163 Síndrome de Asperger: reflexões e possíveis encaminhamentos Roberta Graziella da Silva ALBERTIN1 Sara Faciolla de SOUSA 2 Aparecida Helena Ferreira HACHIMNE3 Resumo: A Síndrome de Asperger é considerada um Transtorno Global do Desenvolvimento que tem como principais características: baixas interações sociais, dificuldades de comunicação e fixação de olhar. Nesse sentido, a escolha pelo presente estudo tem como justificativa fazer refletir acerca da definição, causas e consequências da deficiência, de como se dá o seu desenvolvimento e como ocorre a sua inclusão escolar, pois se trata de um tema atual e necessário na escola. O objetivo dessa pesquisa é compreender o desenvolvimento e comportamento de alunos com Síndrome de Asperger, através da discussão sobre a importância da interação social e inclusão desses alunos. A metodologia utilizada foi uma breve pesquisa bibliográfica realizada por meio da consulta de livros impressos, documentos oficiais do Ministério da Educação, revistas e artigos científicos disponíveis em sites confiáveis. A Síndrome de Asperger envolve menos comprometimentos no transtorno do espectro autístico, englobando um conjunto de patologias do neurodesenvolvimento, que ocasiona alterações qualitativas e quantitativas na comunicação verbal e não verbal, não apresentando atrasos na linguagem nem no desenvolvimento cognitivo. Muitas vezes, o indivíduo com SA possui uma inteligência fora da média. As manifestações dessa Síndrome acontecem mais tardiamente do que o autismo, entre 3 e 5 anos de idade, e podem tornar-se mais aparentes no contexto escolar. Consideramos que o presente estudo é relevante para o meio acadêmico, pois traz como contribuição o auxílio para o processo de ensino e aprendizagem, cujo diagnóstico e uma estimulação precoce são essenciais para um desenvolvimento integral dos alunos. O tratamento deve contar com o apoio de vários profissionais da área da saúde e da educação, considerando que os casos possuem suas particularidades e diferenças. Assim, o processo de inclusão deve se iniciar no ambiente familiar, a partir da aceitação e das disponibilidades de se buscar subsídios e recursos que ajudem a inserir os indivíduos na sociedade. Palavras chaves: Educação Especial. Síndrome de Asperger. Inclusão Roberta Graziella da Silva Albertin. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 2 Sara Faciolla de Sousa. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 3 Aparecida Helena Ferreira Hachimine. Mestra em Educação pelo Centro Universitário Moura Lacerda – CUML, Especialista em Informática na Educação pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, especialista em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e Gestão pelo Claretiano – Centro Universitário e graduada em Análise de Sistemas pela Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP. Atua como docente do Claretiano – Centro Universitário nos cursos de Graduação e Pósgraduação, na Educação Presencial e a Distância. E-mail: <[email protected]>. 1 Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 164 Asperger Syndrome: Reflections and Possible referral Roberta Graziella da Silva ALBERTIN Sara Faciolla de SOUSA Aparecida Helena Ferreira HACHIMNE Abstract: The Asperger Syndrome is considered a Global Developmental Disorder, that has as main characteristics: low social interactions, difficulties in verbal communications and fixative look. In this sense, the choice for the present research has a reason to make a reflection about the definition, causes and consequences of the disorder, how your development proceeds and how is it’s academic inclusion, because it approaches such a current and necessary theme at schools. The purpose of this survey is to comprehend the development and behavior of the students with Asperger Syndrome, through a discussion about the importance of the social interaction and inclusion of those them. The method used was a brief bibliographic research, conducted by a consultation of printed books, official documents from the Ministry of Education, magazines and scientific articles available in reliable websites. The Asperger Syndrome involves a milder autism spectrum disorder, including an amount of pathologies of neurodevelopment, that causes qualitative and quantitative changes in verbal and nonverbal communication, not