Síndrome de Asperger: reflexões e possíveis encaminhamentos

Propaganda
163
Síndrome de Asperger: reflexões e possíveis
encaminhamentos
Roberta Graziella da Silva ALBERTIN1
Sara Faciolla de SOUSA 2
Aparecida Helena Ferreira HACHIMNE3
Resumo: A Síndrome de Asperger é considerada um Transtorno Global do Desenvolvimento que tem como principais características: baixas interações sociais, dificuldades de
comunicação e fixação de olhar. Nesse sentido, a escolha pelo presente estudo tem como
justificativa fazer refletir acerca da definição, causas e consequências da deficiência, de
como se dá o seu desenvolvimento e como ocorre a sua inclusão escolar, pois se trata de
um tema atual e necessário na escola. O objetivo dessa pesquisa é compreender o desenvolvimento e comportamento de alunos com Síndrome de Asperger, através da discussão
sobre a importância da interação social e inclusão desses alunos. A metodologia utilizada
foi uma breve pesquisa bibliográfica realizada por meio da consulta de livros impressos,
documentos oficiais do Ministério da Educação, revistas e artigos científicos disponíveis em sites confiáveis. A Síndrome de Asperger envolve menos comprometimentos no
transtorno do espectro autístico, englobando um conjunto de patologias do neurodesenvolvimento, que ocasiona alterações qualitativas e quantitativas na comunicação verbal e
não verbal, não apresentando atrasos na linguagem nem no desenvolvimento cognitivo.
Muitas vezes, o indivíduo com SA possui uma inteligência fora da média. As manifestações dessa Síndrome acontecem mais tardiamente do que o autismo, entre 3 e 5 anos de
idade, e podem tornar-se mais aparentes no contexto escolar. Consideramos que o presente estudo é relevante para o meio acadêmico, pois traz como contribuição o auxílio para
o processo de ensino e aprendizagem, cujo diagnóstico e uma estimulação precoce são
essenciais para um desenvolvimento integral dos alunos. O tratamento deve contar com o
apoio de vários profissionais da área da saúde e da educação, considerando que os casos
possuem suas particularidades e diferenças. Assim, o processo de inclusão deve se iniciar
no ambiente familiar, a partir da aceitação e das disponibilidades de se buscar subsídios e
recursos que ajudem a inserir os indivíduos na sociedade.
Palavras chaves: Educação Especial. Síndrome de Asperger. Inclusão
Roberta Graziella da Silva Albertin. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário.
E-mail: <[email protected]>.
2
Sara Faciolla de Sousa. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail:
<[email protected]>.
3
Aparecida Helena Ferreira Hachimine. Mestra em Educação pelo Centro Universitário Moura
Lacerda – CUML, Especialista em Informática na Educação pela Universidade Federal de Lavras –
UFLA, especialista em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e Gestão pelo Claretiano
– Centro Universitário e graduada em Análise de Sistemas pela Universidade de Ribeirão Preto –
UNAERP. Atua como docente do Claretiano – Centro Universitário nos cursos de Graduação e Pósgraduação, na Educação Presencial e a Distância. E-mail: <[email protected]>.
