencial com outras condições não inflamatórias Fator reumatóide; Presente em cerca de 80% dos pacientes. Não é específico para Artrite reumatóide, mas associado ao quadro clinico pode ajudar a confirmar o diagnóstico e quando muito elevado pode indicar um quadro mais agressivo da doença Análise do líquido intra-articular; Leucocitose com predominância de polimorfonucleares, glicose baixa, C3 e C4 baixos, níveis de proteínas próximos do soro. É necessário para afastar outras doenças como artrite séptica Anticorpo antinuclear Mais comum em doentes crônicos com condições mais severas Função renal; Enzimas hepáticas; Exame qualitativo de urina; Os três últimos são importantes pois vários agentes anti-reumáticos são nefro e/ou hepatotóxicos e podem ser contra-indicados em caso de lesões nestes órgãos Critérios clínicos e laboratoriais: A orientação para diagnóstico é baseada nos critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia: • Rigidez matinal: rigidez articular durando pelo menos 1 hora; • Artrite de três ou mais áreas: pelo menos três áreas articulares com edema de partes moles ou derrame articular, observados pelo médico; • Artrite de articulações das mãos (punho, interfalangeanas proximais e metacarpofalangeanas); • Artrite simétrica (envolvimento bilateral simultâneo); • Nódulos reumatóides (nódulos subcutâneos sobre proeminências ósseas ou superfícies extensoras, ou regiões justa-articulares, observados pelo médico); • Fator reumatóide sérico; • Alterações radiográficas: erosões ósseas ou descalcificações periarticulares localizadas em radiografias de mãos e punhos. Orientação para classificação: Quatro dos sete critérios são necessários para classificar um paciente como tendo artrite reumatóide. Os critérios de 1 a 4 devem estar presentes por pelo menos seis semanas. Pacientes com dois ou três critérios não são excluídos da possibilidade do futuro desenvolvimento da doença, não sendo considerados, contudo, para inclusão neste protocolo. A avaliação do estado geral do paciente, o número de articulações acometidas, uma avaliação quantitativa da dor e testes funcionais são parâmetros úteis para o seguimento a longo prazo. A avaliação inicial do paciente com AR deve documentar as manifestações da doença subjetiva e objetivamente. Posteriormente, comparações do paciente com tabelas feitas no início do tratamento podem ser utilizadas na avaliação da progressão da doença e da resposta ao tratamento. Roteiro para avaliação inicial Medidas Subjetivas: Duração da rigidez matinal Intensidade da dor articular Limitação da função Exame físico Contagem das articulações inflamadas Problemas articulares mecânicos Manifestações extra articulares Laboratório Hemograma completo VHS e/ou Proteína C reativa Função Renal Enzimas hepáticas Exame qualitativo de urina Fator reumatóide (realizado somente na avaliação inicial) Analise do líquido sinovial Radiografias articulação da mãos, pés e demais articulações comprometidas Outros Avaliação da atividade global da doença feita pelo paciente Avaliação da atividade global da doença feita pelo médico Questionários de avaliação da capacidade funcional e qualidade de vida Parâmetros de mau prognóstico Início da doença em idade precoce Altos títulos de fator reumatóide VHS e/ou proteína C elevada persistentemente Artrite em mais de 20 articulações Comprometimento extra articular: presença de nódulos reumatóides, Síndrome de Sjogren, episclerite, esclerite, doença pulmonar intersticial, pericardite, vasculite sistêmica e síndrome de Felty Presença de erosões nos dois primeiros anos da doença (raio X mãos e pés) Diagnóstico Diferencial Artrite Psoriática Incidência igual em homens e mulheres Idade entre 30 e 55 anos Menos de 20 % tem FR positivo 10 % dos pacientem tem distribuição AR-like. Para a diferenciar é