presenting either speech delays, or cognitive development, having several times an intelligence out of average, so the syndrome has it’s manifestations later than autism between 3 and 5 years old, and it can become more visible in the school context. We consider the present research is relevant to the academic environment, since it gives as contribution the support for learning process, which diagnostic and an early stimulation are essential for an integral development of the students, the treatment must reckon with the support of several professionals in this area of health and education, considering that even them has their own features and divergences, therefore the inclusion process must initiate in the familiar environment, onwards the acceptance and availability of looking for input and resources that may help to insert individuals in the society. Keywords: Special Education. Asperger Syndrome. Inclusion. Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 165 1. INTRODUÇÃO Segundo Binda (2004), a Síndrome de Asperger era titulada como Psicopatia Autística pelo pediatra alemão Hans Asperger na década de 1940, também com nome de Desordem de Asperger. Seu trabalho ficou limitado aos leitores da língua alemã por um longo tempo e somente se tornou reconhecido internacionalmente na década de 1990. Asperger já considerava as semelhanças dessa síndrome com as características do Autismo, cujas características eram: baixas interações sociais, dificuldades de comunicação e fixação de olhar, porém, a “Síndrome de Asperger” (SA) envolve menos comprometimentos no transtorno do espectro autístico. Esse grupo de condições está entre os transtornos de desenvolvimento mais comuns, afetando aproximadamente 1 em cada 200 indivíduos. Eles estão também entre os com maior carga genética entre os transtornos de desenvolvimento, com riscos de recorrência entre familiares da ordem de 2 a 15% se for adotada uma definição mais ampla de critério diagnóstico. Seu início precoce, perfil sintomático e cronicidade envolvem mecanismos biológicos fundamentais relacionados à adaptação social (KLIN, 2006, p. 1). Em seu estudo Klin (2006) constatou que o Transtorno do Espectro Autista é uma síndrome que engloba um conjunto de patologias do neurodesenvolvimento, que ocasiona alterações qualitativas e quantitativas na comunicação verbal e não verbal, caracteriza-se por prejuízos na interação social, bem como interesses e comportamentos limitados e dificuldades na coordenação motora, cuja intensidade varia entre pessoas que apresentam um grau leve, com ampla autonomia e dificuldades distintas de adaptação. Hoje a Síndrome de Asperger já é conhecida mundialmente e, devido ao processo de inclusão escolar, as crianças com essa síndrome estão na escola e precisam ser atendidas em suas necessidades educacionais especiais. As pessoas com Síndrome de Asperger têm vários dos comportamentos apontados a seguir: Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 166 LINGUAGEM: A fala lúcida antes dos 4 anos; gramática e vocabulário normalmente são bons, fala às vezes é formal e repetitiva. A voz tende a ser plano e “emotionless”. As conversações revolvem ao redor do ego. COGNIÇÃO (APRENDIZAGEM): Obcecado com tópicos complexos, como padrões, música, história, desbote, etc. Frequentemente descrito como excêntrico. O quociente de inteligência (QI) varia no espectro, muitos são abaixo do normal em habilidade verbal e acima da média em habilidades de desempenho. Pensamento concreto (contra o abstrato). Muitos têm problemas de escrita, dificuldade com matemática e podem apresentar dislexia. Falta-lhes bom senso. COMPORTAMENTO: Movimentos tendem a ser desajeitados. Socialmente atento nas exibições; interação recíproca imprópria. Problemas sensórios, parecem não ser tão dramáticos quanto os indivíduos com outras formas de autismo (BINDA, 2004, p. 40). Apesar dos comportamentos que as pessoas da síndrome apresentam, são capazes de desempenhar seu papel na sociedade normalmente. Elas podem ter vidas produtivas com independência, garantir um sucesso acadêmico, constituir família, ingressar no mercado de trabalho e, se assim estimulados desde cedo, conseguem um bom nível de inteligência. O objetivo desta pesquisa é compreender o desenvolvimento e comportamento de alunos com Síndrome de Asperger através da discussão sobre