A SÍNDROME DE ASPERGER E A INCLUSÃO ESCOLAR EM CONTEXTOS DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID) Marily Oliveira BARBOSA; Marcia Lúcia Nogueira de Lima BARROS; Neiza de Lourdes Frederico FUMES1 Eixo Temático: Práticas Educativas e Inclusão RESUMO A educação inclusiva se constitui pelo apreço à diversidade como condição a ser valorizada e pela proposição de práticas pedagógicas diferenciadas e flexíveis. Este estudo tem por objetivo analisar a prática pedagógica, através da parceria colaborativa, de uma professora de Língua Portuguesa que possui uma estudante com síndrome de Asperger. Para tanto, utilizamos a pesquisa qualitativa com viés colaborativo, a partir de observações com apoio em diário de campo e sessão reflexiva. Os resultados apontaram que a parceria colaborativa elucidou modificações positivas na metodologia de ensino da professora, as aulas que outrora eram demasiadamente expositivas passaram a ter caráter participativo por todos os estudantes, bem como houve a utilização de materiais concretos e inovadores favorecendo o processo de aprendizagem dos estudantes. Consideramos assim a parceria realizada no decorrer da pesquisa possibilitou a professora repensar e redirecionar sua atividade trazendo modificações positivas para o ambiente escolar. Palavras-chaves: Educação especial; Parceria colaborativa; Síndrome de Asperger. INTRODUÇÃO Atualmente muito tem se discutido sobre a inclusão escolar de pessoas com deficiência, inclusive tem-se buscado diversas estratégias que contribuam na efetivação da inclusão e escolarização destas pessoas. As peculiaridades de cada estudante demandam da escola a utilização de diferentes estratégias, visto que o público alvo que a educação especial acompanha é relativamente extenso, a saber alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento (TGD)2 e altas habilidades (BRASIL, 2008). A Síndrome de Asperger, foco do nosso estudo, é incluída dentro dos TGD. [email protected] – Universidade Federal de São Carlos; [email protected] – Universidade Federal de Alagoas; [email protected] - Universidade Federal de Alagoas. 2 Os transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas nas interações sociais recíprocas e na comunicação, bem como um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. 1 Segundo Assumpção Junior e Kuczynski (2011) a síndrome de Asperger possui características semelhantes dos TGD, sendo caracterizada pela falta de interesse espontâneo em dividir experiências com outros, bem como falta de reciprocidade emocional, ou social, incluindo em alguns casos os padrões restritos e estereotipados e maneirismos motores. Os estudantes com Asperger não apresentam déficit cognitivo, contudo podem possuir um comportamento desajeitado e dificuldades nas rotinas impostas nas instituições educacionais (ORRÚ, 2010). De fato, esses estudantes adentram no ambiente escolar e despertam situações desafiadoras, revelando angústias e dúvidas nos professores (CUNHA; MATA, 2006). Em se tratando especificamente do estudante com Asperger, faz-se necessário a diferenciação das metodologias por parte dos professores, visto que estes apresentam condições de serem escolarizados efetivamente, desde que sejam oferecidos a eles os estímulos básicos. Os objetivos que delinearam este estudo foram: analisar a prática pedagógica, através da parceria colaborativa, de uma professora de Língua Portuguesa que possui uma estudante com síndrome de Asperger, bem como descrever as mudanças ocasionadas a partir da parceria colaborativa entre ela, a professora do atendimento educacional especializado e a pesquisadorabolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). METODOLOGIA Este estudo é de natureza qualitativa. Flick (2009) relata que os métodos qualitativos consideram a comunicação do pesquisador com o campo e seus membros como parte explícita da produção do conhecimento, se caracterizando pela interação direta entre o pesquisador e o objeto de estudo. Para tanto optamos pela pesquisa participante, Ibiapina (2008) descreve como sendo um tipo de pesquisa que põe o professor no centro da investigação, não simplesmente como objeto de análise, mas como indivíduo ativo, capaz de modificar sua ação. Nesse sentido, realizamos este estudo com uma professora de Língua Portuguesa que lecionava uma turma que possuía uma estudante com síndrome de Asperger regularmente matriculada na escola regular. Como instrumentos de coleta de dados utilizamos a observação. Flick (2009) expõe que está é uma habilidade diária metodologicamente sistematizada e aplicada na pesquisa qualitativa. Além da observação usamos a sessão reflexiva, visto que ela é de suma importância para que haja a transformação do professor em sujeito crítico e atuante dentro da educação (IBIAPINA, 2008). A pesquisa delineou-se inicialmente com a entrada do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) na escola participante da pesquisa. A professora supervisora que lecionava no atendimento educacional especializado (AEE) solicitou a direção da escola a participação no programa, após seu aval positivo, a professora do AEE fez o convite a professora de língua portuguesa para participar da pesquisa, através da parceria colaborativa. Após seu aceite a pesquisadora - bolsista do PIBID ingressou na escola e iniciou a pesquisa propriamente dita, através da observação das aulas na turma em que possuía uma estudante com Síndrome de Asperger regularmente matriculada. Cabe salientar que antes da pesquisa ser iniciada, explicamos os objetivos da pesquisa, a forma de participação, os riscos decorrentes da participação e explicamos o compromisso dos pesquisadores em manter sigilo dos dados coletados, como ainda outros esclarecimentos que se fizeram necessários. Após o consentimento, a bolsista do programa passou a acompanhar as aulas da professora. As aulas ocorriam numa turma do oitavo ano do ensino fundamental II. Nela haviam 30 estudantes que moravam nos arredores da escola. O processo