1
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
164
Asperger Syndrome: Reflections and Possible
referral
Roberta Graziella da Silva ALBERTIN
Sara Faciolla de SOUSA
Aparecida Helena Ferreira HACHIMNE
Abstract: The Asperger Syndrome is considered a Global Developmental
Disorder, that has as main characteristics: low social interactions, difficulties
in verbal communications and fixative look. In this sense, the choice for the
present research has a reason to make a reflection about the definition, causes
and consequences of the disorder, how your development proceeds and how
is it’s academic inclusion, because it approaches such a current and necessary
theme at schools. The purpose of this survey is to comprehend the development
and behavior of the students with Asperger Syndrome, through a discussion
about the importance of the social interaction and inclusion of those them. The
method used was a brief bibliographic research, conducted by a consultation of
printed books, official documents from the Ministry of Education, magazines
and scientific articles available in reliable websites. The Asperger Syndrome
involves a milder autism spectrum disorder, including an amount of pathologies
of neurodevelopment, that causes qualitative and quantitative changes in
verbal and nonverbal communication, not presenting either speech delays, or
cognitive development, having several times an intelligence out of average, so
the syndrome has it’s manifestations later than autism between 3 and 5 years old,
and it can become more visible in the school context. We consider the present
research is relevant to the academic environment, since it gives as contribution
the support for learning process, which diagnostic and an early stimulation are
essential for an integral development of the students, the treatment must reckon
with the support of several professionals in this area of health and education,
considering that even them has their own features and divergences, therefore
the inclusion process must initiate in the familiar environment, onwards the
acceptance and availability of looking for input and resources that may help to
insert individuals in the society.
Keywords: Special Education. Asperger Syndrome. Inclusion.
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
165
1.  INTRODUÇÃO
Segundo Binda (2004), a Síndrome de Asperger era titulada como Psicopatia Autística pelo pediatra alemão Hans Asperger
na década de 1940, também com nome de Desordem de Asperger.
Seu trabalho ficou limitado aos leitores da língua alemã por um
longo tempo e somente se tornou reconhecido internacionalmente
na década de 1990. Asperger já considerava as semelhanças dessa
síndrome com as características do Autismo, cujas características
eram: baixas interações sociais, dificuldades de comunicação e fixação de olhar, porém, a “Síndrome de Asperger” (SA) envolve
menos comprometimentos no transtorno do espectro autístico.
Esse grupo de condições está entre os transtornos de desenvolvimento mais comuns, afetando aproximadamente
1 em cada 200 indivíduos. Eles estão também entre os
com maior carga genética entre os transtornos de desenvolvimento, com riscos de recorrência entre familiares
da ordem de 2 a 15% se for adotada uma definição mais
ampla de critério diagnóstico. Seu início precoce, perfil
sintomático e cronicidade envolvem mecanismos biológicos fundamentais relacionados à adaptação social (KLIN,
2006, p. 1).
Em seu estudo Klin (2006) constatou que o Transtorno do
Espectro Autista é uma síndrome que engloba um conjunto de patologias do neurodesenvolvimento, que ocasiona alterações qualitativas e quantitativas na comunicação verbal e não verbal, caracteriza-se por prejuízos na interação social, bem como interesses e
comportamentos limitados e dificuldades na coordenação motora,
cuja intensidade varia entre pessoas que apresentam um grau leve,
com ampla autonomia e dificuldades distintas de adaptação.
Hoje a Síndrome de Asperger já é conhecida mundialmente
e, devido ao processo de inclusão escolar, as crianças com essa síndrome estão na escola e precisam ser atendidas em suas necessidades educacionais especiais.
As pessoas com Síndrome de Asperger têm vários dos comportamentos apontados a seguir:
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
166
LINGUAGEM: A fala lúcida antes dos 4 anos; gramática e
vocabulário normalmente são bons, fala às vezes é formal
e repetitiva. A voz tende a ser plano e “emotionless”. As
conversações revolvem ao redor do ego.
COGNIÇÃO (APRENDIZAGEM): Obcecado com tópicos
complexos, como padrões, música, história, desbote, etc.
Frequentemente descrito como excêntrico. O quociente de
inteligência (QI) varia no espectro, muitos são abaixo do
normal em habilidade verbal e acima da média em habilidades de desempenho. Pensamento concreto (contra o abstrato). Muitos têm problemas de escrita, dificuldade com
matemática e podem apresentar dislexia. Falta-lhes bom
senso.
COMPORTAMENTO: Movimentos tendem a ser desajeitados. Socialmente atento nas exibições; interação recíproca imprópria. Problemas sensórios, parecem não ser
tão dramáticos quanto os indivíduos com outras formas de
autismo (BINDA, 2004, p. 40).