a importância da interação social e inclusão desses alunos, proporcionando uma reflexão acerca da definição, causas e consequências da deficiência; de como se dá o seu desenvolvimento e de que maneira ocorre a sua inclusão escolar, pois se trata de um tema atual e necessário na escola. A metodologia utilizada para a elaboração desse estudo se dá através da pesquisa bibliográfica, por meio de livros impressos, documentos oficiais do Ministério da Educação, revistas e artigos científicos disponíveis em sites confiáveis. Nesse sentido, esta pesquisa bibliográfica se encontra fundamentada teoricamente a partir das contribuições de autores ou pesEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 167 quisadores renomados na área da Educação Especial que abordam o tema Síndrome de Asperger. Vejamos a definição de pesquisa bibliográfica das autoras Lakatos e Marconi (2005): Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas. Dessa forma, a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras (LAKATOS, MARCONI, 2005, p. 185). A realização da pesquisa permite a construção de novos conhecimentos, que auxiliam e colaboram com outros pesquisadores e para a informação da própria sociedade, tendo em vista que o conhecimento nunca é finito, pois está em constante transformação. Para a fundamentação teórica, essa pesquisa foi dividida da seguinte forma: Síndrome de Asperger enquanto Transtorno Global do Desenvolvimento, Síndrome de Asperger: políticas e encaminhamentos, Síndrome de Asperger: possibilidades e desafios de sua inclusão. No primeiro momento temos o tópico “Síndrome de Asperger enquanto Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD)”, em que se apresenta a definição do tópico, os alunos que se enquadram nesse contexto segundo a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) e de que forma é possível compreender a Síndrome de Asperger. No segundo momento temos “Síndrome de Asperger: políticas e encaminhamentos”, cuja finalidade é mostrar as leis que asseguram o direito do aluno público-alvo da Educação Especial a frequentar o ensino comum e como ocorrem os possíveis encaminhamentos após o diagnóstico da síndrome. E no terceiro momento é abordado o tópico “Síndrome de Asperger: possibilidades e desafios de sua inclusão”, que aborda a Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 168 inclusão dos alunos com SA, analisando os desafios e dificuldades encontrados para que ocorra o processo de inclusão. 2. SÍNDROME DE ASPERGER Síndrome de Asperger enquanto Transtorno Global do Desenvolvimento De acordo com a atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), os Transtornos Globais do Desenvolvimento são definidos por apresentar “um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras” (BRASIL, 2008, p. 2). Segundo essa mesma Política, dentre os alunos com TGD, estão às pessoas com: autismo, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância (psicoses) e Transtornos Globais do Desenvolvimento sem outra especificação. Portanto, um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) é considerado resultante de uma desordem genética, que apresenta muitas semelhanças com o autismo. Por isso, “[...] só é possível definir a Síndrome de Asperger por meio da compreensão e oposição ao autismo, devido às semelhanças entre os quadros clínicos quando associados à contemporaneidade em que foram descritos” (FANTACINI, 2014, p. 74-75). Devido às semelhanças e à falta de conhecimentos específicos pelos profissionais da área da educação, da sociedade e da família, acaba havendo um diagnóstico tardio a respeito da diferença entre o Autismo e a Síndrome de Asperger: o autismo se caracteriza pelos prejuízos relacionados pela interação social, comunicação e na linguagem, na qual as manifestações podem variar de acordo com o desenvolvimento e idade da criança; já na Síndrome de Asperger não existem atrasos na linguagem, nem no desenvolvimento cognitivo, muitas vezes caracterizando uma inteligência fora da média, sendo um transtorno que se inicia mais tardiamente do que o Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 169 autismo, entre 3 e 5 anos de idade, e pode tornar-se mais manifesto no contexto escolar. Portanto, a Síndrome de Asperger é considerada: Uma desordem do desenvolvimento que se caracteriza por: • rotinas repetitivas ou