AVALIAÇÃO DO CONSUMO E PERCEPÇÃO DO PAPEL DE PRODUTOS LIGHT, DIET E ZERO POR ADOLESCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE PEDRAS GRANDES, SANTA CATARINA. Érica Cesca Bortolato¹; Msc. Marília Costa de Araujo Falchetti (orientadora)² INTRODUÇÃO O padrão alimentar da população brasileira vem sofrendo muitas modificações e atualmente é comum ver pessoas buscando uma alimentação mais saudável para obtenção de uma maior expectativa de vida, sendo assim, a procura por produtos ditos saudáveis vem aumentando, logo o consumo de produtos, light, diet e zero está crescendo, entretanto sem o consumidor saber ao certo o papel dos mesmos. Nos últimos anos houve uma crescente diversificação de produtos light, diet e zero no mercado, condicionados pela demanda exigente dos consumidores, podendose considerar sensações do modismo alimentar nos dias de hoje, resultado do marketing da alimentação que manipula os hábitos dos consumidores e define o conceito de dieta saudável, sendo assim, estes produtos estão acessíveis a todos os públicos, pessoas de todos os sexos, idades e classes sociais, e disponíveis em todos os lugares que comercializam alimentos, bares, lanchonetes, padarias, restaurantes, supermercados. A adolescência compreende uma fase de crescimento acelerado e necessita de atenção quanto às necessidades nutricionais, além disso, o padrão alimentar do adolescente contemporâneo inclui refeições irregulares, lanches rápidos (fast foods) e alimentos industrializados, bem como os light, diet e zero, sem receio de consequências futuras, por falta de conhecimento sobre estes alimentos. (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011; VITOLO, 2008). _____________________ ¹Discente do Curso de Nutrição da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) Campus Tubarão/SC. E-mail: [email protected] ²Docente do Curso de Nutrição da UNISUL – Campus Tubarão; Coordenadora de Estágios do Curso de Nutrição da UNISUL – Campus Tubarão; E-mail: [email protected] Desta forma torna-se de fundamental importância o conhecimento do papel dos produtos light, diet e zero, para que não ocorra consumo de tais alimentos sem que ao menos saibam ao certo o seu emprego na dieta. Ainda, a educação nutricional para adolescentes se faz importante não apenas para que eles possam saber o que estão consumindo, mas também para que eles possam fazer escolhas alimentares saudáveis a partir dos conhecimentos adquiridos, destacando que para que as estratégias de educação resultem na adesão dos adolescentes, é necessário reconhecer o contexto em que os mesmos se encontram. (VITOLO, 2008) Palavras Chave: Alimentação. Light, diet e zero. Adolescentes. OBJETIVOS Avaliar o consumo e a percepção do papel de produtos light, diet e zero de adolescentes do ensino fundamental das escolas públicas do município de Pedras Grandes, SC, realizando educação nutricional para promover melhoria na saúde da população em estudo. MÉTODOS Participaram desta pesquisa 66 adolescentes, estudantes do ensino fundamental da rede pública de ensino do município de Pedras Grandes, Santa Catarina. Incluíram-se todos os adolescentes com idade igual ou superior a dez anos, que trouxeram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelos pais ou responsáveis e que estavam presente nas datas pré-estabelecidas para a coleta de dados e que responderam ao questionário sobre consumo e percepção do papel de produtos light, diet e zero. Foram excluídos os alunos que não se encontravam dentro dos critérios estabelecidos, o que contabilizou aproximadamente três quartos da amostra, havendo enorme perda na quantidade de entrevistados. O consumo de produtos light, diet e zero, bem como a percepção do seu papel na alimentação foram avaliados através de um questionário elaborado pela própria pesquisadora. Os dados coletados foram devidamente arquivados no Programa Excel e tabuladas as frequências das respostas em cada categoria com sua porcentagem de ocorrência. Foram analisadas as seguintes questões: a) O que são alimentos light, diet e zero com 10 opções: b) Se havia consumo desses alimentos e tipos consumidos; c) Motivo do consumo caso ocorresse Após a análise de dados foi elaborado um material para cada escola com definições dos alimentos light, diet e zero, orientações nutricionais e o resultado da pesquisa, bem como uma palestra sobre os tópicos que constavam no material. RESULTADOS E DISCUSSÕES Dos adolescentes pesquisados 36,4% (n=24) são do sexo masculino e 63,6% (n=42) são do sexo feminino. Para 33% (n=8) dos meninos alimento light é aquele que auxilia no emagrecimento, sendo que 21% (n=5) responderam