importante a observação de psoríase na pele do paciente Gota poliarticular Mais em homens que em mulheres Idade de 25 a 70 anos 95 % tem FR negativo Artrite inflamatória intermitente com tofos e poliartrite inflamatória crônica. Níveis elevados de urato no soro e os tofos ajudam no diagnóstico diferencial com AR Osteoartrite erosiva Mais comum em mulheres Idade menor que 60 anos FR negativo Poliartrite crônica com inflamação intermitente ou sustentada em articulações. Radiografias mostram erosões características da Osteoartrite erosiva Pseudogota Incidência igual em homens e mulheres Idade menor que 60 anos FR positivo em 5 a 10 % dos casos 5% dos pacientes tem artrite inflamatória reumatóide-like com rigidez, fadiga, inflamação sinovial, que pode durar de 4 semanas a vários meses Artrite reativa (doença de Reiter) Mais comum em homens Idade de 16 a 50 anos FR negativo em 95% HLA-B27 positivo em 50 a 80% Comumente associada com dores lombares, oculares, genitourinárias, ou sintomas gastrointestinais Lúpus eritematoso sistêmico Mais comum em muheres Idade de 15 a 40 anos FR positivo em 10 a 15% dos casos Usualmente ANA positivo Poliartrite crônica não deformante associada com positividade do ANA Polimiosite /dermatomiosite Mais comum em mulheres Idade de 30 a 60 anos FR negativo em 95% dos casos Ana positivo em 50% dos casos Elevação de CK em 70% dos casos Artrite crônica inflamatória é rara no curso precoce. Presença de fraqueza proximal, disfagia bulbar, elevação enzimátiva ou envolvimento tegumentar Esclerodermia Mais comum em mulheres Idade de 30 a 50 anos FR negativo em ANA positivo em mais de 95% dos casos Poliartrite crônica inflamaória pode predominar sobre sinais tegumentares no início da doença. Comum a associação com o fenômeno de Raynaud, disfagia, hipertensão ou disfunções renais Sarcoidose Mais comum em mulheres Idade de 20 a 40 anos FR positivo em 20% dos casos 15% dos pacientes com sarcoidose irão desenvolver artrite. No curso precoce da doença pode-se encontrar oligo ou poliartrite crônica inflamatória, que perdura por semanas ou meses e envolve tipicamente tornozelos e joelhos. Outros indicadores de sarcoidose são eritema nodoso, adenopatia hilar Artrite enteropática Incidência igual em ambos os sexos Todas as idades FR negativo em 95% dos casos 20% dos pacientes com Doença de Crohn ou Colite Ulcerativa irão desenvolver artrite periférica. O diagnóstico pode ser difícil caso os sintomas gastrointestinais naco sejam deectados TRATAMENTO Os objetivos do tratamento da AR são; o alívio da dor, redução da inflamação, proteção das estruturas articulares, manutenção da função e controle do comprometimento sistêmico. Como a etiologia da AR é desconhecida, a patogenia não foi completamente delineada, e os mecanismos de ação de algum dos agentes terapêuticos empregados são incertos, a terapia permanence um tanto empírica. Nenhuma das intervenções terapêuticas é curativa, e sim paliativas, destinadas ao alívio dos sinais e sintomas. As diversas terapias impregadas são direcionadas à supressão inespecífica do processo inflamatório ou imunológico, com a expectativa de melhora dos sintomas, e de prevenção do dano progressivo das estruturas articulares. O tratamento dos pacientes com AR envolve uma abordagem interdiciplinar, que tenta lidar com os vários problemas que esses indivíduos enfrentam, com interações funcionais bem como psicossociais. Uma variedade de modalidades de fisioterapia pode ser útil para a diminuição dos sintomas. O repouso melhora os sintomas e pode ser um componente importante do programa terapêutico. Em adição, o uso de talas, para diminuir a movimentação das articulações pode ser útil. O exercício, direcionado à manutenção da força muscular e mobilidade das articulações, sem exacerbar a inflamação articular, também é um aspecto