rituais, • peculiaridades na fala e linguagem, tais como falar de forma excessivamente formal ou de forma monótona, ou usando, literalmente, figuras de expressão, • comportamento social e emocional inadequados e a incapacidade de interagir de forma bem-sucedida com os colegas, • problemas com a comunicação não-verbal, incluindo o uso restrito de gesticulações, expressões faciais limitadas ou inadequadas ou um peculiar olhar fixo, • falta de jeito e movimentos motores descoordenados (AUTISMO E REALIDADE, 2010, p. 2). Conforme o Manual para a Síndrome de Asperger, de Autismo e Realidade (2010), os indícios e vestígios da síndrome de asperger se diferenciam de criança para criança, de modo que as mais novas têm dificuldade em lidar com seus comportamentos e desafios, assim, toda a comunidade escolar, com o passar do tempo e a através da compreensão sobre o transtorno, aprendem quais ambientes e situações podem causar problemas para a criança e quais estratégias de trabalho aplicar. O auxílio de profissionais da área será sempre necessário para o desenvolvimento e no processo de ensino-aprendizagem. Síndrome de Asperger: políticas e encaminhamentos As ações políticas, culturais, sociais e pedagógicas são desenvolvidas para assegurar o direito de todos os alunos, partindo das diferenças e diversidades econômicas, culturais e sociais, sem a existência de preconceitos e discriminação. A educação se fundamenta no conceito de direitos humanos, que associa igualdade e diferença como valores indissociáveis. Ao entender as dificuldades, Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 170 o sistema de ensino esclarece a obrigatoriedade de transformar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las. A partir a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), inicia-se a busca e construção de sistemas educacionais inclusivos. A organização de escolas e classes especiais passa a ser reconsiderada, a fim de se buscar uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alunos tenham suas necessidades atendidas. Contudo, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) informa que: A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e; a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37) (BRASIL, 2008, p. 8). Nos dias atuais está sendo mais frequente a chegada de alunos com (TEA) no ensino comum, para isso, é importante que a escola faça adaptações em suas estruturas físicas e curriculares, a partir das necessidades específicas de cada aluno, visando garantir sua permanência no ensino e o seu sucesso acadêmico, pois as leis asseguram o direito do público-alvo da Educação Especial, assim como dos alunos dito “comuns” da educação. O Manual para a Síndrome de Asperger auxilia nas possíveis intervenções e encaminhamentos de crianças diagnosticadas com o transtorno, mencionando que: Assim como o caso com autismo, intervenção precoce é crucial para a Síndrome de Asperger. É muito importante lembrar que um método ou intervenção pode não funcioEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 171 nar para todas as crianças. Lembre-se de que seu filho é único e trabalhe com seus pontos fortes para ajudá-lo da melhor forma possível. O tratamento da SA pode ajudar seu filho a navegar pelos desafios sociais, tirar proveito de seus pontos fortes e ser bem-sucedido. Antes de entrarmos nos tipos de terapias disponíveis, é útil dar um passo para trás e olhar o panorama. Apesar das pesquisas e experiência terem revelado muitos dos mistérios que rodeiam a Síndrome de Asperger, ela continua a ser uma doença complexa que afeta cada criança de uma maneira diferente. Entretanto, muitas crianças com SA fizeram avanços notáveis com as combinações corretas de terapias e intervenções. A maioria dos pais veria com bons olhos uma terapia que atenuasse todos os desafios que dificultam a vida para seus filhos. Da mesma forma que os desafios do seu filho não podem ser resumidos em uma única palavra, eles não podem ser solucionados com uma única terapia. Cada desafio deve ser tratado com uma terapia apropriada. Nenhuma terapia isolada funciona para todas as crianças. O que funciona para uma criança pode não funcionar para outra. O que funciona para uma criança durante um período pode parar de funcionar. Algumas terapias são apoiadas por pesquisas que mostram sua eficácia, enquanto que outras