Apesar dos comportamentos que as pessoas da síndrome
apresentam, são capazes de desempenhar seu papel na sociedade
normalmente. Elas podem ter vidas produtivas com independência, garantir um sucesso acadêmico, constituir família, ingressar no
mercado de trabalho e, se assim estimulados desde cedo, conseguem um bom nível de inteligência.
O objetivo desta pesquisa é compreender o desenvolvimento
e comportamento de alunos com Síndrome de Asperger através da
discussão sobre a importância da interação social e inclusão desses
alunos, proporcionando uma reflexão acerca da definição, causas e
consequências da deficiência; de como se dá o seu desenvolvimento e de que maneira ocorre a sua inclusão escolar, pois se trata de
um tema atual e necessário na escola.
A metodologia utilizada para a elaboração desse estudo se
dá através da pesquisa bibliográfica, por meio de livros impressos,
documentos oficiais do Ministério da Educação, revistas e artigos
científicos disponíveis em sites confiáveis.
Nesse sentido, esta pesquisa bibliográfica se encontra fundamentada teoricamente a partir das contribuições de autores ou pesEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
167
quisadores renomados na área da Educação Especial que abordam
o tema Síndrome de Asperger.
Vejamos a definição de pesquisa bibliográfica das autoras
Lakatos e Marconi (2005):
Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto
com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates
que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas. Dessa forma, a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre
certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo
enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras
(LAKATOS, MARCONI, 2005, p. 185).
A realização da pesquisa permite a construção de novos conhecimentos, que auxiliam e colaboram com outros pesquisadores
e para a informação da própria sociedade, tendo em vista que o
conhecimento nunca é finito, pois está em constante transformação.
Para a fundamentação teórica, essa pesquisa foi dividida da
seguinte forma: Síndrome de Asperger enquanto Transtorno Global
do Desenvolvimento, Síndrome de Asperger: políticas e encaminhamentos, Síndrome de Asperger: possibilidades e desafios de sua
inclusão.
No primeiro momento temos o tópico “Síndrome de Asperger
enquanto Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD)”, em que
se apresenta a definição do tópico, os alunos que se enquadram nesse contexto segundo a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) e de que forma
é possível compreender a Síndrome de Asperger.
No segundo momento temos “Síndrome de Asperger: políticas e encaminhamentos”, cuja finalidade é mostrar as leis que
asseguram o direito do aluno público-alvo da Educação Especial
a frequentar o ensino comum e como ocorrem os possíveis encaminhamentos após o diagnóstico da síndrome.
E no terceiro momento é abordado o tópico “Síndrome de
Asperger: possibilidades e desafios de sua inclusão”, que aborda a
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
168
inclusão dos alunos com SA, analisando os desafios e dificuldades
encontrados para que ocorra o processo de inclusão.
2.  SÍNDROME DE ASPERGER
Síndrome de Asperger enquanto Transtorno Global do Desenvolvimento
De acordo com a atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), os
Transtornos Globais do Desenvolvimento são definidos por apresentar “um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou
estereotipias motoras” (BRASIL, 2008, p. 2).
Segundo essa mesma Política, dentre os alunos com TGD,
estão às pessoas com: autismo, Síndrome de Asperger, Síndrome de
Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância (psicoses) e Transtornos Globais do Desenvolvimento sem outra especificação.
Portanto, um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD)
é considerado resultante de uma desordem genética, que apresenta
muitas semelhanças com o autismo. Por isso, “[...] só é possível
definir a Síndrome de Asperger por meio da compreensão e oposição ao autismo, devido às semelhanças entre os quadros clínicos
quando associados à contemporaneidade em que foram descritos”
(FANTACINI, 2014, p. 74-75).