de observação durou seis meses. No diário de campo foi descrito o que ocorria na sala de aula, ações e reações da professora e da estudante com Asperger, interações entre elas, bem como o ponto de vista da pesquisadora sobre o que havia ocorrido. De posse da análise das observações realizadas pela professora do AEE e bolsista construímos o roteiro da sessão reflexiva, que se deu no terceiro mês de observação. Nessa sessão foram discutidos diversos pontos, tais como: planejamento, utilização de recursos concretos (visuais), superposição de atividades, avaliações diferenciadas, acompanhamento das atividades realizadas em sala de aula e extra sala, sistema de tutoria e atenção as questões de interpretação textual. Após à obtenção dos dados, advindos das observações e sessão reflexiva, realizamos uma análise minuciosa e exaustiva de todos os dados. Esteves (2006, p. 107) explica que esta é formada por “um conjunto de técnicas possíveis para tratamento de informação previamente recolhida”, quer sejam por meios de dados de observação, entrevistas, entre outros. A partir da análise das observações e sessões reflexivas realizamos à triangulação dos dados, para a obtenção das evidências. Minayo (2004, p. 209), menciona que este tipo de análise “[...] consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado”. A análise desdobrou-se em três etapas: pré-análise; exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados iniciais apontaram que a parceria colaborativa elucidou modificações na metodologia de ensino da professora. Inicialmente as aulas eram baseadas exclusivamente pela exposição oral do conteúdo, o que dificultava a compreensão dos conteúdos pela estudante, visto que a síndrome de Asperger ocasiona dificuldades nos conhecimentos abstratos (GOMES, 2012). A dinâmica de aula acontecia com inatividade dos estudantes, tendo poucas vezes a realização de atividades em sala de aula por intermédio do livro de didático. Após a presença da pesquisadora em sala de aula e realização da sessão reflexiva houve mudanças significativas na atividade docente para com a estudante com Asperger e todos os outros. É importante salientar que a educação necessita reconhecer em todos os seres humanos a capacidade de evoluir, ressalta Orrú (2012). É importante expor que as aulas passaram a ter elementos concretos, como imagens que auxiliavam na compreensão do conteúdo, maior interação da professora com os estudantes e realização de aulas na qual os estudantes participaram de forma ativa com construção e exposição de cartazes, leituras expositivas de redações realizadas em sala de aula, entre outras interações. Orrú (2012) considera que a mediação por intermédio das atividades orais entre os estudantes possibilita que estes tenham acesso aos significados em seus contextos, gerando a compreensão recíproca entre os indivíduos, tendo inclusive acesso aos diversos conhecimentos. O discurso da professora demonstrava ter sido modificado, visto que a mesma buscou conhecer as particularidades da Síndrome de Asperger, trazendo inclusive textos e perguntas sobre a síndrome e passou a observar e buscar a participação dos estudantes em suas aulas. CONCLUSÃO Tais aspectos ressaltam que parceria colaborativa auxilia na construção de diálogos, visto que o professor sozinho tem impossibilidades de refletir e modificar sua atividade docente. Contudo em conjunto com outros profissionais, através de discussão em grupo e de maneira reflexiva, o docente tem a possibilidade de repensar e redirecionar sua atividade trazendo modificações para o ambiente escolar. Cabe ressaltar que o diálogo realizado entre as professoras e pesquisadora possibilitou que algumas dificuldades fossem sanadas ou quando não minimizadas, visto que muitas das vezes a busca de solução dentro da realidade em questão proporciona novas visões, modificando assim a atividade realizada pelos envolvidos. O desenvolvimento de estratégias que responde as necessidades de todos os envolvidos no processo educacional fornece benefícios imensuráveis que a longo tempo podem contribuir numa melhora da qualidade educacional para os estudantes. Modificar a didática em sala de aula potencializa os níveis de aprendizagem, não apenas para a estudante com Asperger, mas para toda a sala, visto que cada estudante pode possuir estilos de aprendizagem diferenciadas. REFERÊNCIAS ASSUMPÇÃO JUNIOR, F. B.; KUCZYNSKI, E. Diagnóstico diferencial psiquiátrico no autismo infantil. In: SCHWARTZMAN, J. S.; ARAÚJO, C. A. de. Transtornos do Espectro do autismo - TEA. São Paulo: Memnon, 2011. BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da educação Inclusiva. Brasília, MEC/SEESP, 2008. CUNHA, P.; MATA, O. M. Rompendo Paradigmas na Gestão Escolar In. ROTH, B. W. Experiências educacionais inclusivas: Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2006. ESTEVES, M. Análise de conteúdo In: LIMA, J. Á.; PACHECO, J. A. Fazer investigação: contributos para a elaboração de dissertações e teses. Porto, Portugal: Porto Editora, 2006. FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. 3ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. GOMES, C. G. S. Aprendizagem relacional, comportamento simbólico e ensino de leitura a pessoas com transtornos do espectro do autismo. Tese de doutorado. São Carlos: UFSCar, 2011. IBIAPINA, I. M. L. M. Pesquisa Colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos. Brasília: Líber Livro editora, 2008. MINAYO, M. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec-Abrasco, 2004. ORRÚ, S. E. Autismo, linguagem e educa ção: interação social no cotidiano escolar. 3 ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2012. ______. Síndrome de Asperger: aspectos científicos e educacionais. Revista Iberoamericana de Educación / Revista Ibero-americana de Educação. N.º 53/7, 2010, p 1-14. SILVA, E. C. S. A prática pedagógica dos professores de alunos com autismo. In: Anais do IV Congresso Brasileiro de Educação Especial (CBEE), São Carlos, 2010.