não tem esse apoio. A habilidade, experiência e estilo do terapeuta são fundamentais para a eficácia da intervenção (AUTISMO E REALIDADE, 2010, p. 15). Segundo a maioria dos estudos atuais, o estímulo precoce é de grande valia no processo de desenvolvimento integral da criança com SA. Para que o tratamento possa ocorrer de maneira satisfatória, é necessário contar com o apoio de vários profissionais da área da saúde e da educação, considerando-se que cada criança é única e possui suas particularidades e diferenças, de modo que o seu tempo e ritmo devem ser respeitados (BELSÁRIO FILHO, 2010; AUTISMO E REALIDADE, 2010; BRASIL, 2008; KLIN, 2006). Ainda de acordo com Autismo e Realidade (2010), determina-se quais tratamentos e intervenções serão mais convenientes para cada indivíduo com o Transtorno Global do Desenvolvimento realizando-se uma avaliação completa de todas as características que a criança apresenta. Para isso, deve-se examinar uma diversidade de fatores, que inclui um histórico comportamental, sintomas atuais, padrões de comunicação, competências sociais e funcionaEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 172 mento neuropsicológico. É importante verificar os pontos positivos e negativos da criança em cada uma dessas áreas, para descrever uma visão concreta. O fator que provou ser o mais decisivo em termos de progressos nessas crianças foi a intervenção precoce. Síndrome de Asperger: possibilidades e desafios de sua inclusão A inclusão é um assunto que vem sendo muito discutido na área da educação. Cabe lembrar que a inclusão não está relacionada somente ao aluno público-alvo da Educação Especial, mas a todas as pessoas que não possuem as mesmas oportunidades que o restante da sociedade devido a valores, crenças, etnia, raça, características físicas e condições financeiras. O documento oficial da Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) refere-se à inclusão escolar como sendo direito de todos: Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008, p. 14). Sabe-se que existem várias leis e documentos que asseguram o direito das crianças com necessidades especiais a frequentarem o ensino regular de educação, porém, a realidade mostra que muitas vezes teoria e prática não caminham lado a lado. A escola, ao receber um aluno da Educação Especial, apresenta insegurança por não estar preparada para acolhê-lo, tanto nas adaptações curriculares Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 173 quanto em relação à capacitação de docentes, às estruturas físicas e ao preparo de toda a equipe escolar. Os primeiros objetivos para o planejamento de um programa de inclusão são identificar as habilidades, competências, suportes, serviços e as necessidades educacionais especiais do educando, buscando melhorias para as adaptações que são indispensáveis no período do sistema de apoio para o público-alvo da Educação Especial (BRASIL, 2002). É importante capacitar os educadores quanto à inclusão no cotidiano escolar, envolvendo todo o contexto escolar, conduzindo ao aperfeiçoamento do aluno e suas transformações, sempre que for essencial. Primeiramente, antes de conduzir uma criança à escola de ensino comum, deve-se entender e atender instruções que sejam favoráveis às mudanças na prática pedagógica, apresentando uma linguagem construtiva, habilidades entre ambientes e baixas taxas de comportamento inadequado, contribuindo, assim, para o desenvolvimento integral de cada indivíduo. Em conformidade com as Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação inclusiva (2008): A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional especializado se expressa por meio de serviços de intervenção precoce que objetivam otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços de saúde e assistência social (BRASIL, 2008, p. 16). A Educação Infantil se faz necessária para o processo de desenvolvimento de ensino e aprendizagem de todas as crianças com ou sem necessidades especiais, sendo esse o momento em que de- Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 174 vem ser feitas as primeiras intervenções para uma melhor progressão do aluno. Tal qual a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), o apoio educacional especializado caracteriza, efetua e ordena as práticas pedagógicas e de acessibilidade que quebram as barreiras para a