Devido às semelhanças e à falta de conhecimentos específicos pelos profissionais da área da educação, da sociedade e da família, acaba havendo um diagnóstico tardio a respeito da diferença
entre o Autismo e a Síndrome de Asperger: o autismo se caracteriza
pelos prejuízos relacionados pela interação social, comunicação e
na linguagem, na qual as manifestações podem variar de acordo
com o desenvolvimento e idade da criança; já na Síndrome de Asperger não existem atrasos na linguagem, nem no desenvolvimento cognitivo, muitas vezes caracterizando uma inteligência fora da
média, sendo um transtorno que se inicia mais tardiamente do que o
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
169
autismo, entre 3 e 5 anos de idade, e pode tornar-se mais manifesto
no contexto escolar.
Portanto, a Síndrome de Asperger é considerada:
Uma desordem do desenvolvimento que se caracteriza por:
• rotinas repetitivas ou rituais,
• peculiaridades na fala e linguagem, tais como falar de
forma excessivamente formal ou de forma monótona, ou
usando, literalmente, figuras de expressão,
• comportamento social e emocional inadequados e a incapacidade de interagir de forma bem-sucedida com os
colegas,
• problemas com a comunicação não-verbal, incluindo o
uso restrito de gesticulações, expressões faciais limitadas
ou inadequadas ou um peculiar olhar fixo,
• falta de jeito e movimentos motores descoordenados
(AUTISMO E REALIDADE, 2010, p. 2).
Conforme o Manual para a Síndrome de Asperger, de Autismo e Realidade (2010), os indícios e vestígios da síndrome de
asperger se diferenciam de criança para criança, de modo que as
mais novas têm dificuldade em lidar com seus comportamentos e
desafios, assim, toda a comunidade escolar, com o passar do tempo
e a através da compreensão sobre o transtorno, aprendem quais ambientes e situações podem causar problemas para a criança e quais
estratégias de trabalho aplicar. O auxílio de profissionais da área
será sempre necessário para o desenvolvimento e no processo de
ensino-aprendizagem.
Síndrome de Asperger: políticas e encaminhamentos
As ações políticas, culturais, sociais e pedagógicas são desenvolvidas para assegurar o direito de todos os alunos, partindo
das diferenças e diversidades econômicas, culturais e sociais, sem
a existência de preconceitos e discriminação. A educação se fundamenta no conceito de direitos humanos, que associa igualdade e
diferença como valores indissociáveis. Ao entender as dificuldades,
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
170
o sistema de ensino esclarece a obrigatoriedade de transformar as
práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las.
A partir a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), inicia-se a busca
e construção de sistemas educacionais inclusivos. A organização
de escolas e classes especiais passa a ser reconsiderada, a fim de se
buscar uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos
os alunos tenham suas necessidades atendidas.
Contudo, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) informa que:
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
– Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas
de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos,
recursos e organização específicos para atender às suas
necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do
ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e; a
aceleração de estudos aos superdotados para conclusão
do programa escolar. Também define, dentre as normas
para a organização da educação básica, a “possibilidade
de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do
alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho,
mediante cursos e exames” (art. 37) (BRASIL, 2008, p. 8).
Nos dias atuais está sendo mais frequente a chegada de alunos com (TEA) no ensino comum, para isso, é importante que a
escola faça adaptações em suas estruturas físicas e curriculares, a
partir das necessidades específicas de cada aluno, visando garantir
sua permanência no ensino e o seu sucesso acadêmico, pois as leis
asseguram o direito do público-alvo da Educação Especial, assim
como dos alunos dito “comuns” da educação.