corretamente, enquanto 26% (n=11) das meninas disseram que é um alimento mais saudável e 24% (n=10) responderam corretamente, que é um alimento que possui menos gordura ou menos açúcar ou menos proteína, ou possui menos gordura, açúcar e proteína juntos. Quanto a questão sobre o que é um alimento diet, 29% (n=7) dos meninos assinalaram que é um alimento que possui apenas menos açúcar, sendo que 4% (n=1) responderam corretamente, já as meninas 38% (n=16) disseram que é um alimento que auxilia no emagrecimento, sendo que nenhuma respondeu corretamente, que é um alimento que possui apenas menos gordura ou açúcar ou proteína. Em relação ao que é um alimento zero, 29% (n=7) dos meninos responderam que é um alimento que não possui açúcar e nenhum assinalou a alternativa correta, enquanto 43% (n=18) das meninas também disseram que se trata de um alimento que não possui açúcar, sendo que 5% (n=2) responderam corretamente, ou seja, o mesmo conceito de alimento diet, no entanto o que mais se encontra no mercado hoje são alimentos diet e zero que possuem menos açúcar ou a ausência dele, podendose considerar ambas as respostas corretas. Referente ao consumo de alimentos light, 54% (n=13) dos meninos disseram consumir, contra 60% (n=25) das meninas. Os principais alimentos light ditos consumidos pelos meninos foram biscoito, torrada ou bolacha, iogurte e refrigerante e pelas meninas iogurte, pão e suco. Quanto ao consumo de produtos diet, 75% (n=18) dos meninos relataram não consumir, semelhante as meninas em que 74% (n=31) assinalaram que não consumiam. O alimento diet citado com maior frequência foi o refrigerante pelos meninos e pelas meninas foi biscoito, torrada ou bolacha com destaque também sobre os outros alimentos. Em relação ao consumo de alimentos zero, 58% (n=14) dos meninos relataram não consumir e 64% (n=27) das meninas também disseram que não consumiam, entre os que consumiam, tanto para os meninos quanto para as meninas, o refrigerante foi o alimento mais citado em relação às outras opções. Para finalizar a pesquisa perguntou-se o motivo do consumo dos produtos, ocorrendo que para o light, o principal motivo foi de que seria um alimento saudável por 25% (n=4) dos meninos, sendo o mesmo motivo para 26% (n=11) das meninas. Referente ao motivo de consumo de alimentos diet, o principal motivo entre os meninos foi de que também seria um alimento saudável com 13% (n=4), e as meninas ficaram divididas entre as opções: porque meus pais consomem, porque é mais saboroso e porque é saudável com 7% (n=3) para cada alternativa. Relacionado ao consumo de produtos zero, o motivo em destaque dos meninos, com 17% (n=4) foi o mesmo dos anteriores, porque seria um alimento mais saudável, já para as meninas 14% (n=6) responderam que consomem porque não engorda. Diante dos dados expostos observa-se que as informações repassadas ao consumidor sobre estes produtos é apenas o marketing, pois a maioria das respostas tanto sobre a percepção do papel, quanto o motivo do consumo, são simplesmente que são alimentos saudáveis e que estão ligados à perda de peso, o que não está totalmente correto. É comum a visão de que estes alimentos podem ser consumidos à vontade. É importante destacar que em substituição ao açúcar, para diminuir o valor calórico no caso dos light ou para eliminar o açúcar no caso do diet e zero, são adicionados a estes produtos edulcorantes. (ABIAD, 2011). Estes podem ocasionar um aumento de apetite como uma resposta neural à ausência de açúcar, o que induz ao aumento do consumo energético, com ingestão maior de carboidratos e gorduras, isto consequentemente acarreta ganho de peso. Em estudos com jovens foi observado aumento do Índice de Massa Corporal (IMC) relacionado ao consumo de edulcorantes, principalmente por meio de refrigerantes. Estudiosos ainda afirmam, que o uso de edulcorantes como medida terapêutica para jovens com sobrepeso e obesidade não são necessárias se houver uma reeducação alimentar com uma dieta rica em frutas e verduras, pois geralmente a ingestão de edulcorantes ocorre de forma indiscriminada, ultrapassando os limites estabelecidos para doses não toxicológicas. Ainda, podem ter potencial cancerígeno com uso prolongado e indiscriminado desde as primeiras fases da vida, no entanto todas as teorias citadas não estão bem esclarecidas, por isso a necessidade de mais estudos sobre as consequências futuras do uso de edulcorantes. (MATTES; POPKIN, 2009; YANG, 2010; CALZADA-LEÓN, 2013; DURAN; CORDON; RODRIGUEZ, 2013). Ainda para reduzir o conteúdo calórico dos alimentos para que se tornem light são utilizados substitutos para gordura, uma vez que a gordura