participação integral dos alunos. O atendimento especializado não substitui a escolarização, apenas se diferencia, sendo somente um complemento para a formação dos alunos. O programa educacional disponibiliza melhorias no currículo escolar através do ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização, ajudas técnicas e tecnologia assistiva. A atuação do docente na Educação Especial deve conter uma formação inicial e continuada, buscando conhecimentos gerais para o exercício de sua função e da área, possibilitando a ele atuar no atendimento educacional especializado e visando o aprofundamento de um caráter interativo e interdisciplinar nas salas de aula (BRASIL, 2008). Conforme a ideia de Klin (2006), os alunos diagnosticados com Síndrome de Asperger podem se desenvolver normalmente, entretanto, eles manifestam interesses em aprender os temas que mais gostam de forma excessiva, confundem o sentido figurado das palavras, possuem movimentos estereotipados, assustam-se com barulhos altos, com o contato físico, têm pouca noção de perigo, rigidez em suas rotinas e, ao brincarem, manuseiam os objetos de forma não convencional. Klin (2006, p. 1) descreve algumas características que as crianças com SA apresentam durante a infância: Portadores de Síndrome de Asperger podem apresentar um retardo para realizar determinadas atividades corriqueiras da infância, tais como: andar de bicicleta, agarrar uma bola ou subir num brinquedo de parque. Eles sempre se mostram desajeitados e com a postura esquisita. Na infância normalmente se mostram bastante ansiosos e na adolescência é bastante comum surgirem os níveis de depressão. Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 175 As crianças com a Síndrome de Asperger possuem uma dificuldade maior em realizar e participar das mais simples brincadeiras, pois elas têm prejuízos nas habilidades motoras, assim, ocorre certo comprometimento no seu desenvolvimento corporal que as impossibilitam de desempenhar determinadas atividades envolvidas em seu cotidiano. Por tratar-se de um assunto essencial e preventivo para o desenvolvimento e a formação escolar, segundo o Ministério da Educação e a Secretaria da Educação Especial: O educador deve desenvolver o currículo mediante adaptações, e quando necessário, atividades da vida autônoma e social no turno inverso. A partir do desenvolvimento apresentado pelo aluno e das condições para o atendimento inclusivo, a equipe pedagógica da escola e a família devem decidir conjuntamente, com base em avaliação pedagógica, quanto ao seu retorno à classe comum (BRASIL, 2002, p. 23). Estudos recentes compartilham que a Síndrome de Asperger não apresenta cura, mas que existem tratamentos para minimizar o quadro, por isso, faz-se necessário encaminhar a criança aos profissionais responsáveis logo que o diagnóstico for obtido, para que seja possível o acompanhamento e o desenvolvimento escolar. Os professores devem elaborar atividades com adaptações de acordo com a especificidade de cada um (BELSÁRIO FILHO, 2010; AUTISMO E REALIDADE, 2010; BRASIL, 2008; KLIN, 2006). Às vezes, essas crianças não conseguem aprender a ler e escrever por terem a afetividade e o emocional comprometidos, pois, ao se retraírem socialmente, ocorre um bloqueio e consequentemente o desenvolvimento cognitivo é afetado, assim, não conseguirão adquirir conhecimento algum. Para que seja possível reverter esse quadro, é necessário o acompanhamento com um psicólogo ou psicopedagogo (SANCHEZ, 2014). Para que os professores consigam mediar a aprendizagem e o conhecimento desses alunos é fundamental propiciar a eles momentos lúdicos e prazerosos, fazendo uma mediação através da interação desde o primeiro instante. Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 176 A inclusão está cada dia mais presente na sala de aula, portanto, é necessário que o professor tenha em mãos o diagnóstico antes de realizar qualquer intervenção no âmbito pedagógico dos alunos público-alvo da Educação Especial inseridos no ensino comum. O processo de adaptação para inserir o indivíduo com SA na sociedade inicia-se no ambiente escolar, que passa a ter um papel social de extrema importância, garantindo um lugar de construção da aprendizagem através da interação e afetividade com esses alunos ditos “incapazes de produzir laço social” (SANCHEZ, 2014, p. 2). No documento oficial Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2007), no artigo 26, relata-se sobre o procedimento de habilitação e reabilitação das pessoas que apresentam algum tipo deficiência: 1. Os Estados Partes tomarão medidas efetivas e apropriadas, inclusive mediante apoio dos pares, para possibilitar que as pessoas com deficiência conquistem e conservem o máximo de autonomia e plena capacidade física, mental, social e profissional, bem como plena inclusão e participação em todos os aspectos da vida. Para tanto, os Estados Partes organizarão, fortalecerão e ampliarão serviços e programas completos de habilitação e reabilitação, particularmente nas áreas de saúde, emprego, educação e serviços sociais, de modo que esses serviços e programas: a. Comecem no estágio mais precoce possível e sejam baseados em avaliação multidisciplinar das necessidades e pontos fortes de cada pessoa; b. Apoiem a participação e a inclusão na comunidade e em todos os aspectos da vida social, sejam oferecidos voluntariamente e estejam disponíveis às pessoas com deficiência o mais próximo possível de suas comunidades, inclusive na zona rural. 2. Os Estados Partes promoverão o desenvolvimento da capacitação inicial e continuada de profissionais e de equipes que atuam nos serviços de habilitação e reabilitação. 3. Os Estados Partes promoverão a disponibilidade, o conhecimento e o uso de dispositivos e tecnologias assistivas, projetados para pessoas com deficiência e relacionados com a habilitação e a reabilitação (BRASIL, 2007, p. 30-31). Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 177 Os familiares (pais ou responsáveis), tendo conhecimento e estando a par das legislações que asseguram o direito dos alunos público-alvo da Educação Especial, devem exigir o direito de esses alunos serem inclusos na educação comum e na sociedade, garantindo-lhes autonomia e um processo de ensino e aprendizagem com qualidade. Em meio a tantos desafios e dificuldades que englobam a questão inclusiva, as escolas vêm se transformando e se adaptando para que seja possível oferecer todos os direitos que regem as legislações aos alunos públicos – alvo da educação especial. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho surgiu da curiosidade e do interesse de se obter conhecimentos sobre a Síndrome de Asperger, que engloba um conjunto de patologias do neurodesenvolvimento, ocasionando alterações qualitativas e quantitativas na comunicação verbal e não verbal. Caracteriza-se por prejuízos na interação social, bem como interesses e comportamentos limitados e dificuldades na coordenação motora. A pesquisa fez uma reflexão sobre um tema atual e necessário na escola, porém, pouco divulgado, de modo que a falta de conhecimento desse assunto por parte dos pais e da escola pode gerar um atraso no desenvolvimento da criança com SA por falta de um acompanhamento médico e pedagógico. O diagnóstico e uma estimulação precoce são essenciais para um desenvolvimento integral e com sucesso. O tratamento deve contar com o apoio de vários profissionais da área da saúde e da educação, considerando-se as particularidades, diferenças e ritmo de aprendizagem de cada criança. Cabe lembrar a importância de tentar ver o mundo da maneira que os que possuem a Síndrome veem, para que se possa entender o seu universo e buscar estratégias para incluí-los nos meios sociais. A inclusão deve se iniciar no ambiente familiar, a partir da aceitação e das disponibilidades de buscar subsídios e recursos que Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 163-179, jul./dez. 2016 178 ajudem a inserir esses indivíduos na sociedade, com o objetivo de que conquistem o sucesso pessoal e escolar, através de uma parceria e da troca de experiências entre família, profissionais da área da saúde e a escola, promovendo a autonomia dos alunos por meio de construções afetivas e cognitivas. REFERÊNCIAS AUTISMO E REALIDADE. Manual para Síndrome de Asperger. 2010. Disponível em: <http://www.portalinclusivo.ce.gov.br/phocadownload/ publicacoesdeficiente/manualparasindromedeaspergerautismo.pdf>. Acesso em: 2 out. 2015. BELSÁRIO FILHO, J. F. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: transtornos globais do desenvolvimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010. v. 9. 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