O Manual para a Síndrome de Asperger auxilia nas possíveis
intervenções e encaminhamentos de crianças diagnosticadas com o
transtorno, mencionando que:
Assim como o caso com autismo, intervenção precoce é
crucial para a Síndrome de Asperger. É muito importante
lembrar que um método ou intervenção pode não funcioEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
171
nar para todas as crianças. Lembre-se de que seu filho é
único e trabalhe com seus pontos fortes para ajudá-lo da
melhor forma possível. O tratamento da SA pode ajudar
seu filho a navegar pelos desafios sociais, tirar proveito
de seus pontos fortes e ser bem-sucedido. Antes de entrarmos nos tipos de terapias disponíveis, é útil dar um passo
para trás e olhar o panorama. Apesar das pesquisas e experiência terem revelado muitos dos mistérios que rodeiam
a Síndrome de Asperger, ela continua a ser uma doença
complexa que afeta cada criança de uma maneira diferente. Entretanto, muitas crianças com SA fizeram avanços
notáveis com as combinações corretas de terapias e intervenções. A maioria dos pais veria com bons olhos uma
terapia que atenuasse todos os desafios que dificultam a
vida para seus filhos. Da mesma forma que os desafios do
seu filho não podem ser resumidos em uma única palavra,
eles não podem ser solucionados com uma única terapia.
Cada desafio deve ser tratado com uma terapia apropriada.
Nenhuma terapia isolada funciona para todas as crianças.
O que funciona para uma criança pode não funcionar para
outra. O que funciona para uma criança durante um período pode parar de funcionar. Algumas terapias são apoiadas
por pesquisas que mostram sua eficácia, enquanto que outras não tem esse apoio. A habilidade, experiência e estilo
do terapeuta são fundamentais para a eficácia da intervenção (AUTISMO E REALIDADE, 2010, p. 15).
Segundo a maioria dos estudos atuais, o estímulo precoce é
de grande valia no processo de desenvolvimento integral da criança
com SA. Para que o tratamento possa ocorrer de maneira satisfatória, é necessário contar com o apoio de vários profissionais da área
da saúde e da educação, considerando-se que cada criança é única e
possui suas particularidades e diferenças, de modo que o seu tempo
e ritmo devem ser respeitados (BELSÁRIO FILHO, 2010; AUTISMO E REALIDADE, 2010; BRASIL, 2008; KLIN, 2006).
Ainda de acordo com Autismo e Realidade (2010), determina-se quais tratamentos e intervenções serão mais convenientes
para cada indivíduo com o Transtorno Global do Desenvolvimento
realizando-se uma avaliação completa de todas as características
que a criança apresenta. Para isso, deve-se examinar uma diversidade de fatores, que inclui um histórico comportamental, sintomas
atuais, padrões de comunicação, competências sociais e funcionaEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
172
mento neuropsicológico. É importante verificar os pontos positivos
e negativos da criança em cada uma dessas áreas, para descrever
uma visão concreta. O fator que provou ser o mais decisivo em termos de progressos nessas crianças foi a intervenção precoce.
Síndrome de Asperger: possibilidades e desafios de sua inclusão
A inclusão é um assunto que vem sendo muito discutido na
área da educação. Cabe lembrar que a inclusão não está relacionada somente ao aluno público-alvo da Educação Especial, mas a
todas as pessoas que não possuem as mesmas oportunidades que o
restante da sociedade devido a valores, crenças, etnia, raça, características físicas e condições financeiras.
O documento oficial da Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) refere-se à inclusão escolar como sendo direito de todos:
Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação,
orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao
ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento
educacional especializado; formação de professores para o
atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família
e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação;
e articulação intersetorial na implementação das políticas
públicas (BRASIL, 2008, p. 14).
Sabe-se que existem várias leis e documentos que asseguram
o direito das crianças com necessidades especiais a frequentarem o
ensino regular de educação, porém, a realidade mostra que muitas
vezes teoria e prática não caminham lado a lado. A escola, ao receber um aluno da Educação Especial, apresenta insegurança por não
estar preparada para acolhê-lo, tanto nas adaptações curriculares
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
173
quanto em relação à capacitação de docentes, às estruturas físicas e
ao preparo de toda a equipe escolar.
Os primeiros objetivos para o planejamento de um programa
de inclusão são identificar as habilidades, competências, suportes,
serviços e as necessidades educacionais especiais do educando,
buscando melhorias para as adaptações que são indispensáveis no
período do sistema de apoio para o público-alvo da Educação Especial (BRASIL, 2002).