importante. Uma variedade de aparelhos de órtese e sustentação pode ser útil ao apoio e alinhamento das articulações deformadas, para reduzir a dor e melhorar a função. A educação do paciente e da família é um componente importante, para ajudar os envolvidos a se tornarem conscientes do impacto potencial da doença e a fazer acomodações apropriadas no estilo estilo de vida, visando maximizar a satisfação e minimizar a tensão sobre as articulações. O tratamento da AR envolve cinco abordagens gerais. A primeira é o uso de antiinflamatórios não esteróides (AINE) e analgésicos simples, para controlar os sintomas e sinais do processo inflamatório local. Estes agentes são rapidamente eficazes em mitigar os sinais e sintomas, mas parecem exercer um efeito mínimo sobre a progressão da doença. Uma segunda linha importante adicional de terapia envolve glicocorticóides orais em doses baixas, que aumentam os efeitos do agentes antiinflamatórios, como o metotrexato, assim como a ação protetora destes agentes em relação à lesão óssea. Os glicocorticóides intra-articulares frequentemente podem prover alívio sintomático transitório, quando o tratamento médico sistêmico falhou em resolver a inflamação. A terceira linha de agentes inclui os fármacos anti-reumáticos modificadores da doença (DMARD), que parecem ter a capacidade de reduzir os níveis elevados dos reagentes da fase aguda, consistem no metotrexato, sulfassalazina, hidroxicloroquina, sais de ouro ou D-penicilamina, embora os dois últimos sejam usados com pouca frequência ultimamente. Um quarto grupo de agente é o dos biológicos, que incluem os neutralizadores do FNT, os neutralizadores da IL-1, os que provocam depleção da célula B e os que interferem na ativação das células T. O quinto grupo é o de imunossupressores e citotóxicos como a leflunomida, ciclosporina, azatriopina e ciclofosfamida, que demonstraram ser capazes de melhorar o processo mórbido em alguns pacientes. A cirurgia desempenha um papel no tratamento dos pacientes com articulações gravemente danificadas. Embora as artroplastias e reposições totais possam ser feitas em numerosas articulações, os procedimentos com maior sucesso são realizados no quadril, joelho e ombros. Os objetivos realistas destes procedimentos são o alívio da dor e redição da incapacidade. A cirurgia de reconstrução da mão pode levar à melhora estética e a algum benefício funcional. A sinovectomia persistente, aberta ou artroscópica, pode ser útil em alguns pacientes com monoartrite persistente, especialmente a do joelho. Embora a sinovectomia possa oferecer o alívio dos sintomas a curto prazo, não parece retardar a destruição óssea nem alterar a história natural da doença. Em adição, tenossivectomia precoce do punho pode prevenir a ruptura do tendão. ACOMPANHAMENTO MÉDICO Na artrite reumatóide, assim como em várias outras doenças reumáticas crônicas, o seguimento pelo médico reumatologista é imprescindível e deve ser contínuo. Os intervalos entre as consultas variam de paciente para paciente. Em alguns casos avaliações mensais são necessárias enquanto em outros casos, com doenças de menor gravidade ou controladas, intervalos maiores entre as consultas podem ser estabelecidos. Exames de acompanhamento são feitos com freqüência para avaliar a atividade da doença e efeitos colaterais das medicações. Apenas o médico pode diminuir ou aumentar a dose das medicações, modificar o tratamento quando necessário ou indicar a terapia de reabilitação mas adequada a cada caso. BIBLIOGRAFIA 1- Harrison - Medicina Interna 17a edição 2- Artrite Reumatóide – Como diagnosticar e tratar – Revista Brasileira de Medicina, vol 60, Numero 8, Agosto de 2003 3- Robbins& Cotran – Patologia, 7ª edição 4- www.reumatologia.com.br (Site da Sociedade Brasileira de Reumatologia) 5-www.uptodate.com.br