fornece 9 kcal por g de alimento e o carboidrato e a proteína 4 kcal. Os principais substitutos são os ingredientes de base protéica, derivados de proteína do leite, soro de leite e ovos, ingredientes da classe dos carboidratos que são os amidos e maltodextrinas e as fibras (celulose, hemicelulose, carboximetilcelulose) e hidrocolóides (pectina, gelatina, goma guar, xantana, carragena, etc.). (BENASSI; WATANABE; LOBO, 2001). Quanto à presença de aditivos químicos nos produtos light, diet e zero, estes tem como objetivo manter a qualidade nutricional durante o período de validade, no entanto, o que se tem percebido é que há uma falta de controle pelos órgãos responsáveis em fiscalizar se as quantidades contidas nos alimentos não ultrapassam o permitido e até mesmo se as informações para o consumidor estão corretas no rótulo. (CAMARA, 2007). Um estudo realizado pela mesma autora revelou muitas irregularidades no que diz respeito à rotulagem destes alimentos, tendo um percentual elevado no que se refere à ausência de identificação do Sistema Internacional de Numeração (INS) e/ou função do aditivo utilizado. O crescente uso de aditivos químicos pela indústria alimentícia expõe a população a compostos químicos em uma gama imensa de alimentos, ocorrendo uma preocupação quanto ao uso prolongado dos mesmos, pois alguns autores sugerem que algumas substâncias destas classes podem desencadear câncer e outras doenças. No caso dos edulcorantes ainda existem muitas incertezas sobre a repercussão do seu consumo para a saúde e portanto, estudos mais específicos necessitam ser realizados para avaliar a toxicidade destas substâncias. (PIMENTA, 2003). CONCLUSÃO Por meio do desenvolvimento da presente pesquisa constatou-se a necessidade de orientações nutricionais para os alunos das escolas visitadas, pois eles não sabiam o que estavam consumindo. Na atividade de educação nutricional buscou-se destacar a importância de se conhecer os alimentos, através da leitura de rótulos, ou de outros meios, para procurar saber o que significa cada conceito de alimento, como é o caso de alimentos light, diet e zero e, ainda, enfatizou-se a importância da alimentação saudável como requisito para obter-se uma melhor qualidade de vida, uma vez que uma alimentação adequada previne inúmeras doenças. Obteve-se também respostas de que o motivo do consumo de tais produtos seria por influência dos pais, comprovando mais uma vez que a alimentação dos mesmos é fator determinante para a construção dos hábitos alimentares dos filhos, por isso é necessário que os pais também conheçam o que estão consumindo e se tal alimento é recomendado para a fase da vida que seus filhos se encontram. Destaca-se que a adolescência é uma fase de crescimento e mudanças comportamentais sendo indispensável a atenção com a alimentação para que as suas necessidades nutricionais sejam supridas, resultando em um bem-sucedido desenvolvimento ao longo da vida. Considerando o que foi apresentado, percebe-se a necessidade da inserção de um profissional de Nutrição dentro das escolas, realizando um trabalho frequente com os alunos, professores e pais, orientando-os para que possam utilizar dos conhecimentos adquiridos, garantindo assim uma vida mais saudável. REFERÊNCIAS [ABIAD] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS PARA FINS ESPECIAIS E CONGÊNERES. Adoçantes: Tire suas dúvidas. 2011. BENASSI, V. T.; WATANABE, E.; LOBO, A. R. Produtos de panificação com conteúdo calórico reduzido. B.CEPPA, Curitiba, v. 19, n. 2, jul./dez. 2001. Disponível em: http://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/414062/1/2001032.pdf. Acesso em: 07 mai. 2014. CALZADA-LEÓN R.; et al Características de los edulcorantes no calóricos y su uso en niños Acta Pediátrica de México, México, v. 34, n. 3, p. 141-153, mayo/junio. 2013. Disponível em: http://www.medigraphic.com/pdfs/actpedmex/apm-2013/apm133e.pdf. Acesso em: 16 abr. 2014. CAMARA, M. C. C. Análise crítica da rotulagem de alimentos diet e ligth no Brasil. 2007. 47 f. Dissertação (Mestrado em Ciências na área da Saúde Pública)-Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: http://157.86.8.50/bitstream/icict/5311/2/973.pdf. Acesso em: 07 mai. 2014. DURAN A, Samuel; CORDON A Karla y RODRIGUEZ N María del Pilar. Edulcorantes no nutritivos, riesgos, apetito y ganancia de peso. Revista Chilena Nutrición. [online]. v. 40, n. 3, p. 309-314, septiembre. 2013. Disponível em: http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S0717-75182013000300014&script=sci_arttext. Acesso em: 16 abr. 2014. MATTES RD, POPKIN BM. 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