É importante capacitar os educadores quanto à inclusão no
cotidiano escolar, envolvendo todo o contexto escolar, conduzindo
ao aperfeiçoamento do aluno e suas transformações, sempre que for
essencial.
Primeiramente, antes de conduzir uma criança à escola de
ensino comum, deve-se entender e atender instruções que sejam
favoráveis às mudanças na prática pedagógica, apresentando uma
linguagem construtiva, habilidades entre ambientes e baixas taxas
de comportamento inadequado, contribuindo, assim, para o desenvolvimento integral de cada indivíduo.
Em conformidade com as Diretrizes da Política Nacional de
Educação Especial na perspectiva da Educação inclusiva (2008):
A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde se
desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa, o
lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação,
a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais,
cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as
diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito
e a valorização da criança. Do nascimento aos três anos,
o atendimento educacional especializado se expressa por
meio de serviços de intervenção precoce que objetivam
otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem
em interface com os serviços de saúde e assistência social
(BRASIL, 2008, p. 16).
A Educação Infantil se faz necessária para o processo de desenvolvimento de ensino e aprendizagem de todas as crianças com
ou sem necessidades especiais, sendo esse o momento em que de-
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
174
vem ser feitas as primeiras intervenções para uma melhor progressão do aluno.
Tal qual a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), o apoio educacional especializado caracteriza, efetua e ordena as práticas pedagógicas e de acessibilidade que quebram as barreiras para a participação
integral dos alunos. O atendimento especializado não substitui a escolarização, apenas se diferencia, sendo somente um complemento
para a formação dos alunos.
O programa educacional disponibiliza melhorias no currículo
escolar através do ensino de linguagens e códigos específicos de
comunicação e sinalização, ajudas técnicas e tecnologia assistiva.
A atuação do docente na Educação Especial deve conter
uma formação inicial e continuada, buscando conhecimentos gerais para o exercício de sua função e da área,
possibilitando a ele atuar no atendimento educacional especializado e visando o aprofundamento de um caráter
interativo e interdisciplinar nas salas de aula (BRASIL,
2008).
Conforme a ideia de Klin (2006), os alunos diagnosticados
com Síndrome de Asperger podem se desenvolver normalmente,
entretanto, eles manifestam interesses em aprender os temas que
mais gostam de forma excessiva, confundem o sentido figurado das
palavras, possuem movimentos estereotipados, assustam-se com
barulhos altos, com o contato físico, têm pouca noção de perigo,
rigidez em suas rotinas e, ao brincarem, manuseiam os objetos de
forma não convencional.
Klin (2006, p. 1) descreve algumas características que as
crianças com SA apresentam durante a infância:
Portadores de Síndrome de Asperger podem apresentar um
retardo para realizar determinadas atividades corriqueiras
da infância, tais como: andar de bicicleta, agarrar uma bola
ou subir num brinquedo de parque. Eles sempre se mostram desajeitados e com a postura esquisita. Na infância
normalmente se mostram bastante ansiosos e na adolescência é bastante comum surgirem os níveis de depressão.
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
175
As crianças com a Síndrome de Asperger possuem uma dificuldade maior em realizar e participar das mais simples brincadeiras, pois elas têm prejuízos nas habilidades motoras, assim, ocorre
certo comprometimento no seu desenvolvimento corporal que as
impossibilitam de desempenhar determinadas atividades envolvidas em seu cotidiano.
Por tratar-se de um assunto essencial e preventivo para o desenvolvimento e a formação escolar, segundo o Ministério da Educação e a Secretaria da Educação Especial:
O educador deve desenvolver o currículo mediante adaptações, e quando necessário, atividades da vida autônoma e
social no turno inverso. A partir do desenvolvimento apresentado pelo aluno e das condições para o atendimento inclusivo, a equipe pedagógica da escola e a família devem
decidir conjuntamente, com base em avaliação pedagógica, quanto ao seu retorno à classe comum (BRASIL, 2002,
p. 23).
Estudos recentes compartilham que a Síndrome de Asperger
não apresenta cura, mas que existem tratamentos para minimizar o
quadro, por isso, faz-se necessário encaminhar a criança aos profissionais responsáveis logo que o diagnóstico for obtido, para que
seja possível o acompanhamento e o desenvolvimento escolar. Os
professores devem elaborar atividades com adaptações de acordo
com a especificidade de cada um (BELSÁRIO FILHO, 2010; AUTISMO E REALIDADE, 2010; BRASIL, 2008; KLIN, 2006).
Às vezes, essas crianças não conseguem aprender a ler e escrever por terem a afetividade e o emocional comprometidos, pois,
ao se retraírem socialmente, ocorre um bloqueio e consequentemente o desenvolvimento cognitivo é afetado, assim, não conseguirão adquirir conhecimento algum. Para que seja possível reverter
esse quadro, é necessário o acompanhamento com um psicólogo ou
psicopedagogo (SANCHEZ, 2014).
Para que os professores consigam mediar a aprendizagem e
o conhecimento desses alunos é fundamental propiciar a eles momentos lúdicos e prazerosos, fazendo uma mediação através da interação desde o primeiro instante.
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
176
A inclusão está cada dia mais presente na sala de aula, portanto, é necessário que o professor tenha em mãos o diagnóstico antes
de realizar qualquer intervenção no âmbito pedagógico dos alunos
público-alvo da Educação Especial inseridos no ensino comum. O
processo de adaptação para inserir o indivíduo com SA na sociedade inicia-se no ambiente escolar, que passa a ter um papel social de
extrema importância, garantindo um lugar de construção da aprendizagem através da interação e afetividade com esses alunos ditos
“incapazes de produzir laço social” (SANCHEZ, 2014, p. 2).
No documento oficial Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2007), no artigo 26, relata-se sobre o procedimento de habilitação e reabilitação das pessoas que
apresentam algum tipo deficiência:
1. Os Estados Partes tomarão medidas efetivas e apropriadas, inclusive mediante apoio dos pares, para possibilitar
que as pessoas com deficiência conquistem e conservem o
máximo de autonomia e plena capacidade física, mental,
social e profissional, bem como plena inclusão e participação em todos os aspectos da vida. Para tanto, os Estados
Partes organizarão, fortalecerão e ampliarão serviços e
programas completos de habilitação e reabilitação, particularmente nas áreas de saúde, emprego, educação e serviços sociais, de modo que esses serviços e programas:
a. Comecem no estágio mais precoce possível e sejam baseados em avaliação multidisciplinar das necessidades e
pontos fortes de cada pessoa;
b. Apoiem a participação e a inclusão na comunidade e em
todos os aspectos da vida social, sejam oferecidos voluntariamente e estejam disponíveis às pessoas com deficiência
o mais próximo possível de suas comunidades, inclusive
na zona rural.
2. Os Estados Partes promoverão o desenvolvimento da
capacitação inicial e continuada de profissionais e de equipes que atuam nos serviços de habilitação e reabilitação.
3. Os Estados Partes promoverão a disponibilidade, o conhecimento e o uso de dispositivos e tecnologias assistivas, projetados para pessoas com deficiência e relacionados com a habilitação e a reabilitação (BRASIL, 2007, p.
30-31).
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
177
Os familiares (pais ou responsáveis), tendo conhecimento e
estando a par das legislações que asseguram o direito dos alunos
público-alvo da Educação Especial, devem exigir o direito de esses
alunos serem inclusos na educação comum e na sociedade, garantindo-lhes autonomia e um processo de ensino e aprendizagem com
qualidade.
Em meio a tantos desafios e dificuldades que englobam a
questão inclusiva, as escolas vêm se transformando e se adaptando
para que seja possível oferecer todos os direitos que regem as legislações aos alunos públicos – alvo da educação especial.
3.  CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho surgiu da curiosidade e do interesse de se obter conhecimentos sobre a Síndrome de Asperger, que engloba um
conjunto de patologias do neurodesenvolvimento, ocasionando alterações qualitativas e quantitativas na comunicação verbal e não
verbal. Caracteriza-se por prejuízos na interação social, bem como
interesses e comportamentos limitados e dificuldades na coordenação motora.
A pesquisa fez uma reflexão sobre um tema atual e necessário
na escola, porém, pouco divulgado, de modo que a falta de conhecimento desse assunto por parte dos pais e da escola pode gerar
um atraso no desenvolvimento da criança com SA por falta de um
acompanhamento médico e pedagógico.
O diagnóstico e uma estimulação precoce são essenciais para
um desenvolvimento integral e com sucesso. O tratamento deve
contar com o apoio de vários profissionais da área da saúde e da
educação, considerando-se as particularidades, diferenças e ritmo
de aprendizagem de cada criança. Cabe lembrar a importância de
tentar ver o mundo da maneira que os que possuem a Síndrome
veem, para que se possa entender o seu universo e buscar estratégias para incluí-los nos meios sociais.
A inclusão deve se iniciar no ambiente familiar, a partir da
aceitação e das disponibilidades de buscar subsídios e recursos que
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
178
ajudem a inserir esses indivíduos na sociedade, com o objetivo de
que conquistem o sucesso pessoal e escolar, através de uma parceria e da troca de experiências entre família, profissionais da área da
saúde e a escola, promovendo a autonomia dos alunos por meio de
construções afetivas e cognitivas.
REFERÊNCIAS
AUTISMO E REALIDADE. Manual para Síndrome de Asperger. 2010.
Disponível
em:
<http://www.portalinclusivo.ce.gov.br/phocadownload/
publicacoesdeficiente/manualparasindromedeaspergerautismo.pdf>. Acesso em:
2 out. 2015.
BELSÁRIO FILHO, J. F. A educação especial na perspectiva da inclusão
escolar: transtornos globais do desenvolvimento. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal
do Ceará, 2010. v. 9. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão
Escolar).
BINDA, F. Síndrome de Asperger e Autismo – concepções teóricas e perspectivas
de práticas fonoaudiológicas. Revista Psicologia Argumento, Curitiba, v. 22, n.
38, p. 39-47, jul./set. 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Brasília: MEC;
SEDH, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=424-cartilha-c&category_slug=documentospdf&Itemid=30192>. Acesso em: 10 maio 2016.
_______. Ministério da Educação. Estratégias e orientações para a educação de
alunos com dificuldades acentuadas de aprendizagem associadas às condutas
típicas. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC; SEESP, 2002. 56 p.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/livro10.pdf >.
Acesso em: 2 out. 2015. _______. Ministério da Educação. Política nacional de Educação Especial na
perspectiva da educação inclusiva. Secretaria de Educação Especial. Brasília:
MEC; SEESP, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/
politicaeducespecial.pdf>. Acesso em: 2 out. 2015.
FANTACINI, R. A. F. Fundamentos da educação especial. Batatais, SP:
Claretiano, 2014. cap. 4. Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
179
KLIN, A. Autismo e Síndrome de Asperger: uma visão geral. Rev. Brasileira
Psiquiatria, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151644462006000500002&script=sci_arttext&tlng=en%7D%7D>. Acesso em: 10
maio 2016.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica.
6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
SANCHEZ, K. R. S. F. Síndrome de Asperger. São Paulo: Centro Universitário
Adventista – UNASP, 2014. Disponível em: <http://www.psicopedagogia.com.
br/new1_artigo.asp?entrID=1725#.VyD_cfkrLIU>. Acesso em: 10 maio 2016.
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016
Download